Dizia então José Brás:
E voltando ao meu amigo Graça Abreu, a que prometi dar nomes e números dos verdadeiros colonialistas donos de quase tudo o que era economicamente importante nas nossas colónias de África, rectifico:
Vou realizar o trabalho que poderá ser aqui publicado apenas se os editores do blogue assim o entenderem, para que os antigos soldados portugueses entendam o logro da "defesa da Pátria" quando mataram e morreram.
Como resposta a qualquer desejo de AGA, acho agora que o trabalho não valerá a pena, senão no prazer que a mim próprio dará, e esse ficará comigo e com os amigos.
José Brás
AS COLÓNIAS PORTUGUESAS ANTES DA GUERRA (1)
INTRODUÇÃO
Este trabalho foi entendido desde o início como uma forma de demonstrar a natureza da verdadeira Pátria que os soldados portugueses iam defender quando partiam para as ex-colónias de Angola, Moçambique e Guiné, matar, morrer e desbaratar toda uma vida no caso dos feridos em combate ou noutras circunstâncias derivadas, quando deficientes físicos e/ou psicológicos.
Tal objectivo do autor resulta de uma sua afirmação sobre a natureza internacional do capital principal nas grandes empresas, sociedades anónimas e Companhias concessionárias presentes nas colónias portuguesas nos vários sectores da economia, nomeadamente a extracção mineira, os transportes, caminhos de ferro, material circulante, portos marítimos (importantes no escoamento das matérias primas desde os locais de extracção até aos portos de embarque) a agricultura e pescas, pequena indústria instalada e o comércio, interno e import-export.
Dizia eu, também, da crónica dependência de Portugal do capital financeiro do exterior, quer directamente o Estado para a realização de obras públicas, como ferrovias e outras vias de penetração, pontes, portos, no Continente e nas Colónias, quer através dos estabelecimentos bancários nacionais, nomeadamente o Banco Espírito Santo e em especial o Banco Burnay, verdadeira testa de ferro dos capitais estrangeiros em áreas estratégicas do ponto de vista económico, no Continente e nas Colónias, quer para apropriação de matérias primas importantes na indústria transformadora internacional, quer do ponto de vista do objectivo de acumulação de reservas para garantia futura, em especial, americanas.
Esta característica da formação e constituição dos capitais titulares de acções e de percentagens do capital das várias Sociedades Anónimas, quase sempre Sociedades Anónimas, e Companhias Concessionárias de carácter monopolista que recebiam concessões de vastas áreas para explorar em exclusivo os sectores mais importantes em presença, ou garantir prospecção para reserva sigilosa e utilizável no futuro, deve ser tida em conta porque quase sempre mascarava a verdade proveniência do capital titular das empresas e das instituições públicas ou privadas portuguesas.
Por isso, deve duvidar-se, mesmo nos casos em que o capital principal das sociedades e companhias parece português, se realmente o é.
Além disso, dada a natureza parasita da intervenção económica nas colónias, montada na existência de uma imensa mão de obra completamente desqualificada e de baixa produtividade mas de salários extraordinariamente baixos, apostada apenas na produção e exportação de mais valias e enormes lucros, esta acabava por tornar-se como um peso mais a travar o desenvolvimento do Continente, aproveitando tais mais valias e investindo tais lucros, não na criação de condições para produção de riqueza real no País, mas em sectores pouco reprodutivos, tecnologicamente pobres, e em actividades de esbanjamento e luxo de uns tantos, aliás, na senda do que acontecera com as enormes fortunas provenientes da actividade na sequência das descobertas e, já hoje e de novo como uma fatalidade, com a enorme soma de fundos da adesão a à União Europeia.
Esta situação só foi escamoteada às centenas de milhares de jovens embarcados, por uma propaganda ideológica agressiva que apelava a uma obrigação patriótica no exemplo dos antigos heróis portugueses, e pela afirmação de uma Pátria pluri-continental e multirracial, atacada por interesses estrangeiros, quando, justamente, era estrangeira a mão que rapava de Angola o petróleo, os diamantes, o ferro e muitos outros produtos minerais e agrícolas, para transformação imediata nos países em presença e lançamento no mercado, ou para constituição de reservas estratégicas, todos geradores de lucros muito superiores aos que teriam noutros locais devido à natureza especial do colonialismo de um País muitíssimo atrasado, em comparação com os seus vizinhos continentais, a mesma estrangeira que, simultaneamente, armara no Norte de Angola a UPA para a chacina.
Para ter uma ideia dos atrasos nacionais, no Continente e nas Colónias, em matéria de economia, e das disparidades em relação a outras Colónias e outras potências coloniais, uma ideia ainda que ténue, basta saber por exemplo, como informa Basil Davidson, que era negro o maquinista do troço ferroviário no espaço congolês, substituído por um português branco quando entrava no troço angolano, porque o salário deste emigrante das Beiras ou de Trás-os-Montes ou de outra qualquer das províncias portuguesas do Continente, era ainda mais baixo do que o do negro do Congo.
Assim, entremos na esquematização muito simplificada e muito aquém da informação disponível para demonstrar a verdadeira e mais funda realidade, ainda assim, a meu ver, claramente suficiente para provar muito mais do que o que eu houvera dito no referido comentário ao poema do Juvenal, afirmando ser muito pouco portuguesa a Pátria que roubou a vida a quase 10.000 jovens, deixado estropiados quase 20.000 e, de algum modo diminuídos, muitas mais dezenas de milhar, suscitando com isso, pelo menos uma reacção contraditória.
ANGOLA
Situada no coração da África negra, com fronteiras de mais de 6.400 Km, 4.837 Km com o Congo Belga, a Rodésia do Norte e a Bechuanalândia, 1.650 Km de costa marítima, 1.770 Km do Luvo, a Norte, ao Cunene, a Sul no comprimento, e uma largura aproximada desde foz do Cunene atá ao Cuando, a Leste, tudo, numa superfície aproximada às de Espanha, França e Inglaterra juntas.
Descoberta a sua costa no século XV por Diogo Cão, as suas fronteiras actuais resultam de alterações significativas ao longo dos tempos em acordos e conferências internacionais que, como é óbvio, nunca tiveram em conta os interesses das populações locais, dividindo muitas vezes etnias e até, dentro destas, tribos.
É atravessada por grandes e extensos rios, com imensas bacias hidrográficas e enorme potencial energético, objecto de estudos realizados sob a direcção da ECA –European Cooperation Administration e encomendados a organizações americanas sob hipoteca de exploração.
No seu espaço geográfico abrigam-se potencialidades extraordinárias, desde logo as do sub-solo, como os diamantes, o ouro, o petróleo, asfaltos, carvões betuminosos, mica, manganés, estanho, fosfatos, sal-gema, vanádio, zinco, ferro, mercúrio, volfrâmio e urânio.
É igualmente muito rica em produção animal, como cera e mel, em regiões propícias à criação de gado e de matérias-primas como as oleaginosas, café, açúcar, fibras vegetais e madeiras.
Em 1950 a sua população era a seguinte, resultado de senso administrativo, ainda que com larga possibilidade de erro por desinteresse das autoridades locais a quem convinha ter disponíveis e sem controlo muita mão de obra para alugar aos recrutadores:
Em 1956 a situação era a seguinte:
A distribuição por etnias do total da população, em 1950, refere o total da população africana por 13 principais, mais 1,296 de portugueses do ultramar, 5.794 estrangeiros e 2.796 indeterminados.
Angola deixou de ser considerada colónia em 1951 e passou designar-se como Província Poruguesa Ultramarina, embora nada tivesse mudado de facto na estrutura social e administrativa, apesar da leitura do Art.º 148 da Constituição. No fundo era o Governo de Lisboa que tudo decidia através do Ministério do Ultramar e dos organismos corporativos, copiados da Itália de Mussolini, o Grémio do milho, as Juntas de Exportação do Algodão, do Café e dos Cereais.
Muito importantes são os seu 3 Portos de Mar principais, sobretudo o do Lobito e o de Luanda, sendo ainda de importância crescente o de Moçâmedes, recém-construído.
(Continua)
____________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9225: (Ex)citações (166): Gostei dos que… gostaram e gostei, juro que não menos, dos que não gostaram (José Brás)