Fonte: Regiões Libertadas da Guiné (Bissau). Pequim: Edições em Línguas Estrangeiras. Agência de Notícias Xinhua. 1972.
Foto: © Agência de Notícias Xinhua (1972) (com a devida vénia...).
IX parte do dossiê O massacre do Chão Manjaco > Ideia, pesquisa, compilação e edição de Afonso M. F. Sousa , ex-furriel miliciano de transmissões da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70) (*).
II Parte do depoimento do historiador lusoguineense Leopoldo Amado, doutorando em História Contemporanea pela Universidade de Lisboa. Subtítulos da responsabilidade do editor do blogue:
Desconfiança e reserva do PAIGC à 'política do sorriso e do sangue' de Spínola
Num autêntico jogo de gato e do rato, Cabral responde a esta espectacular encenação [- libertação de Rafael Barbosa, co-fundador do PAIGC, e suas declarações em 3 de Agosto de 1969, em apoio à política de Spínola da Guiné Melhor, possivelmente sob coação da PIDE/DGS-] com a apresentação, a 18 do mesmo mês, em Argel, de cinco desertores portugueses, na cerimónia de encerramento do simpósio do I Festival Cultural Pan-Africano em que o PAIGC foi eleito vice-presidente do simpósio.
Tal acto era demonstrativo para o PAIGC de que era imperativo o reforço do seu arsenal bélico, pelo que, em finais de 69, Cabral se desloca a Moscovo, onde mantém conversações com peritos militares do Comité Central do Partido Comunista Soviético, passando seguidamente por Berlim Oriental e Paris, sempre em demanda de apoio militar.
Aliás, não obstante algumas guarnições portuguesas, no âmbito da nova política introduzida por Spínola, terem estendido espontaneamente a mão ao inimigo da véspera, num ambiente caracterizado pelo incremento das acções militares do exército português, sobretudo os sistemáticos bombardeamentos às regiões libertadas do PAIGC, com meios aéreos e bombas de napalme, essas aproximações foram acolhidas com forte desconfiança, tendo inclusivamente o Comité Central do PAIGC distribuído pelas suas unidades no mato um panfleto aconselhando desconfiança e cautela relativamente a política do sorriso e do sangue de Spínola.
Criação do Conselho Superior de Luta
Do lado do PAIGC, passou a ser evidente que o maior poder de fogo não era suficiente para contrapor à nova agressividade de Spínola, que se faz acompanhar de uma equipa jovem, coesa, decidida e ousada. Ao mesmo tempo que prossegue com maior vigor os ataques contra Ingoré, São Domingos, Guidaje e Morecunda, Cubisseco e Tombali, e Gansala e Catió (no Sul), e outros centros urbanos, como Bolama (atacada a 6 de Novembro de 1969 e onde se registaram inúmeras mortes e estragos em edifícios privados e públicos), acrescidos do facto de que, em 1969, na frente leste, mais dois campos fortificados caíram em mãos do PAIGC – Quifaro e Madina-Xaquili – o PAIGC sente a necessidade de robustecer a componente militar e, simultaneamente, adaptar a sua fórmula organizativa, ganhando mais disciplina e capacidade de resposta.
Surge assim o Conselho Superior de Luta, que substitui um ultrapassado Comité Central, enquanto o Bureau Político dá lugar a um Comité Executivo da Luta. No topo de uma pirâmide vincadamente hierarquizada, passou a existir uma Comissão Permanente, formada pelo secretário-geral, por Luís Cabral e por Aristides Pereira.
O PAIGC reestrutura os seus Serviços de Propaganda e fundou o PAIGC Actualités, cujo primeiro número saiu a 1 de Janeiro de 1969. Aquando da sua aparição, Cabral que se encontrava em Boé, escreve uma mensagem, que foi reproduzida nesse número, em que dizia “ (…) estou absolutamente convencido de que a iniciativa de publicar um boletim de informação em língua francesa contribuirá de forma eficaz para a melhoria desta arma importante do nosso combate multiforme contra os criminosos colonialistas portugueses (…)” (11) [a tradução é nossa, L.A.].
Contra-ofensiva propagandística do PAIGC a nível internacional
Doravante, os agressivos processos da acção psicológica do exército português já não se baseiam apenas, como no passado, em gestos de beneficência, como oferecer pão e agasalhos às populações, mas assentavam sobretudo em métodos melhorados para contrapor aos argumentos de acção psicológica que o PAIGC usava eficientemente na conquista das populações, sendo ainda de notar que uma vasta rede de rádios funcionava qual caixas de ressonância dos seus Serviços de Informação e Propaganda, a saber, Rádio Portugal Livre (Praga) da FELPA, Rádio Voz da Liberdade (Argel), também da FNLP, Rádio Moscovo, Rádio Pequim, Rádio Tirana, da Albânia, Rádio Libertação em Conakry (PAIGC), Rádio Voz da Revolução em Brazzaville (MPLA), Rádio Difusão e Radiotelevisão da RDC, em Kinshasa, Rádio Tanzânia, em Dar-es-Salam.
Para além disto, o PAIGC promoveu uma série de outras acções de propaganda dirigida a opinião pública internacional, como sejam as reportagens e artigos abonatórios na imprensa inglesa publicados desde 1966 pelo jornalista e historiador Basil Davidson e, em 1969, na imprensa italiana, pelo jornalista Crimi, jornalista, e pelo fotógrafo Uliano Lucas, ou ainda o aparecimento em Londres, de um livro da autoria de Richard Handyside, editado pela Stage 1, com discursos de Amílcar Cabral, e igualmente a exibição de filmes nas grandes capitais e metrópoles europeias rodados por várias cineastas sobre a vida e a luta do PAIGC.
Por outro lado, o novo conceito de acção psicológica empreendido por Spínola na Guiné visava igualmente uma solução política, baseada numa guerra de desgaste de longa duração, que levasse o PAIGC, pela fadiga, pelas divisões internas e pela descrença na vitória, a afastar-se das potências que o apoiavam e a procurar de novo integrar-se nas estruturas portuguesas.
'Autonomia progressiva e participada' (Marcelo Caetano)
Podemos resumir do modo seguinte os principais eixos dessa acção psicológica:
(i) Mostrar uma vontade firme de resistir e de vencer. O inimigo teria de acreditar que a luta em que o exército português estava empenhado era vital e de que nunca desistiria dela por fadiga ou por traição.
(ii) Acelerar o desenvolvimento económico e social dos territórios ultramarinos, aumentando a participação dos guineenses na administração dos negócios públicos, dando assim a ideia de que ao PAIGC só restava a opção entre os sacrifícios de uma luta de guerrilha e a sua integração numa sociedade em pleno desenvolvimento, na qual poderia participar.
(iii) Mostrar que o Governo estava pronto a receber aqueles que se arrependessem ou desistissem da luta.
Nesta estratégia enquadrava-se, perfeitamente, a política ultramarina por que se orientava o Prof. Marcelo Caetano e que era designada por autonomia progressiva e participada, expressão essa, aliás, que ele usou pela primeira vez num discurso pronunciado em Lourenço Marques (hoje Maputo), em resposta ao Manifesto de Lusaka onde fora revelada predisposição para o diálogo por parte dos dirigentes africanos que participaram na Conferência Internacional de Solidariedade para com os Povos das Colónias Portuguesas e da África Austral.
Marcelo Caetano defendeu então um projecto de autonomia progressiva para as províncias ultramarinas, consubstanciando igualmente a acção psicológica de Spínola no que convencionou chamar de construção de uma Guiné melhor, ao que Amílcar Cabral respondeu dizendo que “nunca se iludiriam com os resultados de um possível referendo, na medida em que o Governo de Caetano persistia na sua guerra criminosa e que o PAIGC era há muito autodeterminado nas regiões libertadas que controla” (12).
Reordenamentos, sistema de autodefesa e faricanização da guerra
Todavia, na Guiné trava-se uma guerra revolucionária, escreve Spínola em O Problema da Guiné, em que as duas partes em presença têm um mesmo objectivo: a conquista das populações. Para isso, não basta a G-3, é necessário conjugar a manobra militar com a promoção socioeconómica e a acção psicossocial.
São os reordenamentos, para organizar a população em eixos situados junto aos quartéis, de modo a furtá-la à penetração do PAIGC e é o sistema de autodefesa das populações (13), ao mesmo tempo, que é accionada outra poderosa arma: a acção psicológica, que aposta na africanização da guerra para captar as populações para a causa nacional, por meio da progressiva recuperação das que estão sob duplo controlo. Como já assinalamos, um vasto esforço, que altera profundamente todo o dispositivo militar e administrativo no território. Tudo em nome de uma Guiné melhor – o lema que se transformará em bandeira da administração Spínola.
O PIFAS, em cinco línguas locais, e as Directivas do Com-Chefe
No mato espalham-se cartazes mostrando um negro e um branco de mãos dadas. O Pifas, a emissão radiofónica das Forças Armadas, passa a ser emitido em cinco línguas locais, num esforço para anular a Rádio Conakry e a Rádio Libertação, antenas da propaganda do PAIGC. Difundem-se apelos prometendo uma recompensa de 10 000 escudos a cada guerrilheiro do PAIGC que se apresentar com a sua arma (o ordenado mínimo praticado na altura era de 50 escudos e um enfermeiro diplomado ganhava cerca de 1500 escudos).
A linguagem da propaganda é cuidadosamente retocada e o esforço de conquista das populações obteve, no início, resultados, tentando aliciar os próprios elementos do PAIGC, que, na linguagem da política da Guiné melhor, deixaram de ser terroristas, porque dizia-se, segundo a mesma linguagem, que tratava-se afinal um confronto entre irmãos, ou seja, batalha inglória de que nenhum poderá sair vencedor, o que evidencia bem as verdadeiras intenções de Spínola: na impossibilidade de derrotarem militarmente o PAIGC, retirar-lhe pelo menos o ascendente e a superioridade militares, para que, na eventualidade de uma solução política, o exército português não fosse obrigado a negociar em situação de inferioridade.
Nesse período, no âmbito da acção psicológica e psicossocial, inúmeras outras directivas são postas em marcha, visando inverter a equilíbrio militar favorável ao PAIGC. Assim, a Directiva secreta das Operações Psicológicas Alfa, de 26 de Outubro de 1968, recomendava um maior esforço de acção psicológica no chão manjaco, através de acções panfletárias, campanhas de informação e propaganda radiofónica e exploração de motivações ligadas ao sobrenatural.
A Directiva 44/69 de 8 de Abril de 1969, esclarecia ser necessário: “ (...) gerar um clima psicológico novo, onde não haja lugar para ressentimentos e complexos de culpa (...) fazer um esforço orientado para a reconstrução moral e material da província (...), e um trabalho de mentalização, com o fim de eliminar tendências repressivas, consciencializando todos os militares na missão civilizadora (...)”.
A Directiva 58/68, para a época seca de 1969, e, no tocante à acção psicológica, referia-se ao esforço de APSIC (acção psicológica) sobre os manjacos, balantas e mandingas do chão fula. A Directiva 17/69, de 22 de Fevereiro de 1969, insistia no apoio às populações. A Directiva 57/69, de Junho de 1969, apelava aos esforços no sentido de se acelerarem os planos de urbanização para disciplinar acções tendentes a resolver o problema da habitação das populações. A Directiva 60/69, de 15 de Julho de 1969, sublinhava a necessidade do incremento da instrução primária e a Directiva 78/69, de 19 de Novembro de 1969, que gizava todo um plano da manobra a desenvolver na a época seca de 1969/70 (Outubro de 1969 a Março de 1970).
Prioridade ao chão manjaco
Porém, a Directiva 65/69, de 13 de Agosto, explicitava que o comando-chefe – depois de um estudo aprofundado, que ainda não havia sido feito anteriormente, sobre o meio étnico, religioso e linguístico, o meio socioeconómico, rural e urbano os resultados das acções de conquista e protecção das populações através de: importantes medidas sanitárias, preventivas e curativas e o apoio a actividades agrícolas e piscatórias – decidiu, como manobra estratégica, constituir o chão manjaco como área fulcral da luta contra a subversão. Reputamos ser esta uma Directiva da maior importância, devido ao facto de a sua execução vir a ser a acção militar de maiores repercussões na condução da manobra estratégica socioeconómica.
Privilegiou-se igualmente a actuação psicológica sobre as populações sob controlo inimigo de forma a conseguir-se a sua apresentação ou, no mínimo, a aceitação do duplo controlo. Em relação às forças portuguesas, os serviços de Informação e Acção Psicológica deram prioridade ao esforço de APSIC sobre os quadros e pessoal integrante, por forma a conseguir-se a sua participação na manobra socioeconómica, e a orientação das relações com a população, em todos os escalões executivos, visando a dignificação e promoção do nativo guineense no quadro geral da administração.
Relativamente ao PAIGC, este serviços orientaram doravante todo o seu esforço na dissociação do binário dirigentes/combatentes e na anulação do compromisso ideológico e da determinação de luta dos combatentes do PAIGC, por forma a conseguir o máximo de apresentações de elementos activos a recuperação dos ex-combatentes e a captação dos ainda combatentes. A APSIC era ainda orientada para o apoio das operações militares, e visava um triplo objectivo: as forças inimigas, os seus quadros políticos e as populações sob sua influência. Já naquela fase em que os departamentos próprios de Acção Psicológica entraram a funcionar em pleno, estas acções passaram a ser planeadas em relação a três fases: antes, durante e depois das operações.
Em Nhacra, foi instalado um potente emissor e criou-se na rádio o Programa das Forças Armadas dirigido a toda a população (europeia e africana), que era emitido três horas, semanalmente, em várias línguas nativas (manjaco, fula, mandinga e balanta), além de crioulo, que dispunha de sete horas e meia semanais, sendo este facto importante, uma vez que a língua portuguesa tinha pouca penetração na Guiné.
Os programas-tipo foram, essencialmente, orientados para a exploração de temas de contrapropaganda, como: “Colóquio”, “África em Foco”, “Tua Terra é Notícia”, “Sete Dias em Foco”. Além do mais, havia ainda os programas radiofónicos em língua francesa, que visavam as massas populares da República da Guiné-Conakry, Senegal e, em especial, de Casamansa, e tem as elites senegalesas e guineenses, com a finalidade genérica de contrariar a noção de isolamento internacional de Portugal e de desacreditar os elementos independentistas. Quanto aos refugiados, a actividade de captação visava o seu regresso à Guiné, explorando os laços familiares, o apego ao chão e as realizações que consubstanciavam a política da Guiné melhor.
Paralelamente a tudo isso, esses programas radiofónicos fomentavam a deserção e contestação no seio do PAIGC e contavam ainda com um serviço técnico destinado a interferir na audição dos programas da Rádio Libertação, do PAIGC, e doutras rádios estrangeiras, sendo ainda apoiados pela imprensa, através da revistas Panorama da Guiné e o jornal Voz da Guiné.
Outros expedientes de grande poder em termos de acção psicológica foram utilizados, mormente a graduação de novos oficiais e sargentos africanos na cerimónia do 10 de Junho, a promoção de visitas de entidades e jornalistas estrangeiros, por forma a tentar neutralizar o clima de sucesso que a bem orientada campanha do PAIGC, vinha conseguindo, etc.
Quanto às tropas africanas, deve assinalar-se o esforço notável feito no sentido de se abolir, na realidade da vida diária do serviço, qualquer espécie de diferenciação que pudesse ainda existir, de facto, entre elas e as europeias. Neste aspecto, deve ser citada uma medida de relevante efeito psicológico: a intensificação e alargamento em todos os escalões da miscigenação das unidades com europeus e africanos. Esta africanização dos quadros das forças armadas “ (...) servia também a Lisboa para apoiar a sua propaganda de que a guerra não tinha carácter racial (,..)”. Assim, na Guiné, formaram-se unidades que eram quase só constituídas por naturais do território e também, o comando de africanos, recrutados e instruídos no local e, posteriormente, graduados como oficiais e sargentos.
Reestruturação da Rádio Libertação
Do lado do PAIGC, a situação, caracterizava-se por um contínuo esforço no sentido de ripostar convenientemente a política da Guiné melhor, privilegiando-se simultaneamente, no plano estritamente militar, a continuidade dos trabalhos de constituição dos CE (Corpos do Exército) já iniciado. É curioso notar que foi a partir desta altura que Amílcar Cabral concebe e implementa todo um sistema de informações junto dos comandos e frentes de combate, com objectivos evidentes de se contrapor à intensa e cada vez mais bem organizada acção psicológica do exército português. Curiosamente, é nesta altura que o PAIGC adquire igualmente um potente emissor com que equipa a sua Rádio Libertação, reestruturando completamente esses serviços e, conferindo-a maior dinâmica, sob a supervisão de José Araújo, distinto jurista do que, entretanto, se tornou especialista em matéria de informação, cuja secção chefiava.
Em consequência de tudo isso, o PAIGC evoluiu para nova divisão administrativa e militar, em função do seu avanço político. Foi criada a Comissão Nacional das Regiões Libertadas e, militarmente, o território foi dividido, pelo rio Geba, nas frentes norte e sul, e estas em sectores ou zonas. As suas unidades estavam agrupadas em três tipos distintos: (i) infantaria – grupos, bigrupos e bigrupos reforçados (CE), predominantemente dotados de armas ligeiras e lança-granadas; (ii) artilharia – morteiros, canhões; (iii) e armas antiaéreas. Pode afirmar-se, contudo, que não se registaram durante os anos de guerra dificuldades insuperáveis na obtenção, notando-se mesmo crescente volume de material disponível, fruto do constante aumento dos seus apoios externos.
Os efectivos da guerrilha
No que diz respeito ao pessoal, embora as características da luta de guerrilhas torne difícil precisar os efectivos empenhados e estabelecer estimativas esclarecedoras, o comando militar português considerava, em 1971, que as FARP totalizavam 5500 elementos, mais cerca de 2000 das milícias populares, tendo ainda alguma (pouca) margem para novos recrutamentos, perto de 900 a 1000 em cada inter-região, atendendo às taxas de natalidade e mortalidade existentes na altura.
Segundo a estimativa referida, o PAIGC tinha o seguinte dispositivo/efectivos por unidades:
(i) bigrupo, 38/44.
(ii) bigrupo reforçado, 70.
(iii) Grupo de artilharia, 50.
(iv) Grupo de canhões/morteiros, 23.
(v) Grupo de foguetões/antiaéreos, 16.
A disposição dos efectivos por inter-regiões era a seguinte: Efectivos por regiões:
(a) Inter-Região Norte:
(i) Frente São Domingos/Sambuiá, 630.
(ii) Frente Canchungo/Biambe, 760.
(iii) Frente Morés/NhacrA, 680.
(iv) Frente Bafatá/Gabu Norte, 730.
(b) Inter-Região Sul: ´
(v) Frente Bafatá/Gabu Sul, 200.
(vi) Frente Bafatá/Xitole, 160.
(vii) Frente Buba/Quintafine, 230.
(viii) Frente do Quínara, 560.
(ix) Frente de Catió, 370.
Reorganização dos meios operacionais portugueses
Também o exército português, sob o comando de Spínola, ia sofrendo alterações e ajustamentos constantes de modo a adaptá-lo às novas circunstâncias da guerra. Assim, segundo a carta da situação de 3 de Agosto de 1969, podemos verificar que ocorreu sucessivas alterações na organização dos meios operacionais, embora sem modificações significativas no dispositivo, nem nos limites das áreas características – oeste, leste, sul e Bissau:
(i) O Sector L4 é destacado do comando de agrupamento de Bafatá e passa à dependência directa do comando central.
(ii) Os COP1 e COP2 são extintos e as respectivas zonas de acção voltam à responsabilidade do sector S2, que, por sua vez, perde o subsector de Buba, onde tinha a sede, e transfere esta para a Aldeia Formosa (hoje Quebo).
(iii) É criado o COP4, que engloba o ex-sector de Buba e a zona sul do SI (Serviço de Intendência).
(iv) É criado o sector S4, com uma pequena área: a ilha de Bolama, onde tem a sede, que é também sede do CIM (Centro de Instrução Militar) e as ilhas das Cobras e das Galinhas, com uma secção em cada.
Pela Directiva 23/69, de 27 de Fevereiro, do comando-chefe, o Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG) deixa de ter interferência directa na conduta operacional, ficando com plena responsabilidade nos assuntos que corriam pelos comandos das armas e chefias dos serviços das repartições do Quartel-General.
O Sitrep Circunstanciado (SC) 09/69, de 2 de Março, revela a constituição de um agrupamento operacional (CAOP), com sede em Teixeira Pinto (hoje Cantchungo), interposto entre os sectores 01 e 05 e à custa das áreas destes. O CAOP é um órgão de comando apenas operacional, de escalão semelhante ao comando de agrupamento.
No mesmo Sitrep verifica-se uma troca de zonas de acção entre o sector 02 e o COP3. Este, porém, passa a ter sede em Jumbembem e não em Farim, ficando assim sobre o corredor de infiltração de Lamel. O SC 14/69, de 21 de Abril, refere a constituição do COP5, com sede em Nova Lamego (hoje Gabu), tendo por área de responsabilidade o sector L3 (retirado ao comando de agrupamento de Bafatá) e o Sector L4.
A Directiva 27/69, de 13 de Março, do Comando-Chefe, justifica a criação deste COP pelo agravamento da situação na região de Gabu. Em Maio (SC 18/69) e de acordo com a Directiva 36/69, de 11 de Abril, é constituído o COP6 na área do sector 03. A fim de dar garantia de segurança à prossecução dos trabalhos na estrada Mansabá-Farim, Este, pelo que um COP coordena a actividade das forças que pertencem ao Sector 03 e recebe de reforço uma companhia de caçadores pára-quedistas.
Nesta data, aparece como novidade o TG3. Trata-se de uma área onde as operações ficam a cargo do Comando da Defesa Marítima da Guiné, a qual se estende ao longo do curso médio do rio Cacheou, entre o COP6 e o sector 01, a sul, e os sectores 02 e 06, a norte, à custa do território anteriormente à responsabilidade destes, registando-se novas alterações, patentes no SC 31/69. Assim, o COP4 alarga a sua área até à fronteira sul, com a inclusão da Aldeia Formosa, para onde é transferida a sua sede, e o sector S2, reduzido da área que cedeu ao COP4, passa a ter sede em Gadamael Porto. Na área do CAOP, é constituído o sector 07, com sede em Pelundo. Neste Sitrep aparece também como novidade a Zona de Intervenção do CAOP (ZICAOP). Situava-se no extremo norte da área de acção, não tinha forças de quadrícula e nela apenas era permitida actividade operacional coordenada directamente pelo CAOP.
O Sitrep Circunstanciado 31/69 continua a considerar o território da Guiné dividido, como já se referiu, em quatro áreas – Oeste, Leste, Sul e Bissau. Todavia, a estrutura de comando não acompanhou esta divisão. O COMBIS (relativo a Bissau) não sofreu alteração na estrutura superior: continua a dispor de um comando de agrupamento, um comando de batalhão e duas companhias na sede, uma em Nhacra, outra em Quinhamel e duas companhias de milícias. Com excepção de uma das da sede, todas as outras têm pelotões e até secções destacadas.
O Oeste continuou a não ser coordenado por um comando de agrupamento. Tem um CAOP, com sede em Teixeira Pinto/Cantchungo, que coordena três sectores de Batalhão: o da sede, com designação 05, mas agora reduzido de uma pequena área a Norte, que deu origem a outro sector de batalhão, com sede em Cacheou e o sector 07, com sede em Pelundo, constituído igualmente à custa da área Oeste do Sector 05. O Sector 03 passou a designar-se por COP6, o sector 02 e o COP3, como já se referiu, trocaram as respectivas zonas de acção e os restantes sectores de batalhão (01, 04 e 06) mantiveram-se, apenas com ligeira perda de área para dar origem ao já citado TG3.
O Leste aparece agora dividido a meio, de norte a sul entre dois comandos de escalão semelhante: o comando de agrupamento de Bafatá e o COP5, este com sede em Nova Lamego. O primeiro coordena: o sector L2 (que não sofreu alteração), o sector L1, (reduzido praticamente a metade da anterior ZA) que continua com sede em Bambadinca e com mais uma CCAÇ (companhia de caçadores) e o recém-criado COP7, com sede em Galomaro, que ocupa a metade oriental do antigo L1 e dispõe apenas de uma companhia na sede e outra em Dulombi, dois pelotões de milícias e conta com mais uma CCac, que é reserva do CC. O COP5 coordena os sectores L3 e L4. A área do antigo L1 – agora LI e COP7 – recebeu, assim, um reforço de 3 Companhias de caçadores.
O Sul continua dividido em sectores independentes, que são, agora:
(i) o S1 com sede em Tite, reduzido em área, mas praticamente com os mesmos efectivos;
(ii) o S2, reduzido à parte que lhe pertencia na fronteira sul e com os efectivos que aí mantinha e a sede em Gadamael Porto;
(iii) o S3, com sede em Catió, sem alteração;
(iv) o S4, pequeno sector, com sede em Bolama, retirado ao SI.
(v) e o COP4, com sede em Aldeia Formosa (hoje Quebo) e que ocupa as áreas dos extintos COP1 e COP2, do sector de Buba (que pertencia ao S2) e ainda uma faixa a sul do SI, até ao mar. O COP4 recebeu as forças dos sectores extintos.
Os efectivos portugueses
Em síntese, as unidades e órgãos operacionais existentes nesta data eram: dois comandos de agrupamento (Bissau e Bafatá), um CAOP (Teixeira Pinto/Cantchungo), 18 comandos de batalhão (mais cinco que do antecedente), quatro comandos operacionais (COP) (do antecedente três), um batalhão de engenharia, dois centros de instrução militar, duas companhias de comandos, 84 companhias tipo caçadores (mais 15), uma bateria de artilharia de campanha (guarnição normal), dois esquadrões de reconhecimento, uma companhia de polícia militar, um pelotão de polícia militar, 19 pelotões de caçadores independentes (de recrutamento local), 10 pelotões de morteiros, 1 pelotão de artilharia antiaérea, três pelotões de canhão sem recuo, dois pelotões de reconhecimento (Fox), 11 pelotões de reconhecimento (Daimler) e 25 companhias de milícias.
Entretanto, pela carta de situação de 2 de Agosto de 1970, verifica-se um acréscimo de meios operacionais no exército português na Guiné, especialmente constituídos no próprio teatro das operações, com recurso ao recrutamento local, quer para unidades regulares de comandos, caçadores e artilharia, quer para companhias de milícias. A intervenção do comando-chefe continuava a fazer-se mais à custa da constituição de comandos operacionais para dinamizar acções locais do que por alteração de limites ou de meios das unidades. Trata-se de um conceito de comando específico que ficou bem expresso na Directiva 70/69, de 18 de Agosto.
O teatro de operações é dividido em zonas, sectores e subsectores. As zonas são quatro: Oeste, Leste, Sul e Bijagós. Com excepção da última, as zonas dividem-se em sectores, atribuídos ora a comandos de batalhão, ora a comandos operacionais (COP). Além destas zonas existia uma área à responsabilidade do Comando de Bissau (COMBIS). Os sectores dividem-se em subsectores de companhia ou de destacamento. Os comandos de agrupamento e os comandos de agrupamento operacionais (CAOP) podem englobar indistintamente zonas, sectores e subsectores.
Para além destes órgãos, aparecem ainda comandos de agrupamento temporários (CAT) e comandos operacionais temporários (COT). Todos estes órgãos (CAOP, COP, CAT e COT) eram organizados pelo comando-chefe com pessoal existente localmente na Guiné. Os comandos de agrupamento tinham constituição orgânica e eram destacados da Metrópole. O dispositivo, no entanto, sofre constantes alterações como consequência da prioridade dada à manobra socioeconómica, preocupação que levou mesmo à desocupação militar de áreas desabitadas ou pouco habitadas, as quais passaram a ser designadas por zonas de intervenção do comando-chefe (ZICC). As alterações verificadas até se chegar ao dispositivo existente em 2 de Agosto de 1970 são a seguir descritas por ordem cronológica.
Segundo o Sitrep Circunstanciado n.º 36/69, o COP3 e o sector 02 são repostos nas suas áreas iniciais, com sede respectivamente em Bigéne e Farim. é criado na ZA do CAOP mais um sector, à custa das áreas dos sectores 07 e 01, com sede em Bula, e que passaria a ser designado mais tarde por 01A (SC 40/69). a área do TG3 é reduzida e mais tarde integrada na zona de acção do COP3 (SC 51/69). o COP6 é recolhido e desactivado e a respectiva área volta ao controlo completo do sector 03.
Pelo SC 40/69 é revelada a extinção do sector S2 e a integração da sua área no S3. Pouco depois, também o sector S3 é extinto e a sua área integrada no S4, à excepção de uma pequena faixa a noroeste que passa para o S1 (SC 44/69). Ainda segundo este SC, todo o Leste (LI, L2, L3, L4 e COP7) é posto de novo na dependência do comando de agrupamento de Bafatá. Em Dezembro, o SC 49/69 relata que: no CAOP é extinta a ZICAOP e os sectores 05, 07 e 10 passam a depender do sector do batalhão de Cacheu. no Sul, é recolhido o COP4 e a respectiva ZA volta a designar-se S2. No Leste o mesmo aconteceu ao COP7 e a área passa a constituir o sector L5.
No princípio de 1970 (SC 5/70) o sector S4 é extinto e Bolama passa a ser a sede da agora criada Zona dos Bijagós, cujo comando continua à responsabilidade do comando do CIM (Centro de Instrução Militar). Em Agosto deste mesmo ano (SC 31/70), aparecem delimitadas várias áreas excluídas da quadrícula. Surge de novo a ZICAOP e são criadas outras zonas de intervenção: no Oeste a zona de Canjambari. no Sul uma pequena área a norte do Sector S2, a ilha de Como e os baixos cursos dos rios Cumbijã e Cacine. no Leste todo o sul do Sector L3 (Madina do Boé). Todas estas áreas dependem do comando-chefe (ZICC).Na mesma altura, é instalado o COT1, no Norte do sector L3, com sede em Pirada, e que dispõe de efectivos relativamente elevados: cinco companhias tipo caçadores, uma companhia de comandos africanos e dois pelotões de milícias. Em síntese, podemos considerar que os meios de apoio de fogo, em Agosto de 1970, aumentaram significativamente, assim como as acções operacionais.
Nessa altura, em síntese, eram as unidades existentes: dois comandos de agrupamento (Bissau e Bafatá). dois comandos de agrupamento operacionais (CAOP – Teixeira Pinto e CAOP – reserva), 18 comandos de batalhão, um comando operacional (COP), um grupo de artilharia de campanha (guarnição normal, com 27 pelotões de artilharia de campanha). um batalhão de engenharia, dois centros de instrução militar. três companhias de comandos (uma é a companhia de comandos africanos), oito companhias de caçadores (de recrutamento local), 79 companhias tipo caçadores, dois esquadrões de reconhecimento, 18 pelotões de caçadores independentes (de recrutamento local). três pelotões de reconhecimento (Fox), 11 pelotões de reconhecimento (Daimler), 10 pelotões de morteiros 81 milímetros, três pelotões de canhões sem recuo. um pelotão de artilharia antiaérea. Uma companhia de polícia militar, um pelotão de polícia militar e 30 companhias de milícias.
Outro objectivo, no quadro das alterações introduzidas pelo comando-chefe sob as ordens de Spínola, era dotar a força aérea com as condições que lhe permitissem assegurar um elevado nível de prontidão e sustentação dos meios. Este conjunto de medidas tornou possível voar muito mais horas do que anteriormente, apesar do facto de cada hora de voo exigir, em média, cerca de 10/15 horas de manutenção, não falando das grandes dificuldades que se deparavam, quer por força dos constrangimentos a que o País estava sujeito, quer pela dureza e rusticidade das condições em que os meios operavam e eram mantidos. Acresce que, na sua maioria, os aviões de combate eram meios quase obsoletos, com uma idade média superior a 20 anos” (14).
Os resultados desta estratégia não se fizeram esperar. Uma população ainda não politizada aderia a quem de imediato lhe dava melhores possibilidades de vida, embora ajudasse ao mesmo tempo os guerrilheiros, pelo que o general Spínola não podia dizer que estava a desarmar o PAIGC ao tirar-lhe a principal arma de combate, isto é, os motivos de descontentamento.
A propaganda, bem feita, conseguiu mesmo atrair muitas populações anteriormente foragidas no mato ou acolhidas nos campos de refugiados da guerrilha, no Senegal ou na República da Guiné-Conakry e também alguns dirigentes, levados pelo cansaço ou por dissensões internas, apresentam-se ou são capturados, voltando-se mesmo para o lado de Spínola – é o caso, entre outros, de Rafael Barbosa, ex-presidente do PAIGC.
Entretanto, quando os sorrisos não bastavam, lá estavam os 40 000 soldados, os caças-bombardeiros Fiat e as bombas de napalme, embora não tão eficazes como em Angola. Para quê? Para vencer a guerra? Spínola não se iludia: “Para ganhar tempo, a fim de poder restabelecer o equilíbrio militar (...)” (15).
No entanto, no chão manjaco, onde Spínola decidiu instalar a coordenação dos Serviços de Informações e Acção Psicológica, tornou-se um óbvio embaraço para o PAIGC, na medida em que esses serviços desenvolveram todo um trabalho de sapa e conseguiram mesmo, através de dignitários locais, penetrar no dispositivo do PAIGC. Estabelecem-se os primeiros contactos com os comandos dos bigrupos em acção na área - André Gomes e José Sanha, – e Spínola, acompanhado por Almeida Bruno, chega a ter um encontro com elementos do PAIGC (16).
O impasse militar no início de 1968
Nessa altura, porém, todos são unânimes na análise da situação militar, no início de 1968, na Guiné: a guerra estava atolada num impasse. Impasse, mas não empate, já que consagrava os ganhos do PAIGC nos quatro anos anteriores e tornava a situação crítica para as forças portuguesas. A era de Spínola é inaugurada num período em que “la situation militaire est dans une impasse dificille sourtout por les troupes portugaises. Le PAIGC dispose d´une liberté total et ouverte d´installation et de manœuvres dans les pays voisins, ce qui lui facilite l´effet de surprise et rend plus sûres ses actions de guérilla, car le théâtre des opérations est peu profond, Par contre, le faible strcture administrative portugaise qui s´y trouve implanté, un résou routier insuffisant, le maillage des fleuves et canaux s´ajoute une grande ampleur de l´effet des marées, la dense arborisation aisée et la durée du climat non seulement empechent une intervention aisée et rapide des forces portugaises, mais les usent aussi physiquement car prés 80 por cento des effectifs sont constitué par des militaires européens ” (17).
Do ponto de vista estritamente militar, antes de a acção violenta se generalizar, as primeiras medidas no teatro das operações denotam a sua preocupação de ocupar o território por forças enquadradas segundo a hierarquia habitual: comando-chefe, comando militar, zonas militares, à responsabilidade de comandos de agrupamentos, sectores, entregues a comandos de batalhão, subsectores, entregues a comandos de companhia, e destacamentos de pelotão e por vezes até de secção.
Perante o incremento das acções por parte do PAIGC, Spínola altera quase que imediatamente o dispositivo militar, substituindo destacamentos por companhias, para, mais tarde, voltar a aumentar o número daqueles destacamentos nas áreas mais afastadas da fronteira. Ainda quis ir mais longe no sentido de substituir batalhões completos pelo sistema de rendição desfasada de pelotões ou mesmo de rendição individual, mas este alteração no dispositivo foi efémera, porque ele próprio o teria profundamente alterado em finais de 1968, quando centralizou toda a coordenação da actividade operacional no comando-chefe, suprimindo relativamente a esta estrutura de comando e coordenação as atribuições de intervenção operacional.
Escalada da guerra a partir de Novembro de 1969
Assim, a partir de Novembro de 1969, o exército português intensificou os bombardeamentos às povoações fronteiriças dos países vizinhos com o objectivo de retirar o apoio destes ao PAIGC, chegando mesmo a utilizar, no período compreendido entre 1 e 27 de Dezembro de 1969, bombas de napalme, mormente nas localidades do Sul da Guiné, na povoação de Banta El Sila (Centro Sul).
Na sequência da retirada e do desastre, o PAIGC ocupou Madina de Boé, mais concretamente Medjo e Tchtché [Cheche] em Fevereiro de 1971, tendo o sido o facto alvo de enorme exploração junto da opinião pública mundial por parte dos serviços de informação e propaganda do PAIGC, ao que o exército português ripostava, com desculpas de terem abandonado aquela região em consequência do reordenamento populacional, que exigia que aquelas populações fossem transferidas para aldeias de maior progresso económico e social.
Embora se mantivessem as zonas e os sectores, as estruturas de comando não as acompanhavam. Passou-se à nomeação de comandos de carácter operacional, baseada numa organização do dispositivo militar em que assentava a estrutura do PAIGC, possuindo estes grupos, por vezes, categorias hierárquicas variáveis e implantação e duração eventuais: destinavam-se a cumprir missões pontuais, determinadas pelo comando-chefe, substituindo, nalguns casos, a presença efectiva na área (quadrícula) pelo dinamismo da acção. E é assim que são criadas as áreas de intervenção, as quais estão simplesmente desocupadas e só lá podem ser conduzidas operações pelo escalão a quem estão atribuídas – comando operacional ou comando-chefe (18).
Em lugar da ocupação efectiva de todo o território, dá-se ênfase à denominada manobra socioeconómica, fazendo convergir as forças para as zonas de ocupação populacional e deixando as despovoadas para intervenções esporádicas de reconhecimento ou acções de combate a grupos do PAIGC eventualmente infiltrados e referenciados. (…)” (19).
Assim, o PAIGC deu pela primeira vez um inequívoco sinal de pretender, em 1971 pressionar a área de Guiledje-Gadamael, procurando manobrar segundo dois eixos convergentes a partir de Salancaur/Botche Sanza (por Medjo) e de Kandiafara.
Com efeito, Cabral procurou a partir de 1971, estabelecer estruturas sociais de partido-Estado em Tigili/Iador/Sara/Zona Oeste (Biambi), Catió e Quintafine, enquanto que, por outro, se preocupava com as ameaças às áreas libertadas, traduzindo-se tal situação na polarização da sua actividade em torno da estrada Mansabá-Farim, na sua reacção ao reordenamento de Bissássema e na intenção de instalar forças no Unal, visando libertar corredores de infiltração que favorecessem os ataques aos centros urbanos.
Nesta desconcentração, o CE 199/A regressou à área de Campada, enquanto o 199/B foi ocupar e reactivar a base de Hermancono, que voltou a constituir área fulcral na fronteira norte, praticamente abandonada desde Fevereiro de 1971, aquando da sua transferência para Canjeno.
Ainda no que se refere à ligação com o interior da Guiné, uma vez que estas acções de iniciativa do PAIGC irradiavam no sul a partir do território da Guiné-Conakry, salienta-se, pelo seu significado, a reabertura do corredor de Campada, facto que surgiu da necessidade de uma ligação directa das bases no Senegal com o chão manjaco, em virtude da manobra que o PAIGC pretendia desenvolver nessa área.
(Continua)
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Notas do L.A.:
(11) PAIGC Actualités, n.º 1, órgão de informação do PAIGC, Janeiro de 1969.
(12) PAIGC Actualités, n.º 10, Outubro de 1969.
(13) A organização das tabancas em autodefesa e o reordenamento das populações, na Guiné, foi determinada em 30 de Setembro de 1968. A "(...) política de agrupar populações em aldeamentos protegidos, representava uma cópia parcial da estratégia americana no Vietname e visava proteger a população rural dos insurrectos (...)"531, envolvendo responsabilidades acrescentadas para o Governo e para as Forças Armadas, perante as populações e, assim, as medidas adoptadas deveriam revelar-se eficazes, no tocante à segurança das populações e dos meios de subsistência. em Dezembro de 1971, havia 46 tabancas organizadas em autodefesa. A experiência demonstrou que era preciso reajustar as directivas sobre reordenamento e autodefesa. Assim, pela Directiva (secreto) 19/69, de 5 de Março de 1969, do comando-chefe das Forças Armadas da Guiné, foram publicadas as "Normas Reguladoras de Reordenamentos e Autodefesas".
(14) Corbal, Aurélio B. Aleixo, “O vector aéreo nas campanhas de África – Análise conceptual e estrutural” -, in Estudos sobre Campanhas de África (1961.1974), Instituto de Altos Estudos Militares, 2000, pp. 192-193.
(15) Rodrigues, Avelino, Borga, Cesário, Cardoso, Maria, O Movimento dos Capitães e o 25 de Abril, Publicações D. Quixote, 4ª edição, Lisboa, 2000, pp. 148-151.
(16) Não nos foi possível confirmar em Bissau esta informação junto de José Sanha, ex-comandante do PAIGC.
(17) Barata, Manuel Themudo, op. cit., p. 76.
(18) Estado-Maior do Exército op. cit, pp. 93-96.
(19) Idem, pp. 57-59.
(20) “Anexo C ao Intrep” n.º 6/71- Pasta Organizada por Províncias Ultramarinas – Guiné- , Arquivos da PIDE-DGS/ANTT, NT 8924, fls. 15.
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Notas de L.G.:
(*) Vd. post de 25 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1549: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (8): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte I
(**) Afirmação altamente controversa do Leopoldo Amado: as tropas portuguesas que foram protagonistas desses trágicos acontecimentos - como os alferes milicianos da CCAÇ 2405 que fazem parte da nossa tertúlia, o Paulo Raposo e o Rui Felício - negam terminantemente que tenha havido, como causa imediata e directa do afundamento da jangada, qualquer acção do PAIGC. Sobre o desastre do Cheche, no Rio Corubal, no âmbito da Operação Mabecos Bravios, vd. os posts:
2 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre de Cheche, na retirada de Madina do Boé (5 de Fevereiro de 1969)
8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXX: A retirada de Madina do Boé (José Martins)
12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)
(...) "(i) O desastre do Cheche ficou a dever-se, em minha opinião, ao excesso de peso entrado na jangada;
7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P853: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (10): A retirada de Madina do Boé
15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)
21 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)