Olá Luís Graça e restantes Camaradas da Guiné:
Esta estória que vou aqui narrar não terá nada de especial, no entanto e como para mim foi mais uma das aventuras vividas aquando da estada na Guiné com o meu marido e filho, mais propriamente em Bissorã, entre setembro de 1973 e Junho de 1974, vou partilhá-la com toda a tertúlia .
A minha viagem de avião da Guiné até ao Porto, com passagem por Lisboa
Quando chegou o dia de regressar à metrópole e após o término da comissão de serviço do Henrique em Bissorã, foi necessário preparar a viagem até ao Porto.
Após todos os preparos lá chegou o dia tão esperado e as expectativas de tudo correr bem eram das melhores, só que, nem sempre as coisas são como nós queremos e então esse dia foi uma espiral de aventuras em que os principais protagonistas foram: eu, o meu filho, três periquitos numa caixa de sapatos e à mistura uma tripulação dos aviões da TAP. Mas eu explico.
No dia 29 de Junho de 1974 o Henrique lá nos acompanhou até Bissalanca para eu embarcar num voo da TAP rumo ao nosso Portugal. A dita aventura começou logo aí porque o avião que chegou de Portugal e que nos haveria de transportar, segundo informações, quando aterrou em Bissau, ao dar a volta na pista, embateu com a asa numa vedação, sendo necessárias longas horas de espera até chegar outro avião.
Aerogare e Torre de Controle do Aeroporto de Bissalanca, hoje Aeroporto Osvaldo Vieira.
Foto: Américo Dimas em Especialista da Base Aérea 12 - Guiné 65/74, com a devida véniaQuem esteve na Guiné deve lembrar-se de que naquela altura o conforto do aeroporto era nenhum, mas isso não me afetava não fosse o caso de estar cheia de bagagem de mão, mais um filho de três anos completamente irrequieto. O pior foi ter de aguentar os periquitos com saúde dentro da caixa. É que os danados começaram a roer os buracos por onde respiravam e eu passava a vida a tapá-los com pedaços de pão e até lencinhos tive de usar.
Nós tínhamos programado os tempos e não aquele brutal atraso. Finalmente e após várias horas de espera lá embarcamos e o avião seguiu a sua viagem com toda a normalidade. Eu relaxei um pouco, até porque o pessoal assistente era do mais simpático possível, passando quase toda a viagem a levar o Miguel até à cabina de pilotagem. Enfim estava mesmo a ser uma viagem muito agradável, até que...
Vejo um comissário de bordo andando pela coxia de braço no ar com um periquito empoleirado no dedo e a perguntar de quem era aquela ave "rara". Se houvesse um buraco enfiava-me nele, porque eu levava as aves clandestinamente, mas dentro de um avião não há como escapar e lá me acusei do "crime".
O comissário todo sorridente lá me entregou o "passaroco" e eu confessei que tinha mais dois. Só que quando ia devolver o fugitivo à caixa de cartão verificamos que havia outro fugitivo. Bem, foi uma paródia geral pois era ver o comissário, hospedeiras e passageiros andarem pelo avião de "rabo" no ar até apanharem o danado do outro fugitivo.
Eu sou franca, com tanto canseira do embarque tinha-me esquecido de pôr mais tapulhos de pão nos buracos da caixa, mas passada a vergonha, até valeu pela distração de toda a gente. Aterramos em Lisboa todos felizes e contentes .
Novamente com bagagem de mão, Miguel a tiracolo, mais os "bandidos" dos periquitos dirigi-me para a zona de embarque de ligação ao Porto. Sentei-me num daqueles banquinhos com a minha "malta" e lá ia controlando as horas de embarque, sempre de olho nos piras e no Miguel, isto claro está num ambiente desconhecido para mim e de grande movimento e com a atenção a 80% nos meus companheiros de viagem.
Eu lá ia ouvindo pelos altifalantes a ordem de embarque para o Porto, mas olhava o relógio de pulso e achava que ainda não era o meu. Até que no momento disparou um "alarme " na minha cabeça e verifico que não havia mudado a hora da Guiné para Portugal. Então levanto-me que nem uma mola com a "prole" atrás de mim e dirijo-me à porta de embarque onde nesse preciso momento estava um cavalheiro fardado de piloto e eu muito aflita lhe perguntei se era aquele o avião que ia para o Porto . Ele disse :
- Sim minha senhora venha daí que sou eu que vos vou levar no meu avião. E já agora por que é que ainda não estão embarcados? Já lá está toda a gente à nossa espera.
Mais uma vês escapamos de boa e conclui que esta viagem seria para nunca mais esquecer. Mas como dizia o Henrique: "A Sorte Protege os Audazes". Não sei onde foi buscar aquilo mas que resultou lá isso resultou.
Resta-me aqui lembrar que os meus periquitos se chamavam: Papaias, Mangas e Caju.
O Papaias era do tipo papagaio verde e com peito amarelo. O Caju e a Mangas eram todos verdes mas com uma gravata lindíssima preta à volta do pescoço.
O primeiro a morrer foi o Papaias e os últimos foram o Mangas e o Caju que viveram cerca de vinte e cinco anos e eram grandes companheiros, tanto de nós próprios como dos pais do Henrique que se habituaram a eles como se fossem pessoas da família. Valeram bem o sacrifício que passei para os trazer.
Esta foi uma estória que provavelmente só nós daremos a devida importância, mas na realidade eu achei que a devia partilhar com toda a tertúlia pois foi mais uma das aventuras que acaba por nos ligar a todos de algum modo.
Um beijinho a todos os camaradas do "Blogue Luís Graça &Camaradas da Guiné"
Maria Dulcinea Rocha NI para todos os camaradas e amigos.
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Nota de CV.
Vd. último poste da série de 9 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10915: O cruzeiro das nossas vidas (18): O meu batismo de voo, em 28 de março de 1973, num DC 6 da FAP (Abílio Magro)