sexta-feira, 24 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8469: Notas de leitura (250): A Guerra de África 1961 - 1974, por José Freire Antunes (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Junho de 2011:

Queridos amigos,
Não sou devoto da história oral mas também não denigro os seus méritos: um conjunto de protagonistas presta declarações ou passa a escrito o que viu, o que experimentou, como comenta a evolução da guerra. José Freire Antunes teve a rara felicidade, em meados da década de 90, de fazer convergir para este objectivo testemunhos indispensáveis como Carlos Fabião, Alpoim Calvão no seu melhor e Marcelino da Mata (como é sabido, este controverso oficial raramente presta declarações públicas). Obviamente que recomendo a sua leitura, pela galeria de testemunhos de gente experimentada e de diferentes quadrantes políticos.

Um abraço do
Mário


A guerra de África, segundo volume, por José Freire Antunes (2)

Beja Santos

Carlos Fabião foi indiscutivelmente um dos oficiais do quadro permanente que melhor conheceu a Guiné, aqui viveu um total de 12 anos, antes e depois da luta armada. O seu depoimento em “A Guerra de África”, segundo volume, por José Freire Antunes, Círculo de Leitores, 2011, começa exactamente pela referência aos acontecimentos do Pidjiquiti, deu-se o incidente estava ele no aeroporto. A seguir a estes acontecimentos fez uma comissão em Angola e volta à Guiné entre 1965 a 1967 como comandante de uma companhia de intervenção. Neste tempo criou o Comando Geral das Milícias, tal como ele explica: “Organizei as milícias dentro do conceito de ligar as tropas às próprias terras de onde eram naturais. Havia, por exemplo, uma tabanca que era necessário defender, e eu criava uma unidade com os homens dessa tabanca (…) Chegámos a ter 9000 homens na Guiné. Estávamos organizados em companhias e pelotões. A cada companhia correspondia um regulado. A ideia era de que os régulos mandassem nas suas áreas. Eu ia a essas áreas, entrava em contacto com o régulo e criava uma companhia que tinha o nome do regulado a que correspondia”. Reflectindo sobre esse período, não é complacente: “De 1965 a 1967, a situação na Guiné tornou-se bastante má. Tínhamos perdido o controlo de uma série de áreas, havia sítios onde praticamente já não entrávamos. Já havia muita gente nossa na Guiné mas havia áreas, como o Morés, o Sara Sarauol, o Boé, Quitafine, Cantanhez, onde estávamos mal (…) O PAIGC estava melhor armados do que nós. Eles utilizavam o RPG e nós não tínhamos nenhuma arma com as características do RPG (…) O comandante-chefe Arnaldo Schulz, estava diminuído pela doença. Foi um homem que descentralizou muito, mas aquilo não dava para descentralizar. Estava a correr mal, para não dizer muito mal, em todos os aspectos (…) Spínola chegou à Guiné e correu com muitos incompetentes”. Mais adiante, levanta o véu sobre a compra de armas: “Os russos prestavam auxílio ao PAIGC mas também o mesmo em relação a nós, se quiséssemos. Vendiam armas a quem lhes pagasse. O circuito era feito à boca dos aviões. As armas russas eram vendidas através da Norte Importadora, do Zoio, e destinavam-se formalmente à polícia do Uruguai mas eram descarregadas em Lisboa. Comprei também armas à França. Vejo que toda a gente que andou metida nisto está rica, e eu não”. Confessa que apoiou as teorias de Spínola e que considera que a sua eleição em 1972 como presidente da República teria mudado o curso dos acontecimentos. Di-lo abertamente: “A solução que Spínola tinha conseguido na altura seria extraordinária e o futuro mostrou que ele estava cheio de razão. Podíamos ter resolvido a questão em 1972 e não a resolvemos porque Caetano disse claramente a Spínola que aceitava um desastre militar mas nunca uma cedência política”.

Passa-se por alto os testemunhos de Carlos Azeredo e o desempenho de Cecília Supico Pinto à frente do Movimento Nacional Feminino, a segunda está profusamente documentada, nada há de novo neste depoimento constante neste segundo volume. Do maior interesse tem o testemunho de Alpoim Calvão, seguramente o mais detalhado e coeso que dele se conhece, tanto o que revela sobre a operação Mar Verde como a operação Dragão Marinho e Plano Carpa, manobras urdidas para desorientar e envenenar a opinião pública afecta ao PAIGC.

O depoimento de Luís Cabral anda muito próximo do que escreveu em “Crónica da Libertação”. Mas é curiosa a sua reflexão no final do testemunho: “A nossa luta foi sempre avançando. A retaguarda é que criou os elementos fracos. Queriam viver em Conacri, onde tínhamos armazéns cheios. Como lá havia carência de tudo, começavam a desviar coisas para o mercado negro. Para arranjar mulheres e arranjar casas. Foi essa retaguarda que forjou toda a conspiração contra o partido e contra o Amílcar (…) Tínhamos já um grupo de militantes que estavam a ser treinados para pilotos na União Soviética. Foram para lá ainda em vida do Amílcar. Era para pilotar em aviões MiG. Seriam a base da Força Aérea da Guiné independente”.

Marcelino da Mata, um supermedalhado do Exército, detentor da Torre e Espada é o responsável pelo último testemunho deste segundo volume. Relata um sem número de façanhas e queixa-se amargamente: “Fomos traídos, abandonados. Eu estava no Regimento de Comandos da Amadora, em 1974, a comandar uma companhia, a 123, e obrigaram-me a pedir a nacionalidade portuguesa. Será que eu era mercenário aqui dentro? Um militar fardado, dentro de uma unidade a comandar uma companhia, a fazer todos os serviços que fossem precisos, e obrigarem-no a requerer a nacionalidade! Mas eu nunca renunciei a nacionalidade portuguesa (…) Quantos milhares de pessoas mataram na Guiné depois do 25 de Abril? Foram 7447 mortos, número que nunca houve durante a guerra. Na Guiné, quando a tropa ia para o mato, os pretos é que iam na frente a picar a estrada, quando rebentava uma mina morriam duas ou três pessoas, mas debaixo de fogo era raro alguém morrer. Eu vim para cá deitado numa maca. A Guiné tinha as companhias africanas, de comandos africanos, destacamentos de fuzileiros e milícias especiais. Eram vinte e tal companhias que seriam suficientes para assegurar o referendo. Mas a única preocupação que o Estado português teve na Guiné foi desarmar o Exército africano e entregá-lo ao PAIGC. Se o general Spínola continuasse mais dois anos na Guiné, o PAIGC entregava-se (…) O PAIGC só entrou dentro da cidade de Bissau depois das tropas dos comandos e fuzileiros serem desarmadas. Quem desarmou os comandos foi o Carlos Fabião. A 15ª companhia, em Mansoa, não aceitou o desarmamento. A maioria deles foi fuzilada”.

Recorde-se que este trabalho de José Freire Antunes é uma aplicação da história oral, que teve muita voga até aos anos 80, hoje está profundamente desacreditada. Assenta num conjunto de testemunhos, narrativas, provas documentais, etc. que, de acordo com um guião pré-estabelecido pelo coordenador, são apresentados em sequência, não se usa o contraditório e, em muitos casos, os protagonistas não são instados a apresentar provas factuais das suas declarações. Há que reconhecer, porém, que nunca se foi tão longe no levantamento de testemunhos como neste empreendimento de 1994 e 1995. Naturalmente que outros factos e outros testemunhos iluminaram o acervo documento alinhado por este autor, aos historiadores compete agora interpretar estas múltiplas peças do mosaico e continuar a investigar as inúmeras lacunas e discrepâncias.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8456: Notas de leitura (249): A Guerra de África 1961 - 1974, por José Freire Antunes (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8468: Parabéns a você (277): Vasco Joaquim, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2912 (Tertúlia e Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

DIA 24 DE JUNHO DE 2011

VASCO JOAQUIM

NESTE DIA DE S. JOÃO E DE ANIVERSÁRIO PARA O NOSSO CAMARADA VASCO JOAQUIM, A TERTÚLIA E OS EDITORES VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR-LHE AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE, JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.
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Notas de CV:

Vasco Joaquim foi 1.º Cabo Escriturário na CCS/BCAÇ 2912, que esteve em Galomaro nos anos de 1970 a 1972

Vd. último poste da série de 22 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8458: Parabéns a você (276): António José Pereira da Costa, Coronel Reformado na efectividade de serviço, Guiné 1968/69 e 1972/74 (Tertúlia / Editores)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8467: Controvérsias (126): E no meio disto tudo isto... onde estão os combatentes, os tais que a Pátria devia contemplar? (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 21 de Junho de 2011:

Meus camarigos editores
Eu sou assim!
Escrevo com a caneta do coração!
Se calhar sou injusto com algumas pessoas.
Que me perdoem!
Mas estou-me a ver envelhecer, (e a todos nós), e receio muito que as gerações vindouras tenham de nós uma imagem deturpada e depreciativa.
E dói-me saber que alguns de nós, que juraram a bandeira de Portugal, "vindos de todas as partes", estão abandonados à sua desgraça, e nós que somos tantos ainda, nada ou pouco fazemos.
Será que não conseguimos juntar uns milhares, entre combatentes e familiares, e dizermos chega! a quem de direito, sobretudo pensando naqueles de nós que vivem na rua propriamente dita, ou na rua das suas doenças e desesperos?

Como sempre fica ao vosso discernimento a publicação.

Um abraço camarigo para todos
Joaquim Mexia Alves


E NO MEIO DISTO TUDO… OS COMBATENTES???

Têm sido dias férteis em actividades “culturais” e outras, à volta dos combatentes.

Vai-se explorando o filão, agora “recentemente” descoberto, pois afinal ainda há muitos combatentes e para além do mais os “gajos” até têm família e portanto um “mercado” a explorar.

E ouvem-se estes e aqueles, ouvem-se as mulheres, (verdade seja dita parte vivida, integrante e importante de toda a problemática dos combatentes), reúnem-se livros e antologias, mas não se vislumbra minimamente uma verdadeira preocupação com os combatentes, com a sua dignidade, sobretudo com aqueles abandonados, pela “Pátria que os devia contemplar” e não contempla.

E vamos lendo e sabendo de colóquios sobre a Guerra de África, homenagens diversas por este país fora, um monumento aqui, outro ali, uns discursos mais inflamados e outros nem tanto.

E muitos de nós, (eu muito provavelmente), vamo-nos deixando embalar nestes “cantos de sereia”, convencidos, (ou tentando convencermo-nos), que somos alguém e que o país, as letras e as artes, se preocupam connosco.

Não há melhor forma de adormecer a revolta, a indignação, que é ir falando das suas causas, dando razão, “passando a mão pelo pêlo”, e nada fazendo, enquanto os revoltados, os indignados, (nos quais me incluo), vão lambendo as feridas, cansados de tanto combate, tentando convencer-se de que têm alguma força, mas verdadeiramente e no fundo, se vão deixando dividir em teias politicas, em opiniões “politicamente correctas”, em “distribuições partidárias”, em narcóticas “manifestações artísticas”, a maior parte das vezes incompletas e de tendências politicas bem marcadas.

Será que os lucros de alguma destas obras, que nós combatentes tão afanosamente compramos, revertem no todo ou em parte, para aqueles de entre os combatentes, que abandonados pela sociedade, pelo país, pelo estado, apenas sobrevivem, e mal, às imensas dificuldades, provações e doenças que a própria guerra lhes acarretou ao serviço do seu país.

E com isto não me refiro obviamente às obras “particulares” de alguns autores, que têm todo o direito a receber a paga do seu trabalho e engenho, mas sim a certas obras, subsidiadas, financiadas, assentes no trabalho de outros, alguns combatentes, e que afinal nada trazem de ajuda àqueles que tanto precisam.

E eu também concordo que não sou nenhum ex-combatente, mas sim um combatente.
Faz parte do meu passado e o meu passado é o meu todo com o meu presente e o meu futuro.
Assim como se tivesse um nome familiar quando era criança, (que por acaso não tinha), do tipo “Quim”, ou outro qualquer, e que agora, não era por já não ser criança que passava a “ex-Quim”.

E isso também nos leva a perceber que estivemos ao serviço de Portugal, e não de um qualquer regime.
Os regimes passam, as Nações ficam, ou deviam ficar.
E se ficam, a responsabilidade das Nações para com os seus filhos permanecem.
Não podemos apenas querer reter as partes boas, e as riquezas, temos também de aceitar as dificuldades e as pobrezas.

Mas o que mais me revolta, para além da minha indignação total por causa dos combatentes abandonados, (e refiro-me aos da “Metrópole” e das então “Províncias Ultramarinas”), é que no fundo e de uma maneira geral, as coisas não mudam e nós “embarcamos” em panegíricos e elogios sobre certas obras, trabalhos, actividades e discursos que no fundo se servem de nós, mas se estão verdadeiramente “borrifando” para nós.

Alguma vez os organizadores/editores desta tão “proclamada” Antologia se permitiriam amputar sem licença um poema de Manuel Alegre, por exemplo?
Mas com toda desfaçatez, (e não compro a teoria do erro), fizeram-no a um poema do José Brás!

Explico-vos então porque não acedi a que a letra do Fado da Guiné, fosse publicada nesta Antologia.

É que ao ser contactado, logo informei e dei como muito útil para uma verdadeira Antologia deste tipo que tivessem em conta tantos poetas anónimos, (em que o nosso blogue é fértil, por exemplo), que tendo vivido a guerra na sua própria pele, dela escreviam em verso, como só quem viveu pode escrever.

Foi-me respondido que só fariam parte da Antologia, obras já publicadas, o que logo me fez perceber o “filme” da Antologia.
Mais do mesmo!

Poderia ficar aqui a escrever sobre toda esta revolta e indignação que teimam em viver em mim, como na maior parte de nós, mas talvez noutro dia continue estes pensamentos em voz alta, para “acordarmos” do torpor em que nos deixámos cair, a começar por mim próprio.

Deixo esta ideia.



Esta obra compro-a de muito boa vontade, não só para mim, mas para dar de presente em tantas e tantas ocasiões em que tal se proporciona.

Perdoem-me o arrazoado de palavras e se sou injusto com alguém, que me perdoe também, mas estou farto de ser espezinhado na pessoa daqueles que comigo lutaram na Guiné, Angola, Moçambique, e que o meu país, a sociedade do meu país despreza, embora de vez em quando deles se aproveite.

E estou zangado, sobretudo comigo próprio, que tão pouco faço, e tão impotente me sinto para mudar as coisas.

Um abraço para todos do
Joaquim Mexia Alves
Alf Mil Op Esp
Guiné - 1971/73
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8446: Convívios (349): 12º Encontro da Tabanca do Centro, 29 de Junho (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 8 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8440: Controvérsias (125): As feridas da guerra (José Firmino)

Guiné 63/74 - P8466: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (8): O grande choque (1)

1. Em mensagem do dia 20 de Junho de 2011, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos mais uma das suas Outras Memórias da Guerra.


Outras memórias da minha guerra (8)

O grande choque

A “grande cambança” Metrópole/guerra no Oio foi um choque enorme. Mesmo afastando aquelas anomalias ditas de preparação militar para a guerra, pois que, em pouquíssimos meses, se passou do gelo para o braseiro, da capacidade de resistência ao frio para a “resistência” ao calor, do conforto dos lares para o desconforto permanente da realidade militar (imposta), do afago das nossas queridas para a repulsa a novas conquistas. Sentimos, também, aquela diferença entre o “aprazível cruzeiro” Lisboa/Bissau e o passeio de 1 de Maio de Bissau para Bambadinca, onde fomos expulsos da embarcação a pontapé pelos “velhinhos” que aguardavam há 15 dias a nossa chegada para o seu feliz regresso.

Esses, mal nos vislumbraram no rio, ainda longe, começaram a gritar:

- O barco é nosso, o barco é nosso! Saiam daí periquitos .

Nós olhávamos para eles (alguns bem bebidos) a saltar, a cantar e a dançar e ficávamos ainda mais afectados negativamente. A gritaria aumentava à medida que nos aproximávamos. E logo que a lancha se aproximou da margem (esquerda) do Rio Geba, eles vieram, como malucos, lançados pelo ar e cairam em cima de nós. Alguns estavam tão descontrolados que não respeitavam ninguém e empurravam-nos borda fora, aos gritos contínuos de “fora daqui periquitos” e de “o barco é nosso”, para além de alguns cumprimentos insultuosos “à moda do Puerto”. E foi assim durante todo o tempo em que decorreu o desembarque.

Na barcaça subindo o Geba para Bambadinca (Machado, Silva e Faria)

Pouco tempo depois fomos despejados em Fá Mandinga, sem palavras e sem ânimo para reagir. Sentíamos um aperto tão grande nos corações que nos deixava (quase) imobilizados.
Os pensamentos eram incontáveis e metralhavam constantemente a cabeça. Sem experiência de tanta pressão, revia o passado recente como filmes entrecruzados uns nos outros, cheios de problemas pendentes sem solução à vista e um futuro de incertezas, sobrecarregado de prováveis fatalidades.

Fá > Sentado - Triste

Com o calor, não conseguia adormecer. Sentei-me no degrau de cimento à entrada dos quartos, respirei fundo algumas vezes, olhei para o céu de estrelado diferente e tentei baixar aquela pulsação de cavalo que não me largava há mais de uma semana. Procurei ordenar tudo dentro da minha cabeça, desde as “não despedidas” de casa e dos amigos e do adeus de Viana do Castelo. E, então, pensava: - Que grande filme!


Domingo, dia 23 de Abril de 1967.

Acreditei que o lisboeta Machado, que acabara o seu serviço de Sargento-de-Dia e porque não se iria ausentar, poderia aguentar o meu turno, iniciado às 8:00. Os meus amigos Bernardino e Isilda foram levar-me e aproveitamos para almoçar juntos no Restaurante Naval, ao lado da ponte Eiffel sobre o rio Lima. Os pais da minha futura mulher não autorizaram que ela me acompanhasse até Viana do Castelo. O Bernardino, aguardava a chamada para a tropa e ela esperava o seu namorado José Ribeiro (Inhecas), irmão do Bernardino, quase a regressar da Guiné, para casar no dia 6 de Maio. Faria um mês de férias. - Quando te encontrares com ele no dia 1, em Bissau, não te esqueças de lhe dizer que venha rapidamente – dizia ela – porque tenho muitas saudades dele.

José Ribeiro e namorada em Esmoriz, durante as férias de embarque para a Guiné (fim do verão 66). Eu seguiria para os Rangers

Fui ao quartel do Castelo da Barra, onde estávamos aquartelados, Estava tudo muito calmo e, segundo me disseram, o Machado não tinha lá estado, mas não sentiram a falta do Sargento-de-Dia. Estavam muito poucos militares no quartel, pois era do último Domingo na Metrópole. Fui para a casa da praça que havíamos alugado e fui preparando as minhas coisas, para os dias seguintes – os dois últimos em Viana do Castelo.


Segunda-feira, dia 24 de Abril de 1967

Fomo-nos reencontrando em casa e no quartel, à medida que o tempo passava. Seguimos para a Parada e reparamos que ninguém tinha arma, porque o quarteleiro ainda não tinha aparecido. Batemos à porta onde ele deveria estar, insistimos, insistimos até a rebentar. Estava enforcado, pendurado pelo cinto, amarrado aos ferros da cama superior do beliche, fardado, mas sem botas.
Como eu não tinha participado qualquer falta nas refeições ou na formatura do recolher, levei com um processo, que me trouxe algumas chatices.


Terça-feira, dia 25 de Abril de 1967

Já havia uns tempos que tínhamos (eu e mais alguns) sido promovidos a Furriel. Porém, como ninguém nos dizia nada, passei a andar sem as divisas de Cabo-Miliciano. Como estava a comandar o Pelotão na formatura geral, o Capitão notou essa pequena anomalia. À frente de toda a gente, obrigou-me a ir buscar a identificação da graduação militar. Como eu não pensava utilizá-las na guerra (“coisas” herdadas dos Rangers) também não as tinha comprado. Valeu-me o Sargento Bigodes, que me emprestou umas divisas de fundo negro, para logo aparecer promovido diante de toda a atenção da Companhia (o que também não agradou ao Cmdt).

O Capitão comandante da CCS, conhecido por “Ternicotim-Ternicotão”, fez-se de instrutor do processo do enforcado quarteleiro e veio chamar-me. Ninguém se faz pelas suas próprias mãos mas, para mim, um homem de metro e meio, nunca deveria sacrificar-se, voluntariamente, entregando-se ao ridículo entre tantos jovens de estatura normal e avessos à guerra. A dada altura, face às minhas incertezas sobre o suicídio, já me interrogava como se eu fosse o possível assassino. Como eu não correspondia à importância que ele desejava atribuir ao processo, chegou a dizer-me:

- Você é indigno do posto que ocupa nas nossas Forças Armadas!

Nunca mais liguei com essa coisa rara, chamada de “Ternicotim-Ternicotão”.

Tive ainda tempo para fazer algumas compras e ir buscar as fotos que tinha tirado num estúdio fotográfico, perto da nossa residência. Porque gostaram do trabalho, ampliaram a minha foto, encaixilharam-na e colocaram-na na montra. Digamos que me favoreceram de tal maneira, que nem parecia eu.

Foto que esteve em exposição na montra do fotógrafo de Viana do Castelo

Era grande a azafama, porque estava programado sairmos à meia-noite.


26 de Abril de 1967

Depois das respectivas chamadas e algumas esperas, deslocámo-nos para a Estação dos CF, onde nos esperava um comboio especial.
Penso que eram cerca de 2h30 quando o comboio arrancou lentamente, depois de uns apitos lancinantes que pareciam chamar-nos para a morte. Ouviam-se choros e gritos, misturados com a cadência crescente do ruído característico dos comboios. À nossa direita, víamos as pessoas nas varandas e janelas, em pijama, a acenar-nos num último adeus. Gostei muito de Viana do Castelo e esta imagem marcou-me sentimentalmente.
(No meu primeiro Domingo, após o regresso, fui com o meu maior amigo, o Inhecas, já tetraplégico, a Viana e corri tudo, inclusive o cume do monte que liga Sta. Luzia a Vila Praia de Ancora).

Cansado, já dormitava no comboio quando parámos em Campanhã. Ouviam-se gritos enormes de jovens, namoradas, mulheres e mães dos militares. Foram mais de 15 minutos para arrastar dos trilhos do comboio algumas dessas pessoas desesperadas. Mal me apercebi desse espectáculo horroroso, fechei os olhos e tapei os ouvidos, para suavizar tais memórias.
O resto da viagem, até Lisboa foi de um silêncio arrasador. Apenas o tac – tum , tac-tum, tac-tum, tac-tum… das rodas do comboio nos martelava a cabeça. Ao amanhecer assistiamos ao movimento das pessoas e viaturas mais ou menos automatizadas, que não reparavam, nem se apercebiam do nosso ingrato destino.

O navio Uíge estava perigosamente inclinado para o cais. Os militares colocaram-se todos do mesmo lado da embarcação, enquanto se ouvem os seus apitos agoirentos a anunciar a largada. Todos querem ver, pela última vez, as pessoas a acenar e a augurar-nos um bom regresso. Imagens dramáticas de tanta gente a gritar e a acenar o adeus, enquanto que outras desmaiavam ou desesperavam vendo os seus entes queridos a afastarem-se para irem para a guerra. Quase todos choravam e outros, como no meu caso e de alguns dos meus amigos, fazíamos tudo para que parecesse divertido. Porém, as lágrimas também não nos largavam.
Não demorou muito tempo e já estávamos sentadinhos à mesa a ser principescamente servidos. O pior foi que a malta não estava habituada ao baloiço do barco e logo havia enjoos e, uns a seguir aos outros, a correrem, de boca fechada, para as casas de banho. Depois, foram três ou quatro dias de lazer e de muita escrita amorosa. Lembro o Mariz, que havia prometido escrever todos os dias uma carta para a sua namorada, em Anadia.

Primeiro almoço no Uige > Rodrigues, Machado, Mariz, Valente, Miranda, Silva, Belmiro e Campos

Raiou o dia 1 de Maio de 1967. O barco parou longe do cais. O que se via era muito pouco e não se distinguiam bem as pessoas ou as coisas de menor dimensão. Apenas um aglomerado de casas baixas, misturadas com algumas árvores. Pensei que o meu amigo Inhecas, que vinha de férias para casar, lá estivesse à minha espera conforme havíamos combinado. Porém, não o vi, porque entrámos directamente do navio para uma embarcação, que nos levaria, pelo Rio Geba acima, para o interior, para Bambadinca.

- Que se passa, Silva? Estás bem? – Perguntou o Campos, Vagomestre da Companhia, que se aproximou, vindo de trás. Respondi-lhe:

- Sei lá. Estou tão atordoado e tão triste que não auguro nada de bom. Ao que ele respondeu:

- Eu também sinto um aperto que receio que me dê alguma coisa. Não me sai da cabeça a minha Rosita a despedir-se e a chorar lá em Viana. Também não me sai da cabeça aquela loucura dos gajos que nos esperavam. Fiquei sem nada, levaram-me os sacos. E ao Capitão, também levaram um. Voltei eu:

– Se me dissessem para eu regressar, ficaria louco de alegria, de certeza absoluta. Respondeu ele:

- Olha vamos ali ao depósito de géneros que há lá qualquer coisa fresca para nos acalmar. – E pondo-me a mão nas costas, concluiu: - Se um dia isto começar a correr mal, fugimos para a Bélgica, para junto do meu irmão, que já lá está à minha espera.

Silva da Cart 1689

Nota: Cinco dias depois, 6 de Maio de 1967 (dia anunciado para o seu casamento), quando recebi a primeira correspondência, fui informado que o meu maior amigo (José Ribeiro) havia levado um tiro na coluna, na noite de 29/30 e que fora evacuado para Lisboa.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8393: Convívios (343): A CART 1689 comemorou os 44 anos da chegada à Guiné no dia 30 de Abril de 2011 na Póvoa de Varzim (José Ferreira da Silva)

Vd. último poste da série de 10 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8078: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (7): Operação Inquietar II - Manga de Ronco

Guiné 63/74 - P8465: Agenda Cultural (138): 16.º Aniversário da AORN, Comemorações e apresentação do Anuário da Reserva Naval, 1976-1992

16.º Aniversário da A.O.R.N. - Associação dos Oficiais da Reserva Naval –, Comemorações e apresentação do Anuário da Reserva Naval 1976-1992
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Nota de M.R.:


Guiné 63/74 - P8464: Estórias avulsas (53): Encontro de Camaradas (Mário Fitas)


1. O nosso camarada Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763, “Os Lassas” - Cufar -, 1965/66, enviou-nos a seguinte mensagem.

Camaradas,

É bom recordar!

Vamo-nos recordando dos familiares, dos amigos dos tempos já há muito idos, e, dos mais actuais, que com empatias vamos encontrando.

Conforme o tempo vai passando, mais agradáveis são esses encontros, com os verdadeiros homens bons, com quem nos cruzamos, por vezes sem contarmos ou fazermos grandes planos.
Trago-vos aqui em imagens, mais do que com palavras, um desses encontros, mas... não teria interesse, se não vos descrevesse como essa tal empatia e amizade apareceu entre nós.
É verdade Rui! Começou com dois livros, não foi?
O teu “Rumo a Fulacunda” e o o meu “Pami na Dondo”, fizeram o começo da nossa amizade. Depois foram os encontros, as conversas, o nosso amigo comum - Cor Piçarra Mourão -, meu companheiro de criança e teu camarada.
Também escreveu sobre aquela bonita terra da Guiné. São interessantes os seus dois livros sobre a Guerra: “Guiné Sempre” (com a sua CART 1500, em Bissorã) e “Da Guiné a Angola”.
Fui ver um espectáculo de minha filha ao Teatro Viriato. Ir a Viseu e não falar ao Rui era obra.
Peguei no telemóvel e vá de contactar e saber do Rui. Do outro lado bem-disposta e alegre surgiu a voz do Rui:
- Onde estás?
Informei!
- Não saias que vou já aí!
Passados dez minutos o Coronel Rui Alexandrino estava ao pé de mim e minha mulher.
- É pá quero-te mostrar a minha Tabanca!
E lá fomos falando da vida até à Tabanca do Rui.
Foi maravilhoso como ele se deliciou a contar e a mostrar a sua bela Tabanca, ajudado por sua simpatiquíssima esposa Dª Adelaide que nesse dia era aniversariante.
Agora vejam! Seria melhor em filme, mas deixo-vos as fotos do nosso querido Rui. A história dos macacos ele que a conte.
Recordações do Rui na sua caminhada.

D. Adelaide, simpática esposa do Rui e aniversariante nesse dia, nas suas diversas etapas de vida.
A vida dos Grandes Homens, são dignas de reconhecimento.
O Rui no seu gabinete, a sua "tabanca" como ele lhe chama.
Um abraço para o Rui e para toda a Tabanca,

Um abraço,
Mário Fitas

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763
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Nota de M.R.:
Vd. o último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P8463: Convívios (357): 2º Encontro Convívio de Lanceiros PM / PE

1. Recebemos do nosso Amigo e visitante, Nuno Esteves Nuno Esteves, Sold PE 1º Turno 94, o pedido de divulgação do seguinte programa.

Como no Teatro de Operações da Guiné, houve várias Companhias e vários Pelotões PM a operar, o meu pedido insere-se no âmbito de conseguir alcançar mais camaradas de armas que pertenceram a essas subunidades.

Em caso de resposta afirmativa, segue o programa do evento:

Sem mais a solicitar, apresento desde já os meus melhores cumprimentos.

Nuno Esteves
Sold PE 1ºTurno 94.

2º Encontro Convívio de Lanceiros PM / PE

Data da realização do evento: 22 de Outubro de 2011
Hora de inicio: 11h00
Local: Évora, Restaurante Páteo Alentejano
Inscrições e informações: appalppamous@gmail.com
Organizador do evento: Luís Almeida
Texto do Evento: Vai realizar-se o 2ºEncontro Convívio de diversas gerações de Lanceiros Policia Militar/Policia do Exército desta feita em Évora.
O evento terá lugar no Restaurante Páteo Alentejano às 11h00 do dia 22 de Outubro de 2011.
Menu do almoço:
Entradas: Pão, Queijo, Azeitonas, Salgadinhos, Entremeada na brasa e Gambas.
Sopa: Puré de Espinafres.
Pratos Quentes: Bacalhau à Páteo + Migas de espargos c/Lombo Grelhado.
Sobremesas: Pudim Flan/Salada de frutas.
Bebidas: Vinho Branco e Tinto da região, cerveja, sumos e água mineral, Café, Bagaceira, Amêndoa amarga e whisky.
Lanche (17h00):
Linguiça assada na brasa, Sopa de feijão c/hortaliça e febras c/batatas fritas.
Música ao vivo.
Preço por pessoa: 22,50 Euros
Inscrições através do e-mail: appalppamous@gmail.com
Até 08-10-2011.

Guiné 63/74 - P8462: O fim da picada: o reconhecimento do DFA (1): Os anos cansam e a burocracia enfada (Hugo Gerra, Cor DFA Ref)

1. Mensagem do nosso camarada Hugo Guerra [, aqui na foto à esquerda, quando jovem alferes, no da Guiné[], com data de ontem:


Data: 22 de Junho de 2011 17:58

Assunto: O Fim da Picada...armadilhada

Caros camaradas e amigos

Quando há umas semanas foi publicado no blogue um artigo sobre a realidade actual dos processos para considerar os ex-combatentes como DFA [Deficientes das Forças Armadas], salvo erro da lavra do Pereira da Costa (peço desculpa se não foi), fiquei de orelhas arrebitadas e com vontade de escrever qualquer coisa sobre o assunto.

Meio a brincar meio a sério, porque o assunto é melindroso, gostava de deixar agora o meu testemunho, que reflete um exemplo de muitos casos que conheci.

Sem tecer comentários.

Cronologicamente relatando "o fado" de um militar:

1969 ago 28 - Evacuação do HM Bissau para o HMP em Lisboa, pela Psiquiatria;

1969 nov 27- Presente à Junta Hospitalar Millitar; não é atribuida qualquer desvalorização;


1970 mai 08- Doença considerada adquirida em serviço de campanha;


1977 fev 22 –Requerimento do interessado a solicitar atribuição de desvalorização;

1980 abr 29-Indeferimento do requerimento,por já ter outra desvalorização;

2004 mai 05 – Clínica de Psiquiatria decide iniciar processo por Stress Pós Traumático (PTSD);

2005 jan 14 – Convocado para prestar declarações em Processo Sumário, tendo sido ignorado o que fora levantado em 1969;

2005 fev 10 – Ouvido em declarações, apresentando de novo as mesmas testemunhas já ouvidas em 1969

2010 mar 01- Processo segue da Secção de Justiça para Direção de Saúde;

2010 jun 10 – Autorizada a JHI no HMPrincipal;

2011 abr 11 – Recebe Guia de Marcha para Consulta;

2011 mai 18 – Consulta para atribuição de desvalorização, da doença porque fora evacuado da Guiné em 1969;

2011 jun 21 – Presente à JHI com atribuição de 30% de desvalorização, a somar aos 67% que tinha por ferimentos em combate;

O que se vai seguir não sei e, para ser franco já nem me interessa. Os anos cansam e a burocracia enfada.

Por mim,  missão cumprida. O Estado Português que fique com a indemnização que considero devida desde 1969.

Preocupam-me os nossos camaradas que padecem no corpo ou na mente as mazelas da guerra; será que têm pedalada para aguentar, ou dito de outra forma, será que merecem este tratamento?

Realcei as datas mais "interessantes" pelos anos decorridos entre cada evento.

Fiquem com um abraço grande do
Hugo guerra

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8461: Tabanca Grande (291): Teresa Reis (1947-2011), foi aos nossos quatro primeiros encontros, e falhou o último, o VI, porque teve um encontro inesperado com a morte... Hoje vela por nós, sob o nosso sagrado, secular, mágico, frondoso, fraterno poilão...


A Teresa em 1972...no ano (e não sei se no dia) do casamento...


O Humberto, com o carro do pai, e a namorada Teresa, em meados de 1970, nas suas férias da Guiné





Fotos do álbum de Humberto &  Teresa Reis (1947-2011)... A foto a cores é de 1972... As outras são de meados de 1970... quando o Humberto veio de férias, da Guiné...  Na missa do 30º dia, pedi ao Humberto  que me arranjasse, com tempo e vagar,  uma foto da juventude da Teresa e deles dois enquanto casal... Ele mandou-me,  logo a seguir, várias fotos, com muita satisfação, para os seus camarigos verem como era a Teresa no "esplendor da sua juventude"... 


Natural do Porto, era vizinha do Humberto no Bairro das Encarnação, em Lisboa, onde os pais de ambos viviam. Jogava basquetebol. Conheceram-se e namoraram-se ainda antes do Humberto ir para tropa e,  depois, para a Guiné.  Conheci-a, já noiva do Humberto depois do nosso regresso da Guiné, em Março de 1971... Passámos um memorável fim de semana, na Lourinhã, uns tempos depois, com o casal Tony Levezinho e a Isabel (que tinham casado a meio das férias, em 1970).  Eu, o Tony e o Humberto eram bons amigos e camaradas na CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Connheci-os, ao Humberto e ao Tony,  em Santa Margarida...

Mas foi sobretudo com o blogue que eu e a Alice nos aproximámos mais do Humberto e da Teresa...  Éramos vizinhos de Alfragide, desde meados dos anos 80. Por outro lado, as nossas filhas mais velhas ainda andaram na escola juntas. De tempos a tempos encontrávamos-nos no mercado ou no café, aos sábados, aproveitando para darmos, eu, a Alice, o Humberto e a Teresa, dois dedos de conversa... A última vez, pouco tempo antes dela morrer, o Humberto estava radiante por levar a Teresa a comer o seu peixinho grelhado na Ericeira. Ela adorava sair de casa e passear até ao mar...  Estávamos longe de imaginar que nesse sábado íamos despedirmo-nos da Teresa, para sempre...


A Teresa foi sempre uma presença afável, simpática, discreta,  nos encontros da nossa Tabanca Grande, desde o primeiro, na Ameira, Montemor-O-Novo, em 2006. Falhou o V, em Monte Real, em 2010. Estava inscrita para o VI, este ano. A morte, cruel, antecipou-se ...

Também fazia questão de estar presente nos encontros da malta de Bambadinca (o primeiro em 1994, em Fão, Esposende)... Julgo que ela e o Humberto não falharam os 14 primeiros encontros anuais da CCS/BCAÇ 2852 e da CCAÇ 12, falharam o 15º, em Castro Daire, em 2009... Tudo isto, apesar dos problemas de saúde  da Teresa que de há muito se haviam tornado crónicos.  Estava reformada,  há bastante tempo, da Rádio Televisão Portuguesa (RTP). 


A Teresa entrou, com toda a justiça, para a nossa Tabanca Grande, qual Inês, depois de morta... Será também um dos nossos irãs bons, tutelando, vigiando e abençoando o sagrado, secular, fraterno,  frondoso, mágico poilão da  Tabanca Grande onde nos abrigamos... Vai-nos custar a habituarmo-nos à sua ausência física, à falta da sua alegria e bondade. 


Esperamos com este pequeno gesto ajudar o querido amigo e camarada Humberto bem como as suas filhas e os seus familiares e amigos a suavizar a dor desta perda brutal. Até sempre,  querida amiga Teresa. Vela por todos nós, onde quer que estejas.


Fotos : © Humberto Reis (2011). Todos os direitos reservados.

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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8351: Tabanca Grande (290): Aura Emília Rico Teles, ex-Tenente Enfermeira Pára-quedista (1963/1984)

Guiné 63/74 - P8460: As mulheres que, afinal, foram à guerra (17): Público, Cinecartaz: Críticas dos leitores


Cartaz publicitário > Foto do mural da página do filme no Facebook (na imagem a nossa camarada Giselda Pessoa)


1. Três apreciações do filme > Publico > Cinecartaz > Críticas dos leitores (Aqui reproduzidas, com a devida vénia) (*)

Quem vai à Guerra
De: Marta Pessoa
M/12

Carlos Vinhal > Quem vai à Guerra


Filme recomendado principalmente às gerações pós-guerra colonial que, já não tendo de participar nela, felizmente, a ignoram completamente. Este filme deveria ter incidido mais no que passaram as mulheres na retaguarda, as que ficaram cá, já que as que acompanharam os maridos foram uma minoria e raramente para a frente de guerra. As mulheres dos ex-combatentes sujeitos ao stress pós-traumático de guerra são umas heroínas. O mesmo podemos dizer das nossas Enfermeiras Pára-quedistas, as únicas no mundo que faziam evacuações a partir dos locais de flagelação.
Os meus parabéns à jovem Marta Pessoa.

Carlos Vinhal
Ex-Fur Mil
Guiné, 1970/72

Publicada a 16-06-2011 por Carlos Vinhal

Afonso Braz > Essa outra guerra


Documentário sensível sobre a experiência das mulheres na guerra colonial (e na ditadura de Salazar). A partir dos testemunhos de dezenas de senhoras num cenário de devastação (e coisa inacabada), de fotografias pessoais e imagens de arquivo, o filme oferece-nos uma ideia feminina da guerra. Um olhar subtil e generoso, que nos leva do sorriso ao nó na garganta. Um filme despojado, sobre os despojos da guerra colonial portuguesa.

Vale a pena ver!

Publicada a 20-06-2011 por Afonso Braz

 
Luis Graça & Camaradas da Guiné > O luto da guerra colonial

Portugal nunca fez (ou está agora a fazê-lo, tardia e lentamente) o balanço (global) de uma guerra que, contrariamente a outras (invasões estrangeiras, guerras civis...) se passou a muitos milhares de quilómetros de distância da Pátria, em regiões tropicais. Portugal nunca fez o luto da guerra colonial (ou está agora fazê-lo, tardia e lentamente). Mas o mesmo se passa com os novos países que combateram o exército colonial português e que, depois das suas independências, se viram envolvidos em guerras civis (Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Timor)...

Cinquenta anos do início da guerra colonial (em 1961, em Angola), tem vindo a aumentar a literatura memorialista, a produção ficcional, a produção bloguística, a investigação científica, o interesse dos media (cinema, televisão, imprensa escrita) pela guerra colonial...


Também por isso este filme merece ser visto... São vozes e olhares femininos, os das nossas mulheres que "foram à guerra", de muitas maneiras... Além do mais, é um filme independente, documental, português, nosso...

Publicada a 21-06-2011 por Luis Graça & Camaradas da Guiné

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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de Junho de 2011 >  Guiné 63/74 - P8429: As mulheres que, afinal, foram à guerra (16): Em dia de estreia do filme Quem Vai à Guerra, em Lisboa, Porto e Aveiro: Pequenas histórias da História com H grande (Marta Pessoa / Clementina Rebanda / José Martins)

Guiné 63/74 - P8459: (Ex)citações (142): Em defesa do Hospital Militar Principal (Armando Pires, ex-Fur Mil Enf, CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70)

  1.  Comentário, de hoje,  do Armando Pires ao Poste P8455 (*) [ O nosso camarada Armando Pires foi Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70]


Conheci o Hospital Militar Principal, à Estrela, e o Anexo, na Rua de Artilharia Um, a Campolide, em dois momentos diferentes da minha carreira militar: primeiro como internado (Março a Maio de 67) e a seguir como enfermeiro (Junho/67 a Outubro/68).

 Em Outubro iniciei a formação do Batalhão  [BCAÇ 2861] e em Fevereiro parti para a Guiné. 

Vamos ao Hospital. 

(i) A Estrela [HMP], após o início da guerra, foi equipada  com o que de melhor havia e nela trabalhava obrigatoriamente a nata da classe médica portuguesa. 

(ii) O Anexo de Campolide funcionava como centro de recuperação para os mutilados, para os necessitados de apoio psiquiátrico e psicológico, também como linha de apoio a várias especialidades médicas da chamada "medicina geral", e ainda como "depósito de feridos ou doentes de guerra" em regime ambulatório PORQUE ERA PRECISO CRIAR VAGAS PARA OS CASOS MAIS GRAVES NO HOSPITAL PRINCIPAL. 

Sim, têm razão quase todos os comentários que aqui foram produzidos sobre o Anexo. Decrépito, sem dignididade hospitalar, refeitório de miserável qualidade alimentar e roupas militares próximo da indigência humana. 

Mas, atenção, o chamado serviço 6, no topo norte do Anexo, onde eram recebidos para convalescênça os mutilados, era um lugar à parte. DIGNO. E já agora o pessoal. Por favor, não confundir os militares que ali eram colocados em serviço de linha com o pessoal médico e enfermeiros.

Sim, de acordo, o Director era uma besta! 

E já agora, nada de exageros. Ali não eram despejados cadávares e feridos. Os mortos tinham uma capela enorme para os manter em ambiente de dignidade antes dos funerais. Os feridos iam sempre, em primeiro lugar, ao Hospital Principal. 

Muito, mas muito, haveria para dizer. Mas este é apenas o espaço de comentário e pareceu-me haver aqui algum exagero e alguma injustiça. Só isso. As minhas desculpas e o meu abraço camarada.

Armando Pires (**)
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Notas do editor:


(*) Vd.poste de 21 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8455: Memória dos lugares (156): Texas, o anexo do Hospital Militar Principal, na Rua da Artilharia Um, em Lisboa (Carlos Rios / Rogério Cardoso / Jorge Picado / António Tavares)

Guiné 63/74 - P8458: Parabéns a você (276): António José Pereira da Costa, Coronel Reformado na efectividade de serviço, Guiné 1968/69 e 1972/74 (Tertúlia / Editores)

Postal de autoria do nosso camarada Miguel Pessoa, particular amigo do nosso aniversariante


PARABÉNS A VOCÊ

DIA 22 DE JUNHO DE 2011

ANTÓNIO JOSÉ PEREIRA DA COSTA

NESTE DIA DE FESTA, A TERTÚLIA E OS EDITORES VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR AO NOSSO CAMARADA PEREIRA DA COSTA AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE, JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.

Monte Real, 4 de Junho de 2011 - VI Encontro da Tabanca Grande - O Coronel António José Pereira da Costa e sua esposa Isabel, companheira de campanha mesmo no interior da Guiné.
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Notas de CV:

António José Pereira da Costa, Coronel Art na reserva, (na efectividade de serviço), foi Alferes na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69 e comandante da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1972/74

Vd. último poste da série de 21 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8453: Parabéns a você (275): António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 e CCAÇ 6 (Tertúlia / Editores)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8457: Álbum fotográfico de Osvaldo Colaço (1): Catió

1. Mensagem de Osvaldo Colaço Pimenta*, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3566, Empada e Catió, 1973/74, com data de 14 de Junho de 2011:

Caro Vinhal
Sobre as datas dos encontros farei parte da maioria. Também tenho mais dois encontros anuais mas as opções serão tomadas na altura (esperemos que não coincida nenhuma).

As instalações foram muito boas, a ementa satisfatória, e o serviço bom.

Não tenho sugestões, apenas que nos encontremos muitos e bons anos.

Aproveito a oportunidade para te mandar algumas fotos do meu espólio da Guiné.

Na próxima quarta-feira 29 de Junho tenho previsto ir almoçar ao Milho Rei (Tabanca de Matosinhos)

Aquele abraço
Osvaldo Colaço


Álbum fotográfico de Osvaldo Colaço (1) - Catió













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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 25 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 – P5009: Efemérides (24): Em 24 de Setembro, Independência de jure da Guiné-Bissau (Osvaldo Colaço - CCAÇ 3566)

Guiné 63/74 - P8456: Notas de leitura (249): A Guerra de África 1961 - 1974, por José Freire Antunes (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Junho de 2011:

Queridos amigos,
É uma oportunidade ler esta obra, há muito esgotada. Estamos agora no segundo volume, recentemente dado à estampa. Vale a pena ler Diogo Neto e Silva Cunha na íntegra, bem como apreender a essência do pensamento e acção de Spínola nos primeiros anos na Guiné, está ali tudo publicado. Temos depois Carlos Fabião, Alpoim Calvão, várias operações, depois Luís Cabral e, por último, Marcelino da Mata, um dos guerreiros do Império.


Um abraço do
Mário


A guerra de África, segundo volume, por José Freire Antunes

Beja Santos

No âmbito do cinquentenário do início da guerra em Angola, volta-se a publicar o mais completo levantamento de testemunhos de personalidades que por qualquer razão tiveram uma acção relevante à volta dos acontecimentos, entre 1961 e 1974 (“A Guerra de África”, por José Freire Antunes, segundo volume, Círculo de Leitores, 2011).

Muitos dos protagonistas ouvidos neste segundo volume têm directamente a ver com o teatro de operações da Guiné: é o caso de Franco Nogueira, de Diogo Neto, de Silva Cunha, de Carlos Fabião, Alpoim Calvão, Luís Cabral e Marcelino da Mata. Como se compreenderá, dada a riqueza destes depoimentos, haverá um desdobramento dentro da recensão.

No caso de Franco Nogueira, não é sobre o seu posicionamento enquanto defensor da política externa que aqui cabe falar, mas de uma carta que dirige a Marcelo Caetano, em Novembro de 1970, em que o assunto se prende com a libertação depois de longo cativeiro do então sargento aviador António Sousa Lobato. Referindo detalhadamente o seu comportamento íntegro enquanto prisioneiro de guerra, recusando sistematicamente a assinar qualquer documento em que se declarasse desertor ou condenasse as “atrocidades” do Exército português.

E expõe o seguinte: “Depois pretenderam obrigá-lo a assinar outro papel em que se comprometesse, quando liberto, a não se alistar mais nas Forças Armadas portuguesas. O Lobato respondeu que, quando fosse liberto, a primeira coisa que faria seria a de se apresentar às suas autoridades militares. Passado tempo, novamente voltaram a insistir: se assinasse um papel comprometendo-se a não combater mais na Guiné, seria solto. Lobato respondeu que, logo que estivesse livre, pediria às suas autoridades militares para combater precisamente na Província da Guiné. Foi sempre da maior firmeza, decisão e patriotismo; e isso em condições morais e de saúde não podiam ser mais precárias e difíceis, raros terão tido um tão alto sentido do dever e uma tão constante e sólida coragem. Penso que o sargento Lobato merece uma alta distinção militar, e que o seu exemplo deveria ser publicamente conhecido e reconhecido”.

O testemunho de Diogo Neto é do maior interesse para o conhecimento dos meios aéreos existentes na Guiné e a evolução da guerra. Oiçamo-lo: “Na Guiné, o PAIGC desenvolveu intensa actividade antiaérea com armas 12.7, quadruplas ZPU 4 de 14.5 e canhões de 37mm sistematicamente atacadas e destruídas pelos Fiat. As armas disparavam de posições preparadas, protegidas por parapeitos, a descoberto, o que facilitava a sua localização. A maior parte dos atiradores era constituída por cubanos, cuja coragem temos de reconhecer, pois aguentavam-se firmes, agarrados às armas (…) Quando o PAIGC começou a ter mísseis Strella, a reacção da Força Aérea foi péssima. O seu aparecimento representou um agravamento neste tipo de luta, exigindo a adopção de equipamentos nas aeronaves para detecção das saídas dos mísseis, o que nunca se verificou (…) Evidentemente que foram afectadas as unidades do Exército que estavam isoladas e que dependiam do apoio logístico dos aviões pequenos e até dos próprios helicópteros. Os pilotos passaram a fazer os bombardeamentos de Fiat acima dos 8 mil pés, o que fazia com que não tivessem tanta precisão. Os aviões de transporte também já não podia voar porque eram um alvo muito fácil. A parte final da Guiné correu mal. O PAIGC tece um incremento muito grande ao nível das acções”.

O ex-ministro Silva Cunha descreve minuciosamente o seu relacionamento com Spínola. Mas surpreende o leitor desvendando um segredo bem guardado acerca das negociações decididas por Caetano, em 1974, o que no ano da primeira edição desta obra (1994) provocou algum alarido pois ratificava o que José Pedro Castanheira tinha publicado no jornal Expresso: “Aquando dos encontros entre diplomatas portugueses e dirigentes do PAIGC, em Londres, eu já não era ministro do Ultramar, era ministro da Defesa. Eu tive conhecimento dos contactos que houve, quando era ministro do Ultramar, entre o general Spínola e gente do PAIGC. Foi o caso daqueles três majores que eu conheci pessoalmente, poucos dias antes de terem sido assassinados. Esses contactos eram do conhecimento de Amílcar Cabral. Estou convencido de que eles foram assassinados por aqueles que depois preparam o assassínio de Amílcar Cabral”.

Depois de falar do seu relacionamento com Spínola e deste ter levantado o problema do colapso militar, diz ter mandado à Guiné o general Costa Gomes que quando regressou lhe afirmou que a Guiné era perfeitamente defensável desde que se mudasse o dispositivo”. Não explicou qual era a mudança do dispositivo, há uma referência no livro com a entrevista concedida pelo marechal Costa Gomes à historiadora Manuela Cruzeiro, é referido que estava previsto o abandono de todas as posições ao alcance dos foguetões e dos morteiros 120, a verdade é que não se conhece nenhuma historiografia que diga explicitamente em que consistia esta mudança do dispositivo e quais as suas consequências sociopolíticas no abandono das povoações.

Por fim, refere Silva Cunha: “Conseguimos artilharia em Israel, porque uma das coisas que se queixavam na Guiné era que a artilharia deles tinha alcance superior ao da nossa. Conseguimos os Red Eye, mísseis terra-ar individuais, na Alemanha. Não sei quem os vendia, só sei que eles nos forneciam 500 Red Eye americanos. Aí, também houve influência do Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas indirecta. Esteve no meu gabinete o general Étoile, que era quem superintendia na venda dos aviões Mirage, e que nos fez uma oferta de Mirage, pondo como única condição ficarem com base em Cabo Verde. Eu disse-lhe: “Não preciso dos Mirage em Cabo Verde, mas na Guiné”. Ele respondeu: “O senhor sabe muito bem como é que isso se faz depois”. Oficialmente, os Mirage não podiam ter base na Guiné. Eu não sei se, depois do 25 de Abril, o material veio ou não”. Trata-se de um longo depoimento, abundam críticas em várias direcções, Kaúlza e Spínola são directamente visados.

Com o título “Spínola em Bissau, as armas e a razão”, José Freire Antunes publica um conjunto de directivas secretas, foram fundamentais no início do seu mandato e incluem: a retirada de Madina do Boé, a remodelação do dispositivo à volta da Aldeia Formosa, bem como em Sangonhá e Canatanhez, retirada da companhia instalada na ilha do Como, etc. e procede a críticas, do tipo: “Dos vários relatórios da acção que tenho lido, de relatos verbais feitos por comandantes de subunidades e por praças feridos em combate, conclui que na generalidade as NT cometem erros graves frente ao IN, de que resulta: não se cumprirem integralmente as missões; um gasto exagerado de munições, um aumento desnecessário de baixas; e, em consequência, um muito sensível abaixamento moral das NT que, na generalidade, se encontram complexadas perante um IN melhor armado e manobrador”. Trata-se de um extenso conjunto de documentos que comportam diferentes orientações, chegando mesmo ao procedimento a ter para com os informadores secretos da PIDE.

A próxima recensão começará com o depoimento de Carlos Fabião, seguramente um dos oficiais que melhor conheceu a Guiné em todo o período da guerra.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8434: Notas de leitura (248): Eis a Guiné! Breve notícia da sua terra e da sua gente, de Fernando Rogado Quintino (Mário Beja Santos)