- Arsénio Puim (açoriano, da Ilha de Santa Maria, ex-alf mil capelão, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72);
- Augusto Batista (ex-alf mil capelão, CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã. 1969/70);
- Horácio Fernandes (ex-padre franciscano, ex-alf mil capelão, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69);
- Libório Tavares (1933-2020) (, natural de São Miguel, Açores, ex-alf mil, CCS/ BCAÇ 2835, Nova Lamego, 1968/69).
Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2022
Guiné 61/74 - P22945: As tuas melhoras, camarada !... (1): Padre Mário de Oliveira (ex-alf mil capelão, CCS/BCAÇ 1912, Mansoa, 1967/68), hospitalizado, em Penafiel, com múltiplos traumatismos, mas consciente, depois de grave acidente automóvel
sábado, 18 de dezembro de 2021
Guiné 61/74 - P22819: Notas de leitura (1399): "O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências", 2ª edição revista e acrescentada (2021), por Arsénio Chaves Puim, um caso de grande sensibilidade sociocultural e de amor às suas raízes (Luís Graça ) - Parte I: "Muitos parabéns, muitos parabéns, muitos parabéns!"
2. E de que é que trata esta 2ª edição de "O Povo de Santa Maria: seu falar e suas vivências" ? Embora fazendo apelo a técnicas da pesquisa etnográfica (como a observação participante, a entrevista, a biografia, a acão-investigação, a análise documental, etc.), o autor não tem a pretensão de fazer obra académica, o seu objetivo é apenas o de "identificar, coligir e contextualiar um vasto conjunto de elementos e características respeitantes ao falar, muito castiço, muito expressivo e muito bonito, da pequena comunidade de Santa Maria", com a introdução, nesta 2ª edição, de novos temas como a cozinha tradicional, a cultura da vinha nas fajãs e o casamento rural.
(**) 20 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13314: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69 / Mai 71) (12): O crioulo (e as suas virtualidades)
segunda-feira, 31 de maio de 2021
Guiné 61/74 - P22241: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte IXa: Porto Gole: 3 de março de 1966, ataque IN
Foto nº 1 > Guiné > Bissau > Praça do Império > Monumento "Ao Esforço da Raça! > Novembro de 1965 > Dpsi alferes que estuveram em Porto Gole : o Alf António Maldonado, falecido no ataque de 3 de Março de 1966, descrito a seguir; e o Alferes Jorge Rosales, que esteve 18 meses neste destacamento de Porto Gole, antes da chegada da CCaç 1439 a Enxalé. Comforme escreveu onosso saudoso Jorge Rosales (1939-2019): "O alf mil Maldonado, meu camarada desde Mafra e meu substitulo em Porto Gole, (...) faleceu em março de 1966, em consequência do rebentamento de uma morteirada IN que o atingiu em cheio, no aquartelamento de Porto Gole". De seu nome completo, António Aníbal Maia de Carvalho Maldonado, era natural da Sé Nova, Coimbra, foi inumado no cemitério da Conchada.
Foto (e legenda): © Jorge Rosales (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: João Crisóstomo / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto nº 3 > Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) > Junto do monumento de Porto Gole, (i) de pé, da esquerda para a direita, Alf Sousa; Alf Crisóstomo e furriel Bonifácio; (ii) sentados da direta para a esquerda. Furriel Neiva e Alf Matos e na esquerda um condutor da CCaç 1439, de quem me não lembro o nome.
Foto nº 4 > Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) > Sem desprimor para os aqueles que não posso identificar , pode-se ver no canto direito fazendo exercício de preparação o Furriel Eduardo, profissional de futebol em Portugal ; e em primeiro plano, embora me lembro de todos eles , não consigo alguns nomes: de pé da esquerda para a direita : eu, Furriel Bonifácio, e no meio o Manuel Açoreano. Esta é a única foto que tenho dele, bem identificável. era o único soldado não madeirense e foi vítima duma mina no dia 6 de Outubro de 1966.
Foto nº 4 > Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) > Um dos “abrigos' de Porto Gole ; o João, do Bombarral (padeiro em Porto Gole) e eu numa altura em que tinha tempo para tudo, até para deixar crescer a barba…
Foto nº 5 > Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) > A cozinha e a padaria ( o edifício branco ) de Porto Gole . Na caso de dúvida, o indivíduo de pé , de mãos nos quadris sou eu.
Fotos (e legtendas): © João Crisóstomo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da publicação da publicação das memórias do João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67)
Parte IXa: Março de 1966: A CCaç 1439 em Enxalé (e seus destacamentos de Porto Gole e Missirá)
Dia 3 de Março de 1966: Ataque do IN a Porto Gole
Porto Gole e Missirá eram os dois “destacamentos” de Enxalé. Em princípio os quatro pelotões e seus alferes eram supostos revezarem-se -se em estadias de um mês nestes destacamentos.
Para o destacamento de Porto Gole porém havia quase sempre um alferes de outras origens que não era o Enxalé, como se pode ver pela presença do Alferes Jorge Rosales, antes de nós e durante o nosso tempo a presença do Maldonado, António Carvalho e Henrique Matos. Quando por qualquer razão isso não sucedia, então a CCaç 1439 no Enxalé preenchia a lacuna até esta ser de novo atendida. Esta foi a razão porque estive em Porto Gole várias vezes durante a minha comissão na Guiné.
Quanto às estadias, que supostamente eram de um mês, nunca sucedeu assim e demoravam mais ou menos tempo conforme a situação e circunstâncias o permitiam ou exigiam. Houve mesmo ocasiões, embora de pouca duração em que tanto Missirá como Porto Gole estiveram algum tempo sem tropas regulares, ficando a segurança das mesmas entregues aos Régulos, os respeitados Abna na Onça em Porto Gole e Malan Soncó em Missirá, com suas milícias de nativos.
Não sei sequer em que data estive em Porto Gole pela primeira vez. Da minha primeira estadia lembro da minha surpresa por ir encontrar em Porto Gole várias casas tipo europeu, onde cabo-verdianos e mesmo portugueses que no passado faziam a sua vida aqui e que agora apareciam ocasionalmente. Havia um Posto Administrativo que servia também de residência para o encarregado deste, um Cabo-verdiano e sua família; uma "Casa Gouveia" para o comércio do arroz que era abundante na região..
O Régulo de Porto Gole, Abna na Onça era um indivíduo enorme em estatura e importância: a sua autoridade era respeitada e temida no grande número de tabancas da vasta região predominantemente da etnia balanta, embora a sua influência se estendesse mesmo em áreas de outras etnias e com outros régulos. Abna na Onça nunca perdoou que logo no início das hostilidades as forças do PAIGC lhe tivessem roubado duas das suas dez mulheres e elevado número de cabeças de gado.
E se a sua posição foi sempre a favor dos portugueses, a partir desse momento declarou guerra sem quartel aos que queriam uma nova ordem e independência. Tinha uma milícia bem organizada, a nível de pelotão permanente em Porto Gole, alguns deles, se eram todos nunca o cheguei a saber, armados com espingardas Mauser fornecidas por Bissau.
Do General Schul recebeu uma G3 e um relógio de pulso de ouro que ostentava com orgulho, assim como o título de "Capitão de Segunda.” Exercia autoridade completa na grande extensão do seu domínio num total estimado de cinco mil balantas, passando julgamentos e veredictos que eram respeitados e aceites sem qualquer discussão. Mais do que uma vez ouvi dizer da vinda de indivíduos que se apresentavam para receber os castigos impostos, por vezes dolorosas reguadas nas palmilhas dos pés aplicadas com uma régua especial que tinha para o efeito.
Não faltava espaço e
lembro que havia mesmo um improvisado campo de futebol que nos ajudava a
esquecer problemas e passar o nosso
tempo
Não me recordo quanto tempo fiquei, mas ao fim da minha primeira estadia tinha já um bom relacionamento pessoal com ele. Vim a saber mais tarde que o mesmo sucedia já antes de eu chegar, a ajudar pelo testemunho deixado neste blogue. No poste P19517 lê-se:
"(i) o Jorge era muito amigo do mítico capitão de 2ª linha, o Abna Na Onça, chefe espiritual, poderoso, da comunidade balanta da região, a quem o PAIGC havia cometido o erro fatal de “matar duas mulheres e roubar centenas de cabeças de gado”;
(ii) o prestígio, a influência e e o carisma do Abna Na Onça eram tão grandes que ele sabia tudo o que se passava numa vasta região que ia de Mansoa a Bambadinca (nomeadamente, importantes informações militares, como a passagem de homens e armas do PAIGC);
(iii) jovem (teria 72/73 anos se fosse vivo, em 2009), era um homem imponente, nos seus 120 kg.
(iv) Schulz tinha-lhe oferecido um relógio de ouro e uma G3 como reconhecimento pelos seus brilhantes serviços;
(v) mais tarde, seria morto, em Bissá, em 15/4/67, com
seis dos seus polícias admin, todos eles residentes em Porto Gole"
Foto nº 6 > Guiné > Região do Oio > Porto Goloe > CCAÇ 1439 (1965/67) > Não me lembro dos nomes: dois sargentos ( do quadro) a meu lado; do lado esquerdo furriel Tony e o filho do encarregado do posto.No lado direito de costas Abna na Onça, um cabo-verdiano, encarregado do posto e sua esposa
Foto nº 7 > Guiné > Região do Oio > Porto Goloe > CCAÇ 1439 (1965/67) > Eu e o Abna na Onça em Porto Gole
Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foi um choque grande para mim quando soube da morte de Abna na Onça. Como havia sucedido com o Alferes Rosales que me precedeu em Porto Gole, também eu tinha já um bom relacionamento, direi amizade com ele.
Pelo que compreendi a estadia de Rosales em Porto Gole era a título permanente; depois de Rosales acabar o seu tempo, Enxalé continuou encarregado de Porto Gole, mas como expliquei atrás, em princípio nós revezavamo.nos cada mês um pelotão à vez e houve durante o nosso tempo três alferes que não eram da CCaç 1439 que vieram para Porto Gole. Na realidade os alferes da CCaç 1439 em Porto Gole eram mais um "tapa buracos” ; mas como estes foram frequentes e longos , estivemos lá bastantes vezes.
Antes de copiar o que consta sobre o primeiro ataque a Porto Gole, em 3 de março de 1966, quero deixar algumas recordações que tenho de Abna na Onça e outras memórias de Porto Gole que acho pertinentes.
Depois do fatídico ataque IN a Porto Gole , durante o qual faleceu o Alferes Maldonado, o Capitão Pires chamou-me; que devido às circunstancias não tinha outra alternativa senão que eu voltasse para Porto Gole com o meu pelotão, até que o Batalhão encontrasse solução definitiva.
Voltei e soube então que o Alferes Maldonado tinha pensado em construir uma pista de aterragem mesmo junto a Porto Gole. Não sei se chegou a falar disso a alguém ou não. O facto é que havia uma grande superfície plana que se propiciava perfeitamente para isso. Eu nunca tinha pensado nisso antes , mas via que era possível e muito útil. O correio que recebíamos em Porto Gole era simplesmente deixado cair duma avioneta e depois recuperado nessa área; e a construção de uma pista de aterragem além de muitas outras vantagens, ajudaria a quebrar o sentido de muito isolamento a que estávamos sujeitos.
Matutei sobre isso muito tempo: para fazer uma pista de aterragem eu ia precisar de ajuda
pois haviam algumas árvores grande que era preciso arrancar e isso ia exigir maquinharia apropriada. E talvez eu devesse
consultar primeiro o Capitão Pires e
mesmo o Batalhão. Mas pensei, se eu lhes falar depois de o terreno já estar
limpo, talvez eles aceitem a idéia com
maior facilidade. Sei que
um dia resolvi falar sobre isso com Abna na Onça, não só porque precisava da
ajuda dele no caso de querer concretizar a idéia , como para o fazer sentir que
respeitava a sua autoridade; ao fim e ao cabo
ele era o Régulo da região.
Se ele já sabia da idéia não me disse, mas mostrou-se entusiasmado. Perguntei-lhe o que pensava, decidido a falar depois com o capitão Pires para alguma ajuda. Eu pensava que ele ia dizer que pelo menos seria preciso dar de comer a quem quer que viesse trabalhar na capinagem da extensa superfície. Mas não era o caso. Que Porto Gole era uma terra muito importante e com um campo de aviação ia ser mais importante ainda. Que eu arranjasse maneira de dar água para beber aos homens e que o resto era com ele. Perguntei-lhe então e ele disse logo que sim à minha idéia de pôr um jeep com um bidão a acartar água da povoação para o local. E à minha sugestão de enviar uma secção de soldados para fazer segurança, ele respondeu categoricamente que não. Que eu estivesse descansado que se o IN viesse atacar ele ia saber antes disso acontecer.
No dia combinado, que foi três dias depois, quando fui ao local já aí estavam umas dezenas de homens. à espera e continuaram a aparecer mais e mais… Quando o capitão Abna na Onça apareceu havia uma multidão que eu avaliei em cerca de duzentos a trezentos homens, todos com catanas.
No momento em que ele falou fez-se um silêncio total, mas mal ele acabou de falar foi um sussurro geral, parece que todos falaram ao mesmo tempo. Eu não soube o que disse , mas o resultado foi formarem imediatamente uma linha numa extensão enorme e a descapinagem e o corte de tudo o que era arbusto e árvores de pequeno porte começou. Eu só ouvia um murmúrio aqui e ali e a voz forte de Abna na Onça : Kuá , Kuá, Kuá… que ainda hoje não sei o que quer dizer, mas o que quer que fosse era um poderoso motivador. Nos dois dias seguinte foi a mesma coisa e o campo ficou a secar. Passados algum tempo o meu pelotão voltou a Enxalé sem termos feito mais nada no terreno.
Pelo que soube ainda recentemente, durante bastante tempo não sucedeu
nada no respeitante ao campo de aterragem.
Mais tarde houve “reorganização
militar do terreno" e Porto Gole deixou de ser dependente
de Enxalé, passando a ser a sede duma companhia e Enxalé passou a depender de Xime. Deve ter sido nesta altura que houve novos
trabalhos de preparação do terreno, pois algum tempo depois houve uma “Dornier”
que fez uma aterragem de emergência
nesta pista e depois conseguiu levantar
de novo e prosseguir voo.
(Continua)
_________
Nota do editor:
Último poste da série > 18 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22210: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte VIII: A partir de outubro de 1965, em Enxalé e seus destacamentos, Porto Gole e Missirásábado, 8 de maio de 2021
Guiné 61/74 - P22181: Os nossos capelães (16): Arsénio Puim, vítima da ira de César por mor de Deus e da sua consciência de cristão e português (Luís Graça, "O Baluarte de Santa Maria", maio de 2021)
Caro Luís
Espero que se encontrem bem e de saúde.
Volto ao contacto dado que “O Baluarte”, jornal da Ilha de Santa Maria, de onde o meu pai é natural, irá efetuar uma edição onde reunirá vários artigos em sua homenagem.
Como se recordará, enviou-me no ano passado o seu simpático testemunho sobre o meu pai (*). Gostaria de incluir nesta edição d’ “O Baluarte” o seu artigo de forma a cobrir a vertente de capelão militar e opositor ao Estado Novo e à guerra colonial.
Entendo que o seu excelente testemunho do ano passado não requereria grande atualização, não fosse o limite dos artigos a publicar, que no caso é de 5.000 caracteres com espaços (atualmente o texto tem mais de 24.000 caracteres). Antecipando que posso contar com a sua participação, vinha assim pedir que me enviasse o seu artigo atualizado, cumprindo com esta dimensão.
Uma nota para referir que, dado que a publicação já não se encontra associada ao aniversário, estas referências seriam de excluir.
Pode confirmar se posso contar com o seu artigo e se me poderá enviar este artigo até 6 de abril?
Terei todo o gosto em fazer chegar o conjunto dos artigos que serão publicados para que possa juntar ao blogue, se assim entender.
Um abraço
Miguel Puim
Arsénio Puim, vítima da ira de César por mor de Deus e da sua consciência de cristã e português (**)
Conheci o Arsénio Puim como capelão militar, no leste da Guiné, em Bambadinca em meados de 1970, em plena guerra do ultramar ou guerra colonial (como se queira).
Mas a imagem que eu sempre guardei dele era a da serenidade, reflectindo a sua maneira de ser e estar, como homem e açoriano, a par da sua coragem e o seu amor à liberdade, à verdade e à justiça Devo , todavia, dizer que não éramos íntimos: eu não ia sequer à missa e, portanto, não posso falar das suas célebres homilias da paz, mal recebidas pelo poder político-militar. Conheci-o melhor, isso sim, quando lhe editei a série “Memórias de um alferes capelão”, publicada no nosso blogue. E que é um notável documento humano e literário.
O alferes miliciano capelão Puim era o mais civil, o mais paisano, de todos nós. Nunca o vi armado (, recusou a G3 que lhe foi distribuída), nas colunas logísticas, quando se deslocava, com frequência, entre a sede do batalhão, em Bambadinca, e os diferentes aquartelamentos e destamentos do sector (Xime, Enxalé, Missirá, Mansambo, Xitole, Ponte dos Fulas)… Ou quando se deslocava a Bafatá onde confraternizava com os missionários italianos do PIME (o Pontifício Instituto para as Missões Exteriores).
Confirmei, em 2009, essa impressão inicial: continuava a ser um homem calmo, sereno, sábio, sem uma única ruga de rancor ou amargura, muito menos, ódio. Não posso, em rigor, testemunhar da importância do seu papel na assistência religiosa e no apoio psicológico, moral e espiritual aos militares do setor L1 (Bambadinca). Sei que esse papel foi-lhe requerido em momentos difíceis do batalhão como, por exemplo, no subsetor do Xime, onde perdemos 6 camaradas, e 9 foram gravemente feridos, em 26 de novembro de 1970. O Puim ajudou os camaradas do Xime, da CART 2715, a fazer o luto.
Sei que era uma pessoa querida entre os homens do batalhão e subunidades adidas (como era o caso da minha africana CCAÇ 12), com uma presença discreta mas frequente nos quartéis do mato, pautando sempre o seu comportamento por um padrão de isenção, frugalidade, imparcialidade, austeridade e até de pudor.
Foi a sua discreta mas firme intervenção a favor de um grupo de prisioneiros, população civil, incluindo velhos, mulheres e crianças, que viviam sob controlo do PAIGC (, em condições miseráveis, diga-se em abono da verdade, esfarrapados, doentes, subnutridos), que lhe terá valido a ira de César contra os desígnios de Deus.
O Puim, inteirado da situação de injustiça, condoeu-se daquela gente e começou a visitá-los. Levava leite às crianças. E protestou. Era, de resto, um homem que não se calava, como não se calou noutras situações que feriam a sua consciência de cristão, homem e português.
Numa das suas homilias, num domingo de Abril de 1971, o Puim abordou este tema, doloroso, para ele... O tratamento dos prisioneiros nem sequer estava de acordo com a política, superiormente definida por Spínola, e consubstanciada no slogan “Por uma Guiné Melhor”... Terá sido a partir daqui que ele foi denunciado, e que em Maio de 1971 surge uma famigerada "ordem de Bissau" para ele se apresentar no "Vaticano" (as instalações dos capelães militares em Bissau)... O Puim tinha, pois, razão para se considerar duplamente maltratado pela instituição militar e pela hierarquia religiosa.
Mais do que falar, o Puim sabia ver, observar e ouvir como ninguém. E tinha uma grande curiosidade pela cultura da Guiné, incluindo o(s) seu(s) crioulo(s). Tinha, além disso, um espírito ecuménico, tendo participado inclusive em cerimónias religiosas, com outras confissões, em que se orou pela paz.
Deixem-me acabar o meu depoimento com o meu aplauso a este antigo capelão militar (para além de meu camarada e depois amigo): ele merece todo o apreço por, no cumprimento da sua missão castrense e espiritual, nunca ter descurado as suas obrigações como pastor da Igreja de Cristo... mas também como português.
O que eu quero sublinhar é a sua atenção, solicitude, disponibilidade, carinho, amor, solidariedade, caridade e compaixão para com os mais indefesos, as mulheres, as crianças, os homens, os velhos da população civil, independentemente da cor da pele, da religião, da etnia, da origem, do partido...
A grande diferença em relação a nós, militares, operacionais ou não, mais novos do que ele, é que o Puim ganhava-nos em maturidade humana, em sensibilidade sociocultural, em abertura ao outro, em generosidade mas também em frontalidade e coragem moral... Ele convivia com a população, e escrevia no seu caderninho notas sobre esses contactos... O famoso caderninho que lhe seria mais tarde confiscado e só devolvido a seguir ao 25 de Abril…e que deveria ser passado a livro! (***)
(*) Vd. postes de:
9 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20957: (In)citações (160): Homenagem ao ex-alf mil capelão, Arsénio Puim, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), no seu 84º aniversário - Parte VI (a): Muita saúde e longa vida, Arsénio Puim, porque tu mereces tudo! (Luís Graça)
11 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20962: (In)citações (161): Homenagem ao ex-alf mil capelão, Arsénio Puim, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), no seu 84º aniversário - Parte VI (b): Muita saúde e longa vida, Arsénio Puim, porque tu mereces tudo! (Luís Graça)
Para o único santo que conheci em Bambadinca
o nosso bom amigo e camarada Puim
Arsénio Puim, camarada, parabéns,
Por mais um aninho de vida, pá,
E oxalá, enxalé, inshallah!,
Seja a saúde o melhor dos teus bens.
Só nos serve p’ra sermos livres e felizes,
Enquanto andamos cá por esta terra,
Com lembranças de uma antiga guerra,
Em que do mal fomos maus aprendizes.
Ah!, já não és mais o bom ‘padre-capilon’,
Em Bambadinca, cova do lagarto,
E dos ‘cães grandes’ ficaste bem farto,
Nunca auguraram nada de bom.
Da Guiné, a todos nós, a ti e a mim,
Uma certa memória nos ficou,
Sítios onde Cristo nunca parou,
E outros qu’ amaste, meu santo Puim.
Nhabijões, Samba Silate, Mero ou Xime,
São geografias, são emoções,
Não há rancor nos nossos corações,
Mesmo sabendo que toda a guerra é crime.
Enterraste os mortos, e dos vivos cuidaste,
Ajudaste-nos a fazer o luto,
Exorcizaste o mal absoluto,
Mas sabemos o preço que pagaste.
Têm um preço a justiça e a liberdade,
Que nem todos nós queremos pagar,
Teu bom exemplo é de recordar,
P’la camaradagem e amizade.
Luís Graça, na Lourinhã,
na ponta mais acidental do continente europeu,
(,aqui donde se ia a Nova Iorque a pé,
há 150 milhões de anos,)
e hoje confinado, na sequência da pandemia de COVID-19
(de que Deus nos livre!),
8/5/2020
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Guiné 61/74 - P21949: Op Mabecos Bravios: a versão da CECA e do ex-cap inf José Aparício, comandante da infortunada CCAÇ 1790, a última companhia de Madina do Boé
Guiné > Região de Gabu > Carta de Jábia (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Ché Ché, na margem esquerda do Rio Corubal.
CArt 2440,
Pel Sap / BCaç 2835
Foi accionada mina A/C no cruzamento de Beli, sem consequências; e foram detectadas e destruídas 2 minas A/C entre Ché Che e Canjadude. Durante a operação, Madina foi flagelada 4 vezes sem consequências.
No regresso, na travessia do rio Corubal, um acidente com a jangada que transportava forças de segurança da retaguarda provocou a morte de 47 militares das NT (2 sargentos, 43 praças e 2 Milícias).
Guiné > Região de Gabu > Madina do Boé > CCaç 1790 > 5 [?] de fevereiro de 1969 > Missa celebrada pelo Bispo de Madarsuma e Capelão-Mor das Forças Armadas, Brig António Reis Rodrigues (1918-2009) (e também procurador à Câmara Corporativa, na VIII Legislatura, 1961/65, como representante da Igreja Católica).
Foto: Cortesia de CECA (2014), p. 353. (Com a devida vénia)
NOTA: Acidente no rio Corubal em 6 [e não 8] de Fevereiro de 1969 - Dados fornecidos pelo Tenente-Coronel José Ponces de Carvalho Aparício, à época Cmdt da CCaç 1790 aquartelada em Madina do Boé.
"Na Guiné-Bissau nos anos 60 a travessia do Rio Corubal para a região do Boé era feita, como hoje, junto à povoação do Ché Che onde durante a guerra se encontrava ali em permanência uma força militar de um pelotão de infantaria, reforçado com uma secção de morteiros de 81 mm.
Esta travessia era então obrigatória para a rendição das forças militares portugueses estacionadas em Madina do Boé e Beli, e ainda para o reabastecimento daquelas forças que na época das chuvas (cerca de 6 meses) ficavam completamente isoladas.
Por isso, durante a época seca realizavam-se normalmente 2 colunas por mês, cada uma escoltada por uma companhia reforçada com um pelotão de autometralhadoras "Fox" ou "Daimler" e com protecção aérea permanente.
Cada coluna era constituída por um elevado número de viaturas, cerca de 20 a 30, carregadas com munições e reabastecimentos.
A travessia do rio Corubal era então feita por uma jangada constituída por uma plataforma sobre 2 canoas; um longo cabo ligando 2 pontos fixos instalados em cada margem corria numa roldana instalada na plataforma; a impulsão necessária para mover a jangada era dada pela força braçal dos militares puxando manualmente o cabo.
Em Fevereiro de 1969 após a decisão do Comando-Chefe da Guiné de abandonar todo o Boé [, Directivas n° 1/68 de 1 Jun, 20/68 de 25 Jul e 59/68 de 26 Dez do Cmdt-Chefe] - sendo que Beli já tinha sido abandonado meses antes retirando para Madina do Boé todas as forças ali estacionadas - foi desencadeada a operação "Mabecos Bravios" sob o comando do agrupamento n" 2957 [, cmdt: cor inf Hélio Felgas].
A esquadra de helicópteros simulou durante a tarde lançamento de forças nas colinas de Madina para tentar evitar as habituais flagelações por morteiros e canhões sem recuo.
Durante toda a noite desse dia as viaturas foram carregadas com as toneladas de munições, armamento pesado, e todo o equipamento e material aproveitável ali existente; na manhã de 5 [, e não 7,] de Fevereiro iniciou-se o movimento para o Ché Che, onde a coluna chegou no final da tarde desse dia.
Para a realização da operação de evacuação do Boé, foi construída uma jangada nova, maior que a anterior, com um estrado sobre 3 canoas.
Nas travessias do rio durante a noite, com as viaturas foram também indo passando secções dos militares empenhados.
Chegados à margem direita, ao proceder-se à contagem constatou-se a falta de 47 militares das duas Companhias.
O Comandante da Operação {, cor inf Hélio Felgas,] não permitiu que as duas Companhias [, CCAÇ 1790 e CCAÇ 2405] permanecessem no Ché Che para tentarem recuperar o maior número de corpos possíveis, seguindo por isso logo para Nova Lamego.
O acidente em causa deu origem de imediato a um Auto de Corpo de Delito, e a longas e complexas averiguações, incluindo todos os aspectos da operação, que em 1970 terminaram em julgamento em Lisboa no 3.° Tribunal Militar Territorial, que durou várias sessões e que terminou com a absolvição do único réu, o alferes miliciano comandante do Destacamento estacionado no Ché Che [, pertencente à CART 2338, Fá Mandinga, Nova Lamego, Canjadude, Buruntuma, Pirada, 1968/69] ".
Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro I (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014), pp. 353-355.
1 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - 21724: Op Mabecos Bravios: a participação da CCAÇ 2403, na retirada de Madina do Boé, em 6 de fevereiro de 1969 (Hilário Peixeiro, cor inf ref)
6 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19476: Recortes de imprensa (101): o desastre do Cheche, no rio Corubal, ocorrido na manhã de 6/2/1969 (Diário de Lisboa, 8 de fevereiro de 1969, p. 1)
13 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11837: Op Mabecos Bravios (1-8 de fevereiro de 1969): a retirada de Madina do Boé, com o trágico desastre no Cheche, na travessia do Rio Corubal, foi há 44 anos (1): Relato do cmdt da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Galomaro e Dulombi, 1968/70)
terça-feira, 22 de dezembro de 2020
Guiné 61/74 - P21677: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (22): Natal Santo que a todos nos abraça... (João Afonso Bento Soares, maj gen ref)
Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (1969/71) > 1969 > O cap eng trms, STM, Bento Soares, à direita, à civil, com o alf graduado capelão José Torres Neves. São conterrâneos, ambos naturais de Meimoa, Penamacor.
Foto (e legenda): © João Afonso Bento Soares (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Mensagem de João Afonso Bento Soares ex-capitão eng trms, STM / QG / CTIG (1968/70), hoje maj gen ref, nosso grã-tabanqueiro nº 785]
Data: domingo, 20/12/2020 à(s) 18:18
Assunto: Boas Festas e Pergunta
Caro Amigo Luís Graça:
1 - Acabo de ler o último mail da Nossa Tabanca, com muitos votos de Boas Festas para todos nós, aos quais gostosamente me associo, retribuindo para todos os companheiros e suas Famílias, com uns meus dizeres de modesto bardo, alusivos à sempre linda Quadra que atravessamos (abaixo e em anexo):
Natal Santo que a todos nos abraça
É festa da Família em união,
É onda de amor que nos trespassa
Deixando ver no outro, um nosso irmão.
É o sol quente beijando a vidraça,
É calor da lareira, é tição,
É como vinho, despejada a taça,
Que enrija a alma, adoça o coração.
Por mais anos que viva lembrarei
O encanto que tem a Consoada,
A mesa posta, o lume, o sentimento…
Oh! Deus Menino – também Cristo Rei:
Contigo aqui estamos, de mão dada,
Fruindo a Graça do Teu Nascimento.
João Afonso
2. Aproveitava esta ocasião para lhe pedir o envio, caso seja possível, do e-mail do co-tabanqueiro Ernestino Caniço que vejo referido no mail.
Isto peço, porque queria contactá-lo para o estimular a produzir o apontamento (para o que se terá prontificado a fazer) alusivo ao Pe Capelão José Torres Neves.
O meu interesse deriva do facto de ele ser meu conterrâneo (aldeia de Meimoa) e eu, enquanto Capitão Comandante do STM - Guiné, o ter visitado em Mansoa, num fim de semana em 1969- ver foto anexa com ele, estando eu à paisana.
O forte e sempre mui amigo abraço
Maj Gen João Afonso Bento Soares
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Nota do editor:Último poste da série > 22 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21676: Boas Festas 2020/21 (21): "A Covid/19, a tecnologia e o Natal"; poema de Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721
segunda-feira, 7 de dezembro de 2020
Guiné 61/74 - P21617: Os nossos capelães (15): Fiz uma vez uma operação, em que ia o capelão, que pelas vestes me parecia franciscano... Era gorducho e baixinho... Seria o Pe. António Paulo Frade, o capelão do BCAÇ 1888 (Bambadinca, 1966/68)? (José António Viegas, ex-Fur Mil, Pel Caç Nat 54, Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68
1. Mensagem do nosso camarada José António Viegas, ex-fur mil do Pel Caç Nat 54 (Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68).
Date: sábado, 5/12/2020 à(s) 22:15
Subject: Padres Franciscanos
2. Comentário do editor LG:
Unidade Mob: RI I - Amadora
Cmdt: TCor Inf Adriano Carlos de Aguiar
2.° Cmdt: Maj Inf Artur Miguel Agrely Rebelo
OInfOp/Adj: Não identificado
Cmdts Comp:
CCS: Cap SGE Manuel Pereira Pimenta de Castro
CCaç 1549: Cap Mil lnf José Luís Adrião de Castro Brito
CCaç 1550: Cap Mil Inf Agostinho Duarte Belo
CCaç 1551: Cap Mil Inf Francisco Silva Pinto Pereira
Divisa: "Vendo, Tratando e Pelejando"
Regresso: Embarque em 17Jan68
Em 26Abr66, rendendo o BCaç 697, assumiu a responsabilidade do Sector L I, com sede em Fá Mandinga e a partir de 14Nov66, em Bambadinca, e abrangendo os subsectores de Xitolc, Xime, Bambadinca e Enxalé, este até 1Jul67 e retirado ao sector por alteração dos limites.
Dentre o armamento capturado mais significativo, salienta-se: 1 metralhadora pesada, 2 metralhadoras ligeiras, 70 espingardas, I lança-granadas foguete, 4 minas, 28 granadas de armas pesadas e 3000 munições de armas ligeiras.
Duas das suas companhias estiveram em (ou passaram por) o Sector L1: a CCAÇ 1550 e a CCAÇ 1551
A CCaç 1551, seguiu imediatamente para Bambadinca, a fim de substituir a CCav 678 e assumir a responsabilidade do respectivo subsector e, cumulativamente, a função de subunidade de intervenção e reserva do sector, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão. Por períodos variáveis, destacou efectivos para guarnecer destacamentos em Amedalai, Taibatá e Candamã, tendo em 14Nov66 transferido a sua sede para Fá Mandinga.
Em 27Jan67, por troca com a CCaç 818, assumiu a responsabilidade do subsector de Xitole, com um pelotão destacado em Saltinho, mantendo-se no mesmo sector. Destacou ainda efectivos para guarnecer os destacamentos em Cansamange, Quirafo e Ponte do rio Pulom, por períodos curtos. A partir de princípios de Jun67, passou a ter um pelotão destacado em Mansambo.
Tem História da Unidade incompleta (Caixa n." 72 - 2: Div/d." Sec., do AHM).
Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pp. 85/87.