1. Mensagem do nosso tertuliano António Estácio com data de 20 de Outubro de 2010:
Que me perdoem o atraso, mas aqui vai, com amizade, o resumo dum filme, de 40 minutos referente a belezas naturais da Guiné-Bissau, que no passado dia 06 de Outubro tive o prazer de comentar no Centro Cultural Franciscano, em Lisboa.
A minha terra é linda!...
Nota: - Ao que apurei, Bemba, é um termo em crioulo que significa celeiro, pois é o nome dado aos depósitos em barro onde, dentro de casa, se guardam as proviões.
Assim, o Celeiro na Guiné-Bissau, são as zonas protegidas uma vez que a sua diversidade é uma riqueza capaz de assegura a vida aos residentes.
António J. Estácio
2. Transcrevemos o convite, que já não servirá como tal, mas que também dá a conhecer algumas iniciativas da Ajuda Amiga.
A Ajuda Amiga – Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento, associação sem fins lucrativos, e ONGD (Organização Não Governamental para o Desenvolvimento), com estatuto de utilidade publica, vem por este meio solicitar a V. Exa., a aceitação do nosso convite para estar presente na exibição do Filme "Bemba di Vida" no dia 6 Outubro de 2010 (hora - 21:15). Pode ver o trailer do filme:
Um dos nossos objectivos prioritários é conseguirmos enviar livros escolares para um dos países mais pobres do mundo a Guiné-Bissau, cujas precárias escolas que ali existem na sua maior parte funcionam sem livros.
Esta nossa acção tem dois efeitos positivos, por um lado porque é um elemento muito importante para promover o desenvolvimento, e por outro porque preserva e difunde a língua portuguesa no mundo lusófono.
O contentor que enviamos em 2010 seguiu a 10/2, e levou cerca de 20.000 livros escolares, que desactualizados face às alterações dos programas escolares em Portugal, foram um bem precioso na
Guiné-Bissau (este é um exemplo da ajuda prestada, mas há mais).
Para mais informações pode consultar o nosso site: http://ajuda.com.sapo.pt/ e http://www.facebook.com/AjudaAmiga#!/AjudaAmiga?v=info.
Queremos aderir à iniciativa 24 horas pelo Combate à Pobreza e Exclusão Social com a exibição do filme "Bemba di Vida", cuja duração é 40 minutos (suporte em DVD), e seguida de tertúlia com o fim de divulgar a Biodiversidade e sua importância na Guiné-Bissau. Para esse efeito gostaríamos de ter a sua presença, pois é um grande conhecedor desta matéria e tornaria o debate de ideias mais esclarecedor. O tema é: Conservação da Biodiversidade para manter o Pão dos Guineenses.
Este filme é da propriedade do IBAP - Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas cuja autorização já foi concedida para passar o filme em Lisboa (anexo).
O local escolhido para esta acção é o Centro Cultural Franciscano (Largo da Luz - Carnide), pois o Professor Padre João Lourenço (Director do CCF) mostrou grande disponibilidade e interesse para esta iniciativa. Para além de disponibilizar o auditório também fará divulgação deste evento junto da Família Franciscana e Universidade Católica.
A Ajuda Amiga irá divulgar este serão junto dos seus associados, amigos, familiares, internet e facebook.
Contando com a sua amável presença, agradeço a sua confirmação a fim de podermos dar inicio à sua divulgação.
Melhores Cumprimentos
Cristina Ferreira
Vice-Presidente para a Gestão
__________
Notas de CV
(*) Vd. poste de 4 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6529: Cusa di nos terra (15): A propósito do último livro do António Estácio, Nha Carlota... e as suas comidinhas (Luís Graça)
(**) Vd. poste de 5 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7084: Ser solidário (89): Em Oeiras e Lisboa, dia 6 de Outubro, dois eventos da iniciativa da ONGD Ajuda Amiga: Combate à Pobreza e à Exclusão Social, e Defesa da Biodiversidade (Carlos Silva)
Vd. último poste da série de 12 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7120: Ser solidário (91): Sarau cultural para angariação de fundos a favor da Guiné-Bissau (José Teixeira)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 23 de outubro de 2010
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Guiné 63/74 - P7160: Notas de leitura (160): Descolonização Portuguesa - O Regresso das Caravelas, de João Paulo Guerra (2) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Outubro de 2010:
Queridos amigos,
Andei por terras da Galiza, mas não descurei as minhas obrigações.
Li duas obras de grande importância para o nosso blogue: “Guerra na Guiné”, de Hélio Felgas e “Crónica da Libertação”, de Luís Cabral.
Delas começarei a falar amanhã, haverá surpresas.
Um abraço do
Mário
O regresso das caravelas, por João Paulo Guerra (2)
Beja Santos
Em 25 de Abril de 1974 o dirigente máximo do PAIGC, Luís Cabral, convocou o Comité Executivo de Luta. O comunicado saído da reunião advertia de que não haveria negociações sem o reconhecimento da República da Guiné-Bissau e sem o reconhecimento à autodeterminação e à independência de Cabo Verde, bem como das outras colónias portuguesas. Em termos de concessão, o PAIGC predispunha-se a começar imediatamente as negociações, com cessar-fogo ou sem cessar-fogo. Inicia-se um processo tumultuoso de reivindicações e até de actos de indisciplina. Aquando do golpe de Estado, Senghor estava em Paris e pediu a Spínola para falar com um delegado que ele mandatasse. Carlos Fabião seguiu para Paris e sobre o teor da conversa entendeu manter o maior sigilo. Depois começaram as negociações em Londres e Fabião considera que houve um grande erro do general Spínola em não ter reconhecido imediatamente a independência da Guiné. A este propósito, Almeida Santos vem afirmar que o general Spínola nunca aceitou de bom grado a independência de um território onde ele fora comandante-chefe das Forças Armadas. Para Carlos Fabião, Spínola tinha outros planos: “Ele desejava ir à Guiné, fazer um congresso do povo, que o povo lhe pedisse a independência, e ele, Spínola, oferecia a independência à Guiné. O PAIGC nunca aceitou isso, dizia que era da parte do general um acto de vaidade pessoal, e que se ele fosse à Guiné recomeçaria a guerra”. Alguns milhares de panfletos com fotografias de Spínola ainda seguiram para a Guiné e o recomeço da guerra esteve no horizonte. Quando Fabião chega à Guiné, todos se manifestavam a favor da paz. Portugal foi o 87.º país a reconhecer a independência da Guiné. Depois de 13 anos de guerra, Portugal descolonizou em menos de 20 meses, em África e na Ásia.
E veio o depois. No dia 11 de Setembro de 1974, o PAIGC entrou no palácio do Governo em Bissau. Revolucionários e românticos, traziam os ideais de justiça. Oiçamos Luís Cabral: “Quando chegámos a Bissau, uma das primeiras medidas que tomei foi aumentar o salário mínimo, porque eu achava que o salário mínimo não dava para nada. Mas fiz isso sem ter a preocupação de saber se o Estado podia pagar ou não o aumento. Depois disso, viemos a constatar que o dinheiro deixado pela administração colonial dava para pagar apenas os salários de Novembro e Dezembro. E no dia 31 de Dezembro tínhamos na Caixa do Tesouro 56 centavos. E não tínhamos experiência nenhuma. Tínhamos arroz para mais 15 ou 20 dias e nem sabíamos como comprar o arroz. Foi nessa altura que nos valeu a solidariedade decisiva de um homem, o presidente Siad Barre, da Somália. Ele tinha recebido uma ajuda importante dos países árabes para fazer face à seca e achou que, dessa ajuda, devia trazer-me um cheque de 1 milhão de dólares. E foi com esse cheque que nós arrancámos com o país.
Os grandes problemas da descolonização da Guiné bateram à porta dos africanos que cooperavam com o exército colonial. Em diferentes obras este doloroso e delicadíssimo assunto tem sido ventilado e nem sempre se descobre a determinação em agir bem. Para uns, durante as negociações com o PAIGC, tinham sido dadas garantias de que o país não iria entrar em ajustes de contas. Para outros, teriam sido tomadas todas as iniciativas para trazer os militares para Portugal mas que estes tinham preferido receber o que lhes era devido até Dezembro de 1974. Fabião é duríssimo com eles, custa a crer que o seu juízo implacável seja de todo consistente: “Veio ao de cima a face mercenária deles. Começaram a exigir dinheiro para entregar as armas, para passar à disponibilidade. Chegaram a dizer-me que já não me obedeciam porque estavam com o PAIGC. Eu paguei-lhes os vencimentos a que eles tinham direito até ao fim de 1974. E tentei trazer comigo aqueles que quisessem. Mas o PAIGC também os aliciava. Depois é que lhes tirou o tapete. Nas vésperas de regressar a Lisboa tive uma reunião com eles todos e disse-lhes: “Isto aqui está mau para vocês”. Mas quase ninguém quis vir na altura. Sei que muitos deles foram depois fuzilados. Mas o que quiseram vir comigo, vieram”.
Como é de todos sabido, o PAIGC tentou uma experiência socialista, foi um falhanço clamoroso, a economia colapsou, entrou-se numa fase de ajuda e dependência permanente da caridade internacional. Foi uma fase romântica a que se seguiu a crispação e o devorismo, agitou-se o espantalho do inimigo interno e apontou-se o dedo aos Comandos. As questões étnicas, confabuladas e dissimuladas durante a luta da libertação, vieram ao de cima, em Novembro de 1980.
No campo da especulação, poderá argumentar-se que os dirigentes do PAIGC tinham razão quando pediam a presença das autoridades portuguesas por vários anos, a seguir ao reconhecimento da independência.
Resta saber se existia viabilidade para pôr em marcha um plano de cooperação depois de tudo o que se vivera na Guiné, a própria turbulência dos militares em Maio e Junho. O caldeirão pela luta do poder já fervia e os acontecimentos de Angola e Moçambique foram determinantes para esquecer que os militares do PAIGC podiam saber muito de guerra e da gestão dos armazéns do povo mas não estavam preparados para as complexidades de uma governação pós-colonial, em estado de puro abandono, sem técnicos, sem investidores, sem gestores. Foi um sonho que se consumiu rapidamente e que carbonizou uma esforçada classe política, que não aguentou o tempo da inocência.
__________
Nota de CV:
Vd. poste de 18 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7143: Notas de leitura (159): Descolonização Portuguesa - O Regresso das Caravelas, de João Paulo Guerra (1) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Andei por terras da Galiza, mas não descurei as minhas obrigações.
Li duas obras de grande importância para o nosso blogue: “Guerra na Guiné”, de Hélio Felgas e “Crónica da Libertação”, de Luís Cabral.
Delas começarei a falar amanhã, haverá surpresas.
Um abraço do
Mário
O regresso das caravelas, por João Paulo Guerra (2)
Beja Santos
Em 25 de Abril de 1974 o dirigente máximo do PAIGC, Luís Cabral, convocou o Comité Executivo de Luta. O comunicado saído da reunião advertia de que não haveria negociações sem o reconhecimento da República da Guiné-Bissau e sem o reconhecimento à autodeterminação e à independência de Cabo Verde, bem como das outras colónias portuguesas. Em termos de concessão, o PAIGC predispunha-se a começar imediatamente as negociações, com cessar-fogo ou sem cessar-fogo. Inicia-se um processo tumultuoso de reivindicações e até de actos de indisciplina. Aquando do golpe de Estado, Senghor estava em Paris e pediu a Spínola para falar com um delegado que ele mandatasse. Carlos Fabião seguiu para Paris e sobre o teor da conversa entendeu manter o maior sigilo. Depois começaram as negociações em Londres e Fabião considera que houve um grande erro do general Spínola em não ter reconhecido imediatamente a independência da Guiné. A este propósito, Almeida Santos vem afirmar que o general Spínola nunca aceitou de bom grado a independência de um território onde ele fora comandante-chefe das Forças Armadas. Para Carlos Fabião, Spínola tinha outros planos: “Ele desejava ir à Guiné, fazer um congresso do povo, que o povo lhe pedisse a independência, e ele, Spínola, oferecia a independência à Guiné. O PAIGC nunca aceitou isso, dizia que era da parte do general um acto de vaidade pessoal, e que se ele fosse à Guiné recomeçaria a guerra”. Alguns milhares de panfletos com fotografias de Spínola ainda seguiram para a Guiné e o recomeço da guerra esteve no horizonte. Quando Fabião chega à Guiné, todos se manifestavam a favor da paz. Portugal foi o 87.º país a reconhecer a independência da Guiné. Depois de 13 anos de guerra, Portugal descolonizou em menos de 20 meses, em África e na Ásia.
E veio o depois. No dia 11 de Setembro de 1974, o PAIGC entrou no palácio do Governo em Bissau. Revolucionários e românticos, traziam os ideais de justiça. Oiçamos Luís Cabral: “Quando chegámos a Bissau, uma das primeiras medidas que tomei foi aumentar o salário mínimo, porque eu achava que o salário mínimo não dava para nada. Mas fiz isso sem ter a preocupação de saber se o Estado podia pagar ou não o aumento. Depois disso, viemos a constatar que o dinheiro deixado pela administração colonial dava para pagar apenas os salários de Novembro e Dezembro. E no dia 31 de Dezembro tínhamos na Caixa do Tesouro 56 centavos. E não tínhamos experiência nenhuma. Tínhamos arroz para mais 15 ou 20 dias e nem sabíamos como comprar o arroz. Foi nessa altura que nos valeu a solidariedade decisiva de um homem, o presidente Siad Barre, da Somália. Ele tinha recebido uma ajuda importante dos países árabes para fazer face à seca e achou que, dessa ajuda, devia trazer-me um cheque de 1 milhão de dólares. E foi com esse cheque que nós arrancámos com o país.
Os grandes problemas da descolonização da Guiné bateram à porta dos africanos que cooperavam com o exército colonial. Em diferentes obras este doloroso e delicadíssimo assunto tem sido ventilado e nem sempre se descobre a determinação em agir bem. Para uns, durante as negociações com o PAIGC, tinham sido dadas garantias de que o país não iria entrar em ajustes de contas. Para outros, teriam sido tomadas todas as iniciativas para trazer os militares para Portugal mas que estes tinham preferido receber o que lhes era devido até Dezembro de 1974. Fabião é duríssimo com eles, custa a crer que o seu juízo implacável seja de todo consistente: “Veio ao de cima a face mercenária deles. Começaram a exigir dinheiro para entregar as armas, para passar à disponibilidade. Chegaram a dizer-me que já não me obedeciam porque estavam com o PAIGC. Eu paguei-lhes os vencimentos a que eles tinham direito até ao fim de 1974. E tentei trazer comigo aqueles que quisessem. Mas o PAIGC também os aliciava. Depois é que lhes tirou o tapete. Nas vésperas de regressar a Lisboa tive uma reunião com eles todos e disse-lhes: “Isto aqui está mau para vocês”. Mas quase ninguém quis vir na altura. Sei que muitos deles foram depois fuzilados. Mas o que quiseram vir comigo, vieram”.
Como é de todos sabido, o PAIGC tentou uma experiência socialista, foi um falhanço clamoroso, a economia colapsou, entrou-se numa fase de ajuda e dependência permanente da caridade internacional. Foi uma fase romântica a que se seguiu a crispação e o devorismo, agitou-se o espantalho do inimigo interno e apontou-se o dedo aos Comandos. As questões étnicas, confabuladas e dissimuladas durante a luta da libertação, vieram ao de cima, em Novembro de 1980.
No campo da especulação, poderá argumentar-se que os dirigentes do PAIGC tinham razão quando pediam a presença das autoridades portuguesas por vários anos, a seguir ao reconhecimento da independência.
Resta saber se existia viabilidade para pôr em marcha um plano de cooperação depois de tudo o que se vivera na Guiné, a própria turbulência dos militares em Maio e Junho. O caldeirão pela luta do poder já fervia e os acontecimentos de Angola e Moçambique foram determinantes para esquecer que os militares do PAIGC podiam saber muito de guerra e da gestão dos armazéns do povo mas não estavam preparados para as complexidades de uma governação pós-colonial, em estado de puro abandono, sem técnicos, sem investidores, sem gestores. Foi um sonho que se consumiu rapidamente e que carbonizou uma esforçada classe política, que não aguentou o tempo da inocência.
__________
Nota de CV:
Vd. poste de 18 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7143: Notas de leitura (159): Descolonização Portuguesa - O Regresso das Caravelas, de João Paulo Guerra (1) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P7159: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (5): Até beber urina
1. Mensagem José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 20 de Outubro de 2010, com mais outra das suas memórias:
Caros Camaradas
Junto a história "Até beber urina", para incluir nas "Outras memórias da minha guerra".
E, tratando-se de uma bastante pesada, queria aproveitar parajustificar com o seguinte:
Quando terminei a guerra não descansei sem "fugir" para Angola (terra de meus sonhos), para onde fui trabalhar, arranjar um filho e procurar esquecer aqueles tempos marcantes das nossas vidas. Dediquei-me à pesca e aos filmes leves, belos e divertidos. Só lia e ouvia assuntos de desporto. Sempre que falava da guerra, apenas recordava as tais "boas memórias" porque o resto era imperioso esquecer. Penso que esta reacção era comum à maioria dos que tiveram o azar de ser mais "castigados". Não é por acaso que só ao fim de 11 anos, a nossa malta começou a reunir e também como eu, a evitar relembrar as tais "outras memórias".
E foi na sequência dos bons momentos que passámos no último encontro da Companhia, especialmente na sua continuação, em casa do Seixas de Felgueiras, que o amigo e camarada da Cart 1689, Abrunhosa Branquinho, insistiu de novo e fez-me prometer contar as minhas histórias, no blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Claro que só pensava registar as coisas boas mas, como reacção de alguns camaradas, ouvi criticas acusando de que eu deveria também contar as outras histórias em que a nossa Companhia tanto sofreu. Por isso, e porque o lema da tertúlia é "não deixes que sejam os outros a contar a tua historia por ti", vejo-me a relembrar o que tanto forcei para esquecer.
Porém, preso aos mesmos princípios, peço desculpa a todos os camaradas que me lêem, pelo facto de os fazer reviver tão lamentáveis momentos.
Um abraço do
Silva da Cart 1689
Outras memórias da minha guerra (5)
Até beber urina
Continuávamos a norte de Banjara do Oio (10.Jun.67), dando seguimento à Op Inquietar I.
Havíamos sofrido o baptismo de fogo e o embate de Cambaju. Já acusávamos um certo desgaste pela difícil progressão e pela falta de água. Num qualquer gabinete fresco e arejado das nossas Forças Armadas, algum “iluminado” programara esta Operação. Estava marcado, no desenho da operação, que a nossa Cart 1689 deveria atingir o rio (Cambaju), por volta do meio-dia do dia seguinte, no qual já nos podíamos reabastecer de água.
O Silva após a Operação Inquietar I
O problema é que não se via rio, não se enxergava qualquer espaço húmido, nem um simples declive, e menos ainda o que se pudesse chamar uma linha de água. Fomos batendo a zona em vão. E, quando ao fim de algumas horas notamos que estávamos em local já por nós calcorreado, decidimos ficar a descansar e pernoitar, possivelmente no leito do tal rio invisível.
Logo de manhã (11.Junho.67), ali perto, fizemos um prisioneiro que nos serviu de guia. Quando demos por ela, o guia já nos desviava para atacar e destruir umas tabancas de população Manjaca (claro que não era da sua etnia), e não tardou que também nos desorientasse.
Nesta situação, contactámos a base de Bafatá. Apareceu-nos o pequeno avião (PCV do CMD Operacional) cujo piloto, mesmo a sobrevoar-nos afirmava que não nos descobria nem nos ouvia, Foi lançada uma granada de fumos, para facilitar a localização. Como ela não deflagrou, teve que se lançar outra e mais outra (era a última), porque a anterior também não deflagrou. Mesmo assim, não nos descobriram. Porque nos expusemos a ser descobertos pelo IN, dada a movimentação aérea e o fumo da granada, procurámos logo sair dali. Ao iniciar esse movimento, o soldado António Soares, mais conhecido pelo “Banharia”, possivelmente o militar mais curioso e mais reguila da nossa Companhia, agarrou numa granada que não deflagrara e meteu-a no bolso lateral direito das calças.
Não tardou que a granada deflagrasse e apanhasse o “Banharia” em cheio. Foi gritaria incrível, pois a granada de fósforo não parava de arder. Era um louco a correr de um lado para o outro, em gritos e em total desespero. A primeira reacção da nossa tropa foi afastar-se dele. Então, num gesto corajoso, o “Cabo Felgueiras” tirou a sua camisa e com ela tentou fazer o impossível. Só quando se rasgaram e afastaram as calças do corpo do “Banharia” é que ele ficou mais aliviado. Descobertos pelo IN, e um pouco apavorados com o sucedido, não podíamos ali permanecer muito tempo à espera de socorro.
Curiosamente, recebemos então uma informação do PCV de que já havíamos atravessado o tal rio e de acordo com o programado! Era a confirmação de que sabiam onde estávamos e não nos tinham perdido de vista.
Não demorou muito a chegada de um helicóptero, mas não se descobria uma clareira para ele aterrar. Foi então que presenciei uma manobra incrível daquele helicóptero. Depois de circundar a zona, aproximou-se a sobrevoar rasteiro sobre as árvores mais pequenas em direcção ao tronco da árvore maior, e ao chegar perto da árvore inclinou-se ligeiramente e aterrou mesmo debaixo dela; regressou pelo mesmo espaço e com as mesmas manobras, depois de carregar o Banharia”. Só voltei a vê-lo no dia do regresso da Guiné, na Metrópole, porque nos foi esperar. Estava muito contente porque já conseguia andar sem muletas.
Mas, o pior estava para vir. Agora não se vislumbrava o tal reabastecimento da água e que era indispensável para se poder continuar. A noite aproximava-se de novo, sem termos progredido quase nada. Vários camaradas já só andavam apoiados nos outros. Esse número de impossibilitados ia aumentando à medida que o tempo passava. Alguns militares tinham beneficiado de alguma água dos carregadores, no início da manhã do dia anterior, enquanto houve. Os outros, com o cantil quase vazio foram resistindo até ao máximo, racionando a pouca que ainda tinham por já temerem o pior. Porém, já não havia água alguma há cerca de 30 horas!
Desidratados, caminhávamos lentamente, já com poucas forças e pouco alento. E, conforme se veio a saber, também sem rumo. A mata era toda igual, cheia de arbustos baixos que era preciso romper, muitas vezes rastejando, sem relevos nem linhas de água, mesmo secas. Não sabíamos para onde avançar. Tivemos que parar. O cansaço esgotante já estava a dominar-nos. Era imperioso descansar para continuarmos a resistir naquela noite horrível. Ao contrário do que se pode imaginar, dentro da mata, o calor abafado e a falta de oxigénio aumentava o sofrimento.
Os primeiros raios da madrugada (12.Junho.1967) vieram encontrar aqueles corpos “mortos” e estendidos no chão, alguns aparentando poucos sinais de vida.
Como se sentia alguma frescura nas folhas dos arbustos, lá as íamos mascando, algumas com sabores insuportáveis. E como as ervas pareciam ter humidade, rastejávamos e nelas pousávamos os lábios para as lamber. Recordo que apanhei uma espécie de jarro (flor), onde se via um pouco de água no fundo; bebi aquilo e senti um gosto horrível. Era um líquido corrosivo, decerto da própria planta para matar os insectos que lá iam beber. Deu para senti-los na boca, e vê-los em decomposição.
É nesta movimentação arrepiante que o Massarelos, ao caminhar, raspou no Chico e sentiu que o seu cantil deu sinal de ter água. Atirou-se a ele:
– Ó filho da puta, tu tens água e deixas-me aqui morrer à sede? Eu, que sou mais que teu irmão?
O Chico, sentado no chão, ficou apático, calado, sem a mínima reacção ao que lhe diziam. Tiraram-lhe o cantil e sofregamente, cada qual o levou à boca na esperança de colher alguma água.
- É mijo, é mijo! - logo berraram os que deitaram o cantil à boca.
E o Chico, imperturbável e resignado, acabou por confessar que ainda não tinha bebido nada e que tinha a urina como reserva, o que ninguém acreditou. E, ao constar-se este caso, logo se descobriram outros.
O “guia forçado” voltou a perder-se. Afinal nunca nos orientou bem e já temíamos o pior. Não sei quanto tempo mais andámos à deriva. Era pouca a distância percorrida porque, nesta situação já rareavam a força para caminhar e a consciência das coisas. Alguns lá resistiam mais, agarrando e arrastando outros já semi-inconscientes, que pareciam de borracha. Quase ninguém tinha a arma em posição de defesa, pois vinha em bandoleira. Confesso que tenho dificuldade em dizer o tempo que tudo isto durou.
Agora, esgotados, desfalecidos e estendidos pelo chão, já quase ninguém andava. Não havia forças nem lucidez para falar. Alguns sentados e encostados às árvores, buscando energias e vontade de viver, acariciavam com os dedos, as pequenas fotos dos seus entes queridos. Digamos que já se procurava esquecer o pior, até porque ninguém queria tal despedida. É que já havia quem pensasse que a nossa salvação seria o IN nos encontrar e não nos atacar.
É neste cenário de morte esperada e quase resignada que surge a informação de que o guia se havia desviado tanto para a direita que nos levou para próximo da estrada Banjara-Bafata.
De repente, não sei de onde veio tanta energia. Os “mortos” ressuscitaram e os “moribundos” endireitaram-se. Alteraram-se os rostos, voltaram a brilhar os olhos mortiços e recuperaram parte das forças.
Foram respeitadas as orientações dadas para prosseguirmos devagar e dentro da mesma ordem. Eu procurei assumir alguma autoridade, avisando “o pessoal” que ninguém deveria ir beber água ao charco putrefacto, situado umas centenas de metros antes de Banjara. Ainda consegui incentivá-los:
- Vamos resistir mais uns minutos, porque em Banjara não faltam bebidas frescas e lá já estão a contar connosco.
Todos pareceram concordar com o aviso. A esperança sempre nos dava mais um bocado de alento e resistência.
Seguíamos em frente, pela estrada, já a ver o Destacamento e mais apressadamente, beneficiando da leve descida da estrada. Nem queria olhar para o charco e lá ia incentivando a malta para fazer o mesmo. De repente, faz-se atrás de mim uma algazarra. Era a malta a correr e a atirar-se para o charco. Não sei o que se passou comigo, que, quando dei por mim, também estava no meio daqueles corpos fardados, imersos no charco, onde os animais bebiam e defecavam, agora transformado em lamaçal, e no qual as bocas semi-abertas sugavam sofregamente todo o líquido que podiam. Cabeças, canos e coronhas de armas, botas, braços e pernas, tudo se misturava descontroladamente, em movimentos bruscos. Sentindo barro na minha boca sequiosa, mais forçava com os lábios a entrada do líquido através do bigode, que servia de filtro. Cheguei a sentir “seres estranhos” a rabear entre os pelos que eu procurava tirar com as unhas. A partir dali, fiquei seguro de que nada pode dominar o instinto da sobrevivência.
Agora incentivávamo-nos uns aos outros para largarmos aquele perigoso e nojento lamaçal e avançarmos para Banjara. Aí chegados, era cerveja, sumol, água, tudo o que pudéssemos levar aos lábios numa vontade de beber incontrolada. Não tardou que as dores horríveis sentidas no abdómen se misturassem com a vontade imensa de... beber, beber e beber. Insaciavelmente.
***********
Duas notas finais:
1 - Por não ter sido atingido o objectivo (acampamento IN em local incerto na zona de Canjambari), a nossa Companhia, reduzida a um terço do seu efectivo, foi mandada montar emboscadas na região de Bantajã, até às 6H30 (13.Jun.1967), por ordem do PCV.
2 - Esta operação foi repetida, com grande sucesso, pela nossa Companhia sob a denominação( Inquietar II)
(Silva da Cart 1689)
__________
Notas de CV:
Vd. último poste da série de 27 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7044: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (4): Olhar fatal
Em tempo: - Houve um lapso da minha parte porque encontrei no Google Earth uma localidade com o nome Cambaju junto à fronteira com o Senegal e considerei-a como sendo aquela a que o Silva se referia na sua história.
O nosso camarada pediu para rectificar porque o Cambaju que ele conheceu se situava próximo de Danga.
Está rectificada e reposta a verdade.
Carlos Vinhal
23OUT2010
Caros Camaradas
Junto a história "Até beber urina", para incluir nas "Outras memórias da minha guerra".
E, tratando-se de uma bastante pesada, queria aproveitar parajustificar com o seguinte:
Quando terminei a guerra não descansei sem "fugir" para Angola (terra de meus sonhos), para onde fui trabalhar, arranjar um filho e procurar esquecer aqueles tempos marcantes das nossas vidas. Dediquei-me à pesca e aos filmes leves, belos e divertidos. Só lia e ouvia assuntos de desporto. Sempre que falava da guerra, apenas recordava as tais "boas memórias" porque o resto era imperioso esquecer. Penso que esta reacção era comum à maioria dos que tiveram o azar de ser mais "castigados". Não é por acaso que só ao fim de 11 anos, a nossa malta começou a reunir e também como eu, a evitar relembrar as tais "outras memórias".
E foi na sequência dos bons momentos que passámos no último encontro da Companhia, especialmente na sua continuação, em casa do Seixas de Felgueiras, que o amigo e camarada da Cart 1689, Abrunhosa Branquinho, insistiu de novo e fez-me prometer contar as minhas histórias, no blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Claro que só pensava registar as coisas boas mas, como reacção de alguns camaradas, ouvi criticas acusando de que eu deveria também contar as outras histórias em que a nossa Companhia tanto sofreu. Por isso, e porque o lema da tertúlia é "não deixes que sejam os outros a contar a tua historia por ti", vejo-me a relembrar o que tanto forcei para esquecer.
Porém, preso aos mesmos princípios, peço desculpa a todos os camaradas que me lêem, pelo facto de os fazer reviver tão lamentáveis momentos.
Um abraço do
Silva da Cart 1689
Outras memórias da minha guerra (5)
Até beber urina
Continuávamos a norte de Banjara do Oio (10.Jun.67), dando seguimento à Op Inquietar I.
Havíamos sofrido o baptismo de fogo e o embate de Cambaju. Já acusávamos um certo desgaste pela difícil progressão e pela falta de água. Num qualquer gabinete fresco e arejado das nossas Forças Armadas, algum “iluminado” programara esta Operação. Estava marcado, no desenho da operação, que a nossa Cart 1689 deveria atingir o rio (Cambaju), por volta do meio-dia do dia seguinte, no qual já nos podíamos reabastecer de água.
O Silva após a Operação Inquietar I
O problema é que não se via rio, não se enxergava qualquer espaço húmido, nem um simples declive, e menos ainda o que se pudesse chamar uma linha de água. Fomos batendo a zona em vão. E, quando ao fim de algumas horas notamos que estávamos em local já por nós calcorreado, decidimos ficar a descansar e pernoitar, possivelmente no leito do tal rio invisível.
Logo de manhã (11.Junho.67), ali perto, fizemos um prisioneiro que nos serviu de guia. Quando demos por ela, o guia já nos desviava para atacar e destruir umas tabancas de população Manjaca (claro que não era da sua etnia), e não tardou que também nos desorientasse.
Nesta situação, contactámos a base de Bafatá. Apareceu-nos o pequeno avião (PCV do CMD Operacional) cujo piloto, mesmo a sobrevoar-nos afirmava que não nos descobria nem nos ouvia, Foi lançada uma granada de fumos, para facilitar a localização. Como ela não deflagrou, teve que se lançar outra e mais outra (era a última), porque a anterior também não deflagrou. Mesmo assim, não nos descobriram. Porque nos expusemos a ser descobertos pelo IN, dada a movimentação aérea e o fumo da granada, procurámos logo sair dali. Ao iniciar esse movimento, o soldado António Soares, mais conhecido pelo “Banharia”, possivelmente o militar mais curioso e mais reguila da nossa Companhia, agarrou numa granada que não deflagrara e meteu-a no bolso lateral direito das calças.
Não tardou que a granada deflagrasse e apanhasse o “Banharia” em cheio. Foi gritaria incrível, pois a granada de fósforo não parava de arder. Era um louco a correr de um lado para o outro, em gritos e em total desespero. A primeira reacção da nossa tropa foi afastar-se dele. Então, num gesto corajoso, o “Cabo Felgueiras” tirou a sua camisa e com ela tentou fazer o impossível. Só quando se rasgaram e afastaram as calças do corpo do “Banharia” é que ele ficou mais aliviado. Descobertos pelo IN, e um pouco apavorados com o sucedido, não podíamos ali permanecer muito tempo à espera de socorro.
Curiosamente, recebemos então uma informação do PCV de que já havíamos atravessado o tal rio e de acordo com o programado! Era a confirmação de que sabiam onde estávamos e não nos tinham perdido de vista.
Não demorou muito a chegada de um helicóptero, mas não se descobria uma clareira para ele aterrar. Foi então que presenciei uma manobra incrível daquele helicóptero. Depois de circundar a zona, aproximou-se a sobrevoar rasteiro sobre as árvores mais pequenas em direcção ao tronco da árvore maior, e ao chegar perto da árvore inclinou-se ligeiramente e aterrou mesmo debaixo dela; regressou pelo mesmo espaço e com as mesmas manobras, depois de carregar o Banharia”. Só voltei a vê-lo no dia do regresso da Guiné, na Metrópole, porque nos foi esperar. Estava muito contente porque já conseguia andar sem muletas.
Mas, o pior estava para vir. Agora não se vislumbrava o tal reabastecimento da água e que era indispensável para se poder continuar. A noite aproximava-se de novo, sem termos progredido quase nada. Vários camaradas já só andavam apoiados nos outros. Esse número de impossibilitados ia aumentando à medida que o tempo passava. Alguns militares tinham beneficiado de alguma água dos carregadores, no início da manhã do dia anterior, enquanto houve. Os outros, com o cantil quase vazio foram resistindo até ao máximo, racionando a pouca que ainda tinham por já temerem o pior. Porém, já não havia água alguma há cerca de 30 horas!
Desidratados, caminhávamos lentamente, já com poucas forças e pouco alento. E, conforme se veio a saber, também sem rumo. A mata era toda igual, cheia de arbustos baixos que era preciso romper, muitas vezes rastejando, sem relevos nem linhas de água, mesmo secas. Não sabíamos para onde avançar. Tivemos que parar. O cansaço esgotante já estava a dominar-nos. Era imperioso descansar para continuarmos a resistir naquela noite horrível. Ao contrário do que se pode imaginar, dentro da mata, o calor abafado e a falta de oxigénio aumentava o sofrimento.
Os primeiros raios da madrugada (12.Junho.1967) vieram encontrar aqueles corpos “mortos” e estendidos no chão, alguns aparentando poucos sinais de vida.
Como se sentia alguma frescura nas folhas dos arbustos, lá as íamos mascando, algumas com sabores insuportáveis. E como as ervas pareciam ter humidade, rastejávamos e nelas pousávamos os lábios para as lamber. Recordo que apanhei uma espécie de jarro (flor), onde se via um pouco de água no fundo; bebi aquilo e senti um gosto horrível. Era um líquido corrosivo, decerto da própria planta para matar os insectos que lá iam beber. Deu para senti-los na boca, e vê-los em decomposição.
É nesta movimentação arrepiante que o Massarelos, ao caminhar, raspou no Chico e sentiu que o seu cantil deu sinal de ter água. Atirou-se a ele:
– Ó filho da puta, tu tens água e deixas-me aqui morrer à sede? Eu, que sou mais que teu irmão?
O Chico, sentado no chão, ficou apático, calado, sem a mínima reacção ao que lhe diziam. Tiraram-lhe o cantil e sofregamente, cada qual o levou à boca na esperança de colher alguma água.
- É mijo, é mijo! - logo berraram os que deitaram o cantil à boca.
E o Chico, imperturbável e resignado, acabou por confessar que ainda não tinha bebido nada e que tinha a urina como reserva, o que ninguém acreditou. E, ao constar-se este caso, logo se descobriram outros.
O “guia forçado” voltou a perder-se. Afinal nunca nos orientou bem e já temíamos o pior. Não sei quanto tempo mais andámos à deriva. Era pouca a distância percorrida porque, nesta situação já rareavam a força para caminhar e a consciência das coisas. Alguns lá resistiam mais, agarrando e arrastando outros já semi-inconscientes, que pareciam de borracha. Quase ninguém tinha a arma em posição de defesa, pois vinha em bandoleira. Confesso que tenho dificuldade em dizer o tempo que tudo isto durou.
Agora, esgotados, desfalecidos e estendidos pelo chão, já quase ninguém andava. Não havia forças nem lucidez para falar. Alguns sentados e encostados às árvores, buscando energias e vontade de viver, acariciavam com os dedos, as pequenas fotos dos seus entes queridos. Digamos que já se procurava esquecer o pior, até porque ninguém queria tal despedida. É que já havia quem pensasse que a nossa salvação seria o IN nos encontrar e não nos atacar.
É neste cenário de morte esperada e quase resignada que surge a informação de que o guia se havia desviado tanto para a direita que nos levou para próximo da estrada Banjara-Bafata.
Localização de Banjara e Cambaju
De repente, não sei de onde veio tanta energia. Os “mortos” ressuscitaram e os “moribundos” endireitaram-se. Alteraram-se os rostos, voltaram a brilhar os olhos mortiços e recuperaram parte das forças.
Foram respeitadas as orientações dadas para prosseguirmos devagar e dentro da mesma ordem. Eu procurei assumir alguma autoridade, avisando “o pessoal” que ninguém deveria ir beber água ao charco putrefacto, situado umas centenas de metros antes de Banjara. Ainda consegui incentivá-los:
- Vamos resistir mais uns minutos, porque em Banjara não faltam bebidas frescas e lá já estão a contar connosco.
Todos pareceram concordar com o aviso. A esperança sempre nos dava mais um bocado de alento e resistência.
Seguíamos em frente, pela estrada, já a ver o Destacamento e mais apressadamente, beneficiando da leve descida da estrada. Nem queria olhar para o charco e lá ia incentivando a malta para fazer o mesmo. De repente, faz-se atrás de mim uma algazarra. Era a malta a correr e a atirar-se para o charco. Não sei o que se passou comigo, que, quando dei por mim, também estava no meio daqueles corpos fardados, imersos no charco, onde os animais bebiam e defecavam, agora transformado em lamaçal, e no qual as bocas semi-abertas sugavam sofregamente todo o líquido que podiam. Cabeças, canos e coronhas de armas, botas, braços e pernas, tudo se misturava descontroladamente, em movimentos bruscos. Sentindo barro na minha boca sequiosa, mais forçava com os lábios a entrada do líquido através do bigode, que servia de filtro. Cheguei a sentir “seres estranhos” a rabear entre os pelos que eu procurava tirar com as unhas. A partir dali, fiquei seguro de que nada pode dominar o instinto da sobrevivência.
Agora incentivávamo-nos uns aos outros para largarmos aquele perigoso e nojento lamaçal e avançarmos para Banjara. Aí chegados, era cerveja, sumol, água, tudo o que pudéssemos levar aos lábios numa vontade de beber incontrolada. Não tardou que as dores horríveis sentidas no abdómen se misturassem com a vontade imensa de... beber, beber e beber. Insaciavelmente.
***********
Duas notas finais:
1 - Por não ter sido atingido o objectivo (acampamento IN em local incerto na zona de Canjambari), a nossa Companhia, reduzida a um terço do seu efectivo, foi mandada montar emboscadas na região de Bantajã, até às 6H30 (13.Jun.1967), por ordem do PCV.
2 - Esta operação foi repetida, com grande sucesso, pela nossa Companhia sob a denominação( Inquietar II)
(Silva da Cart 1689)
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Notas de CV:
Vd. último poste da série de 27 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7044: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (4): Olhar fatal
Em tempo: - Houve um lapso da minha parte porque encontrei no Google Earth uma localidade com o nome Cambaju junto à fronteira com o Senegal e considerei-a como sendo aquela a que o Silva se referia na sua história.
O nosso camarada pediu para rectificar porque o Cambaju que ele conheceu se situava próximo de Danga.
Está rectificada e reposta a verdade.
Carlos Vinhal
23OUT2010
Guiné 63/74 - P7158: In Memoriam (57): Faleceu Manuel Basílio Soares Domingos, ex-Fur Mil da CART 564 (Guiné, 1964/66) (Rogério Cardoso)
FALECEU MAIS UM BRAVO
Fur Mil Manuel Basílio Soares Domingos da CART 564, assinalado na foto
1. Mensagem de Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 22 de Outubro de 2010:
Amigo Carlos Vinhal
Para publicação, hoje dia 21 de Outubro.
Faleceu o ex-Furriel Miliciano da CART 564, Manuel Basílio Soares Domingos, militar com uma excepcional actuação no teatro de operações.
Condecorado com Cruz de Guerra em 10 de Junho de 1966, no terreiro do Paço em Lisboa, conforme foto no P6163**
Rogério Cardoso
Cart 643-Águias Negras
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 9 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6840: (Ex)citações (90): O nível das modalidades desportivas amadoras de Bissau tinha baixo nível e recorria aos militares ali estacionados (Rogério Cardoso)
(**) Vd. poste de 16 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6163: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (16): Comemorações do dia 10 de Junho de 1966 no Terreiro do Paço
Vd. último poste da série de 21 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7153: In Memoriam (56): Joaquim Djassi, ex-combatente do PAIGC, radicado em Lisboa, faleceu no dia 19 de Outubro de 2010 (Hugo Moura Ferreira)
Guiné 63/74 - P7157: (In)citações (14): Neto de um gerente comercial francês, o Mr. Jean Marie Adolphe Herbert, e filho de um futebolista caboverdiano, Armando Búfalo Bill (Nelson Herbert)
Guiné > Bissalanca > Fotografia tirada na despedida do gerente da NOSOCO - Nouvelle Societé de Commerce, Monsieur Boris, que nesse dia regressava a Paris (está ao centro de fato e gravata). Está rodeado dos empregados do escritório da NOSOCO em Bissau... O terceiro, a contar da esquerda, assinalado a vermelho, é Armando Duarte Lopes, o pai do nosso amigo Nelson Lopes Herbert... (Fez 90 anos em 23 de Junho de 2010 , esteve em 1943 no Mindelo, sua terra natal, integrado numa força expedicionária, vinda do continente, que veio reforçar o sistema de defesa da Ilha de São Vicente durante a II Guerra Mundial. Viveu depois, trabalhou e casou em Bissau).
Como nos relembra o Nelson, o pai era então "um jovem, robusto, futebolista conhecido na Guiné (Armando Bufallo Bill, seu nome de guerra, o melhor de futebolista da UDIB, do Benfica de Bissau, internacional pela selecção da antiga Guiné Portuguesa..). Foi encarregado, por muitos anos, do porto fluvial de Bambadinca, e ainda se lembra de episódios do djunda djunda (braço de ferro) entre a JAPG (Junta Autónoma dos Portos da Guine) e a tropa, relativamente a um batelão, propriedade do primeiro e que fazia regularmente o trajecto Bambadinca-Bissau, mas que a tropa insistia em acambarcar...para revolta das população da zona leste, já que dessa boleia dependia o escoamento da produção local (caprinos e produtos hortícolas) para os mercados de Bissau...
O apelido Herbert vem de outro lado, de um avô materno francês, que foi o representante local, na Guiné, da CFAO - Compagnie Française de l'Afrique Occidentale, fundada em 1887, e que continua a ser um importante grupo económico, líder da distribuição especializada em África e nos territórios franceses do Ultramar.
Na foto, que é do Mário Dias (também ele empregado da NOSOCO), vê-se ainda o João Rosa (soube-se mais tarde, militante do PAIGC), "o guarda-livros, (...) na segunda fila à direita" e "à sua frente, o 2º da direita, (...) o Toi Cabral". Os restantes elementos do grupo eram "alguns (quase todos) dos empregados do escritório da NOSOCO em Bissau"... (LG)
Foto: © Mário Dias / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2009). Todos os direitos reservados.
1. Comentário do nosso amigo e jornalista da Voz da América (VOA), Nelson Herbert (, foto à direita):
Luís
A titulo de curiosidade...Relativamente a Companhia Francesa da África Ocidental (CFAO), devo dizer que meu avô materno ( Jean Marie Adolphe Herbert, que ainda conheci, já que viria a falecer em França em 1969) foi um dos gerentes da representação da CFAO na Guiné ... Daí a origem da família HERBERT guineense, de que hoje faço parte...
Minha mãe era filha, única, do Monsieur Jean Marie...Com a guerra da Argélia, e decorrente das suas sequelas, várias companhias francesas decidem na altura pela retirada de grande parte das suas representações em África. Por essa altura essa firma francesa acata a orientação e abandona a Guiné... Meu avô parte e de arrasto insiste em levar a família. Minha mãe,por sinal filha única do velho ainda jovem, recusa tal ideia ... tal era a paixão pueril... E casa-se ainda jovem (17 anos) com o Sr Armando Duarte Lopes, dando por improcedente a teimosia do meu avô...
(In) conformado... com o casamento da filha menor (que remédio!), o meu avô manda restaurar de raiz a ainda hoje igreja de Cantchungo (antiga Teixeira Pinto) para acolher com pompa e circunstância o casamento da única filha !
Tudo isto antes do início da guerra !
Mas vamos ao que interessa... Falando concretamente da firma francesa em questão... Por aquilo que retive, tenho as minhas dúvidas que tivessem tido ramificações no sul da Guiné....A Companhia Francesa da África Ocidental (CFAO) terá sobretudo actuado na parte norte da Guiné, Có e Cantchungo... (Esta última, por sinal, a base/origem dos Herbert). A sede regional estaria implantada do outro lado da fronteira, em Casamansa, Senegal... Conhecem-se actividades desta companhia gaulesa também na Gâmbia...
Apenas um aspecto curioso !
Mantenhas
Nelson Herbert
USA
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Nota de L.G.:
Último poste da série > 18 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7142: (In)citações (12): Gadamael Porto, saúda-vos! (Pepito)
Guiné 63/74 - P7156: Memória dos lugares (103): Gadamael: a misteriosa sigla A.S.C.O já lá estava no tempo do Luís Guerreiro (1969) e do José Gonçalves (1974), dois camaradas que vivem no Canadá
Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CART 2410 (1968/69) > Messe e quarto de sargentos... Terá sido também, em tempos, armazém comercial... A misteriosa sigla, A.S.C.O., já lá estava nessa época...
Foto: © Luís Guerreiro (2010). Todos os direitos reservados.
1. Mensagem de Luís Guerreiro, com data de 21 do corrente:
Assunto: Memória dos lugares Gadamael
Caro Luis:
Foi com bastante agrado que vi todas as fotos que o Pepito enviou de Gadamael.
Sobre o edifício em ruínas em 1968/69, quando da permanência da CArt 2410, era a nossa
messe e quartos de sargentos, e se a memória não me atraiçoa tinha sido armazém comercial.
messe e quartos de sargentos, e se a memória não me atraiçoa tinha sido armazém comercial.
No P3087, já tinham sido publicadas as minhas fotos de Gadamael, aonde o referido edifício se encontra , e com a nome ASCO bem legível, só que na altura ninguém prestou atenção. Vou voltar a enviar a mesma foto.
Por hoje é tudo
Cumprimentos
Luís Guerreiro
[Ex-Fur Mil do 4.º Gr Comb da CART 2410,
Os Dráculas,
Gadamael, Ganturé e Guileje, 1968/70,
e mais tarde do Pel Caç Nat 65,
Bajocunda e Buruntuma, 1970;
a viver em Montreal, Canadá, desde 1971]
2. Mensagem do José Gonçalves, também de 21 do corrente (e de quem ainda não temos nenhuma foto; vive igualmente no Canadá):
Assunto: O enigma do edifício de Gadamael
Olá, Luis.
Aqui te mando uma foto antiga do edificio em questão onde se pode claramente ver a insígnia ASCO que também não sei o que quer dizer mas pela foto antiga parece ter havido mais letras [, vd. foto à direita]. O edificio não era messe de oficiais mas sim de sargentos e tinha sido também enfermaria, (aliás foi aqui neste edificio que me prepararam para a evacuação de sintex para Cacine, no dia em que fui ferido, 17 Fev 1974).
Depois dos ataques de 73 a enfermaria foi implantada mesmo em frente, do outro lado da rua, num abrigo em betão armado que se construiu para o efeito apesar de esta continuar a ser utilizada ainda mas não tinha camas .
A Messe de oficiais era mais perto da antiga pista e está identificada numa das fotografias que o Pepito mandou como sendo Instalações do comando, centro de transmissões e residência de oficias. Isto pederá ter sido antes de mim mas quando cheguei a Gadamael o centro do comando e transmissões (COP5) estava nesse tal abrigo de betão armado, perto do início da pista. Este edificio era a sede da secretaria da minha companhia, messe de oficiais da minha companhia e alojamento para o 1º sargento e capitão.
No meu tempo os oficiais e sargentos dormiam perto dos soldados. Eu dormia na mesma casa onde estava metade do meu Poletão e os furriéis faziam o mesmo.
Estranho que estes abrigos não tenham permanecido pois existiam dois. A enfermaria no local onde indiquei e o de telecomunicações no início da pista. O PAIGC talvez os tenha destruido.
Cumprimentos para todos os bloguistas
Alferes Mil Op Esp,
CCAÇ 4152/73
(Gadamael Porto, Jan 74/Jul 74)
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Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 20 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7148: Memória dos lugares (90): Gadamael Porto e o enigma da sigla ou acrónimo A. S. C. O. num dos seus edifícios abandonados (Luís Graça / Pepito / Manuel Reis)
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 20 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7148: Memória dos lugares (90): Gadamael Porto e o enigma da sigla ou acrónimo A. S. C. O. num dos seus edifícios abandonados (Luís Graça / Pepito / Manuel Reis)
Guiné 63/74 - P7155: Em busca de... (148): Aurino Barbosa Medeiros, ex-Fur Mil Operações Especiais/RANGER da 2ª CART do BART 6523 (António Barbosa)
1. O nosso Camarada António Barbosa (ex-Alf Mil Op Esp/RANGER do 1º Pelotão da 2.ª CART do BART 6523, Cabuca, 1973/74, enviou-nos em 18 de Outubro último o seguinte apelo:
Camaradas,
A razão do meu contacto é um pedido de ajuda para reencontrar o “meu” Fur Mil OpEsp/RANGER com o NIM 15228173, por isso da incorporação de 1973, de nome Aurino Barbosa Medeiros.
Aqui deixo o meu apelo a quem souber alguma indicação do seu paradeiro, pois após a nossa chegada a Lisboa nunca mais soube nada dele, por favor me contacte para o meu e-mail: a.antonio.barbosa@gmail.com ou para o telemóvel 936 470 419.
Eu e o Aurino Medeiros
Um Grande Abraço
António Barbosa
Alf Mil Op Esp/RANGER da 2.ª CART do BART 6523
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
Fotografia: © António Barbosa (2010). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em: António Barbosa
Alf Mil Op Esp/RANGER da 2.ª CART do BART 6523
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
Fotografia: © António Barbosa (2010). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:
6 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7086: Em busca de... (147): Ademar Rodrigues, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BART 6521 procura camaradas
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Guiné 63/74 - P7154: (De) Caras (5): Silate Indjai, um dos primeiros guerrilheiros do PAIGC a entrar em Guileje, dirige agora os trabalhos de detecção e limpeza de UXO (Pepito)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto nº 1 > Silate Indjai está a dirigir os trabalho de detecção e limpeza de minas e outros objectos explosivos não explodidos (UXO, em inglês). Foi um dos primeiros guerrilheiros do PAIGC (*) a entrar no quartel após este ter sido abandonado. [Presumimos que seja nalu, natural do Cantanhez].
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto nº 2 > Mais um abrigo destapado...
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto nº 3 > Granadas de artilharia (obus 14, peça 11.4...?)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto nº 4 > Mais granadas de artilharia...
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto nº 5 > Granadas diversas, incluindo de morteiro e bazuca.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto nº 6 > Restos de cunhetes, metálicos, de munições
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto nº 7 > Fragmentos de bombas da FAP
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto nº 8 > Novo abrigo descoberto
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto nº 9 > Restos de redes de arame de camas... [Ou ferro do cimento armado, Pepito ?]
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto nº 10 > Mais vestígios de camas no abrigo [ ?]...
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto nº 11 > [ Um tijolo, possivelmente, tijolo burro, que se usava para fazer o forno do p\ao, com a marca da fábrica, possivelmente a Ceramica do Liz, SA, cuja historia remonta aos anos 30]...
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto nº 12 > Um artefacto produzido por um militar da CCAÇ 3325 (À direita, a sua efígie)... Recorde/se que a CCAÇ 3325 esteve em Guileje, de Fev a Dez 1971, comandada pelo Cap Jorge Parracho, hoje coronel na reforma.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto nº 13 > Uma garrafa de água mineral Bussaco...
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto nº 14 > Garrafa de refrigerante Convento, produzida (se não me engano) por uma empresa do concelho de Mafra, a Francisco Alves & Filho, com sede na Venda do Pinheiro...
Fotos: © Pepito / AD -Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Amigo Luís
Como te disse em email anterior, o ex-quartel de Guiledje está a ser limpo de minas e UXO [, 2ª fase, incluindo o perímetro exterior].
A primeira curiosidade advém do facto de que quem está a dirigir o trabalho, Silate Indjai (foto 1), ter sido um dos primeiros guerrilheiros do PAIGC a entrar no quartel [, em 25 de Maio de 1973,] após este ter sido abandonado [, três dias antes].
Sobre a controvérsia sobre quem destruiu o quartel após este ter sido tomado, conta ele que, passados uns dias e já sem ninguém do PAIGC no quartel, a aviação portuguesa bombardeou e destruiu o quartel, tendo agora sido recolhidos fragmentos dessas bombas (foto 7).
Diz ele [, Silate Indjai,] que, estando por ali perto, ouviu esses bombardeamentos, corroborando testemunhos avulsos que já nos tinham sido relatados ao longo destes anos em que estamos a "trabalhar" em Guiledje.
Mais, segundo ele, os guerrilheiros nunca mais voltaram a este quartel até ao fim da guerra. Por outro lado, diz que os canhões do PAIGC nunca poderiam perfurar a cobertura dos paiois subterrâneos.
Sem querer tirar conclusões definitivas, apenas disponibilizo mais este relato. Outras fotos:
Foto 2: um dos abrigos que foi agora "destapado" para se retirarem os morteiros [ou granadas de obus ?] (muito perto do Museu)
Fotos 3-4-5: morteiros [ granadas de obus] e outros
Foto 6: caixas dos morteiros [granadas]
Foto 7: fragmentos de bombas aéreas
Foto 8: novo abrigo descoberto
Foto 9-10: camas metálicas [ ?] nos abrigos novos
Foto 11: foi desenterrado este "tijolo", alguém saberá o que quer dizer ou a que se refere?
Foto 12: estava à entrada de um abrigo e penso ser o nº de uma companhia
Fotos 13-14: garrafas intactas
abraço
pepito
PS - Perdoa-me as designações militares do equipamento, morteiros, etc. Não percebo nada do assunto. Vais receber muitos emails, cada um com a sua foto.
2. Comentário de L.G.:
Obrigado, Pepito, pelas fotos e legendas... E sobretudo pela paixão com que pões a malta a escavar as entranhas de Guileje, que ainda têm muito que contar... e que vais preservar no núcleo museológico Memória de Guiledje. Tentei dar uma ajuda, complementado as tuas notas...
abraço
pepito
PS - Perdoa-me as designações militares do equipamento, morteiros, etc. Não percebo nada do assunto. Vais receber muitos emails, cada um com a sua foto.
2. Comentário de L.G.:
Obrigado, Pepito, pelas fotos e legendas... E sobretudo pela paixão com que pões a malta a escavar as entranhas de Guileje, que ainda têm muito que contar... e que vais preservar no núcleo museológico Memória de Guiledje. Tentei dar uma ajuda, complementado as tuas notas...
Isto é um verdadeiro trabalho de arqueologia... Mas, atenção, diz à tua rapaziada: Safety, first! A Segurança, acima de tudo!... Esses brinquedos de morte ainda hoje podem matar!... Não quero que um dia destes nos mandes nenhuma funesta notícia, em relação com a eventual deflagração desses tais UXO (engenhos explosivos por deflagrar, do inglês Unexploded Ordnance...), podendo originar uma tragédia... Na guerra, a morte pegava-se de caras (**)... Felizmente, estamos agora em paz...Mantenhas para ti, o Domingos, o Silate e restante rapaziada... LG
PS - Já agora, não tens a história (resumida) do Silate Indjai, como guerrilheiro ? Por onde é que ele andou, com quem andou, que recordações tem, etc... Há um silêncio muito grande por parte dos homens (e mulheres) que lutaram, de armas na mão, nas fileiras do PAIGC... As suas histórias de vida podem e devem ser passadas a escrito e divulgadas... O blogue é nosso...
PS - Já agora, não tens a história (resumida) do Silate Indjai, como guerrilheiro ? Por onde é que ele andou, com quem andou, que recordações tem, etc... Há um silêncio muito grande por parte dos homens (e mulheres) que lutaram, de armas na mão, nas fileiras do PAIGC... As suas histórias de vida podem e devem ser passadas a escrito e divulgadas... O blogue é nosso...
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Notas de L.G.:
(*) Vd. também poste de 24 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2478: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (9): Inimigos de ontem, amigos de hoje
(**) Último poste desta série > 7 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7093: (De) Caras (4): Eu também estive lá (Carlos Fernandes, ex-1º Cabo Pára-Quedista, CCP 122/BCP 12, 1971/74)
Guiné 63/74 - P7153: In Memoriam (56): Joaquim Djassi, ex-combatente do PAIGC, radicado em Lisboa, faleceu no dia 19 de Outubro de 2010 (Hugo Moura Ferreira)
1. Mensagem de Hugo Moura Ferreira (ex-Alf Mil da CCAÇ 1621, Cufar e Cachil, e CCAÇ 6, Bedanda, 1966/68), com data de 20 de Outubro de 2010:
Caro Carlos Vinhal:
Nesta época e na nossa idade por vezes somos confrontados com notícias que nos entristecem.
Foi o caso de hoje, quando recebi uma chamada do telemóvel do Joaquim Djassi, mas feita pela Leontina, sua mulher, a dar a triste notícia do falecimento do marido ontem à tarde, no Hospital de Santa Maria, onde ainda se encontra.
Ao perguntar-lhe do funeral, disse-me que sairá da Mesquita de Lisboa, na 6.ª feira, às 14h00. Não sei ainda para onde. O telefone de contacto é: 969 442 125.
Achei que era meu dever comunicar-te, no sentido de, se assim o entenderes, fazer circular a notícia.
Embora o Joaquim não fizesse parte da nossa Tabanca Grande e tivesse sido nosso IN no outro tempo, actualmente era uma amigo querido de alguns de nós.
Começou essa amizade quando, em Dezembro de 2007, alguns de nós fizeram uma almoçarada no restaurante dele, o Pelicano Dourado, que motivou o PosT 2334, do Marques Lopes. Mesmo, no dia 10 de Junho de 2009, houve mais um almoço que está representado em foto no Post T4531, do Hélder de Sousa/Francisco Allen, em que numa das fotos se reconhece o Joaquim sentando ao fundo.
Na foto, da esquerda para a direita: António Pimentel, Marques Lopes, Braima Baldé (de pé) e Joaquim Djassi
Penso que era conhecido, já que foi referenciado por diversas vezes e merece ser recordado como um indivíduo que acima de tudo acreditava na amizade acima das divergências que fizeram uma época.
Entretanto, desejo que as coisas estejam bem para ti e para os teus.
Um abraço camarigo
Hugo Moura Ferreira
CCaç 1621(Cufar)
e CCaç6 (Bedanda)
1966/68
Obs. - Negritos da responsabilidade do editor
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 25 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2579: Álbum Fotográfico do Hugo Moura Ferreira (3): Em Sangonhá, a sul de Gadamael, com a CCAÇ 1612 (1968)
(**) Vd. poste de Sábado, 8 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2334: Encontro de ex-combatentes, em Lisboa, no Pelicano Dourado (A.Marques Lopes)
Vd. último poste da série de 30 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7062: In Memoriam (55): António Domingos Rodrigues (1947-2010), natural de Torres Novas, ex-1º Cabo Trms Inf, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969 / Março de 1971)
Caro Carlos Vinhal:
Nesta época e na nossa idade por vezes somos confrontados com notícias que nos entristecem.
Foi o caso de hoje, quando recebi uma chamada do telemóvel do Joaquim Djassi, mas feita pela Leontina, sua mulher, a dar a triste notícia do falecimento do marido ontem à tarde, no Hospital de Santa Maria, onde ainda se encontra.
Ao perguntar-lhe do funeral, disse-me que sairá da Mesquita de Lisboa, na 6.ª feira, às 14h00. Não sei ainda para onde. O telefone de contacto é: 969 442 125.
Achei que era meu dever comunicar-te, no sentido de, se assim o entenderes, fazer circular a notícia.
Embora o Joaquim não fizesse parte da nossa Tabanca Grande e tivesse sido nosso IN no outro tempo, actualmente era uma amigo querido de alguns de nós.
Começou essa amizade quando, em Dezembro de 2007, alguns de nós fizeram uma almoçarada no restaurante dele, o Pelicano Dourado, que motivou o PosT 2334, do Marques Lopes. Mesmo, no dia 10 de Junho de 2009, houve mais um almoço que está representado em foto no Post T4531, do Hélder de Sousa/Francisco Allen, em que numa das fotos se reconhece o Joaquim sentando ao fundo.
Na foto, da esquerda para a direita: António Pimentel, Marques Lopes, Braima Baldé (de pé) e Joaquim Djassi
Penso que era conhecido, já que foi referenciado por diversas vezes e merece ser recordado como um indivíduo que acima de tudo acreditava na amizade acima das divergências que fizeram uma época.
Entretanto, desejo que as coisas estejam bem para ti e para os teus.
Um abraço camarigo
Hugo Moura Ferreira
CCaç 1621(Cufar)
e CCaç6 (Bedanda)
1966/68
Obs. - Negritos da responsabilidade do editor
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 25 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2579: Álbum Fotográfico do Hugo Moura Ferreira (3): Em Sangonhá, a sul de Gadamael, com a CCAÇ 1612 (1968)
(**) Vd. poste de Sábado, 8 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2334: Encontro de ex-combatentes, em Lisboa, no Pelicano Dourado (A.Marques Lopes)
Vd. último poste da série de 30 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7062: In Memoriam (55): António Domingos Rodrigues (1947-2010), natural de Torres Novas, ex-1º Cabo Trms Inf, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969 / Março de 1971)
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