[Continuação da publicação de excertos do Cap II da História do BART 2917, Bambadinca, 1970/72, segundo versão policopiada gentilmente ao nosso blogue pelo ex-Fur Mil Trms Inf, José Armando Ferreira de Almeida, CCS/ BART 2917, Bambadinca, 1970/72, membro da nossa Tabanca Grande] (*)
3. População > e. Aspecto político (...)
- Construtores de grandes impérios dos quais o maior foi o do Mali que durou do Século XI até ao Século XVII, as suas relações com os Portugueses foram de tal modo intensas que o Rei D. João II, frente ao conflito ”Mandinga – Fula”, enviou emissários ao Imperador do Mali e ao Chefe Fula Coli Tenguela, procurando servir como medianeiro nas disputas entre ambos.
Apesar de vencido, a cultura deste povo impõe-se a quase todos os povos da Guiné e, difundindo o seu islamismo (do tipo africano, revelando resíduos do antigo animismo), criou, pelo contacto directo e contínuo com outras etnias, o fenómeno da aculturação destas, conhecido por “Mandinguização”.
Antes do terrorismo, a etnia Mandinga mostrava-se em franca expansão por toda a Província invadindo áreas de outras etnias e competindo economicamente com elas sendo bem aceite por todos os povos da Guiné.
"Nesta brochura, editada pela Editorial Cosmos (sem data) na sua colecção "Cadernos Coloniais" (é o N.º 13), António Carreira faz uma resenha histórica da islamização daquela zona de África e da lutas entre fulas e mandingas pelo seu domínio. São dados importantes para a história dos povos da Guiné e para a nossa commpreensão deles". [António Barbosa Carreira nasceu em 1904, em São Filipe, Ilha do Figo, Cabo Verde. Morreu em 1988, em Lisboa].
Imagem e legenda: © A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados
A sua atitude perante o terrorismo deve ser interpretada com todo o bom senso, eles viram no PAIGC a oportunidade de reaver a sua independência política, em face aos Fulas, e vingar um Século de prepotências a que estiveram sujeitos pelos Fulas; depois, nos primeiros anos de terrorismo, Mandingas era sinónimo de terrorista e temos de ter a coragem para admitir os erros de procedimento que as NT e Autoridades tiveram perante os indivíduos que eram rotulados de “terroristas”.
Hoje os Mandingas estão convictos de que não é mais possível, no Sector, ser-se acusado pelas Autoridades de “terrorista” apenas porque se pertence a esta etnia ou, se denunciam erros de indivíduos ligados às Autoridades, Militares ou Civis, Europeus ou Africanos (embora ainda existem no Sector alguns residentes Europeus a assimilados que, por convicção ou interesse, propalam, especialmente a quem chega de novo, que todos os Mandingas são “terroristas”).
Tal convicção, associada ao seu desencantamento em relação ao PAIGC, onde “calcinhas e oportunistas” ocupam lugares de mando que os Mandingas julgam deveriam ser concedidos aos seus Chefes, criou uma brecha que, a curto prazo, pode levar, se bem explorada pelas NT, ao divórcio total desta etnia com o PAIGC.
- No SECTOR L-1 a actividade dos Mandingas vivendo sobre o nosso controlo difere de Regulado para Regulado.
ENXALÉ
- Sobre a designação de Mandingas estão agrupados na povoação do Enxalé, Beafadas e Mandingas sob o Comando efectivo do Beafada, Alferes de 2ª Linha Quemó Nanqui; fortemente hipotecados na defesa da sua povoação, colaboram activamente com as NT na procura e destruição do IN.
CUOR
- Encontram-se reordenadas nas Auto Defesas de Finete e Missirá, onde são protegidos por Pelotões de Milícia na sua quase totalidade formados por Fulas do Regulado Badora. Estão profundamente hipotecados na defesa das suas povoações e seguem a forte determinação do seu Régulo, Malan Soncó, de não abandonar o que resta do Cuor seja qual for a pressão do IN. Mas ao procurar-se fazer o recompletamento dos seus Pelotões de Milícias com elementos Mandingas, encontram-se grandes dificuldades no seu recrutamento. Também ao procuraram-se guias para as diversas operações no Cuor, se encontra fortes reservas por parte dos Mandingas em colaborar com as NT.
BADORA
- Concentraram-se neste Regulado a maioria dos Mandingas do Sector. Muitos são daqui naturais mas há um importante núcleo constituído por “refugiados” de outros Regulados, especialmente do Regulado do Cuor e Oio.
- Os naturais do Regulado de Badora têm queixas das prepotências antigas fulas com conveniência ou nãos das Autoridades Administrativas, não esqueceram ainda os desmandos feitos pelas NT no início do terrorismo em que Mandingas e terroristas era considerado sinónimo, confiam bastante no Régulo de Badoera – Tenente de 2ª Linha Mamadú Bonco Sanhá, que dizem ser Beafada, porque nos seus ascendentes há uma mulher desta etnia, ser justo, ser valente e ter espírito Mandinga. Pelas razões apontadas, porque muitos deles têm família no mato, e talvez e especialmente por ser essa a orientação dos seus Chefes Religiosos, assumem uma atitude de neutralismo em relação ao actual conflito.
- Os refugiados neste Regulado pensam em cada momento nas suas árvores de fruto, nas suas terras, e muitos deles desejariam ocupar povoações de onde a guerra os expulsou.- Desde que lhes seja garantida uma certa segurança, estão disposto a ocupar as suas antigas povoações e cooperarem na sua defesa, desde que recuperadas.
- Na sua actual situação de refugiados procuram empenhar-se o menos possível tendendo para um neutralismo total.
(*) Vd. poste de 20 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6437: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (2): O Fula, a sua lealdade,o seu preço (José Armando F. de Almeida / Luís Graça