segunda-feira, 21 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3077: A Guerra estava militarmente perdida (27)? Reacções a nível internacional. Os efectivos das NT. (A. Marques Lopes).


Não entro nessa polémica... (III)

A. Marques Lopes (1)


Reflexos e reacções a nível internacional (alguns dados)

1962

Dezembro – Amílcar Cabral apresentou-se como peticionário perante a Comissão de Curadorias da ONU, onde, além de pedir a independência da Guiné, declarou que os seus partidários deveriam ser considerados soldados da ONU pois desempenhariam funções semelhantes às dos "capacetes azuis" que se encontravam no Congo. No final do ano, o PAIGC tinha assegurado o apoio de praticamente toda a África. Mas foi da URSS que veio o maior auxílio em material, formação e apoio diplomático. Independências em África: Argélia, Burundi e Ruanda.

1963

4 de Fevereiro – Início da 3ª Conferência de Solidariedade Afro-Asiática no Tanganica, presidida por Julius Nyerere, em que foi pedido o boicote económico e diplomático a Portugal.
10 de Março – Declaração de Amílcar Cabral em Paris sobre a disponibilidade de o PAIGC suspender a luta, se Portugal quisesse solucionar pacificamente o problema colonial.
13 de Março – Contestação do Governo português à competência da Comissão de Descolonização da ONU para decidir sobre os territórios ultramarinos de Portugal.
9 de Abril – Comunicado oficial do Governo do Senegal sobre o bombardeamento efectuado por quatro aviões portugueses a uma aldeia fronteiriça, sendo o assunto comunicado ao Conselho de Segurança da ONU.
11 de Abril – Publicação da "Encíclica Pacem in Terris" do Papa João XXIII com referência explícita à independência de todos os povos.
25 de Maio – Fundação da Organização de Unidade Africana (OUA) pelos chefes de 30 Estados independentes de África reunidos em Adis Abeba.
Junho – Corte de relações diplomáticas da República Árabe Unida com Portugal devido à política colonial portuguesa.
7 de Junho – Declaração do secretário de Estado para os Assuntos Africanos dos Estados Unidos, segundo a qual os interesses estratégicos dos EUA exigem a continuação da cooperação com Portugal.
Julho – Corte de relações diplomáticas do Senegal com Portugal, com proibição de circulação de pessoas e mercadorias na fronteira com a Guiné.
1 de Julho – Início da Conferência Internacional de Instrução Pública, em Genebra, em que é aprovada uma moção que pede a exclusão de Portugal por causa da sua política colonial.
10 de Julho – Início dos trabalhos de uma comissão de boa vontade nomeada pelo Comité de Libertação Africano no sentido de tentar unir os esforços dos movimentos de libertação angolanos.
27 de Julho – Exclusão de Portugal da Comissão Económica para África (CEA), organismo da ONU.
31 de Julho – Oposição dos Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, no Conselho de Segurança da ONU, à aplicação de sanções contra Portugal. Resolução do Conselho de Segurança da ONU que rejeita o conceito português de "Províncias Ultramarinas", decidindo que a situação perturbava seriamente a paz e a segurança em África, apelando a Portugal para reconhecer o direito à autodeterminação e independência.
12 de Agosto – Discurso de Salazar sobre o problema do ultramar, que teve grandes repercussões internacionais e levou os nacionalistas a reafirmarem a continuação da luta.
23 de Agosto – Interdição do espaço aéreo do Senegal a aviões procedentes ou destinados a Portugal e à África do Sul.
29 de Agosto – Início das conversações de George Ball, representante americano, com Franco Nogueira e Salazar, em Lisboa, em que se evidenciam as divergências relativamente aos conceitos de autodeterminação e do factor tempo no problema africano.
30 de Agosto – Encontro de George Ball, subsecretário de Estado americano, com Salazar, sendo debatida a atitude americana face à política colonial e a presença dos EUA nos Açores.
Setembro – Condenação pelo VIII Congresso Internacional Socialista, dos países que persistem em oprimir os povos coloniais, como Portugal.
16 de Setembro – Comunicado oficial do Governo do Senegal sobre o bombardeamento efectuado por quatro aviões portugueses a uma aldeia fronteiriça, sendo o assunto comunicado ao Conselho de Segurança da ONU.
Outubro – Realização da XVIII Assembleia-Geral da ONU, em que os países afro-asiáticos atacam a política colonial portuguesa.
16 de Outubro – Início de conversações entre Portugal e alguns países africanos, sob a égide da ONU, que incidiram, sem acordo, no sentido e no alcance do conceito de autodeterminação.
8 de Novembro – Debate na Comissão de Curadorias da ONU, sendo pedido ao Conselho de Segurança que se ocupe com urgência da situação nos territórios portugueses.
Dezembro – Intervenção de Henrique Galvão na ONU sobre a "questão ultramarina portuguesa".
3 de Dezembro – Resolução da Assembleia-geral da ONU, a solicitar ao Conselho de Segurança a adopção das medidas necessárias à execução das suas resoluções relativas aos territórios sob administração portuguesa.
6 de Dezembro – Declaração pública dos Estados africanos participantes nas conversações com Portugal, em que se lamenta o facto de não ter modificado minimamente os princípios fundamentais da sua política, tornando impossível qualquer conversação séria.
11 de Dezembro – Resolução do Conselho de Segurança da ONU, a confirmar o conceito de autodeterminação da Declaração Anti-colonialista e a deplorar a inobservância da resolução de 31 de Julho de 1963.

1964

Fevereiro – Reportagem da revista "África Report" sobre a história e evolução do PAIGC, focando a sua organização, objectivos, relações e formas de actuar.
Maio – Declaração de Mennen Williams, secretário-assistente dos Estados Unidos para os Assuntos Africanos em Dacar, sobre o apoio do seu país à politica de autodeterminação da Guiné Portuguesa.
25 de Maio – Sessão comemorativa do Dia da Libertação Africana em Adis Abeba, primeiro aniversário da OUA, tendo os chefes de Estado de vários países africanos afirmado a continuação da ajuda aos movimentos de libertação.
Junho – Condenação da administração colonial portuguesa durante o 48º Encontro da OIT em Genebra. Comentário da BBC sobre a politica portuguesa: "Os portugueses não podem pregar aos quatro ventos que estão a difundir os ideais do cristianismo e a cultura ocidental, se continuam a recusar aos africanos a independência, direito humano fundamental".
3 de Junho – U'Thant, secretário-geral da ONU, não aceita o convite de Portugal para visitar Angola e Moçambique, "uma vez que, nas presentes circunstâncias, tal visita não servirá objectivo útil".
Julho – Conferência de alto nível de 34 chefes de Estado africanos no Cairo, em cuja ordem do dia se salienta a apreciação do relatório do Comité de Libertação de África e o exame da situação nas colónias portuguesas. Os movimentos de libertação adaptam a sua propaganda à realidade e visam atingir os militares portugueses, convencendo-os de que a guerra em África lhes é imposta, devendo os seus esforços voltarem-se contra o Governo português. Declarações do assistente do secretário de Estado americano para os assuntos Africanos sobre o desejo de ver Portugal reconhecer publicamente o princípio da autodeterminação, devendo-se encorajar ambas as partes às cedências.
6 de Julho – Aprovação de uma lei pela Câmara dos Lordes britânica concedendo a independência à Niassalândia, que passa a chamar-se Malawi e cujo primeiro presidente é Hastings Banda.
17 de Julho – Garantias de apoio do cônsul de Portugal na Rodésia a Ian Smith no caso de declaração unilateral de independência da minoria branca.
1 de Agosto – O Congo-Leopoldville toma a designação de República Democrática do Congo (RDC).
25 de Setembro – A França anuncia a entrega a Portugal de oito navios de guerra, como contrapartida pela cedência da base das Flores.
5 de Outubro – Inicio da II Conferência Plenária dos Países Não Alinhados no Cairo, com a presença de Holden Roberto, em cujo comunicado se apela ao apoio material, financeiro e militar aos combatentes da liberdade dos territórios sob domínio português.
2 de Dezembro – Visita do Papa Paulo VI à Índia, que o governo português considera "uma afronta gratuita, inútil e injusta contra Portugal". O Conselho de Segurança da ONU decide ouvir em audiências os movimentos de libertação de Angola, Guiné e Moçambique.
9 de Dezembro – Independência da Zâmbia (ex-Rodésia do Norte). Independência da Tanzânia (ex-Tanganica).
21 de Dezembro – A Assembleia-Geral da ONU reconhece a legitimidade da luta que os povos sob dominação portuguesa travam para alcançar a sua liberdade e independência.
31 de Dezembro – Declaração de Franco Nogueira sobre o abandono da ONU por parte de Portugal.

1965

Janeiro – Portugal põe em causa a legalidade da constituição do Conselho de Segurança da ONU, pelo que declara não se considerar obrigado por qualquer decisão sua Sétima Sessão do Comité Executivo do Secretariado Permanente de Solidariedade Afro-Asiática, sendo um dos principais objectivos discutir as medidas a tomar para solucionar os problemas de Angola, Moçambique e Guiné. Declaração da Comissão Central do Conselho Mundial das Igrejas sobre a necessidade de ser apressada a concessão da autodeterminação aos territórios coloniais ainda existentes em África.
1 de Janeiro – Corte de relações da Indonésia com Portugal.
2 de Janeiro – Abertura da base aérea alemã em Beja.
Fevereiro – Posição do ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha Ocidental de que só venderia 60 aviões militares de origem canadiana a Portugal na condição de eles serem exclusivamente utilizados na área NATO.
Março – Aumento das pressões dos líderes negros americanos no sentido de um endurecimento da política americana em relação às posições portuguesas em África. Visita do rei Hassan ao Cairo, sendo condenada, no comunicado final, a guerra de extermínio em Angola, Moçambique e Guiné, e a recusa de Portugal em conceder aos povos dos territórios africanos a autodeterminação. Proibição de todas as trocas comerciais com Portugal por parte do Governo tanzaniano. Seminário Económico Afro-Asiático em Argel, com a presença de delegados de 40 países, constando da plataforma de acção aprovada, o fornecimento aos movimentos nacionalistas de ajuda em armas, equipamentos, finanças e formação militar de quadros. Reunião da Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP) em Rabat, com a presença de representantes da FRELIMO, MPLA, PAIGC e Comité de São Tomé e Príncipe.
Abril – Entrevista de Amílcar Cabral ao Le Monde, confirmando que pretende preservar as oportunidades de uma futura colaboração com o Estado Português não colonialista, não escondendo as dificuldades da luta na Guiné. Afirmação do apoio da política argelina aos movimentos nacionalistas de Angola, Moçambique e Guiné e aos patriotas que lutam contra o fascismo de Salazar.
21 de Maio – Condenação unânime de Portugal, pelo Conselho de Segurança da ONU, devido a incursões armadas no Senegal.
Junho – Aprovação pela 49ª Conferência Anual da OIT, de uma resolução final que condena a política de trabalho forçado praticado pelo Governo português nos territórios sob sua administração. Declaração da delegada dos Estados Unidos na Comissão de Descolonização da ONU, reunida em Dar-es-Salam, sobre a autodeterminação dos territórios portugueses em África. Reunião da Comissão de Descolonização da ONU em Dar-es-Salam que, na resolução final, pede a todos os Estados para darem apoio moral e material a Angola, Moçambique e Guiné, e aos países da NATO para se absterem de fornecer armas e munições a Portugal
10 de Junho – Resolução da Comissão de Descolonização da ONU, em que pele primeira vez se deixa de falar em "territórios sob administração portuguesa" para se referirem "territórios sob dominação portuguesa".
10 de Julho – Início da reunião do Congresso Mundial da Paz, em Helsínquia, que aprova uma proposta para a realização de solidariedade com os combatentes da liberdade das colónias portuguesas.
20 de Julho – Início da publicação de um jornal em português em Acra (Gana), ao serviço da luta de libertação das colónias portuguesas.
Agosto – Visita de uma missão militar da OUA às regiões controladas pelo PAIGC.
Outubro – Reconhecimento pela OUA, do PAIGC como legítimo representante do povo da Guiné-Bissau.
3 de Outubro – Início da reunião CONCP em Dar-es-Salam, com a afirmação da necessidade de coordenação político-militar entre os movimentos nacionalistas, estiveram presentes Mondlane, Uria Simango e Marcelino dos Santos (FRELIMO), Amílcar Cabral, Vasco Cabral e José Eduardo Araújo (PAIGC), Agostinho Neto e Mário de Andrade (MPLA) e Tuleiro de Medeiros e António S. Nogueira (CLSTP).
4 de Outubro – Discurso do Papa Paulo VI na Assembleia-Geral das Nações Unidas com elogio da ONU e da sua dimensão universal.
21 de Outubro – Início da reunião de alto nível da OUA, em Acra, que pediu aos movimentos de libertação dos territórios sob administração portuguesa a intensificação da luta.
3 de Novembro – Moção do Conselho de Segurança da ONU, pedindo a todos os Estados para não prestarem assistência a Portugal "que lhe permita continuar a repressão" contra a população dos territórios africanos, em especial armas e equipamento militar.
11 de Novembro – Proclamação da independência da Rodésia por Ian Smith, com apoio da minoria branca.
23 de Novembro – Resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre o imediato reconhecimento do direito dos povos dos territórios sob administração portuguesa à autodeterminação e independência, referindo que a politica portuguesa "perturba seriamente" a paz e a segurança internacionais.
12 de Dezembro – Aprovação de uma resolução da Assembleia-Geral da ONU em que, pela primeira vez é reconhecida a "legitimidade da luta" que os povos sob dominação colonial travam para exercer o seu direito à autodeterminação.

1966

Janeiro – Inicio do bloqueio do porto da Beira pela Armada britânica, para impedir o fornecimento de petróleo à Rodésia.
3 de Janeiro – Início de uma reunião da Conferência de Solidariedade Tricontinental em Havana, com cerca de 500 delegados que adoptam uma linha dura contra o colonialismo, sendo criada a Organização de Solidariedade dos Povos da Ásia, África e América Latina.
21 de Janeiro – Reunião dos ministros africanos do Trabalho no Gana que pedem a expulsão de Portugal da OIT.
25 de Janeiro – Resolução da Assembleia-Geral das Nações Unidas que recomenda a aplicação de um embargo ou bloqueio a Portugal, proibindo o trânsito de aviões e navios e o comércio com Portugal.
Março – Visita a Moscovo de uma representação da CONCP chefiada por Victor S. Maria, acompanhado de Luís de Andrade, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos.
21 de Março – Celebração de um protocolo entre o Senegal e o PAIGC que estabelecia as modalidades de cooperação entre as respectivas autoridades.
31 de Março – Início de uma reunião de chefes de Estado e de Governo da África Central e Ocidental em Nairobi, em cujo comunicado final se inclui uma referência aos esforços a favor da libertação dos territórios portugueses.
5 de Maio – Início de um congresso da Internacional Socialista, em Estocolmo, com a presença da FRELIMO como "convidado fraternal" e em que se reafirma a condenação do colonialismo e se manifesta particular preocupação pela situação em Angola, Moçambique e Guiné.
18 de Maio – Apresentação de uma proposta da URSS na Comissão de Descolonização da ONU para conhecimento das medidas tomadas sobre a suspensão da assistência técnica a Portugal por causa da sua politica colonial, com a presença de Mário de Andrade e Amílcar Cabral. XIX Assembleia da OMS, em Genebra em que é aprovada uma resolução que afasta Portugal da sua Comissão regional para a África e suspende a assistência técnica ao Governo de Lisboa.
29 de Maio – Sanções do Conselho de Segurança contra a Rodésia.
18 de Junho – A Comissão de Descolonização da ONU ouve, em Argel, depoimentos de desertores portugueses acerca das guerras coloniais.
27 de Junho – Reunião da CONCP em Brazzaville, com a presença de Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos, decidindo-se uma mais estreita colaboração com a FPLN da Argélia e maior coordenação entre os movimentos de libertação das colónias portuguesas.
Setembro – Conferência geral da UNESCO em Paris, com a presença de 109 delegados, que decidem a exclusão de Portugal dos trabalhos da organização. Eleição de Amílcar Cabral como presidente da CONCP. Atribuição do 2º prémio do Festival de Veneza para filmes documentários à produção "Levanta-te Negro" de Piero Nelly, sobre as actividades do PAIGC na Guiné Portuguesa.
15 de Outubro – Abstenção de Portugal na ONU na criação do Dia Internacional para a Eliminação da Descriminação Racial.
13 de Novembro – Condenação pelo Conselho de Segurança da ONU da aliança entre os governos da África do Sul, Portugal e Rodésia, conhecida por aliança celerada.
17 de Novembro – Aprovação de uma resolução da Assembleia-Geral da ONU condenando a guerra colonial conduzida por Portugal, que constituía "um crime contra a humanidade e uma ameaça grave à paz e à segurança internacionais".
Dezembro – Resolução da Assembleia-geral das Nações Unidas que classifica a política Portuguesa como um crime contra a humanidade

1967

Janeiro – Entrevista de Mário de Andrade ao jornal "Afrique Nouvelle" em Dacar, com referências à actividade da CONCP e à situação das várias frentes e das relações dos movimentos com os países africanos.
26 de Janeiro – Apresentação da peça teatral de Peter Weiss em Estocolmo, "Canção da Máscara Simbólica", ataque frontal e com grandes repercussões, à politica colonial portuguesa.
23 de Fevereiro – Inauguração do Comando Ibero -Atlântico (Iberlant) da NATO em Oeiras
Março – Crescimento da posição crítica dos países escandinavos à política colonial portuguesa, reflectida nos órgãos de comunicação social. Condenação dos países que cooperam com a África do Sul, Rodésia e Portugal, pela Comissão dos Direitos do Homem da ONU.
31 de Março – Editorial do "Jornal do Brasil", reflectindo a posição oficiosa do governo brasileiro, e pedindo a Portugal que acene para as colónias africanas com uma esperança de independência, para abrir as portas a uma futura comunidade com raízes lusitanas.
Abril – O Hospital Militar de Hamburgo recebe 88 mutilados de guerra portugueses. Artigo do jornal "Horoya", publicado na Guiné-Conacri sobre "Uma consciência politica sólida na base de uma economia florescente na zona libertada" onde se referiam as actividades económicas nas zonas do PAIGC.
23 de Abril – Realização de uma conferência de solidariedade com os povos das colónias portuguesas por delegações de jovens de 64 países, em Conacry.
Maio – A Comissão de Descolonização da ONU, depois de visitar vários países da África e do Médio Oriente, decidiu reunir-se em Lusaka para tratar especificamente dos problemas dos territórios sob administração portuguesa.
Julho – Na 51ª Conferência do Trabalho da OIT, a Comissão de Verificação de Poderes decidiu incluir Portugal na lista especial dos países que não respeitam as convenções da organização. Protesto da FPLN pela presença da delegação oficial portuguesa na 51ª Conferência Internacional do Trabalho da OIT.
Agosto – Publicação em Argel de um volume contendo o conjunto das deliberações tomadas pela CONCP na sua reunião de Dar-es-Salam, em Outubro de 1965.
Setembro – Declaração do ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha na ONU, afirmando que o Governo de Londres apoia persistentemente o principio da autodeterminação em relação aos territórios portugueses. Início dos contactos da PIDE com sectores da oposição ao regime da Guiné-Conacry.
Outubro – Concessão de 100 bolsas de estudo aos movimentos de libertação de Angola pelo alto Comissariado da ONU para os Refugiados.
Dezembro – Aprovação de uma resolução da Assembleia-geral da ONU, condenando a exploração de territórios coloniais por interesses financeiros e económicos que impedem os processos de descolonização.

1968

Janeiro - 12ª Sessão da Comissão de Coordenação para a Libertação de África da OUA em Conacry.
13 de Agosto - Informação da ONU sobre refugiados, havendo 300.000 de Angola no Congo-Kinshasa, 61.000 da Guiné no Senegal e 122.000 de Moçambique na Zâmbia e Tanzânia
Novembro - Condenação pela ONU, da politica colonial portuguesa
27 de Novembro - Discurso de Marcello Caetano na Assembleia da República, onde declara que "a liberdade e independência dos países da Europa ocidental joga-se não só na própria Europa, como em África".
29 de Novembro - Aprovação de uma resolução da Assembleia Geral da ONU de tom moderado contra a politica colonial portuguesa.
Dezembro - Anúncio pelo Governo sueco, da concessão de ajuda aos movimentos nacionalistas das colónias portuguesas.
8 de Dezembro - Início em Paris de conversações com vista ao cessar-fogo no Vietname.

1969

18 de Janeiro - Início da Conferência de Cartum, que leva à constituição do Comité de Mobilização e Apoio aos Povos das Colónias Portuguesas.
Fevereiro - Plano de Paz de Léopold Senghor para a Guiné, propondo a independência no quadro de uma comunidade luso-africana.
Junho - Recomendação da Assembleia Geral da União da Europa Ocidental no sentido de ser prosseguida uma política comum tendente ao encaminhamento de Portugal para um governo democrático. Resolução da Comissão de Descolonização da ONU, depois de uma visita a vários países africanos, de denúncia da guerra colonial em que Portugal está empenhado, classificada como um "grave crime contra a humanidade e uma ameaça à paz e à segurança".
Julho - Realização do I Festival Cultural Pan-Africano em Argel, em cujo manifesto se salienta que os Estados africanos têm todos a obrigação de responder a uma colonização total com uma luta total pela libertação.
5 de Julho - Apelo dos lideres dos movimentos de libertação de Angola (MPLA), Guiné (PAIGC e Moçambique (Frelimo) à Conferência Episcopal Africana, reunida em Campala, para a visita de Paulo VI.
28 de Julho - Aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU, de uma queixa da Zâmbia, por ataques aéreos portugueses a povoações fronteiriças, em que os aliados portugueses se abstiveram, mas manifestaram discordância com a política colonial portuguesa.
18 de Agosto - Apresentação feita por Amílcar Cabral em Argel, de cinco desertores portugueses.
16 de Setembro - Apresentação do relatório do secretário-geral da ONU, em que U'Thant lamenta a decepção sofrida por muitos que alimentaram a esperança de que o Governo português alterasse a política colonial e reconhecesse o direito à autodeterminação e independência dos seus territórios ultramarinos.
Outubro - Estabelecimento de contactos de Senghor com o Governo português para exploração da possibilidade de conversações com os movimentos de libertação para a solução pacifica do problema colonial.
1 de Outubro - Anúncio por Olof Palme, novo primeiro-ministro da Suécia, da criação de um programa de auxilio económico à Frelimo e ao PAIGC, com desaprovação firme da politica portuguesa.
8 de Novembro - O ministro da Defesa Nacional informa a Cruz Vermelha sobre a existência de 23 militares "retidos" na República da Guiné-Conacry, cinco na República Democrática do Congo, quatro na Tanzânia e um na Zâmbia.
20 de Novembro - Acolhimento do Manifesto de Lusaka pela Assembleia Geral da ONU.
21 de Novembro - Aprovação pela Assembleia-Geral da ONU, de uma resolução de condenação da política colonial de Portugal, de um tom moderado, mencionando expressamente o Manifesto de Lusaka.
9 de Dezembro - Condenação de Portugal no Conselho de Segurança da ONU por violação do território do Senegal.
22 de Dezembro - Condenação de Portugal no Conselho de Segurança da ONU por violações do território da Guiné-Conacry.

1970

22 de Janeiro - Reunião preparatória da Conferência Internacional de Apoio aos Povos das Colónias Portuguesas realizada em Roma pela OSPAA (Organização de Solidariedade dos Povos Afro-Asiáticos), que decide realizar a Conferência em Roma, em 27 a 29 de Junho.
28 de Janeiro - Os Estados Unidos decidem fornecer a Portugal equipamento militar "não letal".
Fevereiro - Conversações secretas em Dacar entre delegações de Portugal e do Senegal, com vista a um cessar-fogo na Guiné.
Abril - Protesto de Portugal na ONU por a Assembleia Mundial da Juventude, realizada sob a égide da ONU, ter convidado directamente representantes de Angola, Moçambique e Guiné sem o conhecimento do Governo português.
Maio - Novo pedido de U'Thant aos países para acatarem as resoluções da ONU, o que não acontece com Portugal, frisando que "os Estados membros devem tomar cautela para não caírem na armadilha de se tornarem inimigos da ONU". Informação de Portugal ao secretário-geral da ONU de que não participaria na Assembleia Mundial da Juventude, a realizar em Julho. Visita de Léopold Senghor aos países escandinavos, declarando em Estocolmo que "tinha proposto um plano de paz aceite por Amílcar Cabral, residindo a dificuldade da sua aplicação na obtenção do acordo dos portugueses".
29 de Maio - Visita a Lisboa do secretário de Estado norte-americano, William Rodgers.
27 de Junho - Início da Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas, realizada em Roma.
1 de Julho - Recepção pelo Papa Paulo VI dos dirigentes dos movimentos de libertação das colónias portuguesas, Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos.
7 de Julho - Nota da Secretaria de Estado do Vaticano ao Governo Português sobre a recepção do Papa aos dirigentes nacionalistas.
9 de Julho - Início da Assembleia Mundial da Juventude, no âmbito das comemorações do 25º aniversário da ONU, com a presença de 110 países, em cuja mensagem final se denuncia a "guerra colonial empreendida por Portugal contra os povos de Angola, Guiné e Moçambique".
Agosto - Os presidentes da Zâmbia e do Senegal declaram a sua disposição de contribuírem para a resolução do problema colonial português.
12 de Agosto - Início das reuniões da Comissão de Descolonização da ONU, cujas moções contêm ataques mais sistemáticos contra os governos brancos da África Austral e seus aliados, reflectindo a preocupação por uma anunciada mudança da política externa britânica.
29 de Agosto - Rebentamento de um engenho explosivo na Embaixada de Portugal em Washington, sendo desmontado outro engenho no gabinete dos adidos militares.
Setembro - Artigo de Aquino de Bragança na revista "Afrique-Asie" intitulado "Dacar face a Lisbo" analisando as relações entre Portugal e o Senegal na sequência dos acontecimentos de fronteira e do plano de Senghor para a solução pacifica da questão colonial.
8 de Setembro - Inicio da III Conferência plenária dos Países Não Alinhados em Lusaka que pede um apoio mais eficaz e uma maior ajuda financeira aos movimentos de libertação africanos e convida todos os governos a absterem-se de financiar a barragem de Cahora Bassa.
15 de Setembro - Apresentação do relatório anual de U'Thant à Assembleia Geral da ONU referindo, em relação a Portugal, que "após nove anos de luta armada deve ter-se tornado evidente ao Governo português qual a política que poderá abrir a porta a negociações pacificas".
14 de Outubro - Aprovação pela Assembleia Geral da ONU dum programa de acção destinado a acelerar a obtenção da independência dos povos coloniais, sendo proclamado como documento comemorativo do 10º aniversário da Declaração de Descolonização e do 25º da ONU.
Novembro - Aprovação pela Comissão Política Especial da Assembleia Geral da ONU, constituída por 127 países, de uma resolução recomendando o aumento do auxilio aos movimentos de libertação, em cuja votação apenas Portugal foi contra.
23 de Novembro - Aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU, do envio de uma missão especial à República da Guiné para investigar as acusações de que as forças portuguesas haviam invadido Conacry.
8 de Dezembro - Aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU de uma resolução baseada no relatório da missão especial à República da Guiné, enviada para investigar a invasão a Conacry, que considera o colonialismo português uma séria ameaça à paz e segurança de África. Esta resolução condena também a construção da barragem de Cahora Bassa.
12 de Dezembro - Declaração do chefe da delegação americana na ONU, Charles Yost, revelando que os Estados Unidos não tinham qualquer razão para duvidar das conclusões da comissão especial da ONU que investigou os acontecimentos de Conacry e o envolvimento de Portugal.
14 de Dezembro - Resolução da Assembleia Geral da ONU censurando a politica colonial portuguesa e pedindo a Portugal que não utilizasse meios de guerra química e biológica contra as populações.

1971

Fevereiro - Participação do PAIGC na conferência ministerial para África do Conselho Económico e Social da ONU. Conferência sobre "Os Estudantes e o Movimento de Libertação Africano" em Helsínquia, com representantes de mais de 60 países e do PAIGC, MPLA, Frelimo e SWAPO.
Abril - Carta de Lord Gifford, membro da Câmara dos Lordes e presidente da Comissão para a libertação de Angola, Moçambique e Guiné, dirigida ao ministro dos Negócios Estrangeiros Português, no sentido de este receber os representantes da Frelimo antes da sua visita a Portugal.
22 de Abril - Início da Conferência Mundial da Juventude para libertação dos povos das colónias portuguesas, reunida em Brazzaville.
Maio - Portugal retira-se da UNESCO em virtude de esta organização apoiar os movimentos de libertação.
Setembro - Visita de uma delegação da OUA a vários países da NATO, com o objectivo de conseguir que estes deixem de apoiar a politica colonial portuguesa. Visita de Olof Palme à Tanzânia, onde declara que o colonialismo português constitui um obstáculo ao abrandamento da tensão mundial.
Outubro - Declarações de Amílcar Cabral numa visita a Inglaterra a convite do secretário-geral do Partido Trabalhista, afirmando o seu desejo de solucionar a guerra por meio de negociações com Portugal, sem condições prévias.
19 de Outubro - Cimeira da Comunidade da África Central e Oriental que aprovou a "Declaração de Mogadíscio", condenado as potências ocidentais pelo apoio dado a Portugal.

1972

27 de Janeiro - Convite ao Conselho de Segurança da ONU para enviar uma delegação às "áreas libertadas da Guiné-Bissau", feito pelo PAIGC.
1 de Fevereiro - Amílcar Cabral discursa no Conselho de Segurança da ONU, reunido em Adis Abeba, facto que ocorre pela primeira vez.
2 de Fevereiro - Aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU, reunido extraordinariamente em Adis Abeba, de uma resolução de apoio aos movimentos nacionalistas de Angola, Guiné e Moçambique.
4 de Fevereiro - Resolução do Conselho de Segurança da ONU que autoriza o envio de uma missão de visita às regiões libertadas da Guiné-Bissau.
27 de Março - Concessão pelo Governo norueguês, de um subsídio ao PAIGC.
2 de Abril - Início de uma visita efectuada por uma missão especial das Nações Unidas às zonas da Guiné-Bissau "controladas pelo PAIGC".
25 de Abril - Visita dos adidos militares dos Estados Unidos, Inglaterra, Venezuela e África do Sul à Guiné.
18 de Maio - Encontro de Spínola com Leopold Senghor, próximo da fronteira com a Guiné, no sentido de explorar as possibilidades de mediação entre as partes em conflito.
22 de Setembro - Atribuição pela Assembleia Geral da ONU, do titulo de observadores a representantes dos movimentos nacionalistas de Angola, Guiné e Moçambique.
2 de Outubro - Discurso de Rui Patrício na ONU, boicotado pela maioria dos delegados.
16 de Outubro - Reconhecimento pela Assembleia Geral da ONU, do PAIGC como legitimo representante do povo da Guiné-Bissau e condenação de Portugal como ocupante ilegítimo.
19 de Outubro - Intervenção de Amílcar Cabral na ONU, anunciando a próxima proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau.
20 de Outubro - Resolução do Conselho de Segurança da ONU condenando Portugal pelo ataque a uma aldeia no Senegal.
Novembro - Fim do mandato do embaixador americano em Lisboa, que se retira sem ser substituído, situação só solucionada em Janeiro de 1974.
2 de Novembro - Reconhecimento pela Assembleia Geral da ONU, da legitimidade das lutas armadas contra Portugal em África.
11 de Novembro - Aprovação por unanimidade, pelo Conselho de segurança da ONU de uma resolução pedindo a Portugal que inicie conversações com "interlocutores válidos" para uma solução das guerras.
13 de Novembro - Reconhecimento pelo Comité de Descolonização da ONU, dos movimentos nacionalistas como legítimos representantes dos povos de Angola, Guiné e Moçambique.
22 de Novembro - Resolução do Conselho de Segurança da ONU, aprovada por unanimidade, sobre a política colonial portuguesa, focando: reconhecimento da legitimidade das lutas travadas pelos movimentos de libertação e apelo ao Governo português para iniciar negociações.

1973

27 de Janeiro - Assinatura em Paris, do cessar-fogo entre os Estados Unidos e o Vietname.
1 de Fevereiro - Simpósio dedicado à memória de Amílcar Cabral em Conacry, com a presença de 680 delegados de vários países e organizações de todo o mundo.
Abril - Realização em Oslo da Conferência Internacional da ONU e da OUA em apoio das vitimas do colonialismo e do apartheid na África Austral.
3 de Junho - Anúncio pelo governo holandês, de um programa de apoio aos movimentos nacionalistas das colónias portuguesas, nas áreas da educação e da saúde.
Agosto - Condenação de Portugal na Comissão de Descolonização da ONU, pela sua política colonial.
Outubro - O Senado americano proíbe a Administração de conceder a Portugal qualquer ajuda que possa contribuir para a manutenção do regime colonial.
15 de Outubro - Pedido feito por 56 países da ONU de agendamento de um debate sobre a "ocupação ilegal pelas forças militares portuguesas de certas zonas da Guiné-Bissau".
Novembro - Saudação pela Assembleia Geral da ONU da independência recente da Guiné-Bissau e condenação da ocupação por Portugal de algumas áreas do território.
2 de Novembro - Resolução histórica da Assembleia Geral da ONU, única no direito de descolonização, reconhecendo a independência da Republica da Guiné-Bissau, a presença ilegal de militares portugueses naquele território e aprovação, com o voto de 93 Estados membros, de uma recomendação ao Conselho de Segurança para admissão da Guiné-Bissau.
11 de Novembro - Admissão da Guiné-Bissau na FAO.
16 de Novembro - Resolução da Assembleia Geral da ONU convidando, pela primeira vez, a Republica da Guiné-Bissau a participar na III Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.
19 de Novembro - Visita de uma delegação da Guiné-Bissau a Moscovo. Admissão da Guiné-Bissau como 42º Estado membro da OUA.
29 de Novembro - Resolução da Cimeira Árabe sobre o embargo total do petróleo destinado a Portugal.
17 de Dezembro - Resolução da Assembleia Geral da ONU aprovando os poderes da delegação de Portugal "tal como ele existe no interior das suas fronteiras na Europa", excluindo desses poderes os "territórios sob domínio português de Angola e Moçambique e a Guiné-Bissau, que é um Estado independente".

Conclusões

Caros camaradas, é preferível ter consciência de que a derrota já estava decidida desde a última semana de Maio de 1972 do que trocar argumentos sobre se a guerra estava perdida ou se poderia ser ganha.. A Guiné era já um apêndice cujo único interesse era a continuação da guerra em Angola, sobretudo.
Angola, mesmo já com a guerra nas três frentes, era ainda a perspectiva de riqueza, com os seus recursos, S. Tomé era o Cacau, Moçambique com os pagamentos do acesso ao mar e alguns recursos naturais, e Cabo Verde as pescas (?...). Mas a Guiné pouco dava (só à Casa Gouveia/CUF ou ao comércio libanês...):




De qualquer modo, os ganhos nesses territórios estavam muito em baixo relativamente aos custos das guerras que neles se travavam. Valiam os 50% do orçamento nacional nelas gasto, à custa da miséria num país. Mas até quando se aguentaria tal situação?




Quanto ao potencial humano a utilizar nelas, as perspectivas eram da sua diminuição ou da reutilização dos mesmos, ou de cada vez mais jovens... e cada vez mais mortos e mais feridos. Um horizonte sem futuro, com limites, obviamente. Já está lá mais atrás a situação das fugidas para o estrangeiro, legal ou ilegalmente. E vejo agora o reflexo disso, e não só, nas fugas ao serviço militar:



Mas os efectivos militares aumentavam progressivamente:






...E como dar resposta às cada vez mais necessidades de enquadramento dos efectivos? É verdade que "...em 1966 (...) o Exército teve de recorrer à formação de Capitães de origem miliciana", como diz o nosso camarada Manuel Godinho Rebocho na página 473 da sua tese de doutoramento, "A Formação das Elites Militares em Portugal de 1900 a 1975".

Mas estou com o coronel António Carlos Morais da Silva ao não concordar com as razões apontadas na tese: é que, diz o doutorando, "os Capitães de carreira pretenderam seguir outras funções que não as de combate". O próprio capitão Morais da Silva foi exemplo disso ao, depois de uma comissão em Angola, em Nucussa e Ninda, ter substituído em Gadamael Porto, em 1971/1972, o comandante da CCAÇ2796, morto em combate.

Eu próprio tive em Geba, em 1967, um capitão do QP, também morto em combate e tive dois capitães do QP quando estive em Barro em 1968/69. E houve o Vasco Lourenço (espero que as custas do processo não tenham sido muito elevadas, Rebocho... ), o Salgueiro Maia, o Matos Gomes... Cada um dos tertulianos há-de lembrar-se também dos capitães que teve.
As razões foram outras. O panorama na Academia Militar era este:






Procurando colmatar a falta de oficiais do QP, nomeadamente capitães, recorreu-se, em 1966, a tenentes milicianos em disponibilidade que, após um curso de promoção na EPI iam como capitães. Quando estive em Mafra, precisamente em 1966, a 3.ª do COM tinha cinco instrutores – o Cerveira, o Roque, o Mateus e o Diamantino André, que eram do QP, e o Chung, este é que tinha vindo de miliciano, mas foi no ano seguinte comandar uma companhia de comandos em Angola, onde fez duas comissões. O Diamantino André foi comandante da CCaç 2406, que, em finais de 1968, esteve em Mansabá primeiro, tendo um pelotão em Banjara até Janeiro de 1969, e foi depois para o Saltinho. Os outros não sei.



A partir de 1970 começaram a faltar alferes e tenentes para a formação de oficiais e sargentos milicianos, pelo que se recorreu aos milicianos para dar instrução nas escolas práticas, no CISM e no CIOE. Agravou-se também a falta de capitães do QP pelo que o Exército teve de "fabricar" os chamados "capitães de aviário", com cursos de formação de cinco meses na EPI, findos os quais estavam "aptos" a comandar companhias! Havia guerra que resistisse?... Era esta a situação na Guiné:



Uma outra questão que me importa ver: se nós dominávamos no terreno. Como já disse, foi limitada a minha experiência. Mas vou dizer o que me parece pelo que vi, especialmente na zona de Geba.
Antes de ser um subsector, passaram por Geba: 3.ª CCAÇ em 1961, CCAÇ 412 em 1964, CCAÇ 509 e CCAÇ 557 em 1965. Lendo o que pude das histórias destas unidades, a que teve alguma actividade na zona foi a CCAÇ 412. De 23Mai64 a finais de Ago64, a sub-unidade esteve colocada em Camamudo, com um destacamento em Cantacunda, a fim de efectuar acções de nomadização e batida naquelas áreas. Numa batida teve um morto em Mansaina, perto de Banjara. Procedeu à organização dos sistemas de autodefesa e segurança das populações, após o que recolheu a Bafatá, mantendo, no entanto, pequenos efectivos nas referidas localidades de Camamudo e Cantacunda.
Quando foi subsector do BCAV 757, em Outubro de 1965, ficou à responsabilidade da CCAÇ 1426, que ficou com destacamentos Camamudo e Cantacunda. Ficou em quadrícula, tendo bastante actividade a nível de pelotão, com operações de batidas e montagem de emboscadas, e outras em conjunto com outras unidades. Participou na operação "Aurora", creio que em princípios de 1966 (não vem a data na "história"), ocupou Banjara, referenciada como ponto de passagem dum dos ramais derivados do corredor de Sitató, destruindo na zona as tabancas de Tumania, Bantajã e Sambulacunda, segundo o relatório da operação. Fica desde essa altura com um destacamento em Banjara. Tenho a "História da Companhia", que o camarada Fernando Chapouto teve a amabilidade de me dar. Vou analisar algumas, na perspectiva da ocupação do terreno.
. Na op. "Iussuf", realizada em 14JUL66, 1 GrComb da CCAÇ 1426 com uma secção da CMil 3 e guias foi até Canhagina, atravessou o Rio Jago e entrou na zona de Sinchã Jobel. Antes tinham descoberto uma armadilha A/P e avistado um elemento IN armado e fardado. À entrada de Sinchã Jobel, "antiga tabanca, há muito destruída e abandonada, um forte tiroteio de PM e granadas de mão foi sobre nós desencadeada por um grupo IN, de efectivo e potencial de fogo apreciáveis, que se encontrava entrincheirado algures dentro da citada tabanca e ao abrigo de pequenos muros de pedra e adobe, últimos e únicos vestígios das antigas construções. Passados alguns momentos de fogo contínuo IN, cuja duração rondou 10 a 15 minutos, a nossa força começou a manobrar na direcção do suposto local do IN frontal e lateralmente, não tendo conseguido enxergar qualquer elemento IN, portanto aprisioná-lo ou abatê-lo, mas somente pô-lo em debandada para dentro do mato. Feita uma pequena batida à área da emboscada e suas imediações, nada de especial se apurou, apenas uma pequena chave presa a um farrapo foi encontrada. Recomeçando o andamento sobre o itinerário devido, na direcção de Dando, esta antiga tabanca foi atravessada sem qualquer novidade, tendo-se tomado o caminho para Ganhagina, donde a força regressou a Geba."
"l - SITUAÇÃO PARTICULAR - a. Inimigo: A região do OIO a sul de Banjara é considerada como zona sob o controle do IN. As várias acções levadas a efeito pelas NT assim levam a concluir. É natural que os seus efectivos não sejam numerosos em potencial de fogo e agressividade, pois há o conhecimento de que o grupo actuante não é muito numeroso nem tem um grande potencial de fogo pois tem-se manifestando em várias acções a Sare Medina, Sinchã Madia e Sare Banda onde causou apenas estragos em moranças e os ataques e ameaças que foram feitos às populações de Carbonol, Sinchã Madia e Camassirá foram bastantes ligeiros. As acções contra as NT têm sido sempre ligeiras, fugindo sempre ao contacto e os engenhos explosivos colocados na área tem sido sempre detectados. A FAP localizou um acampamento de cerca de 30 casas na região de Bebel-Curauele-Madina Banjara que REVIS efectuados em 17 e 20Jul confirmaram. As inúmeras lavras localizadas nesta região denotam bem a presença do IN ou de populações sob o seu controle."

Foram as razões para a realização da op. "Júpiter", em 23/24JUL66, com 2 GrComb da CCaç 1426, 1 GrComb da CCaç 1496, 4 secções da CMil 3, o EREC 1578, 1 Pel/CCS/Bcav757 e vários guias nativos.
Destaco o seguinte do relatório desta operação:

"A força A atravessou a bolanha e a Sudoeste de Curauele localizou o primeiro acampamento. O IN tentou resistir ao nosso avanço com tiros de PM e granadas de mão mas a acção das forças foi tão rápida que o acampamento foi cercado. Após revista nas casas do mato para um possível aparecimento de armas, munições ou documentos importantes, as 32 casas foram incendiadas. A força lançou-se à procura de mais acampamentos IN, tendo aparecido a Sul de Curauele 21 casas de mato e a Sudoeste da mesma foi encontrado novo acampamento com 20 casas, este situado dentro de árvores frondosas. Aqui o IN fez fogo sobre as NT mas a sua resistência foi vencida. Foram também apanhadas cinco mulheres e algumas crianças aqui coagidas pelo IN e que faziam parte da população. Já no regresso a Sul e na direcção do pontão da bolanha foi visto novo acampamento de oito casas que foi prontamente destruído. Após a travessia da bolanha e a cerca de 400 metros desta um grupo IN fez fogo intenso de PM, Gr. mão, Esp. e uma MP durante cerca de 10 minutos, mas foi posto em debandada em consequência da pronta acção das NT. Na parte final do trajecto o IN nunca mais apareceu e chegou-se a Banjara cerca das 16h00."

Nesta operação foi capturada uma "guia passada a favor de Sungar Fati e assinada por Lúcio Soares, como responsável do partido na região de Bafatá".
Em 08AGO66, op. "Jonas", voltou um grupo à zona de Ganhagina e Ponte do Rio Gambiel, porque, segundo a "Situação particular", "Embora o IN não se tenha revelado na região do Joladú, junto ao Rio Gambiel, pode no entanto ser esta uma via de infiltração para os elementos IN que pretendam infiltrar-se para o interior do Sector. A zona está totalmente despovoada mas poderão existir locais de refugio ou passagem, que convém detectar e destruir." Mas não foi encontrado nada.
A op. "Jasmim", porque "Durante a operação 'Lado a lado' o IN revelou-se na região de Danga e Sado (norte de Banjara, perto de Samba Culo), embora muito fracamente; todas as tabancas existentes na altura foram completamente destruídas, desconhecendo-se qual a situação no momento actual, se a mesma se mantém inalterável ou não", deu isto em 26/27OUT66: "Quando a vizinhança próxima da zona de actuação foi atingida, procedeu-se à formação do dispositivo de combate na perspectiva de iminência de acção do IN ou sua detecção. A progressão no interior do objectivo, sob a forma de batida, tomou-se difícil em virtude das culturas existentes, especialmente a do milho a qual cobria quase toda a área. Em dado instante, dentro de um campo de milho ouviu-se barulho de vozes que foi escutado pelos primeiros elementos das NT, pelo que se tentou um envolvimento tendente a capturar os elementos referenciados tendo-se conseguido o aprisionamento de duas crianças, de sexos opostos; outros elementos da população, em maior número mulheres e crianças, fugiram à nossa aproximação, não mais tendo sido vistos ou pressentida a sua presença. Recomeçada a exploração a toda a zona, dispensando-se mais atenção e cuidado aos locais mais fechados de arvoredo e vegetação, mesmo na orla da bolanha junto do Rio Cambaju, foi avistado um pequeno grupo de casas de mato situadas debaixo de um tufo de árvores de alto porte e densa copa que não permitia com certeza a observação aérea. Ao avanço desta parte das NT sobre estes meios de vida do IN, este, inesperadamente por se encontrar bem oculto das nossas vistas reagiu com tiros de espingarda e PM, tendo fugido ao contacto directo perante a pronta reacção das NT sobre a posição IN. Chegados ao local pretendido verificou-se serem três palhotas tipo casas de mato que serviam de abrigo, e lavoura, etc. Após a revista do interior e cobertura das casas estas foram completamente incendiadas e destruídas, tendo sido apreendido todo o material de guerra descoberto e destruídos todos os objectos que não apresentavam para nós grande interesse. Durante a restante batida efectuada à zona de Danga e Sado, nada mais de especial foi encontrado ou avistado. Verificou-se a impossibilidade da passagem ao longo do caminho que atravessa a bolanha do Rio Cambaju na sua ponta Sul, fez-se o regresso a Banjara através do trajecto da ida, durante o qual foram recolhidas as fracções emboscadas. A entrada em Banjara deu-se cerca das 16H30."
Na op. "Jejum", em 10/11DEZ66, por razões idênticas - "Embora o único conhecimento que temos do IN, seja dado pela sua fraca reacção durante a operação "LADO A LADO", há que admitir a possibilidade de se revelar com apreciável força uma vez que a região de CASA NOVA parece ser um dos pontos de apoio do corredor do SITATÓ. Admite-se no entanto que CASA NOVA seja um núcleo de população fora do nosso controle tal como sucedeu em DANGA e SADO."
- 2 GrComb da Ccaç1426, 1 GrComb da Ccaç1588, EREC1578, 3 SecCMil3 e 1 SecPelVol FURACUNDA foram novamente à região a norte de Banjara, perto de Samba Culo: "... em dado momento e muito perto da orla desta, foram avistadas duas palhotas, com sinais evidentes de abandono, abrigadas sob um tufão de árvores, tendo sido completamente destruídas. Apoiando-se neste pequeno indício de vida, se bem que nada recente, a força lançou-se novamente à procura de mais outros sinais que viessem a revelar a presença do IN ou de população. Assim a cerca de l km para a esquerda em relação ao objectivo, na direcção do ponto de cota 33, e em determinado instante, um grupo IN de razoável força, emboscado dentro do mato densíssimo, atacou grande parte das NT, utilizando em grande intensidade PM e GMO, julgando-se com quase inteira veracidade que tenham empregado LGrFog, ou outra arma semelhante, pois forte estrondo foi sentido muito perto de alguns elementos nossos. Decorridos os primeiros momentos de surpresa pelo ataque IN, prontamente se procedeu 'a manobra que a ocasião e natureza da acção mais aconselhava e que se traduziu do seguinte modo: enquanto uma fracção da força se empenhava do grupo rebelde, uma outra muito dificilmente protegida pela anterior rompeu o mato em direcção ao suposto mas sempre duvidoso local de abrigo do IN. Alguns instantes volvidos certa restolhada foi escutada pêlos primeiros elementos, significativa da fuga precipitada do IN, o qual deixou, abandonados no terreno, quatro carregadores de PM e bem mais algumas marcas de ferimentos deixados pelo nosso fogo, pois alguns rastos de sangue apareceram no terreno e em arbustos. Vencida esta resistência, era certo que algum acampamento se localizava perto da nossa posição, existência que de facto veio a comprovar-se cerca de 300 metros mais a frente e bem dentro do mato. Foi ocupado sem mais resistência, sendo constituído por 24 palhotas tipo casa de mato. Feita a limpeza do interior e batida nas imediações, algum material foi encontrado conforme consta da alínea c. do parágrafo 6.. Após completa destruição do acampamento, iniciou-se o movimento de regresso a BANJARA, através do trajecto de ida, durante o qual foram recolhidas as forças emboscadas. A entrada em BANJARA deu-se cerca das 16HOO."

Na op. "Jiu-Jitsu", a mesma força foi, a 21/22DEZ66, ao sul de Banjara, a Curauele, Bantajã, Belel e Sambulacunda. Nada encontrou, deixando apenas vários panfletos de rendição.
Mas foi diferente a op. "Joia 1", feita a 16/17JAN67 na mesma zona: "Na região de BANJARA, em todas as acções ali executadas, o IN revelou-se de maneira activa, com pouca potência de fogo, à excepção da última operação ali realizada ('JIU-JITSU') em que não houve contacto. Todas as moranças existentes na região BELEL/CURAUELE foram destruídas durante a operação "JÚPITER". Em REVIS efectuados na região verificou-se haver algumas casas e trilhos na região BAMBADINCA 3 G4 e BAMBADINCA 3 G5 onde se pode considerar a existência de populações fora do nosso controle. É de supor que o IN se encontra instalado fazendo vida com a população, exercendo sobre ela a sua acção e possivelmente realizando incursões através do mato de MANSOMINE."; "Alcançado BELEL sem anormalidade, as NT atravessaram a bolanha que ainda apresentava razoável caudal de água, de modo descontínuo e dirigiram-se a MEDINA BANJARA. Neste pequeno troço de caminho nos sítios mais fechados e susceptíveis de montagem de emboscadas por parte do IN foram lançados dois grupos, a nível de secção reforçada cada, que assegurariam a passagem das NT durante o regresso e tentariam surpreender quaisquer elementos rebeldes avistados. Em MADINA BANJARA, tabanca totalmente destruída e abandonada, após alguns esforços feitos em reconhecimento às vizinhanças, no sentido de ser descoberto o caminho que corre para Sul paralelamente ao Rio GAMBIEL, o mesmo foi tomado para, quando estavam percorridos cerca de 3 km, nas proximidades do ponto de cota 14, ser enxergado pelos primeiros elementos da força, um grupo de palhotas que se situavam fora do caminho, bem no interior do mato e sob grande tufo de árvores de densa e larga copa. Quando as NT se preparavam para entrar no acampamento, um grupo IN colocado na periferia abriu fogo com PM, Esp. algumas GMO, no intuito de impedir o nosso avanço, não o tendo conseguido e pondo-se em fuga mercê da nossa manobra tendente a superar essa mesma resistência oferecida pelo IN. Desta acção resultou terem sido abatidos 2 elementos comprovadamente IN. Um terceiro elemento foi ferido mas logrou escapar-se, deixando no terreno alguns respingos de sangue. Feita uma batida e exploradas as imediações nada mais de especial foi encontrado nem outro caminho foi visto. Após completa destruição e incendiado o acampamento IN e de alguns materiais que não mostravam interesse algum, iniciou-se o regresso através do mesmo itinerário, sendo recolhidos os grupos que permaneceram emboscados. A cerca de 100 metros do lado Norte da bolanha de BELEL - CURAUELE um grupo IN cujo quantitativo não foi possível estimar-se, atacou com certa força e inesperadamente com tiros de PM e Esp. posições muito perto do caminho, sensivelmente a parte central da coluna do que resultou ter sido morto um soldado nativo e ferido de ligeira gravidade um soldado europeu. Movimentada a manobra dentro do mato em direcção ao suposto, mas incerto local de concentração do IN, escapuliu-se para não mais aparecer. Alguns rastos de sangue foram detectados, pelo que se julga terem sido feitos feridos do lado adverso. Transportado o morto, primeiramente às costas e depois em padiola improvisada com ramos e cordas, a entrada em BANJARA, sem mais incidentes, registou-se cerca das 16HOO."
Nos dias 17/18/19FEV67, op. "Incógnica (?)", um grupo montou emboscadas e fez batidas na mesma zona, não encontrando nada. Mas dizia a ordem de operações que: -"Na região a Sul de BANJARA, em todas as acções ali executadas, o IN revelou-se de maneira activa, com pouca potência de fogo à excepção da operação 'JIU-JITSU', em que não houve contactos.

- Em 08JAN67 durante a operação "JÓIA", foram aprisionados sete elementos de uma povoação de BAMBADINCA 3B2, que revelaram existirem acampamentos IN a S e W, mas bastante afastados do local onde as NT se encontravam.

- Em 17JAN67 durante a operação "JÓIA l", foi destruído um acampamento em BAMBADINCA 3G4-6S tendo sido destruídas 17 casas de mato depois de vencida a resistência IN. O IN sofreu dois mortos e um ferido confirmados. Foi capturada uma espingarda MAUSER, alguns canhangulos, várias munições, l GMD e alguns documentos . No regresso um grupo IN em número não estimado emboscou as NT com razoável potência de fogo do lado Norte da bolanha de BELEL tendo-se furtado ao contacto perante a reacção das NT que sofreram um morto (soldado nativo) e um ferido ligeiro (soldado europeu).

- Em 04FEV67, durante a operação "JAVALI" no regresso de MANSONÁ um grupo IN estimado em 12 elementos armados de PM, Esp. Aut. E GM emboscou as NT em SINCHÃ BOEBE, sem consequências. O IN retirou perante a reacção das NT.

- Sabe-se que o IN tem vários acampamentos na região do CUOR.

- Não foram referenciados quaisquer acampamentos IN no SW do nosso sector sendo contudo de admitir que eles existam, até como pontos de apoio de grupos IN que se desloquem entre CUOR e CORLÁ".

Em 9/10MAR67 foram novamente à mesma zona a sul de Banjara mas nada encontraram.
A CCaç 1427 teve 1 morto em combate, um furriel, e 2 soldados mortos por acidente. Foram mortos em ataques 3 milícias e 1 foi morto em Madina Banjara. Sofreu ataques em Sare Madina, Sare Banda, Sinchã Sutu e Sincho. O Fernando Chapouto que me desculpe se há alguma falha, e corrija.

O Lúcio Soares já comandava naquela zona, como se viu, na altura da CCaç 1426, embora me tivesse dito, em Abril de 2006, quando nos encontrámos em Bissau, que tinham montado as "barracas" em Sinchã Jobel em Abril de 1966.
Em 17 de Abril de 1967 chegou a Geba a CArt 1690, em substituição da CCaç 1426. Claro que não me vou debruçar sobre esta companhia, de que fiz parte, pois tudo já está contado no blogue. Vou só lembrar-me que ficou com os destacamentos de Banjara, Cantacunda e Camamudo e foi-lhe acrescentado mais um: o de Sare Banda (que antes só estava em autodefesa). Lembro que teve dois mortos (o capitão e um soldado), primeiro, e mais 6 (milícias), depois, no itinerário para Banjara, 1 morto e 11 “retidos” durante um ataque a Cantacunda, 1 soldado morto no ataque a Banjara, 2 mortos no ataque a Sare Banda (um alferes e um furriel). Em seis ataques á, então já descoberta, base do PAIGC em Sinchã Jobel (a sul de Banjara, perto de Ganhagina e Ponte do Rio Gambiel), teve 5 mortos (um alferes e quatro sildados) e um soldado “retido”. Participou em duas operações a norte de Banjara (região de DANGA, SADO, CASA NOVA), tendo destruído a base, também então descoberta, de Samba Culo. Teve vários feridos, alguns com gravidade (entre eles dois alferes). Participou ou realizou, no total, 51 operações (14 com PCV), 1561 patrulhamentos, 36 emboscadas e 442 outras acções. Estiveram depois em Geba:
- a CCaç 2437, desde NOV68, que ficou sem o destacamento de Banjara; para aqui foi um pelotão da CCaç2406, a tal do Diamantino André e que estava em Mansabá; mas o destacamento foi abandonado em Janeiro de 1969; teve 1 morto em Dembo (zona de Samba Culo).
- a CArt 2743, desde AGO70; esta companhia teve um ataque em Cantacunda, de que resultaram 7 mortos (um cabo e seis soldados); teve 1 milícia morto em ataque a Sare Banda.
- CCaç 3548, desde MAI72 até ABR74; teve 1 cabo e 2 soldados mortos por acidente; o capitão e o 1.º sargento morreram por doença.
Várias companhias forneceram reforços, em certas alturas e em tempo limitado, às companhias do subsector de Geba. As CCaç 1685, 1689, 1791 e a CArt 2339, como companhias de intervenção para operações na zona. A CCaç 2590 (a do Luís Graça) teve efectivos como reforço em Sare Ganá e Sare Banda.
Não tenho pormenores sobre a actividade destas três últimas companhias com o sub-sector de Geba, porque não tenho as suas "Histórias"(hei-de tê-las, um dia). Mas creio poder tirar algumas conclusões, relativamente à zona de Geba (em Barro, zona de fronteira era diferente...)., com base naquilo que tenho.

O BArt 645, que esteve em Mansabá, diz, em seu relato, que em JUL64 abriu o itinerário Mansabá-Bafatá (passando por Banjara, Sinchã Sutu, Sare Ganá e Sare Banda, portanto). Creio que as unidades que antes estiveram em Geba tiveram liberdade de movimentos. Mesmo a CCaç 1426 terá tido no início, pelo que vejo dos seus relatórios, e o Fernando Chapouto confirmou-mo pessoalmente, Foram a Mansabá, Mansoa e até mais longe... O que já não sucedeu com a Cart1690.

É evidente que o PAIGC já estava bem implantado na zona em 1965 e 1966, movimentava-se pelas matas, tinha casas de mato para se acantonar, tinha populações que os alimentavam, tinha armamento para atacar a meia dúzia de tabancas que tínhamos em autodefesa. E procurava estabelecer pontos sólidos de apoio às suas acções nas zonas a sul de Banjara, para estabelecer seguras ligações à margem sul do rio Geba, e nas zonas a norte de Banjara, para ligações à margem norte do rio Camjambari.

O Luís Cabral disse-me pessoalmente que Banjara era um ponto de passagem. E os nossos cabeças também sabiam que era uma ramificação do corredor de Sitató. O papel da CCaç 1246 foi, naturalmente, destruir os seus pontos.de apoio, queimando casas de mato ou os chamados acampamentos, coisas que a guerrilha muda facilmente de um local para outro, mesmo dentro da mesma zona. É fácil na mata do Oio. Quando são apanhados de surpresa podem morrer alguns, quando não são podem furtar-se e reaparecer mais tarde no mesmo sítio. É a luta do gato e do rato, que pode durar eternamente ....ou até à morte de um ou de outro. Foi também a destruição dos seus meios e pontos de subsistência, queimando tabancas e destruindo culturas. Mas aquela são zonas extensas, com possibilidades de cultivar aqui ou ali, ou quando não há aqui ir buscar ali, mesmo com esforço.

Na altura da CArt 1690 a situação modificou-se. Não havia nenhuma tabanca activa a sul de Banjara, apenas as em autodefesa: Sare Ganá, Sinchã Sutu e Sare Banda (mais tarde foi destacamento), mais perto de Geba e do itinerário para Banjara, e Sare Madina, mais afastada e perto de Ganhagina (mas já com o cabo Mamadu, que era do PAIGC, soube-se depois, a comandar a milícia). Também nenhuma tabanca em pé a norte de Banjara. Camamudo esteve e estava sempre serena. Mais acima, no caminho para Cantacunda havia uma tabanca, Farancunda, que nos recebia sempre bem, mas que suspeitávamos que ajudava o PAIGC (lá mais acima, num relato de uma operação da CCaç 246, fala-se de um Pel Vol de FARANCUNDA que nela participou... mas nunca ouvimos falar dele...); mais ao lado e abaixo havia (e sempre houve!) o CAPÉ, onde o cabo-verdiano Carlos nos recebia de braços abertos, servia-nos aguardente de cana, mostrava-nos as filhas, mas toda a gente dizia que jogava com pau de dois bicos...).

O Lúcio Soares (foi do governo do Luís Cabral e esteve refugiado em Cabo Verde depois do golpe do Nino Vieira em 1980) montou mesmo uma base em Sinchã Jobel, a sul de Banjara. A norte formou-se a base de Samba Culo, comandada por Braima Bangura (o tal que já referi acima que foi fuzilado por Nino Vieira em 1986). O PAIGC, além de continuar a atacar as tabancas em autodefesa, começou a atacar também os destacamentos, a colocar minas nos itinerários, demonstrando um grande avanço no seu poder bélico na zona, em armamento e acção.
A CArt 1690 teve a sua mobilidade mais reduzida, as idas a Banjara e Cantacunda tornaram-se mais complicadas, com emboscadas e minas. Nunca houve "viagens" de Bafatá para Mansabá. E, como já disse acima, Banjara foi abandonada em Janeiro de 1969. Por isso Luís Cabral diz na "Crónica da Libertação": "O quartel de Banjara, entre Mansabá e Bafatá, tinha sido retirado devido aos ataques contínuos dos nossos combatentes. Os trilhos que, do mato, cortavam esta pista inteiramente controlada por nós, passaram por isso a dar mais segurança à passagem das pessoas que se dirigiam ao Sará". E o Sará era uma região entre Mansabá e Mansoa controlada pelo PAIGC.


Como disse, não sei da actividade das companhias que estiveram em Geba de 1969 a 1974. Mas cabe referir duas operações realizadas por duas companhias na margem norte do rio Camjambari (acima da zona norte de Banjara, portanto). São elementos do site do camarada tertuliano Carlos Silva.
CCaç2547 – 09/10/JUN71

–"... Na altura do ponto de cota 53 as NT deixaram o carreiro e inflectiram para Oeste a corta-mato para atingir a bolanha onde haviam sido referenciadas instalações. O grupo IN deve-se ter apercebido desta mudança de direcção e deslocou-se para Sul. Neste deslocamento foi detectado a cerca de 100 metros da rectaguarda. À manobra pelo fogo e movimento das NT reagiu com armas automáticas e lança-foguetes tendo debandado para Norte. Os elementos avistados usavam farda verde e um ou outro com roupa civil. O efectivo deste grupo foi estimado em 20/25 elementos. Continuando a progressão o mesmo grupo voltou a flagelar o flanco direito da coluna tendo sido repelido pelo GrComb da CArt 3331 de reforço à companhia. Continuou-se a progressão para Oeste, dificultada pela ausência de referências e por os guias terem hesitações e não quererem ir na frente da coluna ou por não estarem familiarizados com a zona. Até atingir a bolanha foram as NT alvo de 5 emboscadas. Nas duas últimas emboscadas verificou-se a existência de 2 grupos fazendo fogo de frente e de flanco e manobrando as suas forças de modo a: um fixar as NT e outro procurar envolver. Solicitada a presença do heli-canhâo o IN deixou de ser referenciado. Continuando a progressão verificaram-se várias manchas de sangue o que leva a concluir por baixas no grupo IN. Encontrado um velho mandiga, coxo e agarrado a um pau, interrogado, declarou que o chefe do IN da área era Quemo Darame e que o acampamento do material se encontrava em Tambicó (se tinham mudado de Samba Culo para Tambicó, é a táctica normal da guerrilha... quando fui a Samba Culo Tambicó estava desabitado), a Sul do rio Canjambari. Declarou haver sentinelas nesse acampamento e também em Samba Culo. Este não tem material e serve de protecção a Tambicó. Informou ainda que o único acampamento existente naquela zona era aquele para onde nos dirigimos. Encontrada a tabanca por alturas da região de Farim 6 e C 5.65, perto da bolanha foram destruídas numerosas moranças e um acampamento de guerrilheiros mais afastado, com 15 cubatas. Este acampamento já havia sido atingido com 3 bombas de avião e apenas se encontraram alguns artigos sem interesse militar. Nas moranças da população foram destruídos numerosos celeiros contendo cerca de 3 toneladas de arroz, vários recipientes com óleo de palma e outros mantimentos. Foram ainda destruídos outros artigos como panos, utensílios, livros de instrução primária, cadernos, lousas e um papel tendo escrito os nomes de Malan Mandja, Mamadi Mandja e Bucaro Danfa, do antecedente já referenciados."

Quer dizer que, em meados de 1971, ainda se andava no jogo do toca e foge a norte de Banjara. E também verifico que já não era companhia de Geba que lá andava. De Sinchã Jobel só sei que, após aquelas seis operações, foi considerada ZLIFA (Zona Livre de Intervenção da Força Aérea) para despejo de bombas (ainda encontrei lá uma em Abril de 2006). As coisas continuavam, mais destruição menos destruição de tabancas, mais apreensão menos apreensão de armamento. E eles continuavam a ter apoios para a sua sobrevivência, em alimentação, população e armamento. E nós não.



Acho que não íamos ganhar aquela guerra.

A. Marques Lopes


__________

Notas:

1. A. Marques Lopes, ex- Alf Mil Inf ( hoje Cor DFA, reformado), CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro)

2. Adapatação do texto da responsabilidade de vb;

3. artigos relacionados em:

13 de Julho > Guiné 63/74 - P3057: A Guerra estava militarmente perdida? A situação político-militar na Guiné (26). A. Marques Lopes.

domingo, 20 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3076: Convívios (75): CCAÇ 1426, no dia 12 de Julho de 2008 em Monte Gordo (Fernando Chapouto)

1. No dia 16 de Julho, recebemos uma mensagem do nosso camarada Fernando Chapouto, Fur Mil Op Esp, CCAÇ 1426 (Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, 1965/67) com três fotografias referentes ao Encontro da sua Companhia, no dia 12 de Julho de 2008 em Monte Gordo (1).

Foto 1 > É a foto de família para parecermos muitos. Eu sou o primeiro da esquerda com boina e camisola com o emblema da Companhia. Ao meu lado em grande plano o 1º. Cabo Geraldo

Foto 2 > Apenas 19, poucos mas bons. Isto deve-se nós na Guiné estarmos em quadricula. Apenas nos cruzávamos de dois em dois meses por altura da rendição ou nas operações em que actuavam dois pelotões e uma secção de milícia

Foto 3 > Eu com o Furriel Marques. Mesmo com poucos os encontros não podem parar enquanto eu puder o meu lema é "sempre pronto", para ajudar seja ele quem for a organizar
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Nota de CV:

(1) - Vd. poste de 29 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2896: Convívios (61): IV Encontro da CCAÇ 1426, dia 12 de Julho de 2008 em Monte Gordo (Fernando Chapouto)

Guiné 63/74 - P3075: Estórias avulsas (4): Os cães da guerra (Belarmino Sardinha)

Belarmino Sardinha (1), ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Guiné, 1972/74.

1. Em 14 de Julho recebemos do nosso camarada Belarmino Sardinha dois trabalhos, sendo um deles, este sobre os cães que se tornaram nossos companheiros de campanha.

Caros Luis Graça e Carlos Vinhal,
É sempre com prazer que partilho convosco e com os restantes camaradas da tabanca a minha opinião ou vida militar, contudo, isso não vos obriga a publicarem o que envio se o interesse não o justificar.

Deixo assim à vossa consideração, a divulgação dos textos no blog.

Com um abraço,
Belarmino Sardinha


2. Os Cães da Guerra

Confesso-me um verdadeiro desconhecedor do interesse que poderá ter para os outros os acontecimentos que passo a relatar, mas faço-o convicto do que estou a fazer, com satisfação e prazer no sentido de partilhar esta vivência e dar a conhecer os fiéis amigos, neste caso que não o foram o bacalhau.

Ao abrir hoje o Blog, verifiquei que falavam de cães na guerra e, mais uma vez, se estaria ou não a guerra militarmente perdida.

Começo pelos cães, os cães da nossa guerra, porque não dedicar-lhes, também a eles, umas linhas de homenagem se foram igualmente importantes para nós, pelo menos para alguns, como amigos e companheiros.

Recordo que ao chegar ao posto de transmissões do STM em Mansoa, fui apresentado ao nosso cão Tá ri rá que recebeu-me sem qualquer problema, com alguma indiferença é certo, mas apenas de estranheza, não sei quantas comissões tinha já.

Nada tem de especial esta situação, o que nunca foi possível foi explicar a sua forma de entendimento, que não levantando qualquer problema e até acompanhando quem chegava de novo, não permitia a qualquer militar ou civil africano que se aproximasse ou mesmo passasse próximo das instalações do STM. Mas só neste local agia desta forma o que levava a permanentes ameaças - Si mim apanha na tabanca...

Como era um cão que nos acompanhava frequentemente fora do quartel e mesmo sozinho nos seus passeios, não sei se seria ainda vivo à data da independência, mas caso fosse ainda vivo, mal visto como estava de um e de outro lado da comunidade africana deve ter tido pouca sorte.

Quando pouco ou nada fizemos para salvaguardar a integridade dos camaradas africanos que lutaram pela bandeira de Portugal ao nosso lado, como o faríamos por um cão? E nessa altura quem se lembraria de um cão?

Mas não acabam aqui os meus cães de guerra e a sua companhia.
Enviado que fui a Bissau para receber as instruções que me levariam até Aldeia Formosa, por desentendimento com um superior queixinhas, fui recebido, além dos meus camaradas naquele local por um corpulento cão, de nome Mike.

Também este tinha sido vítima dos distúrbios psicológicos ou do álcool de um qualquer militar que, saiba-se lá porquê, o tinha atirado ao chão com apenas alguns meses de vida. Com uma pata traseira fracturada e solidificada torta, tinha um andar deficiente mas que lhe permitia fazer tudo.

Como o nosso local de trabalho era igualmente de dormida, sem qualquer separação que não apenas um pano de tenda, o que não permitia grande descanso, passados alguns dias resolvi alugar uma tabanca e passar a dormir lá. Como guarda-costas levava o Mike, a quem dei banho dentro de um bidão e de onde só consegui retirá-lo depois de tombado este com a ajuda de outros camaradas.

Tirando um outro seu rival, com quem media forças regularmente ou fazia exercício, não sei qual teria sido a sua desenvoltura se tivesse necessitado de apoio, mas que o bicho e o seu porte metiam respeito não havia dúvidas.

Como passados três meses voltei para Bissau nada mais soube, mas presumo e se calhar estarei certo, que esta terá sido a única vez que foi lembrado depois de nos termos vindo embora.

Também é necessária sorte para poder existir como cão.

Um abraço
Belarmino Sardinha
13 de Julho de 2008

Foto: © Rui Pereira (2008). Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. poste de 17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2956: Tabanca Grande (75): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM (Guiné 1972/74)

sábado, 19 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3074: Tabanca Grande (79): Miguel Ribeiro de Almeida

1. Em 13 de Julho de 2008, recebemos do nosso amigo tertuliano Miguel Ribeiro de Almeida (1), sobrinho do nosso camarada ex-Alf Mil Gonçalves Dias, a seguinte mensagem:

Caros Luís Graça e co-editores do blogue,
Devo-vos um pedido de desculpas por uma falha involuntária em que só agora reparei, pois retirei do vosso blogue uma foto do Tenente Jamanca e respectivo texto do louvor que lhe foi concedido, com o objectivo de as facultar ao meu tio, José M. Gonçalves Dias, ex-Alferes Mil. e grande amigo do Tenente Jamanca.

Bem sei que essa foto não se destina a fins comerciais, e sim apenas a fins sentimentais, pois era uma prenda de aniversário que quis oferecer ao meu tio, sabendo a alegria que lhe ia proporcionar ao facultar-lhe uma foto do seu grande amigo e irmão.

De qualquer modo, devia ter-vos pedido previamente autorização, o que só não fiz devido ao entusiasmo com que encontrei a fotografia e que me levou a não reparar no Aviso à cibernavegação - Direitos de Autor, aliás bem explícito na coluna da esquerda da página do vosso blogue.

Pelo facto, as minhas sinceras desculpas. Tentarei redimir-me prcurando que o meu tio me faculte a foto que tem do Tenente Jamanca, tirada defronte do aquartelamento de Bambadinca, e enviando-a para o vosso blogue.

Um abraço a todos e votos de boa saúde.
Miguel R. A.

2. No dia 14, Luís Graça dava esta resposta ao Miguel:

Miguel:
Essas regras só são válidas para uso público, não privado... De resto, o blogue também é teu, desde o momento que passaste a integrar a nossa Tabanca Grande... A propósito, podes mandar-nos uma foto tua, para a nossa fotogaleria... Ficarás cá o tempo que quiseres, independentemente da situação do teu tio... Se nos conseguires arranjar a foto do Jamanca autografada, com a devida autorização do teu tio, ficas perdoado...
Um abraço.

3. No mesmo dia o Miguel dirigia-se à Tabanca Grande nestes termos:

Caro Luís Graça,
Obrigado pelo seu email e palavras. É uma honra pertencer à vossa Tabanca Grande, espaço de amizade, companheirismo, de preservação da memória e da nossa História contemporânea. Tenho aprendido muito com o que tenho lido, e ainda há muito para ler...

Como o meu tio não se alonga muito sobre a Guiné - mas ele sempre teve um feitio reservado -, vou aprendendo com os textos e comentários dos seus camaradas.

Assim que puder, possivelmente daqui a duas semanas, quando finalmente estiver com ele em Viseu, enviar-vos-ei uma foto minha e do meu tio.

Operação de alto risco a de obter a foto do Tenente Jamanca (2), conhecendo o meu tio como conheço, que ainda assim tentarei levar a cabo com êxito.

Um abraço e votos de boa saúde.
Miguel

4. Comentário de CV

Caro Miguel
Estou a apresentá-lo formalmente, como amigo, à nossa Tabanca Grande.

Tem a grande missão de trazer até nós o seu tio Gonçalves Dias, para que ele nos conte, mesmo fazendo do Miguel via de comunicação, as suas estórias.

Em nome da Tertúlia, seja bem-vindo.

Um abraço dos editores e dos restantes tertulianos.
CV

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Notas de CV:

(1) - Vd. Poste de 3 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3016: Em busca de... (32): Margarida Dahaba, professora, filha do 2º Sargento Fodé Dahaba (M. Ribeiro de Almeida / J.M. Gonçalves Dias)

Exmo. Sr. Luís Graça (e co-editores e tertulianos do blog),
Tomei há pouco tempo conhecimento do vosso magnífico blog.
Queria dar-vos os meus sinceros parabéns pela qualidade do mesmo, pelo contributo que presta à história contemporânea do nosso país, pela mensagem de amizade e confraternização que veicula, e por não deixar morrer a memória de uma guerra para a qual foram mobilizados tantos jovens portugueses.

Devo dizer-vos que me emociono ao ver fotos e ao ler textos do vosso blog, que tão bem descrevem e documentam os anos de guerra na Guiné.

Eu tinha 9 anos quando se deu o 25 de Abril, e da guerra guardo ainda na memória as imagens de entrevistas a soldados, na TV (creio que em épocas festivas, enviando mensagens para as famílias, estarei certo?), as conversas que ia ouvindo e os telegramas de papel amarelo [, os aerogramas,] que chegavam da Guiné, onde o meu tio - José Maria Gonçalves Dias, Alferes Miliciano - combateu, entre 1971 e 1973. (...)


(2) - Vd. poste de 10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3043: Em busca de ... (33): Memórias do príncipe Abdulai Jamanca, irmão do meu tio Gonçalves Dias (Miguel Ribeiro de Almeida)

Guiné 63/74 - P3073: O Nosso Livro de Visitas (20): António Rodrigues, Angola; João Reis e Ferreira Gomes, Guiné

1. Em 27 de Junho de 2008, recebemos esta mensagem de António Rodrigues, Marinheiro, que cumpriu a sua comissão de servço em Angola.

É por vós que vou passando o meu tempo na Delegação da Área Metropolitana do Porto, da A.P.V.G.
Sois formidáveis, eu já vou tarde.
Servi a Marinha Guerra nos Patrulhas da costa de Angola. Hoje as histórias verdadeiras que oiço fazem arrepiar, é verdade, hoje os nossos governantes querem-nos ver todos mortos, somos um peso na historia de Portugal, outros há que dizem que nós fomos assassinos.

A.R.
Com muita saúde.

2. Resposta de CV

Obrigado camarada pelas tuas palavras. Cabe-nos a nós ex-combatentes a missão de nos mantermos vivos e fazê-lo ver a quem nos acha descartáveis.
A esmagadora maioria de nós foi obrigada a ir fazer uma guerra que não compreendia.
Não fomos mercenários, não ganhámos chorudos ordenados, não tínhamos mordomias e não tínhamos Ministros nem CEMs nas despedidas dos embarques.
Éramos abandonados à nossa sorte sob climas hostis, em territórios que eram desconhecidos nos gabinetes do ar condicionado e do Terreiro do Paço.
Não ocupámos nenhum país estrangeiro, combatemos em territórios considerados portugueses na altura, mal ou bem, onde existiam naturais com sentido patriótico tão ou mais forte que o nosso.

Mais 20 ou 30 anos e ficarão só os heróis da era do telemóvel, da internete e das reportagens das TVs.

Mais uma vez obrigado pelo teu contacto que muito nos sensibilizou e desculpa o atraso temporal da resposta.

Um abraço do
CV
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3. Em 16 de Julho de 2008, recebemos para conhecimento, de João Reis esta mensagem dirigida originalmente ao nosso camarada Mário Beja Santos:

Para: Beja Santos
Assunto: Missirá

Exmo. Sr.
Sou o ex-Furriel Miliciano João António Duarte Reis. Estive em Missirá antes do senhor chegar. De Outubro de 67 a Junho de 68.

O seu livro Diário da Guiné trouxe-me à memoria o tempo em que lá vivi e recordei muitas das pessoas de quem fala e conta historias.
Obrigado por isso e parabéns.

Não sei se há encontros ou convívios anuais com pessoas que tenham passado por Missirá. Se há e se for possível dar-me os contactos agradecia.

Os meus cumprimentos.

4. Resposta de CV

Caro camarada, independentemente do que o ex-Alf Mil Mário Beja Santos te possa dizer, posso acrescentar que na nossa página, naquele espaço em branco destinado a pesquisas no Blogue, escrevendo lá a palavra Bambadinca ou Missirá, encontrarás muita coisa para leres.
Com respeito a convívios, ainda em Junho passado houve, em Torres Novas, um Convívio de ex-combatentes que passaram por Bambadinca.

Já agora deixo-te o convite para aderires à nossa Tabanca Grande, onde poderás colaborar com as tuas estórias e fotos.

Para seres admitido, terás cumprir a difícil missão de mandares uma foto do teu tempo de tropa e outra actual, contares algo sobre ti, a tua Unidade e outros pormenores que aches relevantes.

Para ficares a conhecer melhor o nosso blogue, tens do lado esquerdo da página as nossas 10 normas de conduta e outras informações importantes.

Em nome da tertúlia, deixo-te um abraço.
CV
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5. No dia 18 de Julho recebemos do nosso camarada Armando Gomes a seguinte mensagem:

Camarada,

Em primeiro lugar - Parabéns pelos conteúdos que tive a oportunidade de ir desbravando.
Em segundo lugar - Lamentar só agora ter tomado conhecimento desta janela aberta.
Em terceiro lugar - Disponibilizar-me para trazer à assembleia outros contributos.

Sou
Armando Miguel Ferreira Gomes e resido no Porto
os meus endereços electrónicos são:
particular amgomes@netcabo.pt
profisiional armando.gomes@cem.pt

Fui combatente no CTIGuiné, de Maio de 1968 a Maio de 1970 como 1.º Cabo - Apontador de Armas Pesadas.

Fiz parte de uma das companhias independentes (CCAÇ 2383) que após o treino operacional em Fá Mandinga, área adida ao COP5 de Bafatá e que mais tarde se deslocou para Nova Lamego com destino a Cabuca, ali junto da ilha de Seli, entre o Senegal e a Guiné Francesa.

Gostava de me juntar a todos vós e poder fazer parte da família

Um enorme abraço
Armando Gomes

6. Resposta de CV

É sempre com enorme prazer que recebemos na nossa Tabanca Grande mais um camarada que se quer juntar a nós. Como a porta está sempre aberta, entra, instala-te e começa a contar-nos as estórias que ainda recordas. Serve-te das fotos que tenhas aí por casa, para as ilustrar e manda-as para cá devidamente legendadas.

Para não repetir o que disse em cima ao nosso camarada Duarte Reis, lê a resposta que lhe dei, onde estão as indicações de como saber o que somos e como nos devemos comportar no nosso Blogue.

Para ti vai um abraço em nome dos tertulianos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
CV

Guiné 63/74 - P3072: Convite (7): Homenagem a todos os militares que morreram em África (José Pinto)

1. No dia 18 de Julho de 2008, recebemos de José Pinto uma mensagem dando conta das homenagens que se vão fazer aos malogrados Pára-quedistas Lourenço, Peixoto e Vitoriano e, a todos os combatentes que morreram em África, que ainda ali se encontram sepultados.

Homenagem a todos os militares que morreram em África, de armas na mão, e que ainda ali se encontram sepultados.

Sábado, 26 de Julho, comparece!



O Lourenço, o Peixoto e o Vitoriano, mortos em combate na Guiné em 1973, estão finalmente em Portugal e vão ser entregues às suas Famílias.

Os portugueses que o desejem, em especial os antigos combatentes e sobretudo os pára-quedistas, vão homenagear todos aqueles militares que morreram em África, de armas na mão, e que ainda ali se encontram sepultados.

10h00, na Igreja da Força Aérea em S. Domingos de Benfica - Lisboa;

14h00, na Escola de Tropas Pára-quedistas, em Tancos;

17h00, no funeral do José Lourenço em Cadima – Cantanhede;

18h00, no funeral do António Vitoriano em Castro Verde;

19h00, no funeral do Manuel Peixoto em Gião, Vila do Conde.

Em Lisboa, na Igreja da Força Aérea, a missa será celebrada pelo Bispo Castrense auxiliado por antigos capelães pára-quedistas, na presença das urnas dos três militares agora trasladados da Guiné e das suas famílias.

Em Tancos, na Escola de Tropas Pára-quedistas, junto ao Monumento aos Mortos em Combate terá lugar a cerimónia do “Último Adeus dos Pára-quedistas”, após o que as urnas seguirão para as localidades de origem dos três militares.

Em Cadima, Castro Verde e Gião, de onde saíram há 35 anos, terão lugar, com honras militares, os funerais do Lourenço, do Vitoriano e do Peixoto.

Estes camaradas de armas são os últimos pára-quedistas mortos em combate a serem devolvidos às suas famílias, mas também os primeiros militares portugueses sepultados em África que regressam à Pátria

Sábado, 26 de Julho, comparece!


Mais esclarecimentos:
União Portuguesa de Pára-quedistas e Pára-Clube Nacional «Os Boinas Verdes»: Telefone 249 711 449; fax 249 711 161; email: pcnbv@sapo.pt

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3071: Os nossos regressos (11): Guiné, 1970/73. Porra, é muito tempo. (Germano Santos).

A ida e o regresso do BCaç 3832

Germano Santos

ex-1.º Cabo Operador Cripto
CCaç 3305/BCaç 3832
Mansoa 1971/73
__________

Tudo começou a 19 de Dezembro de 1970 quando manhã cedo os putos e os menos putos, sendo que na maioria eram mesmo putos, nos pusemos a subir as escadas que nos conduziam ao barco que nos iria levar.
Grande estreia em viagens marítimas e de tão grande distância para quase todos nós.

O destino era Bissau. O destino era a Guerra.

O "Carvalho Araújo" também não queria ir



O transporte era horrível, nada mais nada menos que o "Carvalho Araújo", barco que simultaneamente com o transporte de militares para África, servia também para o transporte de gado dos Açores para o Continente.
Os aposentos então, eram uma pequena "maravilha". Tudo ao molho e fé em Deus porque o cansaço por certo apareceria e para dormir qualquer lado havia de surgir.
Lá arrancámos, mas as coisas não começaram bem. Então não é que o "Carvalho Araújo" não queria navegar e resolveu parar ali mais ou menos sob a ponte. Já não me recordo se foi na noite desse dia ou na manhã seguinte que ele resolveu abrir caminho para abraçar e nos pôr também a abraçar essa maravilhosa terra africana.
Viagem de amotinados ou coisa parecida foi o que me pareceu ser a viagem nos primeiros dias, tantos eram os vómitos, tantas eram as bebedeiras.

Para compensar o facto do nosso barco navegar muito depressa e por essa razão nos ter feito passar o Natal dentro dele, lá fomos presenteados com uma manhã no Mindelo, São Vicente, Cabo Verde.
Creio que uma grande parte de nós terá comido pela primeira vez batatas fritas, mas doces. Eu comi e estranhei imenso.

Seguimos viagem e eis-nos em Bissau a 29 de Dezembro. Julgo que terá sido batido o record marítimo Lisboa-Bissau, nada menos nada mais que dez dias. Um espectáculo.

Depois seguiu-se o Cumeré para uns, o Quartel-General para outros e, mais tarde, cerca de um mês, a zona de intervenção do Batalhão para todos.

De volta no Uíge

O regresso, o ansiado regresso deu-se em Janeiro de 1973, aos dias 6 desse mês e num barco a sério (para quem tinha ido no Carvalho Araújo) o "Uíge". Cinco dias, apenas cinco dias, metade do tempo gasto na ida, foi quanto demorámos a regressar.

Para além da felicidade que foi o regresso, as condições não tinham nada a ver com a ida.
Melhores acomodações. Melhor comida. Menos vómitos. Menos bebedeiras, mas muita, muita alegria.

Duas situações ocorreram nesta viagem que demonstram claramente como alguns de nós crescemos em África e também como alguns de nós já embarcámos algo crescidos.
Num espectáculo levado a efeito numa das noites da viagem, espectáculo todo ele concebido e realizado por nós militares, praças, cabos, sargentos e oficiais, a certa altura ia actuar, creio que declamar poesia, um alferes, mais concretamente o alferes Farinha (actualmente no Brasil).
Todo o comando do Batalhão e do navio estava a assistir ao dito espectáculo. Vai daí o apresentador do mesmo anunciou que o camarada Farinha ia actuar.
Foi o bom e o bonito, o comando do Batalhão chamou de imediato o apresentador para o informar que termo camarada tinha-se esgotado na Guiné, agora os oficiais tinham de ser apresentados pela sua patente.
O apresentador desceu ao palco e informou o alferes Farinha que o espectáculo deixava de ter apresentador.
Confesso que já não me lembro se o espectáculo continuou ou não, penso que sim, mas não comigo.

Uns dias antes de embarcarmos, alguns de nós que em Bissau, no Café Pelicano, aguardávamos pelo transporte de regresso, começámos a falar sobre a "porra" do tempo que tínhamos estado na Guiné. Achávamos nós que tinha sido muito tempo, de Dezembro de 1970 a Janeiro de 1973. Para nós eram três anos de calendário, embora soubéssemos que de facto tinham sido mais ou menos 25 meses.
Vai daí decidimos arranjar um lençol no qual escreveríamos qualquer coisa parecida com isto:

Guiné 1970 – 1973 – Porra é muito tempo

A ideia era prender o lençol onde fosse possível e apenas no dia do desembarque em Lisboa, para que todos soubessem o que pensávamos da nossa guerra em terras da Guiné. Se melhor o pensámos melhor o fizemos.
E, na verdade, no dia do desembarque, lá no alto do "Uíge", preso aos botes de salvação, lá estava o nosso lençol, muito esticadinho para que se pudesse ler bem o que nele escrevemos.

Com o que não contávamos é que nesse dia, manhã cedo, Lisboa iria acordar com um denso nevoeiro no Cais da Rocha e nem tão pouco com a pronta resposta da Polícia Militar.
O que o lençol dizia só se começou a ler quando o barco atracou, mas foi mensagem de pouca duração, dado que a Polícia Militar entrou pelo navio dentro e deu cabo da nossa saudação.
Creio que ainda tentaram saber quem tinham sido os engraçadinhos, mas julgo que acabaram por desistir e deixaram-nos ir em paz, não para casa, mas sim para Abrantes a fim de fazermos o espólio.

E pronto, acabou-se a minha história sobre a ida e o regresso do Valoroso Batalhão de Caçadores 3832.

Um abraço para todos.
Germano Santos
__________

Notas:

1. fixação do texto e sublinhados de vb;

2. Artigos relacionados em 11 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1835: Tabanca Grande (10): Germano Santos, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73

16 Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3064: Os nossos regressos (10): Uma ida atribulada, um regresso tranquilo...(Valentim Oliveira)

Guiné 63/74 - P3070: Antropologia (6): O povoamento humano da zona do Cantanhez: apontamentos (Carlos Schwarz, Pepito)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Iemberem > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > Dois homens grandes da Guiné, o Engº Agrónomo Carlos Schwarz (Pepito, para os amigos), fundador e director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento e o Aladje Salifo Camará, régulo de Cadique Nalu e Lautchandé, antigo Combatente da Liberdade da Pátria, o rei dos nalus, hoje com 87 anos (*).

Foto: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.




Distribuição das povoações do Cantanhez, segundo J.P.Garcia de Carvalho (Desenho de A.Teixeira da Mota)






PROJECTO ECOGUINÉ > Notas breves sobre o povoamento humano da zona de Cantanhez (versão preliminar) (**)


Texto (e infografia) : © Carlos Schwarz (2008). Todos os direitos reservados.


Bissau, Julho de 2008



Ao Aladje Salifo Camará
Régulo do Reino Nalú de Cadique,
que me adoptou como seu filho




À memória de meu pai,
Artur Augusto da Silva,
que me ensinou a compreender
e a amar a cultura dos Homens Grandes
a Guiné-Bissau



Advertência

O reduzido número de fontes escritas torna muito difícil conhecer com detalhe a história do povoamento humano de toda a zona de Cantanhez.

Recorremos a alguns documentos a que tivemos acesso, entre os quais se destacam, como sempre, os dados fidedignos coligidos por René Pélissier na sua História da Guiné (1841-1936), sendo ele próprio a reconhecer a pouca documentação existente referente ao período colonial:

“… o continente, ao sul do Rio Grande de Buba, é amplamente ignorado pelos europeus. Terras pouco amenas ao marinheiro, porque couraçadas por imensos bancos de Iodo, a sua topografia é praticamente desconhecida na época e consideram-na habitada pelos Nalús, quando o seu povoamento é muito mais complexo.”

Socorremo-nos por isso do trabalho efectuado por J.P. Garcia de Carvalho, em 1946, Nota sobre a distribuição e história dos povos da área do Posto de Bedanda, que procura sintetizar a distribuição e história de alguns dos povos do actual Cubucaré.

Os estudos realizados por Artur Augusto Silva, nomeadamente Arte Nalú em 1955 e Apontamentos sobre as populações oeste-africanas segundo os autores portugueses dos séculos XVI e XVII, permitiram compreender melhor a história da chegada dos Nalús a Cantanhez.

Igualmente o documento Tawoulia ou Tawel, Famille regnante du pays Nalou au Rio Nunez, Perfecture de Boke de 1820 a 1952, da autoria de Elhadj Sankoumba Camará ilumina muito sobre a história do povo Nalú na sua zona de concentração inicial, em Boké, actual Guiné-Conakry.

Na ausência de outras fontes, recorremos a entrevistas aos mais velhos, Homens Grandes, portadores e transmissores da História oral de geração em geração, o que permite a eventualidade de que algumas das informações não poderem ser consideradas absolutamente fidedignas, sendo bem possível que a sua transmissão possa ter sido erodida nalguns casos ou mistificada noutros, fruto de conjunturas de momento e de rivalidades étnicas.

De valor incalculável foram as informações fornecidas por Abubacar Serra, Director do Programa Integrado de Cubucaré, especialmente sobre a distribuição actual das principais etnias em todo o território de Cantanhez.

Este pequeno trabalho é o contributo de alguém que, não sendo historiador mas simples agrónomo, apenas pretende que as informações agora divulgadas permitam compreender melhor as dinâmicas de desenvolvimento económico, as revindicações territoriais em tempos em que os regulados voltam a emergir como elementos incontornáveis, ou mesmo determinantes, para a gestão do espaço e território do Parque Nacional de Cantanhez.


1. O Período Pré-colonial

Teve-se muita dificuldade em obter informações seguras referentes a este período, pelo que nos socorremos da história transmitida oralmente pelos mais velhos.

Os Nalús e os Bagas terão povoado a região do Futa Djalon na actual Guiné-Conakry por volta do século VIII, aos quais mais tarde, no século XI, se vieram juntar os Jalonkés. No século XII esta região integrou o império do Ghana e do Mali.

Nessa altura crê-se que a zona de Cantanhez era um território muito pouco habitado, tendo provavelmente a chegada dos Nalús ocorrido no século XV, vindos da Guiné-Conakry, pressionados pelos Tilibós, chefiados por Samodoi que pretendia conquistar todo o território até ao oceano.

Os Nalús, chefiados por Manga Tauliá, decidiu partir para a região de Bafatá, actual Guiné-Bissau, onde criou a tabanca de Bigine, aguardando que todos os Nalús fugidos do Futa Djalon lá chegassem. É então discutido e decidido o rumo a tomar e o local final de destino, o qual é toda a região compreendida entre os rios Tombali e Boké.

Em função das sub-divisões dos Nalús, sobretudo de ordem linguística, embora todas submetidas ao mesmo chefe, acabam por se concentrar em cinco zonas:

- uma parte entre os Rios Tombali e Cumbidjan (actual sector de Catió), onde foram encontrar os Beafadas estabelecidos em Cubisseco, Buba e Fulacunda. Estes pretenderam submeter os Nalús o que levou estes últimos a refugiarem-se na Ilha de Como;

- outros, entre os Rios Cumbidjan e Cacine (actual sector de Cubucaré), primeiramente chefiados por Manga Iura, descendente de Manga Tauliá, e depois por Saiandi que lhe sucedera;

- outra, no actual sector de Quitafine;

- uma parte, na tabanca de Cacine;

- e outra, entre os Rios Cacine e Boké.

2. Período Colonial


No século XV, os portugueses, com as caravelas de Nuno Tristão, foram os primeiros europeus a percorrer a costa da Guiné e a entrar em contacto com as populações locais, instalando feitorias e praticando o comércio de especiarias, óleo de palma, ouro, marfim e mais tarde o tráfico de escravos. Cerca de quarenta anos depois, chegam os franceses que, ultrapassando os portugueses, estenderam a sua zona de influência desde a costa atlântica até ao Futa Djalon e à Alta Guiné-Conakry.

A primeira referência à presença dos Nalús, no final do século XV, na região sul da actual Guiné-Bissau, encontra-se no Esmeraldo de Duarte Pacheco. Mais tarde, em 1669 e 1684, os geógrafos-roteirista portugueses Álvares de Almada no seu Tratado Breve dos Rios da Guiné do Cabo Verde, e Francisco de Lemos Coelho nas suas memórias sobre a Guiné, pronunciam-se de forma mais desenvolvida sobre a vida dos Nalús.

Nas Duas Descrições Seiscentistas da Guiné, Lemos Coelho assinala: “Toda a mais terra que fica daqui da boca deste rio (Rio Grande de Buba) até à boca do rio de Nuno, que pela costa são mais de trinta léguas, tudo são Nalús”.


2.1. NALÚS, os donos do Chão

O primeiro chefe do Reino Nalu foi Boya Salifo que reinou durante 3 anos, de 1837 a 1840, ano da sua morte (Foto à direita).


Parece pois indiscutível que os Nalús eram o povo que habitava esta zona, em especial os sectores de Cubucaré e Quitafine, e em alguns pontos isolados do Cubisseco, quando aportaram os primeiros portugueses a esta costa de África.

Normalmente a habitarem as zonas ribeirinhas pelo maior acesso ao palmar e à extracção do óleo e vinho de palma, praticavam sobretudo um sistema de produção de sequeiro, baseado na fruticultura e na produção de culturas alimentares de sequeiro. Só muitos séculos depois é que, por volta dos anos 1920, com a chegada dos Balantas a esta zona é que começam a praticar um sistema de produção misto: de bolanha e de sequeiro.

Segundo Camará (2), a principal tentativa para a criação de um Reino Nalú, remonta aos anos de 1780, na tabanca de Caniop, zona de Boké, na que é hoje a Guiné-Conakry. Tudo começa com o casamento entre Tokhoye e Boya do qual nascem 4 filhos varões, por esta ordem: Salifo, Lamine, Youra e Carimo.

Nesta altura todas as tabancas Nalús funcionavam de forma autónoma, não havendo nenhuma autoridade superior que as unisse.


Com a morte do pai Tokhoye, em 1837, Boya Salifo, o primogénito, assume a liderança de um processo com vista à união de todos os Nalús à volta de uma só autoridade, representada por ele. Para isso contou com o apoio dos outros 3 irmãos que se desdobraram em visitas e contactos a todas as tabancas habitadas por Nalús, especialmente em duas zonas: na baixa do Rio Nuno e entre os rios de Cacine e Tombali. O processo é coroado de sucesso, tendo o Reino dos Nalús tido 4 chefes durante toda a sua existência:

O primeiro foi Boya Salifo que reinou durante 3 anos, de 1837 a 1840, ano da sua morte.

A ele sucedeu-lhe Boya Lamine que chefiou os nalús durante 17 anos, de 1840 a 1857, igualmente ano da sua morte (Foto à esquerda).


Segue-se-lhe, Boya Youra Tawel, o qual reina durante 28 anos, entre 1857 e 1885, tendo dividido o Reino Nalú em quatro províncias: Socoboli, Tonkima, Caniop e Cacine. Em 1860, com as etnias Landumas e Mikiforés a desentenderam-se, Youra começa a conquista de novos territórios para preservar a segurança das suas fronteiras contra as intenções expansionistas do chefe do Futa. Em 1863 dispunha de um grande território e reino. Nomeia então chefes para cada província. Para Cacine foi designado Saiondi, filho de Boya Salifo.

Com a morte deste último, em 1857, o primeiro filho de Salifo Boya, Diná Salifo, assume a chefia para um reinado de cinco anos que termina com a sua prisão pela França e respectiva deportação para Saint Louis, no Senegal, onde acaba por falecer em 1897 (Foto à esquerda).

A sua prisão prende-se com o seu completo desacordo com a França, decorrente da elaboração da Convenção Franco-Portuguesa de 1886, em que se procede a uma nova delimitação das suas respectivas possessões, na qual a França cedia a Portugal a zona de Cacine por troca com a Casamança.

O Reino Nalú ficava assim sem uma parte significativa do seu território, Cacine. Dá-se o desmoronamento do Reino Nalú e as principais tabancas tornam-se de novo autónomas. A França necessitou de 37 anos (1890 a 1927) para desarticular completamente o Reino Nalú, que levou 70 anos (1820-1890) a ser construído.

Por volta de 1860 dá-se a invasão Fula que vêm de Boké na Guiné-Conakry e do Boé no Futa Djalon que apertam os Nalús contra o mar e os obrigam a refugiarem-se nas ilhas de Melo e de Como, certos da dificuldade dos Fulas em se confrontarem com a água.

De forma inesperadamente rápida os Nalús começam voluntariamente a converter-se ao islamismo e consequentemente a abandonarem a escultura, muito semelhante à dos Bagas da Guiné-Conakry, de rara beleza e simbologia.

Trinta anos depois (1890) dá-se a chegada dos Sossos, vindos de Boffa na actual Guiné-Conakry, os quais se aliam aos Nalús para se oporem ao expansionismo Fula.

É por volta de 1896 que grande parte dos Nalús que habitavam as ilhas passam ao continente e, chefiados por Cube, antigo escravo e depois batulai do régulo Fula do Forreá, fundam inicialmente a tabanca de Cabedú e sucessivamente as de Calaque, Cafal, Cauntchinque e por último, em 1926, Cadique.

Mais recentemente, por volta dos anos 1920, verifica-se a chegada massiva dos Balantas, vindos da zona de Mansoa, os quais, numa fase inicial, não são recebidos muito cordialmente pelos Nalús.

Segundo Garcia de Carvalho, na altura Chefe de Posto Administrativo de Bedanda, em 1946, os Nalús, em número de 910 almas estavam repartidos por três territórios englobando 19 tabancas:
- Regulado de Guiledje: tabanca de Cafun’aque (8 pessoas)
- Território de Cantanhez: tabancas de Catomboi (5), Camecote (15), Camarempo (15), Sogoboli (25), Catchmaba Nalú (30) e Caiquene (25)
- Território de Cabedu: tabancas de Cafine (60), Calaque (50), Cafal (100), Fonte Iamusa (20), Cai (10), Cassintcha (40), Catombakri (40), Cabedú (200), Catesse (50), Catifine (50), Cabante (20) e Ilhéu de Melo (40).

Por outro lado, A.A.Silva , recorrendo ao Censo de 1960 que apresenta números credores de confiança, assinala a existência em toda a zona, e não exclusivamente na antiga Bedanda, 3.009 Nalús.

Com o início da luta de libertação nacional desencadeada em 1963, os Nalús acabam por aderir na sua quase totalidade ao movimento pela independência da Guiné-Bissau, vivendo e sendo protagonistas exemplares na construção das primeiras zonas libertadas, em Cantanhez.


2.2. FULAS, os islamizadores

A tradição oral narra que alguns caçadores Fulas terão chegado acidentalmente ao país dos Nalús. Mais tarde um grupo de Fulas cativos, oriundos da parte francesa do Boé e chefiados por Turá-Iá, imigraram para esta zona atraídos pelos seus bons solos e fundado primeiramente a tabanca a que puseram o nome de Guiledje, para logo de seguida criarem a tabanca de Salancaur de Fulas. Rapidamente dominaram toda a região mantendo os Nalús confinados às Ilhas de Melo e de Como, sabendo estes que se fossem apanhados seriam imediatamente feitos escravos e enviados para o Forreá.

A segunda avalanche de imigração Fula para o Chão dos Nalús, dá-se com os Fulas-Pretos. Em 1891 verifica-se uma forte desavença entre os Fulas do Foreá e os Fulas-Pretos, o que leva a que um novo grande contingente de Futa-Fulas, chefiados por Suleimane Djaló, Bacar Dambuia, Bela Coulibali e Mutaro Galissa, se deslocassem para Cantanhez e fundassem a tabanca de Iemberém, logo seguida da de Madina.

Com a morte de Turá-Iá em 1918, foi nomeado régulo de Guiledje, Alfa Mamadú Seilú, a quem as autoridades coloniais doaram o território deste regulado, como paga pela sua colaboração com Abdul Indjai, na chamada guerra de pacificação da colónia. De referir que esta compensação se deveu ao facto de ele ter recusado receber o dinheiro que o Governo lhe oferecia.

Em poucos anos este regulado desenvolveu-se, tendo sido criadas as tabancas de Medjo, Bomane, Um-Siré, tandá, Banco-Bunge, Banhege, fazendo ele valer o seu poder ao chefe de Cantanhez, Suleimane Djaló, que a ele se submeteu voluntariamente. Estendeu a sua autoridade a Quebo e ao território de Cabedú. Acaba por morrer em Mansoa quando organizava em 1921 uma revolta contra os portugueses.

Sucedeu-lhe o seu filho Amadú Uri, deposto três anos depois, tendo herdado a chefia do regulado o seu irmão Mamadú Seilú que morre cinco anos depois. Como quem o devia substituir, Mamadú Saliu, ainda era uma criança, ninguém foi nomeado régulo, tendo cada tabanca designado o seu chefe.

Em 1937, Adjibo, padrasto do herdeiro legítimo, é nomeado régulo, depois de uma forte divergência entre os dois, acabando por ser deposto menos de um ano depois por ser considerado pela população como um usurpador. Só 4 anos depois, em 1941, é que Mamadú Saliu acaba por ser nomeado régulo, transferindo a sede para Salancaur.

Em 1946 havia 1.295 Futa-Fulas em todo o sector de Cubucaré, o que representava 0 segundo grupo com maior número de habitantes.


2.3. BALANTAS, os últimos a chegar

Nos anos 1920, os Balantas, fruto dos massacres perpetrados em Nhacra e Mansoa por Teixeira Pinto, na chamada guerra de pacificação, e pelos trabalhos forçados a que eram sujeitos na construção de estradas, decidem imigrar para o sul, primeiramente para o Cubisseco e depois para Tombali.

Inicialmente o seu relacionamento não foi bom com os Nalús que não os receberam bem. Mais tarde a situação modificou-se tendo estes aprendido as técnicas de orizicultura de bolanha salgada e passado a praticá-las. Instalaram-se nas zonas ribeirinhas, ao longo do rio Cumbidjan, praticando um sistema de produção de bolanha, em que o arroz de bolanha salgada era o elemento quase exclusivo do sistema. Rapidamente passaram a ser a etnia mais numerosa, tendo sido registados 7.165 habitantes em 1946, em 29 tabancas do sector de Cubucaré.

2.4. SOSSOS, os donos da língua

Chefiados por Lourenço Davy, um número muito reduzido de Sossos terão chegado a Cantanhez vindos de Boké, por volta de 1891, criando a tabanca de Camecote, muito perto da de Iemberém.

Especialmente ligados ao comércio, impõem a sua língua como o crioulo de Cantanhez. Embora em 1946 apenas com 490 habitantes concentrados em 4 tabancas, acabam por determinar que a língua sossa seja falada por todas as outras etnias como instrumento financeiro de comercialização dos produtos.


2.5. TANDAS, de Iemberém

Relatos orais dão os Tandas como originários de Kindou, na região de Tambacunda, Senegal oriental, de onde se terão deslocado inicialmente para Badjar, região de Koundura, actual Guiné-Conakry, à procura de bons solos para a prática da agricultura. Mais tarde foram para Kakalidi, zona de Boké, onde começaram a negociar com os Nalús a concessão de terras, tendo-lhes sido atribuído uma área onde fundaram a sua primeira tabanca na Guiné-Conakry: Madina.

Na actual Guiné-Bissau, Gassimo Camará criou a primeira tabanca que foi designada de Lamoi, na área de Quitafine. Seguiu-se Cambraz, fundada por Danim Marena, igualmente em Quitafine. Já em Cubucaré, Adulai Cumpon criou Bomani, a que se seguiu Madina, na área de Guiledje, por Umarú Nangacum. Caboxanque Tanda, em Quitafine é fundada por Umarú Galissa.

Acabam finalmente por chegar a Iemberém, em 1930, através de um grupo de seis pessoas, constituído por Umarú Camará, Pedjedibi Camará (pai de Umarú), Issufo Galissa, Mutaro Galissa, Mamadú Nhabali e Alfa Galissa. Por último, Umarú Galissa funda a tabanca de Cambeque, na linda mata com o mesmo nome.

De todas estas tabancas apenas existem actualmente quatro: três em Cubucaré (Iemberém, Cambeque e Cambraz) e uma em Quitafine (Caboxanque Tanda).

No seu seio os Tandas têm seis sub-grupos: Aiendja, Aban, Abangar, Assóssó, Aiés, Abucul e Adjar.


3. Período Pós-Independência

Se nos primeiros 15 anos do pós-independência (1973) a situação das migrações para a região de Cantanhez não sofreu mudanças significativas, já nos últimos 15 anos se vem registando uma tendência para um acentuado crescimento demográfico.

O aumento do número de população tem sido feito à custa da vinda dos povos do leste, especialmente de Fulas do Gabú, à procura de novas áreas de cultivo e fugindo à clara diminuição a queda pluviométrica e dos solos de baixa fertilidade, consequência do uso prolongado de sistemas de produção baseados na cultura da mancarra e do algodão, fortemente penalizadoras da riqueza nutritiva destes solos.

Os eixos rodoviários Mampata-Guiledje e Guiledje-Faro Sadjuma são os que mais têm registado o aumento do número de novas tabancas e o uso de sistemas de cultura baseados na desmatação extensiva.

Paralelamente, nos últimos 5 anos têm-se intensificado igualmente o estabelecimento, por vezes temporário, por vezes permanente, de “nanias” vindos do outro lado da fronteira da Guiné-Conakry.

Aproveitando os brandos costumes guineenses na aplicação da Lei Florestal em vigor, deslocam-se para as áreas junto à linha da fronteira Balana-Bendugo onde praticam uma cultura itinerante de migração, desmatando enormes áreas florestais para, na maior parte dos casos, a abandonar nos anos seguintes, ocupando outras, novas e mais férteis. A cultura nómada destes povos faz com que a floresta não tenha nenhum significado especial, preferindo viver em zonas abertas e desmatadas.

Qualquer destes sistemas, dos fulas do Gabú ou dos Nanias da Guiné-Conakry, está a causar perdas consideráveis no património genético vegetal e animal, em particular nos dois grandes corredores de animais selvagens de Balana e Bendugo.


4. Os Regulados de Cubucaré


Existem actualmente quatro regulados em todo o sector.

- Regulado de Cabedú, tendo sido empossado em 2008 o novo régulo Bubu Camará, por morte em Fevereiro deste ano do anterior Aliu Turé.

- Regulado de Cadique, sendo régulo Aladje Salifo Camará

- Regulado de Medjo, sendo régulo Umarú Djaló

- Regulado de Iemberém, sendo régulo Adriano Sulai Djaló


Carlos Schwarz [, Pepito,]
Julho de 2008


Bibliografia

(1) Anginot Ethiène, 1988. Approche de la diversité des systèmes agraires du secteur de Bedanda, Région de Tombali, Guinée-Bissau: Zonage utilitaire pour la recherche et le développement. Bissau, Ministério do Desenvolvimento Rural e Pescas, DEPA.

(2) Elhadj Sankoumba Camará, 1999. Tawoulia ou Tawel, Famille regnante du pays Nalou au Rio Nunez, Perfecture de Boke de 1820 a 1952. Conakry.

(3) Garcia de Carvalho, J.P. 1946. Nota sobre a distribuição e história dos povos da área do Posto de Bedanda. Bissau, Boletim Cultural da Guiné-Portuguesa, nº 14.1949

(4) Pélissier René, História da Guiné: Portugueses e Africanos na Senegâmbia (1841-1936). Lisboa: Editorial Estampa. 1997

(5) Silva, Artur Augusto, 1959. Apontamentos sobre as populações oeste-africanas segundo os autores portugueses dos séculos XVI e XVII. Bissau, Separata do nº 55 do Ano XIV do Boletim Cultural da Guiné Portuguesa

(6) Silva, Artur Augusto, 1956. Arte Nalú. Bissau,
__________

Anexo 1

Tabancas Nalús em 1945


A. Regulado de Guiledje

• Cafunaque 8 pessoas

B. Território de Cantanhez

• Catomboi 5
• Camecote 15
• Camarempo 15
• Sogoboli 25
• Catchmaba Nalú 30
• Caiquene 25

C. Território de Cabedu

• Cafine 60
• Calaque 50
• Cafal 100
• Fonte Iamusa 20
• Cai 10
• Cassintcha 40
• Catombakri 40
• Cabedu 200
• Catesse 50
• Catifine 50
• Cabante 20
• Ilhéu de Melo 40

Total Nalús 910


Anexo 2

Nomes dos filhos de nalús islamizados por nascimento


FILHOS FILHAS

Primeiro > Salifo
Segundo > Lamine
Terceiro > Youra
Quarto > Carimo


Nomes dos filhos de nalús não-islamizados por nascimento


FILHOS / FILHAS

Primeiro > Titcho / Boya
Segundo> Toho / Tcha
Terceiro > Samani / Kenan
Quarto > Bakeni / Finia
Quinto > Tia (filha)
Sexto > Botia (filha)

__________


Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2714: Antropologia (5): A Canção do Cherno Rachide, em tradução de Manuel Belchior (Torcato Mendonça)

(**) 24 de Abril de 2008 > sGuiné 63/4 - P2793: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (15): Salvemos o Cantanhez (I)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3069: Ser solidário (13): Projecto de angariação de sementes (APAG / Zé Carioca)

Guiné-Bissau > Bissau > Simpósio Internacional de Guileje > Presidência da República da Guiné-Bissau > 6 de Março de 2008 > Audiência do Presidente João Bernardo 'Nino' Vieira > Entre a comitiva (portuguesa e de outras nacionalidades), dois Gringos de Guileje: o Zé Carioca e o Abílio Delgado, respectivamente, ex-Fur Mil Trms e ex-Comandante, Cap Mil, da CCAÇ 3477 (Guileje, Nov 71/ Dez 72) (*).

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.















Mensagem, originalmente sob a forma de slides (aqui convertidos em imagens em formato jpg) do José António Carioca, ex-Fur Mil Trms e Cripto, CCAÇ 3477, Gringos de Guileje, Guileje (1971/72) (1), com data de 8 de Maio, e que enviou ao Pepito, director executivo da AD - Acção para ao Desenvolvimento, com conhecimento aos editores do blogue, em 21 de Junho último (**):

Amigo Pepito:

Segue para já a apresentação que fiz em PowerPoint, e que uma vez que concorda vou também enviar para o pessoal da Tabanca Grande. Eu estou a tratar de legalizar a APAG aqui em Portugal. A mensagem está pronta para ser enviada com os anexos de ficheiro ou ligação que se seguem:Projecto para angariar sementes.



Infografia: © José António Carioca (2008). Direitos reservados.

_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2815: Tabanca Grande (67): Os Gringos de Guileje: Abílio Delgado, Zé Carioca e Sérgio Sousa (CCAÇ 3477, Nov 1971/ Dez 1972)

(**) Sobre a série Ser Solidário, vd. os últimos postes:

30 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P3006: Ser solidário (12): Método cubano de alfabetização... em português

23 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2975: Ser Solidário (11): Sugestões de colaboração (José Teixeira)

16 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2849: Ser solidário (10A): Campanha Sementes para as Mulheres Grandes de Cabedu (José Teixeira)

11 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2835: Ser solidário (10): A AOFA (Associação dos Oficiais das Forças Armadas) apoia a ADFA (A. Marques Lopes)

11 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2834: Ser solidário (9): Sementes para a população de Cabedu, Cantanhez, Região de Tombali (Zé Carioca)

Guiné 63/74 - P3068: Blogoterapia (61): Chorar faz bem... (Jorge Félix)

1. Em 30 de Maio, recebemos, para nosso conhecimento, esta mensagem de Jorge Félix, o nosso Piloto Aviador, dirigida ao nosso camarada António Marques Lopes, Coronel na situação de Reforma:

Caro Marques Lopes: Tenho o privilégio de conviver contigo às quartas-feiras e poder compartilhar emoções que são de dificil transcrição.

Poderia esperar por o próximo encontro e esclarecer pessoalmente aquilo que, depois de ler a tua mensagem, pretendo dizer.

Como me envias uma mensagem pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, vou fazê-lo pela mesma via com primeiro conhecimento à tua pessoa. Há pouco, quando acabei de ler a tua mensagem, disse para comigo:
- E agora como é que vou sair desta? Não posso olhar para o lado, como fazemos, quando uma lágrima teima atraiçoar-nos, naqueles instantes em que recordamos bravuras.

Falar, como fazemos, parece mais fácil do que ter que escrever. Narrar as tais emoções é muito complicado.

É dificil esquecer, mas quando se tem que recordar é penoso. E tu, na mensagem obrigaste-me a ler o que te disse (num sentimento de: É pá, isso não tem importância que eu também já fiz o mesmo !), quando eu já tinha a ideia, que só transportávamos, a más horas, algum material.

Eu queria continuar a dizer que transportei muita malta, que convivi com gajos bestiais, que tudo fiz para lhes tornar a vida mais risonha, mas não queria ter que olhar para os instrumentos ou assobiar para o lado, ignorando o que se passou à minha frente, e a minha memória felizmente anda a apagar.

Caro Marques, o incidente que eu relatei, com a não identificada traiçoeira lágrima, só se destinava a falar de um almoço onde convivemos, mas feliz ou infelizmente transbordou para outros horizontes. Para ti foi bom, como dizes, sempre que possível, para mim foi uma experiência que já não sei definir e não quero voltar a ter.

Lentamente, e se me permites Marques Lopes, vou levantando voo e com amizade me despeço até á próxima quarta.

Vamos falar, falar, falar, para termos muito pouco para escrever.

Pode ser que alguém pergunte a alguém:
- E a tua comissão como é que foi? - e alguém responda:
- A minha foi boa, senão não estava aqui.

Caro Amigo Marques Lopes, um grande abraço.
Jorge Félix

2. Dizia Marques Lopes a Jorge Félix (1)

Caro amigo:

Chorar fez-me bem, porque alimenta esta dor que eu não consigo (nem quero) apagar. Contei-te que tive de matar uma professora em Samba Culo e, como sempre que o faço, tive de chorar.

Porque nunca quiz matar, porque fui obrigado a matar.
Já disse uma vez, e é verdade que tentei ao longo da minha vida banir esta mágoa, mas sem o conseguir.


Muitos copos bebi para tal, mas, como viste, por mais copos que beba não consigo. Disseste-me que, como piloto de helicóptero, também mataste com certeza. Também eu te disse que, nas emboscadas, se calhar tinha matado também, assim como eles mataram dos meus. Nunca sabemos. Mas esta soube. Era eu que estava à frente dela e fui eu que disparei. E não queria.

Reavivou-me a dor, mas esta catarse do nosso encontro permitiu-me manifestar esta mágoa.
É bom, sempre que possível.
Obrigado.
A. Marques Lopes



3. Comentário de Carlos Vinhal:

Estes e outros desabafos contam-se e ouvem-se nos encontros da minitertertúlia de Matosinhos, todas as quartas-feiras, normalmente reunida à mesa da Casa Teresa.

Ontem, dia 16 de Julho, tive o prazer de conhecer o nosso camarada Jorge Félix, Piloto de Helicópteros na Guiné entre 1968 e 1970, que me chamou a atenção para uma mensagem dele que, sendo continuação de uma conversa com o nosso outro camarada da tertúlia de Matosinhos, António Marques Lopes, não tinha sido publicada. Assumo culpas pessoais e apresto-me a repôr hoje mesmo a legalidade.

Estes convívios espontâneos onde cabe sempre mais um, venha o camarada de onde vier, é uma forma salutar de catarse como fica demonstrado por esta e outras trocas de correspondência.

Umas vezes é mais fácil falar, outras escrever, para expressar o que vai na alma de um combatente que tem recalcamentos com dezenas de anos. Ninguém o compreende a não ser outro combatente, que viveu ou viu de perto situações semelhantes.

Tive a oportunidade de agradecer ao Jorge Félix o quanto ele e os seus camaradas pilotos da Força Aérea Portuguesa fizeram por nós. Eles eram os nossos verdadeiros anjos da guarda. Como em tudo na vida, quando na terra ninguém nos pode valer, olhamos para o céu.

Deixo aos nossos leitores esta foto curiosa, tirada pelo Jorge Félix, brilhante fotógrafo, num dos convívios de Matosinhos.



Foto © Jorge Félix (2008). Direitos reservados.


Aproveito a oportunidade para realçar a presença, ontem em Matosinhos, do meu ex-capitão Jorge Picado que se deslocou propositadamente de Ílhavo para conviver com esta espectacular tertúlia e do José Manuel, da Régua, que pelos vistos também se deixou arrebatar por este grupo de bons camaradas.
Quando demos conta, estávamos 18 à mesa e apenas duas pessoas não eram ex-combatentes.
CV
____________

Nota de CV:

(1) - Vd. Poste de 29 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2900: Blogoterapia (54): Chorar faz bem, chorar fez-me bem, camarada Jorge Félix (A. Marques Lopes)

Guiné 63/74 - P3067: Estórias do Juvenal Amado (12): O longo abraço (Juvenal Amado)



Juvenal Amado
Ex-1.º Cabo Condutor
CCS/BCAÇ 3872
Galomaro
1972/74



1. No dia 12 de Julho de 2008, recebemos esta mensagem do nosso camarada Juvenal Amado

Caros Carlos, Virgilio e Luis Graça e toda a Tabanca

Esta estória acaba por ser a história de um camarada nosso, mas acima de tudo serve para prestar homenagem a um homem bom, que em dada altura ajudou outro sem esperar qualquer beneficio. Antes pelo o contrário o ter ignorado a questão, podia ter-lhe trazido alguns problemas.

Tenho lido a série dos nossos regressos. Não li todos mas já alguns entre eles os relatos do Carlos e do Virgilio. Gostei muito. Nem eu me lembrava do que senti também quando regressei.
Possivelmente também escreverei sobre isso, mas ainda estou . Ainda não consigo regressar.

Um abraço para todos
Juvenal Amado






Caderneta Militar do Filipe



2. O longo abraço
Tem cuidado, deixa essas conversas para a Metrópole. O africano veio fazer queixa de ti.

Por Juvenal Amado

Naquele momento sentiu desabar sobre ele uma infinidade de sensações. Umas de revolta por ser tão ingénuo, outras de espanto por alguém que sendo também um oprimido, tinha feito queixa dele.

O Alferes Mota era o Comandante do Pelotão das Transmissões e por conseguinte o Oficial Superior do nosso camarada. Estava de Oficial de Dia, tinha recebido a denúncia. Após ter-lhe feito a recomendação, dirigiu-se para messe.

Meio atarantado, o Rádiomontador Filipe dirigiu-se para o seu abrigo cheio de medo e pensando:
– Desta vez não me safo - criticar o regime na nossa situação, pode ser considerado traição.

Tudo se tinha passado no Regala (*), pequena loja de utilidades que também servia uns bitoques com um tempero africano, que era de comer e chorar por mais.

O Filipe, como de costume, tinha algum prazer em iniciar as discussões. Dessa vez não foi diferente e a forma como se estava a ministrar o ensino da língua portuguesa, às crianças da Guiné, era para ele motivo de crítica. O individuo de cor chegou-se à mesa ninguém sabe bem como. Cada um pensou que ele era amigo do outro e ninguém fez reservas. Entrou na conversa sobre a escola e o ensino que estava a ser administrado nas escolas primárias.

O Filipe entusiasmou-se com a conversa e sem se aperceber de inicio, com a retirada estratégica da conversa que os companheiros de mesa fizeram, soltou tudo que pensava e quanto mais os outros se retraíam, mais ele avançava.

Mais alguns mas... da parte do negro (possivelmente professor) o Filipe, subia o nível as criticas ao Estado e à guerra, aliás assunto que já lhe tinha causado alguns dissabores e apertos. (**)

O africano levantou-se e dirigiu-se na direcção da Porta de Armas, que ficava talvez a quinhentos metros.

O Filipe que tinha caído em sí e desconfiado, seguiu até o ver entrar no Quartel.
Ficou com o coração apertado, mal disse o seu feitio de ser pouco cuidadoso com quem falava, pois ele sabia como as opiniões politicas contra o regime eram tratadas.
Mas ele era assim, quando via ou ouvia algo que lhe desagradasse, tomava partido e como era costume, raramente alguém compreendia as suas razões.

Entretanto, algum tempo depois vai para Bolama, em gozo de férias. Naquele tempo cometia-se toda casta de imprudências, desde beber por copos possivelmente mal lavados, comer marisco de proveniência duvidosa, enfim petiscos porque férias são férias.

As férias foram óptimas naquele ambiente paradisíaco e exótico.
Já perto do regresso a Galomaro, adoece e é já doente que chega ao destacamento. Está todo amarelo, é urgentemente evacuado para o Hospital Militar de Bissau. Está com hepatite e corre perigo de vida.

E é lá que está, quando o Alferes Mota chega, também ele doente com hepatite. O Filipe vai vê-lo através da porta envidraçada da enfermaria dos infecto-contagiosos. É numa dessas espreitadelas que vê o enfermeiro junto à cama, com o nosso camarada já morto.

Dois dias após a sua chegada, morre o alferes Mota (***), com os parâmetros das análises mais baixas do que as do Filipe.
A morte passou por ali e fez a sua escolha.

O Filipe esteve internado 32 dias em Bissau, antes de ser evacuado para o Hospital Militar da Estrela em Lisboa, onde esteve 173 dias.

Conhecendo eu o Filipe, o seu romantismo revolucionário, não o deve ter deixado calado por onde passou. Resultado cartas, fotos e objectos, que ao tempo foram considerados suspeitos vá-se lá saber porquê, tudo desapareceu entre Galomaro, Hospital de Bissau e Estrela .

A PIDE também visitou a casa da mãe no Porto, quando ele por sorte estava em Lisboa. A seguir, o 25 Abril veio pôr fim aos delitos de opinião, que as gerações mais novas nem sonham o que era, talvez por nossa culpa.

O Filipe faz um sentido agradecimento à memória do Alferes Mota, por o ter ajudado naquela noite, quando ele regressava do Regala. Eu também lhe agradeço, pois pequenos gestos como o que praticou, ajudaram a anular a suspeita, as escutas e a delação, que eram uma constante nas nossas vidas.

Brancos ou pretos, a PIDE não escolhia cores e o braço era longo.
Obrigado Alferes Mota.

Algumas notas:
(*) - O senhor Regala era um individuo de origem caboverdiana, que para além de proprietário do café, também faziam colunas de reabastecimento connosco. Homem bem falante e lúcido, quanto aos problemas da sua terra. Dizia-se que tinha relações privilegiadas com a guerrilha e por isso, coluna onde ele fosse nunca era atacada. Galomaro também beneficiava dessa protecção, o que veio provar-se ser mentira, uma vez que fomos violentamente atacados.

(**) - Em dada altura que o Filipe, assistiu à saída de camaradas para os postos avançados e patrulha nocturna, desatou a fazer barulho e a protestar contra o facto. O barulho chegou aos ouvidos do Comandante, que mandou averiguar o que se passava. Dessa vez o anjo protector chamou-se Dr. Pereira Coelho, que abraçando-o, disse-lhe ao ouvido que se fingisse bêbado e assim o salvou.
Por vezes O Filipe, era mal compreendido e se não vejamos o episódio das bajudas; Ao fim da tarde, os soldados iam ter com as lavadeiras, que se acercavam do destacamento. Eram momentos em que os soldados, davam por vezes largas a alguma falta de respeito para com as lavadeiras. Alguns por graça e para as ouvir dizer de uma enfiada só, todos os palavrões que conheciam em português e no seu dialecto. Apalpavam-nas e diziam-lhe que não lhes pagavam, por elas lhes terem partido os botões todos, ao lavarem as camisas como hábito, batendo com as ditas em pedras pois sabão, era coisa que não entrava nos seus apetrechos.
Tínhamos chegado a Galomaro, quando o Filipe se insurgiu contra uma dessas cenas, que verdade se diga não eram muito dignificantes, pois algumas bajudas eram muito novas. Resultado foi ele se envolver em briga, com um dos participantes dessa tertúlia, indo parar ao chão com o estalo que recebeu.

(***) - O Alferes Mota era um oficial miliciano, antigo seminarista, bastante culto, muito correcto para com os seus subordinados.
Morreu se não estou em erro no dia 26 de Novembro de 1972 com hepatite e não com paludismo como escrevi na minha estória O Ultimo Natal em Galomaro.

PS: Esta estória resulta da correspondência que tenho mantido com o Filipe há já algum tempo.

Juvenal Amado
09.07.08

Foto 1 > O Filipe com a lavadeira

Foto 2 > O Filipe com o Esofe que se juntou à Resistência

Foto 3 > O Filipe em Galomaro

Foto 4 > O Filipe na esplanada do Regala com dois camaradas do STM e Centro de Operações

Foto 5 > O Filipe no HM 241 de Bissau

Fotos © Juvenal Amado(2008). Direitos reservados.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2938: Estórias do Juvenal Amado (11): Galomaro, Bambadinca, Cancolim e Gabu (Juvenal Amado)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3066: Mulher(es) (2): O trabalho em Mansoa (César Dias)

Guiné> Região do Oio> Mansoa > Foto enviada pelo César Vieira Dias, ex Furriel Miliciano Sapador, CCS / BCAÇ 2885, um batalhão que esteve em Mansoa e Mansabá de Maio de 1969 a Março de 1971.

Guiné> Região do Oio> Mansoa > Foto enviada pelo César Vieira Dias, ex Furriel Miliciano Sapador, CCS / BCAÇ 2885, um batalhão que esteve em Mansoa e Mansabá de Maio de 1969 a Março de 1971 > A mulher na lavra do arroz...

Guiné> Região do Oio> Mansoa > A mulher a caminho da lavra do arroz...

Guiné> Região do Oio> Mansoa > A mulher pilando o arroz...


Guiné> Região do Oio> Mansoa > A mulher joeirando o arroz...

Guiné> Região do Oio> Mansoa > A mulher cabeleireira...


Guiné> Região do Oio> A mulher balanta com um balaio à cabeça e um filho às costas...

Fotos: © César Dias (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem do César Dias:

Olá amigos e camaradas

Envio-lhes estas fotos para ilustrarem alguns postes que certamente vão aparecer sobre este tema. Juntamente com estas gostaria de vos enviar também uma do homens Guineenses que passavam o dia sentados naquelas cadeiras feitas de barris, mas já vasculhei tudo e não encontrei.

Um abraço
César