Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Terceira parte do trabalho sobre a "construção de Mansambo em imagens", realizado pelo Carlos Marques dos Santos, nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, ex-furriel miliciano da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), subunidade adida ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70).
O projeto foi do BENG 447 e a mão de obra foi... da CART 2339, "Os Viriatos". Do reconhecimenmto do terreno, em fevereiro de 1968, ainda antes da chegada do novo Com-Chefe, o brig António Spínola, à inauguração oficial, em 21/1/1969, decorreu praticamennte um ano. (A cronologia da obra será apresentada no próximo poste.).
Eis como o nosso editor, Luis Graça, descreveu Mansambo, da primeira vez que lá passou, ainda periquito, com dois meses de permanência no setor L1 (Bambadinca), era então fur mil arm pes inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)...
E essa impressão foi fortíssima, confessou ele, passando a ter desde logo um enorme respeito por aqueles valemtes "Viriatos", com quem depois ainda fará vários operações, até ao fim da comissão deles:
"Uma clareira aberta no mato a golpes de catana e de motosserra, guarnecida de arame farpado, artilharia e abrigos-caserna à prova de canhão sem recuo, eis Mansambo.
"Os guerrilheiros chamam-lhe campo fortificado mas como este aquartelamento de mato há muitos – dizem-me – sobretudo no sul, e que são verdadeiros abcessos de fixação. Aqui vive-se praticamente em estado de sítio. Para ir descarregar o lixo fora do arame farpado, apanhar lenha ou encher os bidões de água a 100 metros sai-se com um grupo de combate armado até aos dentes. A rotina, porém, leva ao afrouxamento da disciplina.
"Há alguns meses atrás, o grupo de combate que montava segurança à viatura da água foi surpreendido pelos guerrilheiros, emboscados junto à fonte, no momento em que alguns soldados tomavam banho, alegre e despreocupadamente. Resultado: 2 mortos e 10 feridos.
"O aquartelamento tem sofrido flagelações, sem consequências. O pior são as minas e emboscadas na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole. Todavia, o problema nº 1 aqui é o isolamento. A unidade é abastecida a partir de Bambadinca. Não há pista de aviação [, só heliporto]. Não há população civil, exceto meia dúzia de guias nativos com as respectivas famílias. Ora o isolamento nestas circunstâncias acarreta toda uma séria de perturbações psicológicas e até mentais. Apanhado pelo clima é a expressão que se utiliza na gíria deste universo concentracionário em que se transformou a Guiné" (...)
[Fonte: Excertos do "Diário de um Tuga. Mansambo, 17 de Setembro de 1969"]...
"Uma clareira aberta no mato a golpes de catana e de motosserra, guarnecida de arame farpado, artilharia e abrigos-caserna à prova de canhão sem recuo, eis Mansambo.
"Os guerrilheiros chamam-lhe campo fortificado mas como este aquartelamento de mato há muitos – dizem-me – sobretudo no sul, e que são verdadeiros abcessos de fixação. Aqui vive-se praticamente em estado de sítio. Para ir descarregar o lixo fora do arame farpado, apanhar lenha ou encher os bidões de água a 100 metros sai-se com um grupo de combate armado até aos dentes. A rotina, porém, leva ao afrouxamento da disciplina.
"Há alguns meses atrás, o grupo de combate que montava segurança à viatura da água foi surpreendido pelos guerrilheiros, emboscados junto à fonte, no momento em que alguns soldados tomavam banho, alegre e despreocupadamente. Resultado: 2 mortos e 10 feridos.
"O aquartelamento tem sofrido flagelações, sem consequências. O pior são as minas e emboscadas na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole. Todavia, o problema nº 1 aqui é o isolamento. A unidade é abastecida a partir de Bambadinca. Não há pista de aviação [, só heliporto]. Não há população civil, exceto meia dúzia de guias nativos com as respectivas famílias. Ora o isolamento nestas circunstâncias acarreta toda uma séria de perturbações psicológicas e até mentais. Apanhado pelo clima é a expressão que se utiliza na gíria deste universo concentracionário em que se transformou a Guiné" (...)
[Fonte: Excertos do "Diário de um Tuga. Mansambo, 17 de Setembro de 1969"]...
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Nota do editor:
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20 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16621: A construção de Mansambo, em imagens (Carlos Marques dos Santos, ex-fur mil at art, CART 2339, 1968/69) - Parte II: Fórmula para construir um aquartelamento de raiz, no mato: primeiro é preciso braços, cabeças, pernas, G3, pás, picaretas, enxadas, GMC do tempo da guerra da Coreia, etc.; depois cibes, areia ou pó de picada, terra, cimento, chapas, bidões, e muitos outros materiais; a seguir, construir paredes, tetos, telhados, abrigos, latrinas, manjedouras e outras amenidades hoteleiras; por fim, misturar tudo com... sangue, suor e lágrimas !