segunda-feira, 11 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1832: Convívios (15): CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971-73), 2 de Junho de 2007, Azeitão: o 34º encontro anual (Victor Alves)

Guiné > Zona Leste > Estrada Xime- Bambadinca > 1969 > O Capitão do Quadro Permanente Carlos Brito, da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). 

Foi o primeiro comandante da CCAÇ 12, uma unidade de intervenção, constituída por quadros metropolitanos e por soldados do recrutamento local, que esteve ao serviço do Sector L1 da Zona Leste. Os quadros metropolitanos eram de rendição individual. Carlos Brito é hoje coronel e vive em Braga. Julgo ter sido substituído pelo Cap Mil Humberto Trigo Bordalo Xavier, com formação em Operações Especiais, em Março de 1971. É a ele que se refere, no texto a seguir, o nosso camarada Victor Alves. 

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados. 

  1. Mensagem do Victor Alves, que foi furriel miliciano vagomestre na CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/73), o periquito do Jaime Sanjtos, o primeiro vagomestre da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadina, 1969/71). 

O Victor vive em Santarém e aderiu recentemente ao nosso blogue. Amigo Luís, Conforme informámos (1), lá realizámos o nosso habitual encontro, que eu informei ser o 32º, mas vou corrigir para 34º. Tem causado algum espanto, o facto de se ter começado a realizar, tão cedo, os nossos encontros... 

Foram vários os factores que contribuiram para isso. Porém, o grande causador disso terá sido a vinda, para a CCAÇ 12, do Cap Humberto Trigo Bordalo Xavier, oriundo das Operações Especiais, e amigo pessoal de Spínola. 

Ele soube muito bem provocar uma aglutinação e consequentemente uma união entre todos, ao ponto de estabelecer uma messe e bar para todos os militares da companhia oriundos da metrópole, sem distinção de posto... 

 Foi, na minha óptica, eata a principal razão da nossa união. Eu, por exemplo, como vagomestre e sempre que havia uma operação, por exemplo com saída às 4 da manhã, lá estava a dar pequeno almoço, pão quente e café à rapaziada que seguia. Assim como, mal regressassem, por exemplo, às 3 da tarde, tinham sempre a refeição com meio frango ou meio bife com acompanhamento à sua espera... 

Foi isso que o Capitão pediu e foi isso que se fez. É evidente, dentro dos limites da guerra. Com fomos todos em rendição individual, nem sempre nos encontros conseguimos reunir todos, alguns já faleceram, outros emigraram e outros não vão porque... não. 

 Este ano conseguimos trazer mais duas presenças novas o que foi maravilhoso, foram eles o cabo radiotelegrafista Andrade, de Caldas da Raínha, e o cabo cripto Simões, de Lisboa. Isto quer dizer que não nos víamos há 37 anos, portanto foi muito bom. 

 Para além deles vieram também o Canas (Alf Mil Mecânico do Bart 2917), o H. Martins (Alf Mil Pel Nat 54) e o J. L. Vacas de Carvalho (Alf Mil Pel Rec Daimler 2206): estes últimos já são clientes habituais, embora faltem algumas vezes. 

 De qualquer forma é sempre uma grande alegria, vermo-nos e estarmos juntos. Para o próximo ano é no dia 31 de Maio (Sábado) em Lamego e quem vai organizar é o J. Andrade (Fur Mil CCAÇ 12). 

 Um abraço Victor Alves 

  2. Comentário de L.G.: 

 Victor, ainda não nos mandaste as duas 'chapas da praxe', uma fotografia do teu tempo de furriel vagomestre e outra, mais recente... 

Além disso, tens de trazer, contigo, malta da nossa querida CCAÇ 12. Eu pertenço à primeira vaga de quadros metropolitanos (1969/71), tu pertences à segunda (1971/73)... Temos que reconstituir o puzzle. É espantoso como até agora não mantivémos quaisquer contactos... Mas nunca é tarde. Teremos que nos (re)encontrar, algures, um belo dia destes. O ponto de partida pode e deve ser o nosso blogue. 

Parabéns pelo vosso 34º encontro anual. Isso quer dizer que vocês se têm reunido todos os anos, religiosamente, desde o vosso regresso em 1973 !... Gostava conhecer a história da tua/nossa companhia nesse período em que lá estiveste (1971/73). 

O teu ex-comandante, o Cap QEO Bordalo Xiavier, está contactável ? Já lhe falaste no nosso blogue ? Ele deve ter sido um excelente líder, a avaliar pelo que nos dizes. 

 Um abração para ti e demais camaradas periquitos da CCAÇ 12. 

Luís.

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 Nota de L.G.: 

domingo, 10 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1831: Macbeth em África ou Namanha Makbunhe no Teatro da Trindade, com os Fidalgos, grupo de teatro de Bissau (Beja Santos)

Lisboa > Teatro Nacional D. Maria II > Uma cena da peça Namanha Makbunhe. A partir da obra-prima Macbeth, de William Shakespeare. Produção Teatro Nacional D. Maria II em colaboração com o Grupo de Teatro Os Fidalgos, da Guiné Bissau (1).


Foto: Teatro Nacional D. Maria II (2007) (com a devida vénia...)


Namanha Makbunhe
por Beja Santos

O superclássico Macbeth de William Shakespeare é uma referência (por vezes um mero pretexto) e um ponto de partida para um espectáculo profundamente africano, criado por um encenador polaco e desempenhado pela Companhia de Teatro Guineense Os Fidalgos, de Bissau. Sobre esta estrutura dramática paira o drama da guerra civil que enlutou a Guiné Bissau, fala da luta pelo poder, disseca a natureza humana, equilibra-se entre o sagrado e o puramente mágico, usando a ética como pólo de atracção.

Macbeth é a doença pelo poder, a cedência à traição, o enredado da intriga política que leva à quebra de alianças, à rendição às forças do Mal. O encenador Andrzej Kowalski pega numa narrativa imortal, recria uma peça com elaborado trabalho filológico onde se entrançam os melhores e mais eloquentes registos de Shakespeare com vernaculismos, usos e costumes da mais poderosa realidade comunicativa guineense (2).

Onde havia Macbeth passa a haver Namanha Makbunhe, um grande guerreiro do Império Mali. Onde há aristocracia inglesa, passa a haver os grandes senhores da guerra como o régulo de Buruntuma. É uma leitura ágil, aquecida pela música instrumental guineense, uma encenação que oferece um ritmo quase mediaval africano, pontuado pelos figurinos, destacado pelos costumes exibidos em cena.

Não é a história de Shakespeare que prevalece, é a verdade intemporal da luta pelo poder, até à destruição. Há duas Lady Macbeth em cena, a pérfida e aquela que exprime o amor verdadeiro. A pérfida leva ao crime, a amante incondicional tudo perdoa no momento da hecatombe.

Para nós, que vivemos no meio do crioulo, da sonoridade dos instrumentos musicais gentílicos, que observámos as sessões intermináveis de partir mantenha, que nos lembramos das luzes da floresta, que vivemos em destacamentos rodeados destas mulheres e homens que se movem com solenidade, que riem com absoluta sinceridade, Namanha Makbunhe é um momento excepcional de reencontro com uma cultura dilacerada numa tragédia que avassala todas as fronteiras entre a vida e a morte.

A ver no Teatro da Trindade, de 31 de Maio até 1 de Julho, de quarta a sábado, às 21:30 e, aos Domingos, às 16:30. Duração: 1:50 e preços acessíveis. Os Fidalgos estão à vossa espera e representam primorosamente.

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Notas de L.G.:

(1) Este grupo de teatro tem um blogue próprio, um "sítio que aborda a cultura na Guiné Bissau", e que se chama justamente Os Fidalgos. Animam também o Centro de Intercâmbio Teatral de Bissau, que é uma parceria com a AD - Acção para o Desenvolvimento (do nosso Pepito) e a Cena Lusófona.

(2) Referências à peça (texto de William Shakespeare; adaptação / encenação de Andrzej Kowalski)

Resumo da peça (Fonte: sítio do Teatro Nacional D. Maria II > Produções > Namanha Makbunhe)

O valente guerreiro Namanha Makbunhe, régulo de Iall, mata, em combate, o traidor Makumba, conseguindo a vitória para o rei Bolum. Ao regressar da batalha com o companheiro Borry encontra na floresta três feiticeiras que o saúdam: a primeira chama-lhe régulo de Iall, a segunda régulo de Cansala e a terceira dirige-se a ele como rei. Makbunhe fica perturbado e é nessa altura que chega Madiu, enviado de Bolum, que o felicita pelo seu novo cargo: Makbunhe acaba de ser distinguido com o título de régulo de Cansala.

Makbunhe fica eufórico: se a primeira profecia das feiticeiras está certa, então a segunda estará também e ele será, um dia, rei. Ao chegar a casa, as suas mulheres – Djatú e Rokya – têm reacções distintas à notícia. A primeira aconselha prudência ao marido, a segunda diz-lhe que não deverá esperar: o rei Bolum vem visitá-lo e deve morrer já.

Makbunhe mata o rei e o filho deste, Djagra, foge, temendo pela própria vida. O guerreiro assume o trono e a sua primeira preocupação é eliminar os rivais, sobretudo Borry, a quem as feiticeiras predisseram que seria pai de reis. Makbunhe envia um assassino matar Borry e o filho Bunka, mas a missão falha: o assassino consegue matar o pai, mas não o filho. Borry aparece ao rei na forma de fantasma e, muito assustado, Makbunhe manda chamar as feiticeiras para que lhe predigam o futuro. Estas dizem-lhe que ele não deverá temer nenhum homem nascido de ventre materno e que só será destituído quando a floresta de Foroba caminhar.

Makbunhe fica tranquilo, mas será sol de pouca dura: um exército liderado por Djagra caminha já na sua direcção, disfarçado com ramos de árvore. E é Madiu, que não nasceu "por via natural", mas foi arrancado da barriga da mãe, morta, que mata Makbunhe num confronto final.


Post de 15 de Maio de 2007 >Os Fidalgos > Os Fidalgos em Foco


Mais uma vez Os Fidalgos (Guiné - Bissau) em Portugal, desta vez a convite, do Teatro Nacional D. Maria II.

O texto Macbeth, de William Shakespeare, serve de base para a estrutura dramática e poética de Namanha Makbunhe, um espectáculo profundamente africano que também integra actores angolanos e moçambicanos.

Envolvido num ambiente de magia e superstição esta tragédia africana narra também a sede do poder e a ambição desmedida dos homens. Inspirado por uma cadeia de acontecimentos vividos em África, a metáfora ultrapassou a adaptação simples para à realidade histórica, cultural e tradicional desse continente para se tornar numa transposição, original.

Se William Shakespeare tivesse nascido em África, a história de Macbeth não seria idêntica. Porque o que é dramático para um europeu pode não o ser para um africano e vice-versa. Namanha Makbunhe recria em termos plásticos e sonoros: climas e atmosferas de uma outra realidade; da luz, da floresta, dos ritmos e dos cheiros africanos.

O rufar quente dos tambores, a dança, o canto dolente, ajudam a esquecer os males de que África padece. É preciso exorcizar as dores; sorrir, brincar, transmitir energia para a vida; sonhar com um mundo melhor para todos, com mestria e através do sorriso contagiante, uma parte de Africa está viva neste espectáculo.

A africanização desta tragédia mostra-nos que, apesar de realidades históricas distintas e locais diferentes, mantem-se o enredo original. Afinal a Mãe-África dos nossos dias, no caminho para a democracia, ainda está longe de ser um acto pacífico entre os povos de uma mesma Nação.

Guiné 63/74 - P1830: Guileje, uma espécie de colónia penal militar até finais de 1969... (Nuno Rubim)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Homens e vacas rodeados de arame farpado ... Até finais de 1969, Guileje era considerado um sítio tão mau que funcionava como... uma espécie de colonial penal militar. Foto do nosso saudoso Zé Neto (1929-2007) (1).

Foto: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso querido amigo e camarada Nuno Rubim:


Durante anos, após a minha permanência lá (2), ouvi referências sobre o facto de serem enviados para Guileje militares punidos ou indesejados de outras unidades do CTIG [Comando Territorial Independente da Guiné].

Apesar de ter tido uma experiência pessoal que parece ter confirmado este facto, só agora descobri, no AHM [Arquivo Histórico Militar] (3), um documento oficial que esclarece totalmente a questão !

Mensagem Com-Chefe, Guiné, Dezembro 1969.

Retransmitido pelo Batalhão de Artilharia 2865, reponsável pelo Sector S3 (nessa altura em Catió), que englobava o sub-sector de Guileje. (AHM )

Por determinação superior “… Considerada a situação de Guileje, cancelamento de mais transferências por motivos disciplinares para aquela guarnição” !!!
Um abraço

Nuno Rubim

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1801: Capitão José Neto (CART 1613, Guileje, 1967/68), a última batalha

(2) O Nuno Rubim, hoje coronel de artilharia na reforma , esteve em Guileje, à frente de duas unidades, a CCAÇ 726 (Out 1964/Jul 1966) e a CCAÇ 1424 (Jan 1966/Dez 1966).

(3) Vd. post de 7 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1408: Vamos salvaguardar a(s) nossa(s) memória(s), apoiando a Liga dos Amigos do Arquivo Histórico Militar (Luís Graça / Nuno Rubim) .

O presidente da direcção desta Liga é o coronel, na reforma, e conceituado historiador da guerra colonial Aniceto Afonso.

Guiné 63/74 - P1829: Ser solidário: À Gilda e a todas as vítimas de guerras, discriminação, racismo... (Torcato Mendonça)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Fotos Falantes II > Putos do campo fortificado de Mansambo...

Foto: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339, Zona Leste, Sector L1, Mansambo , 1968/69) . Vive actualmente no Fundão, o coração dos lusitanos e do Viriato, que merece uma visita, com tempo e vagar, não só pela sua cereja e a sua festa (15 a 17 de Junho próximos) pelo seu património arquitectónico, pelo seu Museu Arqueológico Municipal José Monteiroe pela sua novíssima casa da cultura, a Moagem - Cidade do Engenho e das Artes... De facto, há mais vida, para lá do litoral, do eixo Setúbal-Lisboa-Coimbra-Porto-Braga e das autoestradas que nos levam da periferia ao centro... A A23, por exemplo, que nos leva ao Fundão e à Cova da Beira e às nossas raízes lusitanas... (LG)


Eih, pá, consegues dizer praticamente ou realmente tudo. Esta estória (1) é, para mim, um cântico à tragédia das guerras, ao sofrimento daqueles miúdos que nós conhecemos, às mães e pais a sofreram aquele drama. Há um aperto em mim, se sou piegas problema meu, mas recordo, talvez o que mais fortemente recordo são os meninos e o olhar…um olhar doce, a suplicar ajuda das mães.

Luís, só por este post, só por esta estória valia a pena ter um espaço na Net para ajudar…contribuir para que as pessoas, que tanto sofreram, sejam um dia, mais felizes. Tocou-me e não dá para continuar. Obrigado a ti, aos camaradas que ajudaram a Gilda e que ela, a filha, a família sejam felizes. Que, se assim o desejarem, voltem a reunir-se à sombra das mangueiras e dos poilões… e a Gilda diga que é de Catió, de Cascais, portuguesa ou guineense, as duas naturalidades… E não se esqueça que nós, humanos, temos diferentes cores…religiões…eu sei lá…Felizmente tanta diferença para, ao fim e ao cabo, sermos todos iguais, humanos.

Obrigado por este final de tarde, mesmo sofrido.

Um abraço para ti, para a Gilda (1) e, através dela, para todos os que foram – continuam a ser – vítimas de guerras, de discriminação, de racismo, de tanto sofrimento… o tal Grito de protesto…


Torcato Mendonça
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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 6 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1819: De Catió a Lisboa, de menina a Mulher Grande ou uma história triste com final feliz (Gilda Pinho Brandão / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P1828: Armamento do PAIGC (3): O Foguetão 122 mm ou a arma especial Grad (Nuno Rubim)



Lisboa > Museu Militar (1) > O foguetão 122 mm ou a arma especial Grad (na terminologia do PAIGC).

Fotos: Nuno Rubim (2007). Direitos reservados.

Texto do Coronel Art, reformado, Nuno Rubim, o nosso (deste blogue) grande especialista em armamento, tanto das NT como do PAIGC. É, reconhecidamente hoje, o maior especialista português em história da artilharia (2). Foi, além disso, um dos capitães de Abril, injustiçado em 25 de Novembro de 1975.

Last but note the least, é um dos oficiais da sua arma, a Artilharia, mais condecorados: é detentor de condecorações como a Cruz de Guerra, Medalha de Serviços Distintos com Palma, Medalha de Mérito Militar e outras. Todas essas medalhas tiveram por base louvores do escalão de Comante de Agrupamento para cima (a Cruz de Guerra e a Medalha de Serviços Distintos com Palma acabaram em Ministros do Exército e Defesa Nacional).

O Nuno Rubim esteve na Guiné (por duas vezes). A sua presença, neste blogue, muito nos honra. Com ele, ao nosso lado, corremos sempre o risco de, quando abrimos a boca, de dizer asneira. Foi o que aconteceu comigo ao escrever que o foguetão 122 mm podia atingir os 20 km de alcance (3)... (LG).

Caro Luís:

Para complementar as informações sobre o Foguete de 122 mm (1), utilizado pelo PAIGC, aqui vão mais alguns dados:

(i) O Sistema era conhecido pelo PAIGC como Arma Especial - Grad;

(ii) Era uma arma de artilharia, de bater zona e não de tiro de precisão;

(iii) O alcance máximo era de 11.700 m para 40º de elevação. Segundo um relatório do PAIGC a distância maior a que se efectuou tiro, teria sido contra Bolama, em 4 de Novembro de 1969, a 9.800 m.

(iv) Como se poderá ver nas imagens acima, o foguete dispunha de um perno (assinalado a vermelho ) que, percorrendo o entalhe em espiral existente no tubo, imprimia uma rotação de baixa velocidade afim de estabilizar a vôo. As alhetas só se abriam depois do foguete sair do tubo.

Enviei para o blogue, há algum tempo, a fotografia do Tubo que se encontra no Museu Mil Lisboa, que julgo ser o capturado em Cufar, em Janeiero de 1973.

Um abraço

Nuno Rubim

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Notas de L.G.:

(1) O Museu Militar fica no Largo do Museu da Artilharia, 1100 - 468 Lisboa, junta à Estação de Caminhos de Ferro de Santa Apolónia, em Lisboa. Telefone > 21 884 25 69.Fax > 21 884 25 69
E-mail> mmilitar@um.geira.pt

Funcionamento > Das 10h00 ÀS 17h00. Encerra 2ª e Feriados.

Autocarros > 9, 12, 25, 28, 35, 39, 46, 104, 105, 107.

Tutela > Ministério da Defesa Nacional.

Em 1926 a denominação do Museu [que era de Artilharia] é alterada para Museu Militar. O edifício do Museu encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público, desde 1963. O organismo responsável por este museu é o Ministério da Defesa Naciojnal.

A mostra das colecções museológicas desenvolve-se ao longo de 33 espaços expositivos. O visitante pode verificar que a natureza das colecções não passa unicamente pelas peças bélicas, mas também pelo património artístico patente na pintura, azulejaria e escultura, pela mão de grandes artistas dos séculos XVIII, XIX e XX.

Através do seu espólio o Museu Militar aborda as grandes temáticas da história de Portugal. A missão do Museu encontra-se patente na sua divisa (em latim): MAIORVM NATV ARMA PROPONIMVS (“Expomos as Armas dos Antepassados”). ~

O Museu contempla, desde 1998, de um espaço nas Caves para a realização de exposições temporárias e de outros eventos culturais. No percurso do itinerário interior o visitante poderá dispor no Pátio dos Canhões de uma Loja e de uma Cafetaria. Caracteriza-se por ser um museu que vive de uma exposição permanente. Há várias exposições temporárias anuais.

A primeira (e única) vez que lá fui, há uns meses atrás, estavam ainda (há quanto tempo ?) em remodelação as Salas sobre a Guerra Colonial 1961 – 1975 (sic).

Salas de maior visibilidade:

Sala Vasco da Gama

Sala das Guerras Peninsulares

Sala da Grande Guerra

Sala de Camões

Sala Mouzinho de Albuquerque (LG)

(2) Vd. post de 18 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1189: O tertuliano Nuno Rubim, especialista em história militar

(3) Vd. post de 7 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1821: Armamento do PAIGG (2): Mísseis terra-terra Katyusha ou foguetões 122 mm (A. Santos)

Vd. posts anteriores desta série (ou relacionados com armamento do PAIGC):

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1764: Armamento do PAIGC (1): Metralhadoras pesadas Degtyarev, antiaéreas (Nuno Rubim)

13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1756: Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, aquando da visita de Américo Tomás (Bissau, 1968) (Victor Condeço)

18 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1672: Guileje: a artilharia do PAIGC (Nuno Rubim)

27 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1628: Projecto Guiledje: fotografias de armamento e equipamento, das NT e do PAIGC, precisam-se (Nuno Rubim)

sábado, 9 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1827: Convívios (14): 38ª Companhia de Comandos, Pínzio, Vilar Formoso, 9 de Junho de 2007 (A. Mendes)

1. Mensagem do A. Mendes, ex- 1º Cabo Comando da 38ª CCmds (Guiné, 1972/74)

Luís, se me permites, gostaria aqui de divulgar mais um encontro anual da minha Companhia.


12º Encontro da 38ª Companhia de Comandos (Guiné, 72-74)

Local: Pínzio (Vilar Formoso)
Data/hora: 9 de Junho de 2007 pelas 10:30h

Aqui fica o convite a quem quiser estar presente, principalmente a quem morar na zona e tenha estado na Guiné. Apareça que eu tenho todo o gosto em recebê-lo.

Concentração junto à Igreja.

Amilcar Mendes

Ex-1ºcabo, 38ª CCmds (Guiné, 1972/74)

2. Comentário de L.G.:

Amílcar, desejo-te um bom dia, com ida (a Pínzio) e regresso (a Lisboa), sem percalços. Que seja mais um excelente encontro dos valorosos comandos da 38ª.

A propósito, vi ontem na televisão um reportagem sobre o lançamento de um DVD com a história dos comandos em Portugal. Entre outros, vi o Folques, já aqui falado diversas vezes. Quando tiveres um tempinho livre, peço-te para nos falares desse DVD cujo conteúdo eu ainda não conheço.

Um abraço para ti e os teus camaradas. Luís

Guiné 63/74 - P1826: Estórias do Zé Teixeira (17): Eh fermero di caradjo, pára lá, a mim amigo di bó, amigo memo! (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)


1. Mais uma estória do Zé Teixeira, ex-1º Cabo Auxiliar Enfermeiro da CCAÇ 2381 (1968/70) - os Maiorais

Caríssimos.
Aí vai mais uma das minhas estórias. Amanhã [hoje, 9 de Junho] vou ter o prazer de abraçar o Idálio Reis. A CCAÇ 2317 de Gandembel faz o seu Convívio aqui no Porto e eu lá estarei. Fraternal abraço com votos de bom fim de semana.


Uma mão na gaita, outra na catana

por Zé Teixeira

A sorte bafejou-me durante uns meses, ao ser destacado para acompanhar o Grupo de Combate que se fixou em Mampatá Forreá. Tabanca pequena de gente simples, de maioria Fula e Mandinga, que nos recebeu de braços abertos e durante cerca de seis meses me permitiu passar o que hoje considero umas pequenas férias em pleno meio da guerra, rodeado por Aldeia Formosa, Gandembel, Guileje, Gadamael , Mejo, etc. Locais onde havia festa da brava em contínuo, que nós escutávamos em silêncio e expectativa , enquanto eu apenas fui visitado umas cinco ou seis vezes, pese embora tenham sido momentos muito difíceis, que superámos sem grandes percalços, a não ser um belo dia, em plena hora de almoço, em que tentaram apanhar-nos à mão e chegaram a entrar dentro da barreira de arame, tendo queimado onze moranças.

Bajudas bonitas e afáveis. Até à data ainda não encontrei na minha vida mulher mais bonita que a Fátma Baldé, a minha lavandera, a Djubae ou a Dada, filha do régulo Aliu Baldé, hoje casada com o Régulo de Sinchã Sambel (Saltinho) onde tive o prazer de a encontrar e abraçar em 2005. Sempre bonita.

Assumi a minha missão de enfermeiro, montando diariamente a enfermaria estrela, nome que lhe dei, pois não passava de uma pequena mesa e um banco debaixo de uma árvore onde colocava as mesinhas: adesivos; compressas; ligaduras, etc. Os medicamentos tinha de os guardar, pois faziam milagres de tirar dores di bariga, dores di cabeça , ramassa (diarreia), kurpo kente (Febre) ou turse (tosse), etc., etc.

Todos os dias lá apareciam, sobretudo bajudas e mulheres à caça do comprimido para… hoje era barriga, amanhã era cabeça, outras vezes pediam para levar e tomar na morança, ou seja era para outra pessoa. Havia também as pequenas feridas, as feridas crónicas (chagas) por falta de tratamento em devido tempo, os entorses etc. Combater o paludismo nos militares brancos, no grupo de combate de milícias ou na população era a minha grande preocupação e os resultados foram satisfatórios, pois durante seis meses ninguém morreu com esta doença, bem pelo contrário safei duas crianças, de morte certa, como já referenciei no diário.

A par desta missão cabia-me, durante a noite, passar uma hora, a visitar os sentinelas de serviço, nos respectivos postos, em parceria com os furriéis e o Alferes, com o objectivo de os ajudar a passar o tempo e garantir a atenção necessária ao meio envolvente de onde o IN poderia estar à espreita. Estava cerca de dez minutos em cada posto em conversa com o colega de serviço e lá partia para o posto seguinte. Por precaução e segurança da pele, fazia os percursos cruzados de modo a nunca caminhar perto da barreira de arame farpado.

Uma noite, daquelas em que estava tão escuro que não se vê um palmo à frente do nariz (como se diz na minha terra), atravessava a Tabanca, com uma G3 emprestada, (não tinha arma atribuída por opção própria e quando saía para o exterior em serviço, apenas levava a bolsa de enfermeiro) em direcção oposta ao posto de sentinela de onde tinha partido, com todo o cuidado para não esbarrar com uma árvore, que sabia existir naquele lugar, quando esbarro com algo que se mexe. Só tive tempo de gritar – tem calma é Fermero Tixera ki passa, e, logo ouço uma voz Tu tem sorte fermero, djobe ! (repara).
Era nem mais nem menos um dos milícias, meu amigo, que tinha saído da sua morança para deitar a árvore abaixo ou seja urinar e por segurança trazia uma catana, isto é, estava com uma mão na gaita e outra na catana, para o que desse e viesse. A catana estava bem no alto pronta a cair sobre a minha cabeça.

Com fair play retorqui:
- Sorte na tem bó, djobe, nha G3 stá tiro a tiro (falso).
- Ehhh fermero di caradjo ! pára lá ! a mim amigo di bó. Amigo memo.

Seguiu-se um afável parte mantanhas. Ele, possivelmente foi empernar com uma das duas lindas mulheres que tinha, na esteira onde algumas vezes nos deitamos a três, ele, eu e uma das mulheres, para conversarmos sobre a Lisboa (Portugal continental), até a noite se perder pela madrugada.

Eu segui o meu caminho para o posto do colega que estava de sentinela, uns metros à frente e que não dera por nada.

Zé Teixeira
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Nota de L.G.

Vd. post de 15 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1760: Estórias do Zé Teixeira (15): Tarde de Domingo com sorte

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1825: Mário de Oliveira, na Feira do Livro de Lisboa, dia 9 de Junho de 2007


Guiné > Mansoa > BCAÇ 1912 (1967/68) > O capelão, Mário de Oliveira, alferes miliciano, entre soldados. Viria a receber ordem de expulsão da Guiné em 8 de Março de 1968.

Foto: © Padre Mário da Lixa (2003) (com a devida vénia...)


Texto do nosso camarada Mário de Oliveira, que foi alferes miliciano capelão no BCAÇ 1912(Mansoa, 1967/68). O Mário de Oliveira - que virá a ser conhecido mais tarde como o Padre Mário da Lixa - recebeu ordem de expulsão da Guiné em 8 de Março de 1968, ao fim de 4 meses de comissão. Para quem o quiser conhecer pessoalmente, ele estará amanhã na Feira do Livro de Lisboa, a autografar o seu último livro. Aqui fica uma mensagem que nos mandou há dias e que só hoje, infelizmente, foi possível pôr no blogue:

Companheiras / Companheiros

O meu abraço e a minha paz.

Venho comunicar-vos que no dia 7 deste mês de Junho, a partir das 16 horas, estarei na Feira do Livro do Porto. E no dia 9 deste mesmo mês de Junho, a partir das 16 horas estarei na Feira do Livro de Lisboa.

Numa e noutra Feira, começo por apresentar, no espaço reservado para esse tipo de eventos, o meu novo livro SALMOS VERSÃO SÉCULO XXI, editado pela Campo das Letras. E depois prosseguirei no Stand da Editora Campo das Letras a acolher as leitoras, os leitores que quiserem proporcionar-me essa alegria e essa festa.

E a quem o desejar, também autografarei os meus livros que estarão lá venda a preços mais reduzidos. A apresentação do livro no Porto será feita pelo meu amigo Padre Anselmo Borges, professor de Filosofia na Universidade de Coimbra e conta também com a presença do actor Júlio Cardoso, da Companhia de Teatro Seiva Trupe, que dirá alguns dos 50 salmos do livro. Espero lá por si. Apareça e leve consigo outras amigas, outros amigos também.


Vosso companheiro e irmão
Mário, presbítero da Igreja do Porto

___________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:

28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1002: Um novo recruta, Aires Ferreira (BCAÇ 1912, CCAÇ 1686, Mansoa, 1967/69)

27 de Junho de 2005 > Guiné 60/71 - LXXXV: Antologia (5): Capelão Militar em Mansoa (Padre Mário da Lixa)

14 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCL: Capelão militar por quatro meses em Mansoa (Padre Mário da Lixa)

17 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXV: Foi em plena guerra colonial que nasci de novo (Padre Mário de Oliveira )

Guiné 63/74 - P1824: O Aeroporto de Jumbembem e os ecologistas 'avant la lettre' (Artur Conceição)

Texto do Artur Conceição, ex-soldado de transmissões da CART 730 (1965/67), actualmente residente na Damaia, Amadora. Esteve em Bissorã, Farim e Jumbembem, ou seja, na actual Região do Oio.




O Aeroporto de Jumbembem
por Artur Conceição

Em 1965/66 o correio na Guiné era lançado a partir de uma avioneta na maioria dos acampamentos espalhados no território. Jumbembem não fugia à regra, e lá para quinta ou sexta-feira vinha a avioneta que largava um ou dois sacos, conforme o volume de correspondência.

Este era sempre um momento de grande alegria mas também de alguma ansiedade, se nos lembrarmos de que os telegramas a dar a notícia da morte de um familiar eram também entregues pela mesma via.

Aconteceu que numa dessas largadas de sacos um deles ficou em cima de uma árvore gigante que se encontrava junto da entrada do aquartelamento. Claro que não ficou lá por muito tempo, dado que apareceram logo exímios trepadores para retirar o saco daquele local.

É a partir deste acontecimento que surge a ideia da construção de uma pista onde fosse possível aterrar uma avioneta de pequeno porte, como era o caso. Poupava-se muito esforço mas por outro lado perdia-se a ida semanal a Farim, para levar o correio a expedir, o que também não agradava a todos.

A localização do novo aeroporto não envolvia qualquer polémica, pelo que, após rigoroso estudo de impacto ambiental, ficou decidido que seria construído a noroeste do aquartelamento no sentido de Farincó.

Foram reunidos os meios materiais, que se reduziam a algumas pás, picaretas e alguns machados e serras, ou seja o material que era utilizado na construção de abrigos, incluindo o corte de algumas palmeiras.

Arrancou-se com todo o entusiasmo, mas as árvores no local eram na sua maioria de grande porte, o que exigia um grande esforço para as arrancar, e a construção da pista lá ia andando um pouco aos soluços, tanto mais que a comissão já ia a mais de meio e o pessoal tinha perdido o entusiasmo inicial. As obras estavam quase paradas...

É nesta fase que surge o episódio do “cabrito escondido com o rabo de fora”.
Nessa altura na Guiné ainda havia manga de vacas só que não eram leiteiras, como certamente se lembram, pelo que o comandante da companhia resolveu comprar uma cabra para dar leite para o pequeno almoço na messe de oficiais. A cabra vinha acompanhada de dois cabritos menores que a chibinha tinha também de alimentar. Alguém muito atento e entendido na criação de cabritos, e amigo dos animais, achou que para a pobre bicha, era um esforço demasiado, alimentar dois cabritos e cinco oficiais...

Então resolveu aliviá-la de um deles. Detectado que foi o desaparecimento do animal foram iniciadas as buscas para o localizar, tendo sido encontrado após algumas horas de busca dentro de um caixote, daqueles onde eram guardadas as botas e outros apetrechos, isto porque o raptor tinha deixado o animal com o rabo de fora.

O raptor e seus cúmplices foram penitenciados a arrancar vinte árvores na pista em construção. Saíam de manhã, vinham almoçar ao meio dia e voltavam da parte da tarde sempre acompanhados de uns baralhos de cartas e alguns alimentos e bebidas.

Para além de gostarem de cabrito, também eram amigos do ambiente, pelo que volvidos quinze dias as árvores continuavam de pé. Para que a penitência não fosse alterada ou agravada foi-lhes dado um prazo e as árvores lá tombaram. Foram as últimas !!...

Depois de tanto esforço nunca tivemos o prazer de ver uma aeronave mesmo pequena a aterrar no Aeroporto de Jumbembem.

Depois da companhia 730, devem ter passado por Jumbembem mais umas cinco ou seis. Tanto quanto sei nenhuma delas concluiu a obra, mas que a 730 começou isso é verdade !!!!.....

Artur Conceição

Guiné 63/74 - P1823: Camaradas que já nos deixaram (2): O Picão, da CCS do BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72), que morreu há dias na miséria (Amaral Bernardo)

Lourinhã > Praia Vale de Pombas (1) > 2005 > "Um homem e a a sua cruz"... O Picão faleceu no hospital de Leiria no dia 28 de Maio último, de madrugada, tendo o funeral sido em S. Martinho do Porto no dia 29 às 16 horas. Gravemenete ferido num ataque a Catió, com foguetões 122 mm, no 14 de Abril de 1970, nunca mais pôde trabalhar. Não tinha Segurança Social, pelo que o funeral foi às custas da sua pobre família e dos seus amigos... Mais um estória triste e revoltante.

Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados.


1. Mensagem do Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico da CCS / BCAÇ 2930(Catió, 197o/72) (2):

Luís,

Sábado passado, dia 2, o BCAÇ 2930, a que pertenço, realizou mais um encontro anual. O Rocha Pais, que foi enfermeiro do batalhão, pediu-me ajuda com o documento que te mando.

Podemos fazer alguma coisa? O camarada recém falecido ficou gravemente ferido numa brutal ataque com foguetões 122 a Catió em 14 de Abril de 19971. Ficou cheio de estilhaços... e parece que morreu com uma complicação pulmonar, provocada por um deles. Morreu na miséria (foi preciso arranjar dinheiro para o funeral) e deixa a viúva com a quantia que o documento refere. Haverá um processo oficial, perdido algures em qualquer repartição das Forças Armadas, a pedir o apoio a que ele tinha direito.

Se não se conseguir nada a nível oficial, tentarei sensibilizar uma TV qualquer.´É triste, mas terá que ser assim... embora não faça o meu género.

Abraço

Amaral Bernardo.

P.S. - Podes dar a publicidade que entenderes


2. Mensagem enviada pelo Luís Martins Silva , com data de 31 de Maio de 2007, para o Rocha Pais:


Pais:

Lamento ter de informar que não podemos comparecer ao Encontro. A minha sogra ficou internada no hospital de Beja, em observações, pelo que não sabemos o desfecho do assunto. Se puderes ainda avisar que são menos 2, melhor, se tivermos que pagar diz alguma coisa.

Mandou-me hoje uma mensagem a Dª Susete, viúva do Picão. Pede para darmos um abraço a cada um dos nossos companheiros, pois o Picão dizia sempre que gostava de abraçar cada um.

Sei que vais estar só, de nós os três que tivemos no funeral, mas se tiveres hipóteses, fala no assunto e se vires que há condições pede o apoio dos nossos companheiros.

Por mim a única coisa que posso fazer é escrever a seguinte mensagem que depois, se vires que há hipoteses, podes ler para os nossos camaradas.

Amigos ecompanheiros.

Por motivos relacionados com a doença súbita de um familiar, não me é possível estar este ano, presente no nosso convívio. No entanto, não quero deixar de vos saudar a todos e às vossas famílias, desejando que , apesar das contrariedades da vida, consigamos sobreviver mais alguns anos para nos continuarmos a encontrar.

Um dos que nunca esteve connosco nos Encontros, mas que nós lembrávamos bem, era o José Júlio Abreu Picão.

Nunca mais vai estar connosco, apenas em pensamento. Faleceu no hospital de Leiria no dia 28, de madrugada, tendo o funeral sido em S. Martinho do Porto no dia 29 às 16 horas. Estivemos eu, o Pais e o Lisboa. No momento do corpo descer à terra, com a autorização da família e por concordância do Pais e do Lisboa, teci algumas considerações sobre o nosso amigo que nos deixou. Realcei o facto de o Picão ter esperado 37 anos por uma pensão, dado que, tendo sido ferido como sabeis, no 14 de Abril de 1970, nunca mais pôde trabalhar . Não tinha segurança social, pelo que o funeral foi às custas da família (esposa) e dos amigos. Trata-se, como pudémos comprovar, duma familia bastante pobre e carenciada (viviam com a reforma da actual viuva, de 230 euros mensais), ele, a esposa e uma neta que criou desde o nascimento e agora com 13 anos.

Por isso, daqui faço um apelo à nossa generosidade para com aquela senhora, que está a passar por maus momentos, não só espirituais, como materiais. Se assim o entenderem, podem entregar os vossos donativos ao Pais, que lhos fará chegar. Se entenderem fazê-lo directamente, o Pais tem consigo a morada da viúva.

Pedia-me hoje por mensagem, a viúva, que no nosso Encontro eu desse um abraço a cada um de vós, em nome do Picão, pois em vida manifestou esse desejo. Faço-o através desta mensagem. Que Deus nos dê coragem para aguentarmos com mais este embate e outros mais que virão a caminho.

Tal como disse no funeral do Picão, repito-o agora:
ADEUS AMIGO, ATÉ SEMPRE.

Luís Martins Silva
ex-furriel miliciano mecânico auto.


Pais:

li igualmente as mensagens que reencaminhas-te do alferes Santos. Se ele estiver no Encontro dá-lhe um abraço bem forte.

E tu, que és um homem de coragem, ve se consegues sair desse imbróglio.

Recebe um abraço para ti e Rosalina do

Luís e Elsa

3. Comentário do editor do blogue:

Estou fora de Lisboa, com dificuldades de ligação à Net (Eu ladrão me confesso: isto de contar com o ovo no cú da galinha, que é como quem diz, com o sinal da rede sem fios... do vizinho!)...

O Amaral Bernardo telefonou-me há dias a contar este triste caso, acima descrito. Só agora consigo pô-lo no blogue. Não podemos ficar indiferentes a situações como estas que, mais uma vez, nos chocam, envergonham e entristecem.

O nosso blogue abre o seu espaço às sugestões e comentários de todos os camaradas, em geral, e dos camaradas do BCAÇ 2930, em particular. Como demonstrar a nossa solidariedade para com o Picão e a sua família ?

Antes de mais, trata-se de dar um murro na burocracia, no cinismo e na indiferença. Há tempos comentámos aqui um caso semelhante, o de um camarada que morrreu, como um cão, na sua barraca, na Nazaré (3). L.G.

_________

Nota de L.G.:

(1) Vd. Luía Graça > Blogue Fora-Nada... E Vão Dois > Post de 9 de Novembro de 2005 Blogantologia(s) II - (15): O amor em Agosto

(...) Nem vale.
Nem pombas.
Nem praia.
Na Praia do Vale de Pombas,
À maré cheia, à praia-mar,
Há apenas um fio de água doce
Que mantém os cordões umbilicais
Do infinitamente pequeno da vida
Ligados ao infinitamente grande
Dos corpos celestiais.

Vale de Pombas:
Aqui caiu uma chuva de meteoritos.
Um dia hei-de lá levar-te.
(...)

(2) Vd. post de 2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1489: Tertúlia: Formalizo o meu pedido de entrada (Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico, Catió, BCAÇ 2930)

(3) Vd. post de 3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1398: Poema de Natal: Só agora, camarada, te mataram (Jorge Cabral)

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1822: Estórias do Gabu (5): Nunca chames indígena a ninguém (Tino Neves)

Região Autónoma da Madeira > Ribeira Brava > Sítio da Encumeada (a 1000 m de altitude > Maio de 2007... Está por conhecer a pesada factura humana e social da guerra colonial que a Madeira e os madeirenses também pagaram...

Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados


1. Texto do Tino Neves , ex-1º Cabo Escriturário, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego (Gabu), 1969/71.

Vou contar uma pequena estória, que me veio à memória recentemente (1).

A estória passou-se comigo e um soldado da Ilha da Madeira. Digo já que não tenho nada contra os Madeirenses, apesar de ainda nunca ter ido à Madeira. Tenho, de resto tenções de lá ir um destes dias, pois tenho lá camaradas da minha companhia.

Um determinado dia no ano de 1971, já no Aquartelamento novo de Nova Lamego (Gabu), chegou uma coluna de víveres, de um aquartelamento da zona, já não me recordo de onde). Estando eu na Sala do Soldado (cantina), a comer uma sandes de chouriço e a beber um cerveja, chega um soldado dessa coluna, muito falador. Se não fosse a pronúncia, diria que seria do Algarve (já que os algarvios têm fama de faladores).

Como sou descendente de algarvios, e apesar de ter nascido na Cova da Piedade (Almada), fui baptizado no Algarve (Luz de Tavira). Fiquei por isso curioso em saber de onde ele seria, pois nesse tempo não sabia distinguir um madeirense de um açoriano. Na minha companhia tinha dois camaradas da Madeira, e não falavam assim, daí eu resolver interpelá-lo com a seguinte pergunta:
- Donde é que tu és indígena?

E tive como resposta rápida:
- Vou-te matar! - e nisto sacou de um grande punhal (daqueles à Rambo, com serrilha) e deitou-me uns olhos, que eu fiquei sem pinga de sangue, a olhar para o facalhão.

Se não fossem os camaradas presentes a segurarem-no, ele, julgo eu, que o fazia, mas depois de ser desarmado, eu caí em mim e percebi a razão da sua reacção. Ele deve ter pensado que eu estava a insultá-lo, a chamar-lhe… indígena. Ele deve ter percebido a pergunta deste modo:
- Donde é que tu és, indígena ? – Procurei, por isso, pôr água na fervura, reformulando a pergunta:
- Eu sou indígena de Lisboa, Almada… E tu?

Aí ele acalmou e compreendeu o que queria dizer:
-Ahhhh, eu sou da Madeira!

Depois pediu-me desculpa pela sua reacção, porque não compreendera bem o que eu queria dizer. Eu respondi-lhe que quem tinha de pedir desculpa era eu, porque eu tinha o mau hábito de usar o termo Indígena em vez de Natural. E logo a seguir pedi ao barman mais duas cervejas, que pagava eu.

Moral da estória: nunca deves perguntar a ninguém donde é que é… indígena, principalmente, a quem estiver armado até aos dentes, com facalhão à Rambo e G3 a tiracolo.

Um abraço

Tino Neves

Almada

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Nota de L.G.

(1) Vd. post anterior > 20 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1769: Estórias do Gabu (4): O Capitão Comando João Bacar Jaló pondo em sentido um major de operações (Tino Neves)

Guiné 63/74 - P1821: Armamento do PAIGG (2): Mísseis terra-terra Katyusha ou foguetões 122 mm (A. Santos)



Guiné > Zona Leste > Sector L3 > Nova Lamego > 1973 (?) > Foguetão 122 mm, completo, apreendido ao PAIGC.

Foto: © António Santos (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso camarada A. Santos, ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Zona Leste, Sector L3, Nova Lamego,1972/74.

Luís: Aqui estão as duas imagens do mesmo míssil que, segundo o Rubin (1), parece ser único (2).

A. Santos

2. Comentário de L.G.: Não sou especialista em armamento. Julgo, no entanto, tratar-se do míssil terra-terra Katyusha, mais conhecida entre as NT como foguetão 122 mm. De origem soviética, teria um alcance de 20 Km.

Fontes a consultar:

Wikipédia > Lista de equipamento militar utilizado na guerra do Ultramar

Guerra na Guiné - Os Leões Negros > CCAÇ 13 > Bolama > Katyusha > 3/11/69
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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts recentes sobre este tópico (armamento do PAIGG):

27 de Março de 2007 > Gúiné 63/74 - P1628: Projecto Guiledje: fotografias de armamento e equipamento, das NT e do PAIGC, precisam-se (Nuno Rubim)

12 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1753: Diorama de Guileje, 1965/67 (Muno Rubim)

13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1756: Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, aquando da visita de Américo Tomás (Bissau, 1968) (Victor Condeço)

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1764: Armamento do PAIGC (Nuno Rubim)

18 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1766: Guileje: A Bêbeda, uma Fox do Pel Rec 839 que ficará imortalizada no diorama (Nuno Rubim)

23 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1781: Ambulância do PAIGC, de fabrico soviético, capturada pelo Marcelino da Mata, em Copá (A. Santos)

(2) Sobre a utilização desta nova arma, o foguetão 122 mm, há já vários posts no nosso blogue:

2 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Manuel Mata) (5): Foguetões 122 mm no Gabu

(...) " Maio de 1970: O Pel Rec, em Piche, continuava a sua actividade e a sofrer as flagelações do inimigo, agora com foguetões de 122 mm. Volta a acontecer, felizmente sem consequências, no dia 26 de Maio, depois de uma escolta aos Adidos Militares Estrangeiros que visitaram a Guiné. Ao chegar de Nova Lamego foram flagelados com foguetões de 122 mm" (...).

30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1800: Álbum das Glórias (14): De Alferes (CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67) a Capitão (CCAÇ 18, Quebo, 1970/72) (Rui Ferreira)

(...) "Guiné > Aldeia Formosa > CCAÇ 18 (1970/72) > 1971 > Os primeiros foguetões 122 capturados aos guerrilheiros do PAIGC. O Cap Mil Rui Ferreira, comandante da CCAÇ 18, é o elemento do meio, na fotografia" (...).

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!!

(...) O pessol fugiu, abandonando tudo lá, de Guileje, porque estavam a cair foguetões e granadas de canhão sem recuo, desfazendo padaria, depósito de géneros... O chão estava cheio de crateras , devido às granadas. Os militares de lá estavam há 96 horas debaixo de bombardeamento, sem beber nem comer (só algumas rações de combate que conseguiram apanhar), pois não podiam sair dos abrigos" (...).

4 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1338: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (5): estreia dos Órgãos de Estaline, os Katiusha

(...) "Chegou-se à conclusão que as granadas estavam a cair em zona entre Saltinho e Queboe a arma era desconhecida. Passados alguns dias veio informação do Com-Chefe: naquele ataque falhado a Aldeia Formosa, o IN tinha utilizado pela primeira vez Foguetes Katiusha, também conhecidos por Órgãos de Estaline" (...).

6 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1155: Álbum fotográfico (Hugo Moura Ferreira) (1): Bedanda, CCAÇ 6, 1970: O Obus 14 contra o foguete Katiusha

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1820: Catió: No rasto da família Pinho Brandão: Quem era o patriarca ? (Victor Condeço / Luís Graça)

1. Mensagem do Victor Condeço (ex- Fur Mil Armamento, CCS do BCAÇ 1913, Catió , 1967/69), residente no Entroncamento:

Caro Luís:

Tudo de bom. Após ler o P1817 (1) e sobre as interrogações no teu comentário, tenho a acrescentar o seguinte:

Na verdade falta ali naquela foto, o Pinho Brandão, decerto terá sido convidado tal como outros comerciantes que também não aparecem na foto, caso dos Srs. Coelho, Adib e João,  da casa Gouveia.

Poderão estar na foto Catió_Quartel-31 junto do edifício da direita, junto de outra população mas não dá para reconhecer quem é quem. De memória também não sei se estiveram ou não.

Contudo pela lembrança que tenho do Sr. Manuel Pinho Brandão (2), é muito provável que não tenha estado presente. Era pessoa bastante reservada, nunca o vi no quartel nem sequer na rua.

As falas dele com militares ou civis resumiam-se ao Bom dia ou boa tarde, entre dentes, quando ao passarmos à sua casa o cumprimentávamos.

A maioria dos seus dias passava-os na sala de sua casa de esquina frente ao mercado [foto Catió_Vila-26], de portas abertas, na sua cadeira de repouso, fumando.

A lembrança que tenho da família que com ele vivia em Catió é muito vaga, mas lembro-me perfeitamente de duas bonitas, mestiças, suas filhas, das quais não me lembro o nome, jovens na casa dos 20 anos, que confeccionavam bolos de aniversário por encomenda.

Relativamente ao pai do Dr. Leopoldo Amado, pese embora as muitas vezes que terei falado com ele quando ia aos Correios à Caixa Postal nº 24, buscar o meu correio ou comprar selos, não tenho memória do Sr. Mateus e por isso o não identifico na foto, só o Leopoldo Amado nos poderá ajudar.

Luís das tentativas que te disse ter feito, só ainda tive a informação do (meu) ex-cabo Camarinha, fez a diligência que me tinha prometido, mas não conseguiu chegar á fala com o senhor por questão de minutos, no entanto disse-me que se confirma que a pessoa em questão é efectivamente de Catió, vai no entanto proceder a nova tentativa de encontro.

E é tudo por agora, recebe um abraço.

Victor Condeço

2. A Gilda acaba de nos agradecer tudo o fizemos (e ainda estamos a fazer) por ela. São palavras singelas e sinceras, que merecem publicitação:

" Acabei de ler as suas palavras e, estou a tentar encontrar algumas para lhe agradecer, mas não consigo, por isso envio-lhe um abraço do tamanho do mundo e toda a minha gratidão.

"Para a semana vou estar de férias, pois ando em mudanças mas, assim que regressar, vou enviar uma foto minha tirada ainda na Guiné e outra mais recente, para que passe a pertencer a esta fantástica família. Um grande abraço com amizade. Gilda Brás".


__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 5 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1817: Catió: Em busca da família Pinho Brandão (Leopoldo Amado / Victor Condeço / Armindo Batata / Gilda Pinho Brandão)

(2) Que era, presumivelmente, tio ou até avô da nossa amiga Gilda Pinho Brandão (O seu pai, Afonso, morreu, ou foi morto, quando ela tinha tenra idade, possivelmente em 1963, no início da guerra; recorde- se que ela veio para Porugal, acolhida pela família do Pina, em Junho de 1970, com sete anos, vivendo até então com a avó materna).

Repare-se, por outro lado, que o Victor só faz referência ao comerciante Manuel Pinho Brandão, que ele conheceu em Catió (1967/69), e a duas filhas, mestiças, de cerca de 20 anos. O Victor não conheceu, nem poderia ter conhecido o Afonso, que seria mais novo que o Manuel: daí eu pensar que poderia ser seu filho ou seu irmão mais novo. A Gilda não tem a certeza sobre o grau de parentesco de ambos.

Por sua vez, o Mário Dias, quando descreve a Op Tridente (1964), refere-se ao Manuel Pinho Brandão como o dono da ilha do Como... O que terá acontecido ao Afonso ? Terá sido morto pelos guerrilheiros do PAIGC ? Terá morrido num acidente de caça ou de viação ? Foi assassinado por alguém da região, por causa de negócios ? Ou até por outras razões: ciúme, vingança, ajuste de contas... Com numerosos filhos de diferentes mulheres, poderá ter havido ajustes de contas entre famílias... A Gilda refere, por exemplo, a existência de meio-irmão, ainda hoje comerciante estabelecido na Guiné-Bissau, que usa o apelido da família e não reconhece, como Pinho Brandão, os filhos do Afonso...

Por outro aldo, o velho Brandão de Ganjola, natural de Arouca, desterrado para a Guiné possivelmente no final dos anos 20 ou princípíos dos anos 30, uma figura tão bem evocada pelo Mendes Gomes (que esteve no Como, Cachil e Catió, entre 1964 e 1966) - " O Sr. Brandão, agora, era um velhote, rodeado de filhos e netos que foi gerando, ao sabor das madrugadas de batuque e da liberdade de escolha, sem custos, entre as mais viçosas bajudas da tabanca" (3)…, esse Brandão de Ganjola, pergunto eu, seria o mesmo de Catió ? Quem era, afinal, o patriarca da família ?

Enfim, não vale a pena especular sobre isto, embora esta estória (trágica, a do Afonso) também possa ser reveladora do clima social que então se vivia em Catió, no início da década de 1960...

Pela casa que existia no centro de Catió, a família Pinto Brandão deveria ser (ou ter sido) poderosa, tendo entrado possivelmemte em decadência com o início da guerra... Mas o mesmo se poderia dizer de outros comerciantes locais, de origem portuguesa ou libanesa, citados pelo Victor e que compareciam a cerimónias públicas militares (como aquela que é referida no Post P1817).

Vd. posts de:

30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1798: Região de Catió: Descendentes da família Pinho Brandão procuram-se (Gilda Pinho Brandão)

3 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1811: Vim para Portugal aos 7 anos, em 1969, e não tenho uma fotografia de meu pai, A. Pinho Brandão (Gilda Pinho Brandão, 44 anos)

6 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1819: De Catió a Lisboa, de menina a Mulher Grande ou uma história triste com final feliz (Gilda Pinho Brandão / Luís Graça)

(3) Vd. post de 22 de Janeiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjola, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira

Guiné 63/74 - P1819: De Catió a Lisboa, de menina a Mulher Grande ou uma história triste com final feliz (Gilda Pinho Brandão / Luís Graça)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Vila > Foto 26 > "A praça do mercado, vista de quem vinha da pista [tirada à porta da casa do sr. Barros Correias]. À direita o Mercado, ao fundo à esquerda, a casa do Sr. Brandão e, à direita, debaixo da mangueira o Bar Catió e bem ao fundo o quartel".... A Gilda Pinho Brandão era filha de Afonso Pinho Brandão (que terá morrido no início da guerra). Embora tenha vivido com a avó materna, a Gilda terá conhecido esta Casa Grande, tipicamente colonial, da família Brandão...

Foto e legenda: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Vila > Foto 2 > Vista aérea da vila de Catiõ. Janeiro de 1968"

Foto e legenda: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Vila > Foto 3A > "Vista aérea da Rotunda e Avenida de Catió antes de 1967.
O edifício à esquerda na foto era a escola primária que em 1967 já tinha sido modificado". Ao fundo da avenida, a casa do admistrador. Catió, na época, a seguir a Bissau, Bafatá e Bolama, deveria ser a sede de concelho ou circunscrição mais importante da província, em termos demográficos, administrativos, económicos e sociais...

Foto e legenda: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.

Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotogáfico de Victor Condeço > Catió - Vila > Foto 21 > "O Fur Mil Victor Condeço em frente da habitação do administrador, ao cimo da avenida".

Foto e legenda: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.

Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotogáfico de Victor Condeço > Catió - Vila > Foto 40 > "A tabanca na estrada para a pista de aviação.

Foto e legenda: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.

Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotogáfico de Victor Condeço > Catió - Vila > Foto 41> "Estrada da pista, a tabanca, ao fundo à direita antes da pista, ficava o Cemitério".

Foto e legenda: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Vila > Foto 49 > "Os poilões na tabanca de Sua". Em criança, a Gilda - antes de vir oara Portugal, aos oito anos - terá brincado por aqui...

Foto e legenda: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BCAÇ 2930 (1970/72) > Uma crinaça mestiça ao colo do Alf Mil Médico Amaral Bernardo (que é hoje Professor Catedrático Convidado no ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar; responsável do Departamento de Ensino Pré Graduado do HGSA - Hospital Geral de Santo António).

Foto: © Amaral Bernardo (2007). Direitos reservados.

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 728 (Catió, 1964/66) (1) > 1965 > Mulher Grande de Catió. Poderia ter sido a avó (materna) da nossa Gilda...

Foto: © J. L. Mendes Gomes (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem de Gilda Pinho Brandão, nome de solteira, ou Gilda Brás, com data de 4 de Junho último:

Bom dia, Dr.: Estou a ver os e-mails todos agora (1), pois este endereço é do meu local de trabalho, mas espero até final de Junho ter e-mail em casa.

Relativamente ao meu mano (o furriel Pina), fez a sua comissão de serviço em 1968/1970, em Catió, penso que também esteve em Mampatá. O batalhão dele era conhecido pelos Lenços Azuis, ele está bom de saúde e costuma ir aos almoços de convívio dos ex-combatentes da Guiné.

Não sei o dia em que chegámos, mas foi no mês de Junho de 1970, pois era a altura das festas dos santos populares e foi traumático para mim: quando ouvia os foguetes, como não tinha abrigos como os da Guiné, corria a esconder-me debaixo da cama ou dentro do guarda vestidos.

Da minha infância, só me recordo da minha avó, do quartel onde ia buscar comida e dos ataques que me obrigavam a esconder no primeiro abrigo que encontrasse; do meu pai, não tenho nenhuma lembrança, pois quando ele foi morto, eu era bebé, os meus 7 irmãos são todos de mães diferentes. Ao longo da minha vida, sempre pensei ser a única filha do meu pai e, de um momento para o outro, recebo um telefonema do António a apresentar-se como meu irmão e informar-me que tenho uma grande família.

Este fim-de-semana vi uma fotografia do meu pai, que está em poder do meu irmão António, foi um bocado triste, mas também um alívio pois tinha comigo a minha filha que tem 8 anos e apresentei-a ao avô de quem ela só soube da existência há 2 anos atrás, quando trouxe um trabalho da escola para fazer a ávore genealógica e tive de lhe contar um pouco da minha história.

A adaptação à grande Metrópole foi muito dolorosa para mim, pois à maior parte dos portugueses fazia imensa confusão verem uma menina mestiça chamar mamã a uma senhora branca de cabelo louro e ficavam a olhar para nós com ar de recriminação; eu perguntava à minha mamã o porquê de as pessoas olharem tanto para mim e para ela e a resposta sábia da mamã Alice era “porque tu és muito bonita e gostam de ti”.

Aí a minha vaidade vinha ao de cimo e oferecia a toda a gente o meu grande sorriso; só que depois na escola é que foi complicado, pois as crianças, quando querem, sabem ser muito mazinhas e comecei a sentir na pele a diferença que existia entre nós, pois os meus colegas chamavam-me preta e diziam que eu tinha vindo da terra dos maus, coisas que nunca mais se esquecem e nos marcam para o resto da vida.

Hoje sou uma Mulher Grande feliz, tenho uma filha linda, um marido espectacular e a melhor mamã do mundom que, sem olhar a tons de pele, me deu tudo. Sou secretária, trabalho em Cascais numa empresa ligada à construção e ao ramo imobiliário chamada A. Santo.

Mais uma vez , Dr., muito obrigada pelo seu empenho nesta busca das raízes dos Pinho Brandão. Se puder rectifique alguns erros, pois estou no trabalho e tenho que dar prioridade ao meu serviço.


Cumprimentos e até breve

Gilda Brás

2. Comentário do editor do blogue:

Também eu fico muito sensibilizado pela menagem que me escreve (e que, suponho, me autoriza a publicar, no nosso blogue). É de uma mulher de grande coragem coragem, sensibilidade, doçura e inteligência emocional. As agruras da vida podem-na ter marcado, mas seguramente não a levaram a ter uma atitude (negativa) de autocomiseração e de vitimização, como é frequente acontecer em casos semelhantes.

Órfã de pai que não chega a conhecer (presumivelmente terá sido morto no início da guerra colonial, por volta de 1963, em circunstâncias que a Gilda não revelou), conhecendo as desventuras da orfandade e da pobreza, é criada pela avó (presumivelmente materna), cresce com a guerra e os seus horrores até ser adoptada pela família do Furriel Pina (que esteve em Catió entre 1968 e 1970, e também em Mampatá, ao que parece)... E aqui é muita bonita a referência que a Gilda faz à sua mãe afectiva, a Mamã Alice...

Apesar do seu amor e gratidão à família do Furriel Pinto que a acolheu (e presumivelmente adoptou), a nossa amiga Gilda não nos conta nenhum conto de fadas: os primeiros tempos de adaptação a um país, do hemisfério norte, europeu, potência colonizadora, a travar uma guerra colonial em três frentes (incluindo na sua terra,a Guiné), não foi fácil, não terá sido fácil... A Gilda terá conhecido o racismo, a discriminação ou até eventualmente o bullying por parte dos seus colegas de escola, experiências que são sempre traumatizantes para uma criança e que a marcam, como um ferrete, para o resto da vida...

O final feliz desta história é que a Gilda é hoje uma mulher que parece estar bem na sua pele, sentir-se bem na família e no trabalho e sobretudo ter tido, muito recentemente a alegria de começar a conhecer os irmãos paternos, a alegria (misturada com dôr) de ver pela primeira vez uma fotografia de um pai, o Afonso, que nunca conheceu, e de poder mostrá-la à sua filha de oito anos...

Foram muitos anos à espera de fazer as pazes com o passado, dividida entre duas terras, duas famílias, duas identidades, se bem que ela reconheça que praticamente já perdeu (ou estava em vias de perder) as suas raízes guineenses... Esperemos que isso não aconteça e que ela consiga, em breve, juntar e conhecer o resto da família, do lado materno e paterno, e inclusive (re)descobrir a sua terra, Catió, os seus altivos e tranquilizantes poilões, os seus palmeirais, as suas bolanhas, as suas gentes...

Graças ao álbum fotográfico de alguns dos nossos camaradas (e em especial do Victor Condeço), é possível entreabrir-lhe a porta que dá para o mundo da sua infância... Gilda, veja lá se estas imagens lhe dizem alguma coisa e se lhe despertam emoções ou recordações... Toda a sorte do mundo para si, por que você merece. Fica, mais uma vez convidada para pertencer a esta Tabanca Grande dos Amigos e Camaradas da Guiné. Um beijinho para si e para a sua filhota.

PS - Amigos e camaradas: este foi o drama de muitos civis, crianças, adolescentes, jovens e adultos, que também foram vítimas da guerra, que a guerra separou das suas famílias e da sua terra... Antes e depois da independência... Não temos estatísticas, para a Guiné, sobre as famílias lusoguineenses e seus descendentes, sobre os que ficaram na Guiné e os que se fixaram em Portugal, em Cabo Verde ou noutros países... Sobre o sucesso ou insucesso da sua integração (escolar, cultural, social, profissional...) no nosso país... Famílias ligadas à administração do território ou à actividade económica, como era o caso da família Pinho Brandão...

A Gilda Pinho Brandão é apenas o rosto de um drama silencioso para o qual na época tínhamos pouca ou nenhuma sensibilidade, apesar de convivermos com alguns comerciantes (portugueses e libaneses, sobretudo) que viviam nas povoações por onde passámos. Devemos penitenciarmo-nos por isso, reservando-lhe agora algum espaço do nosso blogue. Se alguém mais quiser voltar a abordar a este assunto, a porta fica aberta...

__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. postas anteriores:

30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1798: Região de Catió: Descendentes da família Pinho Brandão procuram-se (Gilda Pinho Brandão)

3 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1811: Vim para Portugal aos 7 anos, em 1969, e não tenho uma fotografia de meu pai, A. Pinho Brandão (Gilda Pinho Brandão, 44 anos)

5 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1817: Catió: Em busca da família Pinho Brandão (Leopoldo Amado / Victor Condeço / Armindo Batata / Gilda Pinho Brandão)

Guiné 63/74 - P1818: Da Suécia com saudade (1) (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (1): Hino à Guiné que nós conhecemos

Guiné > Vaqueiras manjacas da Ilha de Pecixe > Postal ilustrado (pormenor) > Série de postais ilustrados do tempo da Guiné Portuguesa > S/d nem editor ... Colecção de postais do nosso amigo e camarada José Casimiro Carvalho (ex-Fur Mil Op Esp, CCAV 8350, Guileje, Cacine, Gadamael e Paunca, 1973/74)... Os postais, acho que ele os coleccionava para mandar, com muitas ternura, ao seu velhote, no Porto... Esta série de postais, relativamente ousados para a época (tema: bajudas de mama firme...)., revelavam uma visão... excêntrica e etnocêntrica da Guiné dita portuguesa, típica do Estado colonizador e dos seus agentes (LG).


Foto: © José Casimiro Carvalho (2006). Direitos reservados.

Guiné > CCAÇ 2381, Os Maiorais (Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70) > Emblema.


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCAÇ 2381 (1968/70) > O Maioral Zé Teixeira, 1º cabo enfermeiro, junto ao obus 14 que batia a zona fronteiriça...

Fotos: © José Teixeira (2006). Direitos eservados.

Caríssimos Luís e Carlos:

Saúde, paz e felicidade para vós e todos os camaradas da Tabanca Grande.

Hoje, envio-os dois pequenos textos, que não são de minha autoria, mas de um Maioral, Capitão de Abril, que em 1976 decidiu passar à reserva e abalar até à Suécia onde recomeçou nova vida (1).

As saudades de bom português, essas têm vindo a desenvolver-se com o andar dos tempos e o Costa Belo foi à procura dos MAIORAIS através da NET e localizou exactamente o enfermeiro do Grupo de Combate que ele comandava, ou seja, eu próprio. A alegria partilhada por ambos, como deveis calcular foi enorme.

Naturalmeente que o fio da nossa conversa foi a Guiné de ontem e de hoje. Enviou-me um texto bem antigo que reflecte exactamente aquilo que nós sentimos.

Com a devida autorização aqui o junto, ao qual ousei dar um título - não te zangues, ó Belo - que me parece se ajusta ao conteúdo, pelo menos foi o que senti.

2. Comentário de L.G.: O José Costa Belo é bem-vindo, para mais sendo um camarada nosso que vive nessa bela e grande terra que é a Suécia. Zé, convida-o a fazer fazer parte desta nossa Tabanca Grande. Hoje vou começar a publicar os seus textos.


Um hino à Guiné que nós conhecemos,

por José Belo (1)

- Guiné! dos pântanos, das bolanhas, dos mosquitos e das febres.

- Guiné! Da mata onde havia momentos em que todos os ruídos paravam. Não se afastavam ou diminuíam, antes tudo se calava abruptamente, como se os seres vivos tivessem recebido uma ordem. Ouviam-se então coisas impossíveis.... O soprar húmido do vento, o suor dos nossos camuflados, a actividade frenética dos insectos, e mesmo, o batimento do nosso coracão.

- Guiné! Dos escravos, das revoltas nativas, das muralhas do Cacheu, que lá estavam quando cheguei, e lá ficaram ao partir.

- Guiné! Dos Fulas, dos Mandingas, noites de luar, falando dos avós dos avós, de outros chãos onde nunca houvera fome, dos pastores que no céu escuro guardam os milhões de estrelas.

- Guiné! Dos Balantas, símbolo pujante da Africa que luta, que trabalha o seu chão, mas que também se sabe divertir. (Ah, velha aguardente de cana!)

- Guiné! Dos Biafadas, dos Nalus, dos Papéis, dos guerreiros Felupes bebendo vinho de
palma pelo crânio dos inimigos vencidos.

- Guiné! Do matriarcado Bijagó.

- Guiné! De Bubaque... miragem de guerra!

- Guiné! De Ponta Varela, copacabana sem casas, sem gente, mas na qual num dia solarengo do princípio dos anos sessenta, Brigitte Bardot (Pasme!) tomou bom banho de Mar.

- Guiné! Das bajudas de mama firmada, lavadeiras de tantas lamas,(e porque não?) de algumas águas bem cristalinas

- Guiné! De Bissau, vilória perdida. Cidade feita de... avenida única....pouco mais! Da cerveja gelada, das ostras grelhadas com molho picante, dos mininos vendendo mancarra em coloridos alguidares de esmalte. Das tascas, dos restaurantes (?)que serviam gostoso chabéu que o Joaosssssinho Manjaco tão bem preparava!

... Bissau das muralhas do Forte da Amura. Lembrança constante de um...estar pelas armas!

... Bissau da piscina em Clube de Oficiais, mas também Bissau do Hospital Militar.

... Bissau - Os minutos que valaima oiro... roubados à morte que esperava no mato!

- Guiné! Da violência, da guerra tribal... dividir para governar!

- Guiné! Do Comando Africano, jovem herói, usado e abusado, para matar os seus em guerras não suas.

- Guiné! De Amílcar Cabral, que, com humildade, soube ouvir os gritos de um Povo.

- Guiné! Onde General destemido tentava tapar com mãos nuas os buracos nos diques, pretensiosamente levantados aos maremotos da História. Saberia ele? Saberíamos nós?... quando o víamos chegar aos locais mais perigosos da luta, visitar, interessado, os feridos, que olhávamos o... último dos Comandantes de Africa, num Portugal que jamais seria o mesmo?

- Guiné! Onde o Império acabou por ruir!

- Guiné! De um círculo. Dos amigos. Dos inimigos. Dos amigos inimigos. E, mais tarde, dos inimigos amigos!

- Guiné! De muitas e tão duras lições!

- Guiné! Do lendário comandante Nino, temido chefe guerrilheiro, que, depois de Presidente, coloca os seus filhos em colégio... do Porto!

- Guiné! Terra vermelha de argila e sangue! Da estrada de Buba a Aldeia Formosa, de Aldeia Formosa a Gandembel.

... Terra que abraçámos com violência, quando contra ela nos comprimíamos em chão de
emboscadas!

--- Terra que comungámos no pó e saliva que nos enchia a boca em rebentamentos de minas!

... Terra regada com tantas lágrimas de saudade, de dramas pessoais, de frustrações e de
dôr... a juntarem-se às vossas... de povo africano mártir!

- Guiné! De Mampatá, tabanca perdida na selva, onde, tão longe de tudo e de todos, acabámos por... nos encontrar!

- Guiné que foi vossa/nossa, mas que hoje sendo vossa/vossa, é bem mais nossa do que antes

Um Maioral, José Belo

Estocolmo, Setembro de 1981
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Nota de L.G.:

(1) José Costa Belo foi Alferes Miliciano na CCAÇ 2381 - Os Maiorais. Chegou até nós pela mão do Zé Teixeira. Vive na Suécia. Obrigado ao Zé Teixeira, por nos er feito chegar esta belíssima evocação da nossa (e)terna Guiné!

O Zé é um dos nossos mais activos e produtivos membros da nossa Tabanca Grande. É um grande contador de estórias. Vd. último post > 15 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1760: Estórias do Zé Teixeira (15): Tarde de Domingo com sorte

Os Maiorais da CCAÇ 2381 têm, além disso, uma página na Net, criada e editada pelo ZéTeixeira: chama-se, muito simplesmente CCAÇ 2381 - Os Maiorais.