1. Embora co-Editor neste blogue é na qualidade de camarada desta Tabanca Grande que eu - Eduardo José Magalhães Ribeiro -, ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BCAÇ 4612/74, publico esta mensagem, julgando poder contribuir para o melhor esclarecimento das funções dos homens das Operações Especiais na guerra. Isto enquanto não surgem aqui as considerações de outros camaradas, desta especialidade, mais graduados e melhor instruídos e informados.
Inicio este texto dizendo, o que ando para fazer há muito, que alguns comentários apostos em diversos postes no blogue, fazem-me rir, outros pensar, outros aprender e uns tantos vomitar… de enjoo e nojo!
Não tenho intervido sobre várias palermices que tenho vindo a ler, porque há matérias de que nada, ou pouco, sei e, assim, caladinho e quietinho tenho ganho muito tempo para outros afazeres (ainda não tenho netos), com esta minha posição, e deixado aos mais entendidos as cabais e merecidas respostas, não acrescentando qualquer mais valia ao blogue, antes pelo contrário.
É óbvio que não estou a falar dos irritáveis e traiçoeiros erros, ou incorrecções, pois como seres humanos que somos nada é mais possível de acontecer, nem das chalaças inócuas e brincalhonas de alguns amigáveis e bem dispostos camaradas.
Agora fala-se de RANGERS e, como vem sendo habitual, surgem logo uns “engraçadinhos” (quase sempre os mesmos anti-especiais e mal-intencionados), a “espetarem” as suas “agulhadazinhas” de inveja e, ou, dor de cotovelo.
Alguns RANGERS que acompanham a vida do blogue lêem as palermices e ligam-me a perguntar quem é este ou aquele “camarada”, que escreveu isto ou aquilo, e como eu nego conhecê-los “encomendam-me” recados para os mandar para sítios muito pouco recomendáveis, que não vou aqui mencionar.
Escusado será dizer que, alguns deles, enquanto não virem aqui nestas páginas respeito mútuo entre todos os participantes, negam-se a escrever e enviar-nos para publicação seja o que for sobre as suas memórias da Guiné.
Como eu JAMAIS farei qualquer comentário depreciativo ou pejorativo, seja de que especialidade for, pelo ENORME respeito que todas me merecem e nas quais conto com grandes amigos, deixo aqui registado o meu total repúdio e desprezo por quem o faz.
Atrevo-me a tal, porque sei umas coisitas sobre o assunto – RANGERS (por experiência própria) -, pois frequentei com aproveitamento (14,63 valores) o 4º curso de 1973.
Quem foi RANGER, já leu e se apercebeu que o RANGER José M. Gonçalves foi modesto, comedido e racional q.b. na sua redacção, e só deu uma pequena ideia do que era um RANGER em tempo de guerra e para que servia.
Em tempo de guerra e nos idas de hoje, já que o CTOE continua e bem a formar e excelentes e competentes elementos nos seus quartéis para o que der e vier, quer em eventuais acções hostis ao nosso país, quer em outras missões (paz incluídas) onde e quando for preciso.
Como já foi repetido mais que uma vez aqui neste blogue, não vou voltar a contar como é que os “Operações Especiais” de Portugal, são vulgarmente conhecidos por RANGERS.
Assim, vou contar algumas pequenas lembranças minhas do meu curso, além do que foi dito pelo Gonçalves, para melhor se perceber que os RANGERS não eram, nem são, superiores nem inferiores a ninguém... apenas diferentes no modo se ser e estar na tropa e na vida.
- Valorizar o que foi dito sobre os cursos RANGERS seria acrescentar que, por exemplo, além da instrução básica de infantaria (exercício físico, luta corpo a corpo, pistas de obstáculos, boxe, etc.) incluía imensas horas de técnicas de combate, prestadas por Alferes dos Grupos Especiais de Moçambique já com algumas comissões no pêlo. Tudo doseado criteriosa e infernalmente com simulações práticas de emboscadas, armadilhas e golpes-de-mão, rodeados de fogo real para melhor nos prepararem para o combate.
Valorizar o que foi dito sobre os cursos RANGERS seria acrescentar que, por exemplo, só em granadas, explosivos e munições de vários calibres estoiradas na instrução de um RANGER, custava então, a preços de 1973, 137 contos em moeda antiga.
Valorizar o que foi dito sobre os cursos RANGERS seria acrescentar que, por exemplo só nas centenas de quilómetros percorridos em caminhadas, marchas forçadas e crosses, um RANGER gastava, no mínimo, 1 par de botas ao longo do curso, que como bem se devem lembrar não eram assim tão fraquitas como isso.
Valorizar o que foi dito sobre os cursos RANGERS seria divagar, ou pormenorizar, os cenários dantescos e macabros das diversas provas que eram lançadas, noite e dia, por vales, rios, montes, cemitérios, campos, etc. aos instruendos e cadetes: Fantasmas, Largadas, Esgotos, Calvários, Gerrilheiras, Durezas 11, 24 Horas de Lamego, etc.
Valorizar o que foi dito sobre os cursos RANGERS, seria dizer que os seus elementos eram instruídos e adestrados nas várias especialidades militares de então (minas e armadilhas, transmissões, orientação, montanhismo, transposição de cursos de água, todas as armas ligeiras e pesadas - inclusive algumas do IN -, topografia e primeiros socorros), e ficavam prontos a substituir qualquer elemento dentro de um batalhão, inclusive comandantes de companhia como se verificou em várias ocasiões.
- Valorizar o que foi dito sobre os cursos RANGERS, seria dissertar sobre as muitas aulas de acção psicológica que lhe eram incutidas, periodicamente, alertando-os e instruindo-os para os vastos perigos que iriam defrontar, tipos de populações e terrenos, tácticas e armas inimigas, as origens e efeitos do terrorismo, etc.
Valorizar o que foi dito sobre os cursos RANGERS, seria elogiar uma disciplina rara até então, mesmo nas grandes empresas e escolas deste país, designada por: “SER CHEFE”.
Outra coisa, como em tudo na vida, é sabermos que alguns RANGERZitos se exacerbaram e, ou, exorbitaram nas doses adequadas e necessárias a uma boa retransmissão de conhecimentos e experiência adquirida nos seus cursos, aos instruendos que lhes tocaram, daquilo que mais ou menos atenta e correctamente aprenderam, não é segredo para ninguém.
Quantas mais especialidades, além dos comandos, páras e fuzileiros (nas suas variantes e especificidades instrutivas) eram assim eram instruídas?
Na minha sincera opinião, reiterando o que o RANGER Gonçalves diz, toda a tropa foi máquina de guerra (cada um no seu poleiro) e contribuiu para o sacrifício e esforço da guerra que nos foi exigido, mas os treinos e as instruções de cada uma das especialidades eram completamente diferentes, como não podia deixar de ser.
Eram ou não importantes os homens que nos faziam chegar o correio muitas vezes a buracos no cu de judas, os que nos transportavam em barcos, os que bombardeavam com os seus aviões em situações aflitivas o IN, os que nos faziam chegar os materiais, equipamentos, alimentos, munições, etc.
Agora, quem não sabe do que fala pode é questionar e tentar informar-se dos porquês (origens, objectivos, finalidades, etc. das várias especializações), junto de quem sabe, ou conhece bem, ou então deve calar-se e não pronunciar-se leviana e cegamente sobre matérias de que nada, ou quase nada, sabe!
Como eu costumo fazer e.. bem, digo eu!
Um abraço,
Magalhães Ribeiro
ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BCAÇ 4612/74
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
5 de Novembro de 2010 >
Guiné 63/74 – P7226: Controvérsias (107): O que era ser ranger entre 1960 e 1974? (José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 4152)