domingo, 19 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8448: Blogoterapia (182): A primeira vez! - Em Monte Real (Carlos Pinheiro)


1. Mensagem do nosso camarada Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro* (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 17 de Junho de 2011, estreante nos Encontros da Tabanca Grande:

Caro Carlos Vinhal
Anexo um pequeno artigo sobre o nosso Encontro de Monte Real.

Um abraço
Carlos Pinheiro





Carlos Pinheiro, à direita da foto, durante o VI Encontro da Tabanca, no dia 4 de Junho de 2011, no Palace Hotel de Monte Real, acompanhado por José Martins, ao centro, e Sucena Rodrigues à esquerda.


A primeira vez!

Há sempre uma primeira vez em tudo na vida.
E a primeira vez que tive a honra, o prazer e o privilégio de participar num Encontro da Tabanca Grande foi no passado dia 4 de Junho em Monte Real. Foi de facto um dia grande na Tabanca Grande.

Se os baptismos fizessem parte do cerimonial, teria que passar a chamar padrinho, na melhor acepção da palavra, ao meu grande amigo António Sampaio. Foi ele o grande “responsável” por eu ter conseguido quebrar os receios, os medos, de um encontro onde não conhecia a maior parte dos camaradas de armas. Mas o António Duarte também foi um dos “culpados”.
Por isso um agradecimento muito especial a estes dois amigos de longa data e que um dia reconhecemos que afinal de contas todos tínhamos bebido “manga” de água da “bolanha”, naquelas terras quentes e húmidas da Guiné.


Mas o Carlos Vinhal e o Luís Graça, com quem eu já me tinha correspondido através do blogue, também merecem uma palavra de agradecimento por tudo o que têm feito pelo pessoal ao longo de muitos anos, mantendo-se assim vivo o espírito de camaradagem que, apesar dos anos passados, se mantém inalterado.

Para o Mexia Alves, Grão-mestre da arte de bem receber, uma palavra de agradecimento e outra de estimulo pelo muito que tem feito e pelo muito mais que ainda continuará a fazer, especialmente em tudo o que diga respeito a logística, abastecimentos e ainda na vertente sociocultural que também é importante nestes convívios recordatórios e de que ele também é um extraordinário executante do fado, canção nacional, quando as guitarras começam a trinar.
De facto, o dia 4 de Junho foi um dia diferente, um dia bem passado entre pessoas que tinham e têm algo em comum, pelo facto de todos terem estado envolvidos directamente na Guerra Colonial ou do Ultramar, como lhe queiram chamar.

Viva o Encontro de 2011.
Que venha o Encontro de 2012.

Carlos Pinheiro
17.06.11
____________

Notas de CV:

Vd. poste de 15 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8421: Monte Real, 4 de Junho de 2011: O nosso VI Encontro, manga de ronco (9): Os apanhados pela objectiva do Manuel Resende (Parte II)

Vd. último poste da série de 1 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8360: Blogoterapia (181): Apesar da idade, continuamos a realizar os nossos Encontros e ainda nos comovemos (Ernesto Duarte)

Guiné 63/74 - P8447: Agenda Cultural (137): A propósito do lançamento da Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial, no dia 15 de Junho de 2011 no Auditório CIUL, Lisboa (José Brás)



1. Mensagem do nosso camarada José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 16 de Junho de 2011:
(continuação)

Lateralmente, devo dizer que não assisti à sessão de apresentação da Antologia, numa postura pessoal talvez exagerada mas fincada nesse dito popular "quem não se sente, não é filho de boa gente", sendo certo que já não tenho idade para engolir sapos destes.

Eu explico.

Em tempo apropriado foi-me solicitada autorização para inclusão na Antologia**, de um texto meu identificado então. Respondi que sim mas que o texto estava incompleto e seccionado, sugerindo que tal autorização estava garantida para o texto completo que sabia que a Dr.ª Margarida tinha com ela mas que juntei na altura.
Mais tarde responderam-me que si, que fazia sentido inteiro e que a sugestão havia sido acolhida.

Ontem, adquirido um exemplar, depois de me sentar para participar na sessão, constatei que, afinal, o que ali estava era a primeira opção e não o que havia sido acordado. Senti com se numa guerra qualquer me tivessem seccionado abaixo do pescoço e acima da anca e me deixasse a caminhar assim com o vazio do meio.

Naturalmente que entendo que para além da formação científica e da habilidade para construir uma Antologia como esta, é necessário também uma outra que diz respeito à construção literária e, mesmo ao gosto de cada um. Mas creio igualmente que também faz falta outra coisa que é o respeito pela propriedade que cada autor mantém sobre o que pinta, o que escreve, o que diz, no fundo, pelas várias vias da comunicação e da arte.

Admito mesmo que poderá ter ocorrido um erro qualquer que terá levado ao resultado que me desgosta. Contudo, na posse do organizador da Antologia estava o texto integral e um razoável número de outros textos sobre a mesma matéria e de minha autoria.

Como dizia o cónego, "não habia nexexidade", saí antes que começasse a sessão.

E para que o blogue avalie se exagerei ou não, segue-se o texto completo e o outro que foi publicado.

tinhas no olhar
sinais seguros de esperança
quando
numa quente segunda-feira
de verão
em 64
eles vieram à vila
tomar-te o peso
o pulso
a medida do peito
o sonho
o sonho não
à tarde
quando partiram
a tua ficha dizia apenas
João
20 anos
apto para todo o serviço


tinhas na boca
uma leve aragem de troça
e nos olhos
sinais seguros de esperança
quando
numa suave manhã
de maio
em 65
passada a porta d’armas
os muros do regimento
pretenderam
separar-te
do aroma dos pinhais

e o aroma dos pinhais
ardia em ti
nas noites
de Maio de Junho e de Julho
quando
após o “cross”
a ordem unida
a instrução da “mauser”
e da “guerra subversiva”
o sonho retomava o seu lugar
subvertendo o cansaço
a raiva
e a ordem das coisas

nas Caldas da Rainha
os pinhais
tinham o mesmo aroma
dos pinhais da tua terra
e o cansaço
a esperança
e a raiva
subiriam contigo ao “Niassa”
numa gelada manhã
de Novembro
em 66
no Cais da Rocha

os compêndios
de instrução militar
diziam
que na Guiné
não havia pinhais
queriam convencer-te
que na Guiné
o sonho morrera
e tu sabias da gente
sonhando a liberdade
de armas na mão
na escola da guerrilha
nas clareiras abertas
“p’lo napalm”

a mata da Guiné
seria o caminho
da tua liberdade
ouviras dizer
que nenhum homem
é livre
enquanto oprime outro homem
e concluíras
que
na mata da Guiné
como nos pinhais da tua terra
o sonho e a luta
libertavam
o homem

tinhas
nos olhos
sinais seguros
de esperança
e o sonho
retomava o seu lugar
subvertendo o cansaço
a raiva
e a frieza da “G3”
quando
deixaste o quartel
na direcção de Guileje
a caminho do “corredor”
onde a liberdade se ganhava
e se perdia
em cada passo em frente
em cada morte

tinhas no olhar
sinais seguros
de esperança
e na tua frente
a mata
densa
da Guiné
confundia-se
com os pinhais da tua terra
quando
a mina
te rasgou o peito
no corredor
perto do destacamento
da Xamarra

************

tinhas no olhar
sinais seguros de esperança
quando
numa quente segunda-feira
de verão
em 64
eles vieram à vila
tomar-te o peso
o pulso
a medida do peito
o sonho
o sonho não
à tarde
quando partiram
a tua ficha dizia apenas
João
20 anos
apto para todo o serviço

tinhas no olhar
sinais seguros
de esperança
e na tua frente
a mata
densa
da Guiné
confundia-se
com os pinhais da tua terra
quando
a mina
te rasgou o peito
no corredor
perto do destacamento
da Cambajate


Nota:
Quero dizer-te ainda que o que digo sobre o Colóquio, e sobretudo sobre a minha reacção ao "erro" no texto que havia acordado, não coloca em causa a minha apreciação pessoal sobre a importância do Colóquio, da organização e edição da Antologia e do valioso trabalho da Dr.ª Margarida Calafate sobre a temática das memórias da Guerra Colonial.

Penso mesmo que lhe devemos todos um voto de agradecimento pela sua contribuição para que sejam preservados relatos, estudos e investigações, colecção de testemunhos e análises deste caldo que nos envolve a todos, ex-combatentes pela via da emoção desatada na memórias dessa parte das nossas vidas, filhos e famílias de ex-combatentes que sofreram de modo diverso o nosso envolvimento, artistas que em algum tempo elegeram o tema como justificação dos seus trabalhos, investigadores armados de método ou simples observadores da guerra e das suas consequências então e hoje.

Grande abraço
José Brás
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8443: Agenda cultural (136): Colóquio/Debate OS FILHOS DA GUERRA COLONIAL - Pós-memória e Representações, ocorrido nos dias 14 e 15 de Junho de 2011 no Auditório do CIUL; CES - Lisboa (José Brás)

(**) Vd. poste de Guiné 63/74 - P8406: Agenda Cultural (131): Lançamento do livro Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial, dia 15 de Junho de 2011, pelas 19 horas, no Auditório CIUL / Forum Picoas Plaza, Lisboa (José Brás)

Guiné 63/74 - P8446: Convívios (355): 12º Encontro da Tabanca do Centro, 29 de Junho (Joaquim Mexia Alves)


1. O nosso camarada Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, solicitou-nos a divulgação do próximo encontro da Tabanca do Centro:

12º Encontro da Tabanca do Centro

Postal da autoria do Miguel Pessoa feito já há uns tempos atrás

O 12º ENCONTRO DA TABANCA DO CENTRO, terá lugar no dia 29 de Junho, pelas 13.30 horas, na Pensão Montanha, em Monte Real, como sempre.


Escolhemos para este dia, uma ementa diferente, e portanto iremos comer um belíssimo Cozido à Portuguesa!O local de reunião, será no Café Central de Monte Real, pelas 13 horas.



As inscrições devem ser feitas até às 12 horas e 30 minutos do dia 27 de Junho aqui na caixa de comentários, ou por tabanca.centro@gmail.com, impreterivelmente.
_________
Nota de M.R.:


Guiné 63/74 - P8445: Parabéns a você (274): Tertuliano e amigo Leopoldo Amado, Historiador natural da Guiné-Bissau (Tertúlia / Editores)


PARABÉNS A VOCÊ

DIA 19 DE JUNHO DE 2011

LEOPOLDO AMADO

NESTE DIA DE FESTA, 

A TERTÚLIA E OS EDITORES DO BLOGUE LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ, 

VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR 

AO NOSSO AMIGO LEOPOLDO AMADO, HISTORIADOR GUINEENSE, 

AS MAIORES FELICIDADES 

E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE E MUITOS ÊXITOS, 

JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.
____________

Notas de CV:

Leopoldo Amado é Doutorado em História Contemporânea pela Universidade Clássica de Lisboa (Faculdade Letras de Lisboa), sob a temática “Guerra Colonial da Guiné versus Luta de libertação Nacional (1961 – 1974)".

Vd. último poste da série de 17 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8431: Parabéns a você (273): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872 (Tertúlia / Editores)

sábado, 18 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8444: In Memoriam (83): CART 6250/72 - Unidos de Mampatá - Unidos pela vida e pela morte (José Teixeira / José Manuel Lopes)

1. Mensagem de José Teixeira* (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 17 de Junho de 2011:

Caros editores.
Recebi do Zé Manel Lopes o texto que se segue para colocar no blogue da Tabanca de Matosinhos.
Pelo valor afectivo e de camaradagem que encerra, creio que deve ser dado a conhecer ao maior número de antigos combatentes que for possível.
Pedi autorização ao Zé para o colocar no blogue da Tabanca Grande, onde todos cabemos, mesmo os que já partiram.
Abraço fraterno
Zé Teixeira


CART 6250/72 "OS UNIDOS DE MAMPATÁ" UNIDOS PELA VIDA E PELA MORTE

O Napoleão, foi um soldado da nossa Companhia "Os Unidos", pessoa afável, sempre com um sorriso, duma simpatia contagiante e duma simplicidade, que só os grandes homens têm. Apesar de no mundo de hoje isso passar quase despercebido à maioria.

Em 2009, o XXXV Encontro, foi em casa do Carvalho, o nosso furriel "Dotô", e foi o último encontro com o nosso camarada Napoleão.
Apesar de já estar gravemente doente. Mas pela sua maneira de ser não o deixou transparecer, o seu sorriso não foi apagado pelo mal que o consumia.

No ano seguinte, fomos até Paços de Ferreira e aí, pela primeira vez, o nosso Napoleão faltou…
Em seu lugar vieram a Filha e Esposa, mas traziam uma mensagem, de coragem e solidariedade. Mesmo de amor. Um postal com a foto do Napoleão com esta frase:



A verdadeira coragem,
Está na nobreza dos gestos e pensamentos.
A tua mensagem num momento tão difícil,
Foi um hino à amizade,
E caiu bem fundo dentro de nós.
Naquelas picadas nunca caminhávamos sós,
O nosso olhar guardava aquele que nos precedia,
E as nossas costas protegidas,
Pelo camarada que ia mais atrás.
Assim…
Nasceram amizades que não têm fim.
Todos nós da Companhia dos UNIDOS,
Estamos orgulhosos por te termos tido,
como camarada e amigo.
Obrigado Napoleão.

Zé Manel

************

A nossa Companhia vai este ano realizar o seu 37º. encontro em Santo Tirso, como sempre num local escolhido pelos organizadores, que tanto pode ser a sua casa se para isso houver condições, ou num Parque, Junta de Freguesia ou Associação. E onde cada família leva o seu almoço ou petisco e onde todos podem picar. Quem aparecer sem ementa não fica em jejum podem ter a certeza.

Este ano os camaradas Manuel Campos 937 435 845 e Joaquim Rodrigues 962 312 755 escolheram a Associação de Solidariedade Humanitária de Monte Córdova para o efeito, no dia 9 de Julho de 2011

Este ano é tempo de sermos nós a homenagear o nosso amigo Napoleão.

ATÉ SEMPRE NAPOLEÃO.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8371: In Memoriam (82): Fotos de Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho Supico Pinto, antiga Presidente do Movimento Nacional Feminino (Mário Fitas)

Guiné 63/74 - P8443: Agenda cultural (136): Colóquio/Debate OS FILHOS DA GUERRA COLONIAL - Pós-memória e Representações, ocorrido nos dias 14 e 15 de Junho de 2011 no Auditório do CIUL; CES - Lisboa (José Brás)



1. Mensagem do nosso camarada José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 16 de Junho de 2011:

Caríssimo Luís
Aqui estou, dando cumprimento à tua solicitação para que escrevesse alguma coisa sobre o Colóquio/Debate OS FILHOS DA GUERRA COLONIAL - Pós-memória e Representações**, organizado pelo CES -Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, sob a direcção da investigadora Dr.ª Margarida Calafate Ribeiro e que decorreu a 14 e 15 deste mês em instalações no Fórum Picoas-Plaza, e encerrou com a apresentação de uma Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial -Afrontamento.

Esclareço, entretanto, que apenas poderei falar sobre o decurso do programa nas duas tardes, em virtude de impossibilidades pessoais na participação nas manhãs desses dois dias, e, ainda assim, muito genericamente porque, não tendo sido a Tabanca Grande vista nem achada na previsão e nos convites para a participação, não me ficaria muito bem, acho, alongar-me em considerações sobre as intervenções que aconteceram nas várias "mesas" em que se dividiu o debate, correndo sempre o risco de alguma parcialidade naquilo que direi, como participante, individualmente e em última análise convidado.

Assim, no início da tarde de 14, decorreu na sessão 2, um debate sob o título Pós-memória da Guerra Colonial, tendo como moderador António Sousa Ribeiro (CES), Paula Ribeiro Lobo (Universidade Nova de Lisboa), Hélia Santos (CES) e Margarida Calafate Ribeiro (CES).

Desta parte destaco a intervenção de Hélia Santos que sintetizou a abordagem ao tema pela tentativa de uma dupla visão, por um lado a dos filhos dos que fizeram a guerra, e por outro lado, a dos filhos dos que a recusaram.

Evidentemente, tal tema seria só por si o carro mestre de um comboio de ideias, de emoções e de palavras, tal é a fractura que para o bem e para o mal, está ainda presente em quem aceitou o embarque e quem, por acaso ou por fuga, faltou no Cais da Rocha.

E foi isso mesmo que, na hora de passar a palavra à assistência, eu próprio tentei dizer, tendo como quase certo que, se da parte dos que recusaram a guerra poderemos encontrar muitos e variados motivos, desde a sua recusa, pura e simples, por imperativo de consciência moral e recusa de qualquer tipo de violência, ou por discordância completa com o regime que tinha aceitado a guerra, até ao oportunismo puro dos que apenas temiam pela sua vida, concordando ou não e apoiando ou não o regime, também da parte dos que a fizeram, a aceitaram por motivos igualmente numerosos, muito diferenciados e até opostos.

Na verdade, a grande maioria dos militares de baixa patente que embarcaram, o fez numa situação psicológica e moral muito esbatida na ideia de Pátria trazida da escola primária e da catequese, do trabalho duro e cedo na idade, de uma vida difícil e sem esperanças, de uma postura social velha de séculos de aquiescência humilde ao poder. Outros houve que embarcaram com uma consciência construída na ideia de Pátria, de história, de dever social contra agressões tidas do exterior. Muitos embarcaram e aceitaram correr um risco duplo que era o de ser contrários à guerra e de entenderem a luta dos movimentos independentistas, mas dispararem balas iguais, contra um inimigo, afinal, igualmente assumido, e perderem a vida ou matarem do mesmo modo.

E se o que se queria era distinguir entre a abordagem dos filhos dos que "emigraram" e dos que embarcaram, seria necessário ter tudo isto em conta, mesmo não entrando com a diferença de olhares individuais de tais filhos, uns que aceitam e se revêem e outros que repudiam os pais e a sociedade que viveu aquela realidade, quer num caso, quer no outro.

Claro que não poderá caber num debate como este, e muito menos no olhar de quem constrói e apresenta "tese", todo este mundo, temendo-se que tal tarefa não venha nunca a realizar-se.

Na segunda tarde, após a passagem de um curto excerto de "Quem vai à Guerra" de Marta Pessoa (filha de militar do quadro), e "Poeticamente Exausto, Verticalmente Só", da jornalista Luísa Marinho sobre José Luís Bação, poeta morto em Moçambique, o painel, sob o título "Representações da Pós-memória da Guerra", sob a moderação de Margarida Calafate Ribeiro, teve como intervenientes, além da duas autoras dos filmes referidos, Ana Vidigal, artista plástica filha de combatente, Pedro Branco (músico e sem ligação directa ao conflito), Norberto Vale Cardoso (filho de combatente) e Rui Vieira (sem ligações ao conflito, escritores, e ainda Susana Gaspar, actriz directamente ligada à peça teatral de que se leram excertos no dia anterior, "Ignara Guerra Colonial".

Digo aqui, que me agradou muito o filme de Luísa Marinho, não apenas pelo seu riquíssimo conteúdo, mas também pela forma, pelo estilo e pelo ritmo com que o construiu e pelo grito que com ele nos choca ainda hoje.

Naturalmente que os olhares diferentemente construídos pelos indivíduos que compunham a mesa, serão muito importantes como depositários de hipóteses de abordagens condicionadas pelas formas em que cada um cresceu no caldo cultural respectivo e que, afinal, são parte significativa da sociedade que vive o esquece a experiência da guerra colonial, nem que seja porque, se a abordaram, dela têm ecos particulares.

Com referência na intervenção de Marta Pessoa e da sua recolha de depoimentos junto de mulheres que viveram a guerra, ou ficando aqui sofrendo as ausências e aguardando a volta, ou aceitaram fazê-la directamente no campo da luta, e na sua afirmação de que é muito importante por ainda hoje a falar a vozes que teimam em se calar, dei uma pequena nota de um episódio real vivido por mim duas horas antes, a partir de conversa com uma mulher, culta, social e culturalmente de esquerda (ainda que resguardando tal significado), que, respondendo a pergunta sua eu tinha informado que estaria num Colóquio sobre a Guerra Colonial, de imediato tinha recebido dessa mulher uma declaração azeda "ainda andam a falar disso?", "mas não chega já de conversa sobre tal cansativo assunto?" . Tal resposta tinha-me surpreendido como emboscada e deixara-me com pouca reacção, perguntando apenas se ela não achava que tal guerra que tinha matado mais de oito mil jovens, danificado de corpo mais de quinze mil, ferido mais de trinta mil, envolvido directamente mais de oitocentos mil e respectivas famílias e, ao fim de contas, determinado fortemente o fim do antigo regime, a actual situação da democracia e o desenvolvimento das situações vividas nas ex-colónias, se tal guerra, achava ela, que teria já acabado, ou que teria sido já debatida em excesso.

Na sequência, Sá Flores, ex-combatente mutilado na guerra colonial colocou a questão da constituição da mesa que tinha apenas gente que não fizera a guerra, alguns que nem haviam vivido essa realidade através de familiares, não estando nela nem um dos que escrevem, pintam, fazem música a partir do seu próprio sofrimento por nela ter participado, sinal este de que, doutro modo, o que se vai é escondendo e adocicando a sua visão, no fundo, num mesmo resultado que levou o regime a proibir-lhe um livro antes do 25 de Abril e os actuais editores a recusarem as suas propostas actuais. Nisto foi secundado por um outro participante ex-combatente.

Naturalmente que se entende a importância da abordagem metódica feita por investigadores cientificamente preparados, sociólogos e historiadores, para organizarem e arrumarem analisados os testemunhos recolhidos, ainda que por e de gente que não viveu directamente o conflito.

Naturalmente que se entende que a comunidade científica, cujos membros têm também um olhar importante sobre o fenómeno, além de objectivos de carreira, curriculuns e ambições pessoais legítimas, temam que a sua análise organizada se misture com as intervenções emocionadas de quem viveu a guerra e, por isso, decida evitar protagonismo a tais actores.

Entende-se menos que, de todo, organizações presentes no terreno nesta área e com gente também armada de saber e de experiência, nem sequer seja convidada para a iniciativa.

Coisa que a mim, pelo menos a mim, não passou despercebida, é o uso constante e continuado das mesmas referências quando se fala de literatura sobre a guerra colonial, sempre Lobo Antunes, sempre Lídia Jorge (de quem gosto particularmente, sempre João de Melo (de quem gosto também e tenho a honra da sua amizade), a Manuel Alegre, quando uma ou duas centenas de autores andam por aí mais ou menos esquecidos, alguns com excelentes trabalhos muito pouco ou nada divulgados. Nesta área merece destaque a vénia que os autores das teses presentes, de modo geral, dedicam aos novíssimos autores como José Rodrigues dos Santos e Rodrigo Guedes de Carvalho.

Pensando bem, também se entende que pouco crédito acrescentaria uma referência a Carmo Vicente, a Sá Flores ou a tantos outros conhecidos apenas no círculo restrito dos directa e activamente interessados no tema.

José Brás numa sessão de autógrafos, na Feira do Livro de Lisboa, do seu último livro "Lugares de Passagem"
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Notas de CV:

(*)Vd. poste 11 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8406: Agenda Cultural (131): Lançamento do livro Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial, dia 15 de Junho de 2011, pelas 19 horas, no Auditório CIUL / Forum Picoas Plaza, Lisboa (José Brás)

(**) Vd. poste de 11 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8407: Agenda Cultural (132): Colóquio/Debate - Os Filhos da Guerra Colonial: pós-memória e representações, dias 14 e 15 de Junho de 2011, no Auditório do CIUL; CES-Lisboa (Forum Picoas-Plaza) (José Barros)

Vd. último poste da série de 15 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8423: Agenda cultural (135): Lançamento da Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial, hoje, às 19h00, em Lisboa, Fórum Picoas Plaza

Guiné 63/74 - P8442: Em Busca de... (165): Malta do BCAV 757 “Sete de Espadas”, BCAÇ 4514/72 e Pelotão de Caçadores Nativo 64, Bafatá (Mário Fitas)


1. O nosso camarada Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763, “Os Lassas” - Cufar -, 1965/66, enviou-nos uma mensagem contendo um apelo de um ex-militar africano.

Camaradas,

Nunca é tarde para ajudarmos camaradas que lutaram ao nosso lado.


Nas cerimónias do dia 10 de Junho, em Belém, encontrava-se um Camarada-de-armas africano – o Samba Baldé de Bafatá -, que está actualmente a viver em Portugal, exibindo um cartaz onde demonstrava o seu interesse em descobrir contactos do pessoal que integrou o BCAV 757 “Sete de Espadas”, o BCAÇ 4514/72 e Pelotão de Caçadores Nativo 64.

Os nomes que ele mais recorda são os do Fur Mil Leal, que vive no Porto, e o M. Zé Reguila.

Os camaradas Colaço e Chapouto tiraram algumas referências do Zé Reguila, para tentarem ajudar este nosso camarada.

Qualquer informação útil sobre malta destas Unidades citadas no pedido, dirijam-na para um dos seguintes e-mails:

Mario Fitas: mariofitas@netcabo.pt;
José Colaço:
josebcolaco@gmail.com;
Ou Fernando Chapouto:
fchapouto@netvisao.pt
Um abraço,

Guiné 63/74 - P8441: Efemérides (72): A nossa malta no 10 de Junho, em Belém (2) (Arménio Estorninho)


O nosso Camarada Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), enviou-nos mais uma reportagem sobre o encontro de malta da nossa tertúlia no último 10 de Junho.

Camarigos.

Em Belém, Lisboa, no dia 10 de Junho e junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar, deu-se a Cerimónia do XVIII Encontro Nacional de Combatentes.

A Comissão Executiva do Encontro Nacional de Combatentes 2011, teve o objetivo de reunir o maior número de Portugueses de qualquer idade, credo raça ou ideologia política que, amantes da sua Pátria, quisessem celebrar Portugal e prestarem homenagem, sem deixar esquecer, quantos, ao longo da sua História, chamados um dia a Servir, tombaram no campo da honra em qualquer época ou ponto do globo.

Dessa cerimónia apresento uma foto – reportagem, extraída do álbum fotográfico de Arménio Estorninho/Mário G. Pinto e tomando a liberdade de comprometer o Co-editor Magalhães Ribeiro, na correção e complemento se possível das identificações de alguns Camaradas de Op. Especiais, porque também é um profundo conhecedor dos mesmos.


Belém > Lisboa > Grupo de Camarigos, da esq.: António Santos, José Colaço, José Nunes, Miguel Pessoa, Mário G. Pinto e Mário Fitas

Belém > Lisboa > Em animada leitura de um livro. Da esq., de costas: José Nunes, António Brandão, Miguel Pessoa, Mário G. Pinto, Mário Fitas, eu e um intruso
Belém > Lisboa > Grupo de Camaradas de Operações Especiais. Da esq. em 1º plano: o Corticinho e o António Brandão. Em 2º plano: Mário Fitas, António Inverno, Delgado, Magalhães Ribeiro e António Barbosa
Belém > Lisboa > Grupo de tertulianos e amigos. Da esq.: Virgínio Briote, António Santos, Vítor Caseiro, Magalhães Ribeiro, Luís Dias e esposa

Belém > Lisboa > Aquando na Parada se Tocou a Silêncio
Belém > Lisboa > O público assistente concentrado nos acontecimentos


Belém > Lisboa > Os Boinas Vermelhas – Comandos -, com o seu porta-estandarte "O Bigodes”, em desfile frente ao monumento e às Lápides com os nomes dos nossos Camaradas mortos na guerra

Belém > Lisboa > Divertida conversa entre o António Brandão, José Júlio Nascimento, Mário G. Pinto e o Duarte Azevedo

Belém > Lisboa > Vista das Lápides dos nossos irmãos Tombados no ex-Ultramar Português

Belém > Lisboa > Frontaria do edifício do Museu da Marinha, que foi visitado neste dia por um grupo de Camaradas do Núcleo de Lagoa - Algarve -, da Liga dos Combatentes
Com cordiais cumprimentos,
Arménio Estorninho
1º Cabo Mec Auto da C.Caç.2381 “Os Maiorais” de Empada
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Nota de M.R.:

Vd. também sobre esta matéria o poste de 12 de Junho de 2011 > Guine 63/74 - P8410: Efemérides (50): A nossa malta no 10 de Junho, em Belém (Miguel Pessoa)

Vd. o último poste desta série de 17 de Junho de 2011 Guiné 63/74 - P8432: Efemérides (51): 42ª Aniversário da morte em combate do Sold At Vítor Manuel Parreira Caetano, CART 2519 (Mário Pinto)

Guiné 63/74 - P8440: Controvérsias (125): As feridas da guerra (José Firmino)


1. O nosso Camarada José Firmino (ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem:


AS FERIDAS DA GUERRA


No programa “Linha da Frente” transmitido pela RTP1, em 2011-06-15, ficamos nós, ex-Combatentes e os telespectadores em geral, a saber um pouco mais sobre o que foi a Guerra no Ultramar Português, (Angola, Guiné e Moçambique) e suas sequelas, que alguns, ainda teimam em fazer esquecer e outros nem sequer ousam falar.



Senti em mim uma enorme revolta ao ver aqueles Homens ex-Combatentes que, lado a lado, combateram junto de nós e sofreram as mesmas angústias!



As marcas dos renhidos e mortíferos combates são bem visíveis nos seus corpos.


Nunca pensei que, passado quase meio século, fosse capaz de ver o drama destes nossos Camaradas-de-armas e, muito mais, o esquecimento a que estão sujeitos.


É que já lá vão dez anos a viver em quartéis, longe das suas terras e dos seus familiares, sem que o Estado Português reconheça aquilo a que têm direito.


Mas as injustiças não se ficam por aqui, pois todos sabemos que ficaram por lá, em terras de África, muitos restos mortais de militares do Exército Português que tombaram em combate e que, até hoje, não descansam em paz nas suas terras natais, junto de seus familiares.

Isto envergonha-me, profundamente, enquanto Português e ex-Combatente.

Em grito de revolta digo: “Façam algo por estes Homens, eles merecem!”

Que amanhã pode ser tarde de mais!

É revoltante e triste constatar que eles não recebem aquilo a que têm direito e que receberão um destes dias, por certo muito mais prático e bem mais barato, o subsídio de funeral.

José Rodrigues Firmino,
Sold At da CCAÇ 2585 (Mais Alto)
Ex-Combatente em Jolmete, 1969/71
____________

Nota de M.R.:

Vd. o último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P8439: Convívios (354): Encontro/Convívio dos ex-Combatentes do Ultramar em Barroselas/Viana do Castelo, 25 de Junho (Sousa de Castro)


1. O nosso Camarada Sousa de Castro, que foi 1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74, enviou-nos o seguinte convite.
ENCONTRO/CONVÍVIO DOS EX. COMBATENTES DO ULTRAMAR EM BARROSELAS, VIANA DO CASTELO, NO DIA 25 DE JUNHO DE 2011
Caro Companheiro,

Como vem sendo hábito e para manter a tradição, irá ser realizado mais um convívio no dia 25 de Junho de 2011, em Barroselas, Viana do Castelo, simultaneamente com a comemoração do 10º aniversário da inauguração do Monumento aos Combatentes do Ultramar, sito na Rua da Estação, Barroselas, actos que serão motivo para recordar a nossa passagem, em missão militar por terras do Ultramar, homenageando, não só, os nossos companheiros que tombaram em combate como todos aqueles que partiram para a eternidade por variadas razões e também os vivos que teimam em se manterem por cá.

PROGRAMA
11H00: Cerimónia do hastear da Bandeira Nacional. Seguindo-se de missa campal, junto à Capela de São Sebastião na mesma Localidade, concelebrada por vários sacerdotes sendo alguns deles antigos capelães militares. A missa será harmonizada pelo Coral do Agrupamento 85, dos Escuteiros de Barroselas.

No final da missa, junto ao Monumento: Homenagem aos combatentes falecidos e vivos, com deposição de uma coroa de flores.

A guarda de honra e os toques apropriados, serão executados por uma secção de militares da “Escola Prática dos Serviços da Póvoa de Varzim”.

No final da cerimónia iremos em caravana confraternizar no restaurante “SOL DOCE”, em Carvoeiro.

Para que este evento tenha o sucesso dos anos anteriores e porque acharmos que a tua presença é fundamental, contamos contigo.

Confirma até ao dia 23 de Junho de 2011.

O preço? Só 18,00€!

Marcações para:

Combatentes do Ultramar
Rua da Feira, Escola da Igreja, r/c – Dtº.
4905 – 328 BARROSELAS

TL.: 258 773 620 – Manuel da Costa Pereira

TM: 925 022 412 – Sebastião Gonçalves

EMENTA

Entradas servidas na mesa:

Rissóis de carne, Bolinhos de bacalhau, Croquetes, Caprichos, Ananás natural c/presunto, Mexilhão de m/casca, Camarão, Polvo com molho verde, Presunto laminado, Azeitonas com alho, Pão e Broa, Moelinhas e Rojõezinhos
Sopa: Canja ou creme de legumes
Prato: Bacalhau à “Sol Doce” ou Vitela assada
Sobremesa: Salada de Frutas e Leite-creme, Bolo comemorativo acompanhado de Champanhe Raposeira.
Vinho verde: “Ponte da Barca” Doc
Vinho maduro: “Grão Vasco” Doc.
Refrigerantes, café e digestivos

VEM VIVER CONNOSCO ESTES MOMENTOS DE AMIZADE E SAUDADE

O Presidente

MANUEL MACIEL BARBOSA
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:



Guiné 63/74 - P8438: (Ex)citações (141): Hospital Militar Principal: Sofri as piores atribulações naquelas miseráveis e desumanas instalações, principalmente o anexo, o Texas (Carlos Rios, ex-Fur Mil, CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67)

1. Comentário, com data de 16 do corrente,  do nosso leitor (e ex-camarada de armas no TO da Guiné) Carlos Rios, ao poste P3496 (*) [Não temos nenhuma foto deste camarada, que não pertence, mas poderá vir a pertencer, se ele assim o desejar, à nossa Tabanca Grande; em contrapartida publicamos, á direita, a foto de um camarada dele, e ao que parece, seu amigo, da CCAÇ 1420, o nosso querido camarigo Rui Alexandrino Ferreira, a quem saudamos e de quem não temos tido notícias boas da sua saúde; infelizmente, ele falhou este ano o nosso VI Encontro]:

Caro Camarada! [, Referência ao António Santos, autor do poste]:


É gratificante poder ir ao encontro das preocupações que demonstras. Aqui deixo o meu testemunho: fui dos que passou pelas instalações e sofri as piores atribulações que aquelas miseráveis e desumanas instalações, principalmente o anexo (Texas),  tinham. 


Ali passei seis anos com imensas operações, vindo a ficar estropiado de 66 a 72. O director era um déspota bem como a maioria do pessoal ligado àquilo que deveria ser o lenitivo para as miséris que nos atingiam mas que afinal se vinha a transformar como que um castigo por termos sido feridos. De tal maneira que já no Depósito de Indisponíveis, onde se encontrava o pessoal em tratamentos ambulatórios,  termos sido metidos nas escalas de serviço, como se os doentes em tratamento estivessem numa Unidade. 


Imagina um Oficial de dia quase maneta e eu próprio, já coxo,  a fazer o içar da bandeira na porta de armas, vindo ao exterior a comandar a guarda e dar ordens militares para o caso. Fui  um espectáculo macabro, eu só consigo andar com uma bengala. Calcula o ridículo. 


No decrépito anexo não havia um espaço onde pudessemos ter um bocadinho de lazer, havendo apenas uma horrorosa cantina pequena para largas centenas de todo o tipo de doentes, cegos, amputados, loucos, etc...tudo á mistura. Não podiamos estar nas camas depois das nove horas nem sair para o exterior antes das catorze, exceptuando os acamados. Era-nos sugerido, quase obrigado,  que não andássemos fardados. Enfim atribulações e peripécias dos pobres que eram arrancados às familias para servir alguém.


Carlos Rios (**)
Ex-Furriel Mil 
CCAÇ 1420
(Fulacunda, 1965/67)

__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3496: Hospital Militar Principal: Fazendo mini-caixões antes de ser mobilizado (António Santos)

(**) O nosso querido camarigo Manuel Joaquim refere-se ao Carlos Rios neste comentário ao poste de 26 de Abril de 2011  > Guiné 63/74 - P8166: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (21): Saúdo o núcleo permanente de colaboradores que vem mantendo absolutamente impecável este grande projecto (Rui Ferreira)


(...) Apoiado! Um grande abraço, Rui A. Ferreira, o "verdadeiro" comandante da CCaç 1420 no dizer de um seu ex-fur mil, o meu amigo (e teu) Carlos Rios, já que o comandante nominal não seria mais que isso, nominal. Força,camarada! Manuel Joaquim ( ex-fur mil CCaç 1419)  (...) 
Também no portal Ultramar Terraweb há uma referência ao Carlos [Luís Martins] Rios, Fur Mil Inf, da CCAÇ 1420 / BCAÇ 1857, "Cruz de Guerra, 1.ª Classe,  OE  12/IIIª/67, tomo IV, pág. 260".

(***) Último poste da série > 15 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8426: (Ex)citações (140): Vejo que os jovens estão atentos, pelo menos são mais jovens do que eu (António Dâmaso)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8437: Contraponto (Alberto Branquinho) (36): A construção e a desconstrução de um Padre

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 13 de Junho de 2011:

Caro Carlos Vinhal
Afogado na ausência de Monte Real e na visualização das respectivas e diversas fotos (incluida a novidade de arranjos PICASA)... sobrevivi.
A prova é que trago, agora, aquilo que, para mim, foi um outro regresso... o do padre capelão do meu Batalhão, que, como óbvio, não é já capelão, mas, também, não é já padre franciscano. Portanto, este escrito é sobre um livro que ele escreveu e cuja leitura desperta muito, muito interesse.

Um abraço
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (36)

"A construção e a desconstrução de um Padre"

O título, assim entre aspas, é mesmo o título de um livro. Da autoria de Horácio Neto Fernandes.

Mas o que tem o livro a ver com o “core business” deste blogue? – perguntarão os críticos, que se vêm já interrogando sobre a existência no blogue de matéria que extravasa a temática do mesmo.
É que, meus senhores e camaradas, o autor do livro é o ex-capelão do meu Batalhão, na Guiné – o BART 1913. Além disso, a sua requisição e mobilização para a Guiné se não foi causa, foi, pelo menos, o CATALISADOR da crise de consciência que levou este ex-padre franciscano a abandonar a vida eclesiástica.

Fui encontrar o Doutor Horácio Fernandes no passado dia 29 de Maio no encontro anual da CCS do BART 1913 em Alfeizerão/Alcobaça. Escusado será dizer que nunca mais o vira desde a minha saída de Bissau, portanto, há quarenta e tantos anos. Se não nos tivessem “re-apresentado”, não nos teríamos reconhecido.

Recordei-lhe que nos conhecemos em Bissau, antes de embarcar para Catió.
Preparava-me para regressar a Catió no Dornier do correio, quando, junto ao avião, o piloto me disse:

- Mandaram-me mais um cliente. É o padre capelão para Catió e tenho indicação de urgência. Vê lá isso. - E afastou-se, com uns papéis na mão.

Quando o capelão se aproximou do avião, gorducho, pouco à-vontade na farda militar, com pele de “periquito”, de olhos esbugalhados, eu disse-lhe que não havia problema – ele iria à frente, ao lado do piloto e eu atrás, sentado em cima dos sacos de correio. Fiquei com a impressão de que não entendeu nada. Entrou no Dornier quando o piloto regressou e lhe disse para entrar.
Agora, ao ler o livro, vejo que não faz qualquer referência ao “passageiro” que viajou na retaguarda…

O livro, que ele me ofereceu, consta de três partes:

Parte I - O contexto onde nasceu um padre
Parte II - A construção de um Padre
Parte III- Como se desconstroi um Padre

É nesta última Parte III que surgem a sua requisição para a Guiné e as experiências que o marcaram fora da actividade religiosa.
Esteve em Catió até Maio de 1969 e completou a comissão em Bambadinca, depois do nosso regresso.

O livro é uma análise longa, arrastada e sofrida do percurso de uma vida, um grito d’alma de quem se questionou por muito tempo. Uma transição causada por uma lenta e sofrida tomada de consciência de ruptura (pág. 125):

"Contudo é mais fácil rasgar cortinas de ferro do que de incenso. O ferro enferruja e perde coesão e o incenso continua a pairar no ar, mesmo depois de queimado".

As últimas páginas do Capítulo 4 da Parte III são, por outro lado, consequência da necessidade de se explicar, embora reconheça, na penúltima página do livro (pág.184), que hoje "Já poucos estranham o facto de um padre sair e casar".

É minha convicção (e parece resultar da leitura do livro) que foi a experiência resultante da requisição do Autor para capelão militar, a sua mobilização e colocação no BART 1913, em Catió, a vivência do clima de guerra, as realidades sociais, políticas e económicas existentes num interior da Guiné, que catalisaram a tomada de consciência de um diferente modo de “olhar” a sociedade e o homem, e, de uma forma lenta, continuada e sofrida, o fizeram percorrer o caminho da ruptura.
Transcrevo da pág. 175 as seguintes passagens (o Autor fala pela boca da personagem Fernando Caboz – ele próprio):

"Reflectindo, agora, chega à conclusão que a sua desconstrução de padre franciscano começou com o abrupto ingresso como capelão militar, começando por deslaçar os vínculos que o prendiam à comunidade.
(…)
Depois do ingresso no exército, esta erosão acentuou-se a cada passo que dava. Francisco pressentia-o, mas não tinha ninguém com quem desabafar."

Para terminar, esclareço que o padre capelão Horácio foi um de dois padres que conheci na Guiné que, recordando-os e fundindo-os, os escrevi no mini-conto “O Padre Aurélio”, incluído no meu livro “Cambança”, já citado aqui no blogue.

Alberto Branquinho

- “Francisco Caboz – A construção e a desconstrução de um Padre”
- Autor – Horácio Neto Fernandes
- Papiro Editora – Porto/Lisboa (Novº. 2009)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8363: Contraponto (Alberto Branquinho) (35): Teatro do Regresso - 10.º e último Acto - Estou velho com'ó caraças! - ...mas não cai o pano

Guiné 63/74 - P8436: Da Suécia com saudade (30): O Gen Spínola enquanto Presidente da República não terá assinado a Lei 7/74, de 27 de Julho de 1974, que veio reconhecer o direito à autodeterminação dos territórios ultramarinos (José Belo)

1. Mensagem do nosso camarada José Belo:


De: Joseph Belo [ joseph.USA@telia.com ]
Data: 16 de Junho de 2011 13:28
Assunto: URGENTE!!!... Pedido de auxílio histórico-legal.




Caros Camaradas e Amigos. Estando a preparar intervenção em conferência sobre o colonialismo europeu, ao procurar entre documentos, artigos e livros, verifiquei que a Lei publicada em Diário do Governo relativa à autonomia e futura independência das colónias portuguesas..."misteriosamente"...não  teria sido assinada por NINGUÉM.


 A referida lei será datada de 27 de julho de 1974,quando o General Spínola era Presidente da República e a não assinou. O então Ministro da Coordenação Interterritorial, doutor Almeida Santos, disse não saber quem assinou a Lei. Refere que, tendo ficado muito admirado com a publicação da Lei, terá perguntado ao General Spínola se tinha sido ele a assiná-la. Ele terá respondido que não ,e mandando vir o Diário da República (o então Diário do Governo) verificaram que a Lei não estava assinada.


Uma Lei não assinada por quem de direito... não é válida! Uma Lei da importância, alcance Histórico ,e consequências nacionais como esta não assinada POR NINGUÉM?! 


Diz o Marechal Costa Gomes: "Se assim foi,  não seria válida, mas, no fundo, 'foi tornada válida'(!?) pelos acontecimentos,e ainda pelo célebre discurso de Spínola no dia 27 de julho de 1974". E diz mais: "Não tenho resposta para isso, ainda que me custe a crer que o responsável pelo Diário do Governo não tenha detectado a falha e não tentasse corrigi-la. De qualquer modo a responsabilidade foi assumida pelo General Spínola, através de um discurso que estava de acordo com a Lei Publicada". (Quereria com isto dizer o Sr.Marechal que "discursos em praça pública" validam Leis?). Num Estado de Direito ? 


Algum dos Camaradas ou Leitor do blogue, tendo acesso a documentação,ou conhecimento pessoal de factos relacionados com o "mistério", pode ajudar ao seu esclarecimento ? E,também, se a referida Lei acabou por ser assinada "posteriormente"(!),e, por quem? (Só se espera que não tenha sido um Terceiro Escriturário da Presidência da República de então.). 


Um abraco do J.Belo.  
 Estocolmo/16 Jun/11.


2. Comentrário de L.G.:



Mandámos, pelo correio interno da Tabanca Grande, a seguinte mensagem, por volta das 13h30: "Camaradas: Quem pode AJUDAR, no prazo máximo de 24 horas (!), um luso-lapão... à rasca ? Sejam admiráveis, insuperáveis, criativos,imaginativos, liberalíssimos, generosos... e sobretudo DESENRASCADOS que, dizem, é um dos nossos melhores predicados nacionais... José, sei que a malta da Tabanca Grande não te vai decepcionar... Boa comunicação... Luís Graça"...



3. Resposta do José Belo, na volta do correio:


 Como se diz por estas paragens bárbaras........TACK SÅ VÄLDIGT MYCKET!......Ou seja.....Muitíssimo OBRIGADO!   Um grande abraço.


4. Alguns respostas que já recebemos em relação a este pedido:



(i) Carlos Pinheiro, 14h55

Luis Graça: Consultei o Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra, constato que, no que se refere ao mês de Julho/74,  de entre muitas outras informações importantes, o seguinte:

Lei 7/74 de 27 de Julho de 1974, publlicada no Suplemento ao DG nº 174, I Série:  "estabelece o reconhecimento do direito à autodeterminação, com todas as consequências, inclui a aceitação da independência dos territórios ultramarinos e a derrogação da parte correspondente do artº. 1º da Constituição Politica de 1933";  foi promulgada em 26 de Julho de 1974 pelo Presidente da República António de Spínola depois de Visto e aprovado pelo Conselho de Estado.

Se a mesma foi assinada ou não, isso já não sei, e também não sei quem é que levantou essa questão e com que fundamentos. Se assim foi, acho isso muito estranho apesar de na altura já se estar a viver o chamado PREC.

Nada mais posso adiantar para ajudar. Aliás esta informação está acessivel a toda a gente.

Um abraço

Carlos Pinheiro

(ii) Torcato Mendonça, 16h43

Não estão a brincar pois não?
Aqui estou quase sem Net
Abraços T


(iii) José Martins, 17h05

Caro Belo & Companhia, daquém e de além circulo polar.

A existir assinatura é, como dizes no texto, "tão só o nome de quem promulga a lei". A haver assinatura será em documento a enviar a lei para publicação e, portanto, destinado a arquivo.

Quanto ao "tema",  desconheço o que se passou. Sei que as noticias sobre este período  e o conteúdo das resoluções era tanto apresentada como válida e, muitas vezes, a seguir era desmentida. Recordo-me que "a promessa" da autodeterminação e independência dos povos explorados e colonizados por Portugal, não era, na altura que se refere, Julho de 74, um dado adquirido e, pela primeira vez que se voltou a falar disso após a proclamação da Junta de Salvação Nacional em 25A74, foi no discurso que recordas.

Pode ter-se tratado de lapso (todos eram maçaricos em política) ou foi premeditada, para fazer cumprir que o que "não tem remédio, remediado está".

Nessa altura, pelos relatos que nos chegam, na nossa Guiné, já toda a malta "negociava" com o PAIGC, enquanto ainda decorriam contactos formais e informais com o mesmo,  a Alto Nivel.

O Acordo de Argel, que confirmava a independência da Guiné, foi assinado em 26 de Agosto e marcava a independência para 10 de Setembro (15 dias de intervalo) o que não permitia acautelar, ainda que em pensamento, o que veio a acontecer com os Comandos Africanos e muita da malta das CCAÇ indígenas.

Da literatura que já li sobre a descolonização/fim do regime (ou vice-versa) não me recordo de qualquer referência a este assunto.

Não ajudei nada, mas não quis deixar de dar umas dicas e poder enviar-te um grande abraço,

José Martins

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8326: Da Suécia com saudade (29): O nosso blogue e o risco do pensamento de grupo (groupthink) e do politicamente correcto (José Belo)

Guiné 63/74 - P8435: Convívios (353): Almoço/Convívio dos ex-combatentes de Fão, no dia 10 de Junho de 2011 (Albino Silva)


1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de  15 de Junho de 2011:

Boa tarde Carlos Vinhal
Depois de algum tempo sem contactar a nossa Tabanca, embora a visite no dia a dia, cá estou de volta a dar mais trabalho, este referente ao passado Dia 10 de Junho, Dia de Portugal, e já Dia do Ex-Combatente.

Uma vez que felizmente já se comemora um pouco por todo o País, aqui em Fão realizou-se pelo segundo ano consecutivo, com a promessa do Sr. Presidente de Junta, de que para o ano seja maior e melhor, esperando ainda mais Ex-Combatentes, e na verdade todos cabemos lá.

Lembro que nestes dois anos, os Ex-Combatentes pagaram para o almoço/convívio 7,00€, sendo grátis para as esposas, sendo a festa foi total.

Eu mesmo empenhado na ajuda à Organização, lanço desde já o convite a todos os Ex-Combatentes da nossa Tabanca, mas para o ano, próximo ao dia, cá estarei para lembrar.

No Blogue "Nós fomos combatentes" os interessados podem ver as 130 fotos refentes ao acontecimento.

Sem mais de momento, deixo aqui abraços para todos os Tertulianos, em especial para os Chefes de Tabanca e a ti, Carlos.
Albino Silva



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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8433: Convívios (346): Encontro de alguns elementos da CCAÇ 6, (Bedanda, 1971/73), no Almoço de Quarta-feira, dia 8 de Junho de 2011 da Tabanca de Matosinhos (Vasco Santos)