1. Comentário do António Graça de Abreu ao poste de 9 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5079: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (5): Lugajole, disse ele (Luís Graça) (*)
Pois é, meu caro Luís, pois é!...Madina do Boé, Lugajole, etc.
Importante para os nossos irmãos da Guiné-Bissau, para nós também.
Trata-se ou não do berço onde nascemos, como país, como Pátria? Ou será que tanto vale, na fronteira com a Guiné-Conacri,ou dentro da Guiné-Conacri, em Madina do Boé, em Lugajole, etc...
Tenho um imenso respeito pelos combatentes do PAIGC. Morreram pelo que acreditavam ser a sua Pátria, a construir com o fermento e o sangue de mártires. Vi-os morrer à minha frente, um nó apertado em volta do meu coração.
Esses heróis do PAIGC merecem o respeito dos homens da Guiné de hoje, e o nosso.
Quem sou eu, simples alferes miliciano num Comando de Operações tuga, 1972/1974, para criticar ou dar lições a quem quer que seja?
Mas os povos da Guiné, nossos irmãos, precisam de construir o seu futuro e de ter orgulho nos seus melhores. Infelizmente, ao longo destes 34 anos de independência, os dirigentes deste país têm passado os anos a cerzir maquinações, a odiar-se, a matar-se uns aos outros. Como diz António Borges Coelho, no poema cantado pelo então padre Francisco Fanhais, por volta de 1970, "os mortos apontam em frente o caminho da esperança que resta."
Desculpem-me mas creio que isto tem tudo a ver com o lugar onde nascemos, como pessoas, ou como Pátria. Pelo orgulho que sentimos em sermos guineenses ou portugueses.
Um abraço,
António Graça de Abreu
[Revisão / fixação de texto / bold a cor: L.G.]
____________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste desta série:
8 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5076: (Ex)citações (51): Credibilidade e humildade precisam-se! (António Matos)
Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Guiné 63/74 - P5079: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (5): Lugajole, disse ele (Luís Graça)
Nino Vieira a discursar na I Assembleia Nacional do PAIGC, alegdamenmte em "Madina de Boé". 23 a 24 de Setembro de 1973.
Vasco Cabral na I Assembleia Nacional Popular do PAIGC, alegadamente em "Madina de Boé", 23 a 24 de Setembro de 1973.
Mesas de voto para a eleição da I Assembleia Nacional Popular, alegadamente em "Madina de Boé",. 23 a 24 de Setembro de 1973.
I Assembleia Nacional Popular do PAIGC, alegadamente em "Madina de Boé", 23 a 24 de Setembro de 1973.
Reportagem fotográfica de Bruna Amico durante a I Assembleia Nacional Popular. Distinguem-se Lucette Andrade Cabral e Mário Cabral. Alegadamente em "Madina de Boé",, 23 a 24 de Setembro de 1973.
I Assembleia Nacional Popular do PAIGC distinguindo-se Bruna Amico, de costas, e Malam Mantambiague, alegadamente em "Madina de Boé",. 23 a 24 de Setembro de 1973.
Luís Cabral a discursar na I Assembleia Nacional Popular, alegadamente em "Madina de Boé",. 23 a 24 de Setembro de 1973.
Fotos (e legendas): Fotografias Amílcar Cabral / Fundação Amílcar Cabral (2003) (Com a devida vénia...)
Nesta selecção de fotos do Arquivo Amílcar Cabral (salvo graças ao zelo e competência da Fundação Mário Soares), respeitantes à I Assembleia Nacional Popular, de 23-24 de Setembro de 1973, é referido sistematicamente o topónimo Madina do Boé... Sabemos hoje que o local onde foi proclamada a independência não foi Madina do Boé, mas sim Lugajole, a sudeste de Beli (*).
"A distância entre as duas povoações é de muitos quilómetros, assim como de muitas horas de viagem em jipe" - garante o Patrício Ribeiro, membro da nossa Tabanca Grande e profundo conhecedor da Guiné, desde há 25 anos (**)...
O nosso amigo Pepito, da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau também corrobora esta tese:
"Luís: O nosso Patrício tem absoluta razão. Foi em Lugadjol que foi proclamada a independência. abraço. pepito". (*)
Em África não há uma tradição de rigor cartográfica, a cultura geográfica ainda é largamente oral e às vezes trocam-se os nomes dos lugares, o que em certas circunstâncias até pode dar jeito. Neste caso, Madina do Boé fez parte de uma operação de marketing político, bem montada pelo PAIGC para consumo interno e sobretudo externo...
Ainda hoje todo o mundo está convencido que o nascimento da nova República deu-se na mítica Madina do Boé, aquartelamento entre as colinas do Boé abandonado pelos tugas, por alegadas razões estratégicas, em 6 de Fevereiro de 1969.
Pode ser, para alguns, um pormenor de somenos importància, mas não é: no nosso bliogue, achamos e defendemos que todos temos o direito à verdade, a começar pelos jovens guineenses, nossos irmãos e amigos...
______________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
18 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3911: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (1): Em 1995, confirmaram-me que o local da cerimónia foi mais a sul (Miguel Pessoa)
20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3920: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (2): Opção inicial, uma tabanca algures no sul, segundo Luís Cabral (Nelson Herbert)
1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3955: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (3): O local estava minado e o PAIGC sabia-o (Jorge Félix)
17 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4042: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (4): Ajudas de memória (Abreu dos Santos)
(**) Vd. poste de 4 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5050: Efemérides (23): Declaração da Independência em 24 de Setembro decorreu não em Madina do Boé mas Lugajole (Patrício Ribeiro)
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Guiné 63/74 - P5078: Gavetas da memória (Carlos Geraldes) (10): Como descobri o jogo do Ôri
1. Mensagem de Carlos Geraldes, ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66, com data de 5 de Outubro de 2009:
Caro amigo Vinhal:
Volto hoje com mais uma pequene crónica que é mais uma nota para a divulgação de um jogo que descobri em Pirada e que afinal já é velho como a Humanidade.
No entanto deve haver muito boa gente que nunca ouviu falar nele nem suspeita da sua existência o que para nós, antigos lutadores por África é uma ingratidão.
Junto duas fotos retiradas de revistas com mais de vinte anos, a primeira de 1981 e a segunda de 1973!
Um abraço do
Carlos Geraldes
O Jogo do “Ôri”
Conforme tinha prometido vou falar agora de uma curiosidade, ou melhor, de um jogo que descobri na Guiné-Bissau, na região de Bajocunda, salvo erro em Março de 1965.
///
Quando o jeep entrou na tabanca deu um solavanco ao passar por cima de qualquer coisa que estava encostada junto à divisória de carentim e que àquela hora da noite o condutor não conseguiu lobrigar a tempo. Ao saltar da viatura para ver se tinha havido estragos de maior, encontrei um pedaço de madeira esculpida que me pareceu uma canoa, talvez um brinquedo infantil. Achei graça e resolvi juntá-la às minhas recordações, apesar de estar um bocado danificada num dos extremos.
Alguns dias mais tarde, um rapazito que andava sempre pela Messe, a ajudar a limpar as instalações dos oficiais e sargentos da CART 676 estacionada agora em Pirada, viu aquele pedaço de tronco pousado junto da minha cama e deu mostras de o conhecer. Atento à reacção do miúdo não deixei de lhe perguntar se sabia o que era aquilo.
- É um jogo, disse ele. É o ôri. Toda a gente joga. Muito antigo.
- E como é que se joga? Perguntei curioso.
- Ah, não está aqui tudo. Faltam as sementes. Mas melhor é falar com o régulo Sólo. Olha ele vem aí, nosso alfero.
De facto a figura alta e seca do nosso amigo Sólo Só, o régulo de Pirada, desenhava-se nesse momento na entrada do nosso quintal, virada para o caminho. Todas as tardes costumava aparecer por ali. Gostava de conversar, contar coisas do passado, velhas batalhas com os mandingas, inimigos de sempre, rir dos nossos espantos e perguntas ou simplesmente matar o tempo à toa que é o que os homens grandes da tribo adoram fazer.
- Sólo conheces isto?
Deu uma longa risada e pegando no pau escavado, perguntou logo:
- Hei, nosso alfero, querer jogar comigo?
- Talvez, mas como se joga? Eu não sei o que isso é - respondi começando a ficar cada vez mais curioso com o que já considerava um valioso achado.
- É fácil, eu ensina!
E virando-se para o rapaz disse-lhe qualquer coisa em fula. Ele saiu a correr e passado uns instantes voltou com um saca cheia de uma espécie de feijões gigantes, pretos e vermelhos, as sementes da árvore da sumaúma, segundo vim depois a saber.
O velhote apanhou meia dúzia na mão e começou a espalhá-las pelos buracos escavados no pedaço de madeira.
Aquilo que me parecia a escultura de uma canoa era apenas um tabuleiro para um jogo. Um pedaço de madeira muito dura com uma forma, mais ou menos, semi cilíndrica e com duas fiadas de seis cavidades cada, rematadas nos topos por outras duas, maiores, uma das quais tinha ficado partida pelo atropelamento do jeep naquela noite escura.
O régulo foi enchendo os buracos com quatro sementes em cada um deles. Ao todo duas dúzias de sementes mais duas dúzias no outro lado. Depois, em modo de desafio, colocou o tronco escavado atravessado entre nós e disse-me para tirar todas as sementes de um dos buracos que estavam do meu lado.
- De um qualquer?
- Sim, de um qualquer, mas do teu lado.
- Pronto, já está. E agora?
- Agora deitas uma a uma nos buracos que estão a seguir para a direita. Como se estivesses a semear.
Obedientemente fui fazendo o que ele dizia sem perceber muito bem qual a finalidade daquilo tudo. Quando acabei, o velho régulo, num ápice, fez também a mesma coisa agora do lado dele. Ficou a olhar para mim e eu para ele.
- Está bem, disse eu, e agora?
- Faz outra vez, alfero Gerárdis! Repete! Tira as sementes de outro buraco qualquer, mas só do teu lado!
- Mau, mas para que serve isto afinal? - resmunguei depois de fazer o que ele dizia.
Ele não me respondeu e com um olhar de lince, fez de novo um rápido movimento com a mão e retirou todas as sementes que estavam nos primeiros buracos do meu lado onde se encontravam agora grupinhos de duas ou três sementes soltando uma sonora gargalhada.
- Hei! Como é que foi isso? Explica-me o que quer isso dizer! Repliquei percebendo cada vez menos o que se estava a passar.
- Olha nosso alfero, eu jogo por ti, queres ver? Intrometeu-se o garoto que ainda rondava por ali.
E os dois começaram então a praticar aquele jogo, inédito para mim, numa sucessão de rápidos gestos ritmados apenas interrompidos quando no final o miúdo baixou os braços e desistiu descoroçoado, perante as gargalhadas do velho que num instante se tinha apoderado de mais de metade das sementes que circulavam pelo tabuleiro, retirando-as para uma das cavidades maiores ao seu lado direito.
Lentamente e, fazendo-lhes sempre muitas perguntas e interrupções, comecei a entender qual o propósito daquele jogo.
Afinal aquilo era mesmo um jogo a sério! E com muitas particularidades capazes de despertar a curiosidade da nossa mentalidade de gente do, supostamente, mundo civilizada.
Tratava-se na verdade de um jogo baseado em cálculos matemáticos (na base seis, curiosamente) muito simples mas que podiam atingir algumas variantes bem complicadas.
Bem, ao fim da tarde como já tinha ficado a perceber mais ou menos bem a mecânica do jogo fiquei de tal maneira entusiasmado que fui logo propagandear aquela descoberta aos outros companheiros da messe, oficiais e sargentos. Rapidamente o interesse foi-se generalizando de tal maneira que, havia já quem quisesse saber onde poderia arranjar outro tabuleiro como aquele para jogarem também.
Durante algum tempo aquela nova distracção serviu para nos entreter nas horas de ócio, distraindo-nos da tentação de nos entregarmos à solidão que em Pirada começava a roer-nos os nervos.
Quando regressámos, aquele pedaço de madeira acompanhou-me até casa, onde está exposto como um dos mais valiosos despojos de guerra.
///
Muito mais tarde, em 1973, ao folhear um catálogo de livros, (do “Clube Expresso”, n.º 18 de Março desse ano, para ser mais exacto) dei com um anúncio de um livro em francês, intitulado “Le Jeu de L’Awélé” de Juliette Raabe. Na capa apresentava uma fotografia de uma escultura africana representando dois jogadores deste jogo com o respectivo tabuleiro entre eles.
Imediatamente compreendi que se tratava do mesmo jogo que anos antes eu tinha descoberto em Bajocunda, Guiné-Bissau. Fiquei então a saber que o “ôri” que eu conhecera era nem mais nem menos o “Jogo Nacional de África”. Era igualmente conhecido e praticado em todas as regiões da zona subtropical terrestre. Só na Europa era quase desconhecido.
É conhecido em toda a África pelos mais diversos nomes: Awale, Awélé, Ayo, Mancala, Oware, Wari, Chisolo e na nossa Guiné-Bissau, na região de Pirada, por “Ôri” que em dialecto fula significa o algarismo “um” ou a unidade. Chega também a ter diversas formas, havendo mesmo tabuleiros com 4 filas paralelas de cavidades, mas a ideia base é sempre a mesma, a sementeira.
Hoje é amplamente conhecido em todo o mundo e é um dos mais interessantes patrimónios da Humanidade.
O jogo de toda a Africa (Ôri, Wari, Solo, Mancala, Awélé, etc..) - Revista Jeux & Strategie, n.º 7, Fev/Mar de 1981
Clube Expresso - Março de 1973
As regras são as seguintes (versão de Pirada, 1964):
Depois de colocar 4 pedras em cada casa, um dos jogadores começa, retirando todas as pedras de uma casa qualquer, do seu lado (que se designam por Norte e Sul) e vai semeando uma a uma nas casas imediatamente a seguir, no sentido dos ponteiros do relógio ou seja da esquerda para a direita, passando para o lado do adversário se a quantidade de pedras retirada da cavidade escolhida assim o permitir. E assim sucessivamente até que um dos jogadores, ao colocar a última das suas sementes no lado do adversário encontra nessa cavidade apenas um ou duas sementes, (formando assim um grupo de duas ou três), tem o direito de as tomar, retirando-as para a sua cavidade maior (à sua direita). Igualmente pode retirar todos os outros grupos de duas ou três que formar, ainda e só no campo adversário, e que sejam imediatamente anteriores à casa onde terminou a sementeira.
Quando um dos jogadores não tiver mais nenhuma pedra ou semente do seu lado para movimentar, o adversário deverá jogar de modo a passar para o seu lado uma ou mais pedras de modo a permitir que ele possa jogar. Se tal movimento não for possível, o jogo termina, contando como suas as pedras restantes no tabuleiro.
O objectivo é comer a maior quantidade de pedras (25 no mínimo) para ganhar.
Carlos Geraldes
Viana do Castelo, Out.2009
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 30 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5037: Gavetas da memória (Carlos Geraldes) (9): Súmula sobre o Regulado de Gada-Cuntimbo (Gabu)
Caro amigo Vinhal:
Volto hoje com mais uma pequene crónica que é mais uma nota para a divulgação de um jogo que descobri em Pirada e que afinal já é velho como a Humanidade.
No entanto deve haver muito boa gente que nunca ouviu falar nele nem suspeita da sua existência o que para nós, antigos lutadores por África é uma ingratidão.
Junto duas fotos retiradas de revistas com mais de vinte anos, a primeira de 1981 e a segunda de 1973!
Um abraço do
Carlos Geraldes
O Jogo do “Ôri”
Conforme tinha prometido vou falar agora de uma curiosidade, ou melhor, de um jogo que descobri na Guiné-Bissau, na região de Bajocunda, salvo erro em Março de 1965.
///
Quando o jeep entrou na tabanca deu um solavanco ao passar por cima de qualquer coisa que estava encostada junto à divisória de carentim e que àquela hora da noite o condutor não conseguiu lobrigar a tempo. Ao saltar da viatura para ver se tinha havido estragos de maior, encontrei um pedaço de madeira esculpida que me pareceu uma canoa, talvez um brinquedo infantil. Achei graça e resolvi juntá-la às minhas recordações, apesar de estar um bocado danificada num dos extremos.
Alguns dias mais tarde, um rapazito que andava sempre pela Messe, a ajudar a limpar as instalações dos oficiais e sargentos da CART 676 estacionada agora em Pirada, viu aquele pedaço de tronco pousado junto da minha cama e deu mostras de o conhecer. Atento à reacção do miúdo não deixei de lhe perguntar se sabia o que era aquilo.
- É um jogo, disse ele. É o ôri. Toda a gente joga. Muito antigo.
- E como é que se joga? Perguntei curioso.
- Ah, não está aqui tudo. Faltam as sementes. Mas melhor é falar com o régulo Sólo. Olha ele vem aí, nosso alfero.
De facto a figura alta e seca do nosso amigo Sólo Só, o régulo de Pirada, desenhava-se nesse momento na entrada do nosso quintal, virada para o caminho. Todas as tardes costumava aparecer por ali. Gostava de conversar, contar coisas do passado, velhas batalhas com os mandingas, inimigos de sempre, rir dos nossos espantos e perguntas ou simplesmente matar o tempo à toa que é o que os homens grandes da tribo adoram fazer.
- Sólo conheces isto?
Deu uma longa risada e pegando no pau escavado, perguntou logo:
- Hei, nosso alfero, querer jogar comigo?
- Talvez, mas como se joga? Eu não sei o que isso é - respondi começando a ficar cada vez mais curioso com o que já considerava um valioso achado.
- É fácil, eu ensina!
E virando-se para o rapaz disse-lhe qualquer coisa em fula. Ele saiu a correr e passado uns instantes voltou com um saca cheia de uma espécie de feijões gigantes, pretos e vermelhos, as sementes da árvore da sumaúma, segundo vim depois a saber.
O velhote apanhou meia dúzia na mão e começou a espalhá-las pelos buracos escavados no pedaço de madeira.
Aquilo que me parecia a escultura de uma canoa era apenas um tabuleiro para um jogo. Um pedaço de madeira muito dura com uma forma, mais ou menos, semi cilíndrica e com duas fiadas de seis cavidades cada, rematadas nos topos por outras duas, maiores, uma das quais tinha ficado partida pelo atropelamento do jeep naquela noite escura.
O régulo foi enchendo os buracos com quatro sementes em cada um deles. Ao todo duas dúzias de sementes mais duas dúzias no outro lado. Depois, em modo de desafio, colocou o tronco escavado atravessado entre nós e disse-me para tirar todas as sementes de um dos buracos que estavam do meu lado.
- De um qualquer?
- Sim, de um qualquer, mas do teu lado.
- Pronto, já está. E agora?
- Agora deitas uma a uma nos buracos que estão a seguir para a direita. Como se estivesses a semear.
Obedientemente fui fazendo o que ele dizia sem perceber muito bem qual a finalidade daquilo tudo. Quando acabei, o velho régulo, num ápice, fez também a mesma coisa agora do lado dele. Ficou a olhar para mim e eu para ele.
- Está bem, disse eu, e agora?
- Faz outra vez, alfero Gerárdis! Repete! Tira as sementes de outro buraco qualquer, mas só do teu lado!
- Mau, mas para que serve isto afinal? - resmunguei depois de fazer o que ele dizia.
Ele não me respondeu e com um olhar de lince, fez de novo um rápido movimento com a mão e retirou todas as sementes que estavam nos primeiros buracos do meu lado onde se encontravam agora grupinhos de duas ou três sementes soltando uma sonora gargalhada.
- Hei! Como é que foi isso? Explica-me o que quer isso dizer! Repliquei percebendo cada vez menos o que se estava a passar.
- Olha nosso alfero, eu jogo por ti, queres ver? Intrometeu-se o garoto que ainda rondava por ali.
E os dois começaram então a praticar aquele jogo, inédito para mim, numa sucessão de rápidos gestos ritmados apenas interrompidos quando no final o miúdo baixou os braços e desistiu descoroçoado, perante as gargalhadas do velho que num instante se tinha apoderado de mais de metade das sementes que circulavam pelo tabuleiro, retirando-as para uma das cavidades maiores ao seu lado direito.
Lentamente e, fazendo-lhes sempre muitas perguntas e interrupções, comecei a entender qual o propósito daquele jogo.
Afinal aquilo era mesmo um jogo a sério! E com muitas particularidades capazes de despertar a curiosidade da nossa mentalidade de gente do, supostamente, mundo civilizada.
Tratava-se na verdade de um jogo baseado em cálculos matemáticos (na base seis, curiosamente) muito simples mas que podiam atingir algumas variantes bem complicadas.
Bem, ao fim da tarde como já tinha ficado a perceber mais ou menos bem a mecânica do jogo fiquei de tal maneira entusiasmado que fui logo propagandear aquela descoberta aos outros companheiros da messe, oficiais e sargentos. Rapidamente o interesse foi-se generalizando de tal maneira que, havia já quem quisesse saber onde poderia arranjar outro tabuleiro como aquele para jogarem também.
Durante algum tempo aquela nova distracção serviu para nos entreter nas horas de ócio, distraindo-nos da tentação de nos entregarmos à solidão que em Pirada começava a roer-nos os nervos.
Quando regressámos, aquele pedaço de madeira acompanhou-me até casa, onde está exposto como um dos mais valiosos despojos de guerra.
///
Muito mais tarde, em 1973, ao folhear um catálogo de livros, (do “Clube Expresso”, n.º 18 de Março desse ano, para ser mais exacto) dei com um anúncio de um livro em francês, intitulado “Le Jeu de L’Awélé” de Juliette Raabe. Na capa apresentava uma fotografia de uma escultura africana representando dois jogadores deste jogo com o respectivo tabuleiro entre eles.
Imediatamente compreendi que se tratava do mesmo jogo que anos antes eu tinha descoberto em Bajocunda, Guiné-Bissau. Fiquei então a saber que o “ôri” que eu conhecera era nem mais nem menos o “Jogo Nacional de África”. Era igualmente conhecido e praticado em todas as regiões da zona subtropical terrestre. Só na Europa era quase desconhecido.
É conhecido em toda a África pelos mais diversos nomes: Awale, Awélé, Ayo, Mancala, Oware, Wari, Chisolo e na nossa Guiné-Bissau, na região de Pirada, por “Ôri” que em dialecto fula significa o algarismo “um” ou a unidade. Chega também a ter diversas formas, havendo mesmo tabuleiros com 4 filas paralelas de cavidades, mas a ideia base é sempre a mesma, a sementeira.
Hoje é amplamente conhecido em todo o mundo e é um dos mais interessantes patrimónios da Humanidade.
O jogo de toda a Africa (Ôri, Wari, Solo, Mancala, Awélé, etc..) - Revista Jeux & Strategie, n.º 7, Fev/Mar de 1981
Clube Expresso - Março de 1973
As regras são as seguintes (versão de Pirada, 1964):
Depois de colocar 4 pedras em cada casa, um dos jogadores começa, retirando todas as pedras de uma casa qualquer, do seu lado (que se designam por Norte e Sul) e vai semeando uma a uma nas casas imediatamente a seguir, no sentido dos ponteiros do relógio ou seja da esquerda para a direita, passando para o lado do adversário se a quantidade de pedras retirada da cavidade escolhida assim o permitir. E assim sucessivamente até que um dos jogadores, ao colocar a última das suas sementes no lado do adversário encontra nessa cavidade apenas um ou duas sementes, (formando assim um grupo de duas ou três), tem o direito de as tomar, retirando-as para a sua cavidade maior (à sua direita). Igualmente pode retirar todos os outros grupos de duas ou três que formar, ainda e só no campo adversário, e que sejam imediatamente anteriores à casa onde terminou a sementeira.
Quando um dos jogadores não tiver mais nenhuma pedra ou semente do seu lado para movimentar, o adversário deverá jogar de modo a passar para o seu lado uma ou mais pedras de modo a permitir que ele possa jogar. Se tal movimento não for possível, o jogo termina, contando como suas as pedras restantes no tabuleiro.
O objectivo é comer a maior quantidade de pedras (25 no mínimo) para ganhar.
Carlos Geraldes
Viana do Castelo, Out.2009
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 30 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5037: Gavetas da memória (Carlos Geraldes) (9): Súmula sobre o Regulado de Gada-Cuntimbo (Gabu)
Guiné 63/74 – P5077: Fichas de Unidades (5): História do Pelotão de Morteiros Nº 980 (José Martins)
1. Como já vem sendo habitual quando necessitamos de reconstituir alguma “Ficha de uma Unidade” recorremos aos bons préstimos do nosso Camarada José Martins, que sempre nos responde como um eficaz e prestável “municiador” de dados, nesta importante matéria.
2. Breve apresentação do nosso Camarada José Martins: Foi Furriel Miliciano de Transmissões na CCAÇ 5 - Os Gatos Pretos -, em Canjadude, entre 1968 e 1970.
3. Agradecendo, desde já, a sua amigável e prestável colaboração, apresentamos seguir os resultados da sua melhor pesquisa, devidamente adaptada e condensada, para seguinte Unidade:
PELOTÃO DE MORTEIROS Nº 980
Ao ser folheado o sétimo volume (livro I) das Resenhas Histórico-Militar das Campanhas de
África - Mortos em Campanha, logo no inicio de 1966, depara-se com o registo de oito militares que faleceram afogados no Rio Cacheu.
Por ter estado bastante próximo do acidente com a jangada na travessia do Rio Corubal, junto ao destacamento do Cheche em 6 de Janeiro de 1969, aquando da retirada da companhia que ocupava o aquartelamento de Madina do Boé, talvez tenha despertado, em mim, a curiosidade de saber o que se tinha passado.
Desta Pequena Unidade, mobilizada no Regimento de Infantaria nº 7, ao tempo aquartelada em Leiria, não encontramos referências no Arquivo Histórico Militar, mas, por um feliz acaso, ao ler o livro “Golpes de Mãos” da autoria de José Eduardo Reis de Oliveira, que conta a história da sua “675”, encontrei referências a esta Pequena Unidade.
Um pelotão de morteiros, de acordo com a informação que solicitamos ao António Santos, soldado de Transmissões que pertenceu Pelotão de Morteiros nº 4574 (1972/74), tinha autonomia administrativa. Era comandado por um oficial subalterno (Tenente ou Alferes), tendo o apoio de um 1º Sargento na área administrativa. Do pessoal operacional, armas pesadas, dispunha de dois sargentos (2ºs Sargentos ou Furriéis), cinco Primeiros-cabos e trinta Soldados. Completavam a PU - Pequena Unidade - quatro praças com a especialidade de transmissões e cinco praças com a especialidade de condutores auto.
Pelas pesquisas efectuadas, deduzimos que este pelotão terá embarcado em 8 de Maio de 1964, tendo chegado a Bissau no dia 13 seguinte. Pelos dados obtidos teriam efectuado a viagem em conjunto com as seguintes unidades:
- Comando de Agrupamento nº 16 – mobilizado no RI 1 (Lisboa)
- Companhia de Caçadores nº 674 e 675 – mobilizadas no RI 16 (Évora)
- Companhia de Artilharia nº 676 – mobilizada no RAP 2 (V. N. de Gaia)
- Companhia de Cavalaria nº 677 – mobilizada no RC 7 (Lisboa)
- Destacamentos de Intendência nºs 706, 707, 708 e 709 – mobilizados no 2º Grupo de Companhias de Administração Militar (Póvoa do Varzim)
- Pelotões de Morteiros nºs 978, 979 e 980 – mobilizados no RI 7 (Leiria).
O Pelotão de Morteiros nº 980, comandado pelo Alferes de Infantaria Fernando Gonçalves Foitinho, foi atribuído ao Batalhão de Cavalaria nº 490 que comandava o Sector de Farim, em cujo dispositivo ficou integrado. Entre o dia 8 e o dia 30 de Agosto de 1964, o Alferes Foitinho comandou, interinamente, a Companhia de Caçadores nº 675, por impedimento do comandante titular, Capitão de Infantaria Alípio Tomé Pinto, ferido em combate e evacuado para o Hospital Militar nº 241/Bissau.
Posteriormente assumiu o comando do pelotão o Tenente de Infantaria José Pedro Cruz, ainda durante o ano de 1964.
Para se enfrentar a guerra em África, foram efectuadas algumas alterações na estrutura das Forças Armadas e, nomeadamente, no exército. Tornou-se necessário aligeirar as forças de infantaria e torná-las mais ágeis, tendo em conta as características das acções a desenvolver, as características do terreno e a forma de actuar das forças em confronto.
A constituição de pelotões de armas pesadas – morteiros e canhões sem recuo - destinavam-se a reforçar os batalhões que se encontravam em quadrícula, sendo os seus elementos destacados para as companhias que se encontravam nas suas zonas de acção e responsabilidade operacional, atribuindo, a cada uma, secções ou esquadras, de acordo com planos de defesa de cada aquartelamento.
Porém, na história deste pelotão, aconteceu algo um pouco diferente, decerto ditado pelas necessidades operacionais do sector. Esta PU actuou como um normal grupo de combate, alinhando em diversas operações.
Uma delas, a “Operações Panóplia”, teve início no dia 5 de Janeiro, cujo objectivo era Sambuiá, uma base IN instalada na área do batalhão.
Acompanhemos o texto da página 193, do livro acima citado:
- “Á «675» caberia a «parte de leão».
- Apoiada pela Companhias «487» (instalada na região Simbor ao longo do rio Sambuiá) e «461» (ataca Talicó e instala-se) e ainda pelo pelotão de morteiros «980» (vem pelo rio Cacheu, desembarca e instala-se a sul de Malibolon) a tropa de Binta actuaria na «península» de Sambuiá, reforçada pela guarnição do Posto de Guidage, (1 grupo de combate da «461») devendo destruir os objectivos principais - Sambuiá – Sambuiadim – Malibolon – e já no regresso, Uália e as suas casas de mato.”
Na ordem de operações, o «grupo de combate» do Pelotão de Morteiros 980, num total de 34 homens, partindo de Farim, tinha como missão descer o rio Cacheu num bote de borracha (zebro), que seria rebocado pela LFG «Cassiopeia» [1] que, sem abrandar a marcha e mantendo o ruído dos motores, permitiria um desembarque, não denunciado, na península. Era uma operação que combinava o transporte por via fluvial de tropas, não preparadas para tal actuação, até ao local em que iniciariam a progressão no terreno. No entanto, não podemos esquecer que se tratava de uma força que, apesar de ser de infantaria, a sua preparação técnica e táctica, era para actuar em posição fixa e não de movimento.
O cabo que prendia e rebocava o bote, a determinada altura partiu, pelo que foi necessário utilizar outro “esquema” de ligação. Apesar do desnível das duas embarcações – LFG versus bote – ser de cerca de 2 metros, foi adoptado o sistema de o cabo ser segurado pelos homens que seguiam no zebro. O ângulo formado pelo cabo de reboque, puxava o bota para baixo, pelo que poucos metros depois, se virou.
- “Soube-se no dia seguinte da tragédia acontecida ao Pelotão de Morteiros «980» que, antes do local de desembarque, sofreu um acidente de consequências gravíssimas, por se ter virado o bote de borracha em que seguiam rebocados pela Vedeta de Guerra. Caíram à água todos os ocupantes do bote, em número superior a duas dezenas, morrendo afogados 8 homens que não conseguiram livrar-se do capacete e outro material que lhes dificultou os movimentos, perdendo-se ainda as armas que transportavam.”
Foi assim que em 05 de Janeiro de 1965 faleceram, por afogamento no Rio Cacheu [2]:
- o Soldado Apontador de Morteiro ANTÓNIO DOMINGOS FÉLIX ALBERTO, solteiro, filho de José Alberto e Maria Vitória da Conceição Félix, natural da freguesia de Ramalhal, concelho de Torres Vedras. Foi inumado no cemitério do Ramalhal.
- o Soldado Apontador de Morteiro – ANTÓNIO FERREIRA BATISTA, solteiro, filho de Augusto Gaspar Baptista e Francisca da Conceição, natural da freguesia de Aldeia Gavina, concelho de Alenquer. Foi inumado no cemitério de Aldeia Gavina.
- o Soldado Transmissões ANTÓNIO JOSÉ PATRONILHO FERREIRA, solteiro, filho de Luís Faca Ferreira e Gertrudes Maria Patronilho, natural da freguesia de Torrão, concelho de Alcácer do Sal. O corpo não foi recuperado.
- o Soldado Apontador de Morteiro ANTÓNIO MARIA FERREIRA, casado com Maria de Jesus, filho de Maria de Jesus Ferreira, natural da freguesia de Santa Maria de Viseu, concelho de Viseu. Corpo não recuperado.
- o 1º Cabo Apontador de Morteiro ARLINDO SANTOS CARDOSO, solteiro, filho de Armindo Nunes Cardoso e Carminda Ferreira dos Santos, natural da freguesia e concelho de Oliveira do Bairro. Inumado no cemitério de Vila Verde, conselho de Oliveira do Bairro.
- o Soldado Apontador de Morteiro – JOÃO JOTA DA COSTA, solteiro, filho de José Gonçalves da Costa e Maria do Rosário, natural da freguesia de Vila do Carvalho, concelho de Covilhã. Inumado no cemitério a sul de Binta (Guiné), na margem esquerda do rio Cacheu. Foi sepultado pela tripulação da LDG Orion.
- o 1º Cabo Apontador de Morteiro JOÃO MACHADO, solteiro, filho de Francisco de Freitas e Antónia Machado, natural da freguesia de Creixomil, concelho de Guimarães. Corpo não recuperado.
- o Soldado Apontador de Morteiro JOAQUIM GONÇALVES MONTEIRO, solteiro, filho de Joaquim Monteiro e Guilhermina Gonçalves, natural da freguesia e concelho de Pombal. Inumado no cemitério de Pombal.
Com a substituição do Batalhão de Cavalaria n º 490 pelo Batalhão de Artilharia nº 733, em 15 de Junho de 1965, a “missão” do «980» não se alterou. Continuou a ser uma PU operacional, fazendo as colunas de reabastecimento aos destacamentos de Jumbembem e Cuntima, além de patrulhamentos de combate, até ao seu regresso à metrópole.
José Martins – 5 de Outubro de 2009
Notas:
[1] - LFG «Cassiopeia»
A classe Argos foi uma classe de lanchas de fiscalização grandes (LGF), ao serviço da Marinha Portuguesa, entre 1963 e 1975.
As lanchas foram construídas entre 1963 e 1965 no Arsenal do Alfeite, e nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
As unidades desta classe foram baptizadas com o nome de constelações.
As Argos tiveram origem no Projecto de Lancha para Timor, resultante de um requisito da Capitania do Porto de Dili, para um tipo de lancha com capacidade para ser empregue na fiscalização das águas territoriais de Timor Português. Em virtude da Guerra do Ultramar, nenhuma das lanchas acabou por ir para Timor, sendo enviadas para África, onde foram empregues em operações militares.
A maioria delas foi transferida em 1975 para a República Popular de Angola, e as restantes afundadas ao largo da Guiné-Bissau no mesmo ano.
De notar que a Marinha Portuguesa voltou a utilizar o nome de Classe Argos para denominar uma nova classe de Lanchas de Fiscalização lançadas ao mar em 1991.
Unidades
Número de amura - Nome ------- Comissão ------------------- Estado
P 372..................NRP Argos....14 de Junho de 1963........Abatida em Luanda em 28 de Maio de 1975
P 374 NRP.............Dragão .......17 de Julho de 1963 ........Abatida em Luanda em 28 de Maio de 1975
P 375 NRP.............Escorpião ....21 de Agosto de 1963 ......Abatida em Luanda em 30 de Setembro de 1975
P 373 NRP............Cassiopeia...13 de Janeiro de 1964....Abatida em 7 de Setembro de 1974 e afundada em .........................................................................21 Setembro 1974, 104 milhas a Oeste de Bissau
P 376 NRP.............Hidra.........11 de Abril de 1964..........Abatida em Luanda em 28 de Maio de 1975
P 379 NRP.............Pegaso.......16 de Outubro de 1963......Abatida em Luanda a 4 de Outubro de 1975
P 361 NRP.............Lira...........19 de Junho de 1964........Abatida em Luanda a 30 de Setembro de 1975
P 362 NRP.............Orion.........24 de Outubro de 1964......Abatida em Luanda em 30 de Setembro de 1975
P 1130 NRP...........Centauro......23 de Abril de 1965..........Abatida em Luanda em 30 Setembro de 1975
P 1131 NRP..........Sagitário.....04 de Setembro 1965.......Abatida em 7 de Setembro de 1974 e afundada em ......................................................................... 21 de Setembro 1974, 104 milhas a Oeste de Bissau
[http://pt.wikipedia.org/wiki/Classe_Argos_(1963)]
[2] – Elementos retirados das paginas 103 a 105 do 8º Volume – Tomo II - Livro 1 da Resenha Histórica Militar das Campanhas de África (1961-1974) – Guiné - Mortos em Campanha.
(José Martins)
_________
Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
1 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4622: Fichas de Unidades (4): História do BCAÇ 2884 (José Martins)
Guiné 63/74 - P5076: (Ex)citações (51): Credibilidade e humildade precisam-se! (António Matos)
1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos em 7 de Outubro de 2009 a seguinte mensagem:
Camaradas,
Caros editores, aqui vai mais uma pequena colaboração, esta motivada pela inserção dum "testemunho de guerra" a que o Correio da Manhã, pelos vistos, está a dar visibilidade.
Credibilidade e humildade precisam-se!
Domingo,
04 de Outubro de 2009,
Suplemento Correio da Manhã,
Páginas 32 a 35,
Testemunho de Jorge Patrício: "No mato tinha de matar para não morrer".
Com o respeito que me possa merecer o camarada Patrício, as suas recordações, fantasiosas ou nem por isso, pareceram-me, eivadas de um espírito Rambo demasiado marcado e a tirar credibilidade ao discurso.
Não gostei e lamento que este ex-combatente não tenha ainda intervido no blogue para aferir das suas capacidades prosaicas e, simultaneamente, confrontá-lo com alguma crítica à sua beligerante intervenção na Guiné.
..." Foi uma coisa infernal, um tiroteio medonho. Matei muitos inimigos. Ali era assim: no mato tinha de matar para não morrer"...
... "O meu pelotão foi apanhado pelo fogo inimigo e escondemo-nos na água de um rio. Eu só tinha a cabeça de fora de água para poder respirar. As balas assobiavam por cima de mim. Vi a água a fazer salpicos e as granadas a rebentarem por perto. Pensei que ia morrer. No entanto, pedimos apoio aéreo e avançámos com toda a força que tínhamos: fizemos dezenas de mortos "...
... "Numa operação de limpeza com quatro companhias de infantaria, uma de comandos e outra de fuzileiros, matámos e destruímos tudo o que nos aparecia pela frente. Os inimigos pareciam macacos em cima das árvores. Não lhes demos hipóteses"...
Definitivamente, este discurso já não se usa e não fôra o caso de eu não conhecer o Patrício e diria que tinha sido encomendado!
Abraços à tertúlia,
António Matos
Alf Mil Minas Arm da CCAÇ 2790
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
_____________
Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
6 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5063: (Ex)citações (50): Vozes de burro não chegam ao Céu? (António Matos)
Guiné 63/74 - P5075: Não-Estórias de Guerra (1): O Furriel Enfermeiro de Quebo (Manuel Amaro)
1. Mensagem de Manuel Amaro *, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2892 que esteve em Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala nos anos de 1969 a 1971, com data de 26 de Setembro de 2009:
Caros Editores,
Há muito, muito tempo que não colaboro activamente no blogue.
Este regresso de férias permitiu-me descobrir umas coisas congeladas, que vou enviar, assim, aos bocadinhos.
Hoje é esta não-estória.
Com um pedido de desculpas pelo incómodo.
Um Abraço
Manuel Amaro
2. Uma não-estória de guerra > O Furriel Enfermeiro de Quebo
por Manuel Amaro
Eu delicio-me a ler e ver estórias de guerra. Em livros, em filmes e, mais recentemente, aqui no blogue.
Mas eu não tenho estórias de guerra para contar porque, apesar de ter estado em zona de guerra, de 28 de Outubro de 1969 a 6 de Setembro de 1971, durante todo esse tempo nunca disparei um único tiro. Logo, não fiz a guerra.
Mas eu gosto de participar. Então, decidi contar a minha não-estória de guerra, na Guiné-Bissau.
Quando cheguei a Aldeia Formosa (Quebo) no final de 1969, aquilo era assim quase um paraíso.
Tínhamos feito um mês de estágio em Nhacra (englobando Safim, João Landim, Cumeré e Dugal). Aqui no Dugal, o Pelotão do Alferes Caçador ainda foi presenteado com uma rocketada que levantou as chapas da cobertura.
A viagem em LDG, via Bolama, até Buba, foi desagradável. A coluna Buba/Aldeia de uma qualidade indescritível.
Mas em Aldeia Formosa não havia guerra. Diziam os mais velhos que isso se devia à acção de alguns Comandantes que por lá passaram, nomeadamente o major Azeredo e o major Fabião. E também devido à existência do Cherno Rachid Djaló. Mas… como não há bem que sempre dure…
Entre 20 de Março e 30 de Abril de 1970, Aldeia Formosa foi duramente castigada pelo inimigo. Tanto com emboscadas no mato, de que resultaram três mortos, como ataques ao quartel.
Os ataques do PAIGC a Aldeia Formosa incomodaram tanto o General Spínola que este tomou a decisão de substituir o Comandante do BCAÇ 2892, nomeando para o cargo, o Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira.
O novo Comandante, mal tomou posse reuniu com o 2.º Comandante, o Oficial de Operações, Comandantes de Companhia, Oficiais e Sargentos. Falou muito e ouviu pouco. De seguida, sentou-se naquela mesa enorme, na Sala de Operações, e, olhando para os mapas, questionava o oficial de operações:
- A CART 2521 tem o pessoal todo operacional?
- Sim, tem, meu Comandante.
- E a CCAÇ 2615 tem o pessoal todo operacional?
- Sim, tem, meu Comandante - repetiu o Major... Mas hesitou e corrigiu…
- Bem, quer dizer… o Furriel Enfermeiro está destacado no Posto Escolar.
O Comandante deu um salto e gritou:
- É isso… não pode ser. O pessoal de saúde tem que estar integrado nas suas Unidades Operacionais. Esse Furriel cessa funções hoje. Amanhã já está integrado na Companhia. Nomeia-se outro Furriel, Amanuense ou de Transmissões, para a Escola.
O Tenente Lopes, que dava os últimos retoques no stencil da Ordem de Serviço, ainda conseguiu incluir o texto do Despacho, que foi publicado e distribuído, nesse dia, já noite dentro.
Esta foi a grande decisão do novo Comandante. E a decisão foi cumprida
No dia 6 de Maio de 1970, quando o Pelotão (aqui apetece-me chamar-lhe Grupo de Combate) saiu para a Operação de rotina, já integrava o Furriel Enfermeiro, de camuflado, carregando uma bolsa tradicional, mas de G3 a tiracolo. Esta cena teve assistência, mirones, assim uma coisa semelhante à apresentação do Cristiano Ronaldo, em Madrid…
Saliente-se que esta decisão e a sua imediata implementação, foi tão importante que, quando o Pelotão que fazia a segurança nocturna, no exterior do quartel, regressava a casa, já se cruzou com o gila, informador do PAIGC, que ia a caminho da fronteira, para transmitir a novidade.
Nino recebeu o mensageiro que chegou com ar cansado da viagem, mas feliz por cumprir tão importante missão informativa:
- O novo Comandante de Quebo já tomou uma decisão. O Furriel Enfermeiro que estava na Escola passou a operacional. A partir de hoje, cerca de 15% das operações na área de Quebo terão a sua participação.
Nino, que de início parecia tranquilo, começou a dar sinais de impaciência e algum nervosismo. Para disfarçar, começou por acariciar a sua kalash com a mão direita, mas a esquerda, mais difícil de controlar, começou a coçar a cabeça. Quando o Nino coçava a cabeça já se sabia que alguma coisa estava a correr muito mal.
- Isso é mau. E logo agora que tínhamos algum controlo na zona.
Nino pensou, pensou… mas não demorou mais de cinco minutos para ordenar aos seus adjuntos o que fazer de imediato:
- As armas pesadas cumprem o plano até esgotar as munições... O grupo do GB, até ordem em contrário, não faz as emboscadas previstas na zona de Quebo.
E a ordem foi cumprida. E a vida continuou. Até que uns dias depois, ainda em Maio, o gila aparece de novo e informa:
- Camarada Comandante Nino, o Furriel Enfermeiro deixou a zona operacional. Agora só faz colunas de reabastecimento Quebo/Buba/Quebo. É que os outros enfermeiros não gostam de fazer colunas e ele gosta de ir a Buba comer peixe grelhado e cumprimentar os amigos que tem em Buba e Nhala.
Nino pareceu não dar muita importância à informação, mas logo que o gila se afastou, ordenou, até ordem em contrário, a paragem da colocação de minas na estrada e/ou ataques às ditas colunas. E a ordem foi cumprida.
Mas a vida no teatro de guerra é muito agitada, mesmo para quem não faz a dita. Ainda decorria o mês de Junho e já o gila estava a solicitar nova audiência.
- Camarada Comandante Nino´, lembra-se do Furriel Enfermeiro de Buba, que foi ferido e não foi substituído? Está no Hospital em Lisboa, com uns centímetros de intestino a menos…
Nino não entendeu a razão desta conversa, mas replicou:
- Em Buba os colonialistas têm um médico.
- Pois - concordou o gila -, mas o médico vai de férias a Portugal. O Camarada Nino imagina quem vai substituir o médico durante esse tempo?... O Furriel Enfermeiro do Quebo.
Nino soltou um palavrão. (Que eu não repito, porque eu não escrevo palavrões, mesmo quando são ditos por outros). E depois ordenou:
- Até ordem em contrário, o Grupo do MS não executa ataques na zona de Buba.
E a ordem foi cumprida.... Em Outubro lá estava de novo o gila informador, o que era um incómodo para Nino, porque estas informações eram pagas, mas ao mesmo tempo eram informações válidas e sempre credíveis, portanto úteis, para a operação do PAIGC.
- Então que notícias temos de Quebo? - perguntou Nino.
- Coisa grande, Camarada. A Companhia de Nhala vai para Quebo e a de Quebo vai para Nhala.
Nino não entendeu a razão da importância desta informação e argumentou:
- Mas isso é uma simples troca, não altera nada.
- Altera, sim, camarada Comandante. É que o Furriel Enfermeiro, agora, vai ficar em Nhala, até ao fim da comissão, em Setembro do ano que vem. – sentenciou o gila.
Nino, que até ali estivera de pé, durante toda a conversa, sentou-se, baixou a cabeça, colocou-a entre as mãos e, em vez do tradicional palavrão, disse baixinho:
- … Dasse… dasse… dasse…
Passados uns minutos levantou-se, passou as mãos pelo rosto, alisou o cabelo e ordenou a todos os seus comandantes:
- Até Setembro de 1971, não haverá qualquer acção contra os militares colonialistas instalados em Nhala, incluindo o quartel, a estrada e os carreiros.
E a ordem foi cumprida.... Em Setembro de 1971, o Furriel Enfermeiro do Quebo e Nhala regressou à Metrópole. O gila emigrou e é estivador no porto de Marselha. O Nino… bem, sobre o Nino toda a gente sabe tudo.
A maior parte dos protagonistas desta não-estória já faleceram e não poderão confirmar o que aqui está escrito. Mas o nosso Camarada José Martins, recorrendo a todas as suas fontes de informação, poderá confirmar que todas as ordens de Nino, aqui referidas, foram cumpridas.
A bem de uma situação de guerra, que se queria de paz.
Um Abraço
Manuel Amaro
CCAÇ 2615
2. Comentário de CV:
E assim, com esta fantástica não-estória de guerra do nosso camarada Manuel Amaro, a quem aproveito para pedir desculpa pelo tempo que demorei a publicá-la, demos início a uma série que pode servir para guardar as vossas ficções ou histórias verdadeiras, mas colaterais a acções de guerra propriamente dito.
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4840: Parabéns a você (20): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2892 (Os Editores)
Caros Editores,
Há muito, muito tempo que não colaboro activamente no blogue.
Este regresso de férias permitiu-me descobrir umas coisas congeladas, que vou enviar, assim, aos bocadinhos.
Hoje é esta não-estória.
Com um pedido de desculpas pelo incómodo.
Um Abraço
Manuel Amaro
2. Uma não-estória de guerra > O Furriel Enfermeiro de Quebo
por Manuel Amaro
Eu delicio-me a ler e ver estórias de guerra. Em livros, em filmes e, mais recentemente, aqui no blogue.
Mas eu não tenho estórias de guerra para contar porque, apesar de ter estado em zona de guerra, de 28 de Outubro de 1969 a 6 de Setembro de 1971, durante todo esse tempo nunca disparei um único tiro. Logo, não fiz a guerra.
Mas eu gosto de participar. Então, decidi contar a minha não-estória de guerra, na Guiné-Bissau.
Quando cheguei a Aldeia Formosa (Quebo) no final de 1969, aquilo era assim quase um paraíso.
Tínhamos feito um mês de estágio em Nhacra (englobando Safim, João Landim, Cumeré e Dugal). Aqui no Dugal, o Pelotão do Alferes Caçador ainda foi presenteado com uma rocketada que levantou as chapas da cobertura.
A viagem em LDG, via Bolama, até Buba, foi desagradável. A coluna Buba/Aldeia de uma qualidade indescritível.
Mas em Aldeia Formosa não havia guerra. Diziam os mais velhos que isso se devia à acção de alguns Comandantes que por lá passaram, nomeadamente o major Azeredo e o major Fabião. E também devido à existência do Cherno Rachid Djaló. Mas… como não há bem que sempre dure…
Entre 20 de Março e 30 de Abril de 1970, Aldeia Formosa foi duramente castigada pelo inimigo. Tanto com emboscadas no mato, de que resultaram três mortos, como ataques ao quartel.
Os ataques do PAIGC a Aldeia Formosa incomodaram tanto o General Spínola que este tomou a decisão de substituir o Comandante do BCAÇ 2892, nomeando para o cargo, o Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira.
O novo Comandante, mal tomou posse reuniu com o 2.º Comandante, o Oficial de Operações, Comandantes de Companhia, Oficiais e Sargentos. Falou muito e ouviu pouco. De seguida, sentou-se naquela mesa enorme, na Sala de Operações, e, olhando para os mapas, questionava o oficial de operações:
- A CART 2521 tem o pessoal todo operacional?
- Sim, tem, meu Comandante.
- E a CCAÇ 2615 tem o pessoal todo operacional?
- Sim, tem, meu Comandante - repetiu o Major... Mas hesitou e corrigiu…
- Bem, quer dizer… o Furriel Enfermeiro está destacado no Posto Escolar.
O Comandante deu um salto e gritou:
- É isso… não pode ser. O pessoal de saúde tem que estar integrado nas suas Unidades Operacionais. Esse Furriel cessa funções hoje. Amanhã já está integrado na Companhia. Nomeia-se outro Furriel, Amanuense ou de Transmissões, para a Escola.
O Tenente Lopes, que dava os últimos retoques no stencil da Ordem de Serviço, ainda conseguiu incluir o texto do Despacho, que foi publicado e distribuído, nesse dia, já noite dentro.
Esta foi a grande decisão do novo Comandante. E a decisão foi cumprida
No dia 6 de Maio de 1970, quando o Pelotão (aqui apetece-me chamar-lhe Grupo de Combate) saiu para a Operação de rotina, já integrava o Furriel Enfermeiro, de camuflado, carregando uma bolsa tradicional, mas de G3 a tiracolo. Esta cena teve assistência, mirones, assim uma coisa semelhante à apresentação do Cristiano Ronaldo, em Madrid…
Saliente-se que esta decisão e a sua imediata implementação, foi tão importante que, quando o Pelotão que fazia a segurança nocturna, no exterior do quartel, regressava a casa, já se cruzou com o gila, informador do PAIGC, que ia a caminho da fronteira, para transmitir a novidade.
Nino recebeu o mensageiro que chegou com ar cansado da viagem, mas feliz por cumprir tão importante missão informativa:
- O novo Comandante de Quebo já tomou uma decisão. O Furriel Enfermeiro que estava na Escola passou a operacional. A partir de hoje, cerca de 15% das operações na área de Quebo terão a sua participação.
Nino, que de início parecia tranquilo, começou a dar sinais de impaciência e algum nervosismo. Para disfarçar, começou por acariciar a sua kalash com a mão direita, mas a esquerda, mais difícil de controlar, começou a coçar a cabeça. Quando o Nino coçava a cabeça já se sabia que alguma coisa estava a correr muito mal.
- Isso é mau. E logo agora que tínhamos algum controlo na zona.
Nino pensou, pensou… mas não demorou mais de cinco minutos para ordenar aos seus adjuntos o que fazer de imediato:
- As armas pesadas cumprem o plano até esgotar as munições... O grupo do GB, até ordem em contrário, não faz as emboscadas previstas na zona de Quebo.
E a ordem foi cumprida. E a vida continuou. Até que uns dias depois, ainda em Maio, o gila aparece de novo e informa:
- Camarada Comandante Nino, o Furriel Enfermeiro deixou a zona operacional. Agora só faz colunas de reabastecimento Quebo/Buba/Quebo. É que os outros enfermeiros não gostam de fazer colunas e ele gosta de ir a Buba comer peixe grelhado e cumprimentar os amigos que tem em Buba e Nhala.
Nino pareceu não dar muita importância à informação, mas logo que o gila se afastou, ordenou, até ordem em contrário, a paragem da colocação de minas na estrada e/ou ataques às ditas colunas. E a ordem foi cumprida.
Mas a vida no teatro de guerra é muito agitada, mesmo para quem não faz a dita. Ainda decorria o mês de Junho e já o gila estava a solicitar nova audiência.
- Camarada Comandante Nino´, lembra-se do Furriel Enfermeiro de Buba, que foi ferido e não foi substituído? Está no Hospital em Lisboa, com uns centímetros de intestino a menos…
Nino não entendeu a razão desta conversa, mas replicou:
- Em Buba os colonialistas têm um médico.
- Pois - concordou o gila -, mas o médico vai de férias a Portugal. O Camarada Nino imagina quem vai substituir o médico durante esse tempo?... O Furriel Enfermeiro do Quebo.
Nino soltou um palavrão. (Que eu não repito, porque eu não escrevo palavrões, mesmo quando são ditos por outros). E depois ordenou:
- Até ordem em contrário, o Grupo do MS não executa ataques na zona de Buba.
E a ordem foi cumprida.... Em Outubro lá estava de novo o gila informador, o que era um incómodo para Nino, porque estas informações eram pagas, mas ao mesmo tempo eram informações válidas e sempre credíveis, portanto úteis, para a operação do PAIGC.
- Então que notícias temos de Quebo? - perguntou Nino.
- Coisa grande, Camarada. A Companhia de Nhala vai para Quebo e a de Quebo vai para Nhala.
Nino não entendeu a razão da importância desta informação e argumentou:
- Mas isso é uma simples troca, não altera nada.
- Altera, sim, camarada Comandante. É que o Furriel Enfermeiro, agora, vai ficar em Nhala, até ao fim da comissão, em Setembro do ano que vem. – sentenciou o gila.
Nino, que até ali estivera de pé, durante toda a conversa, sentou-se, baixou a cabeça, colocou-a entre as mãos e, em vez do tradicional palavrão, disse baixinho:
- … Dasse… dasse… dasse…
Passados uns minutos levantou-se, passou as mãos pelo rosto, alisou o cabelo e ordenou a todos os seus comandantes:
- Até Setembro de 1971, não haverá qualquer acção contra os militares colonialistas instalados em Nhala, incluindo o quartel, a estrada e os carreiros.
E a ordem foi cumprida.... Em Setembro de 1971, o Furriel Enfermeiro do Quebo e Nhala regressou à Metrópole. O gila emigrou e é estivador no porto de Marselha. O Nino… bem, sobre o Nino toda a gente sabe tudo.
A maior parte dos protagonistas desta não-estória já faleceram e não poderão confirmar o que aqui está escrito. Mas o nosso Camarada José Martins, recorrendo a todas as suas fontes de informação, poderá confirmar que todas as ordens de Nino, aqui referidas, foram cumpridas.
A bem de uma situação de guerra, que se queria de paz.
Um Abraço
Manuel Amaro
CCAÇ 2615
2. Comentário de CV:
E assim, com esta fantástica não-estória de guerra do nosso camarada Manuel Amaro, a quem aproveito para pedir desculpa pelo tempo que demorei a publicá-la, demos início a uma série que pode servir para guardar as vossas ficções ou histórias verdadeiras, mas colaterais a acções de guerra propriamente dito.
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4840: Parabéns a você (20): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2892 (Os Editores)
Guiné 63/74 - P5074: Em busca de... (95): Informações sobre o meu pai, Malan Sanhá (Nero), natural de Gamol, Fulacunda (Fode Sanhá)
ATENÇÃO
GUINÉ-BISSAU
A P E L O
1. Recebemos uma mensagem de um guineense, o Fode Sanhá, que nos indica estar na cidade de Hamburgo, Alemanha, solicitando-nos que publiquemos o seguinte:
Luís Graça,
Quero desejar-te as maiores felicidades deste mundo, pois através deste teu blogue eu tenho visto muitas fotos da minha querida Terra… da nossa Terra.
Estou a escrever esta mensagem, por causa de uma profunda tristeza minha… do meu passado… da infância.
A minha data de nascimento é 2 de Fevereiro de 1973 e estou-te a escrever para pedir ajuda num grande favor.
Eu não conheço o meu pai. Ele combateu na zona sul do país, em Tite, e tudo o que dele sei, é o seu nome, Malan Sanha (Nero).
Pertencia à Tabanca de Gamol, junto a Fulacunda [, a noroeste].
Fica com Deus e com muita saúde, e felicidade, ao lado da tua família.
Qualquer informação, por pequena que seja, que me possam prestar, por favor façam-no para o meu e-mail: fodesanha32@yahoo.co.uk
Muito agradecido,
Fode Sanhá
Hamburgo
___________
Nota de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
Guiné 63/74 - P5073: Tabanca Grande (178): O ex-Cap Art Gualberto Passos Marques, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72
Guiné > Zona leste > Sector L1 > Bambadinca, > CCS/BART 2917 (1970/72) > "Eu, o Furriel Durães e mais pessoal da CCS do BART 2917 em acção psicológica junto das populações"...
O Benjamim acrescenta (e corrige): "O ex-Capitão Passos Marques e alguns militares do PEL REC (1º Cabo Rodrigues, já falecido, o 1º Cabo Ribas e o 1º Cabo Fonseca que era o barbeiro, e mais dois militares, que eram sapadores mas não consigo identificar. O Durães nessa foto não está)"... Não é indicado nem o lugar nem a data... (LG)
Foto: © Gualberto Magno Passos Marques (2009). Direitos reservados
1. Mensagem do Gualberto M. P. Marques, com data de hoje (*):
Caro amigos:
Foi com imenso prazer que vos digo que aproveitei a oportunidade de estar com o Benjamim Durães, após a comissão na Guiné.
Passaram quase 40 anos de maneira que é tempo mais que suficiente para modificar a nossa fisionomia...e por vezes fazer-nos passar uns pelos outros sem que nos reconheçamos.
O camarada Luis Graça foi muito amavél no comentário que fez à minha pessoa e ao convidar-me a participar no Blog, que tão eficientemente dirige.
É muito provável que em Bambadinca tivéssemos conversado e tocado opiniões, como camaradas que se encontravam em serviço na mesma zona. Sou franco em admitir que já não me recordo bem das feições dos muitos amigos e camaradas que naquela altura convivíamos com idênticos problemas e preocupações.
Não quero deixar de aproveitar a oportunidade para saudar todos os amigos, camaradas e colegas que acedem ao Blog Tabanca Grande e expressar o meu agradecimento por tudo que fazem em prol do espírito de fraternidade, camaradagem e convívio.
Aos colegas,amigos e camaradas do BArt 2917, desde já envio um abraço e desejos de saúde e muito sucesso nas suas vidas.
Para terminar envio ao Benjamim Durães e ao Luís Graça um grande abraço e um Bem Haja... por tudo o que fazer por altruísmo tendo em vista a manutenção dos laços de amizade e fraternidade de todos aqueles que caminharam pelas picadas e bolanhas da Guiné.
SAUDAÇÃO
À Tabanca Grande saúdo, com emoção,
Ao recordar os camaradas e amigos
Que, em momentos de perigo e aflição,
Nunca deixaram de permanecer unidos.
Maduros e serenos, nossos corações,
Vamos continuar a apertar as mãos,
Evocando amigos e boas recordações
Numa vida de dor, saudade e solidão.
Éramos filhos e hoje somos avós,
No entanto nunca estivemos sós,
Em qualquer outra contingência.
Agora vamos brindar, a uma só voz,
Conscientes que permanecem em nós
Os que infelizmente marcam ausência.
Um abraço
Faro, 7 de Outubro de 2009
G.M.
[Fixação / revisão de texto: L.G.]
2. Saudação do Jorge Cabral:
Um Grande Abraço para o Passos Marques!
Já o conhecia de Vendas Novas e sempre o considerei um Amigo. Há tempos encontrei o Agordela, capitão de Mansambo. Fico feliz quando constato que os rapazes do meu tempo continuam em forma...Qualquer dia mandarei um estória com estas duas personagens...
Jorge Cabral
3. Comentário de L.G.:
Caríssimo Gualberto... Não sei como tratar-te, de acordo com as regras da civilidade romana em vigor no nosso blogue... Gualberto, Magno ou Passos Marques ? Ou só Gualberto Marques ? Logo o dirás, na volta do correio.
E agora vamos agradecer a tua caloroso e brilhante saudação em forma de soneto. Não te conhecia esta faceta. Como te agadeço as fotos, com legenda, que tiveste a gentileza de nos enviar, através do camarada Durães. Faltam, agora, as pequenas/grandes histórias do nosso tempo em que vivemos juntos, como bons vizinhos, em Bambadinca, desde pelo menos Maio de 1970 a Março de 1971 (eu, tu, a tua CCS e a nossa CCÇ 12)... Eu depois regressei a penates, e tu ficaste lá no planalto, a gerir a tua CCS, com uma incursão pelo Xime (que hás-de um dia explicar, se para tanto tiveres engenho, arte e sobretudo motivação)...
Abreviando, é uma honra, um privilégio e sobretudo um prazer ter-te aqui, nesta caserna virtual, ao nosso lado. Hoje, como no passado... Fica bem, acomoda-te, arranja aí um cantinho, tão confortável, no mínimo, como aquele que tinhas no nosso hotel de Bambadinca... Espero dar-me um Alfa Bravo no próximo encontro, o quinto, da nossa Tabanca Grande, em 2010. Luís Graça
_____________
Notas de L.G.:
(*) 5 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5055: Tabanca Grande (177): Carlos Cordeiro, ex-Fur Mil At Inf (Centro de Instrução de Comandos - Angola, 1969/71)
(**) Vd. postes de:
6 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5060: Memória dos lugares (45): Bambadinca, BART 2917, 1970/72, ex-Cap Art Passos Marques (Benjamim Durães)
7 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5070: Memória dos lugares (46): Bambadinca, ao tempo da CCS / BART 2917: O Arsénio Puim e o Abel Rodrigues (Passos Marques)
7 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5071: Memória dos lugares (47): Bambadinca, a bela Helena no meio de Oficiais & Cavalheiros (Passos Marques)
O Benjamim acrescenta (e corrige): "O ex-Capitão Passos Marques e alguns militares do PEL REC (1º Cabo Rodrigues, já falecido, o 1º Cabo Ribas e o 1º Cabo Fonseca que era o barbeiro, e mais dois militares, que eram sapadores mas não consigo identificar. O Durães nessa foto não está)"... Não é indicado nem o lugar nem a data... (LG)
Foto: © Gualberto Magno Passos Marques (2009). Direitos reservados
1. Mensagem do Gualberto M. P. Marques, com data de hoje (*):
Caro amigos:
Foi com imenso prazer que vos digo que aproveitei a oportunidade de estar com o Benjamim Durães, após a comissão na Guiné.
Passaram quase 40 anos de maneira que é tempo mais que suficiente para modificar a nossa fisionomia...e por vezes fazer-nos passar uns pelos outros sem que nos reconheçamos.
O camarada Luis Graça foi muito amavél no comentário que fez à minha pessoa e ao convidar-me a participar no Blog, que tão eficientemente dirige.
É muito provável que em Bambadinca tivéssemos conversado e tocado opiniões, como camaradas que se encontravam em serviço na mesma zona. Sou franco em admitir que já não me recordo bem das feições dos muitos amigos e camaradas que naquela altura convivíamos com idênticos problemas e preocupações.
Não quero deixar de aproveitar a oportunidade para saudar todos os amigos, camaradas e colegas que acedem ao Blog Tabanca Grande e expressar o meu agradecimento por tudo que fazem em prol do espírito de fraternidade, camaradagem e convívio.
Aos colegas,amigos e camaradas do BArt 2917, desde já envio um abraço e desejos de saúde e muito sucesso nas suas vidas.
Para terminar envio ao Benjamim Durães e ao Luís Graça um grande abraço e um Bem Haja... por tudo o que fazer por altruísmo tendo em vista a manutenção dos laços de amizade e fraternidade de todos aqueles que caminharam pelas picadas e bolanhas da Guiné.
SAUDAÇÃO
À Tabanca Grande saúdo, com emoção,
Ao recordar os camaradas e amigos
Que, em momentos de perigo e aflição,
Nunca deixaram de permanecer unidos.
Maduros e serenos, nossos corações,
Vamos continuar a apertar as mãos,
Evocando amigos e boas recordações
Numa vida de dor, saudade e solidão.
Éramos filhos e hoje somos avós,
No entanto nunca estivemos sós,
Em qualquer outra contingência.
Agora vamos brindar, a uma só voz,
Conscientes que permanecem em nós
Os que infelizmente marcam ausência.
Um abraço
Faro, 7 de Outubro de 2009
G.M.
[Fixação / revisão de texto: L.G.]
2. Saudação do Jorge Cabral:
Um Grande Abraço para o Passos Marques!
Já o conhecia de Vendas Novas e sempre o considerei um Amigo. Há tempos encontrei o Agordela, capitão de Mansambo. Fico feliz quando constato que os rapazes do meu tempo continuam em forma...Qualquer dia mandarei um estória com estas duas personagens...
Jorge Cabral
3. Comentário de L.G.:
Caríssimo Gualberto... Não sei como tratar-te, de acordo com as regras da civilidade romana em vigor no nosso blogue... Gualberto, Magno ou Passos Marques ? Ou só Gualberto Marques ? Logo o dirás, na volta do correio.
E agora vamos agradecer a tua caloroso e brilhante saudação em forma de soneto. Não te conhecia esta faceta. Como te agadeço as fotos, com legenda, que tiveste a gentileza de nos enviar, através do camarada Durães. Faltam, agora, as pequenas/grandes histórias do nosso tempo em que vivemos juntos, como bons vizinhos, em Bambadinca, desde pelo menos Maio de 1970 a Março de 1971 (eu, tu, a tua CCS e a nossa CCÇ 12)... Eu depois regressei a penates, e tu ficaste lá no planalto, a gerir a tua CCS, com uma incursão pelo Xime (que hás-de um dia explicar, se para tanto tiveres engenho, arte e sobretudo motivação)...
Abreviando, é uma honra, um privilégio e sobretudo um prazer ter-te aqui, nesta caserna virtual, ao nosso lado. Hoje, como no passado... Fica bem, acomoda-te, arranja aí um cantinho, tão confortável, no mínimo, como aquele que tinhas no nosso hotel de Bambadinca... Espero dar-me um Alfa Bravo no próximo encontro, o quinto, da nossa Tabanca Grande, em 2010. Luís Graça
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Notas de L.G.:
(*) 5 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5055: Tabanca Grande (177): Carlos Cordeiro, ex-Fur Mil At Inf (Centro de Instrução de Comandos - Angola, 1969/71)
(**) Vd. postes de:
6 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5060: Memória dos lugares (45): Bambadinca, BART 2917, 1970/72, ex-Cap Art Passos Marques (Benjamim Durães)
7 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5070: Memória dos lugares (46): Bambadinca, ao tempo da CCS / BART 2917: O Arsénio Puim e o Abel Rodrigues (Passos Marques)
7 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5071: Memória dos lugares (47): Bambadinca, a bela Helena no meio de Oficiais & Cavalheiros (Passos Marques)
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Guiné 63/74 - P5072: Direito à Indignação (1): Abaixo de cão, isto é uma vergonha! (Mário Pinto)
1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos uma mensagem de revolta e indignação.
Camaradas,
ABAIXO DE CÃO - ISTO É UMA VERGONHA
Acabo de receber uma carta da Segurança Social, que me informa sobre o suplemento especial de pensão, que mereço como ex-Combatente desta Lusa Pátria.
Fiquei estupefacto pelo modo de cálculo para a sua atribuição, dado que o mesmo me corta, e creio que a todos os Camaradas em geral, em relação ao ano anterior, cerca de 50% do valor
recebido. Isto é uma injustiça indigna e revoltante de todo o tamanho, que nos é prestada pelos nossos (des)governantes em relação a nós - Veteranos de Guerra.
Nós, os que estivemos na Guiné, por não termos cumprido 24 meses de comissão, somos descriminados em relação aos nossos Camaradas, que cumpriram esse tempo neste e noutros teatros de Guerra, nomeadamente os que tiveram em Luanda, que para o efeito continuam a ver contado o seu tempo a 100%.
Estes “senhores” criaram a Lei n.º 3/2009, de 13 de Janeiro, nítida e objectivamente para nos
prejudicar.
Isto é duma injustiça de carácter maquiavélico, dando-me vontade de mandar estes políticos governantes meterem o subsídio num sítio, que eu agora não digo pelo respeito aos nossos leitores e Amigos.
Se não fosse eu dar aos míseros Euros (leia-se esmola) que vou receber, outro destino mais benéfico, acreditem meus amigos que eu o faria.
É revoltante como estes politicozecos de m... nos continuam a tratar assim… abaixo de cão.
Como vários camaradas nossos já aqui têm afirmado, é necessário cerrar fileiras para fazermos ouvir a nossa voz.
Vamos em frente!
Contem comigo!
Haja quem toque a reunir as tropas!
Certo que não estarei sozinho, alinharei na primeira linha!
Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
Imagens: Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
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