Boa-noite, Luís Graça!
Escusado será dizer que o assunto me toca profundamente, ao ponto de me sentir emocionada.
Vivi intensamente aquele tempo!
Fui madrinha de guerra, desde os meus 15 aos 19 anos, muito jovem, muito preocupada, muito sincera.
Fui madrinha de guerra, desde os meus 15 aos 19 anos, muito jovem, muito preocupada, muito sincera.
Era meu apanágio o incentivar a força, a coragem, com o amor à Pátria, com o dever de "defender o que era nosso", com o agradecimento pelo vosso esforço em nome de todos nós.
Ignorante de tantas realidades, mas acreditando na vossa coragem, na vossa valentia, orgulhosa de todos vós.
Hoje, tenho comigo, as cartas que escrevi ao meu afilhado Joaquim, entre 66/68, e que comprovam isso mesmo, que acabo de dizer. É um prazer ouvi-lo dizer que as minhas cartas foram uma ajuda preciosa naquele tempo difícil, tão preciosa que as decorou, que fixou datas e o texto, que fala delas de uma forma, como que realmente tenham sido uma ajuda importante, para a superação de dias difíceis.
Tão ingénuas e tão sinceras, as minhas cartas de madrinha de guerra, compenetrada no seu papel, que ignorava saber cumprir.
Contudo, reconheço a minha profunda ligação a esse tempo, a esse acontecimento, que marcou a nossa Juventude de uma forma drástica, matando e mutilando tantos dos nossos Jovens, apesar dos testemunhos de muitos de vós, serem de amor àquelas terras e aquelas gentes, "vitimas igualmente da mesma tragédia", e que me apraz registar.
Foi realmente um tempo de esperar ansiosa a chegada do correio, um tempo de acreditar, de ter esperança, de saber que chegaram bem.
Continuo, como então, agradecendo a Deus os que voltaram sãos e salvos, e triste, muito triste, pelos que não conseguiram voltar como partiram.
Sei, que nenhum voltou como foi...moralmente...era impossível ser assim, mas os que regressaram bem, tiveram uma experiência, que os tornou "maiores, mais fortes, mais homens".
Reafirmo o que sempre disse: sinto por todos um carinho especial, como se todos fossem meus irmãos. Acompanhei o sofrimento das mães e pais, que ficaram esperando os seus meninos voltarem, longe ainda de saber quão profundo é o sofrimento de uma mãe perante tal situação.
Contudo, reconheço a minha profunda ligação a esse tempo, a esse acontecimento, que marcou a nossa Juventude de uma forma drástica, matando e mutilando tantos dos nossos Jovens, apesar dos testemunhos de muitos de vós, serem de amor àquelas terras e aquelas gentes, "vitimas igualmente da mesma tragédia", e que me apraz registar.
Foi realmente um tempo de esperar ansiosa a chegada do correio, um tempo de acreditar, de ter esperança, de saber que chegaram bem.
Continuo, como então, agradecendo a Deus os que voltaram sãos e salvos, e triste, muito triste, pelos que não conseguiram voltar como partiram.
Sei, que nenhum voltou como foi...moralmente...era impossível ser assim, mas os que regressaram bem, tiveram uma experiência, que os tornou "maiores, mais fortes, mais homens".
Reafirmo o que sempre disse: sinto por todos um carinho especial, como se todos fossem meus irmãos. Acompanhei o sofrimento das mães e pais, que ficaram esperando os seus meninos voltarem, longe ainda de saber quão profundo é o sofrimento de uma mãe perante tal situação.
Escreveram-se e cantaram-se no tempo canções de amor e valentia, como por exemplo uma que começava assim, mas que não recordo autor e intérprete:
(...) Vais para longe, meu amor,
(...) Vais para longe, meu amor,
Deixas de estar a meu lado,
Partes com fé e ardor,
Sabes lá o que é temor,
És Português e soldado (...)
Enquanto os mais letrados se manifestavam com as suas músicas de intervenção, rebelando-se contra os referidos acontecimentos e não só...
Enquanto os mais letrados se manifestavam com as suas músicas de intervenção, rebelando-se contra os referidos acontecimentos e não só...
Cada geração tem as suas recordações, cada um o seu caminho a percorrer.
Os grandes feitos não são intemporais, e regra geral, são conseguidos à custa de grandes sofrimentos.
Os grandes feitos não são intemporais, e regra geral, são conseguidos à custa de grandes sofrimentos.
Para todos o meu abraço fraterno.
Felismina Costa (**)
___________
Felismina Costa (**)
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Notas de L.G.:
(*) Será uma criação da fadista Ada de Castro (n. 1937, Lisboa) ? (Ver aqui no sítio do Museu do Fado a sua biografia)
A letra, dos anos 60, poderia ser esta:
Vais pra longe, meu amor,
deixas de estar a meu lado,
partes com ar sonhador,
sabes lá o que é temor,
és português e soldado.
Mas se eu fico só, rezando,
podes ter uma certeza,
não importa estar chorando,
estou com firmeza,
pensando que também sou portuguesa.
Adeus [palavras ilegíveis],
são saudades são iguais,
água do mar imenso
que me leva o meu amor,
voltarás, eu bem o sei.
Sempre assim tenho pensado,
pelo que sonhei,
pelo muito que rezei,
hás de voltar para meu lado,
quando o barco [palavra ilegível].
deixas de estar a meu lado,
partes com ar sonhador,
sabes lá o que é temor,
és português e soldado.
Mas se eu fico só, rezando,
podes ter uma certeza,
não importa estar chorando,
estou com firmeza,
pensando que também sou portuguesa.
Adeus [palavras ilegíveis],
são saudades são iguais,
água do mar imenso
que me leva o meu amor,
voltarás, eu bem o sei.
Sempre assim tenho pensado,
pelo que sonhei,
pelo muito que rezei,
hás de voltar para meu lado,
quando o barco [palavra ilegível].
Fonte: Blogue Santos da Casa > Novembro 15, 2004 > Vais para longe, meu amor" (Com a devida vénia... Revisão / fixação de texto: L.G.)
(**) Último poste da série > 26 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8329: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (11): Como fui parar à Guiné (Maria Dulcinea)
(**) Último poste da série > 26 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8329: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (11): Como fui parar à Guiné (Maria Dulcinea)