Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Guiné 63/74 - P2742: Blogoterapia (46): Promessa de comando: vou retomar as minhas crónicas de guerra (Amílcar Mendes, 38ª CCmds)
Foto: © Amilcar Mendes (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Amílcar Mendes, taxi driver na praça de Lisboa, ex-1º Cabo Comando, 38ª CCmds (Guiné, 1972/74):
Assunto - As minhas crónicas de guerra
Amigo Luis Graça e camaradas da tertúlia, reconheço que estou em falta com aquilo que te prometi (1). Interrompi as minhas crónicas por vontade própria e porque aquilo que ia transmitindo foram notas tomadas durante situações de stress, algumas delas memorizadas debaixo de fogo, e em que o pensamento na altura pertencia a um jovem e arrogante gerreiro que inchava de vaidade, quando a intervalos das operações descia a cidade da Bissau e se pavoneava de orgulho, exibindo para a plateia o seu camufulado - para que saibas, eramos a única tropa autorizada a fazê-lo na cidade -, o lenço preto e a boina com fitas pretas.
Eramos já nesse tempo admirado por uns e odiado por outros. Nunca compreendi o olhar de desprezo com que alguns camaradas nos brindavam, [em Bissau]. E porquê? A maioria dos soldados que frequentavam a 5ª Rep (Café Bento), Pelicano, Zé da Amura, Ronda, Império, etc... eram militares em trânsito para regressar ao mato e que de alguma forma já tinham colado a orelha ao chão connosco em alguma picada, trilho ou destacamento. Podíamos até nem comungar dos mesmos ideais mas no perigo eramos gémeos.
Só muito mais tarde e com as mudanças da sociedade a nível político consegui decifrar o significado dos olhares que me eram dirigidos no tempo de guerra e em época posterior, já então no Regimento de Comandos da Amadora. Percebi que esses olhares vinham de algums camaradas mais esclarecidos(ou manipulados) em política e em que para eles tropas especiais era o que havia de mais desprezível no teatro de guerra. Assassinos. Comedores de criancinhas, frios e calculistas, sem ponta de emoção. Já na Amadora e com a liberdade esses ódios declararam-se e fui cuspido e chamado frontalmente de assassino.
Vem isto a propósito de quê? Quando comecei a escrever no Blogue, comecaram logo a aparecer ums vozes críticas que eu fui ignorando, direi mais, desprezando, porque realmente já 'tou farto de guerrilheiros do arame farpado e chegou ao ponto de haver aqui quem insinuasse que nós, os COMANDOS, só eramos valentes em grupo, o que quer dizer que isolado sou um cobarde.
Nunca, amigo Luis Graça, isso me imcomodou, até ao dia em que as mensagems aónimas começaram a chegar. Aí parei.Mas não foi por medo. Foi por achar que tais pessoas (?) não mereciam partilhar daquilo que me é muito íntimo. O que me pode afectar são acontecimentos e não pessoas. Sou um cota simpático, tentando alegrar os dias que vão passando e em que muita coisa já me passa ao lado e não percebo como ainda existe gente que, decorridas quase quatro décadas, ainda vive ressentida por aquilo que outros fizeram já tão longe.
Bem, amigo Luis, longe já vai este mail e o que te queria dizer é que te vou cumprir o que prometi e vou-te mandar mais apontamentos do meu diário de guerra e isso porque, se há quem não goste, há muito mais quem goste.
AMILCAR MENDES
1º Cabo Comando
38ª Companhia de Comandos (Guiné, 1972/74)
AUDACES FORTUNA JUVATE
[em latim, A Sorte Protege os Audazes]
2. Comentário de L.G.:
Camarada e amigo Amílcar:
Como já te oportunidade de te dizer (e agira passo a partillhar com o o resto dos camaradas e amigos da nossa Tabanca Grande), fico feliz pela tua decisão, sensata e generosa.
Abertamente, no nosso blogue, nunca ninguém te tratou mal... Que eu saiba, ou que me lembre, pelo menos... De qualquer modo, a malta foi aprendendo, nestes últimos 3 anos, a conviver uns com os outros e a respeitar-se, como camaradas, independentemente da arma a que cada um pertencia, do ano em que foi mobilizado, do sítio onde esteve, das ideias e valores que defendia (ou defende), etc. São mais as coisas que nos unem do que as que nos separam... O hífen, o traço de união tem sido a nossa terra, a nossa pátria, Portugal, e a Guiné, país-irmão, a que nos ligam, para além da história e da língua, afectos, emoções, memórias, vivências, amizades...
Por outro lado, e como sabes, é regra de outro, entre nós, não fazer juizos de valor sobre o comportamento militar de cada de um nós enquanto esteve no TO da Guiné... Não somos juízes e muito menos carrascos de ninguém. Agora, já não posso impedir que te mandem, cobardemente, emails anónimos... A única hipótese é ocultar (ou não divulgar mais) o teu endereço de correio electrónico... Mas não adianta. Tu não tens que ter vergonha do que escreves, pelo contrário: fostes um homem e um português do teu/nosso tempo, e que te portaste à altura, e queres dar testemunha disso... aos teus camaradas, aos teus amigos, aos teus filhos e netos, aos teus concidadãos, às gerações do futuro... Ninguém te pode roubar esse direito de contar a tua história de vida... Quem sabe até se não poderás (ou não poderemos), um dia, reunir em livro os teus escritos...
Que fique bem claro: tu e os teus camaradas, comandos, serão sempre bem vindos. Este blogue é teu, é nosso... Não fazemos distinção entre tropas especiais e tropa-macaca, a não a ser às vezes na brincadeira... Também nunca puxa dos galões, nem se rama em herói... E tu já deste mais contributos para este trabalho (colectivo) de preservação, defesa e divulgação da nossa memória de guerra, da memória da nossa geração, do que a grande maioria dos que estão cá estão inscritos, como tu, na tertúlia...
Vá, manda-me os teus textos, as tuas notas (e, se possível fotos), que tens pelo menos em mim um leitor interessado e fiel... Não te esqueças que ficaste em Gampará, f... e esfomeado, lá para o mês de Setembro ou Outubro de 1972... Aqui tens os teus dois últimos postes... Podes clicar e ver o conteúdo (2)...
Vá, recebe um Alfa Bravo do tamanho do Corubal, onde há dias estive, no Saltinho, e entre o Saltinho e o Xitole, na margem direita, em Cusselinta...
Luís Graça
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Notas de L.G.:
(1) Vd. poste de 4 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2719: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos (Amílcar Mendes)
(2) Vd. postes de:
7 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1930: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (1): Um sítio desolador
16 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1956: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (2): Passa-se fome, muita fome
Guiné 63/74 - P2741: III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia (2): Inscrições aceitam-se (Carlos Vinhal / J.Mexia Alves)
1. Como havíamos prometido, publicamos a lista actualizada dos inscritos para o III Encontro Nacional da Tertúlia, a realizar em Monte Real no dia 17 de Maio próximo.
Lembramos os nossos amigos que ainda não se inscreveram, mas sabem de antemão que podem comparecer, que devem manifestar a sua vontade, pois assim podemos ir trabalhando na feitura de crachás e reserva de alojamento para os interessados em ficar de um dia para o outro.
Aqui fica a lista actualizada. Os nomes em falta não são da nossa responsabilidade.
Álvaro Basto e esposa Fernanda
A. Marques Lopes, esposa Gena e filho Francisco
António Santos e esposa Graciela
Artur Manuel Soares
Carlos Esteves Vinhal e esposa Dina
Carlos Marques Santos e esposa Teresa
Carlos Silva e esposa Maria Germana
David Guimarães e esposa
Delfim Rodrigues
Fernando Franco e esposa Margarida
Henrique Matos
Joaquim Mexia Alves
Jorge Cabral
José Armando Almeida e esposa Teresa
José Casimiro Carvalho
José Luís Vacas de Carvalho
José Manuel Lopes e esposa Luísa
José Martins e esposa Maria Manuela
José Teixeira
Leopoldo Amado
Luís Graça e esposa Maria Alice
Mário Fitas e esposa Maria Helena
Maurício Esparteiro
Paulo Santiago e esposa Teresa
Raúl Albino
Victor Alves
Virgínio Briote e esposa Maria Irene
Vitor Junqueira
Neste momento, com 28 camaradas e 16 acompanhantes inscritos, estamos muito longe dos 52 camaradas e 32 acompanhantes que o nosso Dr. Vitor Junqueira conseguiu juntar em Pombal.
A partir de hoje a palavra de ordem será: - Todos em Força Para Monte Real.
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Nota dos editores:
Vd. poste de 3 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2716: III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia (1): Inscrições, aceitam-se (Carlos Vinhal / Joaquim Mexia Alves)
Guiné 63/74 - P2740: Convívios (49): CCAÇ 4150 em Fátima no dia 27 de Abril de 2008 (Albano Costa)
Recebemos, em 9 de Abril, uma mensagem do nosso camarada Albano Costa dando conta do próximo Almoço/Convívio da sua Companhia
Caros amigos Luís, Vinhal e Briote
Aqui vai mais um pedido de publicação, para o nosso blogue, se assim o entenderem e se houver disponibilidade para tal.
O Almoço-Convívio da CCAÇ 4150 "Os Apaches do Norte", que esteve em Bigene e Guidage, vai realizar-se no próximo dia 27 de Abril de 2008, em Vale das Barreiras - Fátima.
A concentração vai ser a partir das 10h30, junto à nova Igreja da Santíssima Trindade, com visita à mesma, seguida de visita à "Pia do Urso".
Segue-se depois em caravana para o Restaurante Arisol.
Na ementa não podia faltar o respectivo bacalhau e a seguir uns medalhões de vitela e porco.
Sobremesa variada e a respectiva pinga.
Para finalizar o bolo com o símbolo da Companhia, (que pena no tempo de guerra, bolo nem vê-lo, pelo menos no mato.
O preço por pessoa é de 22,50€.
As marcações estão a cargo de:
Ari Alves, telefones 244002446 - 918174263;
Duarte Frade, telefones 249849019 - 912919581.
Um abraço para todos,
Albano Costa
Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...
Eu e o Furriel do pelotão de nativos , o madeirense Gomes, um grande amigo que nunca mais vi até hoje. Me disseram na Madeira que imigrou para o Canadá.
Eu a reler o que havia escrito, numa pausa durante a protecção a uma coluna de Bula para Aldeia Formoso.
Fotos e legendas: © José Manuel (2008). Direitos reservados.
1. Poemas da semana de 29 de Março a 3 de Abril... Ássinados pelo Josema, pseudónimo de José Manuel Lopes, da Quinta da Senhora Graça, no Douro, ex-Fur Mil Op Esp, da CART 6250 (Mampatá, 1972/74). Finalmente, vieram três fotografias do nosso camarada-poeta... Já lhe podemos tirar a pinta: a avaliar pelas chapas, parece ser bom rapaz... Mas ele, hoje, estava particularmente feliz por dois motivos. Vejamos porquê... O melhor é reproduzir o seu mail:
"Bom dia camaradas. Tenho duas boas notícias. O encontro da Minha Companhia, em que até 1986 nunca participei, mas de depois de uma 'lavagem' do amigo Carvalho, Furriel Enfermeiro, ou melhor Furrié Dotô, nunca mais perdi até hoje.
"É um encontro muito original, sempre em casa de um dos Unidos, se tiver condições para tal, ou na sede daFreguesia da sua terra. Cada um leva o seu merendeiro com as especialidades da sua região. O País gastronómico está lá. Quem nada levar, basta levar o apetite e vai visitando os vários farnéis. Todos são benvindos, pois todos vão por bem e por vezes o Gastão, o nosso 'Zeca Afonso', leva o violão. Depois de bem comer e melhor beber, cantamos o nosso hino 'Mampapa pata pata pata'.
"Eu levo o meu vinho que é o motivo da segunda boa notícia. Ganhou uma medalha de prata no WINE MASTERS CHALLENGE, este ano realizado em Portugal no Estoril, entre cerca de 4000 vinhos de todo o mundo.
"Até breve camaradas.
"Nota: 2 inscrições no convívio da Tertulia eu e a Luisa, minha mulher".
Já agora os camaradas e amigos da Guiné ficam a saber que o nosso Josema, ou melhor, o José Manuel Lopes, é produtor de dois excelentes vinhos, tintos, DOC, da Região do Douro... na sua quinta de 3 hectares, a Quinta Sr.ª da Graça, S. João de Lobrigos, 5030 - 429 Santa Marta de Penaguião, Telef 254 811609 / Fax 254 811609. Ele e a esposa, Luisa Valente.
As suas criações vinícolas são o Penedo do Barco (produzido desde 1999) e o Pedro Milanos (desde 2003), à base das seguintes castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca e Tinta Amarela (Penedo do Barco, colheita de 2004; produção: 3400 garrafas); Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca (Pedro Milanos, colheita de 2005; produção: 7000 garrafas).
Aqui fica a informação, sem intuitos publicitários, já que a nossa filosofia bloguística é também a de valorizar o que os nossos camaradas fazem... sobretudo se fazem bem.
Parabéns ao José e à Luísa. Espero poder conhecê-los e provar os seus nectares em Monte Real, no dia do nosso III Encontro Nacional. E agora vamos ao poema, nosso, de cada dia... (LG)
Recuso dizer uma oração
ao Deus que te abandonou
não sei se é do nó
que me aperta a garganta
ou da revolta que brota do meu peito
só sei que não consigo
desculpa...
sinto ganas de arrancar
o fio preso ao teu pescoço
e atirar dentro da mata essa cruz
no local...
onde encontraste a tua
onde perdeste a vida
e eu a minha fé entorpecida
recuso deixar de pensar
no que aqui nos trouxe
para onde nos levam
quero encontrar respostas
a todas as perguntas
que se soltam em turbilhão
dentro de mim
quero encontrar
algo que justifique
achar uma razão
por pequena que seja
irmão
para acalmar esta dor
e não encontro
e não encontro...não.
Bolama 1972
josema
Escuta mãe
espero como nunca um conselho
mas não consigo ouvir a tua voz
aguardo um aviso
um sussurro de alguém
e só me responde o silêncio
como é duro estar só
espreito por cima do ombro
e não vejo nada além da névoa
só sinto o peso da arma
e das ideias que me assaltam
de novo aprendiz da morte
ideias que correm p’ra longe
que fogem do pensamento
logo ao primeiro tiro
mas... na verdade
o que eu quero
é tão simples
eu...
eu só quero
um dia voltar
encostar-me no teu colo
ver-te estender a roupa
ver meus irmãos a brincar
a bola no largo a saltar
ver o Benfica vencer
ao Guto e ao Minota gritar
saborear a comida gostosa
ver o Douro a correr
e sei...
e sei que não quero morrer.
Nhácuba 1973
josema
Este pó que nos seca a garganta
esta terra vermelha
que se cola ao corpo
estes estranhos odores
tão diferentes dos nossos
mas também com os seus encantos
não têm
é o cheiro a rosmaninho
a mosto e a alecrim
são coisas novas também belas
de estranhas sensações
que temos de desvendar
e aprender a conhecer
as mangas as papaias
as castanhas de caju
os sons diferentes da mata
o brilho intenso da luz
a filosofia de Amadu
os pensamentos de Seidi
os sorrisos de africanas
o corpo esguio da mulata
há que lutar pela vida
longe da casa de xisto
entre o barro da cubata.
Mampatá 1972
Josema
Não quero os dias todos iguais
nem águas da mesma cor
pois a vida não é só
alegrias e beleza
e ainda muito menos
só a dor e a tristeza
não quero os dias todos iguais
já que a vida
é o espanto da surpresa
é a descoberta do amor
é o gozar da solidão
é o abraço da multidão
é confiar num amigo
é enfrentar um inimigo
é estar quente
é conforto
é estar frio
é o perigo
é a coragem
é o medo
é pisar a terra amada
é ver novos horizontes
pode ser um lar
ou um imenso navegar
por tudo isso
não quero os dias todos iguais.
Bissau 1974
josema
Como eram belasas miúdas que conheci
as amigas as amantes
as de amores realizados
as de amores imaginados
as que ficavam distantes
todas todas
todas sem excepção
quero beijá-las quero amá-las
para matar a solidão
não há raparigas más
não existem rostos feios
só vejo corpos esbeltos
só vejo pernas e seios
Bissau 1974
josema
Ao Santos de Leça (*)
Um dia nunca passava
sem que escrevesse uma carta
à mulher que tanto amava
como se fosse promessa
todas elas numeradas
como a que testemunharem
a grande paixão do Leça.
Mampata 1974
(*) Leça foi um Furriel da Cart 6250
que escreveu tantas cartas como dias esteve na Guiné,
todas elas numeradas,
a nº1 no dia 24 de Junho de 1972,
dia da nossa chegada
ao aeroporto de Bissau.
________________
Notas de L.G.:
(1) Vd. postes anteriores:
27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)
3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...
9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?
13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!
19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?
28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...
5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Guiné 63/74 - P2738: Exército Português: Manual do Oficial Miliciano (2): A Selva: Struggle for Life... (A. Marques Lopes)
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 2001 > Os rápidos de Cusselinta, no Rio Corubal... Comparando a Guiné de há 40 anos, verifica-se que tem havido uma progressiva desflorestação, por razões várias: (i) aumento da população (que duplicou); (ii) exploração (extensiva) da floresta; (iii) mudanças climatéricas e progressiva desertificacção da África sub-saariana... A época seca não é, porém, a melhor altura para conhecer a Guiné, verde e pujante, das florestas-galeria, e da savana arbustiva, que ficou na nossa retina, aos 22/23 anos...
Foto: © David Guimarães / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
II e última parte do Capítulo VII (O Combate na Selva), do Manual do Oficial Miliciano, Parte Geral, 1º Volume . Cortesia do A. Marques Lopes, coronel DFA na situação de reforma: "Foi escrito em 1965 e foi-me dado quando estive no COM (Curso de Oficiais Milicianos) em 1966. Este texto vem nas páginas 300 a 331 desse volume".
Capº VII (Continuação)
148. OPERAÇÕES NA SELVA
a) Generalidades
(1) Segurança
Em geral, a segurança na selva faz-se da mesma maneira que na maioria das zonas abertas, excepto naquelas zonas em que a reduzida visibilidade impõe a diminuição da dispersão dos elementos de segurança.
A segurança na selva deve ser contínua, é um erro julgar o contrário. Na selva não há front [frente]. Deve ter-se em atenção que o inimigo pode aparecer de qualquer direcção.
A melhor forma de manter a segurança é conservar a iniciativa. O inimigo é então forçado a conformar-se com os nossos movimentos. Outra forma é realizada por meio de patrulhas fortes e agressivas. O contra-reconhecimento é de pouca utilidade, por permitir que o inimigo se infiltre através dele.
Todas as posições, qualquer que seja a distância até às primeiras linhas, podem ser atacadas em qualquer altura. Deve estabelecer-se uma segurança periférica capaz de assegurar a defesa em todas as direcções. Todo o pessoal deve ter um ponto de reunião e todos devem estar prontos para entrar imediatamente em combate. Isto estende-se a todo o pessoal do comando e instalações de serviços.
As posições nocturnas devem oferecer segurança, principalmente durante a escuridão e ao alvorecer, facilitar a distribuição de abastecimentos e servir de linhas de partida para as operações do dia seguinte. Quando se pretende ocupar posições de noite, os elementos de reconhecimento devem reconhecer as áreas durante o dia; porém, as tropas não devem ser levadas para essas áreas antes que anoiteça.
(2) Reconhecimento
Qualquer movimento na selva deve ser precedido de um estudo na carta, caso haja carta. Os reconhecimentos por fotografias aéreas são valiosos porque os acidentes naturais do terreno, como rios, lagoas, enseadas e os trabalhos do homem, como plantações, jardins nativos e povoações, são claramente delineados. As fotografias verticais, contudo, não revelam os detalhes do terreno escondidos por uma forte cobertura de vegetação.
Um ataque na selva deve, sempre que possível, ser precedido por um reconhecimento no terreno. Tal reconhecimento é muitas vezes possível se os exploradores estiverem convenientemente instruídos. Não será sempre possível determinar o grau de desenvolvimento da defesa inimiga, mas normalmente, com um patrulhamento activo, inteligente e agressivo, pode determinar-se a extensão da área defensiva. O patrulhamento deve ser contínuo, porque o inimigo é capaz de fazer mudanças no seu dispositivo tal como nós próprios.
b) Armas
(l) Infantaria
A infantaria toma parte em larga escala no combate da selva. A luta é normalmente caracterizada pelo combate próximo. Sempre que possível a infantaria deve ser apoiada pelas outras armas.
Antes de se iniciarem as operações nas áreas da selva, deve ser feita uma análise cuidadosa do terreno, para determinar a praticabilidade de transportes e o emprego das várias armas orgânicas de infantaria dentro de cada área de operações. Com base nesta análise e na missão, organizam-se agrupamentos tácticos de modo a obter-se a máxima liberdade táctica e eficiente do combate.
(2) Artilharia
Os princípios do emprego da artilharia nas áreas abertas são igualmente aplicáveis na selva, apresentando esse emprego, contudo, muitas dificuldades. O valor da artilharia é tão grande que se devem fazer todos os esforços para tornar o seu fogo possível e eficiente. Todos os calibres da artilharia são convenientes. A densidade da vegetação restringe o raio de acção efectivo do rebentamento da granada, de modo que, em geral, são necessárias granadas de calibres maiores em objectivos que tal não necessitariam se estivessem em terreno aberto.
A artilharia deve ser de calibre suficiente para varrer a vegetação e para destruir as posições inimigas. Deve ser fornecido equipamento de engenharia para o melhoramento de caminhos, construção de posições de tiro e limpeza de campos de tiro Os observadores avançados são seriamente prejudicados pela fraca visibilidade na selva. A regulação de precisão utilizando o rebentamento no ar, granadas de-fumos ou outros meios usuais, ê preferível e deve utilizar-se sempre que possível. O tiro sem regulação e cujos elementos de tiro foram tirados de cartas ou fotografias somente se deve utilizar em áreas limitadas
A dissimulação que a selva fornece, facilita os golpes de mão inimigos às posições de artilharia, tornando-se por isso necessária uma mais forte defesa imediata em tais posições do que a necessária em terreno aberto.
(3) Forças aéreas
A eficiência da aviação, em cooperação com as tropas terrestres, é reduzida pela cobertura dos ramos, que impede os pilotos de localizar as tropas inimigas. As tropas terrestres estão também quase incapacitadas de ver os aviões. Geralmente os pilotos não têm possibilidade de observar as telas de indentificação e balizagem postas no terreno; é também difícil verem os painéis ou fitas colocadas nas árvores.
Para indicação das posições das tropas terrestres, podem usar-se potes de fumos coloridos, colocados no chão, mas por vezes as ramagens provocam uma difusão desse fumo de tal modo que os pilotos não o vêem. Granadas de fumo projectadas na vertical, para produzirem o fumo colorido por cima das ramagens, podem vencer essa dificuldade. Podem utilizar-se ainda foguetões. Outra forma é fazer um lançamento vertical com um lança-chamas.
Embora a aviação de observação tenha a sua acção limitada à descoberta e à observação dos movimentos inimigos através da selva, os observadores aéreos muitas vezes são valiosos auxiliares na regulação de tiro de artilharia.
O bombardeamento por aviões é limitado devido à dificuldade de identificação de objectivos. A falta de cartas correctas, a ausência de pontos notáveis e de pontos de referência tomam difícil a identificação de objectivos. O tiro de morteiro com granadas de fumos é um método prático para assinalar os objectivos.
(4) Engenharia
A engenharia é uma tropa indispensável a qualquer força na selva. É utilizada principalmente no melhoramento e manutenção de itinerários, construção de pontes, demolições, preparação e desobstrução de obstáculos, purificação de águas e na coordenação de obras de organização de terreno. O equipamento de engenharia e as suas ferramentas serão limitados, devido aos problemas de reabastecimento e transporte; contudo, a própria selva fornecerá muito do material que, por improvisação, poderá ser usado na construção.
Uma das principais missões desta arma na selva é a construção e manutenção de itinerários que permitam a passagem de viaturas de 1/4 de tonelada, para reabastecimentos e evacuações, e os deslocamentos de artilharia de apoio. A engenharia dispondo de moderno equipamento de construção de estradas pode muitas vezes afectar profundamente a velocidade e o fim das operações na selva. É de primordial importância que a engenharia efectue minuciosos reconhecimentos, não só para facilitar ao comandante a escolha das melhores linhas de progressão, como também para localizar os materiais nativos e recursos de água.
(5) Cavalaria
Unidades mecanisadas — A não ser que se tenham construído previamente estradas, o movimento dos carros de combate é impossível na selva cerrada. Quando o terreno o permita, os carros podem ser usados com vantagem contra objectivos limitados e bem definidos. Para o perfeito emprego dos carros é necessário fazer sempre reconhecimentos. Normalmente os carros estão restringidos a operar em terrenos onde constituem alvos vulneráveis para defesas anticarro bem organizadas. Frequentemente os carros reforçam as companhias de atiradores, operando os dois elementos intimamente ligados.
Enquanto a infantaria dá aos carros a protecção imediata, estes dão-lhe a sua potência de fogo e peso de esmagamento na destruição das trincheiras inimigas e outras fortificações de campanha.
c) Marcha e bivaque
(1) Marchas
Na selva, as tropas deslocando-se em bons caminhos raramente excederão a velocidade de 2 km por hora; quando em maus caminhos esta velocidade pode ser reduzida a menos de l km por hora.
Na selva são extremamente difíceis as marchas de noite, pelo que devem ser evitadas, sempre que possível.
Os caminhos na selva geralmente restringem as formações à coluna. Devem ser destacadas guardas avançadas e de retaguarda. Cada unidade deve diminuir, tanto quanto possível, a sua profundidade, a fim de entrar mais rapidamente em combate, facilitar o controle e aumentar a segurança da coluna. Os esclarecedores mantêm as ligações dentro do grosso e entre este e as guardas avançadas e de retaguarda. Estas devem ser mudadas duas a quatro vezes por dia, trocando-as entre si sempre que possível. Como a missão de flecha é muito fatigante, a mesma secção de atiradores não a deve desempenhar mais do que duas horas.
Devem destacar-se guardas de flanco quando a situação o imponha e o terreno o permita.
Todos os caminhos laterais devem ser explorados até algumas centenas de metros e cobertos por patrulhas de combate até a coluna ter passado completamente. Estas patrulhas são destacadas da guarda avançada. Depois de a coluna ter ultrapassado os caminhos laterais, as patrulhas reúnem-se à coluna, na sua retaguarda e incorporando-se na guarda avançada no primeiro alto.
As comunicações rádio com a coluna podem ou não ser permitidas de acordo com a necessidade de segredo. Os estafetas serão muitas vezes os principais meios de comunicação. Outro método consiste em utilizar equipas de telefonistas que acompanham as unidades avançadas, montando a linha enquanto se movem, assegurando assim as comunicações para a retaguarda em todas as ocasiões.
Todo o pessoal deve observar uma rigorosa disciplina de marcha. A disciplina de marcha é de particular importância na selva, porquanto o inimigo tem oportunidade de fazer emboscadas. Exige vigilância e conduta ordenada no itinerário. São de salientar os seguintes pontos:
- as distâncias prescritas devem ser mantidas na marcha itinerária;
- é proibido falar, excepto para transmitir, murmurando, as ordens e instruções;
- os homens devem abandonar os caminhos e ficar imóveis à aproximação de aviões suspeitos;
- nos altos, os homens devem abandonar-se fisicamente, nunca mentalmente;
- os homens que não puderem aguentar devem ser deixados para trás.
A velocidade da coluna dependerá largamente do terreno, temperatura, humidade e estado dos caminhos. A velocidade de marcha deve ser ajustada à velocidade permitida pelos homens dos pelotões de acompanhamento que têm de transportar às costas metralhadoras, morteiros e munições pesadas.
Em alguns terrenos a coluna pode marchar 40 a 45 minutos e descansar o restante para l hora. Em más condições a coluna pode marchar 15 minutos e descansar 10.
ntes de se iniciar a marcha todas as armas devem ser completamente limpas e oleadas e as munições inspeccionadas.
(2) Bivaques
As áreas de bivaque devem ser escolhidas e preparadas de modo a possuírem campos de tiro convenientes que permitam a defesa em todas as direcções. Devem destacar-se patrulhas, até à distância de 800 a 1000 metros, sobre todos os itinerários que conduzam ao bivaque, a fim de explorarem se há ou não Inimigos nas imediações. Em todas as estradas, caminhos e leitos de rios que conduzam à zona do bivaque ou suas proximidades, devem estacionar elementos de postos avançados.
O local de bivaque deve, em primeiro lugar, ser defensável e, em segundo lugar, ser próximo de água fresca. O terreno elevado é mais conveniente para bivaque, não só por ser de mais fácil defesa, mas também por estar mais livre de moscas, mosquitos e outros insectos, ser melhor drenado e mais fresco.
As povoações nativas não devem nunca ser escolhidas para bivaque. Deve tornar-se esta precaução não só por o inimigo ter as povoações referenciadas e poder haver lá dentro nativos inimigos, mas também devido às precárias condições sanitárias da maior parte das povoações, que podem contagiar as tropas de doenças.
O alto da noite deve ser feito a tempo de permitir o seguinte :
- um breve reconhecimento, ainda de dia, da área do bivaque e a atribuição às unidades de sectores de defesa em todas as direcções;
- movimento das tropas para os seus sectores;
- o desembaraçamento dos limitados campos de tiro para as armas automáticas;
- a preparação de uma defesa rápida em todas as direcções. Abertura de abrigos (de 2 a 3 homens), posições para metralhadoras e outras armas automáticas, cons-
trução de abrigos pouco profundos, construção de armadilhas e dispositivos de alarme em volta do perímetro.Distribuição de granadas de mão;
- escavação de trincheiras;
- a preparação e distribuição de uma refeição;
- a execução dos trabalhos necessários para dormir.
Um batalhão necessita aproximadamente de 3 horas para fazer estes preparativos.
Todos os fogos e outras luzes devem ser extintos ao pôr do Sol. Depois de as tropas estarem no local onde bivacam, o pessoal dos serviços de saúde examina e trata aqueles que têm lesões nos pés ou que tenham sido arranhados pelos arbustos da selva.
Dá-se o santo e a senha. As palavras escolhidas devem ter sons que não sejam usados pelo inimigo e por isso difíceis de pronunciar por ele.
As metralhadoras devem ser colocadas de modo a que possam fazer fogo flanqueante em volta de todo o perímetro do bivaque.
Os morteiros devem ser montados dentro da área do bivaque de modo a que possam fazer barragem de apoio à defesa. Todas as armas se devem limpar e inspeccionar.
Durante a noite, um terço do comando deve estar acordado. Todos os homens estarão vigilantes por um período de cerca de uma hora ao anoitecer e outra vez cerca de l hora antes do nascer do Sol. Deve manter-se uma rigorosa disciplina de fogo. O fogo só se justifica quando se verifique um ataque contra a posição.
À noite, na selva, há uma grande tendência para começar a «ver coisas». Deste facto resultará um indiscriminado tiroteio, a não ser que se tomem medidas preventivas para o evitar. Tal fogo «cego» não só tem um péssimo efeito moral, como também revela ao inimigo o nosso dispositivo. As melhores armas para repelir um ataque de noite são as granadas de mão, facas, baionetas e catanas porque não revelam as posições individuais.
Antes de se poder iniciar a marcha no dia seguinte, necessita-se, aproximadamente, de uma hora de luz do dia para que os homens possam preparar e comer a primeira refeição e verificar e ajustar o equipamento. Os destacamentos de segurança são os últimos a sair da área.
A segurança da área do bivaque é assegurada por postos de vigilância colocados ao longo da orla exterior da defesa periférica. Podem ainda instalar-se dispositivos de alarme, do tipo de armadilhas, improvisados com granadas de mão, em volta do perímetro do bivaque.
d) Ataque
(1) Generalidades
Os princípios do combate ofensivo na selva não diferem dos do combate ofensivo nas outras áreas; contudo, como em todas as outras operações na selva, os métodos de aplicação destes princípios são especiais.
A forma de ataque na selva não difere da normal. Penetrações, infiltrações, envolvimentos próximos e profundos e duplos envolvimentos usam-se na selva como nos outros lugares.
Na selva, como em toda a parte, fazem-se todos os esforços para obter a surpresa. Para este fim adoptam-se todas as medidas que aumentem a mobilidade.
Devido à dificuldade de manter o controle, é fundamental que a missão e o plano de ataque sejam compreendidos por todo o pessoal.
O ataque contra o inimigo na selva pode resultar num ataque de encontro. Pode ser um ataque coordenado contra uma posição sumariamente organizada ou um ataque ordenado contra uma posição fortemente organizada.
(2) Combate de encontro
Se o inimigo tiver iguais possibilidades, aquele que mais rapidamente estudar a situação, tomar uma decisão, distribuir as suas ordens e executar o seu plano ganha a iniciativa das operações e, pela rapidez da acção, obtém a surpresa e a vitória.
Se a artilharia já se encontrar em posição, em apoio ou em reforço da coluna, e se o inimigo atacar, deve abrir fogo o mais rapidamente possível.
Os morteiros de 60 mm devem fazer fogo a curta distância, tão rapidamente quanto possível. O controle é pela voz.Logo que os morteiros de 81 mm se instalem, devem começar a bater os seus objectivos.
Nem sempre é possível ao comandante fazer um reconhecimento, mas desde que haja oportunidade, mesmo que seja muito limitado, não deve deixar de o fazer. Utilizando patrulhas deve procurar determinar o efectivo e o contorno aparente da posição. É preferível que um comandante tome a iniciativa, mesmo com informações muito diminutas, a perdê-la enquanto aguarda por outras mais completas.
Se o comandante decidiu fazer um envolvimento, a força envolvente deve sair rapidamente. As ordens são sempre verbais.
A força envolvente deve sempre indicar, por sinais convencionais, quando está em posição e pronta para atacar. Depois de iniciado o combate as mensagens podem ser transmitidas em claro. Se não for possível lançar cabo telefónico, o sinal de ataque pode ser dado por foguetões, pistolas de sinais ou outros meios visuais disponíveis; estes sinais são, necessariamente, para que os fogos das tropas amigas sejam levantados e as forças atacantes se possam lançar ao ataque.
O principal inconveniente da sinalização por foguetões ou por tiros das armas é a denúncia da posição ocupada pelas forças envolventes e a consequente perda da surpresa total, que frequentemente se pode obter na selva.
O combate de encontro tem as seguintes características:
- Não existe fase de desenvolvimento da coluna;
- As tropas passam directamente da coluna de marcha para as posições de partida;
- Os fogos de artilharia dos morteiros lançam-se sobre o inimigo imediatamente após o contacto e, se possível, mantêm-se em regime de eficácia durante o movimento
da força envolvente;
- Esta deve mover-se rapidamente, devendo, no entanto, o pessoal chegar à posição de partida em condições de entrar em combate;
- No combate de encontro pode não ser possível usar aviação de apoio, mesmo que a sua intervenção tenha sido pedida. Devido à impossibilidade de observação
dos pilotos, o comandante das forças terrestres pode não ser capaz de lhes indicar a sua posição e progressão com precisão nem referenciar as instalações inimigas
que deseja que sejam batidas.
- Devem tomar-se precauções para proteger a retaguarda e para a defesa contra as forças inimigas do contra-envolvimento, utilizando para esse fim a reserva. Caso
não seja assim utilizada, esta pode ser empregada na exploração do sucesso ou no prolongamento do envolvimento; contudo, deve sempre, inicialmente, manter-se
fora de acção até esclarecimento da situação.
(3) Ataques coordenados contra posições sumariamente organizadas
Estes ataques não diferem, na execução, dos atrás descritos. Sempre que possível empregam-se envolvimentos simples e duplos e movimentos torneantes. Devem fixar-se os seguintes pontos:
- Os reconhecimentos podem muitas vezes determinar a localização das armas automáticas. Por pequenas patrulhas também se pode determinar, com um aceitável grau
de precisão, a frente e a profundidade da posição inimiga;
- Quando houver boa observação, a artilharia pode regular o seu tiro e preparar as concentrações para os bombardeamentos preliminares;
- Desde que haja tempo para definir e localizar a posição inimiga, pode utilizar-se a aviação de apoio para a bombardear e metralhar antes da hora H;
- O tempo pode ainda permitir que se desloquem para a posição armas pesadas de apoio;
- O ataque deve ser conduzido de objectivo em objectivo, de modo a permitir aos comandantes e aos comandos subalternos reagruparem as suas tropas e recuperarem
o controle para o avanço seguinte. Para uma unidade do tipo «pelotão» a distância entre dois objectivos consecutivos é pequena, podendo não exceder 100 metros. A visibilidade é o factor predominante.
(4) Ataques coordenados contra defesas organizadas
Todos os métodos para reduzir defesas organizadas necessitam da aplicação de potência de fogo. O movimento só por si não é suficiente para forçar o inimigo a abandonar os seus abrigos e casamatas. Deve ser forçado a render-se, a ser queimado ou a sair de lá. Os ataques a estas posições devem fazer-se em frentes curtas, permitindo assim uma maior concentração de fogos. Como em todos os ataques na selva, deve estabelecer-se objectivos limitados para evitar perder-se o controle.
Deve haver o máximo cuidado na preparação da artilharia e depois, na continuação do apoio, de acordo com o horário ou a pedido. A artilharia pode necessitar vários dias para se reagrupar, se mover para novas posições e regular o seu tiro.
Os oficiais de ligação com as forças aéreas fazem o reconhecimento dó terreno empregando todos os meios possíveis para localizarem os objectivos com bastante precisão, a fim de posteriormente se fazerem os bombardeamentos e os metralhamentos em voo a picar.
Para reunir todas as informações possíveis acerca do terreno fazem-se reconhecimentos contínuos e estudos sobre fotografias aéreas. Os modelos de terreno ou caixa de areia com a área do ataque são bons auxiliares.
Devem fazer-se todos os esforços para capturar prisioneiros antes do ataque. As patrulhas diárias devem ser continuas e terem atitude agressiva. As patrulhas asseguram a informação, mantêm o inimigo na defensiva, infligem-lhe baixas e não o deixam lançar patrulhas.
Depois do levantamento dos fogos das armas pesadas, entram em acção os morteiros que acompanham os atiradores. Os morteiros devem actuar por concentração de fogos. Logo que os tiros sejam levantados as tropas devem atacar. Devem tomar-se precauções para que as unidades destinadas à limpeza das organizações inimigas sigam em ondas de assalto umas após outras. Tais unidades, além de limparem as organizações inimigas, procuram os extraviados. Durante o período de organização e preparação de novas acções, as tropas de assalto garantem a posse do terreno conquistado.
O segundo objectivo não deve ser muito distante do primeiro. Depois da conquista de um objectivo e antes do assalto ao seguinte, as tropas devem ser reorganizadas.
Deve permitir-se aos comandantes, subalternos e comandantes de secção a máxima latitude possível na execução das ordens.
(5) Emprego de carros de combate
As operações com carros de combate são limitadas. Como o terreno na selva canaliza o movimento dos carros, o perigo dos fogos anticarro e das emboscadas é multo grande, pelo que os carros devem ser protegidos de perto pela infantaria. Frequentemente, um ou mais carros podem dar-se como reforço a uma pequena unidade de infantaria, para a redução de abrigos ou de outras resistências, pelo tiro a curtas distâncias. Em tais casos o carro ou carros devem ser rodeados por patrulhas de infantaria que reconheçam os itinerários e os protejam contra as armas anticarro e contra as equipas de caçadores de carros. Porém, é essencial uma intima ligação entre o comando dos carros e da infantaria.
(6) Ataque nocturno
Os ataques nocturnos na selva são pouco convenientes devido à extrema dificuldade de controle. Contudo, em alguns casos, o possível efeito da surpresa de um ataque nocturno pode justificar o seu emprego.
O número de colunas em que se fraccionam as unidades de assalto depende normalmente do número de caminhos que dentro da zona de acção conduzem à posição inimiga. A abertura de novos caminhos é um processo não só vagaroso como também ruidoso, que alertará o inimigo na posição a atacar.
As condições da selva aumentam as dificuldades de coordenação do momento em que as colunas devem atacar. Se o ataque for efectuado a horário, deve contar-se com grandes folgas para demora, principalmente se as colunas se moverem em trilhos. Pontos notáveis do terreno e acidentes facilmente identificados são raros ou inexistentes. Em virtude da densa vegetação os sinais pirotécnicos podem não ser vistos por todos os comandantes das colunas e, além disso, a humidade e calor podem inutilizá-los. Os reconhecimentos preliminares e a análise cuidadosa das condições em que se vai efectuar o ataque permitirão ao comandante efectuá-lo em coordenação.
Os ataques nocturnos na selva, com mais forte razão nas áreas abertas, devem fazer-se em pequeno número e lançados contra objectivos limitados.
Os reconhecimentos preliminares, a utilização de guias, a identificação de marcas de sinalização e a manutenção do silêncio, tudo será mais difícil do que de dia. Por outro lado, o assalto não terá o perigo de ser observado, mesmo em noites de luar, desde que se não atravessam clareiras, campos ou estradas.
Quando as unidades de apoio estão colocadas à retaguarda, para cobrirem uma possível retirada, devem estar perto dos eixos de retirada.
e) Defesa
O combate defensivo na selva não difere, em princípio, do combate defensivo em outros terrenos. A instalação e a organização de uma posição defensiva são função do tempo disponível para a sua construção, do tempo que se espera ocupá-la, do material, do equipamento e das tropas disponíveis.
(1) Organização do terreno
O princípio da defesa em todas as direcções é de suma importância nas operações na selva. Os campos de observaçãolimitados facilitam a aproximação do inimigo até curtas distâncias e sem serem vistos. A infiltração fácil aumenta o perigo dum ataque de qualquer direcção.
Sempre que possível, um ou os dois flancos devem ser apoiados em obstáculos naturais, como rios. lagoas, pântanos. escarpados ou mar. Apesar de estes acidentes constituírem obstáculos para o atacante, não devem ser considerados como intransponíveis e devem ser tomadas precauções para deter pelo fogo qualquer inimigo que atacar por ali. Todo o terreno é transponível; não há selva impenetrável, pântanos que não se possam transpor, rios que não se possam atravessar ou encostas que não se possam escalar.
Os factores a considerar na escolha do tipo de defesa a adoptar são: a força da unidade, o terreno e a situação do inimigo.
As posições defensivas devem organizar-se, sempre que possível, apoiando-se mutuamente. Na selva, com os campos de tiro e de observação reduzidos, são quase impossíveis as posições deste tipo. Se o terreno não permite tal disposição, deve organizar-se uma defesa perimétrica cerrada (ombro a ombro) onde a infiltração inimiga seja bastante difícil.
(2) Segurança
Para evitar surpresa pelo inimigo, devem montar-se postos avançados em volta da posição de combate. Os postos avançados devem ser suficientemente fortes para retardarem ao inimigo a sua aproximação e evitarem o ataque antes que os seus componentes sejam alertados. A dificuldade do movimento nocturno obriga, normalmente, os postos avançados a recolherem-se dentro do polígono defendido antes que anoiteça.
De noite, à volta da posição, como dispositivo de alarme à aproximação do inimigo, podem instalar-se fios ligados a sistemas que façam barulho, armadilhas, etc. Podem ainda improvisar-se meios para, de noite, iluminarem o campo de tiro.
As companhias responsáveis pela defesa das áreas exteriores enviam patrulhas para explorarem o terreno à frente das suas posições. Estas patrulhas devem sair da posição pouco antes do Sol nascer e regressar uma hora depois. A tarde, as patrulhas devem sair uma hora antes do pôr do Sol e recolher imediatamente antes de cerrar a noite.
Os pelotões e unidades maiores estabelecem sempre reservas dentro da posição, tendo em vista as possibilidades de infiltração de tropas inimigas, áreas que possam vir a sofrer forte pressão do atacante e, no caso da companhia e unidades maiores, para contra-atacar.
(3) Armas automáticas
A localização das armas automáticas na posição é da maior importância. Deve prever-se que o inimigo, durante o ataque, faça todos os esforços para as localizar e destruir. Tais armas devem mover-se com frequência das posições principais para as de alternativa e suplementares; deve ter-se sempre em vista a necessidade de manter o inimigo enganado quanto à localização das armas. As metralhadoras devem ser protegidas por elementos da sua secção, armados com carabinas.
O emprego das metralhadoras depende do terreno, da extensão dos sectores que devem ser batidos e do número de eixos de aproximação que conduzem à posição. Será muitas vezes conveniente empregar as metralhadoras por esquadras em vez de por secções, de modo a obterem-se faixas contínuas de fogos cruzados em volta da posição, cobrindo todos os eixos de aproximação.
(4) Campos de tiro
Deve cortar-se o mínimo de vegetação possível para limpar os campos de tiro. Todos os cortes devem ser cuidadosamente planeados e controlados pelos comandantes de pelotão e de secção. É necessário o máximo cuidado no melhoramento dos campos de tiro das armas automáticas. Uma área completamente limpa à frente de uma arma indica, necessariamente, a sua posição.
(5) Armas de apoio
Logo que a posição seja ocupada devem estudar-se as barragens, e a artilharia e os morteiros devem regular os seus fogos. Devem estudar-se as concentrações em massa de todos os fogos de apoio nos pontos escolhidos. Todos os comandantes de companhia devem possuir cartas e transparentes mostrando as concentrações planeadas. As informações referentes à localização das concentrações planeadas para protecção dos pelotões devem ser do conhecimento de todos os comandantes de pelotão.
(6) Controle de fogo
O desencadeamento dos tiros de protecção, para cobrir as áreas das companhias, é feito à ordem dos respectivos comandantes de companhia. A descentralização do controle de fogo é função da área da posição, do terreno e do alcance de observação do comando superior. As companhias cujas áreas defensivas não estão a ser atacadas e cujas armas não colaboram no apoio às áreas atacadas devem manter uma rigorosa disciplina para evitar denunciar as suas posições.
(7) Contra-ataques
Devem estudar-se e executarem-se planos de contra-ataque com o fim de restaurar as posições que possam ser penetradas pelo inimigo. Devem estudar-se breves mas intensas concentrações de artilharia e de morteiros na preparação de tais contra-ataques. Os contra-ataques devem ser lançados antes de o inimigo ter tempo para consolidar a posição ocupada.
(8) Defesa de noite
Para evitar um ataque de noite, deve lançar-se de dia um forte patrulhamento para evitar o reconhecimento por parte do inimigo.
Deve manter-se uma rigorosa disciplina de fogo, principalmente durante a noite. A principal arma de defesa contra os ataques de noite é a granada de mão. Também se usam facas, baionetas e catanas. As espingardas e as armas automáticas só fazem fogo numa emergência ou quando as granadas se esgotarem; pois os seus clarões denunciam as posições da defesa ao inimigo.
Os pequenos grupos inimigos que tentem infiltrar-se de noite na posição devem ser, quando possível, atacados à baioneta. As baionetas devem ser colocadas à noite.
Um cuidado a observar de noite, quando o ataque é iminente, é o de ninguém sair dos seus abrigos individuais; qualquer homem, fora do seu abrigo é tomado por um inimigo que se tenha infiltrado na posição e é objecto de ataque imediato.
Durante um ataque de noite não há retirada da posição. Outros homens se devem considerar «presos» nas suas posições, sem olhar ao ataque que possa acontecer.
f) Patrulhas
(l) Generalidades
O patrulhamento é lançado para obter informações, impedir a obtenção de informações pelo inimigo, atacar e destruir patrulhas inimigas, grupos, destacamentos isolados, postos de reabastecimentos e outras instalações importantes.
Na selva, o patrulhamento nocturno é difícil, a não ser que a patrulha se limite a um caminho ou trilho definido. Quase sempre, na selva, quer nos caminhos quer fora deles, as patrulhas operam em colunas. Não é possível, geralmente, ter simultaneamente um certo número de grupos separados abrindo destas guardas poderem não ter qualquer acção durante o movimento, contudo observam o flanco considerado e durante os altos, quando se estabelecem postos avançados, deslocam-se até 100 metros, dentro do limite da visibilidade. Quando entram em terreno normal, as guardas de flanco actuam normalmente. Na selva, as secções, quando o terreno o imponha, podem actuar com a formação de losango, mas, logo que possam, devem desenvolver-se normalmente. Os sectores onde as patrulhas vão actuar devem ser bem definidos.
O itinerário que a patrulha deve seguir escolhe-se em função da urgência da missão. Quando a vegetação o permite todas as patrulhas devem operar fora dos caminhos, mas guiadas por eles. Se a velocidade é fundamental, as patrulhas terão de operar nos caminhos ou trilhos. Neste último caso, os homens devem lembrar-se sempre que estão em constante perigo de emboscada. Devem observar disciplina de marcha e manterem-se alerta, prontos para entrar em acção. As pequenas patrulhas devem operar sempre fora dos caminhos.
Se uma patrulha estiver ausente por um período de 6 a 7 dias ou mais, deve estabelecer uma base, escondida, da qual poderá actuar. Esta base deve estar afastada dos caminhos utilizados com frequência. Se a patrulha for pequena, não é preciso deixar na base nenhum pessoal de guarda, mas à volta deve usar de cautela. Se a patrulha é grande, deve deixar um destacamento de segurança na base. O estabelecimento de uma base facilita o trabalho da patrulha, que assim, pode operar com um mínimo de equipamento e aumentar a sua mobilidade.
Durante a progressão todas as patrulhas devem ter um ou mais pontos de reunião, escolhidos pelo comandante. Tal cuidado torna-se necessário para o caso. de a patrulha encontrar forte oposição e ser forçada a dispersar. No ponto de reunião o comandante reorganiza a patrulha e dá novas instruções para o desempenho da missão.
Para os recontros de surpresa, as patrulhas, qualquer que se]a o seu efectivo, devem ter um esquema de acção planeado ou N. E. P. , para actuarem contra o inimigo pela esquerda, direita, frente ou retaguarda. Cada homem deve estar instruído na acção que automaticamente deve tomar em cada caso.
As unidades amigas, através das quais a patrulha terá de passar, serão informadas da hora e do local onde a patrulha deverá atravessar, tanto no itinerário da ida como no do regresso.
As patrulhas são armadas e equipadas de acordo com as suas missões. Todas as patrulhas da selva devem ser equipadas com catanas ou facas de mato para abrirem caminho Se a patrulha tiver de ficar fora do acampamento nem que seja uma noite, devem ser utilizados mosquiteiros.
Devem levar-se cartas e fotografias aéreas da área onde se vai actuar. Estas cartas e fotografias devem merecer o máximo cuidado, a fim de que não possam fornecer qualquer informação ao inimigo.
Se estão previstas ligações de rádio entre a patrulha e a sua unidade, os horários e as frequências devem ser cuidadosamente estabelecidos antes da patrulha sair.
Se se prevê utilizar guias nativos, devem ser colocados à disposição do comandante da patrulha o mais cedo possível a fim de que se lhes possa fazer as perguntas que necessitar.
(2) Patrulhas de combate
O efectivo, o armamento e o equipamento de uma patrulha de combate dependem da missão e das informações que houver sobre o inimigo na área onde for actuar. Uma patrulha de combate, embora não tenha como missão principal obter informações, elabora um relatório, como missão secundária de todas as informações possíveis. O efectivo duma patrulha de combate varia desde 3 ou 4 homens a um pelotão ou mais. Muitas vezes é conveniente dotar a patrulha com bastantes armas automáticas. As carabinas são mais convenientes do que as espingardas, por causa do reduzido comprimento destas armas, que as torna mais fáceis de transportar através da vegetação cerrada. Se for determinada uma missão de destruição, na patrulha deve ser incluído o pessoal técnico necessário. Em tais condições a missão do restante pessoal da patrulha pode ser só a de proteger o pessoal técnico enquanto executam o seu trabalho e quando retiram.
Todos os homens da patrulha devem estar familiarizados com a situação inimiga na área onde forem actuar. Também devem estar perfeitamente integrados da missão da patrulha, dos itinerários da ida e regresso e dos planos do comandante para cumprir a missão.
Antes da partida o comandante deve inspeccionar todos os homens para verificar, se o equipamento está completo, se conhecem os planos da patrulha e se os homens estão em boas condições físicas.
Da patrulha deve fazer parte um enfermeiro. Se a patrulha for de grande efectivo e a sua acção de vários dias, deve fazer parte dela um médico.
(3) Patrulhas de reconhecimento
As patrulhas de reconhecimento saem com o propósito especial de obterem informações do inimigo e do terreno. As patrulhas de reconhecimento são de pequeno efectivo, de tal modo que se possam mover rapidamente e em segredo. Mover-se tão rapidamente quanto possível, mas a dissimulação e a observação da actividade do inimigo são os factores determinantes.
Uma patrulha de três homens (equipa de exploradores) compõe-se, normalmente, de: um homem armado de espingarda ou carabina, actuando como flecha, seguido a 10 ou 20 metros de distância por outro armado de espingarda; entre 10 e 25 metros atrás do segundo homem marcha um terceiro armado de metralhadora ligeira. Todos os elementos da patrulha podem ser armados de pistola metralhadora. O homem da frente observa o terreno à frente e nos flancos, o segundo observa as árvores e o terceiro fornece a potência de fogo para a protecção do grupo e observa a retaguarda.
A distância entre os homens da patrulha deve ser entre 10 e 20 metros e variará com a visibilidade, a qual é condicionada pela folhagem, curvas do caminho e pelo facto de a patrulha operar de dia ou de noite Todos os homens da patrulha devem ligar-se pela vista, a fim de se poderem apoiar mutuamente. A noite as distâncias diminuem e usam-se sinais sonoros.
Os limitados campos de observação que a selva oferece obrigam as patrulhas de reconhecimento, para assegurarem e obterem as informações, a operarem muito perto do inimigo E fundamental muita prática de movimentos silenciosos.
Os comandantes de batalhão e de regimento ordenam às suas subumdades de informações para que façam sair pequenas patrulhas a fim de obterem as informações que de perto lhes interessem.
Todos os homens da patrulha de reconhecimento devem ter um perfeito conhecimento de leitura de carta de fotografias aéreas. Todos devem ter bússolas e saber utilizá-las Todos devem ter catanas e facas de mato.
As carabinas são muitas vezes preferidas às espingardas. As metralhadoras ligeiras são as armas ideais. Se for possível pelo menos um dos homens da patrulha deve conhecer e falar a língua do inimigo. Na patrulha deve haver, pelo menos, dois binóculos e dois relógios. Os comandantes da patrulha e os seus auxiliares devem levar blocos de mensagens e lápis.
Todos os homens da patrulha devem conhecer em detalhe qual e a informação que se pretende obter e quais os planos do comandante da patrulha para os obter. Devem saber onde a patrulha vai, a hora e o local de regresso e as suas missões individuais.
g) Movimentos retrógrados:
(1) Generalidades
Se a missão e a situação não requerem uma defesa estática o movimento retrógrado, particularmente na presença de um nimigo muito mais forte e agressivo, pode ser, inicialmente, o tipo de acção mais conveniente a adoptar. Impedindo o inimigo de utilizar as estradas, os caminhos e outros eixos de aproximação e flagelando-lhe as linhaà de comunicação quando ele pretenda avançar, podem-se-lhe desarticular, desencorajar e cansar as suas tropas, assim como diminuir, materialmente, a sua eficiência, permitindo assim, uma contra-ofensiva decisiva.
O fumo, em potes ou granadas, é um meio valioso que pode ser usado durante os movimentos retrógrados, especialmente nas áreas abertas e semi-abertas. Todos os abastecimentos e material, incluindo barcos e viaturas, que tenham de ser abandonados serão sistematicamente destruídos para evitar a possibilidade de serem utilizados pelo inimigo.
(2) Rotura de combate
A protecção e a dissimulação fornecidas pela selva permitem uma fácil rotura de combate pelas unidades em contacto. Pequenos grupos familiarizados com os itinerários que irão utilizar podem romper o combate rapidamente. Estes grupos colocados nos caminhos podem impedir que o inimigo os utilize, obrigá-lo a atacar uma frente estreita ou a abrir caminho, ganhando-se assim tempo suficiente para a retirada do grosso.
Nas áreas da selva, a rotura do combate de dia goza de muitas das vantagens (protecção e dissimulação) da rotura do combate de noite nas áreas abertas e permite perfeitamente o controle. Entretanto, o pessoal e o equipamento, movendo-se em longos caminhos, podem ser facilmente observados no ar e oferecem alvos fáceis à a vis cão de combate inimiga.
(3) Acção retardadora
Nas áreas da selva densa, a acção retardadora será executada, principalmente, sobre ou próximo dos caminhos. Nas áreas menos densas, a acção retardadora, normalmente, requer a necessidade de ocupar e defender uma ou mais posições de retardamento; o combate nestas áreas terá, geralmente, as características do combate das zonas arborizadas e muitas vezes será necessário estabelecer uma posição defensiva para assegurar o retardamento. Os flancos desta posição devem ser protegidos contra o envolvimento do inimigo.
Pequenos grupos bem organizados podem retardar forças muitas vezes superiores ao seu efectivo; contudo, este tipo de combate é extraordinariamente extenuante. Consequentemente, as unidades devem ser divididas em grupos que se possam alternar na ocupação das posições retardadoras, assegurando assim o descanso, enquanto o inimigo se mantém constante-mente empenhados. Tais grupos devem ser de 8 a 10 homens, dois dos quais armados de espingardas automáticas. Se for possível, os observadores avançados da artilharia devem estar junto dos grupos retardadores, a fim de regularem o tiro sobre o inimigo.
Os grupos retardadores, além do seu equipamento normal, devem transportar machados, minas e explosivos para efectuarem demolições. Os obstáculos, se forem de certo valor, devem ser batidos pelo fogo. De modo a causarem o máximo retardamento, principalmente em viaturas, devem destruir-se as pontes e, sempre que o tempo e a situação o permitam, devem colocar-se arame e outros obstáculos atravessados nas estradas e caminhos, à frente da posição retardadora.
Na selva, as minas devem ser colocadas dos dois lados do obstáculo e no próprio obstáculo, a fim de tomar perigosa a sua remoção. Nos pontos onde a selva é pouco espessa e não há obstáculos ao movimento da tropa a pé, devem utilizar-se minas antipessoal. Devem ser construídos tantos obstáculos à frente da posição retardadora quantos o tempo permitir. Devem fazer-se todos os esforços para colocar os obstáculos de forma que o inimigo se infiltre pelas zonas onde as unidades retardadoras possam colocar maior potência de fogo.
Na selva, em virtude das dificuldades de reabastecimento e de coordenação, os grupos pequenos, bem treinados e comandados, são os mais convenientes para o desempenho da missão da acção retardadora. Os reforços devem estar dispostos ao longo dos caminhos, na retaguarda de cada elemento da frente. Utilizam-se quando seja necessário libertar os elementos em primeiro escalão de recontros importantes, para patrulharem os caminhos de modo a evitarem que os elementos em primeiro escalão fiquem com a retirada cortada e também a substituírem esses elementos, caso sejam capturados.
h) Sobrevivência:
Para terminarmos este capítulo ser-nos-á ainda lícito fazer uma breve referência à necessidade que houve de reunir elementos para a estruturação de assuntos relativos a situações de Sobrevivência, designadamente no Ultramar onde os nossos militares tiveram já oportunidade de experimentar, duramente, as suas acções influentes na suprema determinação de viver.
Antecipando-se à publicação oficial, integrada em O Exército na Guerra Subversiva, a cargo duma Comissão superiormente nomeada, o CMEFED, em Mafra, publicou em 1961 um Manual sobre SOBREVIVÊNCIA, o qual constitui já um valioso e útil trabalho contendo ensinamentos considerados de muito interesse, em especial, para a Guerra Subversiva.
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Notas dos editores:
(1) Vd. 1ª parte deste documento: 3 de Abril de 2008 >Guiné 63/74 - P2717: Exército Português: Manual do Oficial Miliciano (1): A Selva, perigos, demónios e manhas (A. Marques Lopes)
(2) Referências a esta publicação, com mais de quarenta anos (que curiosamente ainda hoje não pode ser consultada numa biblioteca pública... não existindo sequer na PORBASE - Base Nacional de Dados Bibliográficos ) (Estado Maior do Exército - O Exército na guerra subversiva, Vol I, II, III, IV, V. Estado Maior do Exército, SPEME, 1966. Reservado):
Vd. Excertos de : “Portugal, anos 60: a guerra colonial”. Com a colaboração do professor Fernando Rosas e do tenente-coronel Aniceto Afonso. Programa gravado da Antena 2 no dia 21 de Novembro de 1997. Transcrição : Irineu Batista. In: Centro de Documentação 25 de Abril > Era uma vez um milénio
(...) Fernando Rosas – O senhor tenente-coronel referiu há pouco que as forças armadas portuguesas assimilaram com rapidez a problemática das novas condições desse tipo de guerra. Tinham tido, ao que sei, alguma experiência anterior ao próprio começo da guerra, na Argélia e noutros centros de instrução. Creio que os franceses e os ingleses terão sido as fontes dos conhecimentos principais. A pergunta que eu queria fazer, no entanto, era esta. Acha que a partir de algum momento da guerra da parte das chefias há a noção de que a guerra não tem solução militar e acha que por virtude dessa consciência se terá aberto uma conflitualidade com o poder político?
Tenente-coronel Aniceto Afonso – Quase temos que separar caso a caso, pessoa a pessoa. De facto houve, em primeiro lugar, houve esse contacto prévio com outros teatros de operações, principalmente na Argélia, que trouxeram um conhecimento a esses oficiais que frequentaram.
Fernando Rosas – Antes mesmo de começar...
Tenente-coronel Aniceto Afonso – Antes mesmo de começar a guerra e o facto é que nós, em 1961, o Exército produziu um manual que se manteve em execução até ao final da guerra. Com pouquíssimas alterações que é “O Exército na guerra subversiva” e esse foi o manual de todos os militares que fizeram a guerra e como ele se manteve sempre, praticamente não precisou de alterações é porque, de facto, esses militares perceberam o que é que era essencial numa guerra de guerrilhas porque, digamos que o meio da guerra de guerrilhas não é o terreno e perceberam rapidamente que é a população. Digamos há na manobra militar, há várias manobras e a manobra militar aqui é talvez a manobra menos importante. A grande manobra é a manobra das populações.
Fernando Rosas – Da qual a militar é complementar.
Tenente-coronel Aniceto Afonso – A manobra militar é complementar e na guerra de guerrilhas, digamos, o Exército português percebeu isso. Julgo eu que percebeu isso duma forma geral muito cedo e por isso a organização do Exército em quadrícula nos teatros de operações foi fundamental para resolver esse problema do enquadramento das populações. Os militares que se situavam numa zona de acção, numa área apercebiam-se rapidamente dos problemas fundamentais dessa área e principalmente das populações dessa área e souberam, portanto arranjaram soluções para, de alguma forma, furtar a população à acção dos movimentos de libertação. Julgo que isso foi fundamental (...).
Wikipédia > Guerra colonial portuguesa:
(...) A instrução dos quadros e tropas das forças portuguesas, por normalização da estrutura da NATO, concebeu a publicação de um conjunto de manuais intitulados "O Exército na Guerra Subversiva" que serviriam de suporte para a organização das tropas durante a Guerra. Introduziam também a necessidade da guerra psicológica que se revelaria como uma frente de combate sólida para Portugal. Com efeito, a "conquista das populações" foi aplicada a níveis tácticos e estratégicos com sucesso, exceptuando as dificuldades no início e fim da guerra.
Também se revelou fundamental a especialização de grupos armados, como os Comandos, único corpo organizado especificamente para esta guerra — desmantelado pouco tempo depois de esta terminar — e adaptação dos Fuzileiros e pára-quedistas. Quanto às unidades recrutadas no próprio teatro de operações, as tropas especiais africanas, os TE, GE e GEP, Flechas e fuzileiros foram adaptadas às técnicas de combate específicas deste tipo de cenário (guerrilha) e terreno. Porém, a quase sempre deficiente instrução dos efectivos implicaria uma crescente degradação da sua eficácia, a par com o cansaço e esvaziamento dos quadros permanentes (...).
Triplov, Visor Militra, página de Francisco Garcia > Contributos para o Emprego do Batalhão de Infantaria na Luta Contra-Subversiva Actual, por Conceição Antunes e outros
(...) O esforço português de aprendizagem da luta contra-subversiva inicia-se no final da década de cinquenta do século XX, com o envio de militares sobretudo para a Argélia e para a escola de Intelligence inglesa, Maresfield Camp. Deste esforço reultam em 1963 o Regulamento “O Exército na Guerra Subversiva”, reeditado em 5 volumes (os famosos livrinhos de capa azul) em 1965. Ali reuniam-se informações recolhidas no período de 1958-60, incluindo os elementos essenciais das doutrinas britânicas e francesa, versando as experiências na Indochina, Argélia, Malásia e Quénia, constituindo as últimas duas, referências-chave, incorporando os princípios da violência mínima, da cooperação civil-militar, da coordenação das informações e das operações com pequenas unidades que tanto sucesso demonstraram na política colonial britânica. Estes princípios serviam o desejo do exército português de uma abordagem eficaz e pouco dispendiosa à contra-subversão, apropriada quer nos seus meios, quer às circunstâncias das suas colónias (...).
Guiné 63/74 - P2737: Dando a mão à palmatória (8): Erros factuais nas notas biográficas sobre Osvaldo Vieira (1938/74) e Pansau Na Isna (1938/70)
Guiné 63/74 - P2736: Tabanca Grande (60): Jorge Picado, ilhavense, ex- Cap Mil, CCAÇ 2589, CART 2732 e CAOP 1 (1970/72)
Caro Camarada, estás apresentado. Não precisas de guia de marcha nem tão pouco de seguir ao teu destino, como era costume lermos nas OS. Pedimos-te duas fotos, uma com os galões (ou sem eles) daqueles tempos e outra mais actual. As regras da nossa tertúlia estão bem visíveis, já deves ter dado por elas.
2. Mensagem de Jorge Picado:
Também pertenço ao grupo dos que palmilharam as poucas estradas alcatroadas e as muitas picadas da Guiné-Bissau.
J. Picado
terça-feira, 8 de abril de 2008
Guiné 63/74 - P2735: Construtores de Gandembel / Balana (8): Vamos reconstruir as plantas dos aquartelamentos (Nuno Rubim)
Planta de Guileje em 1966 e diorama, elaborados por Nuno Rubim.
Como também podem constatar ou ver, foi depois muito melhorado-corrigido (ver à direita) com base no levantamento topográfico realizado em 2005 e em várias fotografias aéreas que fui conseguindo obter.
Também fizeram um grande jeitão as fotos que camaradas das unidades que lá estiveram sedeadas me fizeram chegar.
Ora nesta altura tornou-se-me óbvio que a saga de Gandembel/Balana constituíu, na zona Sul da Guiné, um caso à parte que julgo merecer um esforço de pesquisa adicional. E enquanto cá estivermos neste mundo ...
Estou-me a referir à possibilidade de se tentar desenhar as plantas de ambos os aquartelamentos. Mesmo que inicialmente de forma não muito rigorosa, poderíamos (eu ajudarei no que me fôr possível), reconstituir a disposição dos abrigos e outras construções ali existentes. Não importa inicialmente a escala, apenas uma ideia aproximada.
Depois poderíamos tentar compilar o máximo de fotografias existentes (as que realmente interessem para o fim em vista) e ir ajustando os esboços iniciais. E tentar saber se foram tiradas fotos aéreas.
Poderemos sempre contar com a existencia das ruínas em Gadembel (agora mais limpas da vegetação fruto da intervenção da AD) e do que resta do destacamento da Ponte Balana, pois que lá devem existir vestígios, conforme apurei.
Quem sabe se alguém lá poderá ir e tirar algumas medidas em Gandembel, o que melhoraria e muito o produto final.
Gostaria de ouvir as vossa opiniões/sugestões (1). Um abraço
Nuno Rubim
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Fixação e adaptação do texto: vb
(1) Vd. último poste desta série:
3 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2715: Construtores de Gandembel / Balana (7): As minhas andanças com o Pel Caç Nat 55, no tempo da CCAÇ 2317 (Hugo Guerra)