Foi com grande surpresa que tive conhecimento dos comentários do Sr. General Almeida Bruno. É, na verdade, difícil de acreditar que o Sr. General trate os Soldados, Sargentos e Oficiais que desempenharam talvez menos romantizadas funções como tropa de quadrícula, de semelhante modo (**).
- Ocupação e interdição de terreno.
- Protecção local das populações e tabancas isoladas.
- Abertura de novas estradas.
- Construção de postos escolares onde militares voluntários ensinavam a ler e escrever.
- Assistância sanitária a populações que nunca tinham visto um medicamento, com um carinho e dedicação incompreensíveis nas circunstâncias em que era exercido.
- Escoltas heróicas a colunas de abastecimentos por itenerários pré-conhecidos e devidamente armadilhados, ou emboscados, pelo inimigo.
- Muitos vivendo em isolados destacamentos sem disporem de, literalmente, NADA!
Não se podem esquecer os riscos e os actos de heroismo practicados pelos Pára-quedistas, Fuzileiros ou Comandos. Mas não se pode também esquecer que, terminadas as operações, as tropas especiais regressavam à cidade, ao duche, ao rancho digno de seres humanos, e a um mais que merecido período de descanso... em segurança.
Comparar com as condições diárias, semanais, mensais, anuais da tropa da quadrícula em tabancas e aquartelamentos perdidos algures na mata? Bandos, meu General?
Para os Camaradas que o desconheçam, o Sr. Gen. Almeida Bruno tem uma folha de serviços das mais heróicas e exemplares de entre os oficiais que COMBATERAM na guerra colonial. Os que serviram sob as suas ordens testemunham que as tão altas condecorações e louvores que recebeu foram justas. Inúmeros actos de heroicidade, e sacrifícios para além do dever, acompanhados sempre por uma exemplar solidariedade para com os subordinados, eram a norma do procedimento do Sr. Capitao Bruno.
Muitos desconhecerão que os óculos escuros que sempre o acompanhavam são o resultado de grave deficiencia ocular que quase lhe provocou a cegueira ao recusar ser evacuado de uma operação em que participava para não abandonar os seus camaradas na difícil situação em que se encontravam. E, para os mais políticos temos que nos recordar ter sido Almeida Bruno preso pela Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) em Marco de 1974, por ter optado por se revoltar antes de ser mais conveniente fazê-lo.
Onde quero chegar com tudo isto? Ao facto de ser totalmente INCOMPREENSIVEL, INACEITAVEL e INDESCULPAVEL que o Sr. General tenha qualificado de uma forma geral os involuntários da guerra da Guiné como um... bando! E, mesmo que, se em algumas situações muito específicas, guarnições poderão não ter estado à altura das circunstâncias, não será aos Soldados do Contingente Geral, Furriéis e Alferes Milicianos, ou mesmo Capitães Graduados, que as culpas devem cair!
Melhor que ninguém, quanto à Guiné, o Sr. General o deveria saber!Talvez, afinal, o poeta esteja certo quando escreveu referindo-se ao nosso querido Portugal:
- O meu País? O meu País é o que o mar não quer!
Estocolmo 30/3/09
José Belo.
2. Comentário de CV:
Quero pedir desculpa ao camarada Belo pela demora na publicação desta sua mensagem, que já é de 30 de Março, ainda por cima tratando-se de um comentário às lamentáveis e ofensivas palavras, a nós todos dirigidas pelo Gen Almeida Bruno (**).
Claro que o assunto não está esgotado e algo que apareça será sempre alvo da nossa atenção.
Nesta mensagem porém, o tom é diferente das demais, tendo alguns comentários e esclarecimentos, mais ponderados e frios, explicaria melhor para não ferir susceptibilidades, mas apaziguadores, sem no entanto desculpar o General.
Cada pessoa tem o seu estilo de escrita e, ainda bem que há pluridade para que todos sejamos lidos e discutidos.
Muito obrigado pelos vossos comentários.
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 19 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4056: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (10): Um certo CMDT de Batalhão nas margens do Cacheu
(**) Vd. poste de 18 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4208: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (15): Curvo-me perante V.Ex.ª, uma vez mais... (Manuel Maia)