terça-feira, 9 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P735: Tabanca Grande: António Eugénio da Silva Levezinho (Tony Levezinho) da CCAÇ 12


António Eugénio da Silva Levezinho, Tony para os amigos, o melhor de todos nós...

Em 1969, ei-lo furriel miliciano da CCAÇ 2590, mais tarde CCAÇ 12...

E hoje, no seu retiro algarvio, Martinhal, Sagres, Vila do Bispo ... onde ao lado da sua querida Isabel continua, sempre de porta aberta, afável e disponível para os amigos.

É um gentleman, tal como o pai, que eu ainda tive o privilégio de conhecer pessoalmente na sua casa da Amadora, nos primeiros anos da década de 1970... Antigo quadro da Petrogal onde chegou a chefe de divisão (o que não era fácil a um self-made man como ele, numa empresa de engenheiros), o Tony era (ainda é) um perito na arte do impor-export do petróleo e seus derivados... 

Graças às suas ligações à Sacor, nunca nos faltava o fiel amigo à mesa, em Bambadinca. O bacalhau e outras iguarias chegavam-nos à Guiné, regularmente, através do navio-tanque da Sacor...Ficava `guarda da Casa Fialho, um comerciante com raízes no Cadaval tal como os Levezinho...

Não gosta de falar dele, cultiva o low profile, mas ao fim de muitas insistências lá foi ao baú das suas recordações desencantar estes mimos que nos enviou.... Uma nota modesta com um

"Olá, Luís" e a seguinte justificação:

"Como prometido aqui seguem as seguintes digitalizações:
As quatro páginas da ementa da última refeição, na viagem de regresso, a bordo do Uíge, e outras tantas fotos mais de interesse pessoal do que documental mas, mesmo assim... aí vão.

Um grande abraço.
Tony"...


N/M Uíge > 17 Março de 1971 : Dia da partida de Bissau para Lisboa. Regressávamos da guerra, com a morte na alma e mazelas no corpo, num navio da marinha mercante da Companhia Colonial de Navegação (uma empresa, fundada em Angola em 1922, para assegurar os transportes marítimos das colónias portuguesas com a Metrópole, sendo o paqueteVera Cruz o seu navio mais emblemático, e que não teve tempo de fazer o branqueamento do seu nome, já que o termo colonial não era politicamente correcto no início dos anos 70...).

Como se tudo continuasse como dantes e a vida corresse normalmente, "contra os ventos da história" (como então se dizia), nessa viagem de regresso à pátria servia-se a bordo, na classe turística (reservada aos sargentos) uma sopa de creme de marisco, seguido de um prato de peixe (Pescada à baiana) e um de carne (Lombo Estufado à Boulanger)... sem esquecer a sobremesa: a bela fruta da época, o bom café colonial, o inevitável cigarro a acompanhar um uísque velho, antes de mais uma noitada de lerpa ou de king... Obrigado ao Humberto Reis e à sua já famosa "memória de elefante" por me lembrar que o 17 de Março de 1971 foi o primeiro dia do resto das nossas vidas...
(LG)

Foto: © António Levezinho (2006). Todos os direitos reservados



A caminho da Guiné > A bordo do Niassa > Maio de 1969: Quadros metropolitanos da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), na viagem de Lisboa-Bissau (24 a 29 de Maio de 1969). Da esquerda para a direita: 2º sargento Videira, furriéis milicianos Branquinho, Levezinho, Reis, Fernandes, Henriques e Almeida (este último já falecido).

Foto: © Luís Graça (2005).  Todos os direitos reservados


N/M Uíge > Março de 1971 > Nomes e moradas que ficaram escritos numa folha de papel (nas costas da ementa de um jantar a bordo) no alvoroço do regresso... Alguns de nós nunca mais se voltaram a encontrar: foi o caso do Luciano, desaparecido em condições trágicas (ao que me contaram) ... O Branquinho voltou para a Évora, o Fernandes para o Barreiro e para a CUF.... Voltei a encontrá-lo apenas uma vez, há uns anos atrás... tal como o José Manuel Rosado Piça, o grande Piça, para os amigos!.... Mesmo assim, ficámos amigos... para sempre ! (LG)

Foto: © António Levezinho (2006). Todos os direitos reservados

Guiné > Zona Leste > Contuboel> CCAÇ 12 > Junho de 1969 > Furriéis Levezinho e Henriques, no bem-bom da instrução de especialidade dada aos nharros da futura CCAÇ 12 (na altura CCAÇ 2590)... Havia tempo para tudo, até para brincadeiras estúpidas ou tão inocentes como esta simulação de um catana a exercer o seu mister no delicado pescoço de um tuga... (LG)

Foto: © António Levezinho (2006). Todos os direitos reservados

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 > 1970 > Furriéis Levezinho e Henriques, à beira da estrada, descando por uns momentos, já com ar de velhinhos, próximos do final da comissão... O quico (balanta ?) do furriel Henriques era manifestamente um sinal de que o RDM já não se aplicava no teatro de operações da Guiné... Acho que foi aqui que começámos a perder a guerra... com a nossa progressiva cafrealização... Mas o pior de todos, o exemplo mais subversivo, era o do Jorge Cabral, régulo tuga de Fá Mandinga...(LG)

Foto: © António Levezinho (2006). Todos os direitos reservados

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 > 1970 > Furriéis Levezinho e Henriques, à civil, com ar domingueiro... Por detrás, as excelentes instalações do hotel de Bambadinca que faziam inveja a muitos dos nossos camaradas de passagem pela sede do Sector L1... O Henriques sempre o conheci de livro debaixo do braço, razão porque tinha um ombro mais alto do que outro...(LG)

 
Foto: © António Levezinho (2006). Todos os direitos reservados



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 > Novembro de 1969 > Furriéis Henriques, Reis e Levezinho, no bar de sargentos, comemorando mais um feliz aniversário do Tony: creio que o 22º, a 24 de Novembro de 1969... Se não foi nesse dia (já que os dois últimos passaram a noite a fazer segurança a uma máquina da engenharia atolada na estrada Xime-Bambadicna), terá sido no dia seguinte... No teatro da morte, todos os pretextos eram bons para saudar à vida... E tamb´+em saudámos ao casamemto do Tony, a meio da comissão, aproveitando o merecido mês de férias na Metrópole... Creio que a Isabel nessa altura tinha 17 anos... Nunca a deixámos ser viúva, tomando bem conta do seu Tony...

O furriel Henriques garante que esta foto é de 1969, já que está de óculos; no aniversário seguinte, a 24 de Novembro de 1970, dois dias depois da invasão de Conacri por Alpoim Galvão e os seus rapazes, ele já não usava óculos: tinha-os perdidado definitivamente, por efeito do cone de fogo de uma bazuka, da sequência de uma emboscada, sofrida durante a Op Boga Destemida, em 9 de Fevereiro de 1970... (2)(LG).

Foto: © Humberto Reis  (2006). Todos os direitos reservados


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 > 1971 > Furriéis Levezinho e Fernandes, em convalescença... Ao Tony já não sei o que é que aconteceu... Ao Fernandes, o braço ao peito tem uma explicação: a explosão de uma mina anticarro à saída de Nhabijões, no dia 13 de Janeiro de 1970 (um dia fatídico o nosso soldado condutor auto, Soares, que teve morte imediata; mas também para o Fernandes, que ficou ferido; para o Alf Mil Moreira, que foi gravemente ferido; e para outros camaradas, incluindo o furriéis Marques e Henriques e, que cairam, com o seu grupo de combate, numa segunda mina; por caso o dia, embora 13, não foi sexta-feira, mas sim quarta-feira) (2) (3) (LG)

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P734: Tabanca Grande: António Santos, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego

Mensagem do nosso camarada António Santos

Caro amigo, Luis Graça.
Em anexo envio um documento que pretende ser a minha primeira participação no Blogue-fora-nada.
Aguardo notícias para continuar.

Obrigado,
António Santos


Caneças, 15 de Maio de 2006

Caro camarada Luis Graça.

Peço desculpa de, no primeiro contacto, estar tão íntimo mas tomo a liberdade após entender que no blogue-fora-nada é mesmo assim.

Ando há cerca de um mês a espreitar o teu blogue cujo tema é a Guiné, e a vontade de entrar na conversa vai aumentando todos os dias e, como alguma vez tem que ser a primeira, cá vai.

Essa terra que, apesar de independente, com todo o direito, sinto que é hoje mais nossa do que o foi há 34 anos, (para o meu turno), quando fui (fomos) brindados com uma viagem de ida e talvez volta, felizmente que a volta o foi para a grandissíma maioria dos camaradas.

Tenho reparado que o pessoal da zona onde fui parar [Nova Lamego], não aparece para desabafar o muito que tem para contar

Data: 1 de Agosto de 1974, 12 horas; local: aeroporto de Bissalanca, Guiné-Bissau... Saímos aproximadamente 4 horas depois do previsto, porque o avião estava a ser reparado na ilha do Sal em Cabo Verde de uma pequena avaria, mas a pressa era tanta em regressar que ninguém se importou em embarcar.

O Boeing 707 dos TAM começa a sua corrida para levantar voo com destino a Lisboa e, no preciso momento em que as rodas deixaram de tocar na pista, alguém disse alto e bom som:
- Nunca mais volto a esta terra!

... Pois passados 32 anos sobre esse dia, esse alguém está com uma vontade louca de voltar (vontade que não é de agora, já dura há alguns anitos). Voltar à Guiné só tem acontecido em sonhos e muitos, pois já fui mobilizado umas quantas vezes.

Voltar não só para visitar Nova Lamego (Gabu Sara), terra de mim, mas também outros locais de que tanto ouvi falar por variadíssimas razões, e que o blogue-fora-nada veio recordar.

Esse alguém é quem está a escrever, como já percebeste. Chamo-me António Santos, ex-Soldado de Transmissões, em Nova Lamego, Sector L3, de 1972 a 1974, incorporado no Pel Mort 4574/72, para render o Pel Mort 2267/70.

Mas voltando ao início, como tudo começou:

- 19 de Outubro de 1971: Recruta no RI 3, Beja;
- 2 de Janeiro de 1972, especialidade no BCAÇ 5, Campolide, Lisboa;
- 13 de Março de 1972, pronto, Amadora: nesse dia, guia de marcha para uma diligência no HMP na Estrela Lisboa;
- finalmente, 31 de Maio de 19 72, a (não desejada)mobilização pelo RI 15 em Tomar, com destino à Guiné.

Por agora fico por aqui, para não se tornar uma grande seca. Estou a digitalizar uma série de fotos que, se estiveres de acordo, vou enviando, conforme for escrevendo.

Cumprimentos

Depois disto tudo, se me é permitido envio um abração para toda a tropa.

Comentário de L.G.:

Nunca digas... jamais, seca, dá-me licença, meu comandante... Nem peças para entrar: a caserna é grande e é nossa... O blogue é teu, camarada.

Guiné 63/74 - P733: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (6); Mansoa, baptismo de fogo


VI parte do testemunho do Paulo Raposo (ex-Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, da CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 > Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70 > Galomaro e Dulombi).

Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997. pp. 18-22 (1).


Guiné > Região do Oio > Mansoa > 1968 > O Alf Mil Raposo, de óculos escuros, com o Furriel Ribas, à sua esquerda, e alguns soldados, observando uma giboia morta perlas NT © Paulo Raposo (2006)


Mansoa: Baptismo de fogo

O sacrifício era muito. Vou contar uns episódios dos muitos que por lá passàmos:

1. Após a nossa chegada a Mansoa, foi-nos distribuído o material de guerra. Já armados, fomos para uma bolanha, nome que se dava a um grande charco de água, que enchia com a chuva.
Esta bolanha ficava para além de uma companhia de balantas, que fazia a protecção do nosso quartel. Naquela zona de Mansoa, sair fora do arame farpado tinha riscos.

Este exercício tinha como objectivo habituarmo-nos a estar debaixo de fogo. Deita-se um grupo de combate, e por cima deste, faz-se fogo.

Aconteceu que logo no primeiro exercício, quando estava o primeiro grupo de combate deitado, há um disparo que sai mais baixo e vai ferir em ambas as pernas um soldado. Depressa foi chamada uma viatura, para o levar rapidamente para o Hospital. Para aquele rapaz, a comissão terminou ali.

Este acidente foi muito desmoralizante para os restantes e mais nenhum outro exercício foi feito. Perguntei-me nessa altura como iria sair dali.

2. Um belo dia o meu grupo de combate estava encarregue de levar e proteger os homens que iam limpar do capim uma faixa grande de ambos os lados da estrada. Assim evitávamos que tivessemos emboscadas coladas à picada.

Dirigimo-nos para o local de trabalho em duas viaturas. Parámos precisamente no sítio aonde tínhamos terminado o trabalho no dia anterior, ou seja ainda na zona já descapinada.

Quando parámos, saltaram do capim alguns elementos IN para a estrada. Fizemos fogo, eles fugiram e não responderam. Se tivéssemos parado 50 metros mais à frente, tínhamos caído na emboscada.

Recuperados da emoção, os homens começaram o seu trabalho e eu dirijo-me para um tronco de árvore, que estava caído, para me sentar. Ao aproximar-me do tronco, este mexe-se. Era uma gibóia, com sete metros de comprido. Enfiei-lhe um carregador em cima e ela continuava bem viva. O Cabo enfermeiro Luís, agarra num tronco de um ramo verde, e, pondo-se à frente dela, bate-lhe continuamente na cabeça, até a cobra se ver perdida.

Uma vez perdida, morde-se a ela própria, para não se humilhar à mão do enfermeiro Luís.

3. Durante as muitas operações de patrulhamento que fazíamos, tivemos numa delas o nosso baptismo de fogo.

Depois de termos passado o dia a andar, paramos para passar a noite. Íamos a nível de companhia. Ao levantarmo-nos, de madrugada, iniciámos o regresso. Estava muito húmido.
Por cima de nós estava o PC em DO para controlar a nossa progressão.

O PC era o nome que dávamos ao Posto de Comando e o DO era um monomotor da Força Aérea, mais precisamente DO-27. Em determinadas operações um posto de comando era enviado para controlar a progressão da força no terreno, e para ter a certeza que esta atingia o objectivo da operação.

Era a maneira evoluída e mais humana do que se fazia nas guerras convencionais de trincheira.
Quando se pretendia fazer um avanço em linha nas forças inimigas a estratégia era a seguinte:

A artilharia bombardeava durante três dias as trincheiras inimigas, para as aniquilar fisicamente, criar um clima de terror e de ansiedade no inimigo, destruindo-o psicologicamente também, dado que não tinham descanso naqueles dias. De seguida dava-se ordem às nossas tropas para avançarem. Imediatamente a artilharia passava a bombardear as nossas trincheiras, para ter a certeza que ninguém ficava para trás.

Hoje, do ponto de vista comercial, os técnicos das mais avançadas empresas de Sillicon Valley dizem:
- Obtem-se o que se inspecciona, não o que se espera.

Este assunto já vem descrito na Sagrada Bíblia. Só depois do dono da seara mandar aparelhar o cavalo, é que as cotovias dizem umas para as outras:
- Agora sim, irmãs, é hora de irmos embora. - Mandar os criados : não basta, é preciso acompanhá-los.

De repente ficámos debaixo de um grande tiroteio, com a irritante costureirinha, assim lhe chamavamos, à PPSH do inimigo, a bater por cima de nós. Era uma arma automática, que tinha uma maneira muito característica de fazer fogo (2).

Instala-se a surpresa e o medo. Quando a nossa resposta se inicia, o medo desaparece, passamos a dominar a situação, e vá de levantar e sair rapidamente da zona de morte. Depois de tanto barulho, tiros e granadas, pensamos que haverá alguns mortos e feridos. Nada disso. Nada aconteceu. Nossa Senhora vai-nos protegendo.

Quando isto acontece na segunda vez notamos que é quase impossível haver vítimas e é então que se instala a confiança.

Havia pois três períodos distintos durante a Comissão: O primeiro, o da chegada, era o do medo do desconhecido, o medo de não sabermos controlar as situações que nos apareciam. O segundo era o da auto confiança, em que nos considerávamos os maiores. Nada nos intimidava. O terceiro era a fase final. Era o pior pois a pouco tempo do embarque e já com a comissão prestes a acabar, tínhamos medo que algo nos acontecesse. Era a fase do tirem-me daqui.

4. Todos os dias havia uma coluna que ia a Bissau e que era acompanhada por um grupo de combate para protecção dos carros. Na volta a coluna formava-se junto ao Hospital Militar.

Sempre que eu ia a Bissau costumava subir à enfermaria dos oficiais para saber se lá estava alguém conhecido. Numa dessas vezes entro e vejo um rapaz amigo, o Alvarez. Tinha entrado comigo para Mafra. Naquela altura, ele tinha um DKW que se via aflito para subir a ladeira de Cheleiros [, estrada de acesso a Mafra].

Era Alferes dos Comandos e, numa operação no Sul, contou-me ele, ia em terceiro lugar e deu de caras com o inimigo, num trilho. Depois da troca de tiros, há uma granada de bazuca do inimigo que explode nas árvores e os estilhaços choveram sobre ele.

Coitado, estava todo esburacado. Depois de várias operações, ficou bom e é hoje um dos melhores comandantes da TAP. Já tive a sorte de voar com ele uma vez.

____________

Nota de L.G.

(1) Vd último post, de 7 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXI: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (5): Periquito em Mansoa

(2) Vd. a página de Bill Berg, em inglês, sobre a PPSH bem como fotos desta famosa arma russa que nos punha os cabelos em pé, na Guiné (fotos da autoria de Oleg Volk) . Sobre as armas utilizadas na guerra colonial, consultar também o Centro de Documentação 25 de Abril , da Universidade de Coimbra. Infelizmente há poucos sítios, em portugugês, com as imagens e com as especificações técnicas das armas mais usadas durante a guerra colonial em África. É um campo a explorar eventualmente por um dos nossos tertulianos...

domingo, 7 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P732: Convívios: Encontro do Curso de Oficiais Milicianos da EPI, 2ª Incorporação de 1967

Mafra > Escola Prática de Infantaria (EPI) > 1968 > Cerimónia do Juramento de Bandeira > Desfile dos novos militares onde se integrava o Paulo Raposo, frente ao Convento de Mafra.

© Paulo Raposo (2006)


Mensagem do Paulo Raposo, pedindo a divulgação do seguinte:

Grande Encontro da 2ª Incorporação, de 10 de Abril de 1967, do Curso de Oficiais Milicianos da Escola Prática de Infantaria (EPI), Mafra

1 de Julho de 2006 > Mafra

10.00 - Concentração junto à Porta de Armas da EPI

10.45 - Homenagem aos mortos

11.00 - Colocação de uma placa assinalando o encontro

12.00 - Missa campal na parada

12.45 - Fotografia dos presentes

13.00 - Almoço no refeitório do Quartel

Preço do pessoa > 15 a 20 € (Estando dependente do nº de participantes)

Traz a tua família e passa palavra a outros ex-cadestes desta incorporação.

Traz também a tua boina coma s armas da Infantaria e o emblema da

Placa a ser afixada;

HOMENAGEM À EPI
CURSO DE OFICIAIS MILICINOS 2ª INC. 1967

10 de Abril de 1967
1 DE JULHO DE 2006


Os organizadores > Rui Felício e Paulo Raposo

Envia a tua inscrição para: abril67epi@gmail.com

Contacto na EPI: 2º Comandante, ten-cor João Mendes

Tel 261 815 055

Guiné 63/74 - P731: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (5): Periquito em Mansoa

V parte do testemunho do Paulo Raposo (ex-Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, da CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 > Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70 > Galomaro e Dulombi).


Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997. pp. 15-16 (1).


Guiné > Região do Oio > Mansoa > 1968 > Um periquito em Mansoa
© Paulo Raposo (2006)

MANSOA - Parte I

Seguimos finalmente para Mansoa, em coluna. Como ainda não estávamos armados, nos sessenta quilómetros que se seguiram, íamo-nos perguntando:
- E se houver ataque à coluna, como é?

Mansoa era uma terra importante com ruas alcatroadas. Durante essa primeira noite, o Batalhão que lá estava, o 1911, simpáticos, fizeram uma salva de artilharia à noite para verem a reacção dos periquitos (alcunha dos recém chegados).

Logo na primeira semana em Mansoa, dei por outra situação semelhante à que tive em Abrantes com o meu colega de quarto. Um belo dia estávamos a almoçar na Messe e, na cozinha, que ficava junta, alguém fechou com força a tampa de uma arca frigorífica.

Um Alferes do 1911, portanto já com algum tempo na Guiné, dá de repente um salto, e faz menção de correr para o abrigo. Pergunto-me:
- 0 que se passa?

O barulho seco do fecho destas arcas frigoríficas era semelhante ao da saída de um tiro de morteiro. Aquele rapaz ouviu o barulho e saltou, como um reflexo condicionado.

Passado pouco tempo, isto começou a acontecer com quase todos nós, e manteve-se ainda muito tempo depois de termos regressado de vez.

O nosso estado de alerta era uma constante. O clima era horrível. No verão havia calor e chuva todos os dias. O inverno era quente e seco. Foram dois anos a dormir só com um lençol. Muitas saudades tive do peso e do calor do cobertor da minha cama.
A noite os mosquitos eram às núvens, não se podia dormir. Era um suplício.

A vegetação era luxuriante, cheia de vários verdes muito bonitos. Tudo crescia e se desenvolvia desordenadamente. A Guiné era rica em madeiras exóticas. Naquele tempo não havia o cuidado de cortar e plantar ordenadamente a floresta para explorar a madeira. A mãe natureza era generosa naquela terra. Quanto a animais selvagens só vi gazelas, macacos e gibóias.

Todos os que por África passaram trazem saudades da sua mística. Quanto a mim tem a ver com dois factores. Um é o espaço: há espaço e oportunidades para todos. Não há pressas. Neste ambiente a inter-ajuda e a solidariedade são infinitas e com elas vem o convívio e a amizade. As amizades de África são para a vida e para a morte.

O outro factor é o clima. O dia quando nasce, nasce com toda a sua pujança e exuberância e a natureza desperta de repente. O pôr do sol, cheio de cores quentes, é o inverso. A natureza adormece na sua paz também quase de repente. É o melhor momento do dia. Era durante este período que tomávamos banho, punhamos roupa à civil e íamo-nos sentar nas cadeiras de lona no exterior da Messe, a beber um aperitivo e a conversar. Era um ritual.

Era no meio deste ritual que aparecia o sargento do dia com uma praça. O soldado trazia um tabuleiro com prova do rancho dos soldados. Dava-o a provar ao Oficial do dia e ao Comandante. Muitas vezes era melhor e tinha melhor apresentação que o nosso. Era mais um ritual.

Durante os cinco meses que estivemos em Mansoa a nossa vida foi um frenesim, embora tenha sido o único período em que tivemos luz eléctrica. O resto da comissão foi feita à luz do Petromax.

Saíamos quase todos os dias, ora em colunas, ora como escoltas, outras vezes em operações, outras ainda em patrulhamento, emboscadas, ou como protecção à capinagem, eu sei lá, fazíamos de tudo. Na maioria das vezes, a nossa segunda farda não chegava a secar da saída anterior, e lá íamos com a roupa molhadinha colada ao corpo.

__________

Nota de L.G.

(1) Vd último post, de 5 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXVIII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (4): Em Bissau com Spínola

sábado, 6 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P730: Ex-comandos africanos, órfãos de Pátria - reportagem na RTP 1 (José Martins)

Texto do José Martins

Órfãos de Pátria é o título do primeiro trabalho a ser exibido no
Em Reportagem, na RTP 1. Na peça realizada pelo jornalista António Mateus, é
retratado o abandono dos comandos de origem africana que, durante a Guerra Colonial, combateram integrados no Exército Português em pleno território da Guiné-Bissau.

Abandonados pelo Estado Português no decurso da transição para a independência, todos os oficiais acabaram por ser fuzilados. Só as patentes mais baixas escaparam. No entanto, são, ainda hoje, alvo de discriminação, vivendo em situação de pobreza extrema e sem qualquer reconhecimento do País que defenderam.

António Mateus explica a escolha do nome: "Eles sentem-se portugueses, o que agrava a noção de abandono pelo Estado português."

O texto acima é parte da noticia do Correio da Manhã a anunciar um novo
programa a ir para o ar no próximo dia 9 de Maio a seguir ao telejornal.

Chegou-me através do site Moçambique - Guerra Colonial

Um abraço e bom fim de semana
José Martins

Guiné 63/74 - P729: O Nosso Livro de Visitas: Parabéns, camaradas (Tomás Oliveira, ex-fuzileiro)

Mensagem de Tomás Oliveira, com data de hoje:

Parabéns por este magnífico blogue, onde a guerra colonial é tratada na primeira pessoa, com a dignidade que merece.

Sou visitante habitual do blogue (faz parte dos meus favoritos), ávido acompanhante dos textos sobre a epopeia que foi a guerra colonial, especialmente o conflito na Guiné.

Soberbo o trabalho tanto deste blogue, como das páginas que lhe estão ligadas.

Bem haja, sr. Luís Graça.

Um admirador dos vossos textos, ex-fuzileiro, de sempre apaixonado pela nossa história e por todos os assuntos militares.
Tomás Oliveira

sexta-feira, 5 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P728: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (4): Em Bissau com Spínola

IV parte do testemunho do Paulo Raposo, de seu nome completo Paulo Enes Lage Raposo, que foi Alferes Miliciano de Infantaria, com a especialidade de Minas e Armadilhas, na CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 (Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70> Galomaro e Dulombi).

Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997. pp. 14-15 (1).
2405
BISSAU

Chegámos a Bissau nos primeiro dias de Agosto [de 1968]. Depois de uma noite mal dormida, e cheios de picadas de mosquito, lá fomos para os adidos em Brá.

Os dois Batalhões [BCAÇ 2851 e 2852]formaram na grande parada e o então Brigadeiro Spínola passou revista às tropas e fez a sua saudação.

Spínola tinha chegado há pouco tempo à Guiné e esta foi a primeira cerimónia deste género que realizou. Acabadas as cortesias, ouve-se o toque a Oficiais e vamos para um briefing. Reunimo-nos numa sala pequena. Nós, os chegados, fomo-nos sentando em várias filas de cadeiras. À nossa frente estava uma pequena mesa aonde se sentou ao centro o Brig Spínola, Governador e Comandante Chefe da Província, à sua direita o Brig Nascimento, 2º Comandante Militar, e à sua esquerda, o Comandante Militar Brig Novais Gonçalves, que já estava no fim da sua Comissão.

Não me recordo do teor do discurso proferido por Spínola, mas deve ter sido no sentido de apelar ao nosso patriotismo e responsabilidade na condução dos homens que tínhamos à nossa guarda.

Após o discurso veio cumprimentar-nos, um a um. Quando chegou a minha vez, eu estava altamente perfilado, pois nunca tinha cumprimentado alguém com tantas estrelas nos ombros. Duas eram de Brigadeiro e as outras quatro de Comandante Chefe, em ambos os ombros.

Ele põe-se em frente de mim, cumprimenta-me e eu também e, à queima-roupa diz-me:
- Você tem sorte.
Eu, sem saber bem o que me esperava, digo muito timidamente:
- Porquê, meu Comandante?
- Porque quando começar a ouvir os tiros, já está mais perto do chão.

Também tinha humor. A meu lado estava o Alferes Felício, que é uma viga, e que a meu lado ainda parece maior. O nosso Comandante Chefe diz-lhe o inverso:
- Você que se cuide.

Realmente, aquele homem com a sua voz rouca e arrastada, de luvas, com monóculo e o pingalim, impressionava qualquer um. A imagem de bravura que transmitia correspondia à sua maneira de ser. Nele tudo era verdadeiro e genuíno.
_________

Nota de L.G.

(1) Vd post anteriores

12 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCXCVI: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (1): Mafra

18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (2): Aspirante em Elvas, Tancos e Abrantes

19 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXV: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (3): De Santa Margarida ao Uíge

Guiné 63/74 - P727: Em 22 de Novembro de 1970 eu estava em Bafatá (Manuel Mata)

Cópia de excerto do relatório do comandante da Op Mar Verde (Fonte: António Luís Marinho: Operação Mar Verde – Um documento para a história. Lisboa: Círculo de Leitores. 2006. Com a devida vénia)


1. Excertos do texto do João Tunes, de 2 de Maio de 2006: Da hora dos aventureiros:

"Em Novembro de 1970, eu estava enfiado num quartel de uma aldeia do sul da Guiné, Catió, metido numa guerra sem vitória possível e ainda menos sentido que o de soprar contra a história (...).

"22 de Novembro de 1970 e dias seguintes, foram especialmente tensos. A tempestade que carregava a rotina quarteleira era mais pesada que costume. O comando andava de sobrolho mais fechado. Tinha de haver bernarda grossa. Depois amainou. Para se voltar à rotina das morteiradas do Nino. Dia sim e dia não. E o dia 22 de Novembro de 1970 ficou-se como um dia em que até pouco se passou. Ali, em Catió. Porque não longe dali, muito se passara.

"Só mais tarde vim a saber um pouco do que se tinha passado nesse 22 de Novembro de 1970 tornado um dia particularmente tenso na rotina militar de Catió. Nesse dia, o governo português tinha executado uma operação de guerra contra outro país soberano e inimigo, invadido a sua capital com o fito de mudar-lhe o Presidente (assassinando-o) e o governo, colocando no seu lugar um governo amigo dos colonialistas, liquidando a retaguarda do PAIGC (em que se incluía o assassinato de Amílcar Cabral e dos restantes altos dirigentes) e libertando os militares portugueses que tinham sido capturados pela guerrilha. Foi a operação Mar Verde, arquitectada e executada por Alpoim Calvão, aprovada por Spínola e por Marcelo Caetano, neutralizadas que haviam sido as vozes discordantes do Ministro do Ultramar, Silva e Cunha, e do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício.

"Na noção adquirida da impossibilidade de ganhar a guerra na Guiné, era a aventura do tudo ou nada. E, como se a guerra tivesse solução numa noitada num casino, restava a aventura. Era a hora dos aventureiros" (...).


2. Texto do Manuel Mata, ex-1º cabo apontador de Carros de Combate M 47, do Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71)

Caro Luís Graça,
Quanto ao apelo do Camarada João Tunes - Onde estavas a 22 de Novembro de 1970? (1) -,envio a minha modesta participação.

Um Abraço
Manuel Mata


22 De Novembro de 1970

A vida no Esqadrão decorria com toda a normalidade que era habitual, no dia-a-dia da unidade em Bafatá, não fossem as notícias que ouvi, cerca das 6 horas da manhã na rádio de Conacri, onde anunciavam com alguma ansiedade a invasão da República da Guiné e apelava aos Boinas Verdes para virem em seu auxilio, pois estavam a ser invadidos por tropas colonialistas Portuguesas.

Fiquei estupefacto e comecei a falar com a rapaziada do Esquadrão, mas todos iam ficando pensativos sem nada se conseguir relacionar. Perguntou-se ao Manuel, um ex- turra a trabalhar na padaria do Esquadrão, como padeiro, se tinha conhecimento de alguma coisa. Resposta negativa, como era óbvio. Mas para nós, ele sabia e sabia fazer muito bem o seu jogo entre as partes envolvidas, o mesmo se passou com os restantes trabalhadores guineenses do Esquadrão o Braima e o Samba.

Já isso não se verificou com o Teófilo e o seu amigo, sobrevivente do desterro e residente em Bafatá (2), que comentaram:
- Pura intromissão, na vida de um país vizinho, só de um Governo Fascista e Colonialista como o Português, tem que ser derrubado!.

As notícias continuaram na rádio, ficamos a saber da entrega de um dos grupos, da libertação dos nossos prisioneiros, da destruição da pista de aviação, de muitos mortos, mas nada de muito concreto. Como era fácil adivinhar, foi um momento de muita alegria ao saber-se que haviam libertado os nossos prisioneiros.

Como nada mais se sabia, pedi a familiares e amigos na metrópole que estivessem atentos às notícias e que me enviassem a prestigiada revista da altura, a Vida Mundial. Semanas mais tarde lá chegou, com uma reportagem da entrevista, na televisão, com um dos prisioneiros, mas nada de grande luz sobre a situação da invasão à República da Guiné-Conacri.

Ansiei ao longo dos anos pela verdade, como certamente todos nós, finalmente, o livro de António Luís Marinho "Operação Mar Verde", nos veio clarificar toda a preparação maquiavélica da Operação.

A escolta Piche – Buruntuma

Esta escolta efectuada pelo 3º Pelotão do Esq Rec Fox 2640, destacado em Piche [na região de Gabu], dias antes do 22 de Novembro, teve como objectivo levar militares africanos e alguns civis desconhecidos na área, embora se tenha falado em homens da 1ª Companhia de Comandos Africanos. Teriam seguido para Conacri, hipótese levantada e comentada pelos homens do 3º Pelotão depois do conhecimento da invasão.

A destruição da revista "Vida Mundial"

Um dos meus passatempos, na Guiné, era ler, ouvir e gravar música subversiva para os amigos que me pediam, principalmente, Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira e tantos outros, que me chegavam da Metrópole, por intermédio de um estudante universitário de Coimbra, irmão do 1º Cabo Antunes (já falecido).

O comandante lá foi informado deste meu hobby. Então para me manter ocupado, andou durante algumas semanas, todos os dias, cerca das 10 horas da manhã a visitar, a arrecadação de material de guerra e aquartelamento. Entrava mudo e saía calado, deitava o material das prateleiras para o chão. Eu voltava a colocar o material nos devidos lugares, e assim foram decorrendo os dias. Já com alguma preocupação, falei com o 2º Comandante, prometeu ir ver o que se passava, disse-me depois:
- Termina com as gravações senão vais parar a Piche!

Claro, continuei mas fora de horas... Terminada a comissão, com receio que algo pudesse acontecer, visto estar já referenciado, pedi a um amigo insuspeito que me trouxesse todo o material subversivo, onde tinha as gravações, livros, incluindo a Vida Mundial.

Este amigo, o 1º Cabo Machuqueira, como não fui na semana seguinte, da passagem à disponibilidade, levantar o referido equipamento, e com medo da PIDE/DGS, queimou todo o material, que lhe confiei.

Manuel Mata
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Nota de L.G.

(1) Vd post de 4 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXII: Onde é que vocês estavam em 22 de Novembro de 1970 ? (João Tunes)

(...) "Terminei há pouco a leitura do livro de um jornalista da SIC sobre a famosa operação Mar Verde (22 de Novembro de 1970). Haverá camaradas que nela participaram. Outros, caso meu, viveram-no na tensão da espera do resultado (eu estava em Catió nessa altura). Terá sido também o teu caso e de outros muitos camaradas.

"Recomendo a leitura do livro (Operação Mar Verde - um documento para a história, de António Luís Marinho, Editora Temas & Debates). Pela minha parte, não tendo gostado nada do culto prestado a Alpoim Calvão, acho que é obra que ajuda a explicar-nos como estávamos ali e como, nos altos comandos, éramos comandados.

"Seja qual for a opinião que se tenha sobre o Mar Verde, o certo é que se tratou da cartada maior e mais arriscada na guerra em que estivemos metidos. A minha opinião pessoalíssima está no meu blogue, Água Lisa (6) ."(...).

(2) Vd post de 26 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLIV: Bafatá: o Café do Teófilo, o desterrado

(...) "Contou-me que tinha sido desterrado para a Guiné no inicío dos anos trinta, num grupo de 40 elementos dos quais restavam três à data, estando ele e um outro em Bafatá de quem não me recordo o nome - sei que tinha uma taberna na Tabanca entre a casa dele e o Hospital (pessoa com que, de resto, privei algumas vezes, para ouvir os programas em Português da BBC de Londres).

"Sei que o Sr. Teófilo tinha vindo à Metrópole apenas duas vezes, tinha uma estima profunda pelos Guineenses, pois foi esse povo maravilhoso que o tratou de inúmeras doenças, e só assim conseguiu sobreviver" (...).

Guiné 63/74 - P726: Em 22 de Novembro de 1970 eu estava em Mansabá (Carlos Vinhal)

Texto do Carlos Vinhal (ex-furrel miliciano da CART 2732, uma companhia de madeirenses aquartelada Mansabá, Região do Oio, 1970/72).

Caro Luís e camaradas:

Confesso que já estava a ficar triste, e ainda me considero periquito no blogue, por aceder diariamente ao Blogueforanada e vê-lo imutável. Que o Luís nos faz falta, isso é inquestionável.

Correspondendo ao repto do nosso camarada João Tunes (1), sou a comunicar que em 22 de Novembro de 1970 estava em Mansabá a digerir, ainda, os efeitos de um violentíssimo ataque ao aquartelamento e povoação, acontecido 10 dias antes desta data.

Em 12 de Novembro de 1970 Mansabá foi flagelada por numeroso grupo IN que utilizou Canhão s/r, morteiro 82 e 60, LGF e armas automáticas. O ataque durou cerca de 45 minutos e deixou-nos exaustos e sem munições.

As NT sofreram 1 morto e 4 feridos. Na população houve 14 mortos e 45 feridos. O fogo IN atingiu o Bar dos Praças e a Enfermaria Militar que ardeu. As imediações dos quartos dos Oficiais, da Secretaria, do Bar dos Sargentos e da Casa dos geradores também foram premiadas com morteiradas quase certeiras. Quem lhes teria fornecido as coordenadas?

O General Spínola visitou-nos no dia seguinte, porque, dias antes, tinha sido reactivado o COP6 no nosso quartel, para coordenar toda a actividade operacional com vista à protecção dos trabalhos de construção da estrada Mansabá-Farim, a partir do Bironque para Norte. A conclusão desta estrada era de primordial importância para o controle daquela zona utilizada pelo IN, como corredor de passagem para o Morés.

Voltando ao 22 de Novembro de 1970, só quando vim de férias à Metrópole em Fevereiro de 1971, soube mais pormenores sobre a Operação Mar Verde, pois tinha sido libertado um militar aqui de Leça da Palmeira que estava prisioneiro e por isso não se falava de outra coisa.

Se a operação foi em parte um fracasso, teve pelo menos o lado positivo da libertação dos nossos camaradas aprisionados. Quem sabe como teria evoluído a guerra, se tudo tivesse decorrido como o estabelecido no plano inicial. As implicações políticas seriam desastrosas para Portugal, pois não se conseguiria enganar a comunidade internacional durante muito tempo. A Guiné Conacri poderia retaliar e nós, que lá estávamos, podíamos ser sacrificados ainda mais.

Saudações para todos
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
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Nota de L.G.

(1) Vd post nº 732, de 4 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXII: Onde é que vocês estavam em 22 de Novembro de 1970 ? (João Tunes)

(...) "Talvez fosse interessante conhecermos como cada um de nós, os que lá estávamos em 22 de Novembro de 1970, vivemos a tensão desse dia e seguintes. O que achas, Luís, da sugestão como desafio aos camaradas tertulianos?" (...)

Guiné 63/74 - P725: Sobre a Op Mar Verde e o Comandante Alpoím Galvão (Lema Santos)

Caro Luis Graça,

Não será por acaso que se tem efectuado bastante pesquisa e recolha de documentação e relatos da operação Mar Verde. Mais se seguirão porque o tema encontra-se longe de estar esgotado e, eu próprio, conjuntamente com outro camarada estamos a elaborar um trabalho sobre LFG's que naturalmente aborda o assunto. Abaixo, apenas um considerando pessoal.

Um abraço,
Manuel Lema Santos


ONDE NÃO ESTAVA E O QUE AINDA NÃO ERA

Ao vosso repto opto por responder, desta vez, pela negativa dizendo “onde não estava e o que ainda não era”.

Já não estava na Guiné mas ainda não me sentia totalmente reequilibrado do ponto de vista de cidadania. Tinha consciência de que não tinha ainda vida pessoal e profissional estabilizadas.

Em 27 de Novembro de 1970 estaria, em princípio, no Estado Maior da Armada mas não consigo precisar onde estava nem o que fiz exactamente. Registos precisos nem pensar e, muito provavelmente teria sido um dia rotineiro. Nunca escrevi diário e até os de bordo da “Orion”, obrigatórios, desapareceram sem deixar rasto.

Vêm-me à memória aquelas lenga-lengas das aulas de história do 2º ciclo liceal do compêndio do professor Mattoso que assumiam, no meu futuro cultural, um aspecto definitivo de massa informe de pepino com um toque de nabo. Exactamente dois dos sabores que erradiquei dos meus hábitos alimentares como conquistas irreversíveis da adolescência.

E depois, tudo aquilo começava sempre da mesma maneira: causas políticas, sociais e económicas das guerras púnicas, da guerra dos 100 anos ou outra escaramuça qualquer.

Então, convenhamos que não me perfilei historiador, assumidamente.

Quem afirma ou pensa sê-lo antecipa sempre o encerramento de qualquer coisa, talvez um escrito sobre determinado acontecimento ou facto, com um ar definitivo, sem mais nada haver para escrever ou narrar.

Ora, para mim, a História é exactamente a antítese da atitude. Coerentemente defendo que a operação Mar Verde não esteja narrada e encerrada em capítulos estanques, contados e já com índice.

Ainda menos a História da Marinha que levou a cabo a operação Mar Verde e ainda muito menos a História da guerra na Guiné que foi, de princípio ao fim, um conjunto de pequenas operações Mar Verde, dia a dia, mês a mês, ano a ano, num grotesco e monstruoso crescendo de 13 anos, levadas a cabo pelos três ramos das Forças Armadas.

Mais uma vez, das LFG’s, lá estiveram a Orion, a Hidra, a Dragão e a Cassiopeia e, das LDG’s, a Bombarda e a Montante, além dos DFE’s.

Não venero heróis estereotipados e também não sou um especial admirador da personalidade do comandante Alpoim Calvão.

Conheci-o pessoal embora muito pontualmente, como comandante do DFE8 e, provavelmente conhecendo-me, não se lembrará de mim. Servi na Guiné sob o comando do oficial general (CDMG) que mais impulsionou lá os fuzileiros e, mais tarde, já depois de regressar, continuei como seu ajudante de ordens durante dois anos.

Estou em vantagem mas paro, olho, escuto e fundamentalmente calo, no respeito que alguma ignorância minha me impõe, mas também na dúvida que algum conhecimento adquirido me permite.

Entendo que, no momento certo, teve os apoios necessários para uma operação militar difícil, de elevado risco e de resultados previsivelmente duvidosos.

Julgo que, na génese de um qualquer herói, reside apenas uma pessoa comum que, em circunstâncias extremas, executa as missões necessárias para garantir a sua própria sobrevivência ou do grupo que integra.

Nesse sentido, apenas um ténue risco demarca a fronteira entre coragem e instinto de sobrevivência e, para bem de todos nós, felizmente que assim é.

Na perspectiva oposta, muitos e diria mesmo demasiados, não chegaram a dispor de oportunidade para demonstrar que também seriam capazes. Tombaram antes.

Resta-lhes na História o respeito, o silêncio e a homenagem dos que continuaram.

Muitas vezes com o assumido empenhamento, dignidade e sofrimento das Mães que perderam a sua razão ultima de vida: os Filhos.

Que título ou medalha para Elas?

Manuel Lema Santos
1º TEN RN 1965/1972
Guiné 1966/1968

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P724: Na guerra também se limpam armas (Carlos Vinhal)

Texto de Carlos Vinhal (ex-furrel miliciano da CART 2732, Região do Oio, Mansabá, 1970/72)

Na guerra (não) se limpam armas

Dia 21 de Abril de 1971

Foi o dia em que integrados na Acção Urtiga XXVII saímos para patrulhamento e emboscadas, em Tungina, Buro e Colimansacunda. No dia anterior o meu amigo Cabo Ornelas (1), Apontador do morteiro 60, meteu-me uma cunha para eu pedir ao nosso Alferes Bento para que o dispensasse desta Operação, porque tinha necessidade urgente de ir a Bissau. Assim fiz e o Alf Bento anuiu. Ficou combinado que o habitual municiador, Soldado Silva, passaria a apontador e eu assumiria a função de municiador.

A força de intervenção na operação foi constituída pelos 3.º e 4.º Pelotões da CART 2732, reforçados com uma Secção do Pelotão de Milícias 253. O Comandante era o Alf Mil Bento.

Fomos progredindo conforme estava determinado e, numa emboscada por nós montada ao IN, na região da Bolanha de Iribato, interceptámos um numeroso grupo fortemente armado. Por puro azar, um dos valorosos milícias que nos acompanhavam, de seu nome Sul Bissau, pôs-se de pé, tendo sido detectado pelo IN e logo atingido gravemente por um RPG, precipitando uma intensa troca de fogo.

As NT reagiram, respondendo com fogo de armas ligeiras, dilagramas, metralhadora, bazooka e morteiro 60. Eu, inexperiente na arte de municiar, facilmente me adaptei às novas funções sem descurar contudo o comando do resto da Secção. Imodéstia à parte, até fui distinguido pelo meu comportamento debaixo de fogo no Relatório da Acção.

Causámos vários feridos confirmados e provavelmente 1 morto ao IN que fugiu em debandada, arrastando de qualquer maneira as suas vítimas. Do nosso lado houve a lamentar o ferimento grave do já referido soldado milícia.

Serenados os ânimos, pedimos evacuação urgente do Sul Bissau. Organizámos um perímetro de segurança para permitir a aterragem do heli e assim estivemos instalados até se concretizar a evacuação que demorou relativamente pouco tempo, porque o General Spínola andava por ali perto e disponibilizou um helicóptero da sua segurança para resolver a situação.

Mais tarde, quando o Alferes Bento deu ordem para a retirada, aconteceu uma situação caricata. Um dos soldados do 4.º Pelotão pediu mais um pouco de tempo porque, talvez preocupado com o asseio da sua G3, ali mesmo a tinha desmontado, procedendo à sua limpeza e manutenção. Uns riam-se incrédulos e outros diziam que se houvesse novo contacto não havia problema, porque ele defender-se-ia atirando uma a uma as peças da G3 e respectivas munições, tentando assim atingir o IN.

Claro que esperámos mais um pouco pelo diligente militar que naquele dia foi o alvo da chacota da rapaziada.

Carlos Vinhal
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Nota de L.G.

(1) Vd post de 25 de Março de 2005 > Guiné 63/74 - DCLI: A madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P723: Pedro, o filho do Saagum (Luís Graça)

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Abril de 2006 > A fonte de Mansambo, quase 40 anos depois: aqui foi gravemente ferido, em emboscada montada pelos guerrilheiros do PAIGC, em 19 de Setembro de 1968, o Saagum, do 1º pelotão da CART 2339 (Mansambo, 1968/69). É o primeiro dos tugas a contar da esquerda.

© Hugo Costa (2006)

Caro Luis Graça,

O meu nome é Pedro Saagum. O nome, penso que não lhe deve ser estranho, sou filho do seu camarada José Clímaco Saagum (1).

Ontem depois de ver as imagens das filmagens que o meu pai fez agora quando lá esteve, fiquei com muita curiosidade para ver o material que estava disponível aqui na Internet.

Fiquei muito agradado em ver o seu blog, pela quantidade de informação e imagens que vocês têm sobre a Guiné e do tempo em que lá estiveram a lutar pelo nosso país.

Não vou dizer que estive a recordar, porque não estive lá, mas pelo menos deu para visualizar imagens que desde muito novo ouvia falar ao meu pai.

Obrigado
O Filho do Camarada Saagum
Pedro Saagum
Jolufra, Lda
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Nota de L.G.

(1) Vd post de 2 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXV: Do Porto a Bissau (12): A fonte de Mansambo (Albano Costa)

Guiné 63/74 - P722: Onde é que vocês estavam em 22 de Novembro de 1970? (João Tunes)

Texto de João Tunes:

Caro camarada Luís,

Que o sol do sul de Itália não te deu para a preguiça, nota-se à légua. Era de esperar - tu deves ter nascido frenético, multifacetado e prolixo. Assim te conserves. E se permites o egoísmo que julgo partilhado pelos restantes tertulianos, ainda bem por nosso benefício e do blogue que animas e nos anima, metendo-nos a memória em estado vivo. É que, se vieste de Nápoles e da Sicília sem vontade de abrir a janela para uma nesga de aragem de fresco e deitares-te como direito a persistente descanso, então estamos bem aviados e melhor encomendados - temos blogue para dar e durar, pois temos comandante sem sono nem repouso.

Terminei há pouco a leitura do livro de um jornalista da SIC sobre a famosa operação Mar Verde (22 de Novembro de 1970). Haverá camaradas que nela participaram. Outros, caso meu, viveram-no na tensão da espera do resultado (eu estava em Catió nessa altura). Terá sido também o teu caso e de outros muitos camaradas.

Recomendo a leitura do livro (Operação Mar Verde - um documento para a história, de António Luís Marinho, Editora Temas & Debates). Pela minha parte, não tendo gostado nada do culto prestado a Alpoim Calvão, acho que é obra que ajuda a explicar-nos como estávamos ali e como, nos altos comandos, éramos comandados.

Seja qual for a opinião que se tenha sobre o Mar Verde, o certo é que se tratou da cartada maior e mais arriscada na guerra em que estivemos metidos. A minha opinião pessoalíssima está no meu blogue, Água Lisa (6).

Talvez fosse interessante conhecermos como cada um de nós, os que lá estávamos em 22 de Novembro de 1970, vivemos a tensão desse dia e seguintes. O que achas. Luís, da sugestão como desafio aos camaradas tertulianos?

Entretanto, transcrevo o meu depoimento:

Não poucas vezes, o desespero e a derrota anunciada levam à aventura empurrada pela audácia do tudo ou nada. Em Novembro de 1970, eu estava enfiado num quartel de uma aldeia do sul da Guiné, Catió, metido numa guerra sem vitória possível e ainda menos sentido que o de soprar contra a história.

Ainda pior que essa falta de sentido, uma vontade estúpida de Portugal querer marcar com um mata e morre o posfácio da gesta colonial que lhe ficara no gosto, nos gastos e nos ganhos desde que as caravelas quinhentistas se fizeram ao mar. Não estava ali a fazer nada, excepto aguentar e poder voltar para junto de mulher e filha, procurar emprego e fazer vida. Metido em posição meramente defensiva, numa ilha-quartel em território controlado pelo PAIGC, levando no toutiço, dia sim e dia não, para que Nino Vieira gastasse as suas fartas munições de morteiros. Mas estava. Ali, em Catió. Perto da fronteira com a Guiné-Conacry.

22 de Novembro de 1970 e dias seguintes, foram especialmente tensos. A tempestade que carregava a rotina quarteleira era mais pesada que costume. O comando andava de sobrolho mais fechado. Tinha de haver bernarda grossa. Depois amainou. Para se voltar à rotina das morteiradas do Nino. Dia sim e dia não. E o dia 22 de Novembro de 1970 ficou-se como um dia em que até pouco se passou. Ali, em Catió. Porque não longe dali, muito se passara.

Só mais tarde vim a saber um pouco do que se tinha passado nesse 22 de Novembro de 1970, tornado um dia particularmente tenso na rotina militar de Catió. Nesse dia, o governo português tinha executado uma operação de guerra contra outro país soberano e inimigo, invadido a sua capital com o fito de mudar-lhe o Presidente (assassinando-o) e o governo, colocando no seu lugar um governo, amigo dos colonialistas, liquidando a retaguarda do PAIGC (em que se incluía o assassinato de Amílcar Cabral e dos restantes altos dirigentes) e libertando os militares portugueses que tinham sido capturados pela guerrilha.

Foi a operação Mar Verde, arquitectada e executada por Alpoim Calvão, aprovada por Spínola e por Marcelo Caetano, neutralizadas que haviam sido as vozes discordantes do Ministro do Ultramar, Silva e Cunha, e do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício. Na noção adquirida da impossibilidade de ganhar a guerra na Guiné, era a aventura do tudo ou nada. E, como se a guerra tivesse solução numa noitada num casino, restava a aventura. Era a hora dos aventureiros. E assim, a hora de Spínola. Sobretudo de Calvão. Também de Marcelo, incapaz de governar um projecto ingovernável. Borrado com a Guiné, à rasca com Moçambique, não querendo perder Angola.

Só assim se entendendo que o mais louco e ambicioso dos aventureiros centuriões entre os militares portugueses, irmanado com a PIDE, tenha conseguido levar o governo português e as Forças Armadas à suprema aventura de querer ganhar a guerra na Guiné pela conquista de um país vizinho e independente. Como se a solução para o colonialismo português fosse transformar toda a África num continente neo-colonial, dando um pontapé na história.

Mataram que fartaram, destruíram bastante, trouxeram os prisioneiros militares portugueses de volta. Mas foram ao campo de aviação para estoirar a frota aérea guineense e os aviões não estavam lá, quiseram calar a emissora e não deram com ela, procuraram Amílcar Cabral para o assassinarem e este estava há dez dias no estrangeiro, o Presidente Sekou Touré que devia ser assassinado também não foi encontrado, um tenente e o seu pelotão (22 homens) desertou e entregou-se às autoridades guineenses e denunciou a operação, registaram-se várias baixas entre mortos e feridos.

A operação terminou numa fuga a toda a pressa, em debandada organizada, com medo da retaliação da aviação. No seguimento, um enorme basqueiro internacional que ainda isolou mais o governo português. Sekou Touré reforçou o mando e o apoio ao PAIGC. E o PAIGC intensificou o apoio internacional e o poderio das operações militares. Em balanço: um fiasco. O fiasco de uma aventura. A aventura do desespero. Na hora dos aventureiros. Na pior das horas, quando o governo governa através da loucura dos aventureiros sem escrúpulos.

Com a distância do tempo, a aventura da operação Mar Verde vai sendo melhor conhecida. E não deixa de ter relevo conhecer-se esse pedaço de história recente em que Portugal se meteu num enorme assado, de onde saiu humilhado, quando o seu governo decidiu invadir militarmente outro país soberano e independente.

Um livro recentemente editado do jornalista António Luís Marinho (1), pese embora a atracção panegírica de encantamento para com a figura de Alpoim Calvão, o maior aventureiro centurião do império, é bem elucidativo desta fase da nossa história recente, em que a loucura também fazia (mau) governo.

Um abraço para ti e outros tantos para todos os estimados camaradas tertulianos.
João Tunes
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Nota do autor (JT):

(1) Operação Mar Verde - um documento para a história, António Luís Marinho, Editora Temas & Debates.

Comentário de L.G.

Reforço o repto lançado pelo nosso querido amigo e camarada João Tunes: digam-lá onde é que vocês estavam em 22 de Novembro de 1970, o que é que fizeram nesse dia e seguintes, o que é (não) sabiam da Operação Mar Verde, qual o vosso sentimento a relação a militares e camaradas como o Alpoim Galvão...

Quanto aos elogios à minha pessoa... no coments! Limito-me a agradecer a generosidade do João. A minha obrigação (assumida por mim) é manter vivo e actuante o nosso blogue... O que se tem vindo a conseguir, umas vezes pior, outras melhor...

Guiné 63/74 - P721: A Marinha, as LDG e as LFG (Lema Santos)

Guiné > Região Leste > Xime > 1969 > Uma Lancha de Desembarque Grande,a LDG 101, ao largo do Ximne, no Rio Geba.

Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). © Humberto Reis (2006).

Texto do António Lema Santos (ex-1º tenente da Marinha em 1972, serviu como Imediato na NRP Orion, na Guiné, entre 1966 e 1968; hoje é empresário e reside em Massam):

Caros Humberto Reis e Luis Graça:

Desejo-vos um excelente regresso às actividades incluindo as blognotícias.

Por vezes com exagerada persistência a rondar a palavra obstinado, vulgo chato, tenho a preocupação de não alterar, pela narrativa simplificada, factos e acontecimentos que se encadeiam uns nos outros, documental e historicamente.

Como permaneci na Guiné e naveguei nos rios Cacine e Cumbijã um par de dias fora do habitual, atrevo-me a tentar esclarecer alguns pormenores que não me parecem suficientemente precisos:

(i) Enquanto Imediato da LFG Orion, conheci pessoal, profissionalmente e até familiarmente o 1º Tenente José António Cervaes Rodrigues, à época Comandante da Companhia de Fuzileiros nº 9, com quem mantive simpático e agradável relacionamento, quer profissional quer pessoalmente;

(ii) O relacionamento entre militares embarcados em unidades navais, em instalações em terra no INAB (Instalações Navais de Bissau), CDMG e Esquadrilha de Lanchas, alargava-se ao saudável convívio na vida civil e não só, também com militares de outros ramos das FA's [Forças Armadasa] e familiares de alguns que em Bissau permaneciam; assim foi e até usufrui, algumas vezes, da possibilidade de utilizar um Land Rover cedido pela CF9;

(iii) Naquela altura, as LFG's (Hidra, Lira, Orion, Cassiopeia e Sagitário) tal como as LDG's (Alfange e Montante), tinham comando autónomo, estavam atribuídos operacionalmente ao CDMG e incluiam na guarnição dois oficiais:

- comandante, em princípio um primeiro tenente dos QP's [Quadros Permanentes] da classe de Marinha, era nomeado pelo CEMA com publicação em OA; apenas conhecido um único caso de comando, durante algum tempo, por oficial da Reserva Naval - a Cassiopeia;

- imediato, em princípio um oficial da Reserva Naval, igualmente da classe de Marinha, nomeado em OA e que, por inerência do cargo, substituia sempre o comandante em caso de ausência ou impedimento daquele; alguns deles também foram oficiais dos QP's;

(iv) As LFP's (Bellatrix, Canopus e Deneb) apenas dispunham de um oficial, o comandante, nomeado da mesma forma pelo CEMA, da classe de Marinha e da Reserva Naval; alguns das LFP's também foram comandadas por oficiais dos QP's.

(v) Nenhuma unidade naval (navio) foi comandada por um oficial que não fosse da classe de Marinha e, apenas em caso de operações conjuntas, podiam várias unidades navais participantes ficar a depender, apenas operacionalmente e durante o tempo da operação, do comando de um oficial único nomeado pelo CDMG, também da classe de Marinha e, por norma, sempre mais antigo que qualquer dos oficiais participantes na operação;

(vi) Os comandos da Esquadrilha de Lanchas, de uma Companhia de Fuzileiros e de um Destacamentos de Fuzileiros dependia operacionalmente do CDMG, da mesma forma que as LFG's ou as LDP's e estavam sob o seu comando os elementos das respectivas unidades; especificamente, no caso da Esquadrilha de Lanchas, as LDM's e as LDP's e até outras embarcações;

(vii) As LFG's apenas participavam nos comboios para Bedanda com a responsabilidade da escolta e não incluídas nele, dado que, normalmente, até tinham a seu cargo a fiscalização de uma área Sul alargada que incluía o rio Grande Buba, Tombali, Cacine e os Bijagós mas essencialmente centrada no Cumbijã e Cacine;

(viii) As LFP's integravam-se igualmente na escolta desses comboios. Nunca chegavam exactamente à zona de Cufar, quedando-se pela foz do rio Macobum, ligeiramente a montante ou a jusante de Cadique; o comboio prosseguia com os batelões e as LDM´s com FZ's embarcados como forças de protecção;

(ix) Considerando o conjunto de todas as LFG's era uma zona em que, quase sistematicamente, havia sempre ataques;

(x) Por curiosidade apenas, a informação de que, no período de 10 a 20 de Fevereiro de 1968 o Cacine e o Cumbijã foram fiscalizados pela LFG Orion, rendida de seguida pela LFG Hidra, de 21 a 29 de Fevereiro do mesmo mês.

Mais um acrescento aos relatos.

Um abraço,

Manuel Lema Santos

quarta-feira, 3 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P720: Tabanca Grande: Dos Estados Unidos com saudades dos velhos camaradas (Júlio Benavente, CCS/BCAV 1905, 1967/68)

Texto do Júlio Benavente:

Amigo Luis:

Somos quase da mesma idade, estive na Guiné em 67/68 e que saudades desse tempo, embora pareça um paradoxo, pois como se pode ter saudades duma coisa como foi o tempo de guerra ?!...

Mas lá aprendemos o que é a camaradagem que nos juntou ateé hoje, mesmo sem contacto pessoal... E como ficamos putos novamente quando falamos com alguém que também lá esteve, na Guiné!...

O meu nome é Julio Benavente, fui furriel miliciano na CCS do BCAV 1905, de Fevereiro 1967 até Novembro de 1968 (1).

Hoje vivo no Estado de Rhode Island, na cidade de North Providence, nos Estados Unidos da América.

Um abraço, camarada, e obrigado por esta oportunidade de reviver.
Júlio Benavente
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Nota de L.G.

(1) Vd post de 28 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXIX: Um ataque a Sare Ganá (1968)

Texto de A. Marques Lopes, coronel (DFA) na situação na reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967/1968), sobre o ataque a Sare Ganá, 12 de Agosto de 1968, e a resposta das NT:


(...) "Às 01H00 atingiram Sare Ganá as forças de socorro de Bafatá e enviados pelo Comando de Batalhão. Estas forças eram constituídas a primeira por um pelotão do EREC 2350 e o PEL CAÇ NAT 64 a segunda por outro PEL REC do EREC 2350 e 2 secções da CCS/BCAV 1905.

"Uma vez que a situação estava praticamente normalizada, um pelotão do EREC 2350 e as 2 secções da CCS regressaram a Bafatá levando os feridos mais graves, tanto milícias como população, enquanto as outras forças se instalavam em Saré Ganá, montando segurança a tabanca"(...).

Guiné 63/74 - P719: Do Porto a Bissau (14): O regresso a casa (Albano Costa)

Imagens e legendas do Albano Costa:

1. Eis a chegada do primeiro contingente vindo da Guiné, só faltam o Almeida e o Saagum que ficaram em Lisboa, os restante vieram para o Porto: são eles o Hugo, a Inês, o Manuel Costa - no meio estou, que os fui esperar ao aeroporto -, o Armindo, o Casimiro e o Aguiar:



2. Uma semana depois veio o resto da companhia: o Allen e o Marques Lopes, felizes e com vontade de lá voltar. Aqui rodeados por mim e pelo Hugo:

Créditos fotográficos:© Albano Costa / Hugo Costa (2006)

Guuiné 63/74 - P718: Do Porto a Bissau (13): Notícias do Paulo Salgado

Texto do Paulo Salgado:

Caros Bloguistas:

Tenho algumas estórias para contar. Mas hoje quero apenas reflectir um pouco sobre a nossa ligeira participação na chegada dos viajantes - direi mesmo: grandes viajantes - a Bissau. Dos pormenores da sua estada, poucos factos retive, pois os valentes andaram por aí bebendo o que puderam por essa Guiné, a Guiné profunda que todos apreciamos, e mal tivemos tempo de conviver.

1. Não é justa qualquer insinuação (desculpa-me, Albano) sobre uma eventual precipitação do Allen - ele julgou que os preços seriam mais baixos. Acreditai que os preços em matéria de hotéis são altos. Tenho vindo aqui muitas vezes e para um hotel mínimo os preços são altos. A procura é elevada e, por isso, os preços sobem.

2. A moradia que conseguimos arrendar pertence à empresa SOMEC e só a amizade das pessoas permitiu que fosse disponibilizada, até porque apenas um funcionário ocupa uma das casas.

PS - Passámos, o fim-de-semana mais longo, na ilha de Canhabaque (ilha Roxa)[, no sul, na região de Tombali. Percorremos vários km pelo interior. Aqui travaram-se combates violentos, à beira mar, entre portugueses e guineenses (das ilhas). Foi uma mortandade. Em 1939! Lá está o obelisco ainda pouco danificado: "Pacificação de Canhabaque"! E o herói que comandou as NT.

Lá voltaremos.

Mantenhas para todos

Guiné 63/74 - P717: Comboios no Rio Cumbijã (Humberto Reis)

Texto do Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71):


Amigo Lema Santos, boa noite:

Desde esta tarde [de 28 de Abril de 2006], em que estivemos em amena cavaqueira cerca de 1 hora, relembrando a nossa passagem por aquelas míticas terras da Guiné-Bissau, nos passados anos 60, fiquei com curiosidade de ir rever uma estória dos célebres comboios fluviais a subir o Rio Cumbijã até Bedanda.

Achei (1).

Em 25 de Fevereiro de 1968, ainda lá estavas, desenrolou-se uma operação denominada Ciclone II, levada a efeito pelas companhias de pára-quedistas 121 e 122, exactamente para tentar anular as acções ofensivas que os combóios fluviais sofriam mensalmente, quando passavam em frente à mata de Cafine e Cafal Balanta (entre a curva à direita depois da foz do rio Cubade e a seguinte à esquerda).

Passo a citar o CMG José António Cervaens Rodrigues (em 68 exercia as funções de Chefe da Divisão de Logística Operacional do Comando da Defesa Marítima em acumulação com as de Comandante da Companhia de Fuzileiros nº 9 e também terminou a comissão em Maio de 68, um mês depois de ti) que efectuou 4 desses comboios, tendo sido atacado em 2 deles:Ç

"O comboio era normalmente constituído por 2 ou 3 lanchas de desembarque e outras tantas barcaças mercantes e comandado por um oficial da Armada, por rotação entre o Comandante da Esquadrilha de Lanchas e Comandantes e Imediatos das Companhias de Fuzileiros. Formava-se o comboio na confluência dos rios Cumbijã e Como, principiando a subida do rio Cumbijã no início da enchente da maré. Antes de prosseguir para Bedanda paravam brevemente em Cufar, ao fim de cerca de uma hora de percurso...".

O comandante do comboio nesse dia 25 de Fevereiro de 1968 era o 1º tenente Eugénio Cavalheiro.
Recordar é viver

Aquele abraço
Humberto Reis
_________

Nota de L.G. / H.R.:

(1) Fonte: O Portal da História > Batalhas de Portugal


Nuno Mira Vaz (2003) - Guiné, 1968 e 1973:
Soldados uma vez, sempre soldados!
Lisboa: Tribuna. 2003. (Batalhas de Portugal).
95 pags. € 22,00.

Resumo:

"A luta travada na Guiné entre Forças Armadas Portuguesas e os guerrilheiros do PAIGC, apesar de não registar muitas acções militares com expressão significativa, é geralmente recordada com a mais dura de quantas se travaram no antigo ultramar português.

"Neste contexto, o heliassalto em Cafal-Cafine e a demorada e complexa acção naval, terrestre e aérea montada para libertar Guidaje, fornecem, na diversidade da sua concepção, duas imagens expressivas da intensidade dos combates e dos sacrifícios exigidos aos soldados portugueses.

"Na Operação Ciclone II, em Fevereiro de 1968, um comboio fluvial de rotina serviu de isco ao lançamento de duas companhias de pára-quedistas sobre uma unidade do PAIGC instalada em abrigos preparados, tendo as tropas portuguesas iniciado um combate de aniquilamento do bigrupo inimigo.

"Em Maio e Junho de 1973, a Operação Ametista Real e todos os outros combates travados para romper o cerco montado a Guidaje ocorreram numa época em que se registavam severas limitações aos meios aéreos, sendo o desfecho da guerra cada vez mais incerto. Ao fim de um mês e meio de combates, as baixas das duas partes foram bastante severas e, sabe-se hoje, equiparadas".

terça-feira, 2 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P716: Boas vindas ao marinheiro Lema Santos (Hugo Moura Ferreira)

Texto do Hugo Moura Ferreira:

Caro Lema Santos:

Começo por reforçar os votos de Boas Vindas, mencionados no assunto desta mensagem, com desejos que muitas estórias da tua passagem pela nossa sempre amada Guiné.

Verifiquei por aquilo que apresentas no que o Luís inseriu já no Blogue Fora Nada (1), que nos trarás ao conhecimento certamente muitas das tuas experiências.

Pela minha parte serão lidas com toda a atenção e empenho.

Verifiquei com alguma satisfação que tu és do meu tempo (2) e tentei recordar-me do pessoal de Marinha que, com o sacrifício que quem ia metido numa lata a servir de alvo, para os lados do Cumbidjã, nos ia abastecer a Cufar (CCAÇ 1621), acostando, no cais de Cantone, e também a Bedanda (CCAÇ 6), quando, com o coração ao pé da boca, tinham que progredir rio acima tendo na outra margem o celebérrimo Cantanhez, que naquela altura era impenetrável.

Depois de tantos anos apenas me lembro de dois amigos da Marinha [cujos nomes não vou aqui mencionar, sendo um deles uma figura pública].

Penso, e tu o confirmarás ou não, que realmente nunca as LDM [Lanchas de Desembarque Médias] (3), que nos levavam abastecimentos a Bedanda, foram atacadas naquela zona. Aliás, como se acontecia com a LDP que diariamente levava a água de Catió para a nossa base no Cachil. Enquanto por lá andei não me recordo de ter ouvido alguma vez notícias de ataques a abastecimentos naquela zona.

Em Cacine, eu sei que eram habituais as saudações dos turras , mas depois de passarem essa zona havia algum respeito e pode dizer-se condescendência do IN, para com a nossa paparoca.

Ao afirmares que tens material gravado aquando das escoltas que efectuávamos nos abastecimentos ao aquartelamento de Bedanda, parece-me que a minha tese anterior está errada, mas tendo eu estado em Cufar e em Bedanda, entre Novembro de 1966 e Junho de 1968, não me lembro de ocorrências de maior, com as colunas de abastecimento, via naval, pelo que penso que as referidas gravações tenham sido obtidas no caminho para lá. E será possivel ouvi-las? Talvez até o Luís Graça esteja interessado em as inserir no Blogue.

Fala-nos dessas experiência pois acho que todos estamos ansiosos por as conhecer através de um marinheiro, e não, como tem acontecido, apenas de elementos da tropa fandanga.

Eu, pela minha parte, por estar incondicionalmente de acordo, estou a tentar que alguns elementos da FA, que conheço, colaborem, indo assim ao encontro do que afirmas quando dizes: como é possível escrever a estória da Guiné sem estar a ela associada a própria história da Marinha de Guerra, conjuntamente com a história dos outros dois ramos das Forças Armadas?

Tenho pena é que, mas acalento grande esperança, não haja nesta Tertúlia, a colaborar para o mesmo fim, elementos que na altura eram considerados inimigos mas que hoje se verifica serem grandes amigos e que apenas estavam a seguir as suas convicções, como afinal alguns dos tugas também o estariam.

Verificamos mesmo agora pelos escritos que são inseridos no Blogue que mesmo nos Portugueses havia as duas convicções, tal como no pessoal da Guiné. Mas isso é outra questão que um dia, sem mágoas, virá certamente a ser tratada por alguém com capacidade inequívoca para tal e que possa vir a estudar, de forma profunda, a História dessa época a que nós estamos agora a dar a nossa contribuição.

Um abraço e mais uma vez, benvindo ao grupo dos apanhadinhos pelo clima.

Hugo Moura Ferreira
Ex-Alf Mil Inf (1966/1968)
CCAÇ 1621 e CCAÇ 6

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Notas de L.G.

(1) Vd post de 21 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXIII: Apresenta-se o Imediato da NRP Orion (1966/68) e 1º tenente da reserva naval Lema Santos

(2) Vd post de 22 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXCV: CCAÇ 16121 (Cufar); CCAÇ 6 (Bedanda) (1966/68)

(3) Vd post de 7 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXVII: Antologia (23): Homenagem aos nossos marinheiros e às suas Lanchas de Desembarque

Guiné 63/74 - P715: Do Porto a Bissau (12): A fonte de Mansambo (Albano Costa)

Post nº 725 (DCCXXV)
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Abril de 2006 > O caminho (frondoso e, outrora, perigoso) para a fonte.


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Abril de 2006 > A fonte de Mansambo: aqui foi gravemente ferido, em emboscada montada pelos guerrilheiros do PAIGC, em 19 de Setrembro de 1968, o Saagum, do 1º pelotão da CART 2339 (Mansambo, 1968/69) (1)

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Abril de 2006 > A visita de grupo à fonte... Está estampada no rosto a alegria de ambas as partes, portugueses e população local... Os portugueses são, da esqerda para a direita, o Saagum, o Aguiar, o Casimiro, o Almeida, o Armindo e o Manuel Costa (AC).


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Abril de 2006 > Junto à fonte. A foto é elucidativa da tensão que vai principalmente no Almeida e Saggun, a sensação daquele momento só os próprios a podem descrever, e era giro que eles o fizessem, aqui fica o desafia para o António Almeida. Da esquerda para a direita: o José Clímaco Saagum, o António Almeida, o Manuel Costra, o Aguiar e o Casimiro (AC).

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Abril de 2006 > A fonte continua a ser usada pela população local para abastecimento de água, higiene pessoal e lavagem da roupa...


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Abril de 2006 > O Aguiar e o Casimiro na fonte de Mansambo.
Créditos fotográficos:© Albano Costa / Hugo Costa (2006)

Caro colega António Almeida:

Aqui vão fotos da tristemente famosa fonte em Mansambo aonde, segundo o vosso relato, ia lá abastecer-se tanto as NT como o IN. Eu estive lá, em Mansambo, em 2000 mas ninguém nos sabia informar a localização da fonte. Agora, como vocês lá foram, sempre deu para dar com ela.

Já agora, e passado uns dias do vosso regresso, gostaria de saber a tua opinião em relação à Guiné até para eu não ser enganado no meu pensamento. É que o meu filho me disse:
- Pai, a Guiné está um pouco diferente, em termos de estradas está muito mau, assim como o preço dos hotéis (que só o são de nome).

Há coisas que devem ter mudado para pior, desde 2000. Em matéria de hotéis, foi pena, acho que aí o Allen precipitou-se: ele tinha marcado para o Hotel a 25 euros por dia e, quando lá chegou, já eram 50 euros. Ora isso é mau e caro. Assim não vai lá ninguém, o que é pena.

Felizmente o Paulo Salgado (já falei com ele pelo telefone mas tenho pena de ainda não o conhecer pessoalmente) arranjou logo uma casa que sempre serviu para atenuar o preço. Pelo que o Hugo me contou não tem nada a ver com o que foi na nossa viagem em 2000. Aí, sim, foi muito melhor e com preços normais no Saltinho, dava para escolher o que queríamos comer. Soube agora que o cozinheiro [do Clube de Caça e Turismo] veio trabalhar para o Colete Encarnado.

Paciência, isto daqui a pouco volta outra vez a saudade da Guiné.

Já agora diz-nos se foi a tua primeira viagem à Guiné, depois do 25 de Abril, e quais foram as tuas impressões e, se possível, do teu amigo e camarada Saagum.

Um abraço.

Albano
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Nota de L.G.

(1) Vd. posts de:

14 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCVIII: A emboscada na fonte de Mansambo (19 de Setembro de 1968) (Carlos Marques dos Santos)

9 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DIX: As baixas da CART 2339 (Mansambo, 1968/69)

12 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXLII: História da 'feitoria' de Mansambo

(....) "Algumas notas: A 11 de Julho de 1968 o IN reteve um dos nossos elementos, na fonte, e na perseguição, em conjunto com as NT, o Cmdt do Pel Milícias 103 accionou uma mina A/P, tendo sucumbido aos ferimentos. Deste nosso camarada só houve notícias depois do 25 de Abril de 1974.

"Em 19 de Setembro de 1968, a CART 2339 sofre uma emboscada, vinda da copa das árvores, também na fonte, enquanto procedia ao abastecimento de água, que causou 11 feridos (5 graves) e um morto. Um dos feridos graves viria a falecer no Hospital Militar de Bissau (241) a 25 desse mês.

"Em 30 de Setembro nova emboscada na fonte a Pelotão de Milícia e uma mulher da Tabanca" (...).

30 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDI: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (3): Memórias da CART 2339

Guiné 63/74 - P714: Do Porto a Bissau (11): Bissau, Barro e Farim (Hugo e Albano Costa)

Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2006 > O estado de ruína em que ficou o antigo palácio do governador, depois do golpe de Estado que derrubou Nino Vieira: aspecto exterior...

Guiné-Bissau > Bissau > 2006 > O estado de ruína em que ficou o antigo palácio do governador, depois do golpe de Estado (1998) que derrubou Nino Vieira: aspecto interior...


Guiné-Bissau > Barro > Abril de 2006 > Monumento em homenagem ao 1º Cabo Enfermeiro João Baptista da Slva, da CART 2412, morto em combate, em Bigene, em 21 de Setembro de 1968. Mandado erigir, em Barro, pela CART 2412 (1968/70). Pensava-se que este singelo monumento fúnebre tivesse sido destruído a seguir à independência.

Guiné-Bissau > Farim > Abril de 206 > Com o pai do nosso amigo Anízio (sentado, o segundo da esquerda, ao lado do Xico Allen e do Marques Lopes).

Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2006: o macaco e o chupa-chupa.

Créditos fotográficos: © Hugo Costa (2006)
 
1. Caros amigos e camaradas de tertúlia:

Acabo de chegar do sul da Itália. O meu périplo de 10 dias, entre 22 de Abril a 1 de Maio, pelas regiões de Lázio, Campânia, Basalicata, Calábria e Sicília, traduzido em 3300 km de carro e em 3300 fotografias, decorreu com a emoção e o cansaço, inerentes a projectos deste tipo. Dez dias é sempre pouco para descobrir, de carro, uma das mais fascinantes partes da Itália e do Mediterrâneo. Fascinantes e caóticas (como é região metropolitana de Nápoles)...
Confesso que, entretanto, tive saudades vossas e do nosso blogue. Das notícias que me chegaram, vou dando conta hoje e nos próximos dias. Começo por transcrever uma mensagem do Albano Costa, datada de anteontem à noite.

 
2. Mensagem de Albano Costa:

Caro LG

Espero que a estadia por terras transalpinas e junto dos vossos filhos tenha sido um momento de grande prazer. Eu, por cá, lá me fui entretendo no convívio à distância com os nossos guineenses. Eles lá andaram na sua maratona, a dar a volta à Guiné o mais rápido possível, mas queixaram-se das estradas, da inflação da estadia e do aluguer dos transportes. Isso é normal mas é mau porque aí cada vez menos se vai à Guiné...

Mas tudo correu muito bem. O Paulo [Salgado] e a esposa foram muito simpáticos e arranjaram uma casa que foi alugada e acabou por ficar mais barato. Quanto ao resto, quando o grupo é um bocada grande, torna-se sempre um pouco mais chato mas depois tudo se resolve. De acordo com a minha expereiência, o ideal é cimnco a seis pessoas, torna-se mais fácil.

Com respeito à viagem todos adoraram: têm imagens de muita pobreza mas também de grande beleza, peripécias muito engraçadas. Há imagens sobre a Guiné muito belas. A estátua, em Barro, lá está e já a enviei ao Afonso [M. F. Sousa] . O Pepito, o Paulo e Conceição Salgado foram impecáveis, sempre presentes para darem todo o apoio ao grupo.

Vou enviar algumas das fotos que recebi:

(i) as do palácio, dentro e fora, é melhor não publicar no blogue, podendo todavia circular por e-mail; dá pena ver o interior do palácio assim, ai isso dá (1);
(ii) monumento erigido em Barro (2) ;

(iii) outra foto foi tirada em Farim, com o pai do Anizio (3);

(iv) finalmente, a do macaco, que também teve direito a chupa-chupa, e mostrou que também gosta; felizmente, os chupas eram muitos...

Um abraço,
Albano
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Nota de L.G.

(1) Percebo (e respeito) os sentimentos do Albano Costa; mas julgo ser também nosso dever não ignorar ou escamotear a realidade: neste caso, mais este episódio (triste) da história recente da Guiné-Bissau... Não se entenda a publicação destas imagens como um sinal de saudosismo ou de defesa da pax lusitana...

(2) Vd post de 31 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDVII: Em perigos e guerras esforçados...

(3) Anízio Indami, 22 anos, natural de Farim, estudante em S. Paulo... Vd post de 8 de Novembro de 2005 Guiné 63/74 - CCLXXX: Crianças de Farim ou como o mundo é pequeno (3).

sexta-feira, 21 de abril de 2006

Guiné 63/74 - P713: Tabanca Grande: Manuel Lema Santos, 1.º tenente da Reserva Naval, ex-Imediato da NRP Orion (1966/68)



O Lema Santos de ontem (1º tenente da marinha em 1972, que serviu como Imediato na NRP Orion, na Guiné, entre 1966 e 1968) e o de hoje (2004), empresário, residente em Massamá.

Julgo que é o Lema Santos é o primeiro oficial da classe de marinha que nos contacta e pede licença para entrar na nossa caserna... de tropa-macaca. É óbvio que o vamos receber de braços abertos: estamos todos de acordo que a história da guerra da Guiné só pode fazer-se juntando a malta dos três ramos das Forças Armadas Portugueses mais os nossos queridos turras. Até à data, e nas vésperas de completarmos um ano de existência, as tropas especiais, bem como a malta da marinha e da força aérea, está ainda subrepresentada na nossa tertúlia. Seria interessante tentar saber porquê...

Ao falar com este camarada pelo telefone, constatei que ele conhece todos os rios da Guiné, é um excelente contador de histórias, tem uma memória fotográfica e possui uma vasta rede de contactos pessoais e sociais... Welcome to board, captain!

© Lema Santos (2006)


1. Texto do Manuel Lema Santos, que me foi enviado em 5 de Abril de 2006 e que só agora, por razões de agenda (leia-se: engarrafamento de tráfego...), chega ao conhecimento dos nossos tertulianos (com o pedido de desculpas ao próprio, com quem já tinha tido uma longa e agradável conversa ao telefone).

Prezado Luis Graça,

Tenho seguido com atenção cuidada a descoberta do Blogueforanada e tenho de te cumprimentar porque, com esforço e determinação, conduzes naquele andamento tão espinhosa tarefa.

Estão satisfeitos, por certo, todos os bloguistas pela disponibilidade que lhes facultaste de se exprimirem livremente, sobre tão sensíveis quanto subjectivos temas, criticando, opinando, partilhando, mas também revivendo épocas tão conturbadas como controversas.

Também eles estão de parabéns porque o fazem por vontade própria, sem reservas, servindo uma causa comum: pesquisa e regresso ao passado, com esclarecimento e sem fantasmas.

Resumidamente, escreve-se história. Muitas vezes, tão do foro intímo de cada um que a exposição pública se torna penosa e de difícil conciliação pessoal.

Para mim não é diferente e daí o ter procurado o teu - quão difícil é assumir este teu - contacto pessoal telefónico para me apresentar previamente, no rigoroso respeito da ideia de quem, sabendo que pode partilhar igualmente informação interessante, sente alguma inibição em levar essa colaboração à prática.

Diga-se, em abono da verdade, que passei a estar em dívida contigo, pelo teu tempo pessoal disponibilizado à nossa conversa e simultaneamente à minha apresentação.

Guiné é tema único e também lá estive, envolvido naquela dramática vivência!

Não consigo compreender, no meu modesto entendimento e sem noções concertadas de estratégia militar, como é possível escrever a estória da Guiné sem estar a ela associada a própria história da Marinha de Guerra, conjuntamente com a história dos outros dois ramos das Forças Armadas.

Fui oficial da Marinha de Guerra da Reserva Naval, o que equivalia, em termos práticos, aos seus pares congéneres milicianos do exército. Não mais do que universitários, licenciados ou em vias disso, que, tendo de cumprir num horizonte próximo e ao serviço da cidadania o serviço militar obrigatório, optavam pela inscrição nesse ramo das Forças Armadas, vindo posteriormente a ser seleccionados ou não, de acordo com as exigências e os resultados dos testes prestados no ramo.

Fui apenas um entre os quase 3000 oficiais da Reserva Naval que, entre 1958 e 1982, desfilaram naquela Instituição; daqueles, cerca de um milhar terão desempenhado missões de serviço nas antigas colónias portuguesas, entre 1961 e 1975.

No meu caso, depois de um curso de seis meses na Escola Naval, a viagem de instrução de cadete e o juramento de bandeira com promoção a Aspirante (Outubro de 1965 a Maio de 1966) marcaram, em sucessão, instrução e formação, camaradagem, também crescimento.

Depois, já promovido a Subtenente, o destacamento para uma unidade naval na Guiné, o NRP Orion - P362 (LFG - Lancha de Fiscalização Grande) onde fui oficial Imediato de Maio de 1966 a Abril de 1968; uma unidade naval de 42 metros, com 2 oficiais, 4 sargentos e 22 praças entre outras 6 idênticas (Argos, Dragão, Hidra, Lira, Cassiopeia e Sagitário).

Seguiram-se inúmeras operações, apoios à navegação (LDG's, LDM's, LDP's, TT's, embarcações e batelões) e oceanografia, escoltas, fiscalização, transportes, ataques e respostas, evacuação de feridos, prisioneiros e até transporte de agentes da PIDE.

Na memória que o tempo em mim não apaga, esfumam-se relatos, acontecimentos, documentos, registos, afinal também História. Em tudo idêntica no tempo à que tenho vindo a ler no Blogueforanada mas, muito mais do que idêntica, complementando-se mutuamente.

Do Cacheu a Norte ao Cacine no Sul, com o Mansoa, Geba, Corubal, Grande de Buba, Tombali e Cumbijã pelo meio.

Numa enorme bolanha em que as marcas radar, a sonda e algumas vezes a sorte, nos serviam de anjos anti-encalhe.

Bijagós, mais um nome, mas num mundo à parte! Cabo Verde nas obrigatórias e periódicas docagens nos estaleiros.

Sem grande possibilidade de lhes soletrar os nomes que a memória aí não chega, o meu cumprimento a todos os militares do exército com quem convivi, especialmente no Cacheu, Barro, Ganturé (Bigene), Farim, Caió, Bissau, Nhacra, Mansoa, Bolama, Cacine, Cabedú e muitos outros locais, sem esquecer uma aventura radical na forma de uma ida a Cameconde, a 8 km de Cacine.

Foi ainda possível, vejam só, em 13 de Setembro de 1966 (alguém presente?) embarcar, em Cabedú, a companhia ali estacionada e, na LDM 307, transportá-la até à Ilha de Melo, efectuar um desembarque - nome de operação: SOL -, aguardar a praia-mar, voltar a reembarcar a companhia, levá-la de volta ao aquartelamento e regressar ao patrulha.

Éramos nómadas, mas nunca teria sido possível por o pé em terra em alguns locais sem lá estar o exército ou levarmos fuzileiros. Noutros, não teria sido possível lá passar, quem sabe?... sem o apoio dos T6 ou dos Fiat da FA. Na memória o som (a soundblaster possível na época) dos diferentes tipos de "instrumentação" utilizada nos "jogos de guerra", aquando das escoltas que efectuávamos nos abastecimentos ao aquartelamento de Bedanda (tenho material de som gravado).

Cafine, Cadique, Cufar, canhão sem recuo incluídos ou as peças anti-carro 57 mm com que éramos brindados na barra do Cacine, podiam ser bons exemplos mas os RPG's no Cacheu, a montante de Barro (Porto Coco, Jagali, Tancroal) e antes de Binta, também eram aperitivos a evitar.

Depois de 2500 horas de navegação e dois anos decorridos, o regresso ao Continente, já como 2º tenente. Família constituída e a necessidade de completar a minha formação académica e profissional levaram-me a prorrogar, por mais algum tempo, a minha permanência na Velha Escola. Em 1972, promovido a 1º tenente, pedi a passagem à disponibilidade.

Num passado comum a preservar, a minha homenagem pessoal a todo o enorme grupo de marinheiros da Marinha de Guerra que, ao longo de 13 anos, mantiveram bem alto a fasquia de valores pessoais e militares naquele território, lembrando especialmente aqueles para os quais, a implacável lei da vida, tornou o percurso mais curto.

Estarão sempre connosco.

Disponham do meu modesto conhecimento para qualquer colaboração entendida como útil.
Um abraço,

Lema Santos

Anexo: 2 fotos pessoais (1972 e 2004) - o facto de gostar de fotografia desde muito novo leva a que, de mim, a família tem poucas fotos.

2. Ficha pessoal do novo membro da nossa tertúlia, que me foi enviada nestes termos: "Na sequência da nossa conversa telefónica e para evitar complicações de apresentação, tomo a liberdade de te enviar uma ficha descritiva do meu perfil pessoal bem como os meus contactos. Grato pela disponibilidade e abertura que demonstraste. Um abraço e dispõe,
Manuel Lema Santos"


Nome > Manuel Lema Pires dos Santos (normalmente omito o Pires pelo facto de o não utilizar desde há muito)

Idade > 63 anos

Estado civil > Casado com Maria João Lema Santos, economista, com dois filhos de 21 e 17 anos respectivamente; 2 filhas de 1º casamento (37 e 36 anos respectivamente)

Formação académica:

(i) Liceu Pedro Nunes de 1952 a 1959; (ii) Curso de engenharia mecânica do IST, incompleto na licenciatura (6º ano da antiga reforma); (iii) Escola Naval (Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval - 8 º CEORN) de Outubro de 1965 a Maio de 1966; (iv) Viagem de Instrução no NRP Corte Real em Abril de 1966, juramento de bandeira e promoção a Aspirante.

Formação Militar:

- Nomeado Imediato do NRP ORION - P 362 (guarnição de 2 oficiais, 4 sargentos e 22 praças), com promoção a SubTenente, em serviço na Guiné.
- Embarque para a Guiné em 31 de Maio de 1966.
- Permanência naquele lugar até 24 de Abril de 1968, cumpridas cerca de 2500 horas de navegação e algumas idas a Cabo Verde (Mindelo) para alagem (docagem).
- Promoção a 2º Tenente em 31 de Maio de 1967.
- No regresso e até Agosto de 1968, formador no Grupo nº 1 de Escolas da Armada (Vila Franca).
- De Agosto de 1968 a Maio de 1970, ajudante de Ordens do Comandante Naval do Continente e Base Naval de Lisboa

Formação Profissional:

- De Maio de 1970 a Novembro de 1972 dirigi, a pedido e como adjunto, o Serviço de Publicações do Estado Maior da Armada, primeiro estágio profissional na indústria gráfica, ramo que abracei até hoje.

- Promovido ao posto de 1º Tenente em Novembro de 1972, tendo pedido a passagem à disponibilidade.

- Final de 1972 - Admitido como Director de Produção da Livraria Bertrand (parque industrial da Venda Nova - Amadora); pedida a demissão em Fevereiro de 1977.

- Março de 1977 - Admitido como Chefe de Produção da Avery Portugal - B. Nascimento, Lda.; diversos estágios realizados na Alemanha, Dinamarca, Suécia e Espanha no âmbito da mesma indústria gráfica (serigrafia e etiquetagem). Pedida a demissão em Março de 1983.

- Entre 1984 e 1987 ainda passei em duas outras empresas em lugar equivalente (Selegrafe, Litografia Amorim e Copinaque);

Formação complementar:

- Desde aquela altura e até agora, primeiro como empresário em nome individual e depois em sociedade com a mulher, em M. Lema Santos - Comunicação Gráfica, Lda., pequeno estúdio gráfico, de índole familiar, na área digital/pré-impressão/Internet.

Actividades diversas:

- De 1969 a 1981, presidente da Direcção de uma associação cultural e desportiva (Clube Arte e Sport).

- Desde 1997 sócio e colaborador na AORN (Associação dos Oficiais da Reserva Naval) tendo aceite o lugar de vogal neste último elenco directivo; por divergências em questões de fundo afastei-me no final de 2004.