quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15254: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (XVII Parte): Fima, enfermeira do Partido; Cassaprica e Correspondência

1. Parte XVII de "Guiné, Ir e Voltar", enviado no dia 14 de Outubro de 2015, pelo nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489, Cuntima e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67.


GUINÉ, IR E VOLTAR - XVII

Fima, enfermeira do Partido 

As cordas apertadas demais, os pulsos a inchar, amarrados atrás das costas. Tinha acabado de ser apanhado pelos tugas, ainda nem sabia como, e logo a ele é que deveria acontecer. Como comandante do acampamento, sempre fora muito rigoroso com os homens que estavam sob o seu comando, sempre exigira que se deslocassem separados uns dos outros, que parassem de vez em quando, escutassem a mata e só depois voltariam a caminhar. E afinal, fora apanhado desprevenido, sem arma, sem nada. 

Viera a semana passada1 dos lados de Sano no Senegal. Muito cansado. Estivera com os camaradas do sector, os dias pelas noites fora, analisaram o trabalho do mês, cada um apresentou o seu trabalho, as emboscadas que fizeram, as minas que plantaram, os ataques aos quartéis da tropa. 
Tinham feito o balanço da situação em cada zona, leram em voz alta as directivas do camarada secretário-geral, as orientações gerais para a luta, a referência expressa à luta dos povos da Guiné e Cabo Verde, para a independência nacional, para a libertação, nunca contra o povo português, juntos na mesma luta contra o colonialismo e o imperialismo, depois as orientações locais, o plano para o mês, não descansar a tropa, escrever papel para deixar junto aos quartéis deles, para desmoralizar, e a ordem para mudar, outra vez, o acampamento de Uália. 
Enquanto regressava com os camaradas, ia pensando nos locais, escolheu o melhor, bem dentro da mata, uma centena de metros a seguir à bolanha, um barraco junto a esta para vigiar tudo em volta. 
Sacos de arroz, mancarra, bicicletas, cunhetes de munições, armas, tanta coisa, casas às costas, tão pouca gente, precisaram mais que uma vez.

Acampamento da guerrilha. Foto de Knut Andreasson. Com a devida vénia. 

Tinha acabado de cavar um abrigo, precisava de se lavar. Fora à bolanha para tomar banho e trazer água.
Viu-se cercado por dois soldados de arma apontada, sem saber como, os tugas emboscados ali mesmo, os garrafões na mão dele, que a tropa tinha deixado em Morés da última vez.

Abriram-me a boca à força, eu não sabia para quê, um lenço preto nos dentes, atado na nuca, outra vez que me levantasse, sem palavras, corda nos pés, uma à cintura presa ao soldado fula. 
Tropa diferente esta, não era a que estava habituado a ver passar. Sem emblemas, sem anéis, sem fitas que os outros tugas trazem sempre ao pescoço, ronco nenhum, sem capacetes até, aquele tem barrete diferente, caras pintadas de preto, nunca vira tropa assim. 
Estranhos, calados, o cano das armas deles também têm olhos, vêem por ele, para a esquerda, para a frente, para a direita, aquele está sempre a olhar para as árvores, tudo muito devagar, assim é mais difícil camaradas vê-los. 
Vi-os à frente, no carreiro para Uália, nosso pessoal descuidado a esta hora da manhã, sem aviso, pode ser uma desgraça, tanto trabalho para nada. Todos não estão, felizmente, mandei pessoal para Mansabá, dois para montar mina e mais dois para segurança. 
Aquelas bajudas com os cestos à cabeça vão ser apanhadas, gritai, gritai com toda a força que puderdes, mais alto, mulheres do PAIGC, glória da nossa luta, assim, para camarada ouvir! 
Os tugas todos a correr, o traidor fula amarrado a mim, não deixa andar, se eu pudesse! Aquelas crianças ali também! 
A enfermeira de Morés? A mulher do Ramos, do Pedro Ramos com a criança às costas?! Porque não fugiu? Não, não lhe façam mal, ela trata do nosso pessoal da luta, faz curativos só, os tugas não me ouvem, lenço não deixa.

Enfermaria do PAIGC. Foto de Knut Andreasson. Com a devida vénia. 

Não sei, não tenho nada para dizer, meu nome é Fima2, sou enfermeira, não falo nada de guerra, trato de feridos só, não pode mexer nesse papel, é carta de meu marido, ouviu? Não pode tirar bilhete de meu marido, não pode! Tenho filhinha às costas, não vê? É hora de ela mamar, deixa!

Bilhete encontrado em poder de Fima Siga 
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Notas
1 - Adaptado do depoimento do Prisioneiro.
2 - Informações posteriores confirmaram que um dos capturados era uma enfermeira da base de Morés e mulher de Pedro Ramos, comandante da guerrilha.
3 - Uma ou duas semanas depois houve informação sobre queixas que terá apresentado sobre a forma como terá sido tratada no momento da captura.

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Cassaprica 

Ofegante, braços cruzados, calada, a exigir respostas. Já não tenho novidades, é?
Olhos, uns olhos grandes, agora cinzentos, brilhantes, húmidos, silêncio, tréguas.
A força das mãos nos braços dele, os olhos a exigir-lhe silêncio agora, não digas nada de que te arrependas a seguir, pára um minuto só, pára!
Gente a passar, a olhar para eles, os dois a olharem para o lado, como se nada se passasse, a mão dela na boca dele, a tapá-la.
A história a andar para trás, tudo a correr para o fim e agora outra vez, tentativas para se descolar, ela a arrastá-lo para o jardim, a empurrá-lo para a rede, em cima dele, vencido.
Passou pelo Bento, arranjou transporte para Brá, um bom banho e meteu-se na cama com os documentos que lhe deram na 2.ª Repartição.

"Cassaprica é o maior acampamento IN existente na área deste posto administrativo. Há um caminho bastante perigoso, porém muito importante, uma vez iludida a vigilância dos sentinelas, pois corta a retirada do IN para a República da Guiné-Conakry em caso de operação em Camissorã. Ainda o mesmo disse que em Bagadai perto de Cane Faque, estão a construir uma jangada de paus para transportar a Cane Faque e daí para Caule uma arma bastante pesada. Também informou que mais de metade dos elementos da guerrilha passou para Caule onde existe um acampamento e um pequeno estabelecimento. Que no entroncamento da estrada velha de Cacafal com a estrada de Cambeque, do lado esquerdo de quem vai para Cabo Nepo, junto a uma árvore grande, existe um abrigo onde o IN aguarda oportunidade de montar emboscada à tropa. (...)"
Três folhas com os depoimentos de guerrilheiros apanhados. Tinham dito tudo o que sabiam e, nada de admirações, também coisas que só se recordaram, certamente, quando os polícias lhes apertaram as unhas, localização dos acampamentos, disposição, quantos guerrilheiros em cada, armas, os nomes dos comissários políticos em alguns casos.
Dentro de uma pasta, uma etiqueta na capa a classificá-los. Estivera a lê-los, o sono a chegar, enfiara-os na pasta e fechou o mosquiteiro.

No outro dia, no QG, deu andamento às informações. Documentos vistos outra vez um por um, algumas notas ao lado, localização de guias, onde falar com eles, transportes, esboçar o plano de operação. Na 3.ª Rep. ficaram de marcar a data, os meios, as horas das marés, as coisas do costume.
Entrou no VW preto que tinha alugado para o fim de semana e meteu a pequena pasta dentro do porta-documentos. Começou a descer para Bissau, um fim de tarde agradável, sentia-se bem sem saber porquê, nada que fazer agora, e se passasse pela casa da Teresa, era capaz de ser boa ideia arrumar o assunto hoje, não?
Rua sem movimento àquela hora, viram-se logo, ela sentada na espreguiçadeira a ler, cadernos espalhados pela relva.
Vamos dar uma volta?
É só um instante, vou-me arranjar.
Parecia outra, que nada tinha acontecido no dia anterior. Dentro do carro, à espera, e o pai dela a subir a rua. Olhos a cruzarem-se, teve que sair do carro.
Senhor alferes, então?
Como está, senhor Vasco?
Então o que diz àquela história da orelha?
Orelha?
Então, olhos fixos nele, o caso do Hotel Portugal, não sabe? Toda a cidade sabe, um horror! Um grupo de fuzileiros ao passar na esplanada do hotel, um deles foi directo a uma mesa com gente de cá, puxou pela orelha de um, sem dizer nada, facalhão na mão, zás, cortou-a, a correr pela rua abaixo, a rir-se, o ferido a escorrer sangue atrás deles, dá-ma, dá a minha orelha!
Não acredita? Testemunhas é o que não falta!
Não sabias ainda, a Teresa parecia que tinha acabado de tomar banho, toda fresca a chegar, a dar um beijo ao papá.

Como da primeira vez em que saíram sós, pouco movimento a esta hora, o carro devagar, mal se ouvia o motor, pelas ruas a descer para o porto, algumas fardas verdes na esplanada do Bento, cortaram para a direita, quartel da marinha, a caminho da Sacor.


Encostou o carro, o Geba orgulhoso lá em baixo, o ilhéu do rei em frente, ele a abrir a porta, a pé pela estrada uns metros até lá à frente, a olhar para o rio com a Ricoh na mão, a magicar como abordar o assunto. Deu a volta por dar, olhou para o carro, pareceu-lhe ver a Teresa com a pasta na mão. Deu-lhes a pressa aos dois, ele a voar sem correr, ela atrapalhada, pareceu-lhe, a fechar o porta-documentos.

Para onde vamos? Então ainda agora chegámos, que pressa é que te deu? Não te estou a perceber, andas tão estranho ultimamente, o que se passa contigo?

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Correspondência

"Faz hoje 15 meses que cheguei. Não é ainda tempo para pensar no fim, muitos meses ainda à frente. Há quem tenha calendário no quarto e todas as noites risque o dia, menos um que falta!
Começo a ter dificuldades em escrever. Não tenho novidades para contar, continua tudo igual, vida calma, sem grandes sobressaltos, o que é óptimo. Estou de boa saúde, desde que estou aqui só tive uma vez paludismo, umas ligeiras febres, aliás, os dentes têm-me deixado sossegado. De vez em quando dou uma corrida para desenferrujar os músculos das pernas. Estou cansado de descansar. Nas horas vagas, que são muitas, leio o que aparece. Os Lartéguys já os li todos, da Indochina à Argélia, as últimas aventuras do império francês a desmoronar-se, os Centuriões, os Pretorianos, os Mercenários. Livros de guerra, que, não sei porquê, são os que se vendem mais aqui. Contraditório, julgo. Livros com outros assuntos vêem-se pouco por aqui. Acabei ontem 'A Confissão do Silêncio' de um tal Shlumberger, uma história de espionagens, passada na 2.ª Guerra. Entre mãos para começar tenho um do Urbano, “Terra ocupada”, a seguir se não tiver outro, a 'Náusea do Sartre', há meses em espera para o retomar. Não sei é se vou conseguir acabá-lo.
O café Bento, uma instituição cá de Bissau, já te falei dele, com uma esplanada enorme debaixo de árvores, onde a gente se junta no final do dia a saborear o fresco, tem um pequeno quiosque onde além do Português Suave, do SG Ventil e de outras marcas de tabaco, rebuçados e chocolates, também vende livros, as últimas novidades literárias acabadas de chegar da metrópole. E é lá que costumo ver o que há de novo.
Cinema não tenho visto nada ultimamente, as fitas que mais passam são coboiadas, o mais interessante destes filmes é ver a assistência, entusiasmada com a cavalaria a chegar quando os peles-vermelhas estão quase a entrar no círculo das carroças dos colonos, ficam tão contentes que se põem a pé, a aplaudir, boinas ao ar. Qualquer coisa serve para o pessoal fazer uma festa. Na montra do cinema está há já algum tempo anunciado um filme do 007, quando vier sou capaz de o ir ver.
Como vês, levo uma vida pacata, tranquila. E pronto já contei a minha vida destes dias, tudo o que escrever daqui para a frente, é só porque não se manda uma carta com tão poucas linhas, até podes pensar que não escrevo mais, por outras coisas, estou a brincar com a menina dos meus olhos, claro.
E por aí, ora conta, como vão as coisas? A vida pelo Porto, pelo Carvalhido, pelo teu trabalho, pelos teus estudos, as aulas de alemão com a Frau Kissau, como vai isso tudo? O 6 ainda não foi substituído pelo trólei? Continua a trilhar pachorrento, da Praça para o Monte dos Burgos para cima e para baixo?
Quando será que nos voltamos a sentar, os dois juntos nesses bancos tão apertados, a ver a chuva do Porto a bater nas vidraças, tu com o teu sobretudo azul escuro, de botões prateados, a cheirar a Madame Rochas ou será Lancôme, e as tuas mãos macias de Atrix? Trouxe os teus cheiros comigo, tenho-os guardado bem pelos vistos, quando me lembro de ti, vêm também.
(…)
Nunca tive muita facilidade em falar de mim, dos meus afectos, em dizer o que sinto. Àqueles de quem gosto, então sempre me foi ainda mais difícil dizer quanto os aprecio, por vezes é-me mais fácil feri-los que reconhecer quanto gosto deles. É uma força mais forte que eu, é uma fraqueza, talvez. Nunca soube como devia fazer, nunca fui capaz de exprimir o afecto que me liga a ti. E, no entanto, foste até agora a melhor coisa que me aconteceu.
Uma estrada tão comprida, falta tanto, tanto tempo ainda, que às vezes penso, será que vamos conseguir?"

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(Continua)
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Nota do editor

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Guiné 63/74 - P15253: Agenda cultural (430): Conferência de António Graça de Abreu, "Entender a China 2015. Viajar pelo mundo chinês”, sábado, dia 17, pelas 11h30, em Lisboa, na sede da AFAP - Associação da Força Aérea Portuguesa, nas comemorações do seu 32º aniversário

COMEMORAÇÕES DO XXXII ANIVERSÁRIO DA AFAP - 17 OUTUBRO 2015

A Associação da Força Aérea Portuguesa (AFAP) comemora este ano, em 17 de outubro, sábado, o seu XXXII Aniversário.

Trata-se de uma efeméride que, cumprindo uma honrosa tradição, reúne a grande família da AFAP, nas instalações da sua sede,  na Av Alm Gago Coutinho nº 129,  Lisboa, para mais  um fraterno e cultural convívio, cujo programa se apresenta abaixo.

Para efeitos de inscrição, aceitam-se  reservas, pelo telefone 213 574 002 , ou por email – afap@netcabo.pt '> afap@netcabo.pt

O valor do almoço é de 20,00 euros por pessoa.

Chama-se, no entanto, a atenção para o limite que as instalações comportam (no máximo 100 convivas). É, por isso, urgente que os interessados façam as suas reservas.  O convite que nos chegou ao nosso blogue é feito pelo presidente da direção da AFAP, José Armando Vizela Cardoso, TGen.(Ref).


XXXII ANIVERSÁRIO DA AFAP NO CLUBE AFAP 
(Av. Alm. Gago Coutinho)
17 OUT 2015

P R O G R A M A


10h30 - Abertura do Secretariado
11h00 - Café - Convívio
11h30 - Início dos Trabalhos, pelo Presidente da Assembleia Geral da AFAP

- Conferência > “Entender a China 2015. Viajar pelo mundo chinês”,  prof. dr. António Graça de Abreu.
 
- Entrega de diplomas aos sócios que completam  10 anos de filiação na AFAP.
- Homenagem aos sócios com 25 anos de filiação.
12h45 - Encerramento dos trabalhos
Aperitivos
13h00 - Almoço 

16h00 - Encerramento da Reunião



 Prof. Dr. ANTÓNIO GRAÇA DE ABREU > Curriculum


António Graça de Abreu nasceu no Porto, em 1947. Licenciado em Filologia Germânica, Mestre em História da Expansão e dos Descobrimentos Portugueses, foi professor de Português em Pequim (Beijing) e tradutor nas Edições de Pequim em Línguas Estrangeiras. Viveu em Pequim e Xangai entre 1977 e 1983. 

Foi professor do ensino secundário e Assistente Convidado leccionando Sinologia no Instituto de Estudos Orientais da Universidade Nova de Lisboa, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e actualmente na Universidade de Aveiro. 

Traduziu para português a peça de teatro Xi Xiang Ji (O Pavilhão do Ocidente), de Wang Shifu (1260?-1320?), editada em 1985 pelo Instituto Cultural de Macau, e também as antologias Poemas de Li Bai, Poemas de Bai Juyi, Poemas de Wang Wei e Poemas de Han Shan publicadas em Macau, respectivamente, em 1990, 1991, 1993 e 2009. Traduziu também o Tao Te Ching, editado em Portugal pela Vega Ed., 2013. 

O seu mais recente trabalho é Toda a China I e II, um extenso conjunto de textos sobre as suas muitas viagens e vivências exactamente por todo o território da República Popular da China, mais Taiwan, Hong Kong e Macau.

Historiador e poeta, é também autor da biografia de D. Frei Alexandre de Gouveia, Bispo de Pequim (1751-1808), co-autor dos dois volumes da Sinica Lusitana, 2001 e 2004, e dos livros de poesia China de Jade, 1997, China de Seda, 2002, Terra de Musgo e Alegria, 2005, China de Lótus, 2006, Cálice de Neblinas e Silêncios, 2008 e A Cor das Cerejeiras, 2010. Publicou ainda o Diário da Guiné, 2007, o relato de guerra dos seus dois anos, 1972/1974, como alferes miliciano num Comando de Operações na antiga Guiné Portuguesa.

Entre 1996 e 2002 pertenceu ao Board da European Association of Chinese Studies (Heidelberg, Edimburgo e Torino).

Com a tradução dos Poemas de Li Bai, António Graça de Abreu obteve o Prémio Nacional de Tradução 1990, do PEN Clube Português/Associação Portuguesa de Tradutores.


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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15251: Agenda cultural (429): Apresentação do livro de Fernando de Jesus Sousa, "Quatro Rios e um Destino", na Casa da Cultura dos Olivais, Lisboa, dia 24, às 16 horas


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15252: Recortes de imprensa (75): "Guiné-Bissau, um dia de cada vez", fotorreportagem de Adriano Miranda, Público -Multimédia, 11/10/2015... Quatro dezenas de fotos, a preto e branco, que nos emocionam e interpelam (António Duarte, ex-fur mil at, CART 3493 e CCAÇ 12, dez 1971/jan 1974)


"Guiné-Bissau, um dia de cada vez", uma fotorreportagem de Adriano Miranda, publicada no jornal Público... São 4 dezenas de fotos, a preto e branco, do duríssimo quotidiano dos guineenses, fotos que nos emocionam e interpelam, a nós,  ex-combatentes da guerra colonial, que conhecemos aquela terra, verde e vermelha, e as suas gentes fantásticas e generosas, há 50 anos atrás... Quod vadis, Guiné ?"... Para onde vais, Guiné ?... "Um dia de cada vez", respondem os nossos amigos, guineenses... Uma oportuna sugestão de leitura do nosso grã-tabanqueiro António Duarte.

1. Mensagem do nosso camarada António Duarte:

Data: 14 de outubro de 2015 às 11:40
Assunto: Link com fotos do "Público" sobre a Guiné-Bissaiu


Bom dia,  Camaradas

Na leitura do "Público", feita em suporte digital, deparei com um conjunto de fotografias, de autoria do Adriano Miranda, sobre a "nossa" Guiné-Bissau. 

Na minha opinião trata-se de uma pequena obra de arte, que nos leva de novo aquela terra, sentindo-se até os cheiros, que por certo todos ainda sentimos quando pensamos nas situações por nós vividas, seja a atravessar uma bolanha, seca ou molhada, seja a fazer aquelas intermináveis picagens, para garantir a segurança possível às colunas.

Assim segue o link para consulta de quem tiver curiosidade, visitando a atual Guiné, mas refrescando os nossos pensamentos de quando por lá andámos. 

http://www.publico.pt/multimedia/fotogaleria/guine-353898

Abraços para todos

António Duarte
Ex-Fur Mil Atirador - CART 3493 e CCAÇ 12
Dez 71 a Jan 74


2. Comentário do editor:

Adriano Miranda (n. Aveiro, 1966) é fotojornalista do Público e professor de fotografia. Expõe regularmente.

"Adriano Miranda é um fotógrafo de pessoas que só se sente bem a fotografar no meio delas. Admite que valoriza mais a estética do que a técnica. E diz que nunca pensou em ser fotógrafo. Ah, e deixa um conselho: nunca apaguem nada!" (entrevista à revista Zoom - Fotografia Prática, 28/7/2011).

Não podendo inserir aqui as fotos do Adriano Miranda, por respeito (ético e legal) à propriedade intelectual, permito-me contudo, e com a devida vénia, reproduzir as suas palavras que servem de preâmbulo à sua notável fotorreportagem:

"Guiné-Bissau, um dia de cada vez", por Adriano Miranda

"Saímos do aeroporto Osvaldo Vieira, em Bissau, e sentimos o bafo quente que nos faz transpirar. Há malas, caixotes, caixas, sacos, homens, mulheres, polícias, militares. E há uma explosão de cores e de um cheiro doce. O trânsito é feito ao som da buzina, sempre a fugir do próximo buraco. Gente e mais gente num labirinto desorganizado. Muitos sentados nas soleiras das portas, outros correndo, outros vagueando. 

"No Mercado de Bandim, no centro da capital e um dos maiores mercados a céu aberto do país, tudo se mistura e de tudo se vende. Camas, espumas, bananas, panos, detergentes, telemóveis, peixe, cadernos, tijolos, ferros, martelos, sapatos, pomadas, água pura, ovos, ventoinhas, jornais e até carneiros. O fim do Ramadão é uma ocasião especial e a comunidade muçulmana termina o jejum com uma grande festa. Depois da reza é tempo de compensar o estômago. Nada melhor que um inofensivo animal. Chamam-lhe a Morte do Carneiro. Todos de todas as etnias se embelezam com uma vaidade cuidada: muçulmanos, papéis, balantas, mandingas, manjacos e fulas. Na cidade, todas as ruas são picadeiros para mostrar a camisa branca ou o vestido colorido. E o Monumento ao Esforço da Raça, inspirado na art déco e que fica mesmo em frente ao Palácio Presidencial, é local de eleição para namorar quando não há luar.

"Quase tudo é decadente. Os prédios, as ruas, a limpeza, os carros, os táxis, as lojas. Tudo menos as pessoas. Orgulhosos do que é seu, do que têm e não têm. A Guiné-Bissau é um país sempre em convulsões. Desde o dia 12 de Agosto que não tem Governo. Voltou a faltar a luz. A escola ainda não começou. As poucas obras públicas pararam. O dinheiro falta e os funcionários públicos podem não receber o salário. Mas enquanto as cúpulas discutem o futuro do Governo e da nação, os guineenses constroem um dia de cada vez." 

(Fonte: Público - Multimédia, 11/10/2015. Com a devida vénia).

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14931: Recortes de imprensa (74): Informação Oficial, publicada no jornal "A Província de Angola", sobre o desastre do Cheche aquando da travessia do Rio Corubal em 6 de Fevereiro de 1969 (José Teixeira / José Marcelino Martins)

Guiné 63/74 - P15251: Agenda cultural (429): Apresentação do livro de Fernando de Jesus Sousa, "Quatro Rios e um Destino", na Casa da Cultura dos Olivais, Lisboa, dia 24, às 16 horas

1. Mensagem, com data de 5 do corrente, de Fernando de Jesus Sousa [ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71, DAF, natural de Penedono; confidenciou-nos, há tempos, na sede da ADFA, que agora anda, entusiasmado, a escrever poesia]:


Ver aqui a recensão feita pelo
nosso colaborador permanente,
o camarada Beja Santos
 Boa noite, amizades.

Venho informar que no dia 24 deste mês, às 16 horas, vai ser apresentado, na Casa da Cultura de Santa Maria dos Olivais, o meu livro, "Quatro Rios e Um Destino" [Lisboa, Chiado Editora, 2014, 304 pp].

Conto com a vossa presença, amigos e camaradas. Tragam os vossos amigos e conhecidos.

No final, temos um beberete para suavizar a alma

A Casa da Cultura dos Olivais fica nos Olivais Velhos, R. Conselheiro Mariano de Carvalho 67, 1800 Lisboa [Ver página no Facebook, aqui].

Vou dando mais notícias.

Abraço a todos,

Fernando Sousa
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Guiné 63/74 - P15250: Convívios (716): Rescaldo do XX Encontro dos Combatentes da Guiné da Vila de Guifões, levado a efeito no passado dia 11 de Outubro de 2015, em Baião (Albano Costa)



XX Encontro-Convívio dos Combatentes da Guiné da Vila de Guifões

Dia 11 de Outubro de 2015
 Quinta das Susandas em Loivos da Ribeira - Baião


1. Em mensagem de 13 de Outubro de 2015, o nosso camarada Albano Costa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74), enviou-nos a reportagem do XX Encontro dos Combatentes da Guiné da Freguesia de Guifões, levado a efeito no passado dia 11 de Outubro na Quinta das Susandas - Loivos da Ribeira - Baião.

Os participantes, 45 combatentes e respectivas famílias, deslocaram-se para Baião em dois autocarros.  
Honrou-nos com a sua presença o Eng. Pedro Miguel Almeida Gonçalves, Presidente da União de Freguesias de Custóias, Guifões e Leça do Balio. 

A comissão responsável por este evento, que era composta por: Albano Costa, Neca Matos e Isidro Ventura, congratulam-se por mais este dia de convívio entre a grande família de combatentes guineenses de Guifões. 

Tenhamos vida e saúde, e para o ano marcaremos presença no XXI Encontro-Convívio.

Albano Costa


A Comissão Organizadora do XX Encontro: Neca Matos, falando aos presentes; Albano Costa e Isidro Ventura. De camisa clara, o Presidente da União de Freguesias, Eng. Pedro Gonçalves.

 Bolo comemorativo do Encontro

Lembrança alusiva ao XX Encontro oferecida a cada Combatente. Às senhoras foi oferecida uma rosa, gentileza da Junta de Freguesia.
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15214: Convívios (715): Almoço de Confraternização do pessoal da CART 1659 – ZORBA, levado a efeito no Concelho da Batalha, no passado dia 26 Outubro de 2015 (Mário Vitorino Gaspar)

Guiné 63/74 - P15249: Os nossos seres, saberes e lazeres (119): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
Foi um belo domingo, vadeei que me fartei, mesmo com o tempo a mudar e com a pressa de essa noite rumar até à Antuérpia. A vida dá as suas voltas, fiquei mais tempo. Retomei a lugares da minha peregrinação, sentia-me bem a andar a pé, a ver e a falar com pessoas, de vez em quando parava para tomar um chocolate quente e descansar, já não posso iludir os 70 anos. Mas é irreprimível o prazer de ver um festival de banda desenhada, de visitar Notre Dame de la Chapelle, ali está sepultado Bruegel, o Velho, um dos meus ícones da pintura. Tudo sem tempo, a usufruir a boa vadiagem.
Amanhã vou continuar e depois conto.

Um abraço do
Mário


Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (2)

Beja Santos


A Cité du Logis é um caso ímpar de construção social entre as duas grandes guerras é de tal modo paradigmático este equipamento urbano que está classificado, deverá manter-se intocável. Por aqui paira o silêncio, as ruas têm nomes de pássaros e flores, o arvoredo é omnipresente, o bairro tem as suas regras comunitárias, eventos participados, desde exposições de pintura, sessões de teatro amador e vendas de rua, bem badaladas.


Comecei o dia a percorrer estas vendas, traquitana de toda a espécie. Nem acredito a sorte que me cabe: compro por 10 cêntimos um cd-rom sobre o Museu d’Orsay e o Museu do Louvre. Gosto de cheirar, é nestes atos fortuitos que por vezes a fortuna bate à porta com ucharias.


Desci até ao mercado de domingo, é um mercado matinal, é aqui que eu compro uns pedacinhos de queijo, em Boisfort. Especialidades que vêm de França, como os queijos Comté du Jura, o Cantal, e outras sumidades. Aqui virei religiosamente no próximo domingo fazer algumas compras de queijos duros, se não, são me apanhados no check-in, já me aconteceu.


Vim dar um beijinho a uma grande amiga, Ika Vazvasoff, uma belga-búlgara, as nossas conversas acabam inevitavelmente nos esplendorosos mosteiros da Bulgária, ela canta-me as belezas de Plovdiv e Varna, talvez um dia venha a acontecer. Mas esta imagem é para passar à história, a sua neta Leónia irá hoje pela primeira vez andar pelas suas próprias pernas. Temos mulher!



Nova fase do programa dominical, uma passagem pelo festival de banda desenhada, em pleno Parque Real, depois o meu objetivo é aproveitar esta tarde de 6 de Setembro para visitar o Palácio Real, último dia de visitas públicas, mais a mais, gratuitas.


Ali à porta mostravam-se relíquias automobilísticas, quanto custará este Ford, ainda por cima tão bem mantido, os mirones eram muitos.


Esta é a residência do rei dos belgas, um Saxe-Coburgo-Gota, ali no palácio, pelo que me foi dado ver, é tudo maciço, bons lustres, boas alcatifas, bons sofás, requintado mobiliário, estuques magníficos, e o chão não se fala. O que me deu mais prazer foi a mostra de pinturas reais, não foi propriamente uma grande surpresa, por cá tivemos o rei D. Carlos, um amador de altíssima qualidade. O tempo mudou, começa a esfriar, vou mudar de paisagem.


Última etapa antes de regressar a casa, revisitação de Nossa Senhora de la Chapelle, estabelecia relação com esta imagem vai para algumas décadas, sempre que posso venho aqui pedir-lhe que me dê ânimo e saúde. Ela tem sido muito generosa comigo. O meu dia de amanhã conhecerá alterações, sou forçado a prolongar a manhã em Bruxelas. Tirarei partido do transtorno, voltarei a vários locais do crime, e com que satisfação!

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15212: Os nossos seres, saberes e lazeres (118): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15248: Manuscrito(s) (Luís Graça) (65): O Tempo Parece Querer Mudar... (Coleção de citações do diário de Tomás de Mello Breyner, c. 1902-1904)

O Tempo Parece Querer Mudar

por Luís Graça 

[com Tomás de Mello Breyner, c. 1902-1904]



À noite houve uma grande trovoada 
[acompanhada de muita chuva.
À noite iluminações. Tempo lindo.
Às 11 h. p. m. choveu.

Bom tempo e fresco.
Bom tempo.

Chovia bastante.
Continua a inverneira.
Continua a ventaneira fresca.
Continua o lindo tempo.
Continua o mau tempo.

Dia de calor terrível. À noite refrescou.
Dia de chuva e trovoadas.
Dia de chuva.
Dia de horroroso calor, mas eu quando tenho que fazer não dou pela calma.
Dia de tão grande ventania que se quebraram algumas árvores da cerca [do Paço de 
   Mafra]
Dia de verdadeiro Inverno! Chuva e frio !! Embarque difícil no Arsenal [do Alfeite].
Dia lindo, bom de mais. Assim não há meio de trabalhar.
Dia menos quente do que ontem.
Diminuiu o frio, mas veio a chuva.

Em Lisboa calor horrível.
Em Lisboa continua o calor medonho: na minha consulta, 34º à sombra.
Em Lisboa muito calor, aqui [Sintra] tempo fresco e lindo.
Em Lisboa o calor medonho, aqui [Mafra] fresco, delicioso.
Esteve um lindíssimo dia de Inverno.

Felizmente para as tropas o tempo continua ótimo.
Palácio Nacional de Mafra. Litogravura de 1853.
Cortesia de Wikipedia

Grande calor em Lisboa e aqui [em    
   Sintra].

Há grande temporal do sudoeste e 
   [muita chuva.
Hoje dia de calor horrível em Lisboa.




Joguei um pouco de ténis no fim do almoço e depois dormi um pouco porque faz calor 
  [em Vidago].

Linda tarde e bom vento.

Manhã de grande invernia! Parece dezembro ! [ em junho].
Mudou o tempo, temos a chuva grossa.
Muito vento e alguma chuva.

Ninguém se lembra de um tempo assim neste mês [ junho].
Noite de luar, mas há calor fora do natural.
Noite de temporal.

O dia menos mau, talvez ainda não seguro.
O tempo  continua um encanto.
O tempo aguentou-se.
O tempo bom. Continuo a ter boas notícias de casa.
O tempo continua bom. Muitos drinks, muito cavaco até à meia noite  
    [ no Iate Real Amélia].
O tempo continua de chuva.
O tempo continua escandalosamente belo.
O tempo continua fresco e lindo.
O tempo continua frigidíssimo, mas sempre bonito.
O tempo continua mau.
O tempo continua mau: borrasca do sudoeste com chuva.
O tempo está mau: tem chovido bastante.
O tempo está mau: trovoada e muita chuva.
O tempo está muito frio e todo o dia houve nevoeiro cerrado.
O tempo incerto.
O tempo incerto. Faz nove anos que eu casei.
O tempo lindo hoje, muito ameno.
O tempo lindo mas muito frio. Vento do nordeste.
O tempo melhorou de dia,  mas para a noite ameaçava de noite chuva.
O tempo melhorou
O tempo mudou: esteve um bonito dia.
O tempo muito mais quente hoje.
O tempo parece querer mudar.
O tempo parece querer mudar. Que venha chuva e frio para tónico das gentes.
O tempo parece querer mudar como é sempre costume no Entrudo.
O tempo péssimo. Verdadeira invernia.
O tempo piorou.
O tempo refrescou muito e à noite choveu.
O tempo tende a melhorar.
Os Príncipes já jantam à mesa de Estado. Já era tempo!

Parece Inverno.
Parece que a terra perdeu tanto calor pelos vulcões das ilhas americanas que não pôde      [haver Verão, o que aliás me não faz a maior falta. Dizem telegramas do Brasil que 
   [caiu neve e há gelo em pontos onde nunca gelou nem nevou.
Parecia um dia inglês.



Navio Amélia IV, de casco de aço, construído na Escócia, comprado por D. Carlos I, em 1901, para servir não só de iate real, ,mas também de navio de guerra e de navio hidrográfico. Esteve ao serviço entre 1901 e 1937. Características técnicas: deslocamento; 1 370 t; comprimento 70,1 m; velocidade 25 nós; tripulação 74. Cortesia: Wikipedia.



Tempo a fazer caretas.
Tempo a querer mudar.
Tempo ameaçando chuva, mas quente.
Tempo ameaçando chuva, o que é mau por causa da bagagem que irá esta  noite para 
   [Lisboa.
Tempo ameaçando chuva e eu muito embronquitado.
Tempo ameaçando trovoada.
Tempo bom.
Tempo bom. Vim jantar a casa.
Tempo bonito e fresco aqui [ em Sintra] , em Lisboa calor.
Tempo bonito e fresco,  o que descansa dos calores transmontanos.
Tempo bonito e fresco. Fui de manhã à Ericeira com os pequenos.
Tempo bonito e fresco. Graças a Deus todos estamos bem.
Tempo bonito e fresquinho.
Tempo bonito e mais fresco.
Tempo bonito e ventoso, quase frio.
Tempo bonito, mas de grande nortada.
Tempo bonito, mas quente.
Tempo bonito, mas quente e que fez recear chuva.
Tempo chuvoso.
Tempo com tendência a melhorar.
Tempo com vontade de virar a leste.
Tempo de aguaceiros e grande ventania.
Tempo de aguaceiros, mas de tarde levantou.
Tempo de chuva.
Tempo de frio e chuva como Inverno.
Tempo de grande nortada.
Tempo de invernia como em dezembro: chuva e frio.
Tempo de Inverno.
Tempo de terrível inverneira.
Tempo duvidoso.
Tempo esplêndido.
Tempo fazendo caretas para os lados do sudoeste.
Tempo feio e muito frio.
Tempo fresco.
Tempo frio e bonito.
Tempo frio e de aguaceiros.
Tempo frio e mau.
Tempo horrível.
Tempo horrivelmente quente tanto em Lisboa como aqui [em Sintra].
Tempo incerto.
Tempo irregular.
Tempo irregular: aguaceiros.
Tempo lindíssimo.
Tempo lindo. Recebi ordem de El-Rei  para partir amanhã para Mafra.
Tempo lindo e eu muito constipado.
Tempo lindo e fresco em Sintra.
Tempo lindo e fresco.
Tempo lindo e fresquíssimo nesta nesta boa terra [Mafra] que eu desejaria que mais 
    [uma vez fosse  o que costuma ser na convalescença  da minha rica filha.
Tempo lindo e frio.
Tempo lindo mas frio. Jantei em casa.
Tempo lindo, luar magnífico.
Tempo lindo, mas frio.
Tempo lindo, mas muito frio. Vento nordeste.
Tempo lindo, mas pouco frio, o que não é muito bom sinal nesta época do ano.
Tempo lindo, mas quente de mais para a época [ outubro].
Tempo lindo, mas um pouco quente principalmente na Ericeira.
Tempo lindo, muito ameno.
Tempo lindo, passeio encantador.
Tempo lindo.
Tempo lindo. Dias de Outono claros e frescos.  A Tapada está um encanto.
Tempo lindo. Para a noite as minhas filhas estavam melhorzinhas.
Tempo lindo: Outono puro que aqui é lindo [ em Mafra].
Tempo magnífico e fresco.
Tempo magnífico.
Tempo mais fresco.
Tempo melhor, mas não frio.
Tempo melhorado.
Tempo muito frio e húmido.
Tempo muito frio, de nevoeiro cerrado.
Tempo não muito quente. Alguma aragem.
Tempo óptimo.
Tempo óptimo: bonito e fresco.
Tempo péssimo.
Tempo péssimo: frio e muita chuva.
Tempo que parece mais de Inverno.
Tempo quente [ em outubro ] como se fora julho
Tempo quente até aqui que é a terra fresca  [Mafra]
Tempo quente e de trovoada.
Tempo quente mas encoberto, ameaçando trovoada.
Tempo quente, mas bonito.
Tempo quentíssimo como raras vezes aqui há [ em Mafra].
Tempo quentíssimo. Linda noite de luar. Todas as janelas abertas o que é raro nestas  paragens [Sintra].
Tempo quentíssimo: mais de 33º à sombra.
Tempo regular.
Tempo sempre lindo, o que aumenta a minha tristeza.
Tempo um pouco melhor permitiu as luminárias  na Avenida da Liberdade.
Tempo um pouco menos quente.
Tempo variável.
Teremos mau tempo brevemente.
Todo o dia choveu como no Inverno.
Todo o dia enevoado e à noite choveu.

[Seleção, ordenação alfabética e fixação de texto: LG]

Cortesia do portal
Geneall,.net
Fonte: Citações de: BREYNER, Thomaz de Mello – Diário de um Monárquico: 1902-1904. Porto: Fundação  Eng. António de Almeida. 2005.

Tomás de Mello Breyner (1966-1933), filho e neto de militares,  nasceu em Lisboa, no castelo de São Jorge, que na altura era um quartel. Usava o título de 4º conde de Mafra. Era um dos homens mais cosmopolitas do seu tempo. É um dos lídimos representantes da "belle époque" (portuguesa), no virar do séc. XX.  (A expressão francesa "belle époque" usa-se para designar a "idade de ouro" da civilização ocidental, que vai do fim do séc. XIX até à à eclosão da I Guerra Mundial.)

Médico hospitalar  especialista em doença venéreas (, no Desterro, onde ia das 8 às 10 horas, para tratar as doentes que eram... as "p... do bairro Alto"; e com consultório privado, à tarde, na Rua do Ouro, onde atendia  as "coquettes", espanholas e francesas, amantes dos ricos), era também médico da corte, amigo pessoal de Dom Carlos, da raínha Dona Amélia, e dos  príncipes.

Foi casado com Sofia de Carvalho Burnay, quarta filha de Henrique Burnay, 1.° conde de Burnay, o homem mais rico de Portugal nessa época. Teve nove filhos, entre o quais Maria Amélia de Mello Breyner, mãe da grande poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) de quem eu levei para a Guiné o seu  "Livro Sexto" (1º edição, Lisboa, Morais Editores, 1962), um dos meus  livros de cabeceira...

Sobre este homem singular, monárquico liberal até ao fim da vida, testemunha priviliegiada de uma época, grande português e pai estremoso, escrevi há 10 um artigo que está disponível na minha página pessoal:  Graça., L. - A vida de um médico da belle époque, [Em linha]. 2005, Página pessoal de Luís Graça, Saúde e Trabalho, Textos sobre saúde e trabalho, 178. [Consult 13 de outubro de 2015]. Disponível em http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/textos178.html

Aqui vão alguns excertos:

(...) Thomaz de Mello Breyner é uma figura conhecida nos meios da política e da medicina do princípio do Séc. XX. É autor de um Diário de um monárquico, abarcando um período que vai dos últimos anos da Monarquia até à República. O diário, manuscrito, foi transcrito e anotado pelo seu neto Gustavo de Mello Breyner Andresen, e publicado pela Fundação Eng. António de Almeida. Um dos volumes que li com curiosidade e agrado abarca os últimos anos da Belle Époque: 1905-1907 (...).

Em 1 de Fevereiro de 1908, a monarquia portuguesa é ferida de morte: O rei D. Carlos (1863-1908) e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe são assassinados no Rossio. Thomaz de Mello Breyner, futuro 4º conde de Mafra, médico da corte e amigo íntimo da família real  (...), já por diversas vezes tinha manifestado a sua preocupação sobre o futuro da Pátria e da dinastia de Bragança: "Onde está o meu Rei estou eu, sobretudo agora em tempo quase de de guerra", escrevia ele a 8 de Dezembro de 1907 (....).

(...) A sua carreira política será, todavia, modesta e discreta: o João Franco resolveu fazer dele deputado e encarregá-lo da "reorganização do serviço de meretrizes" (sic) (19 de Junho de 1906). E de facto caber-lhe-á a criação do serviço de dermatologia e doenças venéreas no Hospital do Desterro. Vai desportivamente, uma vez por outra, à Câmara dos Deputados, da parte da tarde. Em Vernet-les-Bains, nos Pirinéus franceses, onde o sogro tem interesses imobiliários, e onde a família faz férias de Outono-Inverno, escreve o nosso deputado absentista: "Pelos jornais vejo que houve no dia 20 sessão tumultuosa na Câmara dos Deputados, sendo postos fora pela força armada os deputados republicanos Afonso Costa e Alexandre Braga. Parece-me que o João Franco precisa começar a dar porrada rija" (23 de Novembro de 1906).

É contudo um patriota e leal monárquico: Estando em Madrid, no dia 1 de Dezembro de 1906, tem este pensamento: "Amanheceu o dia puro e alegre como em Lisboa em 1640" (Madrid, 1 de Dezembro de 1906). Curiosamente, esta frase faz-me lembrar o poema da sua neta Sophia [de Mello Breyner Andresen]sobre o 25 de Abril de 1974: "Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo".

(...) Tinha sobretudo o curioso hábito de anotar, dia a dia, na sua agenda, osfait-divers da sua vida familiar, social e profissional. São algumas dessas notas do seu diário, incluindo os seus interessantes obituários, que nos permitem conhecer hoje, um pouco melhor, a prática da medicina, quer hospitalar quer privada, daquela época, tendo como pano de fundo a conturbada vida política da época, bem como a morbimortalidade que atingia as pessoas do seu círculo de relações (família, criados, amigos, colegas). 

Thomaz de Mello Breyner mostrava ser um homem de hábitos, disciplinado, obsessivo com as horas. Levantava-se cedo e, quando não dormia no Paço das Necessidades (então residência oficial da família real), saía da sua casa, na Junqueira, em Lisboa (sendo portanto vizinho dos seus sogros, que moravam no Palácio Burnay, sito no nº 86 da Rua da Junqueira, edifício hoje classificado como imóvel de interesse público, juntamente com os seus anexos e jardim), e ia directamente para o Hospital do Desterro, por volta das 7 horas, conduzindo ele próprio, muitas vezes, o seu automóvel, o que para os médicos da época era ainda um verdadeiro luxo!

No Hospital do Desterro, o nosso homem não deveria trabalhar mais do que duas a três horas. Vemo-lo a sair por volta das 10h. Almoçava em casa ou nalgum hotel da Baixa. Da 1 às 3h (ou das 2 às 4h) estava, habitualmente, no seu consultório, na Rua do Ouro, 292-1º, que partilhava com o seu colega e sócio Agostinho Tavares (20 de Maio de 1906).

(...) Médico hospitalar, especializado em França em doenças sexualmente transmissíveis, fazia medicina privada, como todos os médicos do seu tempo, para uma clientela rica (ou com posses). Mas o o seu consultório, situado na baixa lisboeta, então uma zona chique, também é usado na sua vida social. Tomás de Mello Breyner é fluente em inglês, além do francês, e amigo de escritores como John dos Passos (que está de passagem em Lisboa a 24 de Maio de 1905). Frequentemente é solicitado para servir de intérprete e até de fazer de relações públicas da corte.

(...) Nessa época já estava a funcionar o Hospital Colonial. A 11 de Janeiro de 1905, o autor acompanhou um colega inglês do cruzador Essex numa visita aos hospitais de Lisboa, "acabando pelo Hospital Colonial na Junqueira onde estava o António de Lancastre que mostrou a doença do sono em seis pretos" (Breyner, 2003.19). Este António de Lencastre, médico e aristocrata, é citado por Mira (1947. 475) como tendo sido enviado, pelo Governo, em 1899, "em comissão ao estrangeiro (...) para ali estudar os processos empregados no isolamento e hospitalização dos tísicos", iniciativa da qual iria nascer, nesse mesmo ano, a Assistência Nacional aos Tuberculosos. (...)
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terça-feira, 13 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15247: Efemérides (202): Em cerimónia levada a efeito no passado domingo, em Fânzeres, Gondomar instituiu o dia 11 de Outubro como Dia Municipal do Combatente, coincidente com o dia 11 de Outubro de 1961, quando faleceu em campanha, em Angola, o primeiro gondomarense (Carlos Silva)

1. Em mensagem do dia 12 de Outubro de 2015, o nosso camarada Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71) mandou-nos este texto alusivo à cerimónia que instituiu o dia 11 de Outubro como Dia Municipal do Combatente de Gondomar.


Instituição do Dia Municipal do Combatente de Gondomar

Nota explicativa

Amigos e Camaradas

Ex-combatentes gondomarenses há muito que aspiravam que fosse instituído na sua terra o Dia Municipal do Combatente.

Assim, desde 2009 que lançaram mãos à obra e ao longo do mandato do executivo camarário anterior, cujo presidente foi o Major Valentim Loureiro, quer por escrito quer pessoalmente em cerimónias de homenagem aos combatentes gondomarenses falecidos, fomos formulando pedidos no sentido da criação do Dia Municipal do Combatente, cuja pretensão durante o seu mandato jamais foi atendida e nunca viu a luz do dia.

Contudo, não baixámos os braços e em 2014 um grupo de camaradas apresentou uma petição aos novos protagonistas camarários, reiterando o pedido da instituição do Dia Municipal do Combatente, sendo a mesma entregue na Assembleia Municipal pelo nosso amigo e camarada António Oliveira, secretário da mesma, sendo o pedido submetido à discussão daquele órgão e sido aprovado em Novembro de 2014.

Em Março passado em Fânzeres, aquando da nossa Homenagem aos nossos camaradas falecidos onde esteve presente o Presidente da Câmara Municipal de Gondomar, Dr Marco Martins, reiterámos o pedido que teve a sua anuência.

Deste modo e posteriormente a nossa Edilidade aprovou o dia 11 de Outubro, que corresponde ao dia em que tombou em combate em terras angolanas o 1.º gondomarense dos 83 que por terras de África por lá tombaram.

Daí ser consagrado o dia 11 como o Dia Municipal do Combatente de Gondomar, honrando assim o Dr Marco Martins o compromisso assumido em Março passado.

Assim, ontem teve lugar na Praça Heróis de Ultramar em Fânzeres, Gondomar, a 1.ª celebração do Dia Municipal do Combatente e a Homenagem aos combatentes falecidos na Grande Guerra; na Guerra do Ultramar e noutras operações em que Portugal participou, promovida pela Câmara em colaboração com o Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes, bem como uma exposição de material de transmissões do Regimento de Transmissões do Porto.

Durante a cerimónia o Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes, presidido pelo Cor Belchior impôs medalhas das Campanhas de África a alguns combatentes.

Apesar da chuva que se fez sentir, todos ali presentes mantiveram-se firmes até ao termo das cerimónias.
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Fotos do evento:


Fotos 1 e 2 - Duas perspectivas do Monumento aos Combatentes do Concelho de Gondomar erigido em Fânzeres

Foto 3 - Autoridades civis e militares que presidiram à cerimónia

Foto 4 - Presentes os Porta-Guiões dos Núcleos da Liga dos Combatentes do Marco de Canaveses, Matosinhos e Porto

Foto 5 - Descerramento da Placa que assinala o Dia Municipal do Combatente de Gondomar

Foto 6 - Coronel José Belchior, Presidente do Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes, usa da palavra em nome do Gen Chito Rodrigues que não se pôde deslocar a Gondomar.

Foto 7 - O Dr. Marco Martins, Presidente da Câmara Municipal de Gondomar dirigindo-se aos presentes


Fotos 8 e 9 - Momentos da imposição de Medalhas Comemorativas das Campanhas a Combatentes da Guerra do Ultramar


Fotos 10 e 11 - Deposição de Coroas de Flores na Placa alusiva ao Dia Municipal do Combatente

Foto 12

Foto 13 - Antes e durante a cerimónia esteve patente uma exposição de material de transmissões do Regimento de Transmissões do Porto.
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Texto: Carlos Silva
Selecção das fotos e legendas: Carlos Vinhal
Fotos:
1 a 8; 10 e 11 - Câmara Municipal de Gondomar, com a devida vénia
9 - Carlos Vinhal
12 e 13 - Carlos Silva
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15238: Efemérides (201): Hoje faz anos o Catroga, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCS do BCAÇ 3872 (Juvenal Amado)