Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 3 de março de 2009
Guiné 63/74 - P3973: Nuvens negras sobre Bissau (11): Em Novembro de 2000, no golpe de Ansumane Mané, eu também estava lá... (Albano Costa)
Guiné-Bissau > Bissau > Novembro de 2000 > Tensão em Bissau com mais uma tentativa de golpe de Estado, liderada por Ansumane Mané (1940-2000). Albano Costa, o filho Hugo Costa e os camaradas que estavam, com eles, na Guiné, em 'turismo de saudade', foram apanhados pelos acontecimentos, mas não alteraram os seus planos.
Fotos: © Albano Costa (2009). Direitos reservados
A história (recente e passada) da Guiné-Bissau tem sido marcada pela violência política. Recorde-se que em 14 de Novembro de 1980, o presidente Luís Cabral é derrubado pelo 1.º golpe de Estado da jovem República, liderado por Nino Vieira, seu primeiro ministro e antigo camarada de armas.
Em 1984 é aprovada uma nova Constituição mas só em 1991 passa a haver um sistema multipartidário. Com o novo regime, as primeiras eleições têm em 1994. Nino Vieira, concorrendo contra Kumba Yalá, é eleito Presidente da República à 2.ª volta, tomando posse em 29 de Setembro de 1994.
Em 1998, a Guiné-Bissau mergulha numa sangrenta guerra civil. O golpe que derruba Nino Vieira é precedido por uma rebelião militar em 7 de Junho de 1998, causada pela destituição do general Ansumane Mané como Chefe do Estado Maior das Forças Armadas.
Mané destitui Nino Vieira em 7 de Maio de 1999 (que se vê obrigado a refugiar-se na Embaixada Portuguesa em Bissau, de onde só saiu em Junho para Portugal).
Em 13 de Maio de 1999, o presidente do Parlamento, Malam Bacai Sanhá, ocupou interinamente a presidência, ficando Ansumane Mané à frente da Junta Militar.
Em Janeiro de 2000, o líder do Partido da Renovação Social (PRS), Kumba Yalá é eleito presidente e tem pela frente a difícil tarefa de reconstruir um país, devastado pela guerra civil. Em Novembro de 2000, o general Mané, que reivindicava o comando supremo das Forças Armadas, protagoniza mais uma frustrada tentativa de golpe. É assassinado a 30 desse mês. Há novas tentativas de golpe de Estado em Dezembro de 2001 e em Maio de 2002.
Em Novembro de 2002, Yalá dissolve o Parlamento. A pedido das Nações Unidas, são convocadas eleições para Outubro de 2003, mas, em 14 de Setembro desse ano, um novo golpe depõe Yalá. A Junta Militar nomeia Henrique Rosa como presidente interino.
As eleições legislativas de 28 de Março de 2004 foram ganhas pelo o PAIGC: Carlos Gomes Júnior é nomeado primeiro-ministro. Em Outubro daquele ano, devido à falta de pagamento de salários dos capacetes azuis guineenses em serviço na Libéria causou um motim no qual morreu o chefe de Estado-Maior, general Correia Seabra.
Em Maio de 2005, Nino Vieira e Kumba Yalá regressam ao país. Nino ganha a segunda a volta das eleições, contra Bacai Sanhá, o candidato oficial do PAIGC.
Em agosto de 2008, Nino Vieira nomeou Carlos Correia como primeiro-ministro, após dissolver o Parlamento e convocar eleições legislativas para novembro.
Poucos dias antes, os serviços de segurança militar prendem o almirante José Américo Bubo Na Tchuto, acusado de preparar um golpe de Estado. Em 16 de novembro de 2008, o PAIGC obteve a maioria absoluta nas eleições legislativas.
Após outra tentativa de golpe militar, em 23 de novembro, o presidente 'Nino' Vieira nomeou Carlos Gomes Júnior, líder do PAIGC como primeiro-ministro, em 26 de Dezembro.
Em 2 de Março de 2009 Vieira é assassinado por militares leais ao Chefe do Estado-Maior do Exército, general Tagme Na Waie, de etnia balanta, morto no dia anterior num atentado à bomba.
1. Mensagem de Albano Costa (Guifões, Matosinhos)
Eu estava na Guiné, em 2000, quando se deu um golpe de estado na Guiné-Bissau (*).
Queria deixar uma palavra de conforto para os familiares e amigos dos nossos colegas portugueses que estão hoje na Guiné-Bissau em missão de solidariedade e turismo de saudade.
Devem estar descansados, porque os guineenses são um povo que sabe destrinçar as coisas, ao contrário do que muitas vezes se pensa deles, isto quero dizer pela experiência que tive, os estrangeiros e principalmente nós portugueses somos sempre muito bem aceites, eles vão ter o cuidado de informar que nada lhes vai acontecer e que vão poder continuar o seu percurso normal por terra da «nossa» Guiné-Bissau.
Aos familiares e amigos podem ficar descansados que tudo vai seguir o seu percurso normal com um pequeno senão, que é uma pequena tensão, o que é normal, e quando regressarem, ficam logo com saudades de lá voltar.
Também queria deixar aqui um abraço de esperança ao povo da Guiné-Bissau, para que ultrapassem mais este percalço no seu país, e que há sempre vida para além da morte.
Um abraço de amizade e conforto para todos,
Albano Costa
__________
Nota de L.G.
(*) Vd. último poste da série Nuvens negras sobre Bissau > 3 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3968: Nuvens negras sobre Bissau (10): Voluntários da missão humanitária 2009 a distribuir água pelos militares nas ruas da capital
Guiné 63/74 - P3972: Blogoterapia (93): O que é difícil é ficar calado (José Brás)
O QUE É DIFÍCIL É FICAR CALADO
SE NA CALADA DA NOITE EU ME DANO(*)
Diz-se…
Diz-se.
…que nestas coisas da vida não se deve misturar alhos com bugalhos.
Diz-se, e dito assim, sobre coisas tão comezinhas como aquelas, ninguém estranha que se digam.
Entretanto, é legítimo perguntar se é disso que se fala aqui na Tabanca Grande?
De alhos e de bugalhos? Simplesmente alhos e bugalhos?
Não me parece.
Se fosse (o que não é) , porquê, então, os criadores do blogue gastariam tempo e paciência na sua criação e manutenção, aturando as manhas de cada um, as queixas, os relatos de dores e alegrias, as fotografias de macaco ao colo, em vez de irem ao futebol, ou, ainda mais cómodo, ficarem a assistir na bancada do sofá? Umas cervejitas, umas ervilhanas (sabem o que é?), um nome feio ao árbitro (também se chamam nomes ao árbitro a partir do sofá).
Não me parece. Citando Catrieiro (que vocês não conhecem porque nunca fiz apresentações), citando o Catrieiro… “desculpem lá, a minha palavra honrada” mas a mim não me parece.
São gente de boa formação académica e humana. Viveram o suficiente para se darem ao luxo de espreitar por cima do muro, os colegas em correrias, nas bolanhas da Guiné, nos corredores da morte, nas oficinas e fábricas da cintura industrial, nos campos, nos gabinetes dos figurões que tramam (e nos tramam) a brincadeira em que jogamos todos.
Sabem que o mundo é muito vasto e que na sua vastidão esconde ainda grandes diferenças entre as gentes que o habitam, e tão pequeno que pode resumir-se numa ânsia única e universal que é o desejo da felicidade.
E quem sabe tudo isto, de saber metódico, sistematizado e profundo, não iria perder tempo apenas para que uns tantos, outros, viessem aqui mostrar a sua fotografia na porta d’armas da Amura, no ar condicionado de Bissau, na fornalha das matas do Tombali, “olhem p´ra mim que também lá estive”.
Não! Não acredito.
Criaram-na, sim, na ressaca de uma jornada complicada para si e para os vizinhos, como opção consciente das muitas necessidades que dela restou, em si próprios e nos camaradas, claras, camufladas ou simplesmente ignoradas, contudo, extremadamente emocionadas e emocionantes.
Não ignoravam que ao criar esta janela, por ela entraria a pluralidade das opiniões que se construíram numa experiência tão complexa como uma guerra travada em terras que o sistema dizia ser solo pátrio, contra gente que não concordando com isso, dava a vida pelo sonho em que acreditava.
É complicado, isto.
É complicado porquê?
É complicado porque, se tinham razão os que afirmavam que ali era Portugal, que ali havíamos chegado quinhentos anos antes, em sacrifícios, em dores, em mortes, em glórias, então, era uma guerra civil que travávamos, e o que fazíamos era matar a vizinhos, a irmãos, a filhos e netos.
Se era falsa a ideia de uma pátria com vários povos, então era uma guerra de repressão contra gente sonhadora e libertária a quem nem odiávamos.
Num caso ou noutro, ninguém deixaria de pagar a factura nem a fractura.
Vamos lá ver!
Nessa guerra houve de tudo, como em todas as guerras, aliás.
Houve gente que já embarcava com dúvidas, houve gente que partia com certezas.
Dúvidas e certezas sobre muitas coisa que lhe haviam ensinado, crescendo, fazendo-se homem, cidadãos, cristãos quase todos.
Fazendo-se soldados.
Houve gente que, embarcando com dúvidas ou com certezas, confirmou lá, umas e outras, ou mudou de opinião, ou delas se encheu lá, atolado no tarrafo, encolhido atrás do baga-baga, imaginando Lisboa à noite, ou a aldeia de onde não havia saído nunca.
E nessas dúvidas e certezas, no terreno, matando, porque sempre mata quem dispara (noutros ou em si próprio), os comportamentos foram também muitos e diversos. Heroísmos e cobardias coabitaram nos “p’rós e contras”, às vezes saindo de onde menos se esperava, fossem soldados, oficiais milicianos ou do quadro, apenas porque humanos.
Sobre a nossa tropa de quadrícula nem quero falar porque toda a gente a sabia mal preparada do ponto de vista militar e, pior ainda, do ponto de vista cultural. Com excepções, claro.
Nas flagelações que sofríamos, nas emboscadas que fazíamos ou suportávamos, desatado o fogachal, o desejo maior era de meter “os c…..” no chão e disparar a esmo, apenas para se reconfortarem a si próprios, mais do que para dar combate ordenado ao inimigo.
Tropa fandanga que, sendo-o, ainda assim foi herói. Na fome, nos medos, nos sacrifícios, na coragem de aguentar a esperança do regresso e de fugir p’rá França e, tantas vezes, no acto de enfrentar a morte com galhardia, fosse em nome da tal Pátria, fosse para salvar um amigo, fosse apenas porque era isso que deles se esperava.
O mesmo não podia dizer-se das tropas especiais, comandos, fuzileiros, paraquedistas, gente preparada, com disciplina de fogo, aceitando o combate como um papel decorado e normal, capazes de aguentar, mesmo em situações difíceis. Heróis, de outro tipo, alguns, sem deixarem de se igualar aos outros nas dores, nos medos e nas dúvidas.
Mesmo os oficiais do quadro.
A par dos que se afirmaram pela coragem física (foram muitos e aceito-os assim, ainda que não concorde com eles em termos culturais/ideológicos), além desses, vi também alguns de exemplo bem deplorável e decepcionante, negando bravatas e loas badaladas entre a escola militar e o embarque.
Um vi eu em Buba, gravemente ferido apenas porque bloqueou debaixo de fogo de canhão sem recuo, no meio de nada, a dois passos dos abrigo, salvo pela acção (heróica) de um soldado, mais tarde condecorado por bravura (o oficial, claro).
Hoje, à distância de mais de trinta anos, tudo isto se baralhou e se deu de novo.
Quanto a mim, entre as várias perspectivas com que se pode analisar um dado tão complexo como uma guerra destas, duas se destacam.
Primeiro (ou segundo?), objectiva e material. Em termos puramente militares, meios humanos e materiais, formação, motivação, estratégia, táctica, como eram e como se comportaram dos dois lados os ditos inimigos.
Segundo (ou primeiro), subjectivo e imaterial. Em termos sociais, culturais e ideológicos, quem tinha a razão, ou pelo menos a razão maior.
Não quer dizer que não se possam misturar as duas perspectivas numa mesma análise. Afinal foi mesmo isso que fizeram aquele militares, capitães, majores e mesmo alguns de maiores galões, que sabiam não ser nossa a razão maior, e que ainda que fosse, não sendo possível ganhar no terreno, era necessário substituir as armas pela mesa de negociações. Ainda assim, tendo consciência clara sobre a realidade, se empenhavam na guerra, arriscavam a sua vida e a dos seus comandados, no objectivo de deixarem o poder de Lisboa mais confortável para a possibilidade de negociações.
- Há aqueles que querem fazer a análise puramente militar.
- Há os outros que querem a análise apenas à luz da história e da lógica civilizacional.
Quanto a mim, de novo, os primeiros têm a análise mais dificultada porque muitas vezes a fazem ainda à luz dos compêndios militares que assimilaram na sua educação, compêndios não “entenderam” nunca que tal guerra será sempre difícil de travar com êxito absoluto, quer dizer, com uma vitória clara. Mesmo quando for de vitória tal luta, o que se faz é adiar a solução tendo como certo que nova guerra eclodirá logo a seguir.
Os segundos estão mais comodamente instalados na evolução da história, vendo cumprir-se, finalmente, a razão que se construíra dentro de si e consigo, em relação ao domínio que a sua terra exercia sobre outros povos e outras terras a milhares de quilómetros geográficos e em descontinuidade territorial e cultural.
Não faz sentido argumentar tipo brincadeira de rapaz pequeno “o meu canhão é maior que o teu, eu mexo no teu nariz e tu não mexes no meu”, que tem saído bastas vezes no blogue, da responsabilidade de sapateiros a subirem acima das chinelas.
Claro, sem prejuízo de excelentes e bem colocadas análises militares realizadas por gente preparada e séria, coisa que felizmente também se tem lido e considerado maioritariamente, ainda que não se encaixem muito bem tais análises nas diferenças que exibem.
A meu ver, não faz sentido continuar a afirmar que “perdemos em Guileje e ganhámos em Guidage e em Gadamael”
Como já perguntei antes, pergunto de novo.
Ganhámos o quê?
Afinal estamos a falar de guerra!
E fazer a guerra, fazer tal guerra, não é a mesma coisa que jogar a matraquilhos, meter mais bolas que o adversário, gritar ganhei e… beberem-se uns copos a seguir.
Nem somar medalhas de ouro nos jogos olímpicos, superando-se a si próprio, mais que a adversários.
Fazer a guerra é encurralar gente, é matar gente, esventrá-los, roubar-lhe a terra, as pernas, os filhos, o sonho, a luz dos olhos e o futuro.
E, a maior das loucuras, fazermo-nos isso tudo, também, a nós próprios.
Invocar a legitimidade de quinhentos anos, as glórias passadas, os heróis e os mártires não me parece grande achado, e menos legítimo me parece ainda, invocar valores cristãos e a defesa da civilização ocidental.
Da nossa identidade como portugueses fazem parte, sim senhor, tais glórias e seria estultícia sugerir que quem esteve e está com a revolta desses povos e contra as mortes de irmãos brancos e pretos, é apenas parte de um sintoma de uma tal doença psicológica e moral colectivas que fazem com que este povo caminhe de cabeça baixa.
De cabeça baixa, já agora, caminhámos sempre ao longo da história, apesar das tais glórias, heroísmos e santidades.
As descobertas (ou os descobrimentos), quer dizer, as viagens marítimas dos portugueses do século XV e XVI, pela sua grandiosidade, pelo espantoso contributo que deram ao desenvolvimento do mundo, o único que realmente demos como povo, são hoje património da humanidade.
Gente grande tivemos então, e na sequência, homens da ciência, da cultura e… da guerra, que nos pasmam ainda hoje.
Quase todos foram perseguidos pelo poder instalado nas sombras das igrejas e muitos acabaram mesmo nas fogueiras porque queriam explicar pela matemática, pela cartografia, pelas “humanidades” o que só a Deus (como diziam os interesses da “companhia”) cabia explicar.
Camões!
Pois, já cá faltava Luís. Pode estranhar-se é que não venha aí, também, o Fernando, e se não vem é, provavelmente, porque não “esteve lá”.
Camões foi dos maiores vultos intelectuais da história deste País.
Cantou as glórias dos conquistadores, sim (e também as cantaria eu se soubesse cantar).
Mas também as denunciou quando viu submeter povos à bruta, traindo acordos, massacrando, saqueando, colonizando as terras e as gentes.
“com hũa armada grossa, que ajuntara
o vizo-rei de Goa, nos partimos
com toda a gente d’armas que se achara,
e com pouco trabalho destruímos
a gente no curvo arco exercitada;
com mortes, com incêndios os punimos.”
Denunciou ganâncias e ladroeiras dos poderosos...
“E ponde na cobiça um freio duro,
E na ambição também, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Vício da tirania infame e urgente;
Porque essas honras vãs, esse ouro puro,
Verdadeiro valor não dão à gente.
Milhor é merecê-los sem os ter,
Que possui-los sem os merecer.”
.....................................................
“Este (o ouro) rende munidas fortalezas,
Faz tredores e falsos os amigos;
Este, a mais nobre faz fazer vilezas.
E entrega capitães aos inimigos;”
Denunciou a fome e a miséria do povo no contraste com a ostentação da corte…
“Vestido o Gama vai ao modo hispano
Mas francesa era a roupa que vestia
De cetim da Dalmática Veneza….”
.........................................................
“Vê que aqueles que devem à pobreza
Amor divino, e ao povo caridade,
Amam somente mandos e riqueza,
Simulando justiça e integridade;
Da feia tirania e da aspereza
Fazem direito e vã severidade;
Leis em favor do rei se estabelecem,
As em favor do povo só perecem".
Ninguém antes dele, neste rectângulo da beira-mar, e poucos depois, entenderam tão bem a multiplicidade das culturas e das aspirações humanas respirando sobre a terra que acabávamos de aumentar.
E está visto que ainda hoje, muitas vezes, se entende Camões apenas para o que dá jeito, esquecendo que:
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades”
A meu ver, não entendendo que muita gente queira apenas análises na perspectiva militar e dos antigos feitos de portugueses, acentuando tal análise com desabafos do tipo “sou um incompreendido, este país está doente…”, não é senão voltar, sempre, ainda que no sub-consciente, à velha dictomia do Portugal progressista (1383, Descobertas, Camões, Damião de Góis, Pedro Nunes…) e o Portugal feudal, do Portugal do “Santo Ofício”.
Muita gente importante diz que a desgraça portuguesa foram as descobertas, afastando o País do desenvolvimento do resto da Europa.
Eu prefiro a senda do pensamento de José Saramago na “Jangada de Pedra”. Com as Descobertas demos um enorme contributo para as profundas mudanças do mundo, rachando a terra, separando a Península do resto da Europa, aproximando-a dos povos de África e da América, “casando” com as nativas, fazendo mulatos, abrindo vendas nos confins do mato, recriando lá a nosso forma de vida, sujando as mãos na terra e também em sangues.
Contudo, descobrindo, abrindo caminhos novos, porque partíamos já presos do nosso próprio atraso, nunca fomos capazes de aproveitar em favor próprio, os sacrifícios e as glórias, deixando para outros tal proveito, voltando a atracar a jangada ao cais de partida, dividida, divididos, sempre com um pé cá e outro lá.
Portanto…
É isso que me contém a análise à Guiné nos limitados preceitos desse humanismo que igualiza o homem na diversidade das suas crenças, no seu direito à terra onde nasceu, na sua liberdade, no sonho que o leva a enfrentar enormes perigos para reclamar tais direitos.
E entendendo isso, assumindo isso, desejando mesmo isso, não é possível acreditar que do ponto de vista puramente militar se pudesse ganhar a guerra.
Não é possível acreditar que ocupando Gadembel e Ponte Balana se acabava com a passagem dos guerrilheiros do PAIGC, numa mata densa onde outros corredores poderiam sempre ser abertos a duzentos ou trezentos metros do primeiro e no mesmo dia do seu fechamento, porque a vontade dos homens do outro lado era maior.
Será que o Comandante Chefe não sabia disto?
Será que a sua inegável coragem e disponibilidade para assumir o risco físico era só isso, e nada mais que isso?
Ou, ao contrário, sabendo-o, garantia com tais medidas, ou o tal tempo para os políticos, o seu “curriculun vitae” para os voos com que sonharia, ou as duas coisas em simultâneo?
Num caso ou no outro… ou nos três, à conta dos seus rapazes (mortos).
Pai
Afasta de mim este cálice (*)
Montemor-o-Novo,
02.02.09
(*)Chico Buarque
2. Comentário de CV:
As minhas desculpas ao camarada José Brás por ter retido tanto tempo este brilhante texto. Poderia tê-lo incluído na série "A guerra estava militarmente perdida?", mas achei que a série Blogoterapia, era a mais adequada. Afinal o José Brás não alimenta qualquer das facções, a do sim ou a do não, antes nos leva a reflectir sobre a guerra e como cada um dos intervenientes a viu e viveu.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 21 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3922: Blogoterapia (92): A guerra nunca acaba para aqueles que se bateram em combate (Luís Borrega)
Guiné 63/74 - P3971: História da CCAÇ 2679 (14): Operação Equino Salto, 28 de Maio de 1970 (José Manuel Dinis)
Algures no Seli
Cortei um pedaço de casqueiro, passei-o pelo fundo da lata de chouriço absorvendo o óleo, salgado e aromático, levando-o à boca de seguida, para o mastigar lentamente, saboreando-o e prolongando a gulozeima do chouriço que acabara de comer. Sem preocupações ecológicas, deixei a lata vazia de lado, entre as folhas caídas que revestiam o solo fresco da margem, perto da confluência do rio Seli com o Corubal.
Abri a camisa e espreguicei-me junto a uma árvore, onde achei uma posição agradável, meio deitado, que me permitia apanhar algum sol, rarefeito pela folhagem das árvores e que proporcionava um calor aprazível. Pretendia aproveitar a pausa do almoço para descansar prazenteiramente, como quem o faz num piquenique. Neste ripanço, apreciava a flora envolvente, quando me dei conta de que os elementos do BArt se movimentavam com algum alvoroço, abandonando as posições que ocupavam, no sentido do regresso.
Estranho, muito estranho.
Levantei-me e chamei por um furriel que, nervoso, também tratava de se pôr ao fresco. Indaguei o que se passava e o tipo mal articulava a resposta, referindo-me que eles estavam ali.
Onde? - Perguntei.
Respondeu ali, apontando numa direcção no meio do arvoredo, onde não distingui nada. Porra, olha ali dois gajos com farda amarela, acrescentou.
Perguntei-lhe porque se movimentavam.
Vamos embora, antes que caiam morteiradas, e virou-me as costas para desandar.
Não vi nada, nem ninguém, mas não perdi tempo, já que aquele Pelotão desaparecia em direcção contrária relativamente às posições do Foxtrot.
Alertei o pessoal, mas o Pauleiro estava afastado, de castigo, no sentido em que diziam estar os turras. Fui lá chamá-lo. O Pelotão já estava equipado, pronto para andar. Nada como as emergências para que o pessoal se mostre eficaz.
Adeus Séli, que hoje não sobra tempo para mais turismo. Perseguimos o grupo fugitivo, em passo de corrida, pelo trilho que nos tinha trazido àquele lugar. Estava tudo doido, mas logo os alcançámos. Durante o percurso pensava que seriam poucos os elementos IN a estar ali e que não nos teriam referenciado, ou não estariam tão expostos, logo, a ser verdade, poderíamos e deveríamos ter agido diferentemente. Provavelmente, resultado da avaliação ainda saltitante de um pira, comparada com a decisão dos artilheiros em fim de comissão. Nada a fazer, porém senão acompanhar esses malucos, que arrancaram à papo-seco, nas tintas para nos avisarem.
No toc-toc da correria, só parávamos para assistir e ajudar os que desfaleciam.
Sim senhor, estava ali uma tropa de truz. Distribuiram-se armas, mochilas e cartucheiras pelos que revelavam melhor condição física. Foi a aparentar alguma relutância e com reparos que aceitei prestar ajuda.
Do Foxtrot só o Jesus, bastante corpulento, revelou sinais de cansaço. Pudera, tanto corpo para um coração normal! Também o aliviámos.
À aproximação de Piche, parecia que vínhamos do fim do mundo. Exaustos e sofridos, alguns acabaram a caminhada seguros pelas axilas. Da História da Companhia consta a seguinte resenha:
28MAI70 - Uma força constituída por um grupo de combate da CART 2440 e um Grupo de Combate da Companhia, reforçados por duas Secções de Milicia, dão início à Op."EQUINO SALTO" - patrulhamento de combate com o seguinte itinerário a percorrer:
PICHE - PANGHOR - MADINA TAMBACHÁ - Ao longo do R.BAMBADALÁ - R.JUBA - R.QUENECO - Confluência do R.MONDEJUBA com R.SELI - Ao longo do R.SELI - Confluência do R.COBANCARA/R.SELI - R.SUTUCÓ - PICHE.
Pelas 20H00 é interrompida e termina a Op. "EQUINO SALTO", em virtude da necessidade de evacuação para o aquartelamento de 7 doentes do Grupo de Combate da CART 2440, que nela tomara parte. Não se registaram até ao momento da interrupção da Operação quaisquer contactos nem vestígios IN.
Curioso o relatório.
Movimentos de pessoal até Maio de 1970
O mês de Maio ficou marcado por duas baixas ao efectivo: o Capitão António Oliveira, evacuado por doença, que não teve intervenções de registo e, por isso, não deixou marca especial, bem como, oficialmente, o Alferes Eduardo Guerra, acarinhado comandante do Foxtrot. Pela importância que possa ter tido, outro registo que faço refere-se ao Sargento José Vieira de Sousa, em funções de Primeiro, que sem ter sido abatido à Companhia, foi para Bissau, onde cumpriu o resto da comissão. Indivíduo que dava mostras de competência e humanidade, terá sido requisitado durante a nossa permanência em Piche como força de intervenção adstrita ao BArt 2857, do qual dependíamos operacional e administrativamente. Pode ter sido uma baixa de vulto, como em próximos episódios se verificará. De facto, o remanescente Segundo, e mais tarde o ingresso do Primeiro, em nada beneficiaram a Unidade, pois a partir da quadrícula organizaram-se em regime de auro-governação, associados ao novel capitão, originando prejuízos para o Estado e deprimindo as condições gerais da vida do pessoal.
O 1.º Cabo MAR António João C. Robalo, a quem estou em dívida de gratidão por ter composto uma viatura que eu espalhei, e que já não reencontrei em Piche após diligências noutro aquartelamento, foi evacuado para o HMP por doença.
Também o Azevedo, meu companheiro Foxtrot, teve um problema durante uma saída, constatando-se a dificuldade para as caminhadas no mato, mas não foi substituído, embora tenha permanecido com reserva da actividade operacional. Isto aconteceu por uma questão de camaradagem, pois era intenção dos furriéis regressarmos todos juntos.
Em Abril de 1970 chegou à Companhia o 1.º Cabo José de Sousa Matos, que mais tarde integraria o Foxtrot a contento, bem como os Soldados de Transmissões, o José da Silva Teixeira, o José Luís Ramos e o José Eduardo S. Coelho.
O Mario
A fotografia tirada a bordo do Uíge, a caminho de Bissau, retrata, da esquerda para a direita, o irmão gémeo do Mário, com destino a Cabuca, o Faria, o Valentim, o Mário e o Dinis. De pernas flectidas, o Virgílio Fernandes, estes, elementos do Foxtrot. Bem dispostos, pois claro!
Este bom rapaz que desenvolvia uma actividade administrativa no orgão regulador do turismo na Madeira, era muito delicado nas relações, cauteloso com as suas obrigações e elemento opinativo sobre diferentes situações que ao pessoal dissessem respeito. Madeirense orgulhoso, estaria mais vocacionado para os afazeres civis, do que para a rude vida de operacional, onde, quase sempre, se manifestou com punhos de renda.
Aguentou tudo, claro. E ainda contribuíu para a tranquilidade do Pelotão, quando passávamos noites no mato, porque o Mário não dormia, era um verdadeiro vigilante das noites, que nem por isso lhe aleravam o humor.
Embarcou para a Guiné com o seu irmão gémeo, ele com destino a Cabuca e safaram-se das missões que lhes foram cometidas, pelo que regressaram juntos e felizes ao convívio com os pais.
O Mário, pelas suas qualidades de sensatez e responsabilidade, sem se ter distinguido especialmente, foi um esteio para a consolidação do espírito Foxtrot.
(JMMD)
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3834: História da CCAÇ 2679 (13): Imagens de Nova Lamego (José Manuel Dinis)
Guiné 63/74 - P3970: (Ex)citações (17): Spínola e Nino, do guerreiro ao estadista (José Belo)
1. Mensagem de Joseph (ou José) Belo, membro da nossa Tabanca Grande, residente na Suécia,
ex-Alf Mil,
CCAÇ 2381,
1968/70:
Temidos militares operacionais.
Admirados!
Respeitados!
Únicos naquela guerra!
Que tragédia
a substituição dos honrados camuflados do mato
por elegantes casacos e gravatas
para melhor chafurdarem na política!
Estocolmo 3/3/09
José Belo
Cap Inf Ref
___________
Nota de L.G.:
(*) Vd. últimpo poste da série > 18 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3909: (Ex)citações (16): Por que é que a FAP não bombardeou Madina do Boé em 24/9/1973 ? (Luís Graça / A. Graça de Abreu)
Guiné 63/74 - P3969: Sr. Jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (11): Jorge Picado, Manuel Reis, Luís Dias
(i) Jorge Picado, ex-Capitão Miliciano (engenheiro agrónomo, na vida civil, reformado, Aveiro): CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto (1970/72)
Caros Camaradas, embora retardado, ao ler o que um aprendiz de escrevinhador teve o desplante de dar à estampa, também me sinto ofendido.
"Perdoai-lhe Senhor que não sabe o que diz" é o que me vem á memória da minha educação de criança.
Mas isto é tudo fruto de quem nos tem governado, que não há maneira de tornarem obrigatório o ensino nas Escolas do nosso passado recente. Perdem-se com coisas de somenos importância... e depois dá nisto. Mas nós, que fomos combatentes, talvez tenhamos alguma culpa. Falo por mim, que vejo agora os meus netos, ignorantes destes assuntos, ficarem admirados por me verem tão empenhado nas leituras da Nossa Tabanca. E lá vou, a pouco e pouco contando alguma coisa.
O célebre parágrafo é verdadeiramente ultrajante, para não dizer "assassino", para qualquer interveniente na Guerra Colonial. Fomos todos ofendidos. Os "paisanos" e os "profissionais". Por isso, na minha santa ingenuidade, aguardo resposta adequada do Chefe Supremo das Forças Armadas.
Dum insignificante "paisano" que, pelo menos, se fartou de efectuar ralis numa bela pista alcatroada MANSOA-MANSABÁ e que se tivesse tido um azar...teria morrido de acidente de viação!
Um abração do tamanho de Portugal à Guiné, para todos os combatentes.
(ii) Manuel Reis, Aveiro, ex-Alf Mil, CCav 8350 (1972/74)
(Conheceu o inferno de Guileje e Gadamael)
Isto não me surpreende, vem de encontro à marginalização a que somos lançados pelos sucessivos Governos. Consideram-nos um pesado fardo!
Compete-nos defender este espaço de liberdade, onde podemos fazer ouvir a nossa voz e mostrarmos a nossa força.
A melhor resposta a estas situações é fazer como os nossos camaradas, que partiram para a Guiné para levar ajuda e uma palavra amiga aos nossos irmãos e amigos.
O meu aplauso à atitude do Vasco da Gama.
Um abraço amigo, Manuel Reis
(iii) Luís Dias, Lisboa, ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74
Caros Companheiros da Grande Tabanca
Como disse Jesus ao ser pregado na cruz, eu digo perdoai-lhes Senhor, porque eles não sabem o que fazem (o que dizem, o que escrevem) e perdoai-lhes, porque eu não! Não, porque já não tenho idade e paciência para certos senhores da nossa praça que escrevem e falam do que não sabem, do que não viram, do que não viveram, do que sentiram os que por lá tiveram de combater.
Num parágrafo resume-se quase 13 anos de guerra e 8 mil e tal mortos.
Nós não queremos ser heróis, mas alguns julgam-se importantes, de certeza unicamente em firmamento próprio, porque alguém lhes dá espaço, reserva, para omitirem as opiniões, mesmo que lamentavelmente erradas. Não só pelos mortos, não só pelos estropiados e feridos no corpo e na alma, mas também por todos que fizeram a guerra, voltaram e têm contribuído de forma decisiva para que este país se tenha levantado.
Pelos milhares de combatentes vivos é tempo de se exigir CORRECÇÃO e VERDADE, por aqueles que se sacrificaram, que deram o melhor tempo das suas vidas - mesmo não querendo - pela Pátria.
Basta de ilusionistas, de encantadores com balões coloridos, de escribas opinadores do que não sabem. Quem não sente não é filho de boa gente! É o que diz o ditado - a voz populi. Mesmo que a Dignidade dos Combatentes não lhes convenha, esta, juntamente com a Verdade é como a Justiça, não se pede, exige-se!
Um abraço a todos aqueles que ainda têm a postura cervical direita e sabem honrar a memória e o espírito de todos aqueles que, mesmo em condições extremamente difíceis, souberam manter um elevado espírito de moral combatente e dignificar o ser soldado português.
Luís Dias
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Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3957: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (10): José Brás, autor de "Vindimas no Capim" (1986)
Guiné 63/74 - P3968: Nuvens negras sobre Bissau (10): Voluntários da missão humanitária 2009 a distribuir água pelos militares nas ruas da capital
Título de caixa alta da ediçãod e hoje do Diário As Beiras
(Cortesia de Carlos Marques dos Santos)
1. Mensagem dos nosso 'correspondente' em Coimbra, Carlos Marques dos Santos:
Luís:
Um abraço.
Aqui vai mais uma nota de imprensa de hoje de O Diário AS BEIRAS, de Coimbra.
CMSantos
2. Resumo da notícia, de uma página, da edição de hoje do Diário As Beiras:
O Diário das Beiras, na sua edição de hoje, dá destaque às “peripécias” da Missão Humanitária – Memórias e Gentes, 2009 que foram surpreendidos pelos “tiros de Bissau”. (*)
Chegados por terra na quinta feira passada, esta semana estava programada para ser a da entrega dos muitos bens essenciais que vieram de Portugal em contentor (material escolar e sanitário, roupas, etc.). Preparavam-se para um retemperador churrasco, depois de um dia de caça, quando foram tiveram conhecimento do tiroteiro em Bissau e, só mais tarde, das suas consequências, a trágica morte de dois dos dirigentes máximos do país. Trataram então de regressar rapidamente a João Landim, a cerca de duas dezenas de quilómetros da capital, onde o pessoal da missão humanitária está instalado.
Mais uma vez foi Fernando Ferreira, empresário de Coimbra, e membro da Associação Memórias e Gente, quem deu estas informações, por telemóvel, ao jornalista do Diário As Beiras, Paulo Marques. Logo na manhã seguinte, segunda-feira, souberam do ataque à casa de Nino Veira e da morte deste. À tarde, em Bissau, havia imensa gente nas ruas, mas apenas circulavam viaturas militares.
Cerca das 16h, há três elementos da expedição, com mais uns tantos voluntários locais, que se oferecem para distribuir água pelos militares que estavam em vários postos de controlo. Encheram um jipe com centenas de garrafas de água de Penacova, e aproveitando uma ‘aberta’ distribuíram-nas pelos militares, famintos e sedentos, depois de muitas horas em situação de alerta e de tensão, nos acessos a Bissau e nas principais avenidas da cidade.
Ferreira descreveu a situação humanitária como “arrepiante” não só entre a população civil como entre os próprios militares. Surpreendentemente a situação era de calma, nada como em anteriores situações de golpe de Estado ou de insurreição armada.
A malta da expedição está toda bem. Os planos de regresso na próxima quinta feira, para alguns dos membros da missão, é que podem vir a ser gorados, devido ao encerramento do aeroporto.
(Recorde-se, no entanto, que hoje deve chegar a Bissau o nosso Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, e grande amigo da Guiné-Bissau, João Gomes Cravinho, à frente de uma delegação da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que integra ainda o secretário-executivo da organização, Domingos Simões Pereira, e o chefe da diplomacia cabo-verdiana, José Brito. Do que mais precisa, neste momento, a Guiné-Bissau, o seu Governo e o seu povo, é do apoio diplomático internacional e do carinho e da solidariedade da comunidade lusófona).
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Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste desta série > 3 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - 3967: Nuvens negras sobre Bissau (9): Falei com o Xico Allen, o Camilo, o Fortunato, o Peixoto e o Pepito (Carlos Silva)
Guiné 63/74 - P3967: Nuvens negras sobre Bissau (9): Falei com o Xico Allen, o Camilo, o Fortunato, o Peixoto e o Pepito (Carlos Silva)
Guiné 63/74 - P3966: Nuvens negras sobre Bissau (8): Verto uma lágrima por ti, Povo Irmão (Vasco da Gama)
Foto: © Vasco da Gama (2008). Direitos reservados
1. Mensagem de Vasco da Gama:
Não a esta ordem de poder!
Não a estes poderosos!
Não há petróleo!
Não há diamantes!
Não há riquezas fáceis!
Como enriquecer rápido, como esses que têm tudo?
Narcotráfico, leio, espantado, no nosso blogue e ouço nas notícias!
Nem precisamos produzir! Basta-nos entregar!
Porque não? Estamos de acordo!
Respondem dirigentes de corpo anafado e luzidío!
O lucro é fácil e a partilha também!
Para nós, somos uma dúzia,:
A abastança,
a opulência
a fartura,
o luxo,
a ostentação,
a ganância insaciável...
Para o povo,
A miséria,
o sofrimento,
a dor,
a mágoa,
os infortúnios,
as privações...
Povo da Guiné, Povo Irmão,
Povo desgraçado que nasceste para sofrer,
Mesmo assim, com um sorriso lindo nos lábios!
Paz, Felicidade, Progresso,
Tão fácil e tão longe..
è por ti Povo Irmão que eu verto uma lágrima.
Vasco da Gama
___________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste desta série > 2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3965: Nuvens negras sobre Bissau (7): Ao combatente Nino Veira, um poema de Joaquim Mexia Alves
segunda-feira, 2 de março de 2009
Guiné 63/74 - P3965: Nuvens negras sobre Bissau (7): Ao combatente Nino Veira, um poema de Joaquim Mexia Alves
Meus caros Luís, Virginio e Carlos e todos os Atabancados, meus camarigos:
Envio texto que num repente escrevi quando vi hoje as noticias sobre a Guiné.
Fazei dele o que quiseres.
Abraço camarigo, mas triste, muito triste do
Joaquim Mexia Alves
Leio as notícias desta manhã sobre a Guiné e fico profundamente triste. Aquele povo, generoso, acolhedor, alegre, não merecia nada do que se tem passado desde a sua “independência”.
E sinto-me também revoltado e ao mesmo tempo em parte responsável, porque sou português.
Responsável, porque quando foi o tempo talvez mais certo, o meu país não foi capaz de entender os ventos da história e ter proporcionado uma independência bem fundada e pacífica.
Responsável, porque quando a política do meu país se alterou, também não fomos capazes de controlar e liderar uma transição para a independência, segura e no interesse daquele povo.
Custa muito, a serem verdade as notícias, ver um comandante da liberdade, um homem que lutou pela independência do seu povo, acabar assim, desta forma trágica e sem glória.
Nino Vieira pode ter cometido diversos erros, talvez até alguns bem graves em relação à confiança que o povo da Guiné nele depositava, mas nunca poderá deixar de ser lembrado como o maior comandante que o PAIGC na sua luta pela independência teve nas suas fileiras.
Confesso que não sei quem era o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, assassinado também num ataque, e não sei se foi alguma vez combatente nas matas da Guiné, mas sei que nunca a situação política de um país se resolverá pelos assassinatos dos seus intervenientes, pois a violência gera sempre mais violência.
No segundo parágrafo coloco a palavra independência entre aspas, porque me pergunto sinceramente se aquele povo é independente, se aquele povo tem a liberdade para escolher o destino do seu país, se aquele povo não chora amargamente a ilusão de uma independência que nunca o foi até agora.
Não quero dizer com isto que não devia ter sido dada a independência à Guiné, pois aquele povo tinha todo o direito de decidir o seu destino, mas quero dizer que a independência sem paz, sem uma direcção segura e estável, representa apenas uma miragem que em nada serve o próprio povo.
E uma independência de fome, de doença, de crime, de corrupção, de total instabilidade, não é uma independência verdadeira.
É mais que tempo de Portugal assumir as suas responsabilidades e ajudar verdadeiramente o povo da Guiné a encontrar o seu rumo, o seu destino.
Pela minha parte colaborarei naquilo que me for possível fazer, e sei que todos, ou pelo menos a maioria esmagadora dos meus camarigos, o farão também.
Um abraço forte e camarigo a todos, sobretudo aos guineenses meus irmãos
Joaquim Mexia Alves
__________
A Nino Vieira
Quedo-me assim,
Mudo de espanto!
Aquele que tanto procurámos,
Porque nosso inimigo,
Para o eliminar,
Morre agora,
Ingloriamente
Às mãos daqueles
Que ele mesmo quis libertar.
Se tem culpas,
No que lhe aconteceu,
Não sei,
Não me compete a mim julgar.
Tê-las-á com certeza,
Mas não foi só por causa dos seus erros
Que ele acabou por morrer.
A luta pelo poder,
Ou mais verdadeiramente,
A luta pelo ter,
Pelo ter a qualquer custo,
Por cima de todos os outros
Tem agora mais uma vitima,
Que tendo lutado pelo ser
Se deixou corromper pelo ter.
Deixo aos ventos da história,
O julgamento deste homem,
À frente da Nação,
Que lhe foi dado governar.
Porque neste momento,
De triste espanto real,
Quero tão só recordar
A estatura do combatente,
Do homem que quis lutar
Para cumprir um ideal.
2 de Março de 2006
Joaquim Mexia Alves
Guiné 63/74 - P3964: Nuvens negras sobre Bissau (6): O Nino morreu vítima de si próprio (Alberto Nascimento)
Amigo Luis Graça: Tinha que dizer algo sobre mais este desassossego para aquele bom Povo. Um Abraço, Alberto Nascimento
2. Morreu Nino Veira
por Alberto Nascimento
Morreu vítima de si próprio, do antagonismo que gerou em torno da sua incompetência política, da sua insensibilidade social, da sua incapacidade de reconhecer que a luta que travou como guerrilheiro tinha o fim principal de dar ao povo guineense o que o seu mentor Amílcar Cabral certamente lhe transmitiu mas que ele esqueceu muito rapidamente, não só uma nação independente, mas também a esperança do melhor que nunca tivera, a dignidade de ser um povo soberano, o que só conseguiu teoricamente no mapa das nações, apesar dos trinta e cinco anos passados após a independência.
Ouvi e li tributos de admiração que lhe dedicavam enquanto guerrilheiro, situação em que não o conheci felizmente, admirei a sua coragem, quando num golpe de Estado depôs um governo neo-colonialista, mas logo deixou perceber que ele e aqueles de que se rodeou não estavam interessados em governar para o povo da Guiné.
Gostava de acreditar que um dia aquele povo vai conseguir tudo a que tem direito, mas as más sementes deixadas vão certamente continuar a germinar e a asfixiar o desenvolvimento ansiado. Resta a esperança no povo e nalguns idealistas que, não tenho dúvida, ainda existem na Guiné Bissau.
Apesar de condenável a forma como se pôs fim a duas vidas, só me ocorre dizer “Longa vida, com boas políticas para o novo presidente”
Alberto Nascimento
________________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3962: Nuvens negras sobre Bissau (5): Um adeus a Nino (João Tunes)
Guiné 63/74 - P3963: Estórias cabralianas (45): Massacres e violações (Jorge Cabral)
Jorge Cabral com cara de mau, disfarçado de militar, no seu resort de luxo.
Comentário? Estória? Se calhar Blogoterapia.
Corria o ano de 1968, quando prestes a concluir o Curso, não resisti ao convite do Estado – Férias pagas em África, com grande animação e desportos radicais.
Primeiro o estágio-praia para os lados da Ericeira, findo o qual, tive um grande desgosto. Tinham-me destinado ao turismo intelectual – secretariado. Felizmente as cunhas funcionaram e consegui ser reclassificado em atirador, tendo passado a frequentar no Alentejo, o estágio-campo. Terminado este, ainda vivi muitos meses de tristeza e inveja ao ver os meus camaradas integrarem satisfeitos numerosas excursões, as quais iam embarcando.
Mas o meu dia chegou. No cais, a minha Mãe e toda a família rejubilaram. Deve ter sido para eles, o dia mais feliz das suas vidas...O paquete era o Alfredo, um verdadeiro Barco do Amor. Enorme, faustoso, pleno de diversões. E lá cheguei a Bissau.
De clima tépido, uma brisa suave encheu-me o peito de calma e de bem-estar...nem militares, nem polícias, só Paz e floridos jardins. No dia seguinte dirigi-me ao Gabinete do Coordenador-Geral do Turismo, a fim de escolher a unidade hoteleira que iria ocupar.
Na parede uma velha carta militar, havia sido adaptada, assinalando as centenas de empreendimentos de lazer.
E havia de tudo... Resorts de luxo, hotéis cinco estrelas, pousadas, pensões, residenciais e turismo rural, todos com oferta variada, desde o montanhismo aos desportos náuticos...Porém, as vagas eram poucas. Mesmo assim, tive sorte, calhou-me a estância de Missirá.
Não tinha piscina, mas ficava perto da praia do Mato Cão, possuía Casino, e contava com óptimo pessoal. Teixeirinha – o cozinheiro francês, Mamadú – o mordomo inglês e o Nanque – croupier italiano, além de três fogosas acompanhantes suecas, já muito bronzeadas!...
Lá chegado, constatei a excelente organização das actividades. À quinta-feira tínhamos Massacre. O difícil era escolher, pois todas as aldeias queriam ser massacradas. Terça-feira era o dia das violações. O fim-de-semana era passado na praia, com surf no Macaréu.
E ainda existiam torneios de morteirobol e as deliciosas gincanas inter-minas, e muito, muito fogo de artifício. Que férias! Que saudades! Nunca mais encontrei nenhuma Organização Turística que me proporcionasse férias tão formidáveis...Caramba, nem a oportunidade para um massacrezito...
Jorge Cabral
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Notas de vb:
Último poste da série > 27 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3808: Estórias cabralianas (44): O amoroso bando das quatro não deixou só saudades... (Jorge Cabral)
Artigos relacionados em
13 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3446: Estórias cabralianas (41): O palácio do prazer, no Pilão (Jorge Cabral)
1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3956: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assasinos (9): João Melo e Carlos Machado, Tigres do Cumbijã
Guiné 63/74 - P3962: Nuvens negras sobre Bissau (5): Um adeus a Nino (João Tunes)
Caro Luís,
Publiquei isto sobre o assassinato do Nino:
http://agualisa6.blogs.sapo.pt/1401824.html
Podes, se o entenderes, transcrever no blogue sobre a Guiné.
Abraço João Tunes
2. Adeus a Nino
por João Tunes
Nino Vieira (Kabi Nafantchamna) teve um fim trágico mas adivinhado. Desde 1970, ano em que o combati, que tinha como certo que seriam balas quem lhe encomendariam o enterro, prognóstico este que só pecou quanto ao prazo de cumprimento.
Comandante guerrilheiro de excepção ("general avant la lettre" como lhe chamou o historiador guineense Leopoldo Amado), Nino sempre denotou insuficiências culturais, políticas e éticas que fizeram dele um desacerto na envergadura das responsabilidades assumidas enquanto companheiro de luta chegado de Amílcar Cabral.
Aos méritos militares de Nino, que o levaram até à nuvem do mito que o fez pairar - muito exageradamente - nas mesmas alturas do génio militar do vietnamita Giap, muito deve o sucesso da luta guineense contra o domínio colonial português. Aos defeitos pessoais e políticos de Nino, a Guiné deve grande parte do caos e miséria em que descambou e que impediu que a independência da Guiné-Bissau fosse, para o seu povo (melhor, para os seus povos), uma emancipação de facto relativamente ao passado colonial.
Na fase de juventude da independência da Guiné, quando tudo estava em aberto para a realização dos anseios que alimentaram a valente luta anticolonial dos guineenses (e caboverdianos que se lhes juntaram), Nino puxou tudo para o fundo – o Estado, os ideais, a generosidade de construir um país novo, impondo antes a corrupção, o nepotismo, o gangsterismo, o golpismo, o fraticídio étnico e a cleptocracia.
Nino queimou praticamente tudo o que ajudara a construir mas de que não foi, nem de perto nem de longe, o único, ou sequer o principal, obreiro. E tornou a Guiné-Bissau ingovernável. Agora, quando o assassinaram no seu reduto a que havia regressado como Presidente, Nino já era melhor que a Guiné que ele ajudou a destruir e que se enterrara entretanto na bolanha imunda do descontrole absoluto e do narcotráfico. < E é nesta medida que é uma injustiça histórica que a Guiné, a quem Nino tanto deu e a quem tanto tirou, tenha devorado agora este filho da sua terra, cumprindo à distância de quarenta anos, aquele que foi o sonho falhado de tantos militares portugueses de elite e “torre e espada” ao peito (incluindo o mais famoso “cabo de guerra português” após Mouzinho): caçar o Nino.
_________
Durante vários meses (quase um ano), no serviço militar que cumpri na guerra colonial na Guiné, estive colocado no Sul e em pleno coração daquilo que se chamava então “o reino de Nino” (ele era comandante da "Frente Sul" do PAIGC, responsável pelo controlo do Cantanhez onde os militares portugueses se acantonavam em aquartelamentos que eram ilhas militares em "território libertado" e fora das quais a tropa colonial só se atrevia pela aviação e pelas operações especiais, muitas delas destinadas a tentar capturar Nino).
Nunca lhe vi a cara, mas experimentei e bem (mal, muito mal) os efeitos do seu talento guerrilheiro e da sua ousadia militar. Durante esses difíceis meses que me pareceram não ter fim, aprendi a respeitar Nino Vieira enquanto chefe militar colocado no lugar certo da História. Mais, muito mais, que os generais e coronéis que me comandavam e os que para aquela guerra estúpida me enviaram metido no rebanho fardado da juventude da minha geração.
O Nino que emergiu na Guiné independente há muito que me desiludira e para com ele já só me restava o sentimento da repugnância. Nesta sua queda à bala, lembrando-me não do Presidente Nino mas do Comandante Nino, ladeando a contradição no juízo, só me sobra o respeito devido numa última homenagem, esta.
Imagem (em cima): Nino, nos tempos da guerrilha, junto a Amílcar Cabral.
Fonte: Cortesia de Água Lisa > Blogue de João Tunes
Guiné 63/74 - P3961: Nuvens negras sobre Bissau (4): João Bernardo Vieira, 'Nino' (1939-2009) (José Martins)
Boa tarde: Segue anexo uma breve biografia de Nino Vieira, sem comentários de qualquer espécie. É um tributo a um homem.
Segue também um vota solidário para os nossos amigos da Guiné
José Martins
João Bernardo Vieira, 'Nino'
(n. 27 de Abril de 1939,
† 02 de Março de 2009)
Pequena resenha biográfica:
(i) Ingressou na PAIGC em 1960, tendo-se tornado uma peça chave daquele movimento, onde era conhecido por Comandante Nino ou Kabi Nafantchamna, tendo sido responsável pela orientação política e operacional do sector Sul/Leste da Guiné.
(ii) Foi nomeado Presidente da Assembleia Nacional Popular nos finais de 1972, tendo sido lida por si a proclamação unilateral da independência, na região do Boé, em 24 de Setembro de 1973.
(iii) A 28 de Setembro de 1978 é nomeado Primeiro-ministro da Guiné-Bissau.
(iv) Derruba o governo de Luís Cabral (irmão de Amílcar Cabral) em 14 de Novembro de 1980 através de um golpe militar, suspendendo a Constituição do país e formando um Conselho Militar de Revolução.
(v) Suspensa a proibição dos partidos, foram efectuadas eleições que venceu, à segunda volta, obtendo 52% dos votos (46.2% na primeira volta), conta 48% de Kumba Yala.
(vi) Tomou posse em 29 de Setembro de 1994.
(vii) Uma tentativa falhada de golpe de estado, encabeçado por Ansumane Mané e perpetrado em 8 de Junho de 1998, é seguido de uma violenta guerra civil, a que sucede novo golpe veio a depor Nino Vieira em 7 de Maio de 1999, que se refugiou em Portugal.
(viii) Em 2005 regressa à Guiné-Bissau e candidata-se à presidência, alcançando 28,9% dos votos, ficando em segundo lugar, em 19 de Junho. Na segunda volta, em 24 de Julho, derrota o seu rival Malam Bacai Sanha, com 52.3% dos votos, tomando posse em 1 de Outubro desse ano.
(ix) Às primeiras horas de 2 de Março de 2006, foi morto quando tentava sair de sua casa. Consta que o grupo atacante era formado por militares ligados ao comandante do Estado Maior Tagme Na Waié, também ele morto, ontem, durante um ataque ao Quartel General, que consideraram o presidente responsável por tal acto.
Voto solidário:
Curiosamente, tem as mesmas cores da Bandeira de Portugal.
Ao POVO AMIGO da Guiné-Bissau, enviamos as nossas condolências, a nossa amizade fraterna e a nossa solidariedade.
De facto, aquela terra que tanto odiámos por lá termos sido obrigados a passar dois dos melhores anos da nossa vida, e que agora amamos como se fosse a nossa segunda Pátria; aquela POVO a que chamamos amigos, porque com ele fizemos amizade e foi livremente que tal aconteceu, não pode continuar a viver em instabilidade constante. Merecem que ALGUÉM, de facto e de jure, os abrigue e proteja, para que em breve, e definitivamente, encontrem o caminho da paz, da felicidade e do progresso.
José Martins
2 de Março de 2009
Guiné 63/74 - P3960: Nuvens negras sobre Bissau (3): O insólito... e a fraternidade na aldeia global (Torcato Mendonça)
Caros Editores, o insólito aconteceu neste pequeno mundo. De manhã ouço, o mais atentamente possível, os noticiários sobre a Guiné.
Depois do assassinato (o terceiro em pouco tempo) do General Tagmé Na Waié, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e, nesta madrugada, do Presidente "Nino" Vieira. Morte esperada mas que repudio. Não éramos amigos...nunca esqueço...mas assim, não!
Muitos, com mais conhecimentos e visão - quer-se sempre uma melhor visão - que eu, irão falar e escrever. Espero não voltar a escrever. Difícil. A Guiné está demasiado ligada a mim e estes trágicos acontecimentos preocupam-me.
Então porque nos chateeis? Poderão vocês dizer. Porque o insólito aconteceu.
Estava, como disse, a tentar ouvir tudo sobre a Guiné e toca o telefone. Era alguém a tentar "vender-me" algo mais de um serviço que já tenho. Não costumo desligar logo. Ouvi um pouco e interrompi.
- Não estou interessado. Não perca mais tempo comigo.
Insistem do outro lado e respondo.
- Não insista, pois está a interromper-me a audição sobre um acontecimento trágico, acontecido numa antiga colónia.
- Senhor, que Colónia?
- Da Guiné-Bissau. - Um breve silêncio e um:
- Ai meu Deus, da Guiné.
Só então senti o sotaque e perguntei de onde era a senhora.
- Da Guiné, de Bissau e a minha família está lá e em ...
Ficamos a falar por breves minutos, irmanados e ligados por um fio, num sentimento de fraternidade, de desejo que o Povo, as Gentes daquela Terra encontre a paz, a concórdia e o desenvolvimento. Falamos da reportagem há dias passada na TV. Falamos, como amigos e conhecidos, como se ambos estivessemos na diáspora. Falamos fraternalmente das preocupações pelos guineenses e pelos portugueses, quer os que lá vivem, quer os que lá chegaram há pouco em Acção Humanitária.
O insólito, ou talvez não, parece que sou, somos, um pouco ou muito de lá e sentimos fortemente tudo o que na Guiné se passa.
Isto foi um encontro com uma irmã, que desconheço até o nome, da segunda Pátria e receber o retorno da amizade.
Votos que tudo se resolva bem.
Abraços para vocês do Torcato
Guiné 63/74 - P3959: Nuvens negras sobre Bissau (2): Notícias da malta (Vasco da Gama)
Caros Camaradas e Amigos,
Acabei neste preciso instante,12h50minutos, de telefonar ao nosso camarada Pimentel. A malta do grupo dele está toda bem e neste momento estão em João Landim. O Zé Manel, o Carvalho, o Nina e o Lobo estão para os lados de Aldeia.
Diz-me o Pimentel que está tudo bem. A rádio foi encerrada e vão sabendo notícias pela R.T.P. África.D eixei mensagem à malta que está para os lados de Aldeia.
Vasco da Gama
2. Segunda mensagem:
Acabei de falar com a Luísa. Já falou com o Zé Manuel. O grupo dele está todo bem. Estão a almoçar um cabrito.
Vasco
Guiné 63/74 - P3958: Nuvens negras sobre Bissau (1): Portugal lamenta profundamente a morte de Nino Vieira, ocorrida esta madrugada
Guiné-Bissau > Bissau > Presidência da República > 6 de Março de 2008 > Aspecto da Casa da Presidência, no dia em que o Presidente João Bernardo Vieira 'Nino' deu uma audiência a cerca de duas dezenas de participantes estrangeiros do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008), incluindo 2 cubanos (e o respectivo embaixador), mas a maior parte eram portugueses (e ex-combatentes da guerra colonial)... Nesse dia fomos cumprimentados também pelo Gen Tagme Na Waie.
Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
1. Mensagem do José Marcelino Martins, às 9h18:
Bom dia Camaradas
Ontem no noticiário das 23 horas da Renascença, ouvi que tinha havido um assalto ao Quartel General na Guiné-Bissau, que tinha ficado semidestruído.
Hoje as notícias veiculadas indicam que foi morto o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau, [o balanta Tagme Na Waie,] assim como durante a madrugada terá sido morto, por militares, o Presidente João Bernarda Vieira e esposa, durante um assalto à sua residência, durante a madrugada.
Estão camaradas nossos na Guiné-Bissau em visita de solidariedade para com o povo guineense.
Há notícias deles. Há forma de contactá-los. Espero que com eles esteja tudo bem.
Abraço
José Martins
2. Comentário de L.G.:
É uma tragédia para todos nós. Só espero que esta violência irracional (que periodicamente se abate sobre a Guiné-Bissau e o seu povo) não degenere em guerra civil. Dois líderes máximos do país estão mortos. Para mais, dois históricos da guerrilha do PAIGC, que estiveram na batalha de Guileje. Há, naturalmente, um vazio de poder, embora o governo se mantenha em funções. É fundamental que a CPLP intervenha imediatamente para assegurar ou apoiar o funcionamento dos outros órgãos de soberania e garantir a normalização da vida política do país.
O José Manuel Lopes, o Nina, o António Carvalho mais o Leça e a esposa estavam em Buba, esta manhã. O resto da malta (José Moreira, Xico Allen, etc.) estava em Bissau (?). A informação foi-me dada pela Luísa, a mulher do José Manuel Lopes, da Régua. Estava preocupadíssima com as notícias, como devem imaginar.
Leio no Público, 'on line', desta manhã:
"Forças militares atacaram a residência oficial do Presidente da Guiné-Bissau, Nino Vieira, tendo o chefe de Estado sido dado como morto às primeiras horas da manhã pelo responsável pelas relações exteriores do exército – sugerindo tratar-se de um acto de retaliação pelo atentado mortal, na véspera, contra o Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas do país".
O Governo Português já "lamentou profundamente" a morte de Nino Vieira, presidente eleito da Guiné-Bissau. Segundo a agência angolana de notícias, Angop, "ninguém reivindicou o atentado [contra Tagme], não se sabendo ao certo se o caso tem a ver ou não com a velha rivalidade entre o presidente Nino Vieira e o general Tagme na Waie ou se por trás deste caso também não estarão implicados os barões da droga que nos últimos anos tomaram o país de assalto".
Contactem-nos se tiverem notícias dos nossos camaradas, que estão na Guiné-Bissau (cerca de 3 dezenas), bem como dos nossos amigos guineenses (Pepito, família e malta da AD, Patrício Ribeiro, etc.).
A nossa amiga Luisa Valente Lopes, esposa do José Manuel Lopes (Régua), já procedeu a contactos oficiosos, com vista a fazer chegar à nossa Embaixada na Guiné-Bissau a lista completa (nomes, moradas e telefones) dos nossos amigos e camaradas que estão no país, em missão humanitártia e turismo de saudade. Aqui fica, para mais contactos, o telemóvel da Luisa: 916 651 639.Ela não tem a lista de toda a malta.
Soube que o Pepito já telefonou hoje duas vezes, à família que aqui vive, em Lisboa: segundo ele, está tudo calmo em Bissau.
O Zé Teixeira (Tabanca de Matosinhos), por sua vez, fez-me o ponto da situação, por volta da 13h: os nossos amigos e camaradas estão divididos em dois grupos: (i) o José Manel e a malta de Mampatá estão em Buba; (ii) o José Moreira, o Xico Allen, o João Rocha, o Pimentel e o resto da malta de Coimnbra e da Tabanca de Matosinhos estão em João Landim (onde estão hospedados). Estão em contacto com a nossa Embaixada, que os aconselhou a estarem quietinhos, por enquanto. Não há movimentações de tropas, o que significa não ter havido, em princípio, uma golpe de estado, mas apenas ajustes de contas entre duas facções, ligadas às vítimas, Nino Vieira e Tagme Na Waie.
Guiné 63/74 - P3957: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (10): José Brás, autor de "Vindimas no Capim" (1986)
1.1. Luís: Completa e profundamente contigo, com Vasco da Gama que não conheço senão do (muito bem) que escreve e dos lugares por onde andámos os dois, eu em 67/68, ele mais tarde (Aldeia, Mampatá, Colibuía, Cumbijã, 72/74).
Acabo de enviar isto à Visão sabendo, embora, que irá para o caixote do lixo, não apenas porque tem mais de 60 palavras (poucas palavras para a indignação). Queimei as mãos nos canos das G3 que disparava, sabendo que as balas matam mas não me sentia nem sinto um assassino nem sequer má pessoa.
Também não admito que nos ofenda, embora possa ter atenuantes o que nem sabe do que fala.
Um abraço, José Brás.
1.2. Senhor Luís Almeida Martins (*)
Revista VISÃO
visao@edimpresa.pt
Deixe citar-lhe uma velha canção do excelente brasileiro Raul Seixas:
“quem sabe sabe/quem não sabe sobra/cobra caminha sem ter direcção/que sabe a cabra das barbas do bode/a ave avoa sem ser avião”
E quem é que sobra aqui, senhor Almeida Martins? Quem é que sabe do combate que havia e não havia; dos acidentes que também vitimavam; das minas que matavam e salvavam (não acredita que também salvavam?).
Que “não se tratava de uma guerra de frentes”, diz você e com isso descobriu a pólvora, quarenta anos depois de milhares de jovens portugueses e guineenses (neste caso) lhe terem descoberto o calor da reacção química e o cheiro que ficava no ar, nas entranhas e nos membros decepados.
Na verdade o que a mim parece que o que você quer dizer é que era uma “guerrazeca” onde mais se morria de acidentes de viação do que do combate, e, às vezes numa mina ou outra, numa azelhice de comandante ou de soldado, que (de novo neste caso), que o IN (meus irmãos do PAIGC) eram uns pobres subdesenvolvidos sem arte nem engenho para “guerras a sério” e escassos de material.
Ora, amigo!
Voltaria eu à questão da cabra e do bode, se não soubesse que a vida está também muito difícil para jornalistas, enredados na falta de emprego, nos contratos a prazo e recibos verdes, nos interesses dos proprietários dos órgãos de Comunicação, na “política do chefe de redacção”, etc.
No entanto, não posso aceitar que se escreva à toa para milhares de pessoas e sobre um assunto complexo e pesado da sociedade portuguesa, beliscando (e não sei se foi isso que quis ou apenas lhe saiu como podia sair o contrário) a gente que sofridamente cumpriu aquilo que aceitou ser seu dever, uns apenas porque lhe diziam que a Pátria estava a ser atacada e, se estava, por ela dava a vida, outros já num estágio cultural e de consciência mais avançados mas amando a sua terra e os seus compatriotas e não se esquivavam ao combate.
Foi de guerrilha, sim senhor, como no Vietname e no Afeganistão, salvaguardando evidentes diferenças e protagonistas.
Sabe o que é uma guerra destas, sabe? Não sabe porque nem lá esteve nem a estudou como devia. Apenas descobriu a pólvora.
Eu estive e conheci verdadeiros heróis. Uns a quem não aprovava a bravura (mas que o eram), outros que apenas cumpriam um dever que era o de combater, sabendo que num combate destes sempre se mata e morre um pouco.
Uma guerra de frentes?
Sabe ou imagina a você o que foi a ocupação de Gadamael?
Sabe você o que é ter de aguentar dias e dias, semanas, meses, dentro de valas, aguentar a investida de centenas de guerrilheiros determinados e bem armados?
Sabe o que era ter de fazer a estrada Gadamae-Guileje-Gadamael, cerca de quinze quilómetros de emboscadas e minas (as tais minas), numa mata onde os pilotos da FA nos diziam “tá bem, vou despejar ali, mas não vejo ninguém”?
Conheceu o Banharia, homem do Porto que disparava a MG em corrida e gritando “sanguinho e molho” a proteger o Alf Ávila que, desarmado carregava companheiros, um em cada braço, retirando os seus corpos da zona de morte?
Não os conhece porque nunca os viu chorar os amigos mortos e, penso eu, a própria violência da trama em que tinham de agir.
Portanto, amigo (outra vez), estude um pouco a coisa, pergunte sem complexos e…escreva uma coisa séria.
Porque eu sei que daqui a cinquenta anos alguém ainda escreverá sobre o tema, uns como você, a esmo e apenas porque tem de manter o emprego, outros estudando, lendo…trabalhando e, nisto, talvez sofrendo as tristezas e as alegrias dos que o viveram no tempo e no lugar.
Confesso que não me agrada o que lhe digo aqui, imaginando que o estou a dizer a um dessas centenas de jovens que saem das Universidades com necessidade de trabalho e pouco conhecimento da vida, quer dizer, mal preparados culturalmente.
As minhas desculpas, então.
José Brás
Nota - Sei que nem lerão esta prosa, quanto mais considerá-la para publicação. Ainda assim aqui fica, provavelmente para outras serventias, porque a indignação é um direito que quero guardar.
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Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3956: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assasinos (9): João Melo e Carlos Machado, Tigres do Cumbijã
domingo, 1 de março de 2009
Guiné 63/74 - P3956: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assasinos (9): João Melo e Carlos Machado, Tigres do Cumbijã
1. Mensagem, de 27 de Fevereiro último, de João Melo, ex- 1º Cabo Op Cripto, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74:
Exmo Sr Director da revista Visão, Dr Pedro Camacho:
Propositadamente, deixei passar uns dias sobre as atoarda que o jornalista Luís Almeida Martins atirou para o ar, não me ofendendo só a mim – que isso, poderia eu bem suportar – mas sim ofendendo todos aqueles que obrigatoriamente ou não, por lá arriscaram as suas vidas. Mas muito em especial aqueles que o infortúnio ditou que deixassem por lá as suas jovens vidas, com o enterrar de sonhos por realizar e o sofrimento que familiares e amigos tiveram com as suas precoces ausências.
E posso-te garantir, Luis Martins (tomo a liberdade de te tratar por tu porque, segundo dizes, deves ser um “rapaz da minha idade”), que, como dizes que tiveste uma tal especialidade e actividade distinta de todos os outros e que foi por essa razão que não foste mobilizado (?!), fico para aqui a pensar que actividade seria essa mas, com certeza que não seria a de estudioso da guerra…
Eu não era directamente operacional mas posso dizer com orgulho que fui Operador de Cripto na CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã, que foram superiormente comandados pelo Capitão Miliciano Vasco da Gama, que foi exactamente a primeira voz a levantar-se contra a definição de guerra que tentaste incutir para o público através do artigo ofensivo que subscreveste. Uma coisa te posso garantir: de todos os meus camaradas e amigos que tombaram na Guiné não houve nenhum que tivesse sido de acidente de viação!
Sou leitor assíduo da revista Visão e assinante há vários anos e, só o meu “amor” à revista é que me trava de anular a sua assinatura. Tudo isto agravado pelo facto de saber que fazes parte do seu Gabinete Editorial no sector de Projectos Especiais. Que “rico” projecto, sim senhor !...
Vou acabar porque acho que até já me alonguei de mais. Mas vou ficar cá com a minha ideia que a tua idade não será essa !... Porque essas visões do que era a Guerra na Guiné mais parece vir de algum jovem muito menos informado e que só sabe de guerras discutidas na mesa do café.
Acho que o único “marciano” na história é o autor da mesma. Anota-me aí, conta comigo e… talvez já passe de “uma dúzia” de revoltados…
Assinante Visão nº 1911138,
João de Melo
2. Mensagens de 25 de Fevereiro último, do Carlos Machado, que também pertenceu à CCAV 8351, Cumbijã
2.1. Caro camarada Graça:
Acompanho há algum tempo o desempenho deste blogue no que diz respeito ao contar da história da guerra colonial na Guiné. Fui um dos milhares de combatentes nesta ex-colónia, integrado na companhia do Vasco da Gama e sei avaliar o que passámos durante cerca de dois anos.
Foi com grande indignação que li na revista Visão nº 833, da semana passada , um texto elaborado com pouca imaginação e com grande desconhecimento do que foi a guerra na Guiné. Quem por lá andou como tu, sabe que a guerrilha faz-se com luta quase corpo a corpo e não com aviões, napalm e outras coisas mais que alguns escritores de fim de semana querem fazer crer. Pena é que este autor, com tanto conhecimento da guerra de África, não batido com as costas na Guiné em Guileje ou no Cumbijã em 73.
Com os meus votos de continuação de um grande serviço aos ex-combatentes
2.2. Caros senhores [da Visão]:
Foi com grande desagrado e alguma revolta que acabei de ler na revista da semana passada nº 833, da qual sou assinante e leitor há muitos anos, um texto sobre a guerra colonial intitulado "Portugal e o Passado".
Eu estive na Guiné, numa comissão de serviço durante cerca de 24 meses, no mato profundo, permanentemente debaixo de guerra, numa guerrilha que provocou milhares de mortos e deficientes, para já não falar de traumatizados, travada quase corpo a corpo e não como o autor do artigo imagina, sim porque não passa de imaginação.
O autor mostra um profundo desconhecimento do que foi uma guerra destas, pois se o soubesse saberia que não se resolve com Napalm, nem com aviões, nem com minas, esta arma tão traiçoeira. Este tipo de afirmações foram durante muitos anos utilizadas pelos regimes antes do 25 de Abril, para justificar as guerras travadas em África, e o resultado foi o que conhecemos hoje. Só deixámos miséria.
Carlos Machado
3. Comentário do Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351:
Meu caro Tigre Machado,
Fez muito bem em ter escrito para a revista. Não perca tempo a responder-lhe, tanto mais que o jornalista, independentemente da forma como foi questionado, enviou a todos os camaradas a mesma resposta. O nosso chefe da Tabanca dar-lhe-á a resposta final em nome do nosso blogue. Vou dar conhecimento desta mensagem ao Comandante da Tabanca, Luís Graça.
Hoje telefonou-me o Tigre Azambuja Martins.
Um grande abraço,
Vasco da Gama
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Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste dsa série > 28 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3951: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (8): Diana Andringa, jornalista e cineasta