segunda-feira, 27 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14533: Ser solidário (181): Orquestra Geração nos Dias da Música, CCB, Lisboa, 26 de abril, 18h... Um projeto pedagógico inovador que é uma prática social exemplar: "aprendendo música para tocar vidas"















Fotos (e vídeo): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados

1. Ontem, por ocasião de mais uma edição de Dias da Música, no CCB - Centro Cultural de Belém, em Lisboa (este ano sob o tema "Luzes, Cãmara, Música")  tive a grata experiência de ver a atuação da Orquestra Geração de Sopros... Fiz fotos e gravei um pequeno vídeo que quero compartilhar com os leitores do nosso blogue...

Estes putos (e que os ensina  e apoia) merecem as nossas palmas... A Orquestra Geração é um projeto que merece ser conhecido, divulgado e acarinhado. "Aprendendo música para tocar vidas. Projecto pedagógico que já é considerado uma das melhores práticas sociais europeias"...  É um projeto de inclusão social das crianças e jovens de bairros social e economicamente mais desfavorecidos e problemáticos.

Eles estão no Facebook e têm uma página na Net. A responsabilidade pedagógica da Escola de Música do Conservatório Nacional, e contam com o apoio de diversas autarquias e outras entidades.


2. Aqui fica um excerto de um texto sobre o historial do projeto Orqiuestra Geração e seus objetivos:


(...) No início do ano letivo de 2007/2008, fruto de uma conversa entre o Dr. Jorge Miranda (Câmara Municipal da Amadora) e o Dr. António Wagner Diniz, presidente do Conselho de Gestão do Conservatório Nacional, tomou-se a decisão de acrescentar ao projeto Geração já implantado no bairro da Boba (Concelho da Amadora), uma orquestra que aplicasse em Portugal o Sistema de Orquestras Infantis e Juvenis da Venezuela.

Este sistema visa essencialmente dar um apoio social a crianças e jovens oriundos de bairros ditos difíceis, onde impera a marginalidade e o tecido familiar é muito frágil, e tem como objetivo, através da prática intensiva de orquestra (trabalho de conjunto por excelência), integrar as crianças ou jovens na sociedade, aumentando-lhes a autoestima e o respeito pelo outro, de forma a se atingir um desenvolvimento harmonioso da sua personalidade e combater o absentismo escolar, a saída para a marginalidade, enfim a desnaturação da personalidade do ente intervencionado.

O projeto Orquestra Geração tem revestido em Portugal um papel igualmente importante na aproximação e motivação das famílias dos alunos, no sentido de se integrarem progressivamente nas atividades da orquestra, contribuindo para o alargamento do espectro de ação do mesmo, motivando e responsabilizando todo o agregado familiar na obtenção dos resultados por nós idealizados.

Do Casal da Boba, mais especificamente da Orquestra Geração estabelecida no agrupamento de escolas Miguel Torga, o projeto alargou-se ao concelho de Vila Franca de Xira, nomeadamente ao agrupamento de escolas da Vialonga ainda em 2007/2008 e no mês de Novembro de 2008 no bairro da Mira também no concelho da Amadora (projeto que terminou no ano letivo de 2009/2010).

Posteriormente, com a entrada através do POR LISBOA de outras autarquias, o projeto Orquestras Juvenis-Orquestra Geração passou a abarcar mais as seguintes escolas: Mário de Sá Carneiro em Camarate, Bartolomeu Dias em Sacavém, da Apelação, todas no concelho de Loures, Alto do Moinho (Zambujal) e Pedro D’Orey da Cunha (Damaia e Cova da Moura), ambas no Concelho da Amadora, Amélia Vieira Luis (Carnaxide-Portela) no concelho de Oeiras, Mestre Domingos Saraiva (Algueirão-Mem Martins) em Sintra e Escola da Boa Água (Quinta do Conde em Sesimbra).

No ano letivo 2010/2011 aderiu ao projeto o Município de Lisboa, com duas escolas, nomeadamente na Ajuda – Alexandre Herculano e na Boavista – Escola Arquiteto Ribeiro Telles. Também neste ano letivo teve início os projetos no norte do país, em Mirandela e Amarante, financiados pela Fundação EDP, com Murça a partir de 2011/2012. Ainda em 2011/2012 iniciou-se igualmente o projeto em Coimbra da responsabilidade do Conservatório local.

O desenvolvimento do projeto assentou em dois vetores fundamentais - a formação de formadores aptos a aplicar a metodologia venezuelana do El Sistema e o encontrar parceiros financeiros que garantissem a continuidade do projeto.

Tendo as orquestras Geração a sua origem no projeto Geração do bairro da Boba na Amadora, foram inicialmente financiadas pelo programa EQUAL, pela Câmara da Amadora e pela Fundação Gulbenkian, cabendo ao Conservatório Nacional a responsabilidade pedagógica e administrativa. Posteriormente outras entidades privadas foram-se associando, tais como a fundação EDP, que patrocinou parte da aquisição dos instrumentos para o núcleo da Boba.

Findo o período de intervenção do EQUAL foram a Câmara da Amadora e fundações Gulbenkian e EDP os apoiantes do primeiro núcleo, nomeadamente na Escola Miguel Torga. Como anteriormente referido, o POR Lisboa veio enquadrar os outros núcleos entretanto formados, à exceção das três escolas de Trás-os-Montes, patrocinadas na totalidade pela Fundação EDP.

A Fundação PT, em conjunto com o Município de Loures e o Ministério da Administração Interna, desde 2009/2010, apoia as escolas de Sacavém e Camarate no âmbito do Contrato Local de Segurança; os bancos Barclays e BNParisParibas no presente ano letivo de 2012/2013 apoiam projetos específicos transversais a todas as escolas do projeto e ainda a TAP.

De salientar o fato de, desde o ano letivo de 2009/2010, o Ministério da Educação assegurar a contratação de todos os professores da zona metropolitana de Lisboa e de Coimbra, englobando um número aproximado de 80 docentes.

(...) Objetivos:

- Promover a inclusão social das crianças e jovens de bairros social e economicamente mais desfavorecidos e problemáticos;

- Combater o abandono e o insucesso escolar;

- Promover o trabalho de grupo, a disciplina e a responsabilidade para uma melhor cidadania;

- Promover a autoestima das crianças e das suas famílias;

- Aproximar os pais do processo educativo dos filhos;

- Contribuir para a construção de projetos de vida dos mais novos;

- Promover o acesso a uma formação musical que seria impossível para a maioria das crianças e jovens que vivem em contextos de exclusão social e urbana. (...)


Texto de António Wagner Diniz (Excertos) [Reproduzido com a devida vénia...]

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14451: Ser solidário (180): No passado dia 28 de Março de 2015 tomaram posse os membros do Lions Clube da Lusofonia que se propõe apoiar os imigrantes dos países lusófonos residentes no Concelho de Matosinhos (Jaime Machado)

Guiné 63/74 - P14532: Notas de leitura (707): Abdulai Silá, o grande prosador guineense (3): "Mistida" (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Junho de 2014:

Queridos amigos,
“Mistida” é uma obra soberba, versa um mundo em derrisão, os valores do passado estão em derrocada, aparecem D. Quixotes, feiticeiros, a barbárie das prisões sem culpa formada; há sempre a exaltação do professor, há viagens do passado para o presente, a esperança flutua como partículas de cinza. Há sons ameaçadores, convocações de desgraça, há carrascos que sentem remorsos e que imprecam essas execuções que sangraram a nação.
Aguardam-se mensagens, sinais do sol, a chegada do amor, o desaparecimento do lixo.
Um livro enigmático e muito belo. Mas que confirma Abdulai Silá como a grande promessa das letras guineenses.

Um abraço do
Mário


Abdulai Silá, o grande prosador guineense (3)

Beja Santos

“Mistida” (1997) é o terceiro romance de Adbulai Silá e dá o título à trilogia composta também por “A Última Tragédia” e “Eterna Paixão” (Centro Cultural Português Praia – Mindelo 2002). Teresa Montenegro presta alguns esclarecimentos no prefácio à segunda edição:
“Mistida é uma história feita de várias histórias que se se juntarem numa mesma história podem fazer desta outra história. Possível? Na Guiné tudo é possível”. E discreteia sobre o sentido de mistida:
“Como palavra em si, mistida é foneticamente saborosa de ouvir e de pronunciar, mas normalmente o prazer suspende-se aí. Uma mistida é uma coisa vulgar e extremamente terrena. Pode até ser percebida como ordinária, segundo o caso. As pessoas que não precisam não falam safar mistida. No quotidiano urbano, a mistida é hoje sobretudo escrava da sobrevivência, da procura limitada da caneca de arroz, das duas colheres de óleo ou o minúsculo invólucro da margarina a retalho que reunidos a um bocado de peixe permitam fazer ao menos um tiro, uma refeição por dia”.

No prefácio à primeira edição, Teresa Montenegro observou a estrutura da obra: não há capítulos de romance, há dez episódios que irão convergir para um retumbante final de esperança, nesse final as vozes vindas de cada episódio reúnem-se em apoteose. Episódios perpassados por todas de sobrevivência, acasos de guerra, delírios megalómanos. É uma escrita revolucionária, uma ficção confecionada com um uso maleável da língua portuguesa enxertando-lhe crioulo guineense, são episódios caleidoscópicos que refletem estratégias individuais, gente à procura de saídas, gente que quer um sentido para a sua Pátria esfrangalhada.

Numa atmosfera de ruína, no que resta de um abrigo de guerra, aquela que findou em 1974, vive um comandante e num jovem que o acompanha, Matchudho. A atmosfera é delirante, o comandante sonha com guias de marcha, pensa que está a defender um posição militar, é possuidor de uma grande medalha, a proveniência é um mistério. O comandante manda o jovem ir ver o sol, e depois quer saber o que o jovem viu, os diálogos são enigmáticos, atravessados por sopro poético:
- Não viste a cor do sol.
- Ele está muito forte… 
- Não me faças rir, Madjudho. 
- Juro que está tudo igual aos outros dias, Comandante. 
- Mas que ignorância! Não disseste que estavas a querer conhecer a vida? E depois de tanto tempo ainda não és capaz de entender que este sol está quase a cair? 
- A cair a esta hora? 
- E para sempre! 
- Não estou a entender… 
- Tena… a ver se descobre o outro sol, aquele brilhará para nós. Para todos nós….

O jovem vai ver a pedido do comandante qual o aroma do vento. Mas não há vento nenhum. O comandante comunica que daqui a pouco irá nascer o sol e a partir daí não haverá mais ladrões naquela terra. Vai chegar um tempo de fé, de esperança e de solidariedade.

Noutro episódio, um conjunto de prisioneiros políticos jazem numa masmorra. Por ali passou o embaixador que fora espancado até à morte, acusado de tentativa de golpe de Estado. Agora, estes prisioneiros de diferentes idades questionam o absurdo das acusações, a ninguém foi dito porque foram incriminados como traidores. Silá condimenta estes diferentes episódios de uma atmosfera mágica, pesa a ancestralidade africana temperada por um certo delírio surrealista da nova classe política que exibe despudoradamente os seus carros, as suas habitações, móveis e roupa cara. São episódios dominados pela espera. Sente-se que há um mundo em desmantelamento, os melhores da luta de libertação estão enclausurados. Há mulheres heroínas como Mama Sabel, são porta-vozes da dignidade perdida, denunciam a sociedade de expedientes em que se tornou a vida na capital.

E há parábolas como a do lixo, sempre a crescer. E há a observação que Abdulai Silá faz do meio que o envolve, consegue a intensidade plástica entre o vigor da natureza e o meio arruinado, veja-se esse este exemplo:
“O sol ardia com força e o vento fresco vindo do mar há muito que deixara de soprar. No ar dançava a poeira, muita poeira. Vinda de todo o lado, até dos tubos de escape rotos dos carros a pedir reforma, que insistiam em varrer a sujeira que enchia os buracos e os bocados de estrada que entre eles ainda se via. Quanto mais aumentavam a poeira e o calor mais frenético e desordenado se tornava o movimento da avenida. Pessoas, carros e animais cruzavam-se sem a mínima consideração pelas normas e regras de trânsito. Toda a gente estava apressada, parecia que o mundo ia acabar. Só faltava mais um bocado do calor do sol para se chegar ao caos”.

Há personagens que estão em perfeita felicidade, outras vivem dilaceradas pelo país sem sentido, aquela indignidade, como Silá escreve:
“A vida era aquilo mesmo que tinham, uma vergonha diária, permanente. Por isso é que havia tanto fingimento, tanta sacanice, tanta vigarice… Era para esconder a vergonha que havia em todo o lado: homens ou mulheres, adultos ou crianças, governantes ou governados. Cada um se desenrascava como podia, conforme calhava, mas sempre sem vergonha”.

Caminhamos para o reencontro, impensável se atendermos a que cada um dos fascículos de Mistida é como um quarto fechado, são histórias aparentemente concentracionárias. Em dado momento, entra em cena Yem-Yem, o Carrasco, ele é no fundo um pedaço da consciência da nação que se afundou. Bebe desalmadamente cachaça. Está embrutecido. “Para chegar onde estava não tinha sido fácil. Teve que vencer muitas guerras. Guerras com armas e guerras sem armas. Em todas elas tinha-se desenrascado como devia ser, não fazia perguntas, executava". A literatura de Mistida é uma confluência de sonho e realidade, de literatura onírica e de exaltação tropical, parece que a todo o momento, perante o abatimento da Nação, os protagonistas questionam indignados: como é que é possível, como é que foi possível. As narrativas tornam-se desnorteantes, codificadas, como se aguardassem a revelação dos segredos dos deuses. Os vivos caminham ao encontro dos defuntos, recuperam-se discursos de protagonistas de “A Última Tragédia” e “Eterna Paixão”, fala-se no resgate da esperança, há mesmo previsões temíveis para o futuro, quando alguém diz:
“Você quer apostar, por estes andares, ainda há de aparecer, mais dia, menos dia, um ditadorzinho reconvertido ou camuflado, que vai montar um esquema para meter todos os djidius de caneta na gaiola, senão num sítio ainda pior". É uma obra estranha, aquele que se chama um romance aberto. Premonitoriamente, no arranque da obra, Silá, num texto muito belo, fala da alvorada em que a verdadeira vida nasceu, como se quisesse dizer que a Guiné-Bissau não está definitivamente condenada ao infortúnio: 
“Não foram anunciados nem tão-pouco desejados, mas os camaradas chegaram. E chegaram todos de uma vez. Apressados. Poderosos e violentos. Ah, muito violentos. Semearam frustração e cedo transformaram a realidade num sonho. Sonho turbulento, de pesadelos sem fim.
Roubaram. Roubaram. Roubaram e partiram. Sem glória. Sem vergonha… E levaram a memória, quase toda a memória. Contra a razão.
E quando das cinzas se resgatou a esperança surgiu na madrugada um outro ser. Um outro ser e uma outra vida. Uma vida que exigia ser vivida. Em plena fraternidade. Com todo o orgulho.
Os cidadãos que disse deram conta, ignorando as sequelas da pilhagem, afirmaram vários anos mais tarde que foi nessa madrugada que a verdadeira vida nasceu. Será?”.

Uma obra de talento, um cruzamento de géneros literários que um grande artífice pode cinzelar como um romance que vai ter grande futuro.
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Nota do editor

Vd. postes anteriores da triologia de:

20 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14492: Notas de leitura (705): Abdulai Silá, o grande prosador guineense (1): "A Última Tragédia" (Mário Beja Santos)
e
24 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14513: Notas de leitura (706): Abdulai Silá, o grande prosador guineense (2): "Eterna Paixão" (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14531: Parabéns a você (895): Hugo Guerra, Coronel DFA Ref, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 65 (Guiné, 1968/70) e Humberto Nunes, ex-Alf Mil Art, CMDT do 23.º Pel Art (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 24 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14512: Parabéns a você (894): David Guimarães, ex-Fur Mil Art MA da CART 2716 (Guiné, 1970/72)

domingo, 26 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14530: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (20): Como em anos anteriores, houve missa em sufrágio pelos camaradas e amigos já falecidos

Foto n.º 1 - Celebração da Missa de Sufrágio pelos camaradas amigos que já nos deixaram

Foto n.º 2 - Aspecto da assistência

Foto n.º 3 - O camarada António João Sampaio numa das Leituras

Foto n.º 4 - O camarada Joaquim Mexia Alves lendo uma Oração de Acção de Graças

Foto n.º 5 - O senhor Pe. David Nogueira, Pároco da Paróquia de Monte Real

Foto n.º 6: em primeiro plano, o Carlos Vinhal (direita) e o Francisco Silva, o nosso cirurgião ortopedista  (esquerda)... Em segundo plano, a Helena Fitas, e o nosso poeta J. L. Mendes Gomes (autor de As Baladas de Berlim) e o Mário Fitas (, veteranos da região de Tomabli, um em Catió e o outro em Cufar)

Foto n.º 7 - À saída da missa

Leiria - Monte Real - Palace Hotel Monte Real - X Encontro Nacional da Tabanca Grande - 18 de abril de 2015 - Fotos da missa das 11h30 por sufrágio dos nossos camaradas e amigos já falecidos....

Sempre rezámos, desde pequenos, afinal somos descendentes de povos monoteístas, que acreditavam num só e num mesmo Deus, e que há mais de um milénio habita(va)m a nossa terra... Somos descendentes desses cristãos, judeus e muçulmanos...

Sempre rezámos na Guiné, em plena guerra, crentes e não crentes, uns com mais fé do que outros... Sempre rezámos, a Deus, a Alá, aos Bons Irãs... Sempre rezámos, cada um à sua maneira... A espiritualidade não é monopólio dos crentes, nem muito menos não deve ser confundida com religião. Na nossa ecuménica Tabanca Grande a liberdade (de pensamento, de expressão, de crenças...)  é "sagrada"... Ser livre é também aceitar que o outro não tem que pensar e sentir e acreditar como eu...

Há 11 anos que fazemos aqui a pedagogia da liberdade, aceitando-nos uns aos outros, independentemente das nossas convicções religiosas, filosóficas, políticas e até clubísticas... Talvez por isso temos como regra fundamental não trazer para o blogue a atualidade "político-partidária" (no sentido restrito do termo), nem tão pouco o futebol, a religião ou outras questões que, sendo importantes, podem ser fracturantes... Afinal, e como costumamos dizer, "na nossa Tabanca Grande cabemos todos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos pode separar"...

A missa foi  celebrada pelo pároco de Monte Real, Pe. David Nogueira (foto n.º 1 e 5). Temos uma dívida de gratidão para com ele e para com o nosso camarada Joaquim Mexia Alves (foto n.º 4) que, mais uma vez, foi o elemento de ligação da comissão  organizadora com o pároco de Monte Real que assegurou o serviço religioso. Temos pena que o jovem sacerdote não tenha podido depois conviver connosco à mesa, devido aos seus afazeres.

Esperamos reencontrar-nos para o ano.

Texto: Luís Graça
Fotos: © Manuel Resende  e Carlos Vinhal (2015). Todos os direitos reservados (Editadas por CV)
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14529: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (19): No Encontro Nacional da Tabanca Grande não haverá cerimónias com fardas, bandeiras, ou medalhas que distingam uns ou outros (Francisco Baptista)

Guiné 63/74 - P14529: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (19): No Encontro Nacional da Tabanca Grande não haverá cerimónias com fardas, bandeiras, ou medalhas que distingam uns ou outros (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 13 de Abril de 2015.

Vejo-os ao sol na parada do quartel, sentados, vestidos com a farda n.º 1, muitos com divisas de oficiais superiores e alguns, menos, com estrelas de generais. Alguns com boinas, a maior parte com bonés de pala, todos com os sapatos bem engraxados e com a farda bem lavada e engomada. São alguns dos responsáveis, ou foram, pela defesa da Nação, das suas fronteiras, dos seus órgãos e dos símbolos que a representam.
Como guardiões de entidades tão significativas, têm que demonstrar aos cidadãos firmeza, aprumo e verticalidade. São os nossos generais, brigadeiros, coronéis, tenentes-coronéis e majores.
Por serem homens organizados e fardados, por terem comandado tantos portugueses, eles e outros anteriores, carregam aos ombros, nas suas estrelas e divisas, toda a longa tradição militar da nação que começa logo com a sua fundação.
São homens obedientes e autoritários, a instrução militar que tiveram ensinou-os a serem obedientes aos superiores e autoritários para com os subordinados. A disciplina militar não admite discussões ou conciliação, a razão está sempre do lado do chefe. Uma ordem não permite adiamentos, não se pode parar a batalha para discutir a eficácia das ordens do comandante.

A guerra, essa desordem da paz nacional ou internacional, tem que ser combatida com dureza para com o inimigo e para com os subordinados que devem cumprir todas as ordens mesmo quando as achem desajustadas. Causa algum temor e reverência, à comunidade de cidadãos, a contemplação de tantos comandantes militares, pelo seu ar severo e autoritário. A par destes nossos guerreiros, a nossa Pátria milenar, poderá evocar outros homens, com fardas, os padres, frades e bispos no campo da educação, e da formação espiritual. A grande História tem-nos ensinado, que tanto uns como outros podem ser muito bons e úteis à nação quando não extravasam as funções que lhe são atribuídas e podem ser muito maléficos quando saem desses limites, pois têm uma força material e espiritual terrível.

 A convivência demasiado próxima e dependente entre qualquer destas instituições e os vários regimes, nunca beneficiou muito o regime democrático. Neste plano há apenas um militar sem farda, de bengala, que parece dormir ou ver uma mensagem no telemóvel, enfim parece que desertou da ordem geral. Há a parada dos soldados, impecáveis no aprumo e nas suas fardas camufladas, que tanto fascínio provocavam nos anos sessenta e setenta entre as jovens desse tempo, quando marchavam ou corriam nas nossas vilas e cidades que elas não conseguiam "agarrar", tão jovens pois eles tinham missões em África durante dois anos ou mais que os iam impedir de gozar as suas companhias. Era o tempo de adiar o amor, o futuro, a vida .
Por outro lado os graduados, sobretudo os oficiais da Academia, já com outro estatuto nesse tempo pela elegância e postura com que se distinguiam pelas suas fardas e posições de comando, povoavam os sonhos de muitas jovens da nossa burguesia.

Noutro plano vejo os paisanos, ex-militares como eu, rapazes do meu tempo, quase todos mais velhos do que os militares, uns com blusões, outros com casaco e gravata, com os braços cruzados ou com as mãos cruzadas pelos dedos, alguns mais aprumados, outros mais descontraídos. Atendendo à pose destes sexagenários e septuagenários, talvez da parte dos militares houvesse algum oficial mais diligente com vontade de dar uma hora de ordem unida a estes paisanos um pouco desalinhados.
Sem atender a legendas vejo depois os "milicianos" a serem agraciados pelos militares com medalhas que não serão de ouro, talvez cobre ou outra liga em nome da Pátria e da Instituição Militar que está sempre disponível a agraciar todos os paisanos que a respeitem e que colaboram com ela na defesa da Pátria. Vejo-os na parada, já em conjunto, com as suas medalhas, uns alinhados, outros nem tanto, como filhos fiéis que sempre procuraram um reconhecimento e um lugar na pátria-mãe, pelos sacrifícios que fizeram por ela.

O local próprio para impor medalhas militares são os quartéis, sendo os mais indicados para essa função, os oficiais superiores, tal como os sacramentos religiosos, devem ser ministrados pelos padres nas igrejas. Instituição militar que confraternizando bem com a Igreja, outra Instituição milenar, mas que em períodos críticos ou de mudanças de regime, por ordens dos vencedores, acabou por ocupar conventos que depois foram transformados em quartéis.

Monte Real, 14 de Junho de 2014 > IX Encontro da Tabanca Grande > Fátima Anjos, Francisco Baptista e Hélder V. Sousa. 

Monte Real tem um Palace Hotel, uma construção nobre, palaciana, provavelmente do início do século XX, até adequada pela sua grandiosidade a grandes cerimónias e rituais, mas no X Encontro Nacional da Tabanca Grande não haverá cerimónias com fardas, bandeiras, ou medalhas que distingam uns ou outros. A César o que é de César, a Deus o que é de Deus. Que o Encontro de Monte Real continue em boa confraternização, sem pompa nem circunstância, com o mesmo espírito democrático e de camaradagem aberta a todos, com que foi criada a Tabanca Grande.

Um bom convívio, um abraço de amizade e parabéns ao Luís Graça, ao Carlos Vinhal e aos outros organizadores, pelo pleno conseguido com as duzentas inscrições.

Um abraço a todos os camaradas
Francisco Baptista
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 Nota do editor

Último poste da série de 25 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14526: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (18): Envio dois poemas que fiz na noite em que não dormi (Mário Vitorino Gaspar)

Guiné 63/74 - P14528: Libertando-me (Tony Borié) (14): O aeroporto era já ali

Décimo quarto episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.




Faltava pouco para as quatro horas da tarde, atravessávamos a “Woodrow Wilson Bridge”, que é a ponte, na parte leste da cidade de Washington, onde existe a fronteira entre os estados de Maryland e Virgínia, é uma estrada rápida, o tráfico é intenso, mas deslizava suave e controlado, muitos letreiros de estrada avisando e dando informações do que por lá havia, constantemente apareciam nos diversos painéis de computador, aquelas palavras mágicas, dizendo “denuncie qualquer veículo suspeito ou pessoa que conduza agressivamente”. Nós, que desde New Jersey, levámos com um trânsito lento, alguns acidentes, paragens constantes para controle e pagamento de portagens, tudo o que nos surgisse pela frente já não seria qualquer novidade, mas aquela longa fila de viaturas militares, em sentido ao norte, eles lá iam, passado umas milhas, novas filas, eram aqueles jeeps baixos, camiões cisterna, camiões gigantes com carros de combate em cima, com frentes agressivas, alguns com atrelados, com pinturas amarelas, verdes, castanhas, cinzentas ou pretas, onde predominava o amarelo torrado, (como “torradas” ficam, as zonas por onde essas viaturas passam, quando em combate), camufladas, confundindo-se com o ambiente, com a estrada, com o trânsito, com o céu e com o horizonte.

Vendo todo este cenário, os malditos pensamentos da guerra que tínhamos vivido lá na Guiné, começámos também, sem notarmos, a ficar agressivos, a proferir palavras agressivas, a dizer mal de tudo, até da nossa própria alma, a lembrar-nos que somos “veteranos de uma maldita guerra de guerrilha”, que em determinado momento da nossa vida, “passámos um cheque em branco à ordem do Governo de Portugal, por um montante de... até..., incluindo a nossa própria vida”, o que infelizmente, muitas pessoas hoje não entendem esse facto, até que a nossa companheira e esposa nos chamou à realidade, dizendo, “olha, vamos na estrada, controla-te, temos uma longa distância pela frente”.

Tudo isto se passou por volta dos princípios dos anos noventa do século passado e, o cenário e as palavras agressivas que proferíamos na altura, sem o sabermos, eram o início do que foi a maior mobilização de recursos humanos e materiais desde o final da Segunda Guerra Mundial, era o início do que mais tarde viriam a chamar de, “Operation Desert Storm” e que, por isto ou por aquilo, viria a modificar o sistema de vida das pessoas em todo o mundo e que, também por isto ou por aquilo, juntou uma imensa quantidade dos mais modernos equipamentos militares na zona do Golfo Pérsico, desencadeando de seguida uma campanha relâmpago que esmagou a oposição que por lá havia, com extrema e surpreendente facilidade.


O nosso destino era o estado da Florida, conduzíamos na altura uma viatura de carga e de aluguer, onde levávamos alguns materiais, haveres, recordações, “tarecos”, uma vida de “coisas”, com destino à construção da nova residência que estávamos a iniciar, no estado da Florida. Depois de entregarmos a referida viatura na agência, já num táxi, a caminho do aeroporto, para regresso a New Jersey, o condutor, talvez apercebendo-se do nosso sotaque, confundiu-nos com o “resto do mundo”, com “os outros”, pensando talvez que andávamos por ali somente de visita, começou a falar mal da reputação da mãe do nosso presidente, da futura guerra, para que nos “vamos envolver”, mais isto e mais aquilo, com muitas palavras agressivas e obscenas, dizendo também mal de tudo, até da própria alma. A nosso favor foi que o aeroporto era já ali.

Tony Borie, Abril de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14489: Libertando-me (Tony Borié) (13): Era mesmo ele, o Vítor Carvalho

Guiné 63/74 - P14527: No 25 de abril eu estava em... (25): Tomar, RI 15, era 1º cabo miliciano e fui destacado para defender a estratégica barragem de Castelo de Bode, com mais 14 homens, e descobri, nessa missão, que a solidariedade afinal não era uma palavra vã (Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-fur mil op esp, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, 1974)




Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > O Eduardo (em cima) e o filho, Carlos Eduardo (em baixo, à esquerda, tendo a seu o José Almeida e a Antónia, de Viana do Castelo...).

O Eduardo foi buscar o filho ao aeroporto, a Lisboa. Trabalha na... Roménia.  Presumo que tenham vindo de férias... Ainda passaram, a correr, por Monte Real, a caminho de casa. Almoçaram connosco e continuaram a viagem até casa... Um gesto de grande camaradagem e de carinho que todos apreciámos... [No foto acima, o Eduardo, de pé, está a falar com o Mário Fitas (Cascais), o Rui Silva e a esposa Regina Teresa (Feira), habituais participamtes do nosso encontro anual.] (LG)

Fotos: © Manuel Resende (2015). Todos os direitos reservados.


Capa dos cadernos do ex-ranger Magalhães Ribeiro, que fez parte do lote dos últimos soldados do império... Recorde-se quie ele foi furriel miliciano da CCS do Batalhão 4612/74 (Mansoa, 1974). Foi mobilizado para a Guiné já depois do 25 de Abril de 1974. Chamei a esses cadernos o "Cancioneiro de Mansoa"... Na capa, reproduzida acima,  pode ler-se: (i) em Lamego... ser ranger; (ii) em Tomar... participar no 25 de Abril; (iii) em Mansoa, Guiné... arriar a última Bandeira.


Foto: © Magalhães Ribeiro (2005). Todos os direitos reservados.


1. Num caderno, de 47 páginas, de que  o nosso camarada Eduardo Magalhães Ribeiro [ foto à esquerda,  "quando pira"], me ofereceu um cópia quando o conheci pessoalmente, no seu local de trablho, no centro do Porto, ele conta, em verso, as peripécias da sua atribulada vida militar. 

 Esses versos já foram aqui reproduzidos, originalmente, há largos anos (*)... Como escrevi na altura, o "Cancioneiro de Mansoa" está imbuído da ideologia (ou da mística) dos rangers, mas tem a curiosidade de ser um documento pessoal,  escrito por um dos últimos guerreiros do império e, para mais, ao longo dos anos que se sucederam ao 25 de Abril de 1974 em que o autor também participou... com um missão de retaguarda: a defesa da barragem de Castelo de Bode, um ponto absolutamente estratégico (já que a grande Lisboa dependia dela para o abastecimento de água e de energia elétrica)... 

A barragem era gerida então pela CPE - Companhia Portuguesa de Electricidade (nascida, no final da década de 1960, resultante da fusão das empresas concessionárias da produção e Transporte da rede eléctrica primária; nacionalizada em 1975, estaria mais tarde,  em 1976, na origem da  EDP)

Esta sua participação nas operações no 25 de abril, mesmo que fora dos holofotes da ribalta e da história, é conhecida dos mais antigos membros da Tabanca Grande, mas não da maioria que chegou depois de 2007 (*)... Justifica-se por isso a reedição destas quadras singelas do nosso "ranger" (que eu depois convideu  para coeditor).  

É uma dupla homenagem, (i) ao 25 de abril de 1974 (com tudo aquilo que ele significa para todos nós, independentemente da leitura que cada um possa faz desse acontecimento histórico, que todos vivemos); e (ii) ao nosso camarada Magalhães Ribeiro que merece todo o nosso apreço, amizade e camaradagem... 

Curiosamente, o Eduardo estaria longe de imaginar, em 26 de abril de 1974, que ainda haveria de ir trabalhar para a EDP como técnico de manutenção de barragens... Enfim, mais uma terceira razão para dar a conhecer esta versão poética de uma missão que ele executou, com prontidão, galhardia  e espírito de desenrascanço, que são timbre de qualquer "ranger", e longe de imaginar que, quatro meses depois, estaria em Mansoa a arriar a última portuguesa no território da ex-Guiné portuguesa (**)... (LG)



O 25 de Abril, a Barragem [de Castelo de Bode] e a CPE [, Companhia Portuguesa de Eletricidade]

por Eduardo Magalhães Ribeiro

Depois das Caldas da Raínha,
Lamego e Évora longe vão,
Seguiu-se a cidade de Tomar,
1ª Companhia de Instrução.

Regimento de Infantaria 15,
Ía eu no décimo mês militar,
Em Abril de setenta e quatro,
Aconteceu numa noite de luar.

Gerou-se confusão no quartel,
Alguém correu a dar o alarme,
Corria o dia vinte e cinco
Ordem: "Toda a gente se arme!"

Falava-se numa revolução,
Tropas a avançarem p’rá Capital,
A ocuparem as rádios e a TV
E outros d’importância vital.

Como achei aquilo estranho
E estava a ficar ensonado,
Fui tomar um banho e deitei-me;
De manhã... ruídos por todo o lado!

Os ouvidos todos nos rádios,
Seguiam os acontecimentos,
Alguns mostravam indiferença,
Outros devoravam aqueles momentos.

- O nosso Capitão quer vê-lo, já!, 
Diz-me de repente um soldado;
Ao chegar junto dele reparei
No seu ar nervoso e preocupado.

- Meu capitão, bom dia, dá-me licença?
- Tenho uma missão p’ra lhe confiar...
Há um levantamento militar geral...
Com intenção do regime derrubar!

- Veio ordens para os Pides prender,
E controlar todos os pontos vitais...
Por isso, tenho aqui neste mapa
Já definidos todos os locais!

E, perante a minha curiosidade,
Disse: - Em Lisboa rein’a confusão...
O Movimento das Forças Armadas
É dono do Poder e da Decisão.

- Dividi as missões e o pessoal,
A si, tocou segurar a barragem…
Castelo de Bode, veja aí no mapa…
Um Cabo, treze homens, siga viagem!

Chegado lá, estudei a área,
Rio, coroamento, margens e central,
Sete homens vigiam, sete descansam,
Olhos atentos a algo anormal.

Mandei montar a tenda no jardim,
As horas passaram rapidamente,
O tempo do almoço passou e, nada…
- Liga o rádio p’ró quartel, urgente!

Diz o Cabo: - Está avariado!-...
Ora, sem rádio e sem almoço,
Também se passou a hora de jantar
E, para comer, nem um tremoço.

O Cabo começou então a divagar:
- Ou está tudo morto no quartel,
E s’esqueceram de nós aqui,
Ou foram p’ra Lisboa, c’um farnel!

Entretanto no nosso controle auto,
Os civis davam sinais de alegria,
Faziam-me perguntas suspeitas
Qu’eu declinava, e não respondia.

Ao fim da manhã do outro dia,
Deleguei o comando ao Cabo,
E fui pesquisar os arrabaldes,
Pois à vista, p’ra comer, nem um nabo.

Contado todo o dinheiro, concluí:
- Nunca vi gajos tão tesos, porra!
Lembrei-me da regra simples da tropa:
Quem não se desenrasca, que morra!

Na margem direita, um pouco abaixo,
Vi uma estalagem da CPE,
Qualquer coisa da Electricidade,
E com coragem avancei, pé ante pé.

Expus ao chefe o meu problema
E descobri, naquela fresca manhã,
Que a palavra solidariedade
Afinal não era uma palavra vã.

A tropa não era só marcar passo!,
Permitia conhecer outras terras,
Com belas paisagens e monumentos,
Por entre cidades, vales e serras.


Autor: Magalhães Ribeiro - 1º Cabo Miliciano
1ª Companhia de Instrução - 4º pelotão

sábado, 25 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14526: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (18): Envio dois poemas que fiz na noite em que não dormi (Mário Vitorino Gaspar)

1. Ainda a propósito do nosso X Encontro, o nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), enviou-nos dois poemas da sua autoria.

Caros Camaradas 
Envio os poemas elaborados para o “X ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE”, noite que não dormi. 

Um abraço
Mário Gaspar



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Nota do editor

Último poste da série de 23 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14511: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (17): Distribuição de Certificados aos tertulianos totalistas dos 10 Encontros nacionais e admissão de duas novas tertulianas: Graciela Santos (hnº 682) e Lígia Guimarães (nº 683)

Guiné 63/74 - P14525: Efemérides (186): Dia 9 de Abril de 2015 - Dia do Combatente - 97.º Aniversário da Batalha de La Lys e Romagem ao túmulo do Soldado Desconhecido, na Batalha (Carlos Vinhal)

Dia do Combatente - 97.º Aniversário da Batalha de La Lys 

Romagem ao túmulo do Soldado Desconhecido, na Batalha

A Direção do Núcleo de Matosinhos organizou, no dia 9 de Abril, uma deslocação à Batalha, num autocarro alugado, com um grupo de 51 participantes entre sócios, familiares e amigos, acompanhados por seis elementos da Direção e o sócio Porta-Guião, Combatente Patrocínio Amorim, a fim de estarem presentes na cerimónia.

Depois do almoço no Regimento de Artilharia de Leiria, dirigiram-se ao Santuário de Fátima onde se realizou, da parte da tarde, uma visita à Exposição “Neste Vale de Lágrimas”, onde se encontra “O Cristo das Trincheiras”, e à Capelinha das Aparições.

Deste dia ficam algumas fotos:


Interior do Mosteiro da Batalha


Autoridades e Convidados presentes




Desfile das Forças em Parada

Desfile dos Guiões dos Núcleos da Liga dos Combatentes

O Porta-Guião do Núcleo de Matosinos, Patrocínio Amorim, o terceiro a partir da esquerda

Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, Dra. Berta Cabral; General Ramalho Eanes e General Chito Rodrigues

Entrada para a Exposição "Neste Vale de Lágrimas"


O Cristo das Trincheiras

A Representação do Núcleo de Matosinhos fotografada no Regimento de Artilharia de Leiria

Fotos: © Núcleo de Matosinhos da LC
Texto editado por Carlos Vinhal a partir do texto enviado pelo Núcleo de Matosinhos da LC
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14500: Efemérides (185): Tabanca de Matosinhos, 10 anos de convívio fraterno e solidariedade que merecem ser festejados, com um almoço especial, animado com fados e guitarradas, na 4ª feira, dia 29 de abril, no sítio do costume, o Restaurante Milho Rei, Rua Heróis de França 721, Matosinhos, telef 22 938 5685 (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P14524: Convívios (669): XX Encontro do pessoal do BCAÇ 2885 (Mansoa, 191979/71) comemorativo do 44.º aniversário do seu regresso à Metrópole, a realizar no dia 16 de Maio de 2015 em Arganil (César Dias)

1. Em mensagem de 24 de Abril de 2015, o nosso camarada César Dias (ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71), solicita a divulgação do 20.º Convívio comemorativo do 44.º aniversário do regresso à Metrópole do BCAÇ 2885, a realizar no dia 16 de Maio em Arganil.



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Nota do editor

Último poste da série de 22 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14504: Convívios (668): XIX Encontro do pessoal da CCAÇ 2660 (Teixeira Pinto, 1970/71), dia 23 de Maio de 2015 em Travanca-Amarante

Guiné 63/74 - P14523: Agenda cultural (392): "O medo à espreita", documentário (Portugal, 2015, 86'), de Marta Pessoa, hoje, às 18h00, no Cinema São Jorge, no âmbito do Indie Lisboa 2015 - 12ª Festival Internacional de Cinema Independente








"O cinema independente celebra-se, duplamente, no dia da liberdade. A 25 de Abril, será exibido o mais recente documentário de Marta Pessoa: O Medo à Espreita. Um olhar sobre os passos escondidos e as manobras secretas da PIDE, a política política do Estado Novo, e que ainda marcam, hoje, as vidas e memórias de quem sofreu com as suas perseguições e torturas. A sessão especial terá lugar hoje, às 18h, na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, com a presença da realizadora. Um filme que promete não fazer esquecer os que sofreram, em Portugal, com os passos secretos da ditadura".


O Medo à Espreita
18:00 | 25 DE ABRIL DE 2015
Cinema São Jorge - Sala Manoel de Oliveira

Marta Pessoa, Documentário, Portugal, 2015, 86'

Secção: Sessões Especiais

Sinope:

Depois de “Lisboa Domiciliária”, estreado nas nossas salas em 2009, Marta Pessoa filma outras memórias secretas: a de cidadãos que viveram, até à queda do Estado Novo, uma vida de perseguição pessoal e política. Ao longo de toda a sua existência, uma das piores faces da ditadura movia-se por passos secretos, informações ocultas, e perseguições, no dia-a-dia, a pessoas suspeitas de viverem contra o regime. “O Medo à Espreita” é o retrato, assim, de pessoas que viveram diariamente debaixo da sombra dos informadores da PIDE/DGS e da sua tortura. Mas é também o retrato de um país onde o instrumento da denúncia cresceu para além dos círculos políticos para se instalar, sorrateiramente, no nosso quotidiano.

PS1 - Bilhete  com desconto: (i) jovens até aos 30, (ii) maiores de 65 anos, (iii) desempregados (mediante a apresentação de cartão do IEFP): 3,5€.

PS2 - A nossa amiga Marta Pessoa é também a realizadora de Quem Vai à Guerra [Portugal, Real Ficção, 123', 2011, disponível em DVD, € 10]. E foi a diretora de fotografia do filme de Silas Tiny, Bafatá Filme Clube  (Portugal e Guiné-Bissau, 2012, 78').
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P14522: Agradeço aos amigos atabancados as mensagens de parabéns que me enviaram a propósito do meu aniversário (David Guimarães)

A pedido do nosso camarada David Guimarães, (ex-Fur Mil, At Inf, MA da CART 2716, Xitole, 1970/1972), publicamos o seu postal de agradecimento pelas mensagens de parabéns a ele enviadas a propósito do seu aniversário ocorrido ontem, dia 24 de Abril.


Guiné 63/74 - P14521: Manuscrito(s) (Luís Graça) (55): I'm sorry





O Paço da Ribeiro (finais do séc. XV / princípios do séc. XVI) com a Casa da Indía, perpendicular ao Rio Tejo, tendo à sua esquerda a Ribeira das Naus e à direita o Terreiro do Paço. Este conjunto monumental, sede do império, foi completamente  destruído pelo terramoto de 1755. Reprodução de azulejo da Fábrica Santana, Rua do Alecrim, 95, Lisboa, 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados

I’m sorry!

Não tenho boas recordações
do império,
nem da sua praça,
nem do seu paço,
nem do seu terreiro.

Só sei que não consegui defendê-lo,
ao império,
e às joias da coroa,
até à última gota do meu sangue,
como deveria ser o meu desidério...


Pergunto, desolado:
em que repartição da pátria
é que eu poderia apresentar
os restos da minha farda de soldado,
com as minhas desculpas, 
o meu  pedido de perdão ?

Ou até apresentar-me,
de baraço ao pescoço,
qual Egas Moniz dos anos 70
do século vinte ?

Peço desculpa,
se houve aqui um erro de casting,
ou se alguém, na tropa,  entrou e saiu,
e me trocou os papéis,
as botas 
ou as voltas,
ou se o império, 
pura e simplesmente,
nunca existiu.


Lisboa, terreiro do paço, fevereiro de 1977

Luís Graça
v6 25 abr 2015

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