segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16610: Agenda cultural (507): No passado dia 13 de Outubro, integrada na série Tertúlias Fim do Império, na Messe Militar do Porto, sita na Praça da Batalha, no Porto, foi apresentado o livro "A Batalha de Cufar Nalu" da autoria do nosso camarada Manuel Luís Lomba, que foi Furriel Miliciano na Companhia de Cavalaria 703 (Guiné, 1964/66)

No passado dia 13 de Outubro, integrada na série Tertúlias Fim do Império, desta feita na Messe Militar do Porto, sita na Praça da Batalha, no Porto, foi apresentado o livro "A Batalha de Cufar Nalu" da autoria do nosso camarada e tertuliano Manuel Luís Lomba, que foi Furriel Miliciano na Companhia de Cavalaria 703 (Guiné, 1964/66).

Bastante tempo antes do início da apresentação, já o espaço junto ao Bar estava bem composto com camaradas falando dos lugares e acontecimentos comuns, fossem eles na Guiné, Angola ou Moçambique.


Senhor Coronel José Manuel Belchior, Manuel Luís Lomba e Carlos Vinhal

 
Armando Faria e Carlos Vinhal do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


O Autor Manuel Luís Lomba; Carlos Vinhal (1.º Secretário da Mesa da AG do Núcleo de Matosinhos da LC) e o Dr. Fernando Reis Lima (Presidente da Mesa da AG do Núcleo do Porto da LC), ex-Tenente Miliciano Médico em Angola no difícil ano de 1961.


Chegada a hora, os presentes entraram na sala onde iria decorrer a apresentação da obra.

O senhor Coronel Belchior, na qualidade de moderador, deu início aos trabalhos, apresentando a Mesa, dando posteriormente a palavra ao autor.



A Mesa era composta pelo moderador, senhor Coronel Belchior, Presidente da Direcção do Núcleo do Porto da LC (de pé); senhor Dr. Fernando Eduardo Reis Lima, Presidente da Mesa da AG do mesmo Núcleo; representante do senhor Ten-General Sousa Pinto, ausente por motivos de força maior; e pelo Autor Manuel Luís Lomba.


A apresentação do livro, "A Batalha de Cufar Nalu", esteve exclusivamente a cargo do seu autor, que manteve a assistência atenta e interessada. As matas, da Guiné, de Cufar Nalu e o Cantanhês, mesmo para quem não as conheceu, são um misto de curiosidade e mistério, pela sua beleza e perigosidade, durante anos santuário do PAIGC.



Manuel Luís Lomba mantendo diálogo permanente com a Mesa e com os a assistência.

Manuel Luís Lomba viajou pelo tempo e pela Guiné, destacando o facto de a sua Companhia estar durante meses em Bissau ao dispor do Com-Chefe como força de intervenção, o que a levou a participar em diversas operações em toda a Guiné, especialmente no Óio e no Leste, como descreve no seu livro, acabando por ser colocada, em nomadização, nas piores condições, em Cufar Nalu e, mais tarde, em Buruntuma.

Terminada que foi a sua intervenção, o Autor foi felicitado pelo moderador pela forma como se expressou, recebendo o elogio de que se é bom a escrever não o é menos a falar.

Seguiu-se o diálogo com a assistência, sendo como seria natural e notório mais intenso com os antigos combatentes da Guiné.



 Um camarada da Guiné interpela o Autor

O Coronel David Martelo, autor de vários livros e editor do Blogue A-bigorna, intervindo a partir da assistência.

Seguiu-se a sessão de autógrafos, e ainda houve tempo para uma tertúlia informal do hall de entrada, nesta caso de saída, da Messe Militar do Porto.


O Autor, Manuel Luís Lomba durante a sessão de autógrafos

Fotos: © Dina e Carlos Vinhal
Texto e legendagem das fotos: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16589: Agenda cultural (500): Lançamento do livro de poemas "Sussuros Meus", da autoria de Fernando Jesus Sousa, dia 14 de Outubro de 2016, pelas 15 horas, no Salão Nobre da ADFA, Av. Padre Cruz, Lisboa

Guiné 63/74 - P16609: Inquérito 'on line' (75): as primeiras 66 respostas, a três dias do fim do prazo (5ª feira, dia 20): só em 28 casos havia famílias de militares, não guineenseses, no mato... "Lembremos que o maior número de militares do quadro não estavam longe de belas cidades como Luanda, Benguela, Uíge, Malange, Lourenço Marques, Beira, Nova Lisboa e Bissau, por exemplo, onde não faltava nada (comentário de Antº Rosinha)


Guiné > Bissau > Anos 70 > Quartel General em Sta. Luzia > Piscina, a que tinham acesso os oficiais do QP e milicianos,  e seus familiares. Foto do álbum do nosso saudoso António [Henriques Campos] Teixeira,  o "Tony"  (1948-2013), ex-alf mil da CCAÇ 3459 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 6,  Bedanda,  1971/73) (*)


Guiné > Bissau > s/d [, meados dos anos 60] > Av Carvalho Viegas, um das ruas da baixa, onde o comércio tinha tudo... Bilhete postal, nº 129, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")


Guiné > Bissau > s/d   [, meados dos anos 60] > Aspecto parcial  da cidade, Câmara Municipal à direita, Palácio do Governador ao fundo à esquerda... Bilhete postal, nº 133, Edição "Foto Serra" (Colecção Guiné Portuguesa")


Guiné > Bissau > s/d  [. meados dos anos 60] > Um cidadezinha colonial, feita a régua e esquadro, desenhada pela República, desenvolvida com o Estado Novo (a partior dos anos 40)... Vista parcial da baixa com o estuário do Geja e o ilhéu do Rei, ao fundo... Bilhete postal, nº 117, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa").

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010). (**)


I. INQUÉRITO 'ON LINE':

 "NO MATO 
NO(S) SÍTIO(S) ONDE EU ESTIVE, NA GUINÉ,
HAVIA FAMILIARES NOSSOS"...


As primeiras 66 respostas:


1. Sim, esposas (não guineenses)  > 

19 (28%)

2. Sim, esposas e filhos (não guineenses) >  
9 (13%)

3. Sim, familiares guineenses (sem ser das milícias)  > 
9 (13%)

4. Não, não havia >  
35 (53%)

5. Não aplicável: não estive no mato  > 
2 (3%)

6. Não sei / não me lembro  > 
0 (0%)


Termina dia 20/10/2016, 5ª feira, às 6h52. O inquérito admite até duas respostas: por exemplo 1 e 3; 2 e 3. (***)


2. Comentário de Antº Rosinha (***):

[ Antº Rosinha, em Pombal, 2007:  é um dos nossos 'mais velhos', andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado, fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62, diz que foi 'colon' até 1974... 'Retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência'; é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho']

Este pormenor das famílias dos militares irem [ou poderem ir] para o Ultramar,  pode ser um ponto de vista para explicar muita coisa sobre a durabilidade da Guerra.

A vida da maioria dos oficiais e sargentos (não milicianos) e muitos tenentes e capitães milicianos, casados,  com filhos quer no liceu ou na primária ou mesmo na Universidade, tornou-se numa rotina bem "oleada" que corria sobre esferas, em plena Guerra do Ultramar.

Lembremos que o maior número de militares do quadro não estavam longe de belas cidades como Luanda, Benguela, Uíge, Malange, Lourenço Marques, Beira, Nova Lisboa e Bissau,  por exemplo, onde não faltava nada.

E nessas cidades havia casas para arrendar e o pessoal do quadro tinha direito a "subsídio de renda de casa", quer na metrópole ou no Ultramar, e evidentemente, o subsídio de cada filho menor ou enquanto estudasse.

E lembremos que essa rotina bem "oleada" continua em quantidade e qualidade com comissões em "Lisboa, Porto, Coimbra, Faro, Guarda, Bragança..." (em ondas curtas compridas e comprometidas) por mais alguns anos de 1974, até aos anos 80, com concursos e promoções e preenchimento das imensas "vagas" do quadro.

É que a luta continuou indefinidamente, Porquê ?  A explicação deve ser a mesma pela qual não se explica cabalmente por que é que os capitães de Abril só apareceram em 1974 e não em 1968.

A guerra não acabou para todos em 1974, houve uma (boa) continuação para alguns.

Canquelifá, Buruntuma, Binta é uma coisa... outra coisa é outra coisa.

Tem que haver memória.
Antº Rosinha

Guiné 63/74 - P16608: Notas de leitura (891): “História da História em Portugal, Séculos XIX-XX”, organização de Luís Reis Torgal, José Amado Mendes, Fernando Catroga; Temas e Debates; 1998, volume II (2) (Mário Beja Santos)

A Guiné na Exposição do Mundo Português, 1940


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
Neste itinerário das comemorações entre 1880 e 1960, assistimos às diferentes matizes a que foi sujeito o ciclo nacionalista-imperialista, desde o jubileu de Camões no aflitivo momento em que grandes potências coloniais se preparavam para negociar parcelas do nosso Império até ao centenário do Infante D. Henrique, em 1960, a derradeira festividade em que se procurava o maior fausto para justificar a gesta dos Descobrimentos e a presença de Portugal em África. Sem se entender todo este percurso, é extremamente espinhoso procurar linearidade no relacionamento entre Portugal e as suas ex-colónias africanas, após os acontecimentos de 1974 e 1975.

Um abraço do
Mário


As comemorações imperiais portuguesas, nos séculos XIX e XX (2)

Beja Santos

Em “História da História de Portugal, Séculos XIX-XX”, Temas e Debates, 1998, o historiador Fernando Catroga, a propósito da temática das ritualizações da História, trata minuciosamente o ciclo nacionalista-imperialista e a sua associação direta à questão colonial. Já se referiram várias comemorações, retenha-se que o centenário da Índia foi alvo de cortejo, de exposições, de memórias, de apoteose de iluminações, repiques de sinos e, claro está, de Te Deum. A Sociedade de Geografia de Lisboa, o núcleo duro da defesa dos interesses coloniais de Portugal, lançou mão de uma série de iniciativas, incentivou importantes contributos historiográficos.

A República não ficou atrás na exaltação nacionalista-imperialista. E não podia ficar. Berlim continuava a cobiçar largas porções de Angola e Moçambique. Ao deflagrar a I Guerra Mundial, os republicanos deram a máxima prioridade à questão colonial. Mobilizaram a opinião pública para entrar na guerra e uma das razões capitais dadas foi a de se dever garantir a soberania portuguesa em África. O regime republicano é confrontado com os centenários de Ceuta e de Afonso de Albuquerque, que balizavam o início e o apogeu da gesta dos Descobrimentos. Previram-se congressos internacionais, a transladação dos ossos de Afonso de Albuquerque da Igreja da Graça para os Jerónimos. Foram iniciativas que receberam fraco acolhimento, embora se tenha produzido e editado obras relevantes, conforme o historiador Fernando Catroga enumera.

À volta da viagem de Gago Coutinho e Sacadura Cabral no hidroavião Lusitânia, em 1922, na passagem do I Centenário da Independência do Brasil, a questão colonial era bem evidente. Os governos republicanos depois dos tratados de Versalhes (1919), e da conferência de S. Remo (1920), e perante o facto das antigas colónias alemãs terem passado a ser governadas por potências administrantes, começaram por se mostrar tranquilos mas o presidente norte-americano Wilson trouxe uma nova preocupação: Washington exigia a criação de condições que gradualmente elevassem os povos colonizados à autodeterminação e independência, em conformidade com o art.º 22.º do Pacto da Sociedade das Nações.

Viagem de Gago Coutinho e Sacadura Cabral no Atlântico Sul, 1922. 
(Imagem retirada, com a devida vénia, do blogue Estado Sentido.)

Voltemos a Camões, em 1922, a Câmara Municipal de Lisboa lançou a ideia de nova consagração do vate, a propósito da passagem do quarto centenário do seu nascimento. Houve sarau na Sociedade de Geografia de Lisboa, sessões públicas e algumas conferências. Como recorda o historiador, numa conferência realizada por António Cabreira, a descoberta do caminho marítimo para a Índia era apresentada em termos em que o elemento rácico tinha um lugar proeminente: a aventura portuguesa devia ser apreciada como uma libertação da Europa da pressão muçulmana e turca porque salvou “a Civilização Ocidental de uma derrocada certa, salvando o próprio sangue europeu da mestiçagem bárbara que daria, fatalmente, a quebra de índice encefálico e, portanto, a perda irremediável do brilho mental das raças mais nobres do planeta”.

E estamos chegados à era de Salazar. O ditador maneja com mestria a sua visão de unidade nacional, que incorpora republicanos conservadores, católicos, monárquicos liberais, integralistas e grupos afins. Move-os a todos o culto da independência e a defesa das colónias. Os republicanos já tinham dado o exemplo. Ainda antes do 28 de Maio, a Sociedade de Geografia de Lisboa apoiou a constituição de uma Comissão de Defesa das Colónias, onde estava a quase totalidade do grupo da Seara Nova. Armando Cortesão escrevia abertamente: “O Império de além-mar é para Portugal uma questão de vida ou de morte”. E saiu do punho de Afonso Costa esta definição: Portugal não é um pequeno país. Os que sustentam isso esquecem que as províncias ultramarinas fazem com o território metropolitano de Portugal um todo uno e indivisível.

Salazar faz aprovar o Acto Colonial em 1930, e o seu art.º 3.º é esclarecedor: “Os domínios ultramarinos de Portugal denominam-se Colónias e constituem o império colonial português”. A Constituição de 1933 irá ratificar este preceito. O regime apresenta-se com parte integrante da herança dos Descobrimentos, o Império é a justificação da missão de Portugal no mundo. Procura-se institucionalizar o Império, o mito da grandeza imperial, aprovam-se publicações que têm a finalidade de sensibilizar os portugueses para essa grandeza imperial. Sucedem-se as conferências e exposições, visa-se alicerçar o conceito de Império como forma de dar credibilidade ao culto nacionalista da Pátria.

O ponto alto destas celebrações será a Exposição do Mundo Português, António Ferro, à frente do Secretariado de Propaganda Nacional, é o manobrador esforçado para pôr em prática iniciativas como as exposições coloniais ou fazer representar a questão colonial em exposições internacionais, como a de Paris, em 1937. As colónias são a questão central da Exposição Colonial Portuguesa, 1934, da Exposição Histórica da Ocupação no Século XIX, 1937, e assim chegámos ao faustoso acontecimento da Exposição do Mundo Português [Vd. foto acima].
Atenda-se ao que Fernando Catroga escreve para distinguir as iniciativas liberais e republicanas das do Estado Novo. Eventos como o jubileu camoniano de 1880 serviram para contestar a decadência e trazer esperança à regeneração. O Estado Novo impunha a ideia de refundação, como escreveu António Ferro na sua célebre “Carta aberta aos portugueses de 1940”, 1140, 1640 e 1940 simbolizavam três anos sagrados da nossa História: o ano do nascimento, o ano do renascimento e o ano apoteótico do ressurgimento. As comemorações anteriores nasceram de múltiplas iniciativas de grupos de cidadãos, de associações culturais, só mais tarde se juntava (ou não o apoio governamental; agora era o regime de Salazar que tomava a iniciativa, definia os programas e precisava as metas que deviam ser alcançadas.

O mundo está em guerra, Franco saiu vitorioso da guerra civil de Espanha, Salazar estabeleceu com ele a aliança peninsular e reforçou a sua arreigada convicção de que a defesa das colónias passava pela manutenção da tradicional aliança com Inglaterra. Por isso, comemorar era regenerar, mostrar progresso, como a autoestrada de Lisboa-Cascais. Propõem-se inúmeras obras públicas e projetos desmedidos para a exposição do mundo português, e Salazar, cortante, sentencia: “Acho de mais. Temos de reduzir. Não vamos supor que pretendemos comparar a obra da Junta Autónoma das Estradas, aliás notável, com os Descobrimentos do Caminho para a Índia”.

Vejamos de seguida como as comemorações de 1940 assentavam como uma luva no orgulho nacional-imperialista.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16598: Notas de leitura (890): “História da História em Portugal, Séculos XIX-XX”, organização de Luís Reis Torgal, José Amado Mendes, Fernando Catroga; Temas e Debates; 1998, volume II (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16607: Ser solidário (200): Associação "Fidju di Tuga", com sede em Bissau, vai realizar um recenseamento dos lusodescendentes, filhos de antigos militares portuguieses (Cherno Baldé)


Guiné-Bissau > Bissau > 2014 > Membros fundadores da Associação Fidju di Tuga, com sede em Bissau. Cortesia da sua página na Net (que não tem sido atualizada).

1. Mensagem do nosso amigo Cherno Baldé, Bissau;


Data: 26 de setembro de 2016 às 12:25
Assunto: Pedido da associação "Filhos de Tugas"


Caros Luis e Carlos:

Os dirigentes da recém criada Associação dos Filhos de Tugas da Guiné-Bissau pretendem levar a cabo um trabalho de recenseamento dos seus irmãos e futuros membros (filhos de tugas) a fim de saberem com objectividade o número dos luso-descendentes ainda vivos e residentes no territorio da Guiné-Bissau.

Para o efeito,  e como não dispõem de meios materiais e financeiros para o fazer, solicitam vosso apoio no sentido de publicarem / anunciarem esse projecto no Blogue para captação  de todos os tipos de apoios possiveis e que possam facilitar a realização do recenseamento em data a anunciar.

O Diamantino (Presidente) e o Zé Maria (Secretário) estiveram em minha casa para um convite formal de integração na referida Associação na qualidade de membro honorário e Conselheiro e pediram-me ainda que vos apresentasse seus agradecimentos pelos apoios e a visibilidade feita
através do Blogue e que vos falasse sobre este assunto para juntos estudarmos a melhor forma de organizar um recenseamento credível e que não permitisse aproveitamentos de terceiros.

Cordialmente,

Cherno Baldé

2. Comentário do editor:

Cherno, obrigado por abraçares também esta causa, com a generosidade, a abertura de espírito e a frontalidade. que te caracterizam e que tão bem conhecemos. Estamos agora dar o devido relevo à tua mensagem. E, já que passas a ser uma espécie de "advogado e consultor", além de membro honorário,  da Associação Fidju di Tuga, peço-te que transmitas aos nossos amigos e irmãos o nosso convite para eles (individual ou coletivamente) integrarem a nossa Tabanca Grande.

Sabemos todos, no entanto, que há obstáculos a transpor progressivamente tais como a falta de recursos (técnicos, humanos, logísticos e financeiros), incluindo as dificuldades de acesso aos meios informáticos e à Internet.  Tão ou mais importantes que as pontes (, que não se constroem de um dia para o outro), são os construtores de pontes, como tu.

Em relação do projeto de recenseamento de lusodescendentes, filhos de antigos militares portugueses na Guiné-Bissau, digam-nos, em concreto, o que pretendem fazer, quando, onde, como... Divulgaremos a vossa iniciativa e vamos tentando sensibilizar ONG e associações de antigos combatentes para os vossos problemas e necessidades... Seria bom que alguma da ajuda humanitária que todos os anos é enviada para a Guiné-Bissau, a partir de Portugal, pudesse ser canalizada para a vossa associação.

Também podemos lançar um apelo a algum dos filhos dos nossos camaradas, que trabalham no setor da informática e "web design" (desenho de páginas na Net),  para vos ajudar a completar e atualizar a vossa página ou a criar uma página no Facebook.

Por outro lado, era importante que  a vossa voz pudesse chegar aos partidos com assento na Assembleia da República Portuguesa.  Há deputados que foram antigos combatentes, e outros que, não o tendo sido,  têm uma especial ligação à na Guiné-Bissau, à CPLP, à lusofonia, etc. Precisamos de gente ativa e solidária! (**)...

Um abraço fraterno. Mantenhas. LG

3. Missão da associação que agrupa os filhos dos ex-combatentes portugueses na Guiné-Bissau

A Associação Fidju di Tuga / Filho de Tuga foi criada em Bissau, em 2014, com os objectivos de: reagrupar e fortalecer os laços entre os filhos dos ex-combatentes portugueses deixados na Guiné-Bissau, de reencontrar os pais e familiares portugueses, de pedir às autoridades de Portugal o direito à nacionalidade portuguesa a que temos direito por sermos filhos de portugueses, pedindo a ajuda dos ex-combatentes portugueses nesta nossa missão. Este blogue pretende deixar registadas as experiências do tempo colonial e o drama social dos filhos que na Guiné foram chamados de "Filhos de Tuga" após a colonização e que sofrem até hoje por terem sido deixados para trás.

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domingo, 16 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16606: Facebook...ando (41): No lançamento do livro "Memórias boas da minha guerra", do camarada José Ferreira da Silva, no passado dia 14, no quartel da Serra do Pilar (Francisco Baptista)


Foto nº 1


Foto nº 2

Vila Nova de Gaia > Quartel da Serra do Pilar > Antigo RAP2, hoje Regimento de Artilharia nº 5 >  > Salão nobre  > 14 de outubro de 2016 > Apresentação do livro do José Ferreira, "Memórias Boas da Minha Guerra" (Lisboa, Chiado Editora, 2016). O autor fez questão de voltar à antiga unidade de onde partira para o TO da Guiné em 1967, como fur mil da CART 1689 (1967/69).

De acordo com o blogue dos nossos amigos e camaradas da Tabanca O Bando do Café Progresso, a que pertence o autor, na mesa (foto nº 1) pode ver-se, da esquerda para a direita: (i) Edgar Maia, representante da Chiado Editora; (ii) coronel Rui Pinheiro, em representação da Unidade Militar, o quartel da Serra do Pilar, hoje RA 5; general ref  Manuel Azevedo Maia, ex-cap, comandante da CART 1689 (até à data do seu ferimento e evacuação para a metrópole); e, de pé, o  Carlos Vinhal, editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que leu a a apresentação (escrita) do livro, em texto enviado pelo Alberto Branquinho,  de Lisboa, camarada e amigo do autor, que por impedimento de última hora não pôde comparecer.

Falaram ainda o cor Rui Pinheiro, gen ref Manuel Azevedo Maia e Jorge Teixeira, nma qualidade de régulo da Tabanca O Bando do Café Progresso. No final foi servido um Porto de honra. A sessão foi bastante concorrida, se pode ver pela foto nº 2.

As fotos que publicamos acima, com a devida vénia,  são da autoria do filho do autor, José António Silva.

1.  Com data de 15 do corrente, aqui vai um  pequeno texto, bem humorado, do nosso grã-tabanqueiro Francisco Baptista que escreveu na sua página do Facebook e que partilhou connosco, na página da Tabanca Grande:


[Foto à direita: Francisco Baptista (ex-alf mil inf, CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71); e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)]

O José Ferreira é um tipo castiço sempre com um sorriso malandro e um chapéu de abas largas e descaídas que lhe dão o ar de cigano de feira que nos quer impingir o burro velho em troca de muito dinheiro.

Ontem, no salão nobre do Quartel da Serra do Pilar, foi a apresentação do seu livro "Memórias Boas da Minha Guerra" .. Uma cerimónia com alguma pompa e circunstância, como é próprio da Instituição Militar quando recebe os que serviram a Pátria sob as suas ordens. 

No final houve um Porto de Honra, também com espumante e outras bebidas, salgadinhos e doces apetitosos. 

Concluindo foi uma grande festa, só faltaram umas salvas de canhão para lhe dar mais ênfase e anunciar às cidades que tinha nascido um bom escritor. 

Não contei as pessoas presentes mas confesso que estava muita gente o que não será de admirar sendo ele um homem sempre de sorriso e convívio fácil . Para além dessas características pessoais muitos já conheciam e gostavam de ler as suas crónicas. 

O livro com estórias interessantes e muito apimentadas, já li algumas, transmitem-nos a boa disposição, quase permanente,  do autor, O José Ferreira gosta de brincar (respeitosamente) com velhos amigos e camaradas e revelar o cómico das suas fraquezas, das suas falhas, taras, javardice , fanfarronice, marialvismo etc, fala das mulheres , honestas, beatas, sérias divertidas e outras muitas vezes na sua relação com eles. 

E mais não digo, não vá ele pensar que quero ficar com o burro sem o pagar ou exigir-lhe alguma garrafa de espumante a ele que me parece ser sócio dumas grandes caves.


3. Sinopse do livro e ficha biográfica (fonte: Chiado Editora)


3.1. "Memórias boas da minha guerra" > Ficha técnica  

Autor: José Ferreira da Silva
Data de publicação: Outubro de 2016
Número de páginas: 218
Editora: Chiado:
Local: Lisboa
ISBN: 978-989-51-8234-3
Colecção: Bíos
Género: Biografia
Idioma: Pt
Preço: 15 € (papel); 3€ (ebook]

Sinopse

A guerra é a guerra!

MAS, mesmo na guerra-guerra (em tempo de guerra!) surgem, por vezes, imprevistos, situações bizarras e com humor, em perfeita contradição com o ambiente que se vive, embora só mais tarde, ao recordar, nos provoque uma gargalhada.

Alberto Branquinho


3. 2. Autor: José Ferreira da Silva (aptad. de Chiado Editora)

(i) nasceu em fevereiro de 1943, em Fiães, concelho da Feira;

(ii) aos 10 anos de idade começou a trabalhar no sector corticeiro;

(iii) fez os estudos liceais e outros através de ensino particular;

(iv) durante o serviço militar, esteve nas seguintes unidades: Escola Prática de Cavalaria – Santarém set/dez 1965; Escola Prática de Artilharia – Vendas Novas, jan/março 1966; GACA 3 – Espinho, abr/set 1966; CIOE (Rangers) – Lamego, set/sez 1966; RAP 2 – V. N. Gaia, jan/fev 1967;

(v) partiu para a Guiné no T/T Uíge em 26 de abril de 1967, integrado na CART 1689 do BART 1913; chegado a Bissau, a CART 1689 saiu do Uíge diretamente para barcaças rumo a Bambadinca, subindo o Rio Geba;

(vi) a  CART 1689 esteve colocada em Fá Mandinga, Catió, Gandembel, Cabedu, Dunane, Canquelifá e Bissau; como Companhia de Intervenção, a CART 1689 atuou em mais de metade do território do CTIG, vindo a ser premiada com a Flâmula de Honra em Ouro do CTIG, o mais alto galardão atribuído a companhias operacionais;

(vii) regressou da Guiné (chegada a V. N. Gaia) em 9 de março de 1969;

(viii) rcomeçou a trabalhar como comercial no ramo de Tintas e Vernizes, mas logo seguiu para Angola, terra de seus sonhos;

(ix) trabalhou na secção de Contabilidade da Câmara Municipal de Cabinda;

(x) regressado de férias, em 1974, demitiu-se da CM Cabinda e foi viver para Crestuma, Vila Nova de Gaia, terra natal de sua mulher;

(xi) de 1975 a 1985, trabalhou numa empresa de fundição, como director de serviços;

(xii) de regresso ao sector corticeiro, trabalhou como director comercial, vindo a criar uma pequena empresa direcionada para o apoio ao engarrafador;

(xiii) como amante do desporto e do associativismo, ajudou à criação e desenvolvimento de vários clubes e associações desportivas, cultura, solidariedade e recreio: praticou canoagem; chefiou a Federação Portuguesa de Canoagem; é  sócio honorário, por aclamação, da F. P. Canoagem;

(xiv) foi reconhecido pela Comunicação Social como Presidente do Ano, mais que uma vez; também foi homenageado em Espanha; foi galardoado como Personalidade Desportiva do Século XX (como foram Eusébio, Joaquim Agostinho, Moniz Pereira e outros ilustres desportistas).
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Guiné 63/74 - P16605: Blogpoesia (475): "Pelo céu cinzento..."; "Flor perfumada..." e "Poisei meus pés em África...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. O nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) vai-nos enviando ao longo da semana belíssimos poemas da sua autoria, dos quais publicamos estes, ao acaso, com prazer:


Pelo céu cinzento...

Voam alto pelo céu cinzento,
Três corvos negros, à minha frente.
Vão decididos.
Alheios ao silêncio dormente da cidade.

E eu, aqui, aconchegado,
Debito teclas pretas com letras brancas, indefinidas.

Minhas ideias quentes
Vêm dos ares, saltitam
E as tocam notas
Como as dum piano preto.

Minha pauta se enche e esborda
Numa alegre festança de versos livres.

E, no horizonte azul, cintilam as estrelas
Que, de luz de prata, me iluminam.

Que deliciosa sinfonia!...

ouvindo a sexta sinfonia de Beethoven

Berlim, 16 de Outubro de 2016
9h1m

************

Flor perfumada...

Quem não levanta do chão
Uma linda flor, esquecida?

A tomei na mão.
A levei para casa.
Ajeitei uma jarra
E a guardei para mim.

Seu perfume se espalhou
E inundou minha casa.

Ao cabo de dias, murchou.
Ficou a tristeza.

Voltei a sair pelo mesmo caminho
Decidido a comprar.

Qual não foi meu espanto,
Uma outra flor se encontrava caída,
No mesmo lugar.

Peguei-a.
Voltei para casa.
Arranjei-lhe a jarra.
Pu-la ao sol.
O perfume voltou.
Ficou a brilhar.

Berlim, 15 de Outubro de 2016
19h45m

JLMG

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Poisei meus pés em África...

Foi há tanto,
Mas bem lembro.
Um Agosto quente. Era rapazote.
O futuro à frente
Que ficou travado.

Parti de Alcântara.
Larguei o Tejo.
Naveguei no mar.
Caravela em ferro.
Levava tanta tropa.
Marinheiro à força.
Cada vez mais longe.

Para lá do trópico.
Entrei no Geba.
Cinzento e largo.
Tempo sombrio.
Dum outro mundo.

Não se via a terra.
Só havia verde.
Apareceu sorrateira.
Aquele chão vermelho.
Num cais distante.

O casario chão.
Uma avenida longa.
A sair do cais.
Uma igreja branca.
Mesmo ali à direita.

O sinaleiro impante,
Num poleiro ao centro.
A limpar desordem.

Que formigueiro escuro.
Mais a tropa branca,
A correr pela rua.
Onde havia cafés,
Em convívio pleno.
Ali era Bissau.

Onde mora a guerra
De que falavam tanto?...

Se não fosse o cheiro,
Nem parecia África!

Berlim, 11 de Outubro de 2016
18h44m
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16581: Blogpoesia (474): "E do uníssono do piano e violino..."; "Semeio para colher..." e "Desço às minhas profundezas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16604: Manuscrito(s) (Luís Graça) (99): Ó pra cima, ó pra baixo, na colina de Santana


Lisboa > Colina de Santana > Academia Militar > Palácio da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha > Pormenor do busto, no exterior, da Catarina de Bragança (1638-1705), rainha consorte de Inglaterra (1662-1685), pelo seu casamento com Carlos II, da casa dos Stuart. Foi ela que mandou construir o palácio da Bemposta.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados.



Lisboa > Colina de Santana > Academia Militar > Palácio da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha > 12 de setembro de 2015 > Festival Todos 2015 > Visita  à Capela do Paço > Foto nº 1 >  Tela do altar-mor, figurando a padroeira, Nª. Sra. da Conceição,  atribuída ao pintor italiano José Troni. Foi depois  colocado um friso de retratos de elementos da família real, atribuídos ao retratista irlandês Thomas Hickey.

A origem do Paço da Bemposta destinado a residência de D. Catarina de Bragança, filha de D. João IV,  e viúva de Carlos II de Inglaterra,  remonta ao finais do séc. XVII / princípios do séc. XVII. O arquitecto é João Antunes. Sofreu sérios danos com o terramoto de 1755, a capela foi reconstruída  de raíz mas mantendo o enquadramento primitivo. (É Monumento Nacional.)


Lisboa > Colina de Santana > Academia Militar > Palácio da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha > 12 de setembro de 2015 > Festival Todos 2015 > Visita  à Capela do Paço > Foto nº 2 >  Retábulo do altar-mor > Pormenor:  O Portugal do "antigo regime": no altar-mor, o quadro com a família real, D. Maria I e o seu filho D. João VI entre a corte (do lado direito), e com apresentação iconográfica de Lisboa e o seu povo (lado direito), vendo-se ao longe o Castelo de São Jorge. Aqui viveu o D. João VI (1767-1826), depois do seu regresso do Brasil, e aqui morreu.


Lisboa > Colina de Santana > Academia Militar > Palácio da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha > 12 de setembro de 2015 > Festival Todos 2015 > Visita  à Capela do Paço > Foto nº 3 >  Retábulo do altar-mor > Pormenor:  três mulheres do povo, um das quais uma espantosa negra, de olhar postado nas figuras régias... Um dos mais belos quadros da nossa pintura... Quem seria esta mulher de origem africana? Talvez uma guineense, descendente de escravos...

Na realidade, Lisboa é e sempre foi , desde o séc. XV, uma cidade "africana"... [Henriques, Isabel de Castro; Leite, Pedro Pereira; e Fantasia, Ana (fotos) - Lisboa cidade africana: Percursos de Lugares de Memória. Lisboa: Marca d’ Água: Publicações e Projetos 1ª edição, Junho 2013 ISBN- 978-972-8750-17-6].
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.


Ó pra cima,
 ó pra baixo, 
na colina de Santana


por Luís Graça






Pela colina de Santana acima,
lá vamos nós, malta,
atrás da banda,
em bando,
sonâmbulos,
funâmbulos,
a quatro patas,
dando vivas à liberdade!


Sete colinas tem a cidade
onde cabem todos,
ou quase todos,
os poucos, afinal,
que não naufragaram
nas praias dos sete mares.


Vamos amnésicos,
e já protésicos,
velhos gaiteiros,
pândegos,
infantes e artilheiros,
com muito mundo e poucas vidas,
mal sabendo que, no alto da colina,
são boas as vistas das avenidas,
novas,
e melhores os ares.


Este país é como a lesma,
agora, ó pra cima,
é o povo, canhestro,
quem mais manda,
mas se é outra a banda
e novo o maestro,
a música é sempre a mesma,
fandanga.

Quer mude ou não o clima,
todos querem ficar por cima!
Valha-nos, ao menos, Deus
que ao rei e ao borracho
vai pondo a mão por baixo.


E quem não salta, ó malta,
vai no elevador do Lavra,
é a ralé
das vilas e pátios,
a caminho das manufaturas reais,
e alguns, de baraço ao pescoço,
degredados para São Tomé.

Se fores senhor com privilégio,
valido ou por valer,
ou até doutor em leis e cânones,
não tens nada que saber,
segue fora dos carris,
apanha o cortejo régio,
colina de Santana abaixo
até ao Terreiro do Paço.


Bem formosas e melhor seguras
nas suas reais patas
vão as açafatas
da Rainha,
Catarina,
que foi de Inglaterra,
senhora de etiqueta e de berço,
que sabe pôr os pontos nos ii.
No palácio da Bemposta, 
meninas,
as leis podem, ser duras
mas são leis,
depois do chá e do chichi, o terço
que todas vós rezareis.


Ladinas e engraçadas,
essas açafatas,
à noite escapam-se,
encapuçadas,
para a sétima colina.
É a movida, qual má vida ?!
Já que não temos os doces prazeres terrenos
de Versalhes,
joguemos, ao menos,
o jogo do gato e do rato,
com o pescoço no fio de aço da guilhotina.


Cortesão não é criado,
mas criatura,
nunca mostra má catadura,
vai respeitoso,
na procissão da Senhora da Saúde,
cabisbaixo,
devidamente ataviado,
ordeiro,
e nunca é o primeiro a ladrar
como um vulgar cãocidadão.
E muito menos dá a palavra
à canalha que desce o Lavra,
alvoraçada,
a caminho do Rossio
onde o poder pode estar por um fio.


Continuará a ir de liteira o nobre
e de chinela no pé o baixo clero,
e aos dois enchendo a barriga
o pobre, o coitado, o proletário,
regista, veemente e fero,
o poeta panfletário.

Com tanto palácio, convento e hospital
em redor,
não sei o que nos move,
senhor físico-mor
do reino de Portugal,
dos Algarves
e de além-mar em África…


Não me atrevo a perguntar ao cardeal,
que é o santo inquisidor-mor,
porque aos grandes deste mundo
não  calam fundo
as perguntas que não têm fácil resposta.


Num país de alarves,
não quero dizer asneira,
mas, citando o grande António Vieira,
direi que, primeiro, a caridade,
depois a esperança,
que é sempre a última a morrer,
e por fim a fé,
ou a fezada,
que é irmã da sorte
que protege os audazes.

Mas mais do que as três virtudes teologais
é a força da forca
e o terror de morte
que nos faz correr,
a todos nós, simples mortais…
E, no último minuto, a piedade
que a corda do carrasco faz suster.


Somos um povo piedoso,
meu irmão,
mas finge que olhas, discreto,
para a ostentação dos ricos,
sem a sombra do pecado da inveja.


Em Lisboa
que tem arte barroca e forca em cada esquina,
não sigas pelo cume da airosa colina,
foge da Carlota Joaquina,
enfia-te pela viela escura e porca
sem que ninguém te veja.


Esta é a nossa terra,
Pátria amada, camarada,
diz a letra do fado
do Velho do Restelo,
quem vai à guerra
perde o couro e o cabelo.


E logo mais à frente a  tabuleta
com a verdade que dói 
e reconforta:
Gomes Freire, de traidor a herói,
hoje fuzilado,
amanhã condecorado.


O rei, esse já ninguém o leva a sério,
não será imperador do Brasil,
acabou de perder a coroa e o império,
no casino do Estoril.
De roleta em roleta,
o país foi para o maneta,
cobre-se de ervas e do silêncio do cemitério
o campo dos mártires da Pátria.


A gente aqui no sobe e desce
e a economia que não cresce,
avisa o FMI no Telejornal.
Mas vamos indo,  menos mal,
vendendo aos turistas Portugal,
só não temos  é tempo para nada,
e, quando o tivermos,
é para morrer.


E o cruzeiro, amor,
que queríamos fazer
aos fiordes da Noruega ?
Deixa lá, querido,
há-de vir a retoma
e o aumento da reforma,
antes de eu ficar velha e cega…


Pela colina de Santana abaixo
lá vamos nós,
sonâmbulos,
funâmbulos,
a toque de caixa,
pró Aljube…
Deixem lá,
veteranos,
daqui a cinquenta anos
já não  estaremos cá,
mas haverá de novo festa na urbe,
e os cravos, as rosas e os jasmins
voltarão a florir nos jardins.


Lisboa, Festival Todos 2016,
Colina de Santana, 10/9/2016

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16546: Manuscrito(s) (Luís Graça) (98): Requiem para Iero Jaló, um bravo soldado