quinta-feira, 14 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8552: Os nossos médicos (38): O Prof Pereira Coelho, o pai do bebé-proveta em Portugal... e que esteve em Galomaro... Recordando ainda os Dr. Pinheiro Azevedo, Dr. Moreira Figueiredo e o Prof Maymone Martins (Joaquim Mexia Alves / Paulo Santiago / Luís Dias)

1. Comentário de Joaquim Mexia Alves [ foto à esquerda,] ao poste P8495 (*) e outros relacionados:

Repito aqui o comentário que coloquei noutro lado sobre os nossos médicos.

(i) Ora bem, o Prof Doutor Pereira Coelho, para os amigos Mané Pereira Coelho, é um homem de eleição. um grande homem e um grande médico. [ Já foi aqui evocado pelo nosso camarigo Luís Dias (*)...Aliás, conheci-o no Galomaro numa "aventura" que me "obrigaram" a fazer e que um dia contarei.]


O seu trato de uma simpatia extrema, a sua dedicação á medicina e àqueles que tratava, grangearam-lhe um capital de simpatia que prevaleceu para além da tropa.


É conhecido por ser o pai do bébe-proveta em Portugal. Conheço-o bem embora já alguns anos o não veja, com grande pena minha.


(ii) O  António Alfredo [Viana Pinheiro] Azevedo não lhe fica atrás em grandeza de alma e dignidade, como homem e como médico, como aliás eu já tinha afirmado.

[E a propósito, escreveu o Paulo Santiago, foto à esquerda,  quando comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72, em comentário ao poste P8485 **]:

O Dr. Azevedo é um camarada que  eu gostaria de encontrar. Foi ele que, definitivamente, conseguiu curar-me das otites que, ciclamente, me apoquentavam,e aquilo eram dores do c... Também ele me tratou do primeiro,  e único, "ataque" de paludismo. Aquela vala da foto, utilizei-a ao ínicio da noite de 3 de Agosto de 1972...O Mexia estava lá, e o Dr. Azevedo,penso que também estava... Uma vala com uma profundidade pouco adequada ao tamanho do Joaquim]...

Também sobre estes dois médicos, escreve o Luís Dias [, foto a seguir à direita,, quando jovem Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74]  (***):

Segundo informações colhidas junto do Professor Doutor Pereira Coelho, o Médico Pinheiro Azevedo pertencia ao BART 3873 (Bambadinca) e não ao BCAÇ 3872 (Galomaro). Ambos seguiram para a Guiné no mesmo barco (onde ia o BART3873, mas com destinos diferentes). Devido ao facto de ele se encontrar no Xitole, à data da emboscada do Saltinho [, ou melhor, Quirafo], foi ele que avançou para o terreno. A seguir chegou o Dr. Pereira Coelho por determinação do Comandante, que conversou com o colega que chegara em primeiro lugar, pois já não havia nada a fazer. Era sua convicção que quem passou as certidões de óbito foi o Dr. Pinheiro Azevedo.


(iii) E continua o Joaquim Mexia Alves:

Já agora e porque noutros postes se fala dele, o Dr. Moreira Figueiredo [, António Lebre Moreira de Figueiredo, estomatologista,] assentou a sua vida em Leiria, tendo-o eu conhecido muito bem. (****)


Para além da sua carreira médica, dedicou-se muito às artes e cultura na cidade do Liz.


(iv) Acrescento então que o Prof. Maymone Martins está, (estava?), no Hospital de Santa Cruz. Julgo que está mais dedicado à cardiologia pediátrica, pois foi quem tratou o meu filho André, quando era ainda criança, e tinha um "sopro cardiaco".


É um homem que apenas conheci nessa altura, mas de uma simpatia e competência extremas, pelo que lhe estou muito agradecido.


Foi-me indicado por um primo meu, Dr. Francisco Machado, (naquela altura chefe da hemodinâmica no Hospital de Santa Cruz, salvo o erro), e que curiosamente foi Comando em Angola. Entramos para Mafra no mesmo dia, tendo-nos separado em Lamego, pois ele foi para os Comandos e eu para os Rangers. (*****)


Um abraço a todos,
J. Mexia Alves

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de Julho de 2011 >
Guiné 63/74 - P8495: Os nossos médicos (32): Fotos do Serviço de Saúde do BCAÇ 2845 (Albino Silva)



(**) 30 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5732: Os nossos médicos (15): Professor Doutor Pereira Coelho (ex-Alf Mil Méd do BCAÇ 3872 e Director do Hospital Civil Bafatá, 71/74

(***) Vd. poste de 29 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8485: Os nossos médicos (29): O arraial minhoto do Alf Mil Med Pinheiro Azevedo no Xitole, em 4 de Abril de 1972 (Joaquim Mexia Alves, CART 3492 / BART 3873, 1971/74)

(****) Vd. poste de 30 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8491: Os nossos médicos (31): HM241: Pessoal médico do meu tempo por especialidades (J. Pardete Ferreira)

(*****) Último poste da série > 11 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8540: Os nossos médicos (37): Dr. Fernando Garcia, chefe da equipa cirúrgica do HM241, Bissau, 1966/68 (J. Pardete Ferreira)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8551: Convívios (361): 6º. Encontro da CCAÇ 1426, 9 de Julho, em Cuba (Fernando Chapouto)




1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos uma pequena reportagem sobre a festa da sua Companhia.


Camaradas,

Realizou-se no passado dia 9 de Julho, em Cuba no pleno coração do Alentejo, o 6º Encontro/Convívio da minha CCAÇ 1426, que andou por terras de Geba, Camamudo, Cantacunda e Banjara, entre os anos de 1965/67.

Infelizmente a grande maioria dos ex-Combatentes da minha companhia não são muito dados a convívios, por diversos motivos, de que se adivinham alguns, tal como o estado crítico do País, os poucos recursos e os problemas de saúde

Mesmo assim, este ano, a adesão superou as melhores expectativas tendo-se verificado a presença do maior número de companheiros presentes nestes nossos convívios, apesar de terem faltado à chamada final alguns que se tinham inscrito.

Foi espantoso verificarmos que 39 combatentes (poucos mas bons) conseguiram reunir, contando com os seus familiares, um total de 114 (cento e catorze) adultos e algumas crianças.

Foi muita a alegria, abraços e natural emoção demonstrados por aqueles que apareceram pela primeira vez, pois tinham-se passado 44 anos sem sabermos nada deles.

Mais uma vez fico muito grato ao blogue, pelo trabalho e boa vontade colocada ao serviço dos ex-Combatentes da Guiné.

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil da CCAÇ 1426
Os Alferes Milicianos, após a colocação de um ramo de flores no monumento dedicado aos Combatentes do Ultramar do concelho de Cuba. Da esquerda para a direita: Almeida, Soeiro e Albardeiro.
O pessoal junto ao mesmo monumento. O último da direita, em pé, sou eu.
Aspecto do grupo que começava a engrossar. Ainda faltavam muitos. Eu estou em 1º plano, do lado esquerdo, em baixo.

O grupo e seus familiares.

Três transmontanos presentes pela 1ª vez. À esquerda estou eu, à direita o Fur Mil Vaqueiro (duas presentes habituais nos encontros) e, ao centro, o Soldado Condutor Santos de Chaves (meu condutor que apareceu pela 1ª vez).
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Nota de MR:
Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P8550: Em busca de... (168): Sado Baldé, major da Guarda Fiscal da RGB, e meu amigo, procura ex-Alf Mil Infante, que comandou um pelotão no Saltinho, em 1967 ou 1968 (Paulo Santiago)

Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > Sapa VIP > O major da Guarda Fiscal Sado Baldé e o seu grande amigo e membro da nossa Tabacanca Grande, o Paulo Santiago (que acabara de chegar na caravana automóvel que partira de Coimbra em 21 de Fevereiro).

Foto: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados

 

Guiné- Bissau > Instalações da AD - Acção para o Desenvolvimento > Julho de 2007 > O Sado Baldé, quadro superior da Direcção-Geral de Alfândegas, major da Guarda Fiscal, amigo do Paulo Santiago. Tive a oportunidade de o conhecer pessoalmente neste dia: foi gentilíssimo para comigo... (LG)


Foto: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Todos os direitos reservados




1. Mensagem, com data de ontem, do Paulo Santiago:


Boa Noite:  Esteve hoje em minha casa o Sado Baldé, um puto do meu tempo, agora major da GF [, Guarda Fiscal], lá na Guiné.


Já da última vez, que esteve em Portugal, me falou do assunto para que peço ajuda, mas esqueci-me completamente, e antes que me volte a esquecer aqui vai. (*)


O Sado gostava de encontrar (ou saber notícias de) o Alferes Infante que comandou um pelotão, pertencente à companhia do Xitole, e que esteve destacado no Saltinho no ano de 67 ou 68.


Este pelotão, única unidade na altura aquartelada no Saltinho, foi fortemente atacado, tendo, entre outros, morrido os Fur Mil Batista e Santos.


Agradecia que publicassem este desejo do Sado no blogue, poderá haver alguém que conheça o ex-Alf Mil Infante.

Abraço
P. Santiago


P.S. Existem no blogue algumas fotos onde aparece o Sado Baldé (**)


2. Mail enviado a toda a Tabanca Grande, através da nossa rede interna (cerca de 500 endereços)


Amigos e camaradas:


Alguém tem informação adicional de modo a poder ajudar o nosso camarigo Paulo Santiago e o seu (e meu conhecido) amigo Sado Baldé, um djubi do tempo dele no Saltinho e hoje quadro superior das Alfãndegas da República da Guiné-Bissau ?


O Alf Mil Infante, que o Sado procura, deve ter pertencido a uma destas companhias que estiveram no Xirole:


CCAÇ 1551 / BCAÇ 1888 (20/4/1966 - 17/1/68) ou  CART 1646 / BART 1904 (1967/68)...


A malta da CART 2339 (Mansambo, 1968/69) privou com a malta da CART 1646 (se não me engano)... A CCAÇ 1515 por sua vez esteve em Bambadinca, Fá Mandinga, Xitole e de novo Fá Mandinga. O BCAÇ 1888 esteve sediado  em Fá Mandinga e Bambadinca...


A seguir à CCAÇ 1646, esteve no Xitole a CART 2413 (1968/70), que teve quatro mortos mas nenhum dos furriéis referidos...  Fizemos operações em conjunto, eles e a minha malta da CCAÇ 12 (1969/71). No blogue Xitole, não constam companhias mais antigas que a CART 2413.


Abraço do tamanho do Corubal.
Luís Graça


3. Resposta, às 15h07, de hoje, por parte do Torcato Mendonça (CART 2339, Mansambo, 1968/69):


Luís: A Companhia do Xime era a Cart 1746, comandada pelo Cap Mil Vaz e pertencente ao Bart 1904. Os Alferes eram o Madaíl, um de Évora;  Montes? creio que não, talvez Mata;  um que foi evacuado para a metrópole em meados de 68 (estive com ele em Agosto de 68 na minha vinda de férias, acompanhado com o Cap Vaz);  e um outro que era, salvo erro, de Angola. Não recordo o nome.


O 1888 esteve antes de 68. Aliás dizes que saiu em Jan/68.


Em 68, pertencente ao BCaÇ 2852 estava a 2406 no Saltinho (Os Tigres, a Companhia do Camacho Costa);  a 2413, Cap QP Medina Ramos, era do Xitole. Não sei a que batalhão pertencia esta Companhia.


Não me recordo o nome dos alferes. Devia saber-se a Companhia e o ano. A malta do mato convivia pouco e, quando se fazia uma operação ou nos encontrávamos , o nome, para mim e muitos outros , era apêndice sem importância. Depois as décadas apagaram melhor que borracha...delete ...e tudo o vento levou!


Ab T
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Notas do editor:

Guiné 63/74 - P8549: Notas de leitura (256): "Amílcar Cabral – Vida e Morte de um Revolucionário Africano", por Julião Soares Sousa (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Junho de 2011:

Queridos amigos,
Não me cansarei de sugerir que leiam esta biografia política de Amílcar Cabral, as questões fundamentais da unidade entre a Guiné e Cabo Verde, as tensões entre as elites políticas e militares, a descodificação dos seus fundamentos culturais da matriz cabo-verdiana até à sua luta bem perto da oposição portuguesa mas sempre cioso da autonomia face às concepções do nacionalismo africano, aparecem aqui tratadas com indesmentível rigor. É por isso que julgo valer a pena ler na íntegra estas mais de 500 páginas, que aqui vão ser alvo de umas magras recensões.

Um abraço do
Mário


"Amílcar Cabral – Vida e Morte de um Revolucionário Africano"

Amílcar Cabral, a formação de um revolucionário

Beja Santos

“Amílcar Cabral, Vida e Morte de um Revolucionário Africano” é uma obra exaustiva de Julião Soares Sousa que começou por ser uma tese de doutoramento defendida na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É uma obra de leitura obrigatória para todos aqueles que pretendam aprofundam os seus conhecimentos sobre o envolvimento do mais talentoso de todos os militantes anticolonialistas e do seu pensamento político, não só no que respeitava à independência das colónias portuguesas como sobre a unidade africana, um sonho marcante dos anos 60 e 70, naquele continente (Nova Vega, 2011).

Estudar Amílcar Cabral é indispensável para conhecer não só a formação e a luta ao nível do PAIGC como para conhecer a formação dos diferentes dirigentes anticolonialistas, sobretudo como se formaram nos anos 50 e 60. Como prova e comprova Julião Soares Sousa, o papel do indivíduo Amílcar Cabral foi total influência que tudo o que é investigação da Guiné-Bissau, dos anos 50 à actualidade mostra que os eventos se tornam ininteligíveis sem o percurso político e o ideário de líder do PAIGC.

O estudo de Julião Soares Sousa comporta matéria polémica. Não sobre o nascimento ou os primeiros anos de vida de Amílcar Cabral na Guiné e em Cabo Verde. A infância de Cabral esteve sujeita ao meio em que viveu (os pais separaram-se cedo, ele seguiu com o pai, Juvenal Cabral para Cabo Verde, mas será educado pela mãe, também no arquipélago. Cabral nasceu em Setembro de 1924 em Bafatá, aqui viveu 2 anos, viveu depois 3 anos em Geba, 1 ano em Cabo Verde, e 1 ano ou 2 em Bissau. A mãe, Iva Pinhal Évora, foi a grande responsável pela sua formação. Alguns estudiosos da vida de Cabral apontam Juvenal Cabral como a personalidade de referência. Os testemunhos existentes abonam que Amílcar sempre se reviu nos valores da mãe, terá sido ela a responsável pela sua socialização escolar. Frequentou o liceu Gil Eanes. Cabral recordará mais tarde, a propósito da instrução que recebeu: “Gosto muito de Portugal, do povo português. Houve um tempo na minha vida em que eu estive convencido que era português. Mas depois aprendi que não, porque o meu povo, a história de África, até a cor da minha pele… Aprendi que já não era português”. S. Vicente era já ao tempo uma região com aspirações culturais, o Mindelo tinha a revista Claridade e a Academia Cultivar possuía a revista Certeza.

Amílcar Cabral tem 15 anos quando começa a II Guerra Mundial, Cabo Verde sofrerá os impactos do conflito. Mas a verdade é que neste período da sua juventude não se vislumbra nenhum sinal de crítica fora do contexto que era a lógica cabo-verdiana, um misto de orgulho pelos valores europeus e uma atmosfera de sentida africanidade. Os anos 40 foram de crise económica em Cabo Verde, marcada pelas fomes e secas. A poesia de Cabral denota preocupações sociais, é um olhar de um ilhéu, em consonância com um dos seus mais conhecidos poemas “Ilha”, escrito em 1945, quando residia na Cidade da Praia e trabalhava na Imprensa Nacional, foi a paisagem monótona de Santiago que lhe deu o mote:

Tu vives – mãe adormecida
nua e esquecida,
seca,
batida pelos ventos,
ao som da música sem música
das águas que nos prendem…

Servem estas considerações para dizer que Cabral era o produto do seu tempo, as preocupações guineenses estão totalmente omissas. Em 1945, Cabral parte para Portugal como bolseiro, ingressa em Agronomia, onde será um aluno distinto. É aqui que Cabral vai participar nas movimentações da oposição portuguesa, como dirá mais tarde: “Eu fui fiel à Pátria portuguesa lutando ao lado do povo português contra o salazarismo. Cantando nas ruas de Lisboa (na Rua Augusta), abrindo brechas entre a polícia aquando da eleição de Humberto Delgado. Lutei pela Pátria portuguesa sem ser português. Estou pronto a lutar hoje”. Colaborou activamente na Casa dos Estudantes do Império como no Centro de Estudos Africanos. Os seus ideólogos e referências culturais da época predem-se ao pan-africanismo, caso de Aimé Césaire (Martinica), Léon Damas (Guiana francesa) e Léopoldo Sédar Senghor (Senegal). Depois evoluiu para o pan-negrismo e para as vozes que anunciavam a independência colonial. Tudo isto aparece largamente documentado no trabalho de Julião Soares Sousa. Quando conclui a sua licenciatura, dá sinais de querer ir trabalhar em África. Por concurso parte para a Guiné, no início dos anos 50, quando a designação “Império Colonial” cedeu lugar à de “Províncias Ultramarinas”. Enquanto procede, acompanhado pela mulher, ao recenseamento agrícola da Guiné, a partir de 1952, Cabral já adquirira uma longa aprendizagem sobre o que faziam as organizações nacionalistas e cívicas de Angola, já se relacionara com Lúcio Lara, Mário de Alcântara Monteiro e Viriato da Cruz, entre outros. Dirá mais tarde que a sua ida para a Guiné tinha sido programada já com a ideia de fazer alguma coisa, de dar uma contribuição para levantar o povo contra os tugas. Cabral sabia muito pouco sobre a Guiné, foi o recenseamento agrícola que lhe deu a conhecer em grande profundidade a realidade local: 99.7% da população não gozava na plenitude dos direitos civis e políticos. Os seus trabalhos científicos foram elogiados. Pronuncia-se sobre o gravíssimo problema de erosão, atacou a prática da monocultura e sugeriu que se colocasse de parte a cultura do amendoim, devia-se dar prioridade à cultura do arroz e valorizar a agricultura tradicional. Data desse período a frustrada criação do Clube Desportivo, supõe-se que a ideia de Cabral era a de preparar os naturais da Guiné para assumirem eles mesmos o processo de reivindicação dos seus direitos.

O autor desmonta a tese da alegada fundação do MING por Amílcar Cabral, por motivo de doença ele e a mulher e a filha regressam a Lisboa em 1955. Ao tempo, consta de um relatório da PSP de Bissau que Cabral e a mulher se tinham comportado de maneira a levantar suspeitas de actividades contra a presença portuguesa em África, exaltando prioridades do direitos dos nativos, chegando mesmo a pretender fundar uma agremiação desportiva e recreativa.

Em Lisboa, permaneceu pouco tempo, seguiu para Angola onde acompanhou a criação do movimento independentista. Quanto à fundação do PAI/ PAIGC em 1956, o autor demonstra que tal não foi possível, ao contrário do que pretende a hagiografia oficial. Importa agora ver como se entrosou a actividade de Cabral com as organizações nacionalistas da Guiné e de Cabo Verde, a partir de 1959 e quais os fundamentos da unidade africana e da unidade Guiné e Cabo Verde.

(Continua)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8508: Notas de leitura (253): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (1) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 11 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8542: Notas de leitura (255): Guia Político dos Palop, por Fernando Marques da Costa e Natália Falé (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8548: Álbum fotográfico de Manuel Coelho (2): Madina do Boé



1. Ultimas 20 fotografias do aquartelamento de Madina do Boé enviadas pelo nosso camarada Manuel Caldeira Coelho (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1589/BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68) em mensagem do dia 28 de Junho de 2011.


ÁLBUM DE MANUEL COELHO (2)

MADINA DO BOÉ (2)


Madina do Boé > Armazém

A Bandeira Portuguesa hasteada em Madina do Boé

Central eléctrica de Madina do Boé

Turismo de Habitação em Madina do Boé

Madina do Boé > Chuveiro de alta tecnologia

Convite para umas férias inesquecíveis

Madina do Boé > Cozinha equipada e preceito

Madina do Boé > Viaturas destruídas

Fonte de Madina do Boé

Mata em Madina do Boé

Madina do Boé > Memorial da CCAÇ 1416

Parada de Madina do Boé

Madina do Boé > Porta das traseiras

Posto de Rádio em Madina do Boé

Recordações de Madina do Boé

Saída de Madina para regresso a Nova Lamego, após rendição pela CCAÇ 1790

Rumo ao Cheche

Fotos: © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 12 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8544: Álbum fotográfico de Manuel Coelho (1): Madina do Boé - Abrigos

Guiné 63/74 - P8547: Parabéns a você (291): António Tavares, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912 e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil da CCAÇ 2658/BCAÇ 2905 (Tertúlia / Editores)


PARABÉNS A VOCÊS

DIA 13 DE JULHO DE 2011

E

NESTE DIA DE ANIVERSÁRIO DOS NOSSOS CAMARADAS ANTÓNIO TAVARES E ROGÉRIO FERREIRA, A TERTÚLIA E OS EDITORES VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR-LHES AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE, JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.
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Notas de CV:

António Tavares foi Fur Mil na CCS do BCAÇ 2912 que esteve em Galomaro nos anos de  1970 a 19772

Rogério Ferreira foi Fur Mil Inf Minas e Armadilhas na CCAÇ 2658/BCAÇ 2905 que esteve em Nhamate e Galomaro nos anos de 1970 a 1971

Vd. último poste da série de 12 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8545: Parabéns a você (290): Agradecimento e convite à tertúlia de Joaquim Peixoto

terça-feira, 12 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8546: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (43): Augusto Barros - Apontamentos


1. Em mensagem do dia 8 de Julho de 2011, o nosso camarada Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), conta-nos mais um pouco da viagem às suas memórias.


Viagem à volta das minhas memórias (43)

Augusto Barros - Apontamentos



Como já anteriormente disse ou dei a entender, neste destacamento a vida era uma espécie de pasmaceira, comparativamente ao que estávamos habituados. Basicamente só tínhamos que lutar contra o tempo, que corria a conta-gotas e para tentar contrariar essa baixa velocidade de passagem, usavam-se todo o tipo de estratagemas.

Para além das petiscadas e dos comedores de ostras, já mencionados em Poste anterior, havia os pequenos agricultores caseiros, que se ufanavam e ainda bem também para nós (os aproveitadores) consumidores (?!)

Nessa ”classe” o Furriel Almeida orgulhava-se do seu canteiro de alfaces, tomates (?) e outras hortícolas que ofertava e confeccionava com prazer e “superioridade” superintendente, gostando pouco que alguém mexesse na sua leira que dizia estar sempre a produzir e que o fazia ficar admirado com a pobreza agrícola daquelas gentes!

Detestava e com razão que alguém se apropriasse de qualquer folha que fosse, sem prévia licença. A pequena horta era a menina dos seus olhos, a que dedicava parte do seu tempo com prazer, orgulho e até, parecia-me, certa ternura. “Olha-me para isto… não é um espectáculo, pá ?!” dizia (mais ou menos). ”Esta terra está sempre a dar… não entendo… nem é preciso puxar por ela…!”

Era e é um Beirão de metas a atingir, exigente mas defensor do seu Pessoal, de nobres sentimentos e que acabou nos finais da comissão, por alturas do levantamento do campo de minas, por sofrer bastante psicologicamente, devido (creio) a constatar quase diariamente situações que foram graves para bastantes dos “contratados”, mas lhe eram alheias na medida em que não estava nelas envolvido e como tal não tinha controlo nem podia interferir. Disse “dos contratados” porque o “contrato” pelo menos comigo foi que, no final do levantamento podia ir de férias para qualquer parte da Guiné, até ao dia de embarque. Como ainda hoje… promessas leva-as o vento !!!

Aspecto de Augusto Barros (creio ser o refeitório em fundo)

Augusto Barros - Um treininho de bola

Depois… havia o “Capitão caçador” que arrancava noite adentro para terrenos pouco seguros, com um 412 ou 411 equipado com foco direccional e meia dúzia de “galfarros “ voluntários não para caçar, mas para eventualmente não ser “caçado”! Devo dizer que nunca fui e sempre me opus quanto e na medida em que me foi possível. Achava que os Rapazes corriam um grande risco a acrescentar ao já normal por aquelas paragens e já que se tinha conseguido chegar até ali, passando pelo que havíamos passado… era a meu ver (e ainda hoje) uma estupidez e uma irresponsabilidade que poderia ter afectado terceiros! Mas… era o Capitão “sazonal”.

Lá partia ele e “companhia”, faróis rasgando a noite com focos à mistura, à procura de olhos brilhantes no breu da escuridão que pudessem ser de alvo a abater. Que recorde, naquelas incursões só um gato-bravo teve esse azar.

Um belo dia soube-se que por um acaso da sorte, ”caçador” e companhia não viraram “caça” por uma questão de “horário”. Tinham falhado por pouco uma emboscada, “festa surpresa” especificamente preparada em sua honra! Ao que recordo, acabaram-se as caçadas e ainda bem, pois acabou por ninguém se “aleijar”.

A minha pessoa, que no entretanto tinha mudado de visual  (!?) com uma valente carecada auto-infligida, por lá se ia movimentando no tempo e espaço, gerindo e cumprindo o melhor possível com os deveres, prazeres e receios também.

Dessas andanças recordo idas a Bula montado na direita do pára-choques do 411, “bunda” assente no capô(t), arma abraçada e olhos que pretendia de águia a perscrutar os metros fronteiros de terreno de picada irregular e ressequida, percorridos vagarosamente na expectativa de vislumbrar um qualquer indício de remexida abusiva na terra ou outro qualquer sinal dissimulado, prenunciador de mina ou armadilha colocada após a picagem diária, especialmente em alguns locais mais vulneráveis. Não me perguntem porquê, mas sentia um certo prazer e ao mesmo tempo segurança ao assumir o risco previsto mas precavido.

Os dias iam-se escoando aproximando-me vagarosamente de umas novas férias no “Puto”. Isso era importante, muito importante para a sanidade mental.

Luís Faria
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8357: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (42): Destacamentos: Augusto Barros e o Grupo das Ostras

Guiné 63/74 - P8545: Parabéns a você (290): Agradecimento e convite à tertúlia de Joaquim Peixoto

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Carlos Peixoto* (ex-Fur Mil Inf MA, CCAÇ 3414, Bafatá e Sare Bacar, 1971/73), com data de hoje, dia 12 de Julho de 2011:

Camaradas
Deve haver com certeza, no dicionário, uma palavra melhor que um simples “Obrigado”, para expressar o que sinto e senti ao receber os parabéns no dia do meu aniversário.

Mas, como pouco erudito que sou, já com algumas falhas de memória, que me fazem baralhar um pouco, o racional do irracional, só me vem à ideia a palavra “OBRIGADO”.

A todos os camaradas que me presentearam com os parabéns, tanto no blogue, como por mail, por telefone e pessoalmente, quero gritar bem alto “obrigado” por terem tempo de me ouvir, por conversarem comigo, por me recordarem neste dia.

A todos os que puderem, convido a estarem presentes amanhã, dia 13, na Tabanca Pequena de Matosinhos, para que possamos juntos festejar com bolo e champanhe (e não com cabrito, como era a vontade do Régulo de Mampatá) o dia em que há 62 anos fui apresentado ao Mundo.

Joaquim Carlos Peixoto
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8531: Parabéns a você (286): Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 3414 (Tertúlia / Editores)

Vd. último poste da série de 12 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8543: Parabéns a você (289): António Dâmaso, Sargento-Mor Pára-quedista Reformado (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P8544: Álbum fotográfico de Manuel Coelho (1): Madina do Boé - Abrigos

1. Mensagem do nosso novo tertuliano Manuel Caldeira Coelho (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1589/BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68), com data de 28 de Junho de 2011:

Olá camaradas,

Sou Manuel Caldeira Coelho, ex-Furriel Miliciano de Transmissões da Companhia de Caçadores 1589, na Guiné entre 1966 e 1968, e aqui vos envio 87 fotos.

As primeiras 27 são de Bissau, as seguintes 38 são de Madina do Boé, as seguintes 9 são de Nova Lamego (Gabu), outras 9 de vários locais e 4 do regresso.

Ficam à vossa disposição para se assim o entenderem incluir parcial ou totalmente no blogue.

Algumas das fotos já foram exibidas no programa televisivo do jornalista Joaquim Furtado na RTP e no DVD que saíu com o título "A Guerra" (2.ª série).

Esta é a minha pequena contribuição e se ajudar a conhecer a história desta guerra, que à data foi julgada justa e necessária.

Pior de tudo foi os que lá tombaram, mas mau também as condições sub-humanas que nos forçaram a viver.

De bom, claro, a camaradagem e o contacto com outros locais e culturas.
Sobrará alguma lembrança desse tempo daqui a uma ou duas gerações?

Abraço, até sempre!
Manuel Coelho


ÁLBUM DE MANUEL COELHO (1)

MADINA DO BOÉ (1)

Abrigos














Buraco provocado por uma bomba

Canhão sem recuo

Fotos: © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados

2. Comentário de CV:

Caro camarada Manuel Coelho, bem-vindo à Tabanca Grande.
Presenteaste-nos na tua apresentação com fotos, que julgo serem inéditas, de Madina do Boé. Vamos ficar com um espólio muito importante da zona mais controversa da Guiné, pela dificuldade operacional que impunha às NT, pelo facto de sermos atacados a partir de um país vizinho com as consequências previstas caso retaliássemos, pelas péssimas instalações como bem documentam as tuas fotos e até mesmo na retirada estratégica, com o desastre do Cheche de muito má memória, quando perdemos dezenas de camaradas no Rio Corubal.

Muito obrigado por estas tuas fotos que esperamos seja o início de uma colaboração regular no nosso blogue.

Recebe um abraço de boas vindas em nome da Tertúlia e dos editores.
Carlos Vinhal