domingo, 3 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8040: Carta Aberta a... (6) Sr. Presidente da República: o 10 de Junho, Dia dos Combatentes (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves:


Data: 31 de Março de 2011 15:42
Assunto: Carta Aberta ao Presidente da República



Meus caros camarigos editores:

Hoje mesmo enviei via site da Presidência da República, a carta que anexo, ao Senhor Presidente da República. Esta carta surgiu das ideias ontem apresentadas pelo António Martins Matos no Encontro da Tabanca do CentroA ele enviei o primeiro esboço desta carta, tendo-me dado conselhos preciosos para chegar ao texto final, que como acima afirmo, já foi enviado pelo site da Presidência.

Já recebi aliás a informação de que tinha sido recebida. O texto da carta envolve-me obviamente a mim, mas julgo que expresso, mais coisa menos coisa, o sentir da grande maioria dos Combatentes.

Fica à vossa disposição para publicação na Tabanca Grande e quem sabe, poder posteriormente receber a assinatura de todos aqueles que nela se revejam. Poder-se-á perguntar porque não a submeti à anterior apreciação de todos? Eu respondo, pela experiência que tenho e todos vós também, que tão cedo não teríamos um texto final que pudéssemos enviar. Assim, como acima refiro, a carta envolve-me a mim, mas pode ser expressão de todos aqueles que a ela queiram a aderir.

O modo de fazer essa adesão deixo-o ao cuidado de quem sabe mais do que eu dessas coisas.

Um abraço camarigo para todos do
Joaquim Mexia Alves

2. Carta aberta ao Presidente da República

Exmo. Senhor Presidente da República
Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva

Escrevo esta carta aberta a V. Exa., pois na sua qualidade de Presidente da República é também o Comandante Supremo das Forças Armadas de Portugal.

Aproxima-se o dia 10 de Junho, e como sempre acontecerão as respectivas celebrações e actividades, que se vão tornando no tempo e na história, cada vez mais afastadas daquilo que deveriam efectivamente ser.

Com efeito, hoje já não faz sentido o chamado “Dia de Camões e das Comunidades”, por razões tão óbvias que nem precisam ser enumeradas

O dia 10 de Junho, que deveríamos entender como o Dia de Portugal, esteve sempre ligado, na sua mais original génese, aos Combatentes de Portugal, que ao longo da História da Nação foram dando o melhor de si para a servir.

E é perfeitamente legitimo que assim seja, porque uma Nação que se honra da sua História, sempre deve homenagear os seus filhos que por essa História se entregaram com risco, e muitas vezes entrega da própria vida.

A maior parte das nações que de um modo geral Portugal considera aliadas ou amigas, têm em cada ano, um dia especialmente dedicado aos seus Combatentes, independentemente das razões ou legitimidade das guerras travadas.

Assim, em nações como a Grã-Bretanha ou os Estados Unidos da América, (para citar apenas estas duas), esse dia é comemorado com “pompa e circunstância” e os Combatentes são a figura principal das celebrações desse dia, sem distinção, conotações políticas, ou quaisquer outras, mas apenas respeitando e homenageando aqueles que serviram a Pátria com as suas próprias vidas.

Se o 10 de Junho não é entendido nesta dimensão, (e é óbvio pelo passado recente que o não é), duas coisas há a fazer:

- Ou fazer do 10 de Junho esse dia de homenagem e respeito aos Combatentes.

- Ou criar um novo dia específico para essa homenagem, na certeza porém, de que o 10 de Junho nos moldes em que é celebrado agora, perderá rapidamente a anuência e empenho dos Portugueses que agora, apesar de tudo, ainda minimamente tem.

Não se perguntarão as autoridades de Portugal, o porquê de, ainda havendo tantos Combatentes das guerras recentemente travadas por Portugal, ser tão diminuta a afluência às celebrações do 10 de Junho?

A resposta é sem dúvida muito fácil. É que os Combatentes não se revêem na forma como esse dia é celebrado e muito menos ainda na forma como são tratados nesse dia e em todos os dias.

Escrevo a V. Exa. por mim, mas também por muitos que ouço e pensam como eu.

Não se trata agora de subsídios, ou outras “compensações” financeiras, seja por que motivos forem, mas sim, única e exclusivamente, de respeito e consideração por aqueles que, tendo deixado tudo, (voluntária ou involuntariamente), não deixaram de servir Portugal, a maior parte das vezes em condições de terrível sobrevivência.

Foram gerações sacrificadas, mas generosas, como V. Exa. muito bem disse no seu recente discurso na “Cerimónia de Homenagem aos Combatentes no 50º Aniversário do início da Guerra em África”, e que, mesmo não tendo na sua maior parte “ido à guerra” de modo voluntário, não deixaram de cumprir até á exaustão com tudo o que lhes foi exigido, e em condições de inigualáveis dificuldades, prestigiaram Portugal e todos aqueles que pela Nação combateram desde a sua própria Fundação.

Pode parecer uma escrita épica, ou desajustada das “realidades” de hoje, mas é verdadeira para todos aqueles que se orgulham de ser Portugueses e se orgulham da sua História.

E isto, repito, nada tem a ver com política, ou formas de interpretar as guerras, mas sim como o respeito que sempre deve existir por aqueles que se deram pelos outros.

Nós, Combatentes, não queremos ser anónimos, nem envergonhados, (que o não somos), mas queremos sim, (tal como nos países acima referidos), desfilar, de pé, de cadeira de rodas, ou conduzidos por outros, seja qual for a nossa condição, acompanhados pelos estandartes e símbolos, sob os quais servimos Portugal.

Não nos movem quaisquer razões político/partidárias, nem conotações com qualquer regime, mas sim, a razão de querermos desfilar em Belém, pois queremos desfilar em homenagem e honrando aqueles que estão inscritos naquele Monumento aos Combatentes, e que deram tudo o que tinham a Portugal, ou seja, a sua própria vida.

Não queremos discursos de circunstância que ninguém ouve, nem queremos discursos de instituições mais ou menos estatizadas, queremos sim ouvir algum ou alguns de nós, que nos encham a alma, o coração, bem como o Comandante Supremo das Forças Armadas, para nos sentirmos vivos, para nos sentirmos respeitados, para sentirmos que a «Pátria nos contempla», não para nosso orgulho, mas para nosso respeito, e para que as gerações vindouras saibam que Portugal honra os seus filhos.

Senhor Presidente da República, está nas suas mãos ouvir os Combatentes!

Não, como acima refiro, as instituições mais ou menos “estatizadas” de Combatentes, mas ouvindo os Combatentes, que até pela força do seu passado, com muita facilidade se organizarão para responder a um seu convite.

Estamos, como V. Exa bem sabe, pois também fez uma comissão em Moçambique, a ficar cada vez mais velhos, já para além dos 60 anos, pelo que é tempo de se corrigir o desprezo a que foram e são votados os Combatentes de África.

E não só os de África, mas os de todos os tempos que serviram Portugal.

Desfilaremos, transportando com tanto orgulho o estandarte das nossas unidades militares da guerra em África, como com o estandarte dos nossos irmãos mais velhos da guerra na Europa, ou em qualquer parte do mundo.

Portugal precisa, mais do que nunca, de se olhar, de olhar as suas gentes, de redescobrir a generosidade com que os Portugueses sempre se deram pela sua Nação, para não corremos o risco de cada vez mais nos fecharmos em nós próprios apenas para “lambermos as nossas feridas”.

Homenageando, respeitando e enaltecendo os Combatentes, homenageamos, respeitamos e enaltecemos a vontade inabalável dos Portugueses.

Homenageando, respeitando e enaltecendo aquelas gerações, fazemos também com que as gerações de agora e as vindouras, sintam orgulho e vontade de pertencerem à Nação que «deu novos mundos ao mundo».

Está nas suas mãos, Senhor Presidente da República, marcar uma viragem importante e imprescindível nas celebrações do 10 de Junho, e assim, dar aos Portugueses e ao mundo, uma nova imagem de Portugal que honra os seus filhos, porque só por eles existe e é Nação.

Com os meus respeitosos cumprimentos

Joaquim Manuel de Magalhães Mexia Alves
Alferes Miliciano de Operações Especiais na disponibilidade.
Guiné 1971/1973

3. Nota dos editores:

Amigos/as, camaradas, camarigos/as:

Se quiserem manifestar o vosso apoio  a esta "carta aberta", podem fazê-lo directamente no sítio da Presidência da República Portuguesa... Cliquem em Escreva ao Presidente.  Têm à vossa frente um formulário que oferece uma interface gráfica para o envio da vossa mensagem, que não pode excer dos 10 mil caracteres (tomem como termo de comparaação a carta do JMA que tem cerca de 6600 caracteres com espaços).

Não se trata de nenhum abaixo assinado nem de nenhum petição pública. Trata-se apenas de informar os serviços da PRP que, a título pessoal, apoiam o conteúdo da carta do nosso camarada (sugerindo que seja repensado o tradicional formato das comemorações do 10 de Junho, em que os ex-combatentes não se revêem). Pode ser uma mensagem do seguinte teor: "Subscrevo a Carta Aberta ao Presidente da República Portuguesa, enviada em 31 de Março de 2011, por esta via, pelo cidadão e ex-combatente Joaquim Manuel de Magalhães Mexia Alves"...

Preencham os campos de resposta obrigatória, assinalados com asterisco (nome, e-mail, morada, etc.). Em relação ao motivo do envio da mensagem, podem responder o seguinte: Motivo=Informação. Temática= 10 de Junho, dia dos Combatentes.

Guiné 63/74 - P8039: In Memoriam (73): Cerimónia de homenagem aos Combatentes de Matosinhos caídos em Campanha em Angola, Guiné e Moçambique, dia 9 de Abril de 2011 pelas 11H15 no Cemitério de Sendim (Carlos Vinhal)

Memorial aos mortos no naufrágio do dia 2 de Dezembro de 1947 e aos caídos em campanha na Guerra do Ultramar, erigido no Cemitério de Sendim, autoria conjunta do Professor Alfredo Barros e do Arquiteto Francisco Pessegueiro. 
Na ponta esquerda do Memorial, ao fundo da foto, que simboliza o local onde o sol nasce, estão os nomes dos mais de 150 mortos no naufrágio. Na ponta direita, em primeiro plano, com o sol já a querer mergulhar nas águas do mar, estão os 70 nomes dos nossos camaradas caídos nos três TO.
A parte inferior do Memorial, em verde-água, simboliza o mar que matou uns quase à porta de casa e levou outros a caminho de África, onde haveriam de morrer.


NO DIA 9 DE ABRIL DE 2011 VAI TER LUGAR A CERIMÓNIA DE INAUGURAÇÃO DO MEMORIAL EM HOMENAGEM AOS 151 PESCADORES MORTOS NO NAUFRÁGIO DE 1 PARA 2 DE DEZEMBRO DE 1947, E DOS 70 MILITARES CAÍDOS EM CAMPANHA NA GUERRA COLONIAL EM ANGOLA, GUINÉ E MOÇAMBIQUE

1. O Concelho de Matosinhos vai finalmente ter um Memorial que perpetuará os seus filhos caídos em Campanha na Guerra Colonial. Este Memorial será partilhado com os pescadores falecidos no grande naufrágio de 2 de Dezembro de 1947.

Segundo os artistas plásticos que criaram o monumento, o Professor Alfredo Barros e o Arquiteto Francisco Pessegueiro, ambas as situações de morte tiveram um factor comum, o mar, que matou uns e levou outros ao local onde haveriam de morrer.


2. As cerimónias de homenagem, organizadas pela Câmara Municipal e pelo Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, começam pelas 10 horas da manhã, com uma Missa de Sufrágio na Igreja Matriz de Matosinhos, finda a qual haverá uma deslocação para o Cemitério de Sendim onde se situa o Memorial e onde a partir das 11H15 decorrerá a cerimónia oficial com o seguinte alinhamento:

Alocuções alusivas ao acto:

- Representante da Associação dos Pescadores
- Representante da Comissão dos Combatentes
- Representante da Liga dos Combatentes
- Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos


Inauguração do Memorial, com a bênção pelo Capelão Militar e deposição de duas coroas de flores

Homenagem aos Mortos

- Toque de Sentido
- Toque de Silêncio
- Toque de Homenagem aos Mortos
- 1 minuto de silêncio
- Toque de Alvorada
- Toque de Descansar

- Declamação de um poema por um Combatente e interpretação de um cântico pelo Coro da Associação dos Pescadores

Fim da Cerimónia


3. Graças à prestimosa colaboração do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, está praticamente assegurada:

Para a Missa:
- Uma Guarda de Honra ao Altar, composta por 4 militares e um Terno de Clarins.

Para o Cemitério:
- Uma Guarda de Honra composta por um Pelotão.
- Fanfarra mais caixa de guerra.


Neste Sol, no Ocaso, estão inscritos os nomes dos matosinhenses tombados em Campanha na Guerra Colonial.


Esta figura pictórica simboliza o esforço da juventude matosinhense em África no cumprimento do seu dever patriótico.


Parte intermédia do Memorial decorada com figuras pictóricas de autoria de Alfredo Barros, em que o mar está sempre presente. Ainda podemos ler, de Eugénio de Andrade, o poema "Despedida" que diz: "Colhe o oiro do dia na haste mais alta da melancolia".


4. Ficam desde já convidados a assistirem a esta homenagem todos os ex-combatentes, suas famílias e público em geral.

sábado, 2 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8038: Notas de leitura (224): João Teixeira Pinto, A Ocupação Militar da Guiné (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Março de 2011:

Queridos amigos,

Os relatórios do então Teixeira Pinto são uma preciosidade para o entendimento das mentalidades e da concepção imperial do tempo. Não se pode compreender a pacificação sem este conjunto de operações sob a batuta de um militar galvânico, valoroso e susceptível de entusiasmar as tropas irregulares, surpreendendo os seus relatórios pela minúcia como pede louvores e condecorações relatando factos e situações de inatacável heroísmo e valentia.

Um abraço do
Mário


João Teixeira Pinto, a ocupação militar da Guiné
por Beja Santos

Trata-se de um livro fundamental para entender as campanhas desenvolvidas por Teixeira Pinto, entre 1913 e 1915, e como estas alteraram o poder colonial português numa região em permanente perturbação e sublevação étnica. A edição desta obra é da Agência Geral das Colónias, 1936, a publicação foi determinada pelo próprio Ministro das Colónias.

Escreve-se no prefácio o seu filho, igualmente oficial e de nome João Teixeira Pinto:

Tudo o que aqui ficar dito, desejo que não seja considerado como o elogio de uma glória individual, mas como a afirmação de uma força e de uma superioridade natural da Raça e da Nação que realizou a ocupação da Guiné, usando de meios aparentemente tão frágeis que por outra Nação seriam considerados como absolutamente insuficientes e improfícuos (…) Em 1912 a nossa colónia da Guiné voltara a ser uma simples ocupação de praças-fortes, essas mesmas ameaçadas das consequências de uma nova revolta mais completa ou mais violenta (…) O que eu desejo fazer ressaltar é apenas a forma, bem portuguesa, como pôde ser realizada esta obra de ocupação militar e de pacificação, sem o mais leve dispêndio de dinheiros da metrópole e sem qualquer expedição de tropas metropolitanas. São publicados alguns documentos que revelam este facto notável de campanhas coloniais cujas despesas foram pagas com a simples pacificação do território – no imediato ingresso de impostos indígenas. Em todas as campanhas, ao lado do chefe e de um punhado de brancos, alguns dos quais ressaltam dos relatórios como verdadeiros heróis que merecem do seu país, batem-se os auxiliares indígenas. O que resulta de mais extraordinário desta ocupação militar da Guiné realizada por João Teixeira Pinto é que na obra de guerra como na obra de pacificação ela foi uma constante obra de captação do indígena (…) O prestígio que sobre os auxiliares escolhidos ele adquire chega a tomar aspectos de sobrenatural. Através dos relatórios das campanhas vêm-se surgir figuras de um heroísmo lendário. Entre eles ressalta a figura de Abdul Injai que merece ficar na história da expansão portuguesa como um herói (…) A falta de espírito colonial que certos governos e a falta de continuidade governativa não deixaram que o pacificador da Guiné fosse também o realizador da obra construtiva de que a Guiné necessitava e que para ele seria mais fácil do que para qualquer outro, porque o prestígio do seu nome entre os indígenas lhe facilitava toda a acção assimiladora e administrativa a realizar”.


Segue-se a nota de assentos onde ressalta, no essencial: desembarca em Bolama em Setembro de 1912, nomeado chefe do Estado-Maior da Província; no ano seguinte faz parte, como comandante, da coluna para estabelecimento de postos militares na região de Mansoa e Oio; faz parte como comandante da coluna de operações de Cacheu de 23 de Dezembro de 1913 a 14 de Abril de 1914; faz parte como comandante da coluna de operações aos Balantas de 15 de Abril a 2 de Julho de 1914, percorre regiões como Binar, Encheia e Bissorã; regressa à Guiné em Janeiro de 1915 e foi comandante da coluna de operações contra os Papéis e Grumetes revoltados na ilha de Bissau, participa na fortaleza de Bissau, toma Intim e Antula, Cumura e Prabis e Biombo. Recebeu inúmeros louvores e as mais altas condecorações.

Um exemplo: louvado pelos actos heróicos praticados como comandante de diminuta força de tropas regulares apoiada por uma pequena força de auxiliares que operou nas regiões de Mansoa e Oio, conseguindo estabelecer, apesar da grande resistência do inimigo, um posto militar, obrigou o gentiu a aceitar a nossa autoridade e ao pagamento do imposto e, bem assim, pela valentia, valor e coragem inexcedíveis e actos de verdadeiro heroísmo com que levou a cabo o estabelecimento de um posto militar em Mansabá, fez quebrar o valor guerreiro do já lendário Oio, desarmando e recebendo o imposto de palhota, submetendo os povos rebeldes da Guiné.


Os relatórios daquele tempo primavam por uma linguagem informal, faziam ressaltar a categoria cultural do seu autor e até os seus dotes literários. Teixeira Pinto assim procede com a operação do Oio. Começa por ir a Bafatá conversar com o administrador Vasco de Calvet de Magalhães, em Bolama prepara uma expedição, assentando-se que se deveria estabelecer um posto em Porto Mansoa e fechar o cerco à região do Oio. Disfarçou-se de inspector comercial e percorreu em Janeiro de 1913 toda a região entre Mansoa e Farim, atravessando o Oio. Apercebe-se que ao Norte de Morés tem muita população hostil, socorre-se de lanchas-canhoneiras para me intimidar as populações rebeldes. Ao pormenor, descreve os factos das diferentes incursões, é um relatório cheio de vivacidade, organizado como um diário, há voltas e reviravoltas, castigos exemplares, tabancas incendiadas, exaltação de comportamentos tanto das tropas regulares como o serviço dos irregulares.

Aqui se pode ler: não há maior suplício que o da sede mais foi suportado por todos sem mais o mais pequeno murmúrio”. Há imensos cuidados com os feridos, as matas são densas, os rebeldes expelem fogo em sortidas e depois desaparecem, a disparidade de armamento nunca é escondida. A capitulação é mencionada como o corolário lógico do esforço inaudito: “Prendi o grande xerife do Oio que era acusado por toda a gente como um grande investigador da revolta, tendo feito por várias vezes sacrifícios de crianças, e Talicô, régulo de Gendum, que gozava de grande influência, sendo um dos que dirigiu os massacres que tivemos anteriormente… Faltava ainda submeter os Balantas do Oio ao norte de Bissorã, mandei para ali o chefe Alpha Mamadu Seilu e da maneira como correu esse serviço dá o tenente Lima conta no seu relatório com uma apreciação minha. A 16, chamei todos os chefes das tabancas e disse-lhes que tinham de entregar o imposto de palhota pelos três últimos anos conforme V. Ex.ª me tinha indicado. E assim termina: “V. Ex.ª desculpar-me-á o mal alinhavado deste relatório que é singelo mas verdadeiro”.

Calvet Magalhães também faz o seu relatório e lança-se logo com uma preciosidade da forma: Sem pretender imitar o grande pregador, direi também “que bem tosca pode ser uma pedra, mas a paciência e perícia de um estatuário consegue transformá-la numa obra de arte, num objecto de valor. E continua: Porque essa obra, quando nela se empregue todo o esforço individual, toda a boa vontade para produzir alguma coisa de útil, não há contrariedades, não há revezes, nem dissabores, nem momentos de desalento e desespero que possam fazer vacilar e acobardar, e que num momento de hesitação se atire para o abismo e perca vãmente tudo quanto já se tinha feito. Está batido o Oio? Quantos pasmam? Quantos ainda duvidam? Tão terrível era a ideia que faziam desse horrível fantasma. E o administrador de Bafatá vai esmiuçando os pormenores, foi destruindo tabancas dos Oincas, acompanhas o transporte das munições e das armas, tudo tintim por tintim e assim termina: “. Ex.ª disse-me que após a guerra viria a esta localidade para combinar a forma da anexação dos territórios, porém eu neste pequeno território nada digo neste sentido nem dou a minha opinião sobre este assunto, o que só farei se V. Ex.ª entender que me deve ouvir.
Segue-se o relatório referente às operações na região de Cacheu. (**)

(Continua)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8017: Notas de leitura (222): A Luta pela Independência, por Dalila Cabrita Mateus (2) (Mário Beja Santos)

(**) Vd. também, poste de 20 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1615: Historiografia da presença portuguesa (5): O Capitão Diabo, herói do Oio, João Teixeira Pinto (1876-1917) (A. Teixeira-Pinto)
Vd. último poste da série de 31 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8022: Notas de leitura (223): Spínola, o anti-general, de Eduardo Freitas da Costa (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P8037: Blogpoesia (139): Eusébio, o babuíno de Bissum (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de  30 de Março de 2011:

Caro Carlos,
Aqui está de novo o chato do costume com mais umas sextilhas.

Eusébio era um babuíno que viva connosco no quartel, herdado de outras gentes, e que legamos a quem nos sucedeu, que tinha a particularidade de gostar de beber uns copos.
Como é sabido, não há almoços grátis...

Também nessa altura não havia borlas no copo, ou "pão p`ra malucos", como alguns diziam... pelo que Eusébio, assim se chamava o símio, se queria alimentar o vício, tinha de "vergar a mola"...

Sabido como qualquer político, Eusébio cedo se habituou a gamar para acudir à "vida social " que tinha.
Vai daí, à falta de obras de grande vulto com derrapagens a propósito, ou simples gravadores à mão, perante a inexistência de robalos à vista, contentava-se em roubar uns nhecs que depois trocava à malta por refrescantes loiras... vida difícil para quem, alcoólico anónimo, sentia sede com frequência...
Mas só largava a galinha quando agarrava a garrafa...

abraço
manuelmaia


EUSÉBIO O BABUÍNO DE BISSUM

Bissum tinha um enorme babuíno,
macaco cão ladrando qual canino,
acorrentado em corrediço arame...
Eusébio, herdou da bola a sua graça,
de guarda à oficina vê quem passa,
e acorre qual foguete a quem o chame...

Até aqui nada há de especial,
que é enorme a profusão deste animal,
de curioso tem gosto à bebida...
Eusébio, da cerveja um bom amante,
garrafa escorropicha em mero instante,
da loira por serviço recebido...

Mostrando ao dito Eusébio a garrafita,
sacramental palavra, nhec, dita,
liberto da coleira é de seguida...
O rumo da tabanca toma o símio,
(na arte de roubar um mestre exímio)
p`ra regressar com frango p`ra bebida...

Largando o nhec a loira chama a si,
macaco mais esperto que já vi,
Eusébio, de Bissum macaco cão...
"Ramada " em dia enorme de trabalho
com cinco ou seis visitas se não falho,
tombando, "ressonou" na ocasião...
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7933: Blogpoesia (114): Medalha???, dedicado a um soldado metralhado (Manuel Maia)

Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8036: Blogpoesia (138): Ai Guiné, Guiné (10) (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P8036: Blogpoesia (138): Ai Guiné, Guiné (10) (Albino Silva)

1. Décimo e último poste da série Ai Guiné, Guiné, trabalho em verso do nosso camarada Albino Silva (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), enviado em mensagem do dia 21 de Março de 2011:


AI GUINÉ GUINÉ (10)

Ó Bissau, tuas vivendas 
de um estilo que ainda hoje é
Palácios e Palacetes,
bem ao estilo da Guiné...

Tinhas os teus jardins,   
arranjadinhos, então,
as tuas ruas limpinhas 
naquele negro alcatrão...

Mas, enfim, lindo Bissau,   
pequenino sem igual,
tu hoje és só Guiné 
e não és mais Portugal...

Ficaste independente,   
Bissau foi a tua vez,
continuas sendo Guiné 
como eu sou português...

Levei anos sem querer 
em ti, ó Guine, eu falar
mas mais nada conseguia 
senão em ti Guiné eu sonhar...

Sonhos que não me deixam 
com estes anos passados
deixar de pensar na Guiné 
e daqueles maus bocados...

Eu sonho com a Guiné,
sonho com essa gente,
em sonhos vejo amigos 
Guineenses à minha frente...

Eu sonho com o passado 
e em sonhos ainda faço
as visitas às tabancas 
até chego a marcar passo...

40 anos sonhando,
parece que estou a ver
a Guiné, onde estive 
pois não consigo esquecer...

Foi duro aí ter passado
porque não havia paz,
eu era novo e corajoso 
porque ainda era rapaz...

Aí aprendi um pouco 
que a vida era dura,
quando deixei a família 
e fui para essa aventura...

E mesmo hoje Guiné 
gosto de em ti falar
e para não te esquecer 
prefiro sempre sonhar...

Sonhando contigo Guiném   
creio ser bom e não mau,
porque assim me lembro sempre 
da Guiné e de Bissau ...

GUINÉ FOI CASTIGO,   
GUINÉ FOI MESMO VERDADE,
GUINÉ FOI NA JUVENTUDE,   
GUINÉ HOJE É SAUDADE.

FIM

Albino Silva
Soldado Maqueiro
NM 01100467
Teixeira Pinto
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Nota de CV:

Vd. postes de:

21 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7975: Blogpoesia (122): Ai Guiné, Guiné (1) (Albino Silva)

22 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7982: Blogpoesia (128): Ai Guiné, Guiné (2) (Albino Silva)

23 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7988: Blogpoesia (130): Ai Guiné, Guiné (3) (Albino Silva)

24 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7995: Blogpoesia (131): Ai Guiné, Guiné (4) (Albino Silva)

25 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7999: Blogpoesia (133): Ai Guiné, Guiné (5) (Albino Silva)

28 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8006: Blogpoesia (134): Ai Guiné, Guiné (6) (Albino Silva)

30 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8018: Blogpoesia (135): Ai Guiné, Guiné (7) (Albino Silva)

31 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8026: Blogpoesia (136): Ai Guiné, Guiné (8) (Albino Silva)

1 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8031: Blogpoesia (137): Ai Guiné, Guiné (9) (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P8035: Episódios da Guerra na Guiné (Manuel Sousa) (1): A crise de Guidage

1. Episódios da Guerra na Guiné, trabalho do nosso novo camarada e Manuel Sousa (ex-Soldado At da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74), enviado em mensagem do dia 15 de Março de 2011:


EPISÓDIOS DA GUERRA NA GUINÉ 1973/1974 (1)

O Batalhão 4512 em campanha na Guiné, 1973/1974, estava sediado na região de Óio, em Farim, Sector 02, com as suas Companhias distribuídas por Nema, Jumbembém, Binta e Cuntima.

O ex-soldado Manuel Luís Rodrigues Sousa, que integrava o 3.º Pelotão da 2.ª Companhia, instalada no subsector de Jumbembém, de cujo quartel apresenta a fotografia, propõe-se a fazer o relato de dois dos vários recortes de guerra em que esteve envolvido, intervalados com a partilha de uma lição de vida, dentro do contexto da guerra: “AFINAL OS ANJOS ACOMPANHAM-NOS

- A CRISE DE GUIDAGE
- AFINAL OS ANJOS ACOMPANHAM-NOS
- MINAS NA PICADA ENTRE JUMBEMBÉM E LAMEL.

Quartel de Jumbembém, 1973/1974.

A CRISE DE GUIDAGE

Nos primeiros dias de Maio de 1973, encontrava-se o meu Pelotão no limite da picagem, do subsector de Jumbembém, entre Jumbembém e Canjambari, em Sare Tenem, a fazer segurança à picada até ao regresso da coluna.
Cerca das 10/11 horas começou a ouvir-se intenso bombardeamento para os lados de Farim, dando para perceber, contudo, que o mesmo bombardeamento era muito mais longe, indiciando que, àquela hora, se trataria de alguma emboscada, já que os ataques a quartéis por parte do PAIGC estava quase convencionado que só ocorriam ao cair da noite até ao princípio da madrugada.
Durante todo o dia em que ali permanecemos o intenso fogo continuou, com uma ou outra pequena interrupção, chegando-nos então a informação, através do homem das Transmissões, que o quartel de Guidage estava a ser atacado.


Fotografia do nosso camarada Albano Costa, retirada da internete.

Logo no dia seguinte, já no quartel, tivemos conhecimento que uma coluna de reabastecimentos que se deslocava de Farim, ou de Binta, para Guidage, que continuava em constante flagelação, tinha sido atacada antes da bolanha do Cofeu, resultando alguns mortos e a destruição de 3 ou 4 viaturas, uma delas visível nesta fotografia.


Fotografia do nosso camarada Albano Costa,  retirada da Internete.

Entretanto, no dia 10 de Maio, o 2.º Pelotão recebeu ordens para se deslocar para Farim, a fim de reforçar uma outra coluna em preparação com destino a Guidage.
A arrepiante história desta coluna é contada na primeira pessoa pelo ex-furriel Fernando Araújo, que creio que comandava aquele pelotão na altura, que podem consultar no link seguinte (copiar e colar no “motor de busca”)

http://coisasdomr.blogspot.com/2010/04/m207-historia-de-uma-coluna-guidage-na.html


Regressou então o 2.º pelotão a Jumbembém com uma baixa, o soldado Manuel Geraldes, que foi enterrado em Guidage, juntamente com outros militares. (exumado em 2008, juntamente com outros militares, alguns deles pára-quedistas, cujos restos mortais foram transladados para a aldeia da sua naturalidade, próximo de Bragança. O livro “A última Missão” de José Moura Calheiros tem como base o resgate dos restos mortais destes militares.

Soldado Manuel Geraldes à esquerda da foto, em primeiro plano.


Aí pelo dia 20 de Maio, foi a vez do 3.º Pelotão, a que eu pertencia, comandado pelo Fur Mil Aires, coadjuvado pelo Fur Mil Pereira, já que o pelotão passou por alguns períodos “órfão” de comando de oficial subalterno, visto que o Alf Mil Pedroso tinha sido destacado para uma Companhia de Nativos, para o K 3, receber ordens para se deslocar para Binta, já com a missão definida de manter a segurança da picada entre Binta e Guidage, atrás de uma coluna de reabastecimentos que entretanto já tinha partido dali para Guidage.
Avançámos então, cerca das 11 horas, creio que acompanhados também por alguns militares de Binta ou de Farim, conhecedores do percurso.
Passámos as viaturas destruídas na emboscada a que atrás me referi, em local de mata muito densa e, um pouco mais à frente, encontrámos a referida coluna parada, com um fuzileiro com uma perna cortada por ter accionado uma mina anti-pessoal.
Regressou então a coluna e toda a força a Binta, com excepção de um Grupo de Pára-quedistas que mais tarde chegou a Guidage, depois de ter caído em uma ou duas emboscadas por parte do PAIGC.

Ali permanecemos quase uma semana, a ração de combate e sem tomar banho, a aguardar a organização de uma coluna reforçada com Comandos, Fuzileiros, Pára-quedistas, Sapadores e Engenharia em número aproximado de 300 a 400 homens, talvez para mais.

No dia 29 de Maio, cerca das 09H00, esta coluna, incluindo o meu pelotão, inicia a progressão em direcção a Guidage.
Os Sapadores à frente a picar, com os flancos, pelo interior da mata, protegidos por Fuzileiros e Pára-quedistas, seguindo o resto da força atrás a pé e nas viaturas, incluindo um Grupo de Comandos e Engenharia com máquinas caterpillares.

A cerca de 4 ou 5 quilómetros, antes das viaturas destruídas a que acima me referi, zona já mais perigosa, os Sapadores recusaram-se a picar, alegando cansaço físico.
É então recebida ordem para o pelotão de Jumbembém, em que eu estava integrado, avançasse para a frente para picar.
Nesse dia, na escala que tínhamos no pelotão, calhava-me a mim a picar.

Cheguei à cabeça da coluna e foi-me entregue uma pica (um pau com um ferro num extremo) pelo capitão que comandava a coluna, ordenando-me que começasse a picar na rodeira do lado esquerdo, para logo, após umas picadelas, me ordenar para passar para a rodeira do lado direito, já que atrás de mim se encontrava outro picador, o soldado Lopes, seguindo mais dois atrás, um de cada lado, seguidos de um grupo de Comandos.

Entretanto, após ter começado a picar, há um oficial que sugere ao referido capitão, para, a partir dali, as máquinas da engenharia começarem a abrir nova picada paralela àquela, dada a forte probabilidade de estar minada.
Referiu que não, argumentando que ali o terreno era firme, pois só mais lá para a frente é que as máquinas abririam nova picada.

Continuei então a picar, pelo lado direito, sobe grande tensão, em silêncio, ouvindo-se apenas os motores das viaturas um pouco distantes à rectaguarda, debaixo de calor intenso e reparei que à frente, a cerca de 20 metros, do lado esquerdo da picada, se encontrava uma árvore de grande porte, cujas raízes salientes no terreno atravessavam a picada.

Eu era o primeiro homem lá à frente, sendo certo que pelos flancos, pela mata, como atrás referi, seguiam forças de fuzileiros e pára-quedistas.

Ouvi o soldado Lopes que me precedia, como disse na rodeira do lado esquerdo, a dizer-me em sussurro:

- Sousa, vamos com cuidado.

No mês de Maio já as primeiras chuvas tinham caído e o terreno da picada estava tão uniforme que não dava para se vislumbrar quaisquer vestígios que me permitissem detectar visualmente a existência de minas.
Depois de picar cerca de 50 metros, isto é, já picava para lá da referida árvore a cerca de 20/30 metros, ocorre atrás de mim uma enorme explosão, o que me levou instintivamente a baixar-me para me proteger, ficando envolvido por fumo negro e terra que me caiu em cima em consequência da mesma explosão.
Momentaneamente o silêncio foi absoluto, interrompido entretanto pelo queixume de alguém a trás:

- Ai minha mãezinha!

Continuei então ali amarrado, até que, volvidos alguns instantes, me foi passada a palavra que o pessoal de Jumbembém regressaria a Binta.
Recuei pelas pegadas que tinha feito em sentido contrário e apercebo-me, ao chegar novamente à referia árvore, que o meu colega, soldado Lopes, que me substituiu na rodeira do lado esquerdo, estava morto e o que clamava “ai minha mãezinha” era um furriel dos Comandos que evidenciava esfacelamento do rosto, que teria sugerido ao soldado Lopes para picar precisamente sob as raízes da árvore que referi. (Sabe-se que este furriel ficou cego em consequência dos ferimentos).
Vi ainda mais um ferido ou outro, mas sem gravidade.

Regressou o meu pelotão em duas viaturas a Binta, transportando o corpo do soldado Lopes, que depositámos numa das muitas urnas que se encontravam armazenadas, umas já ocupadas outras vazias, num armazém em Binta, cujos restos da estrutura ainda podem ver na fotografia recente que se segue.

Fotografia do nosso camarada Albano Costa retirada da internete.


Já não voltámos a integrar a coluna, o nosso estado de ânimo, pelo que descrevi, já não era o melhor, e soubemos que a partir daquele local a coluna continuou por uma nova picada até próximo da bolanha do Cofeu e, quando entrou novamente na picada velha, um condutor que já se encontrava em Bissau para regressar à Metrópole, depois da sua comissão cumprida, entretanto incorporado na coluna, ao desviar-se um pouco do trilho das outras viaturas, accionou uma mina que lhe causou a morte.
Regressámos então a Jumbembém com menos este colega:



O nosso estado físico e psíquico é bem ilustrado por esta minha fotografia, aquando da chegada de Guidage a Jumbembém. Com 22 anos, mais parecia ter 60.


Para melhor avaliarem, comparem com esta minha fotografia

Vou aqui reproduzir um excerto do relato do nosso camarada José Afonso, ex-furriel da CCVA 3420, que se refere precisamente à situação que eu acabei de descrever mais em pormenor, cujo texto mais abrangente pode ser visto neste link:

http://blogueforanada.blogspot.com/2006/02/guin-6374-cdxcvi-salgueiro-maia-e-os.html
(copiar e colar no “motor de busca”.

“…A 29 de Maio inicia-se a abertura do itinerário Binta / Guidage. Cerca das 10 horas, ao ser feita a picagem, foi accionada uma mina anti-carro de que resultou um morto, um furriel cego e 2 feridos ligeiros que foram evacuados para Binta, escoltados por 2 Unimog e cerca de 30 homens que, chegados a Binta, nunca mais regressaram como estava decidido (não foram por isso punidos)”.

Sobre este excerto, principalmente sobre o parêntese com que termina, quero fazer um comentário:

- À data dos factos que acabei de narrar, mesmo como simples soldado que era, tive a percepção de que o meu pelotão, sem comando de oficial, depois dos Sapadores se recusarem a picar ao chegarem à zona mais perigosa da picada, foi “empurrado” lá para a frente como rebenta-minas.

- Se tivéssemos connosco o Alferes Pedroso, que tinha sido o Comandante do Pelotão, homem de estatura baixa, mas um gigante na sua convicção e determinação, depois do pessoal especializado se recusar a picar, nós jamais seríamos incumbidos dessa tarefa e a alternativa para o capitão seria mesmo decidir abrir nova picada como estava previsto.

- A esta distância de 37 anos, acabo de saber pela narrativa do José Afonso, que o capitão que comandava a coluna, o que me entregou a “pica” para picar, era o Capitão Salgueiro Maia, cuja Companhia que comandava, CCVA 3420, integrava a mesma coluna. Sabendo isso hoje, é caso para perguntar: porque é que não envolveu os militares da Companhia dele na picagem?

- Queria só dizer, e voltando ao teor do texto do José Afonso, o meu pelotão recebeu ordens para regressar a Binta com o corpo do falecido soldado Lopes. Não sei se havia ordens transmitidas ao Furriel Aires que nos comandava para depois voltarmos a regressar à coluna, o que é certo é que não voltámos.
Lamento que o José Afonso tenha referido “ (não foram por isso punidos)”.
Não podíamos ser mais punidos do que termos estado naquele inferno, com as consequências trágicas que relatei, cujo castigo nos marcará de forma indelével ao longo das nossas vidas.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 31 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8020: Tabanca Grande (273): Manuel Luís Rodrigues Sousa, ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 (Jumbembem, 1973/74)

Sobre Guidaje, entre outros relatos, vd. postes do nosso camarada Daniel Matos de:

16 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6000: Os Maradados de Gadamael (Daniel Matos) (1): Por onde andaram e com quem estiveram?

18 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6014: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (2): Levar a lenha e sair queimado

20 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6027: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (3): Os dias da batalha de Guidaje - Antecedentes à nossa chegada

24 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6041: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (4): Os dias da batalha de Guidaje, 15 a 18 de Maio de 1973

30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6069: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (5): Os dias da batalha de Guidaje, 19 de Maio de 1973

2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6090: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (6): Os dias da batalha de Guidaje, 20 e 21 de Maio de 1973

5 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6108: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (7): Os dias da batalha de Guidaje, 22 e 23 de Maio de 1973

14 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6154: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (8): Os dias da batalha de Guidaje, 24, 25 e 26 de Maio de 1973

18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6178: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (9): Os dias da batalha de Guidaje, 27 e 28 de Maio de 1973

21 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6201: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (10): Os dias da batalha de Guidaje, 29 e 30 de Maio de 1973

24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6235: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (11): Os dias da batalha de Guidaje, 31 de Maio e 1 a 12 de Junho de 1973

27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6255: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (12): Os três G e a proclamação da Independência

30 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6283: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (13): Baixas da CCAÇ 3518 em Guidaje

3 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6307: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (14): Cemitérios de Guidaje e Unidades mobilizadas na Madeira

7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6334: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (15): Hino de Os Marados, Dedicatória e Balada dos Amigos Separados
e
9 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6351: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (16): Composição da CCAÇ 3518


Do nosso camarada José Manuel Pechorro de:

19 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5300: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - I Parte (José Manuel Pechorrro)

21 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5310: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - II Parte (José Manuel Pechorrro)
e
16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5479: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - Agradecimento e algumas informações (José Manuel Pechorro)


Do nosso camarada Manuel Marinho de:

15 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4957: Tabanca Grande (173): Manuel Marinho, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Farim e Binta (1972/74)

7 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5067: Guidaje, Maio de 1973 (1): Momentos difíceis para as NT (Manuel Marinho)
e
7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5230: Guidaje, Maio de 1973 (2): O fim do pesadelo (Manuel Marinho)


O nosso camarada Amílcar Mendes da 38.ª CComandos também escreveu sobre Guidaje. Entre outros, vd. postes:

27 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1123: Um espectáculo macabro na bolanha de Cufeu, em 1973 (A. Mendes, 38ª Companhia de Comandos)
e
4 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2719: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos (Amílcar Mendes)


Vd. ainda postes do nosso camarada Pára-quedista Victor Tavares de:

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto
e
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

Guiné 63/74 - P8034: Controvérsias (117): No rescaldo do Almoço da Tabanca do Centro, onde mais uma vez se falou do nosso dia, o dia dos ex-combatentes (António Martins de Matos)

1. Mensagem do nosso camarigo António Martins de Matos [ ex Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, foto actual à direita,], com data de 30 de Março último:

Assunto: Rescaldo do Almoço da Tabanca do Centro

Caros amigos:


Este último almoço da Tabanca do Centro foi rico em novidades.

Em primeiro lugar, uma série de caras novas, sinal que a fama da Tabanca do Centro (ou será do cozido da Dona Preciosa?) está a alastrar.

Em segundo lugar porque tínhamos um aniversariante [, o António Graça de Abreu,] que, apesar de vir dos confins do mundo, se atreveu a passar o dia com o nosso pessoal, já devia suspeitar que lhe tínhamos preparado um bolo a condizer.

Em terceiro lugar,  porque a dado momento e como resultado de uma discussão tripartida entre o J. Dinis, o Almirante Da Gama e esta praça, veio à baila o tema "10 de Junho".

E pronto, diria a minha amiga Ana Duarte, o fogo pegou-se ao capim.

Para os que não estiveram neste almoço posso resumir o que se discutiu nestes termos:

- Estamos fartos de nos "fazerem" e dizerem "como nos devemos comportar" no dia dos ex-combatentes.

- Queremos ter uma palavra na sua elaboração, não queremos que a coisa seja parecida com um piquenique, queremos desfilar em continência aos que morreram pela Pátria.

- Que pode ser o 10 Junho ou o 34 de Outubro ou o 38 de Setembro, mas queremos que o dia não tenha conotações político/partidárias, seja tão só o... Dia dos Ex-Combatentes.

Pela minha parte já falei do assunto nos Postes 6618, 6705,  6725 [e 7272] pelo que me escuso de repetir.

Até houve uma série de camarigos a concordar com o que então afirmei mas, para além de umas palavras de apoio, nada mais aconteceu.
~
Nesta nova discussão aparentemente estávamos todos de acordo,.....

...... vamos, fazemos isto ou aquilo, isso, agora é que é, blá blá...

Conhecendo quem organiza as cerimónias (podem ficar descansados que este ano vai ser copy paste), caso haja vontade do "pessoal", até posso dar um pequeno empurrão para que alguma coisa mude. 

Mas deixem contar-vos uma história verdadeira:

Em Cascais e nas traseiras do cinema S. José havia um bom restaurante de seu nome Estribinho. Como sabem.  a fama dos restaurantes depende da categoria dos cozinheiros e aqui esta regra aplicava-se, a cozinheira era lá do norte, pequenina, roliça e sem papas na língua.

Um dia ouvi um dos empregados a pedir-lhe uma "açorda sem coentros". Ela, pondo as mãos na anca, respondeu logo de imediato_
- Não faço!!!
- Porquê?
- Uma açorda sem coentros é como uma mulher sem mamas!!!

E pronto, não fez.

Como é que esta história vem ao caso? Um general sem camarigos a apoiarem-no é como... uma açorda... sem coentros.

Revejam os postes mencionados e ...ORGANIZEM-SE. Ou então ... calcem as pantufas e calem-se de vez.

Abraços

AMM

[ Revisão / fixação de texto / sublinhados / título: L.G.]


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Nota do editor:



Último poste da série > 22 de Dezembro de 2010  > Guiné 63/74 – P7486: Controvérsias (114): Direito de resposta a comentários do poste P7392 (Magalhães Ribeiro)

Guiné 63/74 - P8033: Os nossos regressos (24): A nostalgia dos tempos em que a amizade, a coragem, a dor, o sofrimento em "fogo lento", o sacrifício, a morte, a solidariedade, a alegria de viver, a camaradagem e tantos outros sentimentos nos tinham unido fortemente e, mesmo, para sempre (Manuel Joaquim)

1. Comentário de Manuel Joaquim ao poste P8028 (*)

Caros camaradas:

Ora aí está uma boa ideia do J. Belo. Para mim, então, vinha mesmo a calhar. É que ... Há muitos "buracos" nas minhas memórias de guerra mas há um que me surpreende pela sua extensão. Refiro-me à memória da viagem de regresso: um vago "flash" do ajuntamento no cais de Bissau (Uige encostado) e, de novo, uns "flashs" do aglomerado de soldados e familiares no cais de Lisboa. Da viagem propriamente dita, hoje não me recordo praticamente de nada! Ao invés do que sucedeu com a viagem de ida, da qual tenho boas memórias! Porquê?

Tenho uma opinião, no que me diz respeito.

Lembro-me de dizer, e repetir, que quando chegasse a Lisboa desceria às cambalhotas as escadas do navio, tal seria a minha alegria. Pois, nem me lembro de as descer mas, de certeza, que não foi às cambalhotas nem, sequer, a correr!

Que foi feito da esperada emoção?

Tenho cá p'ra mim que o subconsciente absorveu as emoções mais fortes e a violência da despedida. Desde Bissau sentida cada vez mais próxima, a desagregação daqueles grupos de camaradas (mais do que família) já me trazia a nostalgia do futuro, a nostalgia dos tempos vividos na Guiné. Tempos esses em que a amizade, a coragem, a dor, o sofrimento em "fogo lento", o sacrifício, a morte, a solidariedade, a alegria de viver, a camaradagem e tantos outros sentimentos nos tinham unido fortemente e, mesmo, para sempre.

Após a separação ficámos "órfãos" sem o sentir, desligámo-nos com alguma emoção mas sem problemas, acobertados e protegidos pelo desejo de construir com premência uma vida nova, "a nossa verdadeira vida", e esquecer a de combatente. Mas esta ficou em hibernação, durante bastante tempo, para a maior parte de nós. 


Passados estes anos vemos, pelos blogues e sites que proliferam na blogosfera, que a vida de combatente voltou a emergir em força e com a força dos elementos que a enformaram.

Estamos velhos (ou quase) e sentimo-nos emocionados e aconchegados (bem?) naquele espaço de emoções vivido (e sofrido) na nossa juventude. É este espaço que agora nos revisita para nos animar e nos dizer que a Vida é assim, é bela, feia, alegre, triste, curta ou longa,cheia ou vazia, "chata" ou divertida. Mas quando é vivida com emoção é que "merece" ser chamada VIDA.

Por isso tenho (temos?) saudades dela, a vida vivida no chão da Guiné. Ou tenho saudades é da minha juventude?!!!

Um grande abraço 


Manuel Joaquim
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(*) Vd. poste  de 1 de Abril de 2011  >Guiné 63/74 - P8028: Contraponto (Alberto Branquinho) (26): Teatro do Regresso

Guiné 63/74 - P8032: Os nossos médicos (25): Dois louvores militares atribuídos ao ex-Alf Mil Med Amaral Bernardo (CCS / BCAÇ 2930, e CCAÇ 6, 1970/72)












Cópia de dois louvores atribuídos ao Alf Mil Médico Amaral Bernardo, pela sua actuação como homem, médico e militar. no TO da Guiné: um do Brigadeiro Comandante Militar; outro do comandante do BART 2924, pelas "excepcionais qualidades reveladas durante cerca de um ano em que serviço na CCAÇ 6" [, em Bedanda].









Guiné > Região de Tombali > CCAÇ 6 > Bedanda  > 1971 >   Fotos do Álbum de Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Med, CCS / BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72)...  A última é mais recente, e foi tirada na sua casa de campo: mostra a espada que lhe foi oferecida, à despedida,  pelo pessoal da CCAÇ 6.

Fotos: © Amaral Bernardo (2011). Todos os direitos reservado



1. No seguimento do poste P7825, de 20 de Fevereiro último (*), o nosso camarada Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico, pretendendo pôr um "ponto final" na troca de mensagens com o Cor Art Ref António Carlos Morais da  Silva, solicita-me que publique, para conhecimento dos seus camaradas da Tabanca Grande, os dois louvores que lhe foram dados pelos seus superiores hierárquicos e que muito o honram.


E  acrescenta:: (...) "Nesta fase da minha vida, quase 70, intensamente vividos (penso que nenhum médico, na guerra da Guiné, passou o que eu passei- desculpa a imodéstia) só quero paz. Sou um homem realizado - até na guerra - e de consciência tranquila"... Tem depois uma palavra de apreço pelo editor e pelo nosso blogue: "Luís, agradeço-te a maneira com conduziste este delicado assunto. Sai enaltecido este espaço que comandas e principalmente tu"... E manifesta também a vontade de se encontrar com a malta de Bedanda,  bem como com os camaradas da Tabanca de Matosinhos: "Se vieres à Tabanca de Matosinhos ou ao Porto, liga-me. Diz ao homem do blogue  aqui do norte,  que me contacte. Queria ir encontra-me com a malta de Bedanda".


Da minha parte, terei muito gosto em revê-lo e dar-lhe um Alfa Bravo numa próxima oportunidade, no Porto, no seu Porto.
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Nota do editor:


20 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7825: Os nossos médicos (24): Convite ao Cor Art Ref Morais da Silva para "partir mantenha", quando vier ao Porto (Amaral Bernardo)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8031: Blogpoesia (137): Ai Guiné, Guiné (9) (Albino Silva)

1. Nono poste da série Ai Guiné, Guiné, trabalho em verso do nosso camarada Albino Silva (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), enviado em mensagem do dia 21 de Março de 2011:


AI GUINÉ,  GUINÉ (9)

Com o Atlântico calmo,
com suas águas a brilhar,
suas ondas meigas de espuma 
vinham Bissau abraçar...

Havia mais avenidas 
que também nelas passei,
Rotundas e tantas ruas,   
andar nelas eu adorei...







Lá na Praça do Império,   
Avenida de nome igual,
pois vinha lá do Palácio 
e ia até à marginal...

Era bem movimentada,   
Restaurantes com café
Bares e também Cinema 
e bem ao centro a Sé...

Escolas, Colégios e mais 
para estudantes que havia,
Professores que ensinavam,   
Alunos que aprendiam...



Casas com miudezas,
Rádios roupas e cassetes,
tecidos bem coloridos,   
roupas feitas e carpetes...





Eu até vi compradores 
sem dinheiro e bem tesos,
e por lá não haver Escudos,   
pois o dinheiro era Pesos...

Havia mais Avenidas ,
todas elas de bom gosto,
Estádios de Futebol,
em Bissau havia desporto...



O Sporting de Bissau 
tinha o Benfica rival,
ambos jogando a bola 
e filiais de Portugal...







Naquela grande Rotunda,
bela era um primor,
era lá que então se via 
o Palácio do Governador...

Ainda me lembro bem,   
se calhar nem vou esquecer,
quando falo de Bissau 
parece que a estou a ver...

Bissau era pequenino 
mas bonito de verdade,
bem depressa o conheci 
e hoje tenho a saudade...

Fiquei gostando de ti 
e não te irei esquecer,
e a saudade é tão forte 
que eu só te queria ver...







Ver se havia tudo igual 
como desses tempos então,
Bissau, Santa Luzia 
mesmo Brá e o Pilão...

Com alguns Pesos nos bolsos 
em Bissau era bom estar,
nas esplanadas,  na sombra,   
com cerveja a refrescar...



Na Cidade pela noitinha,   
Bissau era encantador
e andando de rua em rua 
nem se sentia o calor...

Durante o dia o calor 
era mesmo de arrasar,
só debaixo das palmeiras 
é que se podia estar...



(continua)

Ilustração: Postais do álbum fotográfico de Agostinho Gaspar (Leiria)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 31 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8026: Blogpoesia (136): Ai Guiné, Guiné (8) (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P8030: Filme com fotos do Sargento-Mor Humberto Duarte dedicado aos ex-combatentes que já partiram (Ana Duarte)



1. A nossa amiga Ana Duarte, viúva do nosso camarada Sargento-Mor Humberto Duarte, que foi Fur Mil Op Esp / RANGER do BCAÇ 4514, Cantanhez - 1973/74, em mensagem do dia 29 de Março, enviou-nos este filme com um pequeno texto de apresentação:

O texto foi tirado de outro que me tinham enviado e que era escrito por um senhor brasileiro Getúlio ...e dedicado a todos os soldados mas especialmente aos que foram em missão ao Haiti. 

Fiz umas modificações no texto, escolhi a música, fotos do Sarg-Mor Humberto Duarte e dedico-o a ele e todos os ex-combatentes que já partiram.




Ana Duarte
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6667: As nossas mulheres (17): Um pouco de mim (Ana Duarte)