Foto e legenda: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Vila > Foto 2 > Vista aérea da vila de Catiõ. Janeiro de 1968"
Foto e legenda: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Vila > Foto 3A > "Vista aérea da Rotunda e Avenida de Catió antes de 1967.
O edifício à esquerda na foto era a escola primária que em 1967 já tinha sido modificado". Ao fundo da avenida, a casa do admistrador. Catió, na época, a seguir a Bissau, Bafatá e Bolama, deveria ser a sede de concelho ou circunscrição mais importante da província, em termos demográficos, administrativos, económicos e sociais...
Foto e legenda: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.
Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotogáfico de Victor Condeço > Catió - Vila > Foto 21 > "O Fur Mil Victor Condeço em frente da habitação do administrador, ao cimo da avenida".
Foto e legenda: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.
Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotogáfico de Victor Condeço > Catió - Vila > Foto 40 > "A tabanca na estrada para a pista de aviação.
Foto e legenda: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.
Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotogáfico de Victor Condeço > Catió - Vila > Foto 41> "Estrada da pista, a tabanca, ao fundo à direita antes da pista, ficava o Cemitério".
Foto e legenda: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Vila > Foto 49 > "Os poilões na tabanca de Sua". Em criança, a Gilda - antes de vir oara Portugal, aos oito anos - terá brincado por aqui...
Foto e legenda: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BCAÇ 2930 (1970/72) > Uma crinaça mestiça ao colo do Alf Mil Médico Amaral Bernardo (que é hoje Professor Catedrático Convidado no ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar; responsável do Departamento de Ensino Pré Graduado do HGSA - Hospital Geral de Santo António).
Foto: © Amaral Bernardo (2007). Direitos reservados.
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 728 (Catió, 1964/66) (1) > 1965 > Mulher Grande de Catió. Poderia ter sido a avó (materna) da nossa Gilda...
Foto: © J. L. Mendes Gomes (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem de Gilda Pinho Brandão, nome de solteira, ou Gilda Brás, com data de 4 de Junho último:
Bom dia, Dr.: Estou a ver os e-mails todos agora (1), pois este endereço é do meu local de trabalho, mas espero até final de Junho ter e-mail em casa.
Relativamente ao meu mano (o furriel Pina), fez a sua comissão de serviço em 1968/1970, em Catió, penso que também esteve em Mampatá. O batalhão dele era conhecido pelos Lenços Azuis, ele está bom de saúde e costuma ir aos almoços de convívio dos ex-combatentes da Guiné.
Não sei o dia em que chegámos, mas foi no mês de Junho de 1970, pois era a altura das festas dos santos populares e foi traumático para mim: quando ouvia os foguetes, como não tinha abrigos como os da Guiné, corria a esconder-me debaixo da cama ou dentro do guarda vestidos.
Da minha infância, só me recordo da minha avó, do quartel onde ia buscar comida e dos ataques que me obrigavam a esconder no primeiro abrigo que encontrasse; do meu pai, não tenho nenhuma lembrança, pois quando ele foi morto, eu era bebé, os meus 7 irmãos são todos de mães diferentes. Ao longo da minha vida, sempre pensei ser a única filha do meu pai e, de um momento para o outro, recebo um telefonema do António a apresentar-se como meu irmão e informar-me que tenho uma grande família.
Este fim-de-semana vi uma fotografia do meu pai, que está em poder do meu irmão António, foi um bocado triste, mas também um alívio pois tinha comigo a minha filha que tem 8 anos e apresentei-a ao avô de quem ela só soube da existência há 2 anos atrás, quando trouxe um trabalho da escola para fazer a ávore genealógica e tive de lhe contar um pouco da minha história.
A adaptação à grande Metrópole foi muito dolorosa para mim, pois à maior parte dos portugueses fazia imensa confusão verem uma menina mestiça chamar mamã a uma senhora branca de cabelo louro e ficavam a olhar para nós com ar de recriminação; eu perguntava à minha mamã o porquê de as pessoas olharem tanto para mim e para ela e a resposta sábia da mamã Alice era “porque tu és muito bonita e gostam de ti”.
Aí a minha vaidade vinha ao de cimo e oferecia a toda a gente o meu grande sorriso; só que depois na escola é que foi complicado, pois as crianças, quando querem, sabem ser muito mazinhas e comecei a sentir na pele a diferença que existia entre nós, pois os meus colegas chamavam-me preta e diziam que eu tinha vindo da terra dos maus, coisas que nunca mais se esquecem e nos marcam para o resto da vida.
Hoje sou uma Mulher Grande feliz, tenho uma filha linda, um marido espectacular e a melhor mamã do mundom que, sem olhar a tons de pele, me deu tudo. Sou secretária, trabalho em Cascais numa empresa ligada à construção e ao ramo imobiliário chamada A. Santo.
Mais uma vez , Dr., muito obrigada pelo seu empenho nesta busca das raízes dos Pinho Brandão. Se puder rectifique alguns erros, pois estou no trabalho e tenho que dar prioridade ao meu serviço.
Cumprimentos e até breve
Gilda Brás
2. Comentário do editor do blogue:
Também eu fico muito sensibilizado pela menagem que me escreve (e que, suponho, me autoriza a publicar, no nosso blogue). É de uma mulher de grande coragem coragem, sensibilidade, doçura e inteligência emocional. As agruras da vida podem-na ter marcado, mas seguramente não a levaram a ter uma atitude (negativa) de autocomiseração e de vitimização, como é frequente acontecer em casos semelhantes.
Órfã de pai que não chega a conhecer (presumivelmente terá sido morto no início da guerra colonial, por volta de 1963, em circunstâncias que a Gilda não revelou), conhecendo as desventuras da orfandade e da pobreza, é criada pela avó (presumivelmente materna), cresce com a guerra e os seus horrores até ser adoptada pela família do Furriel Pina (que esteve em Catió entre 1968 e 1970, e também em Mampatá, ao que parece)... E aqui é muita bonita a referência que a Gilda faz à sua mãe afectiva, a Mamã Alice...
Apesar do seu amor e gratidão à família do Furriel Pinto que a acolheu (e presumivelmente adoptou), a nossa amiga Gilda não nos conta nenhum conto de fadas: os primeiros tempos de adaptação a um país, do hemisfério norte, europeu, potência colonizadora, a travar uma guerra colonial em três frentes (incluindo na sua terra,a Guiné), não foi fácil, não terá sido fácil... A Gilda terá conhecido o racismo, a discriminação ou até eventualmente o bullying por parte dos seus colegas de escola, experiências que são sempre traumatizantes para uma criança e que a marcam, como um ferrete, para o resto da vida...
O final feliz desta história é que a Gilda é hoje uma mulher que parece estar bem na sua pele, sentir-se bem na família e no trabalho e sobretudo ter tido, muito recentemente a alegria de começar a conhecer os irmãos paternos, a alegria (misturada com dôr) de ver pela primeira vez uma fotografia de um pai, o Afonso, que nunca conheceu, e de poder mostrá-la à sua filha de oito anos...
Foram muitos anos à espera de fazer as pazes com o passado, dividida entre duas terras, duas famílias, duas identidades, se bem que ela reconheça que praticamente já perdeu (ou estava em vias de perder) as suas raízes guineenses... Esperemos que isso não aconteça e que ela consiga, em breve, juntar e conhecer o resto da família, do lado materno e paterno, e inclusive (re)descobrir a sua terra, Catió, os seus altivos e tranquilizantes poilões, os seus palmeirais, as suas bolanhas, as suas gentes...
Graças ao álbum fotográfico de alguns dos nossos camaradas (e em especial do Victor Condeço), é possível entreabrir-lhe a porta que dá para o mundo da sua infância... Gilda, veja lá se estas imagens lhe dizem alguma coisa e se lhe despertam emoções ou recordações... Toda a sorte do mundo para si, por que você merece. Fica, mais uma vez convidada para pertencer a esta Tabanca Grande dos Amigos e Camaradas da Guiné. Um beijinho para si e para a sua filhota.
PS - Amigos e camaradas: este foi o drama de muitos civis, crianças, adolescentes, jovens e adultos, que também foram vítimas da guerra, que a guerra separou das suas famílias e da sua terra... Antes e depois da independência... Não temos estatísticas, para a Guiné, sobre as famílias lusoguineenses e seus descendentes, sobre os que ficaram na Guiné e os que se fixaram em Portugal, em Cabo Verde ou noutros países... Sobre o sucesso ou insucesso da sua integração (escolar, cultural, social, profissional...) no nosso país... Famílias ligadas à administração do território ou à actividade económica, como era o caso da família Pinho Brandão...
A Gilda Pinho Brandão é apenas o rosto de um drama silencioso para o qual na época tínhamos pouca ou nenhuma sensibilidade, apesar de convivermos com alguns comerciantes (portugueses e libaneses, sobretudo) que viviam nas povoações por onde passámos. Devemos penitenciarmo-nos por isso, reservando-lhe agora algum espaço do nosso blogue. Se alguém mais quiser voltar a abordar a este assunto, a porta fica aberta...
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Notas de L.G.:
(1) Vd. postas anteriores:
30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1798: Região de Catió: Descendentes da família Pinho Brandão procuram-se (Gilda Pinho Brandão)
3 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1811: Vim para Portugal aos 7 anos, em 1969, e não tenho uma fotografia de meu pai, A. Pinho Brandão (Gilda Pinho Brandão, 44 anos)
5 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1817: Catió: Em busca da família Pinho Brandão (Leopoldo Amado / Victor Condeço / Armindo Batata / Gilda Pinho Brandão)