sexta-feira, 10 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11550: Notas de leitura (479): A História do BCAÇ 2845 em verso, por Albino Silva, e A política da luta armada - Libertação nacional nas colónias africanas de Portugal, por Basil Davidson (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Janeiro de 2013:

Queridos amigos,
É a primeira história de uma unidade que combateu na Guiné que encontro literalmente em verso, isto graças à solicitude da Teresa Almeida, da Biblioteca da Liga dos Combatentes, confesso que desconhecia esta veia poética, o trabalho de Albino Silva é espantoso na dedicação e na afetuosidade.

Impunha-se igualmente a recensão do livro de Basil Davidson, cheio de clichês, às vezes com erros grosseiros, impressiona como homens de grande vigor intelectual cedem aos caprichos da propaganda, esquecendo o mínimo dos mínimos do contraditório.
Talvez por isso, o Basil Davidson ande agora a escrever, compungido, sobre os dramas africanos atuais…

Um abraço do
Mário


"A história do BCAÇ 2845 em verso", de Albino Silva 
"A política da luta armada, libertação nacional nas colónias africanas de Portugal", por Basil Davidson

Beja Santos

A história do BCAÇ 2845 em verso, de Albino Silva

“História da Unidade, BCAÇ 2845 em verso”, por Albino Silva, edição de autor, 2003, é um livro singular, confesso que nunca tinha lido a história de uma unidade, toda ela, em verso. O Albino Silva foi soldado maqueiro entre 1968 e 1970. Em 1959 estava em Angola, assustou-se com os massacres e os horrores de 1961, regressou, depois fugiu para França. E escreve: “Mas com os meus 20 anos e em França há já um ano eu pensava no tempo que lá iria estar e pensava também nos que iam para o Ultramar lutar por aquilo que eu fui obrigado a abandonar. Comecei a pensar que estava a ser cobarde para com a minha Pátria. Comecei a pensar que era Angola que precisava de mim e que eu tinha por direito vingar aqueles que lá tombaram sem cabeça no norte de Angola, na minha zona e gente minha amiga”.

O destino trocou-lhe as voltas, a unidade mobilizadora foi o BCAÇ 10, sito em Chaves. Em 1 de Maio de 1968 o BCAÇ 2845 parte para a Guiné, a bordo do Niassa. Albino Silva forjou toda a obra em quadras ao gosto popular, como se exemplifica: “Alcântara foi o cais/ onde íamos embarcar/ manhã cedo lá chegámos/ com familiares a chorar”. E vão para Teixeira Pinto, apresenta a sua CCS: “A CCS era composta/ por maqueiros e doutores/ enfermeiros eletricistas/ mecânicos e condutores/ Fui maqueiro da CCS/ com voz e alegria/ para o ano venham todos/ há festa da companhia”.

Guarda saudades de todo este tempo, das bajudas, dos petiscos, do trabalho de enfermaria, foi de bom relacionamento e não gostava de contumélias, manteve uma excelente relação com o médico: “Na enfermaria o doutor/ era bom e como tal/ consultava de manhã/ de tarde no hospital/ Mas a nossa enfermaria/ também tinha enfermeiro/ atenciosos p’ra vós/ estavam lá os maqueiros”. Mostra fotografia de enfermaria e maternidade em Teixeira Pinto, não esconde o seu orgulho: “Era uma enfermaria/ pela tropa procurada/ pois tendo um pouco de tudo/ pouco faltava ou nada”. Ficou-lhe a vontade de voltar à Guiné, não esconde esse desejo: “Se não fossem escaramuças/ daquela gente sem fé/ de certeza que eu já tinha/ visitado a Guiné./ Mas tenho esperanças que um dia/ a Guiné vou visitar/ e até sendo possível/ algum tempo lá ficar”.

Dá um grande relevo à composição da CCS, enumera todos os camaradas um a um e depois dedica a sua atenção às companhias operacionais (CCAÇ 2366/2367 e 2368, regista os louvores, as operações, os locais onde se combateu, é verdade que teve acesso a história do batalhão e diz com orgulho: “De tantos de nós falei/ de nenhum me esqueci/ em tudo que tu já leste/ e que fui eu que escrevi”. É caloroso com África, manifesta pesar com as dificuldades da Guiné: “Gosto de ti ó Guiné/ das aldeias e raças/ dói muito às vezes ouvir/ tudo por quanto tu passas”. Repete insistentemente que a Guiné não lhe sai da memória, tal como o serviço que ali prestou: “Guiné foi castigo/ Guiné foi verdade/ Guiné foi juventude/ Guiné hoje saudade”. Termina o seu livro com agradecimentos, dizendo que foi por pura brincadeira que um dia se lembrou de escrever toda esta história em verso, dedica a sua obra ao sargento António Manuel Mestra, agradece ao coronel Aristides de Araújo Pinheiro o empréstimo da história da unidade, se ali tudo estava registado então havia que pôr em verso, apesar do seu mau jeito, como ele diz, despede-se dizendo que ainda hoje vive no dia a dia aquela Guiné e a sua saudade é incontida.

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A política da luta armada, Libertação nacional nas colónias africanas de Portugal, por Basil Davidson

Em 1976, em pleno rescaldo da descolonização, Basil Davidson, um historiador e publicista com imensos títulos publicados sobre a luta da libertação na Guiné-Bissau, Angola e Moçambique. Basil Davidson, traça um quadro sumário sobre o desenvolvimento dessas lutas e apresenta as caraterísticas inovadoras dessa emancipação. Davidson faleceu em 2010.

A primeira consideração que tece é sobre a motivação da guerrilha vitoriosa: “O motivo essencial da sua capacidade de vencer era exterior ao campo militar. A guerra de guerrilha bem-sucedida é sempre e principalmente guerra política. Os homens e as mulheres que conduziam tais lutas eram sem dúvida eficientes na tática e na estratégia militar. Mas na política eram excelentes. A sua política explica o que, sem ela, permaneceria misterioso (…) A vitória política foi ainda maior do que a vitória militar a que dera também origem. Esta vitória política dos africanos podia tornar-se também uma vitória política dos portugueses”.

A segunda consideração tem a ver com a análise que faz do colonialismo português no contexto do movimento independentista africano, exibe números e vê-se que está bem documentado sobre o quadro cultural dos dirigentes que pugnaram a favor do Portugal imperial citando uma obra “Os nativos na economia africana” em que o seu autor, Marcello Caetano assim se pronunciava, em 1954: “Os pretos em África têm de ser dirigidos e enquadrados por europeus (…) Os negros em África devem ser olhados como elementos produtores enquadrados ou a enquadrar numa economia dirigida por brancos”.

A terceira consideração refere-se à natureza estratégica do lado colonial e do lado independentista, aqui cita abundantemente Amílcar Cabral e as suas insistentes iniciativas junto do governo português para evitar o conflito armado, mostra igualmente os diferentes processos que levaram a divisões, sobretudo em Angola e Moçambique.

A quarta consideração prende-se com a evolução da guerra e o sentido crítico manifestado pelos dirigentes mais lúcidos. Cita Cabral a criticar em 1965 debilidades militares do PAIGC e em concreto a deplorar insuficiente trabalho político e a emergência de “militarismo”, devido ao qual alguns dirigentes se tinham esquecido de que eram militantes armados e não militaristas. Vê-se que Davidson admirava profundamente Cabral e a sua inovação em procurar nas áreas libertadas houvesse participação e processo de aculturação entre o movimento e as massas. Para Cabral, removido o sistema colonial havia que encontrar um desenvolvimento específico que pudesse travar a tentação neocolonial, como ele assim explicava: “A nossa resistência cultural consiste no seguinte: ao mesmo tempo que erradicamos a cultura colonial e os aspetos negativos da nossa cultura, temos de criar uma cultura nova, também baseada nas nossas próprias tradições, mas respeitando tudo quanto o mundo conquistou para o serviço da humanidade”.

Comenta a evolução militar nos últimos anos, vê-se perfeitamente que estava influenciado pelos dados da propaganda dos movimentos de libertação e às vezes diz asneiras de que posteriormente se deve ter arrependido, do género: “Em Março de 1973,o PAIGC começou a abater os bombardeiros de Spínola com mísseis terra-ar. Em Julho, o campo fortificado de Guileje, de importância decisiva, foi arrasado, e a sua guarnição aniquilada num bombardeamento de artilharia e morteiros que durou algumas horas e a que Spínola não pôde replicar”.

Por fim dedica a sua atenção aos acontecimentos posteriores ao 25 de Abril, de novo cede à retórica, neste caso dando opiniões destemperadas sobre os conflitos angolanos e cita Luís Cabral exatamente onde este dirigente falhou rotundamente: “O que queremos é desenvolver os nossos países das aldeias para as cidades e não inversamente”.

Enfim, uma obra datada e conceitos que a História se encarregou de arquivar.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11532: Notas de leitura (478): Homem de Ferro, edição de autor, por Manuel Pires da Silva (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11549: Álbum fotográfico do Zé Teixeira (CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70) (Parte I): Em tempo de guerra, brindando à vida, à paz, ao amor, á amizade




Guiné > Região de Quínara > Buba (?) >  CCAÇ 2381 (Buba e Empada, 1968/70) >  O Zé (Teixeira), o nosso querido  fermero, de marmita na mão, no relativo (des)conforto de um refeitório do mato, em instalações hoteleiras de múltiplas estrelas... Ele não disse nem quando nem onde...



Guiné > Região de Quínara > Buba (?)  >  CCAÇ 2381 (Buba e Empada, 1968/70) > Três tugas (o da direita, é o Zé) partilhando um copo, brindando à vida, à paz, ao amor, à amizade... Não importa onde nem quando...



Guiné > Região de Quínara > Buba > CCAÇ 2381 (Bubza e Emapada, 1968/70) > O Zé, barbido, de óculos escuros,  com três barbudos que só podiam ser fuzileiros navais, dos que atravessavam o Grande Rio de Buba ...



Guiné > Região de Quínara > Buba (?)) > CCAÇ 2381 (Buba e Empada, 1968/70) > Mais outra foto à procura de legenda... Momentos de descontração em grupo ou quiçá posando em grupo, com o Zé a pensar que um dia voltaria à Guiné... Como aconteceu por estes dias, em mais uma viagem de lazer e de trabalho... (Já são quntas, Zé ?)...Tanto quanto sei, o Zé regressa de Bissau, amanhã, com o ortopedista e nosso camarada Francisco Silva, seu companheiro de viagem ... Será que estiveram em Buba e Empada ? 

 Pedi ao Zé para fazer uma pequena reportagem de mais esta viagem de saudade e de solidariedade. Sei que ele ia ao Cantanhez, mas também a Farim e à região do Cacheu, e que no Dia da Mãe deveria estar muito provavelmente a visitar o Centro Materno-Infantil de Elalab, em chão felupe,  que a Tabanca Pequena de Matosinhos ajudou a construir "para apoiar as mães de hoje".

Fotos: © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados.

Guiné 63/74 - P11548: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (8): K3, Madrinha de guerra

1. Mais um poema enviado em 9 de março último pelo Ricardo Almeida [, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, K3 / Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71]


Madrinha de guerra, K3

Epalhas amor a granel,
Minha amiga Isabel, 
Sem nada pedires em troca...
Porque a mim também me toca
Por ser um dos bafejados 
Desse amor tão verdadeiro
Que enaltece teus predicados,
E, por mim, sempre lembrados!

Desse ser tão altaneiro,
E estares em lugar cimeiro
No coração de quem tocas, 
Não de palavras, mas de carinho,
Terás sempre o teu cantinho
Na outra parte de mim!


Como a flor de jasmim
Que cativa pelo seu cheiro,
Minha amiga Isabel, 
Espalhas amor a granel,
Sem nada pedires em troca.
 

Ricardo Almeida

CCAÇ 2548/ BCAÇ 2879
Farim, K3 / Saliquinhedim, 

Cuntima e Jumbembem, 1969/71

[Fixação de texto: L.G.]

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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11394: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (7): Hotel Santa Maria, servindo de Hospital militar, no Caramulo

Guiné 63/74 - P11547: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (44): Respostas (nºs 90/91/92): José Rodrigues Firmino (CCAÇ 2585, Jolmete, 1969/71); Fernando Chapouto (CCAÇ 1426, Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, 1965/67); José Manuel Carvalho (CCS/BCAÇ 4612/74, Cumeré, Mansoa e Brá, 1974)


Resposta nº  90 >  José [Rodrigues] Firmino [, ex-sold atir, CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, 1969/1971}


1 Descobri o blogue já há algum tempo não tendo presente a data.

2 Pesquisando no google, depois através do nosso camarada Sousa de Castro.

3 Sou membro da Tabanca Grande, não tenho presente a data. [14 de setembro de 2007]

4 Gostava visitar mais vezes, outras tarefas por vezes impedem.

5 Sempre que possível envio [material para o blogue].

6 Conheço [a nossa página no facebook] embora não vá la muito.

7 [Vou] mais vezes ao blogue.

8 No blogue [gosto de] tudo o que sejam notícias, aniversários.

9 De um modo geral gosto do que vou vendo no blogue.

10 De minha parte sempre quero vir ao blogue entro sem dificuldade.

11 O blogue para mim representa o podermos dizer algo sobre nossa passagem enquanto militares pela Guiné Bissau, muito importante o contacto entre nós

12 Nunca estive presente [em nenhum encontro], embora nada tenha contra, dou mais valor aos encontros de Batalhão ou Companhia

13 Não, pelo que disse atrás, depois no mesmo mês ou seja dia 1 de Junho do corrente ano temos o do nosso Batalhão 2884 ("Mais Alto").

14 Quero acreditar que sim, abandonar todo um trabalho feito que acredito não ser fácil, seria.

15 Não tenho criticas a fazer, já que entendo todos dão o seu melhor, a nós resta-nos apoiar visitar participar, de minha parte deixar um bem haja ao Luís Graça, Pai deste magnífico blogue e claro a todos seus colaboradores.


Resposta nº 91 > Fernando Chapouto [, ex-fur mil op esp, CCAÇ 1426, Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, 1965/67]


1) Quando é que descobriste o Blogue?
Descobri em Junho de 2005.

(2) Como ou através de quem?

Pelo meu companheiro e grande amigo da minha Companhia Fur Mil Vaqueiro. Também com a ajuda do nosso grande tabanqueiro Marques Lopes.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande?

Sou membro da Tabanca Grande desde 30 de junho de 2005]

(4) Com que regularidade visitas o blogue?

Todos os dias uma ou duas vezes quando estou em Lisboa.

(5) Tens mandado material para o Blogue ?

Afirmativo, enviei várias histórias reais e fotos.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook?

Não, não sou grande admirador, mas respeito.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

Esta resposta está bem patente nas duas perguntas anteriores.

(8) O que gostas mais do Blogue ?

As histórias verdadeiras dos companheiros Ex combatentes pelo sofrimento que passaram na guerra colonial.

(9) O que gostas menos do Blogue ?

Publicidade que em nada dignifica o nosso blogue.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ?

Não.

(11) O que é que o Blogue representou para ti?

Em boa hora tive a notícia do Blogue, pois libertei da minha cabeço o estado psicológico que me afetava, pois os macacos da guerra pairavam todos os dias na minha mente, com as histórias dos tabanqueiros e as minhas desanuviei parte, porque ainda anda por cá algum stresse.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

Já, em Montemor e Pombal.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Não.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

Grande  Comandante, Deus te dê muita saúde para continuares com o Blogue.
porque com o Blogue Luís só há um o Graça e mais nenhum.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Teria algumas notas a escrever mas não o faço para não ser mal interpretado como já o fui no passado. Talvez para quem não tenha o memória curta fui alcunhado como “racista”, porque não souberam interpretar a minha versão, sendo o meu 1º. Cabo a preferir a frase (não são terroristas foi o “preto” que ficou-se a dormir). Tudo isto está escrito nas minhas memórias da Guiné. Fiquei triste pois foi para mim uma provocação, mas já lá vao. Quantos daí para cá proferiram frases piores e não vi ninguém escrever alguma coisa a cerca das suas frases. Fico por aqui para não entrar em polémicas que só me são prejudiciais. Só lamento não hajam mais ex-combatentes a escrever sobre Banjara.



Resposta nº 92 >  José Manuel Carvalho [, ex fur mil trmsl trms,  CCS/BCAÇ 4612/74, Cumeré, Mansoa e Brá, 1974]

De acordo com o solicitado venho fazer a minha "prova de vida" respondendo ao inquérito (*).

(1) Quase desde a sua criação,  em consultas na Net sobre a Guiné.

(2) Num encontro que tive com o Eduardo Magalhães Ribeiro aquando de uma deslocação minha ao Porto no qual falamos dos tempo da Guiné (ambos integrámos a CCS/BCaç. 4612/74).

(3) Fui apresentado como membro da Tabanca Grande em [26 de ] Maio de 2011.

(4) Leio o blogue quase diariamente, de um modo geral quando acedo ao PC o que acontece quase todos os dias.

(5) Lamentavelmente apenas enviei o post de apresentação e pequenos comentários. O tempo de permanência no CTIG foi reduzido...

(6) Não conheço a pagina do facebook por não ser grande fã/utilizador de redes sociais na Net.

(7) Vd. resp 6.

(8) Tudo quanto contribua para o enriquecimento pessoal me interessa. O sentimento de camaradagem que se verifica é excelente e de enaltecer o sentido de humor de muitos dos autores dos trabalhos apresentados.

(9) Nada a registar.

(10) Não tenho tido dificuldades no acesso ao blogue.

(11) Representa o local de encontro de camaradas que,
de um modo geral, viveram um período da sua vida em situação muito difcil.

(12) Nunca participei em encontros anteriores.

(13) Este ano estou a pensar em ir.

(14) Tem condições para continuar claro, que não falte "a força" aos editores e demais colaboradores.

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11543: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (43): Respostas (nº 87/88/89): Armando Pires (CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70); Alberto Antunes (CCAÇ 2402, Olossato, e CCAÇ 5, Canjadude,1970/72); Ricardo Almeida (CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, K3/Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71)


(...) Questionário ao leitor do blogue:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

(2) Como ou através de quem (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) ?

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

(4) Com que regularidade visitas o blogue (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) ?

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Guiné 63/74 - P11546: Parabéns a você (574): Henrique Matos, ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1966/68)

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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11528: Parabéns a você (573): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2317 (Guiné, 1968/69)

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11545: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (13): Estórias cabralianas nº 7: Alfero põe catota nova... (Jorge Cabral)


[Foto à esquerda: Lisboa, Sociedade de Geografia, 2008 > O Jorge Cabral. Foto: © Henrique Matos (2008). Todos os direitos reservados.]


1. O "alfero Cabral" foi um dos grandes artistas que animou a nossa "tertúlia" nos idos tempos da I Série do blogue (que vai de 23/4/2004 a 1/6/2006)... Simplesmente genial este camarada da tropa que,  se não existisse, teria que ser inventado...  Ele trouxe, na época, à nossa caserna virtual  o outro lado do espírito do blogue, que podemos descrever como sendo  o  lado mais solar, alegre, romântico, maroto, brejeiro, provocador, irreverente, desconcertante, descomplexado, histriónico, humorístico, burlesco, saudavelmente louco... dos camaradas da Guiné.

O "alfero Cabral" foi uma criação do Jorge Cabral, uma espécie de "alter ego" do Jorge Cabral, ex-alf mil art, comandante do Pel Caç Nat 63, que esteve destacado, há muitas luas, nos idos tempos de 1969/71, em Fá Mandinga e depois em Missirá, na zona leste, no setor L1 (Bambadinca)... Na portuguesíssima província da Guiné, longe do Vietname... Hoje, República da Guiné-Bissau, pátria de outro Cabral, que não tinha, nem de longe, o sentido de humor, a ironia fina, e o talento para contar histórias, do seu homónimo lisboeta... Aliás, discutia-se, no meu tempo, quem era "o Cabral mais Cabral da Guiné"... Seu contemporâneo e vizinho na região, eu nunca tive dúvidas de que "Cabral só há [, havia,] um, o de Missirá e mais nenhum"... Mesmo que dele se dissesse coisas manifestamente exageradas como "consertador de catotas, engatatão de bajudas, anfitrião da putaria, oferente de soutiãs, e pai de todos os mininos da tabanca"...

O melhor elogio que se pode fazer deste brioso "alfero Cabral",  é dizer que ele, no TO da Guiné, foi  "pau para toda a obra": para além de oficial miliciano e comandante de um pelotão de caçadores nativos, era homem grande, pai, patrão, chefe de tabanca, conselheiro, poeta, contador de histórias, antropólogo, cherno, mauro, enfermeiro, médico, sexólogo, confidente de bajudas, advogado e não sei que mais, um verdadeiro Lawrence das Arábias da  Guiné... Mais: não tinha inimigos, nem nas fileiras do PAIGC!... E a prova disso é que, no seu tempo, nem Fá nem Missirá foram atacadas ou flageladas.

Pois bem, foi este homem quem começou a escrever, na I Série do blogue, as famosas "estórias cabralianas" que já vão no nº 76... Pensando nos seus fãs, mais antigos ou mais recentes, e em tempo de comemorações do nosso 9º aniversário (*),  reproduzimos aqui a nº 7 dessas "estórias cabralianas", que tem a ver com um delicioso anúncio que apareceu um dia,  cravado no poilão da Tabanca de Fá Mandinga: " Alfero poi catota noba, dam trez bintim"...

Se não foi o melhor negócio da vida dele, "alfero Cabral",  foi seguramente a melhor "boa ação" psicossocial levada a cabo no tempo do Spínola, e que muito terá contribuído para uma Guiné Melhor... Pelo menos, em Fá (Mandinga), sempre que lá fui,  nunca vi  bajudas com ar infeliz... (LG).


2. Estórias cabralianas > Alfero Cabral põe "catota nova" (**)...

por Jorge Cabral


Finda a comissão, calculem (!), fui louvado. O despacho do Exmo. Comandante do CAOP Dois [, com sede em Bafatá,]  referia, entre outros elogios, a minha “habilidade para lidar com a tropa africana e populações”, a qual me havia “granjeado grande prestígio”.

Esquecido, porém, foi o essencial – evitei a dezenas de bajudas o repúdio matrimonial e a consequente devolução do preço. Essa tão meritória actividade, sim, teria merecido, não um simples louvor, mas uma medalha…

Entre Fulas, Mandingas e Beafadas, as mulheres eram compradas, alcançando-se verbas elevadas. Cheguei a arbitrar casamentos, cujo dote atingiu os trinta contos!  Claro que era exigida a virgindade, que às vezes havia desaparecido… Era então que o Alfero odjo grosso era procurado para remediar o que parecia irremediável.

Quanto ao teste pré-matrimonial, a cargo das mulheres grandes, que utilizavam um ovo (!), a questão resolvia-se, com alguns pesos.

O mais difícil era a prova do sangue no lençol, que devia ser exibido no dia seguinte à cerimónia. Equacionado o problema, adoptei uma solução que sabia já ter sido usada entre outras gentes com sucesso. Comprei em Bafatá pequenas esponjas, as quais embebidas em sangue de galinha, e metidas no local apropriado deram um resultadão.

Não houve mais Bajuda que não casasse em total e absoluta virgindade e confesso que me dava um certo gozo assistir às manifestações de júbilo dos viris maridos, no dia seguinte aos casamentos, no meio da algazarra da Tabanca.

Espalhada a minha fama, acorreram noivas de todo o lado. Ponderei mesmo montar um gabinete especializado, tendo chegado a escrever um folheto publicitário a informar que Alfero poi catota noba, dam trezbintim.

Texto: © Jorge Cabral (2006). Todos os direitos reservados

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Notas do editor


(*) Último poste da série > 7 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11539: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (12): Fima Siga, a enfermeira do Morés (Virgínio Briote, ex-alf mil comando, Brá, 1965/67)

Guiné 63/74 - P11544: Agenda cultural (268): Exposição, Lisboa, Museu da Eletricidade, de 3 a 26 de maio de 2013, entrada gratuita: World Press Photo 2013


Imagem 1 >  Paul Hansen, Sweden, Dagens Nyheter | Imagem 2  > Daniel Rodrigues, Portugal, Youth Playing Football, Dulombi, Guinea-Bissau

Texto e imagens: reproduzidos com a devida vénia da página da Fundação EDP 


Fundação EDP > Museu da Eletricidade > Lisboa > De 3 a 26 de maio de 2013 > Exposição >  WORLD PRESS PHOTO 2013


 A Edição de 2013 da World Press Photo 2013 volta uma vez mais a Lisboa. As fotos vencedoras podem ser admiradas no Museu da Eletricidade, de 3 a 26 de Maio.

As fotografias vencedoras do World Press Photo 2013 vão estar em exposição no Museu da Eletricidade de 3 a 26 de Maio.

Nesta exposição vai ser possível ver fotos como a do sueco Paul Hasen que mostra grupo de homens a transportar os cadáveres de duas crianças mortas num ataque aéreo israelita em Gaza e que foi eleita pelo júri internacional como a Foto do Ano.

Ao todo, o júri do World Press Photo atribuiu prémios em nove categorias temáticas a 54 fotógrafos de 33 nacionalidades diferentes. 

O português Daniel Rodrigues foi distinguido na categoria "Vida Quotidiana" como uma imagem a preto e branco onde se pode ver um grupo de crianças a jogar futebol num campo, em Dulombi, na Guiné-Bissau.

A exposição da edição de 2013 da World Press Photo poderá ser visitado no Museu da Electricidade todos os dias, de terça a quinta-feira, entre as 10h00 e as 18h00, sexta, sábado e domingo das 10h00 às 24h00.

A entrada é gratuita.
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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11518: Agenda Cultural (267): Divulgação | sessão de lançamento da obra "Tao Te Ching / Livro da Via e da Virtude", um clássico da literatura chinesa, em edição bilingue, com tradução do António Graça de Abreu: Auditório da Delegação Económica e Comercial de Macau em Portugal, Lisboa, 7 de maio, 18h00

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11543: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (43): Respostas (nº 87/88/89): Armando Pires (CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70); Alberto Antunes (CCAÇ 2402, Olossato, e CCAÇ 5, Canjadude,1970/72); Ricardo Almeida (CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, K3/Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71)

Resposta nº 87 > Armando Pires [, ex-fur mil enf,  CCS/BCAÇ 2861,Bula e Bissorã, 1969/70, ]

(1) Encontrei-te, Blogue Amigo, estávamos em meados de 2009.

(2) Eu e o meu camarada jornalista Joaquim Furtado, falávamos sobre a sua série “A Guerra”, em fase de finalização, quando lhe perguntei como tinha ele localizado um determinado personagem que ali era entrevistado. Esclareceu-me que tinha sido através “do blogue do Luís Graça”. Fui ver do que se tratava e fiquei arrebatado pelo fantástico acervo histórico que sobre a guerra na Guiné ali se reunia.

(3) Após algum tempo de “namoro”, apresentei-me às tropas no dia 4 de Agosto de 2009, apresentação que ficou consagrada no P4778.

(4) Desde então, ver, ler, consultar o Blogue, é uma tarefa diária. Para mim, as manhãs começam com as notícias da rádio, depois os jornais, seguem-se os “e-mail’s”, e aí vou eu ao blogue. Posso não ler de imediato, mas selecciono o que fica para mais tarde.

(5) Tenho escrito para o Blogue na medida do possível, sempre que é possível. Claro que gostava de ser mais participativo. Claro que o Blogue merece que o seja. Mas faço os impossíveis para tornar cada vez mais possível a minha participação.

(6/7/8) Conheço a página no Facebook mas só muito raramente por lá passo. É no Blogue que concentro a minha atenção.


(9) Desculpa que não possa fazer uma apreciação tipo gostar mais “disto ou daquilo”. O Blogue e o Facebook são duas realidades diferentes, com objectivos diferentes, e que, na minha opinião, não exercem interacção.

(10) Não tenho notado qualquer dificuldade em aceder ao Blogue. Por vezes um pouco lento a abrir mas é preciso ter em conta a enorme quantidade de informação a carregar.

(11) Para mim, o Blogue é um ajuste de contas com a memória. Um ombro amigo pronto para nos ouvir, para nos atender, para nos entendermos. E desentendermo-nos, também. E tantas têm sido as vezes, de umas e de outras. Mas sempre com uma enorme disponibilidade para nos unir, porque é essa união a que nem sabemos dar o justo nome, que nos tem mantido juntos, pela vida fora, tenha sido qual fosse o tempo e o lugar que cada um nós palmilhou. E depois, está cumprida uma das principais tarefas a que o Blogue se dispôs. Não deixar que a história seja contada sem ser pelos seus protagonistas. Tem-no feito em versões contraditórias? Antagónicas, até? Seja. É na diversidade que se encontra a justa medida das coisas.

Finalmente. Quero agradecer ao Blogue cada reencontro que me proporcionou, sobretudo, ter permitido que me reencontrasse com um passado de que me honro e orgulho.

(12/13) Infelizmente, por razões várias, a mais das vezes profissionais, não me foi possível, ainda, estar presente no Encontro Nacional, e, lamentavelmente, não sei se conseguirei fazê-lo este ano.

(14) Não é o Blogue que tem fôlego para continuar. É ele que nos dá força anímica e garra para prosseguirmos.

(15) Nem criticas, nem sugestões, nem comentários. Tudo tem seu tempo. Este é o tempo de te dizer, Blogue Amigo, simplesmente OBRIGADO!

Resposta nº 88> Alberto [José dos Santos] Antunes (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 2402 (Olossato) e CCAÇ 5 (Canjadude), 1970/72

(1) Descobri o blogue em 2011.

(2) Através de um camarada (Jose Corceiro).

(3) Sou membro da Tabanca Grande, desde 2012. [... 5 de outubro de 2010]

(4) De temos a tempos.

(5) Já enviei material para publicação.

(6) Não conhecia a existência da página do facebook.

(7/8/9)[Vou] mais vezes ao facebook

(10) Não.

(11) Representa o modo de recordar momentos passados na Guiné.

(12) Não, [nunca fui.]

(13) Não estou a pensar ir ao encontro.

(14) Penso que ainda tem pernas para andar.

(15) Considero o blogue muito bem elaborado, tenho pena que não haja mais camaradas motivados a colaborar, pois sei que há muito mais para contar desses tempos passados

Resposta nº 89 >  Ricardo Almeida  [, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, Saliquinhedim,Cuntima e Jumbembem, 1969/71]

(1/3) Não recordo a data mas pelo menos p'rá aí a uns quatro cinco anos.

(3) Diariamente.

(5) Tenho mandado muito trabalho.

(6) Também conheço e visito diariamente; sou um leitor interessado

(7) Vou mais vezes ao nosso blog

(8/9) A divulgação do nosso infortúnio quando criança adulta em guerra; tocam-me muito fundo as histórias e relatos e comentários, para que as gerações vindouras se apercebam o que foi e o que fez a nossa geração. Mediante desconhecimento do nosso blog por uma grande parte da população portuguesa,  ou até por algum comodismo o facbook é mais acessivel . Cabe-nos esclarecer,  através desta função enquanto rede social, que todo o povo português não pode esquecer aquele flagelo.

(10) Sim, realmente tem havido um pouco de lentidão mas temos que compreender que os editores também têm dificuldades e rapidamente de satisfazer todas as vontades e opiniões.  Resta-me pois congratular por haver tão grande dignidade e ombridade dos nossos editores que sem outro beneficio põem ao nosso dispor tão grandiosa obra. . Abraço-vos,  meus queridos amigos.

(11) O blogue  representa,  não só para mim mas também para todos quantos dele fazem parte,  a nossa segunda família porque é com todos os camaradas que sofreram juntos as agruras daquele flagelo,  e só de tu lá e tu cá sabemos do que falamos.

(12/13) Não,  nunca participei mas hei-de no próximo,  não já este ano,  mas em outros que irão acontecer,  lá estarei.

(14) Eu penso que sim; mas tudo depende da vontade e do crer dos editores que até agora têm desenvolvido sem mácula este trabalho digno,  que é nem mais nem menos por-nos de novo a falar esta linguagem que é só nossa.

(15) Não se me oferece tecer críticas ao blogue pois compreendo que os camaradas não só não têm qualquer recompensa remunatória, resta-nos a sua paciência a sua ombridade e o seu crer para que todos sejam testemunho ainda vivo para levantarem tão grandiosa obra. O meu muiito  bem  haja e não esmoreçam! Fica o meu abraço de tão alto reconhecimento.
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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11536: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (42): Respostas (nº 84/85/86): Mário Serra de Oliveira (ex-1º cabo escrit, BA 12, Bissalanca, 1967/68), Luís Borrega (ex-fur mil cav, CCAV 2749, Piche, 1970/72), Adriano Moreira (ex-fur mil enf, CART 2412, Bigene, Guidaje e Barro, 1968/70)


(...) Questionário ao leitor do blogue:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

(2) Como ou através de quem (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) ?

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

(4) Com que regularidade visitas o blogue  (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) ?

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Guiné 63/74 - P11542: In Memoriam (149): Maio de 1973 - Guidaje - Campo da morte para os: 1.º Cabo Mil Bernardo Moreira Castro Neves e Soldado António Júlio Carvalho Redondo do BCAÇ 4512; Fur Mil Arnaldo Marques Bento e Soldado Lassana Calissa da CCAÇ 14 (Manuel Marinho)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Marinho (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), com data de 2 de Maio de 2013:

Caro amigo Carlos,

Ao vasculhar os meus papéis encontrei uns escritos que foram enviados a um concurso que o DN lançou em 1997, intitulado: “UMA GUERRA CEM PALAVRAS”.

Destinava-se a todos os ex-combatentes (ou não), que quisessem participar, com textos vividos ou ficcionados.

O regulamento entre outras coisas, impunha que os textos enviados não poderiam exceder as CEM PALAVRAS. Está exactamente como o enviei, se vires interesse em publicar, avança.

Eu na altura procurei que eles tivessem a ver com a realidade vivida por mim na Guiné, mandei três textos, claro que não tive prémio, apenas desabafei, e em cem palavras lembrei um momento complicado da minha vida, ao homenagear um camarada morto ao meu lado, depois só escrevi sobre a guerra quando deparei com o nosso blogue.
 
Mas este texto na altura tinha, e tem, destinatário, e porque se aproxima a data de 8 e 9 de Maio, resolvi enviar à tua consideração, pretendendo homenagear o meu camarada 1.º Cabo Miliciano Bernardo Moreira Castro Neves da 1.ª C.ª / BCAÇ 4512 que foi um dos primeiros a tombar por Guidaje, com apenas dois meses de comissão, estava a integrar-se muito bem no nosso 1.º GComb.

Faz agora 40 anos que esta emboscada aconteceu, aproveito também para homenagear os outros nossos três camaradas que tombaram nesse dia:

Soldado António Júlio Carvalho Redondo - 3.ª C.ª / BCAÇ 4512 
Fur Mil Arnaldo Marques Bento - CCAÇ 14 
Soldado Lassana Calissa - CCAÇ 14 


Esta foto foi cedida pelo camarada da minha CCaç, Carlos Cotrim, que está na foto, e foi tirada no bar de Nema. O camarada Bernardo Neves é o primeiro a contar da esquerda.


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Texto enviado a concurso 

 A MEDALHA

Avançam de noite tensos e apreensivos, missão – levar mantimentos e armamento ao aquartelamento sitiado. Não conseguirão…

Mobilizado por castigo disciplinar, o Furriel fora integrado recentemente no Grupo de Combate. Tem um pressentimento lúgubre. 
Diz:
- Não sairemos vivos desta. Não voltarei a ver os meus. 

Contempla a medalha estimativa que traz ao peito, aperta-a com força. 
Caem na emboscada nocturna, e breve. A noite é a mais longa da vida. 

Surge a manhã, recomeçam os ataques, o Furriel é atingido com gravidade. Os seus gritos dilaceram os ouvidos. Volta a ser atingido e morre. 

Passado algum tempo, já em terreno minado, são levantados os corpos. 
O Furriel foi reconhecido pela MEDALHA.

Setembro de 1997

Um grande abraço
Manuel Marinho
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Notas do editor

Vd. comentário de Manuel Marinho no poste de 29 DE MAIO DE 2012 > Guiné 63/74 - P9961: Efemérides (96): Guidaje foi há 39 anos: a coluna que rompeu o cerco, em 10 de maio de 1973 (Amílcar Mendes, ex-1º Cabo Cmd, 38ª CCmds, 1972/74)

Último poste da série de 8 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11540: In Memoriam (148): Cândido Perna Tavares, o "República" (1943-2013), CART 730, Bissorã, e Grupo Vampiros, dos Comandos do CTIG, Brá, 1964/66 (João Parreira)

Guiné 63/74 - P11541: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (7): Estamos a um mês do nosso Convívio e ainda não chegamos à centena de inscrições (Joaquim Mexia Alves / Carlos Vinhal)

VIII ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE

DIA 8 DE JUNHO DE 2013

PALACE HOTEL DE MONTE REAL 



Caros camaradas, amigos tertulianos e leitores do nosso Blogue

O tempo voa e sem darmos conta estamos exactamente a um mês do nosso Convívio anual, o VIII, que se vai realizar a 8 de Junho próximo.

É já um acontecimento ansiosamente esperado pelos camaradas que habitualmente se deslocam a Monte Real, idos de norte a sul de Portugal, para reverem os amigos que conheceram através desta tertúlia. 
E as nossas sempre jovens bajudas? 
É vê-las conversar tão animadamente. Existem já uma amizade tão profunda entre elas que a falta de uma ou de outra é notada com tristeza.

E nós os "velhotes", descabelados (alguns) e de barba(s) branca(s) (todos), não nos emocionamos em cada encontro? 
Temos infelizmente já algumas ausências físicas pelo pior motivo, mas a certeza é que estão na mesma connosco, só que de outro modo, noutra dimensão. Onde quer que estejam, sabem que neste dia não são esquecidos.

Vamos aproveitar enquanto "cá estamos", para nos convívios das nossas Unidades ou no Encontro anual do nosso Blogue, dizer: "presente", ou "pronto", como nos velhos tempos.

Vem a propósito deixar aqui a notícia de que este ano vamos ter uma cerimónia religiosa, ideia do nosso camarada Joaquim Mexia Alves. Assim, pelas 11H45 vai ser celebrada uma Missa, na Capela das Termas de Monte Real, sufragando a alma dos nossos camaradas caídos em campanha e dos que entretanto faleceram após o regresso da guerra. Não serão esquecidos também os nossos tertulianos "civis" que já nos deixaram.
Independentemente das convicções religiosas de cada um, achamos que a nossa presença neste acto é uma forma de homenagem e respeito pelas suas memórias.

Finalmente, e para que conste, deixa-se aqui a listagem actualizada dos inscritos até hoje, pedindo a quem não encontra o seu nome, o favor de nos alertar para que se corrija.

INSCRITOS NO VIII ENCONTRO DA TABANCA GRANDE - MONTE REAL - 8 DE JUNHO DE 2013 (N=80)

  • Alcídio Marinho e Rosa - Porto
  • Alvaro Vasconcelos e Lourdes - Baião
  • António Augusto Proença, Beatriz e Sofia - Covilhã
  • António Estácio - Lisboa
  • António Fernando Marques e Gina - Cascais
  • António José Pereira da Costa e Isabel - Mem Martins / Sintra
  • António Manuel Sucena Rodrigues e Rosa Maria - Oliveira do Bairro
  • António Maria Silva - Sintra
  • António Martins de Matos - Lisboa
  • António Sampaio e Clara - Leça da Palmeira / Matosinhos
  • António Santos, Graciela, filhos e netos - Caneças / Odivelas
  • Augusto Pacheco - Maia
  • C. Martins - Penamacor
  • Carlos Pinheiro e Maria Manuela - Torres Novas
  • Carlos Pinto e Maria Rosa - Reboleira / Amadora
  • Carlos Vinhal e Dina Vinhal - Leça da Palmeira / Matosinhos
  • David Guimarães e Lígia - Espinho
  • Delfim Rodrigues - Coimbra
  • Eduardo Campos - Maia
  • Fernandino Leite - Maia
  • Hugo Eugénio Reis Borges - Lisboa
  • Joao Alves Martins e Graça Maria - Lisboa
  • Joao Marcelino - Lourinhã
  • Joao Ramiro Saldanha Caldeira Firmino - Lisboa
  • Joaquim Carlos Peixoto e Margarida - Penafiel
  • Joaquim Mexia Alves - Monte Real / Leiria
  • Joaquim Sabido e Albertina - Évora
  • Jorge Araújo e Maria João - Almada
  • Jorge Canhão e Maria de Lurdes - Oeiras
  • Jorge Loureiro Pinto - Sintra
  • Jorge Picado - Ílhavo
  • Jorge Rosales - Monte Estoril / Cascais
  • José Augusto Ribeiro - Condeixa
  • José Barros Rocha - Penafiel
  • José Casimiro Carvalho - Maia
  • José Fernando Almeida e Suzel - Óbidos
  • José Manuel Cancela e Carminda - Penafiel
  • José Manuel Lopes e Luísa - Régua
  • José Ramos Romão e Emília - Alcobaça
  • Luís Graça e Alice - Alfragide / Amadora
  • Luís R. Moreira - Cacém / Sintra
  • Manuel Gonçalves e Maria de Fátima - Carcavelos
  • Manuel Joaquim, Deonilde e José Manuel Cunté - Agualva Cacém / Sintra
  • Miguel e Giselda Pessoa - Lisboa
  • Raul Albino e Rolina - Vila Nogueira de Azeitão / Setúbal
  • Ricardo Sousa e Georgina Cruz - Lisboa
  • Rui Trindade Doutel Guerra Ribeiro - Lisboa

Como se pode constatar, somos já 80, como faltam ainda as inscrições relativas a algumas das habituais presenças, é muito provável atingirmos a centena e ultrapassar esta marca com alguma facilidade.

Camarada e/ou amigo leitor, mesmo não estando registado na nossa tertúlia, sendo ex-combatente da Guiné, ou estando de algum modo ligado à Guiné-Bissau, inscreve-te no nosso Encontro e aparece porque serás bem recebido.

Todo e qualquer esclarecimento pode ser obtido através deste link: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2013/03/guine-6374-p11270-viii-encontro.html ou nos endereços electrónicos dos editores, constantes do lado esquerdo da nossa página.

Porque a inscrição atempada facilita a nossa tarefa, pedimos que não se deixem para muito próximo da data do Convívio para a formalizar.

Um abraço e
Até breve.
Luís Graça
Joaquim Mexia Alves
Miguel Pessoa
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 4 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11342: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (6): Informação à Tertúlia (Joaquim Mexia Alves / Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P11540: In Memoriam (148): Cândido Perna Tavares, o "República" (1943-2013), CART 730, Bissorã, e Grupo Vampiros, dos Comandos do CTIG, Brá, 1964/66 (João Parreira)

1. Mensagem, de 6 do corrente, do João Parreira [, foto atual à direita] 


Caros Camaradas e Amigos Editor, e co-editores, Luís Graça, Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro,


Durante o almoço anual do Batalhão de Artilharia 733, Guiné 1964/66, que se realizou ontem em Santiago do Cacém,  ao procurar por um camarada e amigo que pertenceu à minha secção,  na CArt 730 , e que optou por sair da Companhia para frequentar o 2º. curso de Comandos, findo o qual foi integrado no Grupo "Vampiros", foi com tristeza que tomei conhecimento do seu falecimento.

Amigos/as e camaradas que da lei da morte se foram libertando,,,

E assim, o nosso camarada Cândido Perna Tavares, nascido em 1943, mais conhecido pelo "República",  faleceu durante o sono no passado dia 3 de Janeiro. [, Foto à direita]

Um abraço 
do João Parreira

[ex-Fur Mil Op Esp, CART 730 / BART 733, Bissorã / Comando, Grupo de Comandos “Fantasmas”, Brá,  1964/66]
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 3 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11337: In Memoriam (147): Luís Fernandes Gonçalves Moreira (1948-2013), natural de Viana do Castelo, ex-fur mil trms, CCAÇ 2789 / BCAÇ 2928 (Bula, 1970/72)

terça-feira, 7 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11539: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (12): Fima Siga, a enfermeira do Morés (Virgínio Briote, ex-alf mil comando, Brá, 1965/67)



Carta do comandante Pedro Ramos, irmão de Domingos Ramos,  para sua mulher [Fima] Siga, enfermeira do PAIGC no Morés. Documento do arquivo pessoal de Virgínio Briote. Compare-se a letra com outra, datada de 23/10/1961, dirigida a Luís Cabral, e que faz parte do Arquivo de Amílcar Cabral.

Fonte: © Virgínio Briote / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2005). Todos os direitos reservados


Guiné > Bissau > Bissalanca > BA 12 > c. 1965/66 >  O alferes miliciano comando Briote (à esquerda), na base aérea de Bissalanca, em Bissau, juntamente com o Furriel Azevedo (ao centro) e o Sargento Valente (à direita).

Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados


1. Algumas das melhores histórias publicadas
na I Série do nosso blogue têm a assinatura do Virgínio Briote (VB), ex-alferes miliciano, comando (Brá, 1965/67)... Porque muitos dos membros da Tabanca Grande chegaram mais tarde, em anos posteriores à sua colaboração mais intensa no nosso blogue (como autor e coeditor), vamos reproduzir aqui mais dois postes do VB, que relatam a guerra, "vista do outro lado". (*) Na altura, em outubro de 2005, ele mandou-me este texto com a lacónica imformação:  Das minhas memórias, uma história passada no Óio". (**).

O VB nasceu  em Cascais, foi alf mil em Cuntima, CCAV 489 / BCAV 490 (Jan-Mai1965);  fez o 2º curso de Comandos do CTIG; domandou o Grupo Diabólicos (Set 1965 / Set 1966); regressou em Jan 1967; é casado com a Maria Irene.


Ana, enfermeira do Partido
por Virgínio Briote

As cordas apertadas demais, os pulsos a inchar, amarrados atrás das costas. Tinha acabado de ser apanhado pelos tugas, ainda nem sabia como, e logo a ele é que deveria acontecer. Como comandante do PAIGC, sempre fora muito rigoroso com os 10 homens que agora estavam sob o seu comando, sempre exigira que se deslocassem separados uns dos outros, que parassem de vez em quando, escutassem a mata, os olhos a varrerem devagar, da esquerda à direita, e só depois avançar outra vez. E, afinal, fora apanhado desprevenido, sem arma, sem nada!...

Viera a semana passada dos lados de Sano, no Senegal. Muito cansado. Estivera com os camaradas do sector, os dias pelas noites fora, analisaram o trabalho do mês, cada um apresentou o seu trabalho, as emboscadas que fizeram, as minas que plantaram, os ataques aos quartéis da tropa. Fizeram um balanço da situação, leram as directivas do camarada secretário-geral, as orientações gerais para a luta, a referência expressa à luta dos povos da Guiné e Cabo Verde, para a independência nacional, para a libertação, nunca contra o povo português, juntos na mesma luta contra o colonialismo e o imperialismo, depois as orientações locais, o plano para o mês, não descansar a tropa, escrever papel para deixar junto aos quartéis deles, para desmoralizar, e a ordem para mudar, outra vez, o acampamento de Uália [, a nordeste de Mansabá].


Cartão de identificação militar do Alf Bil Comando Briote > Brá, 1965 > A assinatura parece ser a do comandante da compamnhia de comandos, o capitão de artilharia Nuno J [osé Varela] Rubim, membro da nossa Tabanca Grande de longa data.

Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados





Enquanto regressava com os camaradas, ia pensando nos locais, escolhera o melhor, bem dentro da mata, umas centenas de metros a seguir à bolanha, um barraco junto a esta para vigiar a entrada. Sacos de arroz, mancarra, tudo às costas, bicicletas, cunhetes de munições, armas, tanta coisa, casas às costas, tão pouca gente, precisaram mais que uma vez.

Tinha estado a cavar um abrigo, precisava de se lavar. Fora à bolanha para tomar banho e trazer água. Viu-se cercado por dois soldados de arma apontada, sem saber como, os tugas emboscados mesmo à porta das casas de mato, os garrafões na mão dele, que a tropa tinha deixado em Morés da última vez.

Tropa diferente esta, não era a que estava habituado a ver passar. Sem emblemas, sem anéis, sem fios que os outros tugas trazem sempre, ronco nenhum, só lenços camuflados ao pescoço, sem capacetes até, aquele tem barrete diferente, caras pintadas de preto, nunca vira tropa assim.

Pára-quedistas, se calhar! Não, não deviam ser, esses são todos altos, têm camuflado muito verde, a bota que usam é de couro, conhecera-os bem quando assentara praça no colonialismo em Bissau. A farda destes é castanha como a dos outros, uns muito altos, outros pequeninos, todos desiguais, não, estes são outros. Estranhos, quase não falam entre eles, o cano das armas deles também têm olhos, vêem por ele, para a esquerda, para a frente, para a direita, aquele está sempre a olhar para as árvores, tudo muito devagar, assim é bem difícil, camaradas, apanhá-los.

Abriram-me a boca à força, eu não sabia para quê, um lenço preto nos dentes, atado na nuca, outra vez que me levantasse, sem palavras nem maneiras, corda nos pés, uma à cintura presa ao soldado Papel. Via-os à frente, no trilho para Uália, nosso pessoal descuidado a esta hora da manhã, sem aviso, vai ser uma desgraça, tanto trabalho para nada. Todos não estão, felizmente, mandara 8 para Mansabá, uns para montar mina e os outros para segurança.

Aquelas bajudas com os cestos à cabeça vão ser apanhadas, gritai, gritai com toda a força que puderdes, mais alto, mulheres do PAIGC, glória da nossa luta, assim, para camarada ouvir! Os tugas todos a correr, o traidor Papel amarrado a mim, não deixa andar, se eu pudesse! Aquelas crianças ali também!

A enfermeira de Morés? A mulher do Paulo Ramos com a criança às costas?! Porque não fugiu? Não pode ser! Não, não lhe façam nada, ela trata do nosso pessoal da luta, faz curativos só, os tugas não me ouvem, lenço não deixa.

... Não sei, não tenho nada para dizer, meu nome é Ana, sou enfermeira, não sei nada da guerra, trato de feridos só, não pode mexer nesse papel, é carta de meu marido, ouviu? Não pode tirar bilhete de meu marido, não pode! Tenho filhinha às costas, não vê? É hora de ela mamar, largue-me!

O alferes miliciano comando Briote (à esquerda), na base aérea de Bissalanca, em Bissau, juntamente com o Furriel Azevedo (ao centro) e o Sargento Valente (à diereita). Foto de 1965 ou 1966.


2. Transcrição da carta de Pedro Ramos, comandante do PAIGC, 
irmão do Domingos Ramos, dirigida a Siga (, a Ana, enfermeira do Morés, na história do Virgínio Briote). Não tem indicação de data, mas deve ser de Maio de 1966, a avaliar pelo seu conteúdo.


"Quirida (sic) Siga:

"Junto a este bilhete desejo-te uma optima saude e a Odete. Eu por cá saudades sua[s].

"No que se trata [a]o meu regresso até agora não poço esplicar ninguém [não posso explicar a ninguém] se vou regressar em breve, porque o camarada Osvaldo [Vieira]  não disse nada na [sobre a] minha vinda, mas parecia-me que regressava logo que acabar.

"Recebi os medicamentos e a pasta. Não te enviei arroz agora porque estamos ali com faltas de camaradas devido aqueles que mandamos para Morés no dia 20/4/66 para levarem os postos de Radio.

"Espero vires passar aqui uns dias conforme carta de Nha Maria, isto é se não te dá sarilho mais tarde no teu serviço. A respeito ainda da vinda do teu pai que me encontra ausente, só te digo uma coisa. Sinto muito pena a [de] não podermos conhecer-se e falarmos principalmente a teu respeito. Cumprimentos a todos, Pedro Ramos".



3. Comentário de L.G. :

 Bom, sei hoje (mas não o sabia em 2005..:) que o Pedro Ramos fazia parte do primeiro (e histórico) contingente  de militantes do PAIGC enviados por Amílcar Cabral para a China, a fim de aí  receber treino político-militar. Regressaram à Guiné ainda em 1961.

Ao grupo pertencia, a par do Pedro Ramos, o seu irmão Domingos Ramos, o Osvaldo Vieira, o Rui Djassi, o Constantino Teixeira, o Hilário Gomes (Lolo), o Francisco Mendes (Xico Té),  o Nino Vieira e  ainda os irmãos Manuel Saturnino Costa e Vitorino Costa. Nenhum destes históricos comandantes  é já vivo. E alguns morreram cedo (por exemplo, o Vitorino Costa, em 1962; o Domingos Ramis, em 1966).  Ao que sei, o Pedro Ramos foi preso, condenado à morte e fuzilado, em 1986, na sequência do alegado golpe de Estado do Paulo Correia (em 1985) contra Nino Vieira.

Esta [Fima] Siga  era efectivamenhte uma enfermeira do PAIGC, da base do Morès, pela referência que é feita na carta à remessa de mediciamentps.   E tudo indica que fosse a companheira, na época, do Pedro Ramos.

4. Esclarecimento do V.B.:

Mais um dado ou pista fornecido pelo meu velho camarada de armas que viveu a adolescência em Bissau [, presume-se que seja o nosso camarada, comando, Mário Dias]:

"Caro Briote: Acabo de ler as suas intervenções no blogueforanada que achei excelentes. Ainda bem que, lentamente, se vai fazendo luz sobre o que verdadeiramente se passou por terras de África durante a chamada Guerra Colonial. Continue.

"Veio-me à memória, toldada por uma compreensível neblina (já lá vão mais de 40 anos), que o Pedro Ramos foi funcionário do porto de Bissau ou da Alfândega. Não sei se teria ou não fugido para o mato, para o PAIGC,  mas pelo relato da carta parece que sim" (...).






Guiné > Bissau > 1959 > Os 1ºs Cabos Milicianos Mário Dias (português, nascido na Metrópole, o primeiro, de pé, do lado direito, assinalado com um círculo a verde) e Domingos Ramos (natural da Guiné, o primeiro da frente, do lado esquerdo, assinalado a vermelho). 

O Domingos Ramos era filho de um quadro local da administração colonial portuguesa, com o estatuto de assimilado.E era irmão do Pedro Ramos.

O Domingos e o Mário (que foi para a Guiné no início dos anos 50, tendo assistido à modernização e crescimento de Bissau, capital da Província desde 1943) fizeram juntos a recruta e depois o 1º Curso de Sargentos Milicianos (CMS) que se realizou em Bissau, em 1959, e no qual participaram os os primeiros filhos da Guiné. Este curso foi um alfobre de quadros...para o PAIGC (2).

Foto: © Mário Dias / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2006). Todos os direitos reservados.

5. Fiquei com curiosidade em saber o resto da história,
 contada pelo Virgínio Briote sobre a Ana, enfermeira do Morés. Mandei-lhe um email, na altura (em 31 de outubro de 2005):

"Virgínio: Já publiquei a tua estória que voltei a adorar. Parabéns!... Fico com curiosidade em saber o que fizeram, naquele tempo, ao comandante que vocês apanharam com as calças na mão (literalmente!) e com a enfermeira que deveria ser uma mulher corajosa, uma verdadeira mulher de armas (...). Um abraço".

Publico aqui a pronta resposta que o VB  teve a amabilidade de me dar. Aqui fica ela, sem mais comentários ou, se o os tertulianos assim o quiserem, com um desafio para sabermos mais sobre o papel das mulheres que, de um lado e de outro, também participaram na guerra, de maneiras diferentes (como confidentes, madrinhas, amantes, enfermeiras, professoras, combatentes, etc.):


6. Resposta do Virgínio Briote

[, foto à esquerda, na Bélgica, em 2002]:


O Comandante teve que ser interrogado logo ali, sem as cerimónias que o cargo dele exigia. Uma vez que as informações que passou eram claramente sem importância, não houve possibilidade de proceder a qualquer exploração. De resto uns tipos, poucos, talvez três ou quatro, estavam a fazer-nos pontaria e a Siga, verdadeiro nome da Ana, resistiu quanto pôde, como só as mulheres o sabem fazer, quando querem.

No chão, mamilo na boca da bebé, era muito difícil, a qualquer um de nós gerir a situação. Por um lado, o respeito que a imagem nos merecia, por outro a consciência de que a Siga estava a fazer o que podia para que os [seus] camaradas tivessem tempo para nos preparar uma retirada como devia ser. E ela veio, à força, dois soldados a arrastá-la pelo chão, a bebé no colo de outro soldado, as chicotadas  [dos projecteis] a ouvirem-se, os gritos dela e doutras bajudas, um pandemónio.

Depois, já na estrada, recolhidos pela companhia de apoio, a Siga e o comandante foram na minha viatura. Ela ficou muito ofendida comigo, pela forma como foi tratada, sem humanidade, disse-me na cara. E que, quando chegasse a Mansoa, iria apresentar queixa contra mim. O que fez, vim eu a saber uns tempos mais tarde pela boca do major das operações do batalhão de Mansoa.

O que foi feito deles? Gostaria de saber, mas não soube mais nada. Os procedimentos que seguíamos, no caso de prisioneiros, era entregá-los à chefia do Batalhão. Nunca vim a saber o que foi ou é feito deles.

Que merda!
Um abraço, vb


PS - Luís, já depois de termos falado ao telefone [,hoje, da parte da tarde], contactei um velho camarada de armas que, muito jovem, acompanhou os pais na viagem rumo à Guiné, onde tinham vida estabelecida. Estudou em Bissau, foi colega de muitos jovens que mais tarde se envolveram na luta pela libertação. Um deles, o Domingos Ramos, foi mesmo incorporado no 1º CSM que se fez na Guiné. Ora o Domingos era irmão do Pedro. Diz-me o velho camarada que eles eram negros "assimilados", talvez da etnia papel.

A Fima Siga era uma das enfermeiras (auxiliares, penso eu) de Morés. Na altura encontrámos uma caixa com os medicamentos que eles estavam a utilizar e as informações que me foram transmitidas no trajecto do regresso levaram-me a crer que ela respondia pela enfermaria. O Comandante tratava-a com alguma reverência, apercebi-me disso.

Já depois de ter lido a nota que te enviei sobre o que tinha sido feito deles, notei que escrevi que se ouviam "chicotadas, bajudas aos gritos", etc... Ora bem, as chicotadas que se ouviam eram chicotadas de projécteis. E foram só essas que eu ouvi.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 30 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11507: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (11): Teresa, amores e desamores em tempo de guerra (Parte II) (Virgínio Briote, ex-alf mil, comando, Brá, 1965/67)

(**) Vd. I Série do nosso blogue (que se publicou entre 23 de abril de 2004 e 1 de junho de 2006):

31 de  outubro de 2005 > Guiné 63/74: CCLIX [259]: Estórias do outro lado: Ana, a enfermeira do Morès

31 de outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLX [260]: Ana/Siga ou as mulheres do PAIGC de que nunca se fala

Guiné 63/74 - P11538: Questões politicamente (in)correctas (44): Há um provérbio fula que diz: "Quando se fala dos maus, os bons sentem-se ofendidos" (Cherno Baldé)

1  Comentário de Cherno Baldé ao poste P11459 (*)

Caro amigo Paulo Salgado,


Eu li com muita atenção a tua reacçãoà minha provocante frase sobre o comportamento sexual dos soldados portugueses durante a guerra na Guiné e no entanto, não dei conta em nenhum momento que tivesses desmentido a minha afirmação.

No meu comentario eu falei de "superioridade racial", não sei se isto quer dizer "ser racista". E esta aparente superioridade não fui eu que a inventei, encontra-se, de forma explicita ou naão, em todos os textos legislativos da antiga administração colonial e era perfeitamente normal que certos soldados fizessem uso de um estatuto que a lei lhes outorgava.

O que defendes, e nisso estamos de acordo, é que não se deve generalizar. Pois claro, ai de nós,  Guineenses,  se os casos referidos representassem a regra e não a excepção.

Há um provérbio Fula que diz que: Quando se fala dos maus, os bons sentem-se ofendidos; quando se fala dos mal comportados, os bem comportados sentem-se indignados. Foi o que aconteceu agora contigo, suponho e com muitos outros que não quiseram expor-se abertamente no blogue.

A mim me parecia evidente que o facto de ser membro, "amigo", mesmo que off-sider, como alguém já me chamou, de um bloque de antigos soldados portugueses que combateram na Guiné e o único Guineense que aqui se atreve a escrever no seu esforçado pretuguês, queria significar que não penso mal dos portugueses nem considero que todos tiveram, no passado, um comportamento indigno. E, se tiverem a paciência de revisitar os postes com textos da minha autoria, verão que tentei, no máximo, ser fiel à linha das minhas memórias de criança que passou uma boa parte da sua vida (1968/74) metida no meio dos soldados metropolitanos.

Mas, acontece que na guerra, na tropa como na vida, nem tudo é perfeito e vocês,  portugueses, não são uma excepção. Havia soldados bons, no sentido mais lato da palavra, até muito melhores que os nossos, na maioria dos casos, mas também havia um pouco de tudo, sem falarmos dos casos mais sórdidos que, naturalmente, não faltaram.

Se, de uma forma ou outra, as minhas palavras foram motivo de ofensa ou de indignação para algumas pessoas, apresento as minhas sinceras desculpas porque não foram intencionais. Não obstante, não retiro nada do que disse por corresponder, na altura, aà minha percepção pessoal e ao sentimento partilhado de toda uma comunidade à qual pertencia e que era obrigada a assistir, impávida e impotente, a muitos actos de atropelo e de abusos justificados por uma guerra que, também eles não queriam.

Felizmente, para mim, há portugueses e antigos combatentes como o amigo C. Martins que me compreendem e sabem que eu não inventei nada e que sou assim mesmo, uma pessoa que pensa com a sua cabeçaa e fala de uma forma directa, muitas vezes, para a sua própria desgraça.

Um grande abraço ao Paulo e a todos os amigos da TG.

Cherno Baldé (Chico de Fajonquito).


PS - Importa assinalar que, como sinal dos tempos, tenho constatado, com muito agrado, que a nova geração de portugueses e europeus, em geral, agora tem uma postura muito diferente pois nota-se que, para além do mútuo respeito, há alguma reciprocidade nos sentimentos.

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11459: Questões politicamente (in)correctas (43): Meu caro Cherno Baldé, a maioria dos militares da minha companhia não era racista nem se comportava como tropa ocupante (Paulo Salgado,ex-alf mil op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72)