Guiné > Zona Leste > Bambadinca > Março de 1972 > O Caco [General Spínola] de visita à carreira de tiro de Bambadinca. À sua direita, o Polidoro Monteiro, ten-cor, comandante do BART 2917. À direita do Polidoro segue o Coronel Costa, do CAOP 2. À minha frente [eu estou de bigode e óculos escuroso], de farda nº 2 está o comandante do BART que substituiu o 2917.
A carreira de tiro situava-se 1 a 2 Km para lá da ponte de Undunduma, indo em direcção ao Xime. Imagina os arrepios que eu e o Vacas (era o oficial de tiro) sentíamos quando havia instrução de tiro nocturno. Era um local para cacimbados. Esta foto e a seguinte, a da formatura foram tiradas em meados de Março de 1972" (PS)
Esclarecimento adicional: Em Março de 1972 houve a sobreposição do BART 2917 com o BART comandado pelo velhinho (parece que foi um termo utilizado pelo Caco) que aparece de farda nº 2 na
foto. No dia seguinte àquela ser tirada, o Polidoro foi levar-me a Galomaro, para eu ir para o Saltinho. Nunca mais o vi. Penso que regressou a Portugal com o BART 2917 em fins de Março ou princípio de Abril de 1972 (PS).
Guiné > Zona Leste > Bambadinca > Março de 1972 > Visita de Spínola a uma nova companhia de milícias, formada em Bambadinca.
Guiné > Zona Leste > Bambadinca > Finais de 1971 ou princípios de 1972 > Noite de copos. Ao lado do Paulo, de bigode, de camuflado, na ponta da mesa, está o Alf Mil Machado, à civil, de óculos, a fumar, da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72). Era minhoto, natural de Riba d'Ave. Antes da tropa, trabalhava numa cooperativa local. Daí a gente chamá-lo "Bilocas da Cuprativa". Tinha um excelente relacionamento com a malta da CCAÇ 12. Tocava viola. (LG). "O alferes magrinho, à esquerda do Machado, já não me recordo do nome dele, mas era da CCS" (PS)
Guiné-Bissau > Bafatá > Fevereiro de 2005 > ZA> tia do Pedro, mãe dos dois miúdos. Ele, por sua vez, é filho de uma fula e de um balanta, antigo guerrilheiro, e hoje oficial superior das Forças Armadas Guineenses. A moça muito bonita é irmã do Pedro. O João e o Sado estão no lado direito.
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambinca > Fevereiro de 2005 > O reencontro do Paulo Salgado com um antigo soldado do Pel Caç Nat 53, o Bubacar, o Buba . O Paulo esclareceu o seguinte:
"Cheguei a Guiné em 27 de Outubro de 1970 e regressei em 12 de Agosto de 1972 . Nunca estive com o 53 em Bambadinca. O Pel Caç Nat 53 estava e continuou em reforço da CCAÇ do Saltinho. Andámos em operações por Dulombi, Galomaro e Aldeia Formosa (...). Fui em Out de 1971 para Bambadinca para comandar a instrução da Companhia de Milícias que terminou em 24 de Dezembro de 1971, dia em que apanhei uma boleia do Spínola para o Saltinho onde fui passar o Natal. Regressei a Bambadinca no início de Janeiro de 1972 para comandar outra companhia de instrução até meados de Março, tendo regressado de seguida ao Saltinho".
Fotos: © Paulo Santiago (2006)
II parte do relato da viagem do Paulo Santiago e de seu filho João Francisco à Guiné-Bissau em Fevereiro de 2005, na semana do Carnaval....
Há um mês atrás (24 de Maio de 2006), o Paulo tinha-me enviado a seguinte mensagem que não cheguei a inserir no blogue:
Camarada
O teu blogue permitiu-me ter uma conversa cibernética com o Vacas de Carvalho. Há muitos anos, mais de 25, possivelmente, que não falava com aquele amigo. Diz-me o Zé Luis que será possível encontrar mais amigos através do teu blogue.
Como não sou grande expert nisto da Net, não sei se recebeste umas fotos que enviei para o blogue.
Manga de cumprimentos
Paulo Santiago
(ex- Alf Mil Pel Caç Nat 53, Saltinho,1970/72)
PS - O nome Cabral diz-me alguma coisa Já li algumas "estórias cabralianas" Será que foi ele que me falou na história do cajado do Beja ? Não havia também um Furriel Duque muito cacimbado que roía noz de cola?
Lembro-me da cara do David Guimarães. As companhias do Xitole e Saltinho tinham contrato com uma avioneta que ía todas as semanas levar correio e transportar pessoal que vinha ou regressava de férias
Comentário de L.G.: Num mês o Paulo já está aqui a blogar connsco e a enviar-nos material (textos e fotos) muito interessante, fazendo-nos partilhar as emoções do seu regresso, em Fevereiro de 2005, à sua/nossa amada Guiné... Bem hajas, Paulo, pela sua generosidade e disponibilidade. L.G.
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Dia 5 de Fevereiro de 2005, Sábado
O meu amigo, Ten-Cor Rui Ferreira, ex-Alf Mil da CCAÇ 1420, de 1965 a 1967 e mais tarde Capitão Miliciano - no comando da CCAÇ 18, altura em que o conheci, estacionada no Quebo -, pediu-me para visitar o ex-Furriel Mil Carlos Solai, daquela companhia.
Sábado fui com o meu filho, João, e o Sado ao estabelecimento comercial que o Rui me tinha indicado, propriedade daquele ex-Furriel. Fomos informados por um funcionário que o patrão estava em casa com problemas de saúde. Procurámos na morada indicada, encontrando o Solai, lúcido, a recuperar de um AVC, que o deixou muito diminuído fisicamente.
Apesar disso falámos de uma viagem amalucada que ele, o Rui e mais dois ou três quadros da CCAÇ 18, fizeram do Quebo (Aldeia Formosa) para Bafatá com passagem pelo Saltinho, deixando-me durante três dias uma mini-moto Honda, que utilizei para andar por locais onde podia andar e também por outros onde não deveria passar...Era o cacimbo a fazer efeito.
Falámos também da viagem, que ele, Solai, fez a Portugal e da passagem pela casa do Rui, em Viseu. O João gravou na camâra uma mensagem para o Rui.
À tarde não saímos da residencial. Devido ao Carnaval fecham ao trânsito grande parte das ruas de Bissau. É só desfiles. Não é época boa para ir à Guiné.
Dia 6 de Fevereiro de 2005, Domingo
O meu amigo Sado pediu um Land-Cruiser a um primo para irmos ao Saltinho. Às 8 horas foi buscar-me à residencial e demos início a uma jornada que me marcou profundamente.
Além do João e do Sado, ía o Pedro, um moço impecável, filho de um balanta e de uma fula, o pai guerrilheiro, hoje oficial superior das FA. O Pedro foi o nosso condutor e também cameraman. A pergunta que tinha na cabeça ao sair de Bissau era:
- Como vamos, por estrada, chegar a Bambadinca, a Bafatá, ao Xitole e ao Saltinho ?
Passamos o aeroporto. Daqui para a frente nunca tinha transitado de viatura auto. Passamos por locais, cujos nomes não me são estranhos: Nhacra, João Landim, Jugudul... Aparece uma placa a indicar Portogole, à direita.
Andamos mais uns quilómetros e uma placa indica Circunscrição Florestal do Oio, e lembro a fama desta zona no meu tempo de militar. Outra placa: Matecão. A pulsação acelera-se. Mando parar o jipe. Eu estive aqui nesta zona, talvez em Dezembro de 1972, após a ocupação do Matecão [Mato Cão, na carta de Bambadinca].
A favor da maré, utilizando um Sintex com motor de 80 CV, eu, o Polidoro Monteiro, o Vilar, o Alferes do Pelotão de Morteiros e o soldado barqueiro, descemos a toda a velocidade o Geba, de Bambadinca para o Matecão. Penso que seriam dois grupos de combate da CCAÇ 12 que lá se encontravam [no destacamento]. Os ataques eram quase diários e, por vezes, mais que um, não havia abrigos nem valas, unicamente buracos individuais, dispostos em círculo, onde cabiam os colchões.
Regressamos com a maré, tendo ficado no destacamento o Ten-Cor Polidoro (1). Abro um parêntesis para dizer que conheci vários tenentes-coronéis, mas só dois me mereceram respeito: o Polidoro e o Agostinho Ferreira, de Aldeia Formosa, mais conhecido por Metro e Oito.
Voltemos a 6 de Fevereiro de 2005. Quando menos esperava entramos em Bambadinca, por um sentido completamente desconhecido para mim. Seguimos para Bafatá. Quero ir visitar o Sanhá. Esta estrada já me é familiar, vejo uma placa a indicar a cortada para Cossé (Galomaro). O Sanhá foi cabo no Pel Caç Nat 53 e actualmente é militar da GF [Guarda Fiscal]. Está em serviço para Pirada, fico com pena por não o encontrar.
São horas de almoço, em Bafatá não há restaurantes,voltamos a Bambadinca onde o Sado conhece um. Almoçamos bife e muita cerveja. O Sado, como bom muçulmano, bebe sumo.
Voltamos à estrada e começamos a subir para a parte mais elevada de Bambadinca, dizendo-me o Sado que o quartel continua a ter militares. Peço ao Pedro para virar e parar aí uns 50 metros da porta de armas, a mesma do nosso tempo. Nenhum deles acredita que nos deixem entrar no quartel. Há um militar que se me dirige, e informo-o que estive naquele quartel em fins de 1971 e início de 1972. Será que posso fazer uma visita ? Manda-nos entrar.
Pergunto se podemos filmar e, após consulta a um oficial, autoriza que utilizemos a câmara. Visito, com o Pedro a filmar, a zona ocupada pela messe e quartos. Estou muito emocionado.
Chega entretanto um senhor à civil que me apresentam como Comandante. Muito simpático. Falamos da Bambadinca dos anos 70 e do Xime e do Saltinho. Falamos a mesma língua, diz-me ele. Despedimo-nos com um forte abraço.
O grande centro populacional situa-se agora na parte mais elevada de Bambadinca, na estrada para o Xitole.
O Sado tinha uma surpresa para mim. Manda parar o jipe e pede-me para o acompanhar. Dirigimo-nos a uma casa e eis que aparece o meu antigo soldado Bubacar, o Buba. Vêm-me as lágrimas, trinta e três anos. Estamos os dois muito emocionados. Andamos os dois a pé à beira da estrada. Ele é motorista de camião. Pergunto se há por ali mais algum elemento do 53. O Iero Seidi viveu ali mas já morreu, quem vive perto é o Mamadu Jau. Peço-lhe para o avisar, quando regressar do Saltinho, pararei ali para estar com eles. Acabamos a falar de futebol para descontrair. Despedimo-nos até ao dia seguinte.
Estamos no início da tarde de 6 de Fevereiro de 2005 e vou deixar o resto do dia para outro Post.
Um abraço
Paulo Santiago
ex Alf Mil do Pel Caç Nat 53
SPM 3948
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Notas de L.G.
(1) Vd. post de 26 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P914: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (1): Bissau
O Sado é oficial superior da Guarda Fiscal da Guiné-Bissau e grande amigo do Paulo, visita da sua casa quando vem a Portugal.