Meus Caros Editores Camaradas:
Dias atrás, lembrou o régulo maior da nossa Tabanca que o verão está à porta e com ele, por causa dele, a habitual diminuição do produto “noticioso” ameaça deixar o mural da Tabanca a pão e laranja. E sugeria, como alternativa, a actualização e aprofundamento do nosso álbum fotográfico.
Faz tempo que dentro da minha cabeça bailava a vontade de dar o meu contributo para o enriquecimento dessa página do blog. Vamos então a ela, deixando para depois das férias as duas histórias que já se encontram alinhavadas nos rascunhos.
E começo pelo fim. Por aquele momento em que definitivamente respiramos fundo. O momento em que o pensamento voa longe, até que alcance a família, levando nas suas asas uma mensagem escrita que diz, sosseguem, mais uns dias e estou aí. O momento em que recebemos e damos as boas vindas aos que nos vêm render. Quem não recorda esses instantes que foram mistura de perplexidade e medo à chegada, de jubilo e paz na partida?
Tenho tão vivo e tão presente aquele 15 de Fevereiro de 69, quando saí da jangada e meti pé em terra firme de João Landim, assustado e atónito com tudo à minha volta, com uns tipos de camuflado de cor completamente diferente do meu a atirarem-me mãos cheias de amendoins (vim a saber depois que se chamava mancarra), ao mesmo tempo que gritavam, “salta periquito, vem que o paizinho quer ir para casa”, o bater metálico das culatras à rectaguarda, o roncar das Panhard a ganharem posição na coluna, o arranque em grande velocidade estrada fora e, finalmente, a entrada no aquartelamento de Bula por entre filas de militares que se riam, que para nós se riam, com ar de quem mais parecia dizer, “coitadinhos, tão tenrinhos, nem sabem no que se metem”.
Depois, o tempo encarregou-se de tornar tudo isto normal, encarregou-se de em nós deixar fruir a ideia de que “a nossa hora também chegará”. E chegou em fins de Outubro de 1970, em data que a memória, a nossa e a deles, não consegue precisar.
Lá vêm os “piras”.
Vindos da estrada de Mansoa, entram em Bissorã as primeiras viaturas que transportam a CCS e a CCAÇ 2781 do BCAÇ 2927. À sua espera a “Policia da Unidade”, formada pelo impagável Orlando Bonito, Fur Mil Amanuense, e o seu inseparável 1.º Cabo, o "Alentejano”, que se esforçou, todo o dia, por convencer os recém-chegados que, não obstante estarem “no mato”, tinham de andar devidamente escanhoados e ataviados, sem esquecer as botas devidamente engraxadas.
É destas praxes, destes momentos mais ou menos hilariantes, que cada um, no seu lugar e à sua maneira, preparava para receber condignamente aqueles que os vinham render, que quero dar testemunho nas fotos que se seguem. Peço desde já desculpa por algumas delas não serem “exclusivas”. De facto, algum tempo atrás, o Quim Santos, que pertenceu à CCAÇ 2781, que edita o blog “Guiné-Bissum” , pediu-me uma ou outra fotografia da sua chegada. Mas atrevo-me a oferecê-las ao nosso álbum por nele nunca ter visto semelhante tema retratado. Vamos a isso.
O pano é a legenda. "A ferrugem saúde os piriquitos". A festa dos putos é a vida.
Provocações! "Piras, tendes fome ? A velhice oferece-vos mancarra... Saltitão!...
A equipa de reportagem da RadioTelevisão de Bissorã registou o grande momento. Ao volante o Fur Mec Meneses, no lugar do realizador o Fur Trms Gesteiro, o camara é o 1.º Cabo Trms Carlos Senra. A velhcie saúda os piriquitos!"...
Esta até a mim me surpreendeu. Sobretudo ao ver que os pilantras foram aos fundos da enfermaria “gamar” as batas que não eram utilizadas mas que faziam parte do espólio a entregar. Aos protagonistas peço desculpa por me “faltarem” os nomes, mas vamos, a partir da esquerda: 1- “Setúbal”, pintor 2- Lameiras, mecânico 3- era o condutor da GMC rebenta-minas 4- o bate-chapas. O 5º sou eu, que também quis ficar para a posteridade. Cartazes: "Assistência à velhice", "Serviço de saúde ao domingo"...
Alinhada já no interior do aquartelamento de Bissorã, a coluna que transportou os homens do BCAÇ 2927.
Lindos e frescos, os periquitos sorriem para a objectiva. Aquele ali ao centro, de G3 com dilagrama e cigarro ao canto da boca, é o Furriel Cerqueira, o enfermeiro da CCS que me foi render.
E pronto! Chegou a hora de ir para casa. A nossa última coluna à partida de Bissorã para Bissau. Em primeiro plano a minha equipa. Juntos, unidos, como sempre estivemos naqueles 22 meses de Guiné. A contar da esquerda, eu, o 1º Cabo Enf Machado e os Soldados Maqueiros Maltez, Teixeira e João. Infelizmente, não está na foto o Soldado Maqueiro Daniel Agostinho, de cuja história já aqui vos dei conta no P9877. Esperou por nós em Lisboa e deu-nos uma grande alegria.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 5 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9562: Humor de caserna (26): Chocos recheados para curar o paludismo (Henrique Cerqueira)