Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 25 de abril de 2021
Guiné 61/74 - P22138: Blogpoesia (731): Neste dia 25 de Abril, as inquietações de sempre, "Esquecimento", poema de Juvenal Amado (Ex-1.º Cabo CAR da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)
1. Em mensagem do dia 16 de Abril de 2021, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), enviou-nos este poema alusivo ao dia que hoje se comemora:
ESQUECIMENTO
Olho para este cravo rubro
Imagino o sangue derramado
O som de pés descalços
O trabalho infantil
As Lágrimas das despedidas
O luto
O som do silêncio.
Não aceito o esquecimento
Nele ainda vejo a oportunidade
Pra mudança necessária.
A liberdade não tem preço
Somos devedores dos ignorados
Mergulhados na noite sem fim
Fomos salvos do pesadelo por um clarão.
Ainda sonho com a madrugada libertadora
Sem revolta não há transformação
Sem desobediência não há mudança
Nem há esperança que se renove.
Juvenal Amado
25 de Abril 2021
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Nota do editor
Último poste da série de 24 de Abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22133: Blogpoesia (730): "Os ex-Combatentes são fixes" de Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70)
Guiné 61/74 - P22137: Tabancas da Tabanca Grande (2): Tabanca do Atira-te ao Mar - Parte II: Quem canta (e toca) seu mal espanta (ou troca...)
Lourinhã, Porto das Barcas, Tabanca do Atira-te Ao Mar > Abril de 2021
Interpretação: Jaime Silva (voz e cavaquinho) e Joaquim Pinto Carvalho (voz e bandolim) (Ensaio)
Letra:
1. Na "jovem" Tabanca do Atira-te Ao Mar (...e Não Tenhas Medo!) (*), também se canta e toca... E quem canta e toca, seu mal espanta e troca...
Guiné 61/74 - P22136: Tabancas da Tabanca Grande (1): Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Lourinhã - Parte I: Nascida em plena pandemia de Covid-19...
Dos membros da Tabanca Grande, tem aparecido por lá, com maior ou menor regularidade, o Jaime Bonifácio Marques da Silva (, ou simplesmente Jaime Silva, também conhecido como "marquês do Seixal"), natural de (e agora residente em) Seixal, Lourinhã, ex-alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72, e ex-autarca em Fafe, bem como o nosso editor, Luis Graça e a Alice Carneiro (, residentes na Lourinhã).
Lourinhã > Porto das Barcas > Tabanca do Atira-te Ao Mar > 2 de junho de 2020 > 1º piso: a magia do pôr-do-sol sobre o mar do Cerro.
Lourinhã > Porto das Barcas > Atira-te ao Mar e... Não Tenhas Medo > 1º piso > 4 de outubro de 2020 > Os donos, Maria do Céu Pinteus e Joaquim Pinto de Carvalho (que antes da pandemia viviam habitualmente em Carnaxide, Oeiras).
e de um pedaço de pão de trigo barbela,
com o azeite puro da nossa oliveira,
despedimo-nos do verão,
mas não da vida, ou do que resta dela,
do puro prazer de estar vivo, e de pé,
de dedilhar uma viola,
de beber um copo em grupo,
ou de lembrar os tempos de Guiné, (...)
A nossa Duquesa do Cadaval,
No dia dos anos que ela nunca mais esquecerá!
No seu palácio do Atira-te ao Mar,
Ela é hoje, e por um dia, Rainha,
Mimos deem-lhe, mas não a tratem por Céusinha,
Nem como Santa, muda e quieta, no altar.
Faz aninhos, a Duquesa do Cadaval,
Mulher d’armas que “en su situ” tem Pinteus,
Capaz de, daqui da terra, bradar aos céus
P’ra que Deus ponha à Covid ponto final.
Nove meses, confinada, tantos castigos,
Tem à frente o mar e atrás o Montejunto,
O que lhe vale é o Duque e os seus amigos.
Bem queria dar uma festa d’ aniversário,
Mesa farta, lagosta, champanhe, presunto!...
Mas, olhem, tem de ficar para o… centenário!
Lourinhã, 12 de dezembro de 2020,
2* vaga da pandemia de Covid-19…
Muita saúde e longa vida,
Que tu mereces tudo!...
Dos bons amigos, também confinados,
Companheiros de mesa do teu Atira-te ao Mar
E espetadores dos mais belos pôr do sol de 2020,
Os Viscondes da Lourinhã,
Alice & Luís
5 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21418: Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Lourinhã (2): A despedida do verão ou a vida que segue dentro de momentos (texto e fotos: Luís Graça)
3 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21037: Manuscrito(s) (Luís Graça) (184): a magia do pôr do sol no Mar do Cerro, Porto das Barcas, Lourinhã, na casa "Atira-te ao Mar!", dos "Duques do Cadaval"
sábado, 24 de abril de 2021
Guiné 61/74 - P22135: 17.º aniversário do nosso blogue (3): Para muitos, e já lá vão décadas, [este Blogue] tornou-se um indispensável ponto de encontro (José Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2391, Ingoré, Buba. Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70))
1. Mensagem do nosso camarada José Belo, luso-sueco, cidadão-do-mundo, membro da Tabanca Grande, nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, e que na Guiné foi Alf Mil Inf na CCAÇ 2391, "Os Maiorais" (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70), enviou-nos, hoje mesmo, esta mensagem alusiva ao 17º aniversário do nosso Blogue:
Sendo uma obra de humanismos vários feita, haverá limitações que possa ter tido, tem ou terá.
É humano.
Para muitos, e já lá vão décadas, tornou-se um indispensável ponto de encontro.
De ante-mão, quem o lê identifica, e se identifica, com o seu tema base... a Guiné.
Uma Guiné que, infelizmente, a maioria veio a encontrar em dramáticas situações de guerra.
Tão longe de uma Guiné em paz e prosperidade que certamente em nada se assemelharia.
Aquelas gentes, mesmo nas situações mais extremas, deixaram em muitos de nós (e quase me atrevo a escrever... na maioria de nós) um estranho e melancólico sentimento de saudade.
Certamente acentuado por (então!) ainda olharmos o mundo através dos jovens olhos de pouco mais de vinte anos.
O Blogue veio preencher perfeitamente os sentimentos acima referidos, somados à amargura por tudo o que de muito duro por lá se enfrentou. De um modo ou de outro todos fomos afectados.
Mantivemos estes gritos da alma reprimidos muitos anos. Demasiados.
Surge o Blogue. As suas histórias que em conjunto formam a História, não só a nossa mas de Portugal.
Parabéns ao Blogue, aos seus Editores.
Parabéns às amizades sinceras que através dele se vieram a formar. Amizades entre Camaradas que de outro modo nunca se teriam reencontrado... ou mesmo,... “encontrado” pela primeira vez!
Um abraço
J.Belo
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Nota do editor
Último poste da série de 23 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22129: 17.º aniversário do nosso blogue (2): O “nosso” Blogue faz anos! - Faz 17 anos, está quase a entrar na maioridade (Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF (Piche e Bissau, 1970/72)
Guiné 61/74 - P22134: Manuscrito(s) (Luís Graça) (201): Soneto em louvor do galo do IPO - Lisboa
Lisboa > IPO - Instituto Português de Oncologia Dr. Francisco Gentil > 23 de abril de 2021 > Galináceos à solta...
Foto (e legenda): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
As aves são residentes do Instituto, que vai fazer 100 anos em 2023. Não sei se há aqui capoeiras, vejo, quando por lá passo, que a bicharada tem "livre trânsito", e prioridade sobre tudo e todos, incluindo as ambulâncias que chegam, às dezens, da área metropolitana de Lisboa e de todo o sul do país... (Imagino o sofrimento de que vem às 5 da manhá, do Alentejo profundo, partilhando a ambulância com mais mais um ou dois doentes, para estar aqui a horas para a sua quimieo ou a sua radioterapia.)
Vários galos, com voz operática, dominam os seus haréns e parece que, à noite, perturbam o sono dos vizinhos da rua Prof Lima Bastos... Mais importante que tudo, o galinheiro do IPO dá um nota de ruralidade e humanidade àquela antiga quinta da Casa de Cadaval, de sete hectares, onde hoje trabalham 1900 profissionais e se tratam, anualmente, 57 mil doentes... e onde às 8h15 da manhã já não há lugar de estacionamento...Gosto da divisa do Instituto: "Quando só se vê cancro, nós vemos as pessoas"... É inspirador e dá-nos confiança. E o simples ouvir do cantar dos galos e do cacarejar das galinhas dá-me paz interior quando caminho para o pavilhão de radioterapia nestes últimos dois meses, em plena pandemia de Covid-19... É o princípio da alegria contra a dor, da vida contra a doença e a morte.... Pequenos detalhes que fazem diferença no dia-a-dia do doente oncológico. LG
O galo do IPO
Cocorococó!...
O galo do IPO
Deixa uma
nota de alvoroço matinal
Para quem está
aqui a tratar-se do seu mal,
E que vem de
longe, está triste e sente-se só!
Não é o galo
cata-vento, fanfarrão,
Todo empertigado
lá na torre sineira,
Mas o
pica-no-chão, fora da capoeira,
Cujo cantar
nos alegra o coração.
Contra o cancro,
o galinheiro da Palhavã
Também faz
figas connosco, é solidário,
Bela trupe
de aves canoras, logo p'la manhã!
E a gente
lembra-se da aldeia natal,
E da
igrejinha com o seu campanário,
E da bicharada toda... lá p’lo quintal.
Lisboa, IPO, Serviço de Radioterapia, Unidade 3,
23 de abril de 2021
Luís Graça
2. A propósito do galinheiro de Palhavã, fui encontra no Portal da Queixa, a seguinte reclamação de um morador, vizinho do IPO-Lisboa, António, de seu nome, com data de 9 de abril 2021
Galos a vaguear no IPO
Moro na rua Prof. Lima Basto, mesmo em frente ao IPO de Lisboa.
Na noite passada, durou mais de uma hora começando por volta das 2h da manhã, com os barulhos infernais acima descritos.É impossível descansar de dia bem como dormir de noite.
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Último poste da série > 19 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22115: Manuscrito(s)(Luís Graça) (200): Soneto do paciente do IPO - Lisboa, dedicado à equipa da unidade 3 do serviço de radioterapia que cuida de ti com gentileza, humanidade e competência
Guiné 61/74 - P22133: Blogpoesia (730): "Os ex-Combatentes são fixes" de Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70)
1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) com data de 23 de Fevereiro de 2021:
Bom dia Carlos Vinhal
Pelo facto de ter andado bastante ocupado, pouco tempo tenho tido para te enviar alguns dos meus trabalhos, sempre dedicados à malta e à Tabanca Grande.
Desta vez, o que escrevi é; PARA TI CAMARADA.
Um grande abraço para todos os Tertulianos e em especial para os Chefes de Tabanca.
Albino Silva
OS EX-COMBATENTES SÃO FIXES
Eu era o 01100467
Sou o autor desta escrita
Esperando agora passar
Sempre que haja revista.
Não precisas de formatura
Para estas coisas ler
Podes ler desde manhã
Até ao toque de recolher.
Tudo o que aqui escrevo
Bem à tropa me refiro
Pois podes ler descansado
Pois não darei mais um tiro.
Ao escrever tudo isto
Não pude fazer mais nada
Eu não gastei munições
Nem descavilhei a granada.
Com muito mais para dizer
Tenho mais para contar
Mas com o carregador vazio
A G3 não vai mais disparar.
Não falei de muitas coisas
O que fiz foi às ajudas
Sem guerra não disparo mais
Nem ataco mais bajudas.
Camaradas meu amigos
Se disparei eu sei bem
Mas aqui no que escrevo
Não foi para atingir ninguém.
Os Ex-Combatentes são fixes
Pois de mal não tem nada
Por isso eu não disparei
Nem sequer uma rajada.
Não se espantem com a escrita
Nem de coisas como esta
Pois o Bino não é escritor
E muito menos poeta.
Eu não sou bom a escrever
E qualquer erro que passe
Não se espantei por favor
Pois só tenho a quarta classe.
Gosto de escrever em versos
E tenho mais para escrever
Com a certeza porém
Que serei o primeiro a ler.
Por vezes vou escrevendo
Para depois tudo guardar
São livros que vou escrevendo
Mas sem nenhum editar.
Agora vou sim disparar
E deste fogo não foges não
Para todos um bom abraço
Disparado do coração.
É assim que eu disparo
E sem querer ferir alguém
Já entreguei minha G3
Não disparo a mais ninguém.
Albino Silva
01100467
CCS/BCAÇ 2845 - Teixeira Pinto
Guiné - 1968/70
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Nota do editor
Último poste da série de 18 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22113: Blogpoesia (729): "Arroz doce"; O brilho dos brasões"; "Gradeadas as portas e janelas" e "Bom rasto", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
Guiné 61/74 - P22132: Os nossos seres, saberes e lazeres (449): Quando vi nascer a Avenida de Roma (5) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Não só de ver nascer a Avenida de Roma vive aquele criançola que frequenta a Escola Primária N.º 151, que colabora nos abastecimentos calcorreando a Rua de Entrecampos, que visita todo o Bairro Social de Alvalade; joga-se à bola com os meninos de Telheiras ali bem perto onde houve um campo pelado do Sporting, e não muito longe onde nasceu o primeiro Estádio do Benfica, o Campo Grande presta-se a belos passeios, tem arvoredo majestoso, canteiros floridos, esculturas, dois lagos, além de ser flanqueado por uma arquitetura já decrépita, que os moços vão bisbilhotar nos seus passeios em torno do jardim: do lado esquerdo a Fábrica de Massas Itali, ao lado de prédios que já viveram melhores tempos, muito mais tarde serão terraplanados que deram origem àquele espaço onde posicionaram um edifício da Câmara Municipal de Lisboa e outros de habitação, a puxar para o chique, segue-se a Biblioteca Nacional, era um semi-descampado, depois os restos de casario oitocentista, ainda lá está um prédio do Colégio Moderno, segue-se uma vivenda Arte Nova, passava-se a Estrada de Malpique, as livrarias, depois da Avenida Alferes Malheiro mais moradias e casas apalaçadas, numa delas até se filmou Maria Papoila, o velho edifício da Junta de Freguesia do Campo Grande adossado ao Palácio Pimenta, corríamos até ao interior do Campo Grande e mirava-se com imenso prazer aquele lago que já vinha do passado. Pois muito do passado estava extinto, só restava um retiro, o Quebra-bilhas, já não havia a feira, já era raro passar gado para o Mercado Geral de Gados, que caminhava para a extinção, ninguém referia quermesses, batalhas de flores nem paradas militares, o Jóquei Club era para nós longe e desinteressante.
A idade contada, a proximidade também, só raramente se passeava até ao Campo Pequeno ou se subia a Avenida das Forças Armadas ou se descia a 5 de Outubro. A alteração de fundo é mesmo o alcatroamento da Avenida dos Estados Unidos da América e o fim da Quinta do Visconde de Alvalade. As classes médias vão ter mais espaço para desfrutar, começa a saga.
Um abraço do
Mário Beja Santos
Quando vi nascer a Avenida de Roma (5)
Mário Beja Santos
Enquanto a Avenida de Roma vai nascendo prodigiosamente em direção à linha do comboio, fora das horas passadas na Escola Primária N.º 151, e das muitas brincadeiras na Quinta e Olival do Sr. Visconde de Alvalade, pelas múltiplas deambulações entre os quintais do bairro, jogos de caricas, peão e berlinde, há o conhecimento fascinante do Jardim do Campo Grande. O meu guia e comentador é a minha mãe. O ponto de partida dos passeios é mesmo junto à Estátua dos Heróis da Guerra Peninsular, os talhões estão bem cultivados com belas flores, ela vai comentando as esculturas que vemos na passagem, caso do busto do ator António Pedro. A minha mãe conta que por ali D. Sebastião passou revista às tropas que depois largaram do Tejo a caminho de Alcácer Quibir, passamos o primeiro lago, os cisnes percorrem as águas em majestade, atravessamos a Avenida Alferes Malheiro a caminho do segundo lago, há sempre comentários para os edifícios plantados nas margens do jardim, há casas apalaçadas, os comentários na viagem para lá são habitualmente sobre o que se apresenta do lado esquerdo, ainda não se erigiu a Biblioteca Nacional, passamos ao lado da Estrada de Malpique, maravilho-me com as montras das livrarias, nem me passa pela cabeça que serão santuários da minha adolescência, percorre-se o lago do Campo Grande, é domingo, enorme a vozearia da mocidade nos botes, o restaurante lá em cima, ainda não apareceu o Caleidoscópio, há avenida das palmeiras, a minha mãe aponta ao fundo e diz tratar-se da Alameda das Linhas de Torres, mais casas apalaçadas, sobressai uma em tristonho abandono, a minha mãe fala-me no Palácio Pimenta, passamos agora para outro lado, e com surpresa minha vamos entrar numa vivenda, é um museu, tem ao lado o Asilo D. Pedro V, obra devotada de proteção à infância desvalida, pode ter sido a ideia inicial, mas recordo perfeitamente de ter visto velhinhos, mas também estou confuso, também passei por ali e ouvi o gralhar de crianças uniformizadas de bibe. E continuamos a subir, já conheço, é ali que eu frequento a catequese, a Igreja dos Santos Reis Magos. Lerei um dia uma publicação chamada “Guia de Portugal Artístico, Lisboa, Jardins, Parques e Tapadas”, a sua autora era Maria Rio de Carvalho, e retenho uma frase bombástica: “O Campo Grande, na beleza apoteótica das suas áleas, tantas vezes perfumadas do aroma subtil ou penetrante das mais lindas flores, perdura ainda a miragem evocativa do árido Campo de Alvalade, restando a sua corpulência gigante à surpresa maravilhada das renovações!”.
Lá para cima, há outro mundo em fermentação, a Cidade Universitária e o Hospital de Santa Maria, caminhamos agora em direção a casa, passamos pela Pastelaria Nova Iorque, tenho direito a um lanche, jamais esqueci o nome do cabeleireiro por cima da pastelaria, Instituto de Beleza Cleópatra, do outro lado ainda resta uma vivenda pombalina, será derribada, terá depois outra pastelaria, a Granfina, muito frequentada por namorados, fazendo esquina com a já bem alardeada Rua de Entrecampos. E voltamos pelo lado do Campo Grande. Agora tudo mudou de rosto, adeus padaria, adeus esquadra da polícia encostada à Rua Aboim Ascensão, há muito que desapareceu a linha do elétrico, o quarteirão seguinte parece que foi engolido por um tremor de terra, nada sobreviveu. Muitas mudanças houve nesta cintura protetora do Bairro Social de Alvalade, ele permanece incólume, a despeito de muitos proprietários envidraçarem as varandas, há muitas obras, pena é termos jardins tão maltratados, melhores dias virão.
Agora sim, vamos até à Avenida de Roma, há muito recreio à nossa espera.
Museu Rafael Bordalo Pinheiro, no fim do Campo Grande, uma posição quase frontal com o Museu de Lisboa – Palácio Pimenta
Duas peças de cerâmica inesquecíveis, explico porquê. A raposa e a cegonha esteve durante muitos anos à entrada do Museu, que se fazia então pela porta principal, a peça estava exposta no jardim, depois foi retirada para restauro e está hoje no interior. Não sei como nem porquê, a minha mãe adquiriu uma cópia deste bule da cerâmica caldense, é bonito que se farta, mesmo com algumas falhas gosto de o ver em exposição
Igreja dos Santos Reis Magos, Campo Grande, imagem muito antiga, não conheci o lugar deste modo, o muro foi derribado e destruídos todos os prédios à volta, as árvores sim, permanecem.
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 17 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22110: Os nossos seres, saberes e lazeres (448): Quando vi nascer a Avenida de Roma (4) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P22131: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte VI: O baptismo de fogo no Xime (17/8/1965, e a Op Avante, ao Buruntoni (em 29-30/8/1965) com os primeiros mortos
Guiné > Região de Bafatá > Xime > CCAÇ 1439 (1965/67) > 30 de agosto de 1965 > O Armando Assunção Coutinho ("Penalti"), soldado do BCAÇ 697, ferido no decurso da Op Avante. Foto: fonte desconhecida.
Foi o nosso baptismo de fogo. Diziam que sempre que chegavam “periquitos", estes se deviam preparar pois o IN vinha sempre “dar as boas vindas’ e testar.
Copio o que consta no "relatório oficial”:
"Dia 17 de Agosto de 1965, ataque IN ao aquartelamento do Xime.
O ataque desenrolou-se com bastante violência com várias granadas de morteiro 60, rajadas de PM. As NT reagiram com fogo violento, não tendo o IN causado qualquer abalo no animo das NT. A CC1439 teve o seu baptismo de fogo.
Resultados obtidos - Do rebentamento de uma granada de morteiro 60 IN, resultaram dois feridos sendo um deles de muita gravidade, posteriormente evacuado para o HMP. Foram eles: Soldado nº 5266865, João Pestana Vieira, e Soldado nº 7387965, João Virgílio Nunes.
Da reacção das NT desconhece-se se houve baixas nos elementos IN atacantes.
Diversos - Distinguiu-se pelo seu valor e coragem o Furriel Mil. Manuel Nunes Geraldes."
Permito-me juntar duas notas complementares a este relatório para melhor e mais completa informação:
O Furriel Mil mencionado era o enfermeiro da CCaç 1439. Não havia nenhum médico e, como se veio a confirmar várias vezes depois durante os dois anos que se seguiram, a par da sua coragem e dedicação sem limites, ele tinha uma preparação profissional extraordinária, bem mais além de simples enfermeiro.
Outra coisa que merece ser mencionada e não vem neste relatório: neste “baptismo de fogo”, vim a confirmar o que já suspeitava: o nosso capitão não era para brincadeiras; na manhã seguinte , depois de termos feito buscas e vasculhado as vizinhanças sem qualquer resultado, ele disse-nos que tinhamos de "responder imediatamente e ir à procura deles” para mostrar àqueles c... que não nos tinham metido medo e contassem connosco… E logo mandou chamar o Adão, um caçador nativo, que, diziam, conhecia bem toda a região para saber do que se poderia fazer …
(ii) Operação Bravura: de 19 a 24 de Agosto, na zona do Xitole
Dois dias depois estávamos envolvidos na Operação Bravura , junto com outra companhia (, a quem pertencia não me lembro, e que o relatório também não identifica, mas que depreendo, pelo que se segue, que fazia parte do BCaç 697)-
Resumindo o que vem no relatório:
Resultados obtidos : "foram causados dois mortos e três feridos confirmados ao IN" e "capturados uma metralhadora ligeira, três Mauser", bem como diversas granadas ofensivas e defensivas e outras munições . "Não houve baixas das NT".
(iii) Operação Avante: 29-30 de agosto de 1965, na zona do Buruntoni
Dia 29 e 30 de Agosto de 1965, realizou-se a Operação Avante.
Esta foi, na minha memória, uma das mais “difíceis”, talvez a mais perigosa operação em que a CCaç 1439 esteve envolvida, opinião esta que é partilhada / confirmada por outros elementos desta Companhia que nesta e outras operações estiveram envolvidos.
Vou copiar entre algumas partes do "relatório oficial” mas porque fiz parte "não insignificante" desta operação que me ficou bem na memória, pelo mesmo relato de outros com quem tive recentemente ocasião de reviver estes momentos, reservo-me o direito de expôr a minha/nossa memória e versão, cujos detalhes não são exactamente a versão contada /escrita neste relatório.
(...) "Em 29 saiu do Xime a CCaç 1439 a fim de realizar a operação Avante que consistia numa patrulha de reconhecimento e combate à região, margem esquerda do Rio Burontoni junto da nascente."
E a descrição que se segue no relatório parece por vezes mesmo até contraditória nos seus detalhes. Pelo que vou descrever o que eu e outros , como por exemplo o furriel Lopes , lembramos com muita nitidez e precisão:
Saimos do Xime tendo o Capitão Pires que comandava a operação decidido que fosse o meu pelotão ( o 2º pelotão) a seguir na frente da coluna . "As forças da CCaç 1439 foram reforçadas com um Grupo de Combate da CCav 676, seis caçadores nativos e um voluntário da CCS, soldado 3325/63, Armando da Anunciação Coutinho."
(...) "A força partiu do Quartel do Xime a pé, e depois de articulada (com a outra CC de reforço) progrediu ao longo do Rio Gundagué, contornou Gundagué Beafada, passou ao largo do Darsalame (Baio) e, antes de alcançar a povoação de Burontoni, (...) atingiu umas casas de mato, situadas na margem direita do Rio Burontoni, acerca de 200 metros deste".
O relato que se segue, sem dúvida bem intencionado, é um pouco confuso. E por isso permito-me descrever por minhas palavras o que vi e vivi, sem intuitos de aumentar ou diminuir:
O IN parece ter sido avisado com antecedência e estava definitivamente à nossa espera, tendo preparado uma bem pensada emboscada: antes, mas já perto do objectivo, talvez com o intuito de nos despistarem, simulando desconhecimento da nossa aproximação, ouvimos conversas aparentemente despreocupadas, mas de lugar bem fora das nossas vistas.
Caminhávamos muito lentamente e de repente rebentou um ataque infernal, sobretudo de metralhadoras e pistolas metralhadoras à nossa frente. A emboscada estava preparada para à base de fogo de metralhadora a curta distância, nos aniquilarem antes que tivéssemos possibilidades de nos defendermos.
Não encontramos IN mortos, mas enquanto esperávamos os helicópteros, tivemos tempo de ver vários rastros de sangue, do que depreendo terem sido várias as baixas no IN .
As NT sofreram três mortos: Adão Camada, caçador/guia do Xime ; soldado 1880865, José Manuel Mendonça; soldado 833 3265 Tolentino de Gouveia; e dois feridos graves: soldado 32265/63 Armando Assunção Coutinho ("Penalti"); e caçador nativo Braima Indjai; e vários outros feridos e acidentados de menor gravidade.
O “Penalti” não era madeirense, mas estava adido à nossa companhia. Mesmo seriamente ferido no braço, não parou de fazer fogo louco. Não me recordo disso, mas outros que estavam comigo contaram-me. (não sei quem é o autor da foto que acima se publcia, que com a devida vénia copio, pois em boa hora apareceu no nosso blogue.)
O "Penalti" era “pau para toda a obra" ou "pano para toda a manga” e onde houvesse alguma chance de haver barulho ele era voluntário. No quartel andava sempre com um macaquito às costa (o “Benfica”) de que só se desligava quando saía para o mato, deixando-o acorrentado no quartel até que ele voltasse.
Consta (não posso afirmar a veracidade do que segue; assim me contaram, e conhecendo a fonte acredito que tenha sido verdade e portanto aqui o deixo, para que não passe ao esquecimento) que, não sei como (pois o 1º ataque a Porto Gole foi em Marco de 1966) ele estava em Portugal quando o corpo do alferes Maldonado, vítima desse ataque, foi a enterrar em Coimbra.
(iv) O dramático regresso da Operação Avante
O regresso foi exaustante, carregando às costas os nossos falecidos. O terreno e as circunstâncias eram as piores que se podem imaginar e a cada instante esperávamos sermos emboscados. Pelo que o Cmdt Capitão Pires pediu o apoio da Força Aérea.
Lembro que no dia seguinte, na formatura da manhã, o nosso Capitão Pires, falando à Companhia inteira, enalteceu o valor e coragem que todos tinham dado provas no dia anterior. Mas que queria de um modo especial mencionar o João Crisóstomo, o furriel Lopes e todo o 2º pelotão, que num momento, que parecia ser um momento trágico para a Companhia, tinham transformado essa situação de desespero numa acção heróica pela qual toda a Companhia lhes estava agradecida.
Foram vários os condecorados em resultado desta operação : Adão Camala, João Crisóstomo, António Lopes, Nauser Sana, Brama Lai; e outros foram “louvados".
(v) Dia 5 de Setembro de 1965: Operação Corça, na zona do Enxalé
Um grupo de combate da CCaç 1439 deslocou-se do Xime para o Enxalé para participar na Operação Corça, reforçando a CCaç 1556. Esta operação é mencionada no resumo da CCaç 1556.
(*) Último poste da série > 12 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22098: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte V: Destino: Xime.... E um levantamento de rancho que acabou à bofetada...
22 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19517: In Memoriam (340): Até sempre, 'comandante' Jorge Rosales (1939-2019)
Guiné > Bissau > Praça do Império > Novembro de 1965 > O Jorge Rosales mais o Maldonado, junto ao monumento "Ao Esforço da Raça" ... "O alf mil Maldonado, meu camarada desde Mafra e meu substitulo em Porto Gole, (...) faleceu em março de 1966, em consequência do rebentamento de uma morteirada IN que o atingiu em cheio, no aquartelamento de Porto Gole". De seu nome completo, António Aníbal Maia de Carvalho Maldonado, morreu no dia 4/3/1966. Natural da Sé Nova, Coimbra, foi inumado no cemitério da Conchada.
Foto (e legenda): © Jorge Rosales (2010).. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
O Maldonado é morto num ataque violentíssimo a Porto Gole, depois de as NT terem feito um ronco nas áreas controladas pelo PAIGC… Ferido, aguardou em vão o heli que só podia vir de manhã. A mãe do Jorge [Rosales] foi ao enterro, em Coimbra. O cadáver foi rapidamente trasladado, contrariamente ao que acontecia na época. Esta morte de um camarada e amigo abalou-o. (...)
Guiné 61/74 - P22130: Parabéns a você (1955): David Guimarães, ex-Fur Mil Art MA da CART 2716/BART 2917 (Xitole, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série de 21 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22121: Parabéns a você (1954): António Baltazar Dias, ex-Alf Mil Art MA da CART 1745 (Bigene, 1967/69)
sexta-feira, 23 de abril de 2021
Guiné 61/74 - P22129: 17.º aniversário do nosso blogue (2): O “nosso” Blogue faz anos! - Faz 17 anos, está quase a entrar na maioridade (Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF (Piche e Bissau, 1970/72)
1. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 23 de Abril de 2021, a propósito do aniversário do nosso Blogue que hoje se comemora:
O “nosso” Blogue faz anos!
Num comentário de hoje o “timoneiro” Luís relembra que o Blogue faz anos.
Faz 17 anos, está quase a entrar na maioridade.
Desde então já muito, muitíssimo, foi escrito, comentado, muitas fotos ilustraram as palavras, os locais e acontecimentos, muitos livros lá deram à estampa, muita poesia foi apresentada, muitas outras iniciativas foram potenciadas, publicitadas, acarinhadas, muitos estudos com maior ou menor profundidade foram apresentados, muita polémica (bastantes vezes desnecessária) foi desenvolvida.
Tudo isto foi e é a vida do Blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”.
Tem sido dito e redito que o Blogue foi “apropriado” pelos seus membros. Quase todos têm esse sentimento de que “o Blogue é nosso”. E têm razão! Se o Luís e os membros iniciais têm o mérito de o terem começado, a verdade é que fomos todos nós, os que de alguma maneira o engrossaram com as suas contribuições, o ampliámos e lhe fomos dando a alimentação e a visibilidade, que contribuíram para a sua longevidade. E isso não é de modo algum despiciendo pois como as pessoas em geral se movem por modas o que agora é mais apetecível são as frases e as ideias curtas, os “twits”, os “faces”, etc., pois os tempos são de grande frenesim e não há tempo nem paciência (nem capacidade…) para ler mais que 4 ou 5 linhas de texto. Bastam umas quantas “bocas”, umas provocações e já está.
Sobre o tema da guerra em África existem, ou existiam, muitos Blogues. Quase todos relacionados com as Unidades funcionais (do Batalhão, da Companhia, etc.) de quem promoveu esse repositório de memórias que, no geral, começaram por ser individuais ou do coletivo restrito. Ao nível do “Facebook” são os inúmeros os sites, muitos deles em “concorrência” de seguidores.
O que mais distintivo tem o nosso Blogue é o seu “livro de estilo”, as suas regras. É verdade que as regras se fizeram para serem respeitadas e se assim fosse tudo seria muito bom. Mas também há quem pense que são para serem “quebradas”, torneadas, usadas nas partes convenientes. Afinal há de tudo e o Blogue também é realmente uma boa amostra da sociedade.
Não há muito tempo esta questão, de ser ou não representativo, foi aqui colocada. É verdade que a representatividade é sempre questionável mas creio muito sinceramente que, pese embora o âmbito das questões que normalmente ocupam os conteúdos, no essencial tendo por pano de fundo a Guiné e as nossas vivências por lá, o universo dos que por aqui vão contribuindo e dos que apenas “espreitam” é bem ilustrativo da diversidade e pluralidade de opiniões, conceitos, participações. Há de tudo!
Se quisermos ser mais sentimentalistas para procurar os benefícios do Blogue, podemos lembrar quantas confissões de “blogueterapia” já foram produzidas, quantas romagens de saudade traduzidas nas visitas que já foram feitas e aqui indiretamente incentivadas, quantas iniciativas de solidariedade, quantas colaborações e contribuições para estudos mais ou menos académicos, quantas “tabancas gastronómicas” foram criadas, revelando por si mesmas a satisfação de encontrar pessoas que passaram por situações iguais ou semelhantes.
Por tudo isto só me posso sentir grato por, em boa hora, ter descoberto o Blogue e através dele ter aumentado o meu conhecimento geral e até particular em muitos aspetos da “guerra da Guiné”, por ter podido conhecer pessoas que estimo verdadeiramente, seja pela sua grandeza humana, intelectual, de solidariedade, de amizade genuína.
O Blogue deve continuar. O Blogue tem que continuar.
Hélder Sousa
Fur. Mil. Transmissões TSF
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Nota do editor
Último poste da série de 23 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22128: 17.º aniversário do nosso blogue (1): Meu caro Luís Graça, tu és um "querido mano" para todos os que têm o privilégio de te conhecer (João Crisóstomo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missira, 1965/67)
Guiné 61/74 - P22128: 17.º aniversário do nosso blogue (1): Meu caro Luís Graça, tu és um "querido mano" para todos os que têm o privilégio de te conhecer (João Crisóstomo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67)
1. Mensagem do nosso camarada João Crisóstomo, ex-Alf Mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), com data de 20 de Abril de 2021:
Meu caro Luís Graça,
Tenho seguido como tantos outros camaradas o teu diário tratamento no Instituto de Oncologia. Se não te conhecesse ficaria admirado das tuas qualidades de homem completo, levado neste caso a um grau quase sublime.
Mas contigo e em ti todas as coisas extraordinárias são normais. Mais uma vez a tua vida e o teu exemplo são tremenda inspiração que para todos aqueles que tiveram/têm a data de te conhecer.
Pessoalmente, mesmo entre estes, eu me sinto um afortunado, pois quis o bom destino que além dos muitos elos que nos unem como camaradas da Guiné, se juntassem o facto de sermos vizinhos e termos como comuns amigos indivíduos também extraordinários que tanto têm enriquecido a nossa vida. Já hå muito nos tratamos como mano e irmão. Agora vejo com alegria grande que ao fim e ao cabo tu não és um mano e irmão apenas para mim e mais alguns: tu és um "querido mano" para todos os que têm o privilégio de te conhecer.
Sem intuitos de enaltecimentos ou de querer parecer bem fazendo-te elogios: Obrigado, meu querido mano, pelo que és. A tua vida a nível familiar e social é um exemplo fabuloso, uma verdadeira inspiração para todos nós. Pela tua vida, pelo teu trabalho, incluindo este blogue e tudo o que deste blogue resultou para benefício de cada um de nós, da história da Guiné, de Portugal e não só… de ti se pode com toda a verdade dizer “ porque deles é que reza a história”. Bem hajas!
Para ti e todos os teus, mas neste momento especialmente para ti, um apertado abraço, tão grande como a amizade que nos une
João, Nova Iorque
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PS: Para o caso de não teres visto, aproveito este para te mandar um artigo que acabei há momentos de ler no “Expresso curto”, escrito pela Cristina Figueiredo, editora de política da SIC, na rubrica "o que ando a ler".
Aqui está:
"Agora que se cumprem 60 anos sobre o início da longa e mortífera guerra colonial é boa altura para lembrar, sobretudo aos mais novos, o significado da palavra “Ultramar” para a geração dos seus avós.
A revista do Expresso trazia na semana passada um texto de Jorge Calado sobre as (poucas) fotografias públicas que há do conflito. Mas se faltam as fotos não faltam os livros. Um dos mais recentes é "Palco Sombrio", de Alice Caetano (Emporium Editora, setembro de 2020).
A ideia que preside à obra é original: dar um conteúdo improvável à expressão “teatro de guerra”, narrando um período do conflito nas colónias através do testemunho de um capitão miliciano que, coincidência aproveitada pela autora, também é encenador e ator.
Conheço bem o protagonista: Carlos Nery Gomes de Araújo é meu sogro (fica feita a declaração de interesses).
Foi, como tantos outros, mobilizado contra vontade para combater numa guerra em que não acreditava e de que não sabia se voltaria. Partiu para a Guiné, a bordo do Niassa, em maio de 1968, tinha 35 anos, um filho (o meu marido) com apenas um ano. Sem qualquer formação militar, a não ser o serviço militar obrigatório que cumprira 10 anos antes, foi treinado em Mafra “à pressão”, por quem pouco mais sabia do que ele. Foi no mato que aprendeu, a expensas próprias, como comandar homens, como reagir a ataques, como manter o sangue frio em situações que um técnico do Banco de Portugal, como ele, estava longe de imaginar ter de viver: “A primeira coisa que eu decidi naquela guerra é que não ia morrer ali. Decidi isto ainda antes de lá chegar e acho que foi essa decisão que me salvou. A mim e aos meus homens”.
Voltou intacto, com efeito, e sem ter perdido uma única das vidas humanas que tinha à sua responsabilidade.
Mais de meio século decorrido, uma escritora interessou-se por esta e outras histórias que compõem a sua biografia, indissociável do gosto pelo teatro, que não abandonou nem mesmo naqueles dois anos em África (terminou a sua comissão de serviço com uma encenação de “A Cantora Careca”, de Ionesco, em Bissau) e que continua a ser o seu “elixir da juventude”: aos (quase) 88 anos, é ator residente da Companhia Maior, em Lisboa, e prepara-se para subir mais uma vez ao palco (assim a pandemia o permita) no final do ano.
A sua vida, de facto, dava um livro. Alice Caetano teve essa presciência e em boa hora passou das musas… ao teatro".
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Comentário do co-editor CV:
Neste dia em que se vira mais uma página para um novo ano de existência, o 18º deste Blogue, não podemos deixar de cumprimentar, com uma vénia muito grande, o criador e mentor desta página, o nosso mano Luís Graça.
Embora ele e os seus colaboradores precisem já de uns suplementos vitamínicos, porque são já uns septuagenários cheiinhos de ferrugem, continuam animados e coesos para levar a sua missão o mais longe possível.
Ao Luís, quero desejar a melhor saúde. Presentemente está a precisar de uns retoques, mas no 18º aniversário estará já a cem por cento.
Aos nossos camaradas de armas, e aos nossos leitores em geral, desejo que continuem a acompanhar-nos nesta jornada que também inclui participação activa com o envio de textos e fotos.
Carlos Vinhal
Coeditor
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Notas do editor:
1 - Edição e inserção das imagens da responsabilidade do editor.
2 - Sobre a peça de teatro "A Cantora Careca", levada à cena em Bissau em 5 de Abril de 1970, vd. poste de:
3 - Neste dia de aniversário do nosso Blogue, vejam o Poste n.º 1 de:
23 de Abril de 2004 > Guiné 63/74 – P1: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luís Graça)