Lisboa > Colina de Santana > Academia Militar > Palácio da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha > Pormenor do busto, no exterior, da Catarina de Bragança (1638-1705), rainha consorte de Inglaterra (1662-1685), pelo seu casamento com Carlos II, da casa dos Stuart. Foi ela que mandou construir o palácio da Bemposta.
Foto (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados.
Lisboa > Colina de Santana > Academia Militar > Palácio da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha > 12 de setembro de 2015 > Festival Todos 2015 > Visita à Capela do Paço > Foto nº 1 > Tela do altar-mor, figurando a padroeira, Nª. Sra. da Conceição, atribuída ao pintor italiano José Troni. Foi depois colocado um friso de retratos de elementos da família real, atribuídos ao retratista irlandês Thomas Hickey.
A origem do Paço da Bemposta destinado a residência de D. Catarina de Bragança, filha de D. João IV, e viúva de Carlos II de Inglaterra, remonta ao finais do séc. XVII / princípios do séc. XVII. O arquitecto é João Antunes. Sofreu sérios danos com o terramoto de 1755, a capela foi reconstruída de raíz mas mantendo o enquadramento primitivo. (É
Lisboa > Colina de Santana > Academia Militar > Palácio da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha > 12 de setembro de 2015 > Festival Todos 2015 > Visita à Capela do Paço > Foto nº 2 > Retábulo do altar-mor > Pormenor: O Portugal do "antigo regime": no altar-mor, o quadro com a família real, D. Maria I e o seu filho D. João VI entre a corte (do lado direito), e com apresentação iconográfica de Lisboa e o seu povo (lado direito), vendo-se ao longe o Castelo de São Jorge. Aqui viveu o D. João VI (1767-1826), depois do seu regresso do Brasil, e aqui morreu.
Lisboa > Colina de Santana > Academia Militar > Palácio da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha > 12 de setembro de 2015 > Festival Todos 2015 > Visita à Capela do Paço > Foto nº 3 > Retábulo do altar-mor > Pormenor: três mulheres do povo, um das quais uma espantosa negra, de olhar postado nas figuras régias... Um dos mais belos quadros da nossa pintura... Quem seria esta mulher de origem africana? Talvez uma guineense, descendente de escravos...
Na realidade, Lisboa é e sempre foi , desde o séc. XV, uma cidade "africana"... [Henriques, Isabel de Castro; Leite, Pedro Pereira; e Fantasia, Ana (fotos) -
. Lisboa: Marca d’ Água: Publicações e Projetos 1ª edição, Junho 2013 ISBN- 978-972-8750-17-6].
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.
Ó pra cima,
ó pra baixo,
na colina de Santana
por Luís Graça
Pela colina de Santana acima,
lá vamos nós, malta,
atrás da banda,
em bando,
sonâmbulos,
funâmbulos,
a quatro patas,
dando vivas à liberdade!
Sete colinas tem a cidade
onde cabem todos,
ou quase todos,
os poucos, afinal,
que não naufragaram
nas praias dos sete mares.
Vamos amnésicos,
e já protésicos,
velhos gaiteiros,
pândegos,
infantes e artilheiros,
com muito mundo e poucas vidas,
mal sabendo que, no alto da colina,
são boas as vistas das avenidas,
novas,
e melhores os ares.
Este país é como a lesma,
agora, ó pra cima,
é o povo, canhestro,
quem mais manda,
mas se é outra a banda
e novo o maestro,
a música é sempre a mesma,
fandanga.
Quer mude ou não o clima,
todos querem ficar por cima!
Valha-nos, ao menos, Deus
que ao rei e ao borracho
vai pondo a mão por baixo.
E quem não salta, ó malta,
vai no elevador do Lavra,
é a ralé
das vilas e pátios,
a caminho das manufaturas reais,
e alguns, de baraço ao pescoço,
degredados para São Tomé.
Se fores senhor com privilégio,
valido ou por valer,
ou até doutor em leis e cânones,
não tens nada que saber,
segue fora dos carris,
apanha o cortejo régio,
colina de Santana abaixo
até ao Terreiro do Paço.
Bem formosas e melhor seguras
nas suas reais patas
vão as açafatas
da Rainha,
Catarina,
que foi de Inglaterra,
senhora de etiqueta e de berço,
que sabe pôr os pontos nos ii.
No palácio da Bemposta,
meninas,
as leis podem, ser duras
mas são leis,
depois do chá e do chichi, o terço
que todas vós rezareis.
Ladinas e engraçadas,
essas açafatas,
à noite escapam-se,
encapuçadas,
para a sétima colina.
É a movida, qual má vida ?!
Já que não temos os doces prazeres
terrenos
de Versalhes,
joguemos, ao menos,
o jogo do gato e do rato,
com o pescoço no fio de aço da
guilhotina.
Cortesão não é criado,
mas criatura,
nunca mostra má catadura,
vai respeitoso,
na procissão da Senhora da Saúde,
cabisbaixo,
devidamente ataviado,
ordeiro,
e nunca é o primeiro a ladrar
como um vulgar cãocidadão.
E muito menos dá a palavra
à canalha que desce o Lavra,
alvoraçada,
a caminho do Rossio
onde o poder pode estar por um fio.
Continuará a ir de liteira o nobre
e de chinela no pé o baixo clero,
e aos dois enchendo a barriga
o pobre, o coitado, o proletário,
regista, veemente e fero,
o poeta panfletário.
Com tanto palácio, convento e hospital
em redor,
não sei o que nos move,
senhor físico-mor
do reino de Portugal,
dos Algarves
e de além-mar em África…
Não me atrevo a perguntar ao cardeal,
que é o santo inquisidor-mor,
porque aos grandes deste mundo
não calam fundo
as perguntas que não têm fácil resposta.
Num país de alarves,
não quero dizer asneira,
mas, citando o grande António Vieira,
direi que, primeiro, a caridade,
depois a esperança,
que é sempre a última a morrer,
e por fim a fé,
ou a fezada,
que é irmã da sorte
que protege os audazes.
Mas mais do que as três virtudes
teologais
é a força da forca
e o terror de morte
que nos faz correr,
a todos nós, simples mortais…
E, no último minuto, a piedade
que a corda do carrasco faz suster.
Somos um povo piedoso,
meu irmão,
mas finge que olhas, discreto,
para a ostentação dos ricos,
sem a sombra do pecado da inveja.
Em Lisboa
que tem arte barroca e forca em cada
esquina,
não sigas pelo cume da airosa colina,
foge da Carlota Joaquina,
enfia-te pela viela escura e porca
sem que ninguém te veja.
Esta é a nossa terra,
Pátria amada, camarada,
diz a letra do fado
do Velho do Restelo,
quem vai à guerra
perde o couro e o cabelo.
E logo mais à frente a tabuleta
com a verdade que dói
e reconforta:
Gomes Freire, de traidor a herói,
hoje fuzilado,
amanhã condecorado.
O rei, esse já ninguém o leva a
sério,
não será imperador do Brasil,
acabou de perder a coroa e o império,
no casino do Estoril.
De roleta em roleta,
o país foi para o maneta,
cobre-se de ervas e do silêncio do
cemitério
o campo dos mártires da Pátria.
A gente aqui no sobe e desce
e a economia que não cresce,
avisa o FMI no Telejornal.
Mas vamos indo, menos mal,
vendendo aos turistas Portugal,
só não temos é tempo para nada,
e, quando o tivermos,
é para morrer.
E o cruzeiro, amor,
que queríamos fazer
aos fiordes da Noruega ?
Deixa lá, querido,
há-de vir a retoma
e o aumento da reforma,
antes de eu ficar velha e cega…
Pela colina de Santana abaixo
lá vamos nós,
sonâmbulos,
funâmbulos,
a toque de caixa,
pró Aljube…
Deixem lá,
veteranos,
daqui a cinquenta anos
já não estaremos cá,
mas haverá de novo festa na urbe,
e os cravos, as rosas e os jasmins
voltarão a florir nos jardins.
Lisboa, Festival Todos 2016,
Colina de Santana, 10/9/2016
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