domingo, 16 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25644: Os 50 anos do 25 de Abril (29): Os 9 episódios da série documental "A Conspiração" (RTP,. 2024) podem ser descarragados, até ao fim do dia 17, segunda feira (Cor art ref Morais Silva, membro do Grupo L34, Op Viragem Histórica, 25 de Abril de 1974)

1. Mensagem de ontem, 15/06/2024, 17:37, do cor art ref Morais Silva, nosso grão-tabanqueiro nº 784, autor das séries publicadas no nosso blogue:

  • In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918);
  • In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75);
  • Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate.
 Do seu vasto e brilhante CV militar, recordamos, entre outros factos, que foi: (i) cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor de investigação operacional na AM, durante cerca de 2 décadas; (ii) no CTIG, foi  instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972; e (iii) fez parte do Grupo L34, na Op Viragem Histórica, no 25 de Abril de 1974. 


Caro Luís Graça:


2. Nota do editor LG:

O cor art ref Morais Silva é uma pessoa que muito prezo, pela sua independência, frontalidade e exigência intelectual e moral. Nas "3 linhas curriculares" que lhe pedi, para a sua apresnetação à Tabanca Grande (*), ele não mencionou, certamente por modéstia, a atribuição que lhe foi feita da Medalha de Prata de Serviços Distintos com Palma, pela sua brilhante e corajosa atuação no TO da Guiné, nomeadamente à frente da CCAÇ 2796, em Gadamael.

Nas "quatro linhas" que acabou por nos mandar sobre sobre o seu CV militar, ainda referiu: "Andei cerca de duas dezenas de anos a comandar e ensinar 'coisas artilheiras' e da matemática na Academia Militar, onde cabe referir a participação no pronunciamento do 25 de Abril; ainda, deslocamentos para a EPA, GAC/Brigada Mecanizada Independente, RALIS, IAEM e Fort Sill (EUA)".

Ontem tive ocasião, em troca de mensagens, de lhe dizer:

(...) "Gostei muito de ver a sua 'prestação' na série 'A Conspiração'. Acho que é um grande documento para a História e uma justíssima homenagem a vocês, conspiradores, que honraram o melhor da nossa história e do nosso povo, e por quem eu, pessoalmente, tenho uma enorme dívida de gratidão" (...).

Os 9 episódios da série documental "A Conspiração", que passarana na RTP entre 24 de abril e 10 de junho de 2024, podem ser vistos ou revistos na RTP Play, aqui. (**)
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(**) Último poste da série > 10 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25629: Os 50 anos do 25 de Abril (28): Hoje, na RTP1, às 21:01, o 9º (e último) episódio da série documental, "A Conspiração", do realizador António-Pedro Vasconcelos (1939-2024)

Guiné 61/74 - P25643: Elementos para a história do Pel Caç Nat 54, "Águias Negras" (1966/74) - Parte II: Com o José António Viegas, por Bissau, Bolama, Mansabá, Enxalé e Missirá, no 2ºs emestre de 1966




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 54 > 1966 > O alf mil Marchand (ou Marchã) junto ao depósito de géneros, destruído no ataque de 22/12/1966


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 54 > 1966 > Mais uma vista parcial do destacamento (e tabanca), depois do ataque de 22 de dezembro de 1966.



Guiné >  Rio Geba > Pel Caç Nat 54 >c. agosto de 1966 >  No "cais" do Enxalé: da esquerda para a direita, o José António Viegas, o alf mil Marchand (Ou Marchã), ambos do Pel Caç Nat 54, eo fur mil enf, da CCAÇ 1439


Guiné >  Rio Geba > Pel Caç Nat 54 > Agosto  1966 > Nos barcos "turras" (Casa Gouveia), a caminho o Enxalé


Guiné >  Rio Geba > Pel Caç Nat 54 > Enxalé > Agosto de 1966 >  Vacas comparadas em Bissá, pelo comandante da CCAÇ 1439, cap Pires.

Fotos (e legendas): © José António Viegas  (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Confirma-nos, por email de ontem, o José António Viegas, que, no início, o Pel Caç Nat 54, formado no CIM de Bolama, era constituído por:

  • alferes Carlos Alberto de Almeida e Marchã (ou Marchand);
  • furriel mil Álvaro Valentim Antunes (morto na 1ª mina);
  • furriel Arlindo Alves da Costa (DFA, ferido na segunda mina);
  • fur mil José António Viegas;
  • 1ºs Cabos Manuel Januário (DFA), Coelho (DFA) e João Simão (telegrafista);
  • os soldados, do recrutamento local, eram das etnias Papel, Fula, Mandinga e Olof (um deles) (*)

Na primeira foto acima, o alferes Marchand (ou Marchã) está junto ao depósito de géneros depois do ataque a Missirá, em 21 de Dezembro de 1966.



José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54
 (Bolama, Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole,  
Ilha das Galinhas, 
1966/68)


2. O José António Viegas, nosso grã-tabanqueiro nº 587 (desde 11 de novembro de 2012),  continua a ser a fonte privilegiada de informação sobre o seu Pel Caç Nat 54, de que é um dos "pais-fundadores". Daí que o seu percurso no CTIG, de 1966 a 1968, também o é desta subunidade, de que... "não reza a História" (*).

Vamos recordar alguns dos seus passos (**):

(i) Bolama, agosto de 1966

(...) Embarquei para o CTIGem 30 de julho de 1966,  no Uíge. Fui em rendição individual para ir formar, em Bolama, com outros camaradas, os primeiros Pelotões de Caçadores Nativos. Chegámos a 3 de agosto. (...)  Quatro  dias depois seguimos para Bolama para receber os Pelotões e fazer os treinos operacionais. O meu Pelotão foi o 54.

(...) Aqui apanhei o meu primeiro paludismo que me deixou de rastos por uns dias. O cheiro de que estávamos numa guerra e não de férias em África, era o ouvir de rebentamentos todas as noites em S. João, que ficava em frente a Bolama, e em Tite, e logo de seguida fazer a guarda de honra a um camarada que tinha morrido no rebentamento de uma bailarina em S. João e que foi enterrado no cemitério de Bolama.

(...) A minha estadia em Bolama, antes de ser colocado com o meu Pel Caç Nat 54 em Mansabá..., lembro-me bem daquela cidade já em degradação mas ainda com várias edificações em bom estado, como os correios, junto à piscina do Cabo Augusto onde se passavam os bons tempos de lazer, a casa do Governador e o Hotel, que estava em boas condições, onde muitos camaradas vinham descansar e passar férias.

(ii) Mansabá, setembro/outubro  de 1966

(...) No fim de Agosto, depois de ter terminado o treino operacional, seguimos para Bissau e depois para Mansoa, numa coluna enorme, onde se juntaram mais militares com destino a Mansabá.

A coluna até Cutia decorreu com normalidade, mas a partir daqui foram tomadas todas as precauções até Mansabá, onde se ouviram alguns tiros e aviso.

Em Mansabá estivemos 45 dias com a CCAÇ 1421. Aqui começa a nossa entrada na guerra. Logo nos primeiros dias fomos fazer um golpe de mão e, como tal, foi posta à prova a nossa impreparação para reagirmos debaixo de fogo. Quando se chegou ao objectivo, foi lançado o ataque pelo homem da bazuca e, debaixo daquele fogachal, eu de pé com as balas a assobiar sem saber o que fazer.

Aqui começa a minha preparação com os melhores operacionais, os meus soldados nativos, o meu cabo Ananias Pereira Fernandes, o homem que não gostava de G3 e só usava a Madsen, que me joga para o chão e me ensina a organizar e dispersar debaixo de fogo.

Lembro-me o que aprendemos em Vendas Novas com aqueles filmes da guerra da Argélia, no meio de dunas, e nós íamos para a selva, enfim ainda havia poucos formadores com experiência de combate.

(...) Voltando aos meus 45 dias em Mansabá... (Pena que não tenha fotos desta fase pois ardeu-me tudo no ataque em Missirá.)

Nos primeiros dias em Mansabá, ao cair da noite, começou o nosso obus 8.8 a cantar, vim até ao pé da bateria falar com o artilheiro um Fur. Mili. cabo-verdiano, perguntar o que se passava, dizendo ele que tinham informações que o Amílcar andava por ali.

Na semana seguinte foi feita uma operação em forte com a 5.ª CComandos, a CCP 121, a CCAÇ 1421 e o nosso Pelotão. Entrámos pelo Morés, os Comandos e os Páras fizeram o estrago e voltamos.
Um Sargº. Paraquedista trocou o seu camuflado com o meu, soube há pouco tempo que morreu com a doença maldita e que vivia aqui perto de Loulé.

Todas as semanas estávamos a sair sempre à noite. Nas progressões, até me habituar no escuro da noite, às grandes teias de aranha e aos terríveis bicos das Micaias, foi uma tortura.

Antes de sairmos, fomos montar uma emboscada no Alto de Momboncó com um Pelotão da 1421. Estava com o meu pelotão emboscado quando vejo os Fiat a picar sobre nós, deu para assustar, levantámos com as armas para o alto e vejo o asa a desviar, logo de seguida ouviu-se largar as bombas e o cheiro horrível de petróleo. Este era um dia não, e no regresso apanhámos com uma emboscada de abelhas, os nativos largaram as armas e toca a fugir. O Sargento Monteiro da 1421 ficou bem picado e ainda por cima tinha pouco cabelo, ficando num estado lastimável.

Desta CCAÇ 1421 lembro-me do Cap Carrapotoso, já falecido, e dos Furriéis Fernandes e Passeiro. (...)

(iii) Enxalé, novembro de 1966

(...) Os poucos dias que estive em Bissau, foi para tomar contacto com a cidade, um dos sítios de encontro era o Café Bento, conhecido pela a 5ª Rep, onde encontrei amigos que nem pensava que estavam por aqueles lados.

Neste café sabiam-se as novidades todas do mato e também as histórias que contavam aos piriquitos. Havia um pouco de tudo, aqueles que diziam que estávamos ali na guerra para defender os interesses da CUF que era representada pela Casa Gouveia, outros que diziam que ainda iam voltar situações piores que a Ilha do Como.

Os frequentadores assíduos do Café aconselharam-me logo que se quisesse bons livros era falar com o Sr. Bento, pois que certos livros a Pide ia lá buscar, mais tarde tive ocasião de presenciar.

Passados que foram estes curtos dias em Bissau, lá fomos embarcados nos barcos da Casa Gouveia, que iam levar abastecimentos a Bambadinca, e navegando rio Geba acima durante a noite, aconchegados da humidade no meio da carga.

Chegámos ao Enxalé pela manhã. As barcaças encostaram, não havia cais, fomos recebidos pela Companhia 1439 e pelo Pel Caç Nat 51 que já estava naquele aquartelamento.

Fui encontrar o pessoal da CCAÇ 1439 um pouco desmoralizado pois um mês antes, em outubro, tinha rebentado uma mina em Mato Cão, na ida houve um primeiro rebentamento que pulverizou um soldado açoriano, e na volta outro rebentamento que resultou na morte do furriel Mano.

Esta Companhia era comandada pelo Capitão Pires, um grande homem e um bom operacional.

A nossa primeira saída foi para ir a Bissá onde o BCAÇ 1888 queria fazer um destacamento.
Fomos direito a Porto Gole e depois seguimos para Bissá, era impressionante ver aquele aldeamento, no chão balanta, no meio de uma grande clareira com bastante gado e celeiros de arroz enormes.

Lembro-me do cap Pires dizer:

- Um destacamento aqui, no meio de um dos principais fornecedores do IN ? Vai correr muito sangue.

E foi verdade, entre 1967 e 1968 muitos morreram e muitos ficaram feridos.

Regressámos com gado comprado para a Companhia.

Nesta mês de Novembro a nossa missão era fazer colunas a Missirá e a Porto Gole e umas operações na zona. Lembro-me do alferes Zagalo de Matos que,  quando saía para as operações o seu ordenança trazia o camuflado impecável e as botas a brilhar, tinha que estar todo a rigor. Ainda há dois para três anos, quando o encontrei nas suas andanças teatrais, lhe falei nisto que ele recordou com saudade. (Já partiu).

Havia na companhia um Furriel que era professor, o Farinha, dava aulas aos militares, a maior parte madeirenses, alguns analfabetos, e dava aulas numa escola improvisada no aldeamento, não esqueço a fome de aprender daquelas crianças.

(iv) Missirá, dezembro de 1966:

(...) O Capitão Pires, da CCAÇ 1439,  querendo juntar o máximo da Companhia para passarem o ultimo Natal juntos, enviou o nosso Pelotão 54 para Missirá, todo o pessoal dizia que íamos passar umas férias, pois aquele destacamento não tinha problemas de ataques há muito.

Instalámo-nos e fizemos o respectivo reconhecimento. No dia 22 recebemos o correio,  via Bambadinca, com algumas encomendas de Natal e preparávamos o nosso primeiro Natal na guerra. Depois do jantar, e depois de verificar os postos, fomo-nos deitar. 

Na nossa palhota dormíamos os três furriéis. Enquanto o sono não vinha,  íamos falando até que, por volta das 10 horas da noite, começa a entrar pela nossa palhota uma metralha de fogo: explosivas, tracejantes e iluminantes de arma pesada, por sorte o fogo passava todo a um metro acima das nossas camas, foi agarrar nas armas como estavámos, já com a palhota a arder, e tentar organizar a defesa.

Eu fui municiar o meu cabo Ananias Pereira Fernandes , com a MG42,  para o abrigo e tentar pôr o pessoal a fazer fogo o mais rasteiro possível. O destacamento parecia Roma a arder e a pontaria deles era tão grande que conseguiram meter uma morteirada no bidão do azeite no depósito de géneros. O rebentamento deste parecia fogo de artifício.

No meio da gritaria e dos impropérios de um lado e de outro, ouve-se um grito de agarra-lo á mano, pois de certeza que vinham com cubanos.

Depois de quase uma hora de fogo, as morteirada estavam a cair junto ao refeitório onde estava o Unimog debaixo do embondeiro, o soldado condutor da CCAÇ 1439 foge e consegue pôr a viatura a funcionar, que estava com escape livre, para o retirar daquela zona de fogo. Julgo que eles pensaram que vinham reforços e debandaram, foi uma sorte porque as munições não eram muitas, principalmente as de morteiro 60 e bazuca.

Tentou-se a seguir ver se havia feridos, não havendo nada a registar entre os militares, mas acho que na população houve dois mortos e três feridos.

Hipótese de ajuda não tínhamos, nem de Finete, que era o destacamento mais perto, nem de Bambadinca, pois tinham que atravessar o rio. Só aguardando o pessoal do Enxalé.

Logo pelo nascer do dia veio o heli fazer as evacuações, o piloto era o Faísca, moço conhecido do Algarve. Assim que o heli levantou começamos a ouvir metralha, era o pessoal da CCAÇ 1439 e o pessoal do Pell Caç Nat 51 que estava a ser emboscado entre Mato Cão e Missirá. O IN retirou mas ficou emboscado, era lógico que viria ajuda.

Começámos então a olhar para a realidade, palhotas ardidas e grande destruição, dos nossos pertences só tínhamos a roupa vestida no corpo, o resto era tudo cinza. Guardo a única coisa que encontrei, uma moeda de 10 pesos toda queimada. No reconhecimento que fizemos, encontrámos bastante sangue e uma pistola. Era triste ver o destacamento com tanta destruição.

Com o depósito de géneros completamente destruído, pouco tínhamos para comer, fomos a Bambadinca buscar algumas coisas e tentar arranjar roupa.

Chega o dia de Natal, a comida não era muita, vem o meu cabo Januário e outro cabo Ananias dizer que iam dar uma volta para arranjar carne. Chegada a hora do almoço apresentaram um repasto de carne com arroz de xabéu , que estava uma delicia, findo o almoço o cabo africano Ananias chamou-me à parte e deu-me as caveiras dos macacos que tínhamos acabado de comer. Guardei uma como talismã que perdi quando vim da Africa do Sul em 1978. (...)

 (Selecção, reevisão / fixação de texto: LG)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 14 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25640: Elementos para a história do Pel Caç Nat 54, "Águia Negras" (1966/74) - Parte I: Temos dois representantes na Tabanca Grande, o algarvio José António Viegas (1966/68) e o açoriano Mário Armas de Sousa (1968/70)...



27 de novembro de  2012 > Guiné 63/74 - P10731: Memórias de Mansabá (26): Os meus 45 dias em Mansabá (José António Viegas)

sábado, 15 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25642: Os nossos seres, saberes e lazeres (632): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (158): Na vila realenga de Belas, no termo de Sintra, já houve Paço Real, estamos perto da Venda Seca - 1 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Março de 2024:

Queridos amigos,
Houve inicialmente o intento de visitar a Casa Museu Leal da Câmara, na Rinchoa, o apetite por uma doçaria foi mais forte, avançou-se para um estabelecimento onde se vendem os fofos de Belas, é uma sensação estranhíssima andar por aquelas ruas estreitas, não é só a barulheira da CREL, o trânsito não dá tréguas, percorrem-se os passeios sempre a olhar para a rua, mais não seja para não levar com um espelho retrovisor no ombro. Satisfeita a guloseima, voltou-se à Quinta Nova da Assunção, visitada anos atrás, estava então de cara lavada, um miminho de cores, um recanto romântico seguramente idealizado por um comerciante com posses que partiu para as estrelas antes de ver tudo de pé e bem ajardinado; o jardim é um bálsamo, deve faltar dinheiro ou patrocínios para continuar os trabalhos de renovação e até de manutenção, aquela azulejaria que adorna os bancos de pedra corre riscos graves de perda irremediável. Há muito a visitar em Belas e nas redondezas, muita gente vinha fazer férias daqui até onde hoje fica Mira-Sintra, restam casas restauradas e outras na agonia. Belas teve marquesado, por aqui andou gente das famílias reais, resta a Quinta do Senhor da Serra, também conhecido por Paço Real, pelo que foi dado pesquisar na net aqui se celebram casamentos e batizados e eventos que tais.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (158):
Na vila realenga de Belas, no termo de Sintra, já houve paço real, estamos perto da Venda Seca – 1


Mário Beja Santos

Há uma doçaria que faz muita gente viajar até Belas, que já foi concelho, que tem importantes ruínas pré-históricas e até romanas nas redondezas; povoação onde assentou alguma aristocracia, a residência dos marqueses de Belas, aqui conhecida por Paço Real ou Quinta do Senhor da Serra, esta é belíssima com os seus plátanos, teixos e buxos dentro de um enorme muro, num contraste brutal com a barulheira que vem da CREL, contudo Belas é irresistível para itinerâncias. Primeiro, ali no centro da vila, uma doçaria aprazível e com um descomunal tráfego incessante mesmo à porta, ali se manjam os fofos e se pode adquirir demais doçaria para pequenos-almoços, almoços, lanches e jantares. Depois, segue-se, sempre a fugir do ruidoso trânsito, desde autocarros a motocicletas, para a Quinta Nova da Assunção, um interessantíssimo projeto de um comerciante endinheirado que aqui construiu casa apalaçada, habitações para trabalhadores quinteiros e visitas e esplêndidos jardins, isto no século XIX. No gradeamento pode ler-se: “A Quinta Nova da Assunção foi mandada edificar por José Maria da Silva Rego, nos terrenos herdados do seu tio Gregório da Silva Rego (comerciante que fez fortuna no Brasil). A sua mulher (está lá escrito esposa, linguagem de mestre de obras, sempre se falou em mulher e marido), Maria da Assunção Vieira, deu nome à quinta inaugurada em 15 de agosto de 1863, dia da celebração da Nossa Senhora da Assunção. José Maria da Silva Rego viria a morrer um ano depois, antes do término das obras. Trata-se de um conjunto arquitetónico que compreende um palacete residencial, uma casa de fresco, lagos, fontes e estruturas de apoio ao enorme jardim. Em toda a propriedade tentou-se criar um ambiente eclético de harmonização entre o neoclassicismo e o romantismo. Esta simbiose é evidente sobretudo no excesso decorativo do interior do palacete, onde as pinturas a fresco, os estuques e a azulejaria preenchem os espaços com motivos zoomórficos-vegetalistas, exotismos orientalistas, temáticas pompeianas e mitológicas, bem assim como as iniciais do proprietário.”

A Quinta Nova da Assunção tem esta fonte decorativa restaurada, temos um envolvimento de lugares sentados com azulejaria primorosa, como se pretende mostrar. O jardim tem manutenção, é um encanto passear por ali, não se dirão mesmo da conservação da casa apalaçada no seu exterior e começa a haver deterioração nestes belos azulejos, fica sempre o mistério se se trata de ladroagem ou é mesmo falta de manutenção, o tempo é inclemente, responda quem souber.
Para quem gosta de estudar movimentos artísticos, o que aqui se vê é uma etapa do naturalismo, ainda não se chegou à Arte Nova, as molduras são tipicamente clássicas, já começam a desaparecer azulejos.
Um tema recorrente na época é a chinesice, a atração pelo exótico oriental, no caminhar para o fim do século ao chinesismo juntar-se-á o japonesismo, uma das linhas da Arte Nova, figurará nas artes decorativas até ao anúncio da Arte Deco, aí pelo ano 1925
O mínimo que se pode dizer é que estes assentos de pedra tão bem decorados mereciam melhor sorte, não conheço uma gama de azulejos tão enternecedores como estes neste termo de Sintra.
Haverá um dia em que este edifício com pretensões neogóticas será recuperado, talvez equipado, polo de atração, sabe-se lá se residência para artistas ou até mesmo casa-museu, custa a entender como se restaurou a casa apalaçada e se esqueceu esta dependência.
Há alguns anos, quando visitei pela primeira vez a quinta, a casa estava de cara lavada, disse-me quem a guardava que era alugada para séries televisivas, consta que tem salas maravilhosamente decoradas, o comerciante não se poupou ao trabalho de apresentar a mansão à altura dos seus proventos. O senhor que está por detrás desta porta disse gentilmente pode olhar, mas não passa daí. Não perco a esperança de lá voltar e conhecer os tesouros ali existentes.
Atendendo a que se estava no inverno, bem surpreendido fiquei com esta floração quando tudo mais está adormecido.
Foi para mim uma surpresa ver esta alameda tão bem adornada, uns belos bancos, funcionais, bem mantidos. Caminhei nos dois sentidos, mas confesso que foram estas as duas perspetivas que mais me tocaram.
Esta é a fachada principal, o senhor José Maria da Silva Rego deve ter exigido alguma imponência no traçado da casa, é bem curioso ver como tem os fundamentos deste plano inclinado, casa apalaçada de um só andar, assente numa sólida plataforma e o arquiteto encontrou solução de pôr esta escadaria com alguma nobreza. Vista a Quinta Nova da Assunção, vai-se agora cirandar por Belas, que tem muito mais coisas por ver.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 8 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25620: Os nossos seres, saberes e lazeres (631): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (157): Em Tavira, a Vila a Dentro, em profundo derriço com as suas imponentes muralhas (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25641: Timor-Leste, passado e presente (5): a resistência luso-timorense e australiana na II Guerra Mundial



Mapa de Timor-Leste > Posição relativa de Bacau, a leste de Dili, a capital. Fonte: WikipediaWikipedia (com a devida vénia).


1. Não acompanhei na devida altura a série "Abandonados", que passou na RTP1,  de 21 de dezembro de 2022 (1º episódio) a 15 de fevereiro de 2023 (7º e último episódio). Mas conto poder vê-la na RTP Play.



Vejamos aqui a sinopse da série:

"Uma história de coragem e de sacrifício sobre-humano, ocorrida em Timor durante a II Guerra Mundial, com a invasão do Japão. Uma série de Francisco Manso com Marco Delgado, António Pedro Cerdeira, Chico Diaz, Elmano Sancho, Francisco Froes, Joaquim Nicolau, entre outros

"Baseada em factos reais, 'Abandonados' recorda a aliança inédita entre portugueses, timorenses e australianos unindo-se contra um inimigo comum que não hesitava em cometer as maiores atrocidades contra as populações locais e contra todos os que se lhe opunham.

"A série narra a situação dramática em que ficaram muitos desses homens e mulheres, esquecidos e abandonados em Timor e a luta persistente de um militar - o Tenente Pires, que contra todos os obstáculos e dificuldades, criados aliás pelo próprio governo de Salazar, tudo fez para salvar os seus companheiros, até ao seu sacrifício final. Esta série mostra-nos os caminhos tortuosos da política e dos interesses dos estados sobrepondo-se aos interesses individuais, com toda a carga de injustiça e de desumanidade que muitas vezes isso acarreta, conferindo a 'Abandonados' um significado universal".

Fonte: RTP > Programas > Abandonados
https://www.rtp.pt/programa/tv/p43285


2. Li,  entretanto, uma peça da agência Lusa sobre o livro que inspirou o realizador Francisco Manso, "O diário do tenente Pires", do historiador António Monteiro Cardoso (1950-2016). Faço a seguir um resumo dessa peça jornalística, servindo como introdução a um futura nota de leitura. 

O então jornalista da Lusa em Dili (2006-2008), o premiado escritor Pedro Rosa Mendes (autor, entre outros, da "Baía dos Tigres", 1999) aponta "a 'violência' da colonização de Timor, a 'brutalidade' da I República e o 'cinismo' da política de Salazar face à invasão japonesa" (sic) como  "as linhas que se cruzam na vida do tenente português Manuel de Jesus Pires" e que podem resumir o teor do livro "Timor na 2ª Guerra Mundial, O Diário do Tenente Pires", da autoria do historiador António Monteiro Cardoso (nascido em 1950 e prematuramente falecido em 2016, e que foi casado com a diplomata Ana Gomes),  

 A obra foi lançada em outubro de 2007,  em Díli, na Feira do Livro em Português. O autor conheceu Timor pela primeira vez, tendo aproveitado para visitar alguns dos locais onde se desenrolou a história heróica do tenente Pires, no leste do país, no município de Baucau (hoje a segunda maior cidade, a seguir à capital, da qual dista cerca de 120 km).
 
"O tenente Pires foi administrador da vila de Baucau, que entre 1936 e 1975 se chamou Vila Salazar, capital da circunscrição de São Domingos, e morreu em data e local desconhecidos, talvez no final de 1944, assassinado no cativeiro japonês."


"O pano de fundo do 'Diário do Tenente Pires'  a resistência à ocupação japonesa de Timor, a guerra de guerrilhas movida por forças australianas ajudadas por timorenses e portugueses, a saída de Pires para a Austrália e o seu regresso à ilha, numa missão suicida, para salvar os portugueses que tinham ficado e corriam perigo."

Baseado em abundantes fontes de arquivo, António Monteiro Cardoso procurou analisar e refutar neste livro "dois mitos persistentes", por um lado, "a bondade da colonização de Timor", e por outro, "o sucesso da política de Salazar na colónia mais distante da metrópole."
 
Para ele os livros sobre a História de Timor seriam "livros de exaltação do culto da bandeira e outras fantasias" (sic), disse na  entrevista que deu à Lusa.

Citando o autor do livro:

"A verdade é o que Pélissier contou: a colonização foi violenta e usou os métodos de guerra, guerra de timorenses contra timorenses, como na Guiné pelo Teixeira Pinto" (...). 

"Mantém-se a ilusão mitológica de que o colonialismo português não fazia mal a ninguém. Todos são maus a colonizar menos os portugueses". (...)

"O caso de Timor é o que melhor ajuda a criar este mito, devido à invasão indonésia. Há o mito da cristianização, da conquista das almas e não pela espada", explicou o historiador. "O timorense por definição era católico, falava português e adorava Portugal", recorda.

 (....) "Os indígenas são tão simpáticos, tão portugueses, dóceis, um pouco mandriões é certo. Conhecem as crianças? Assim são os indígenas", ironiza o historiador sobre a visão colonial do timorense.

Para além da história (trágica) do tenente  Pires, desconhecida dos portugueses,  o livro  procura 
 recuperar também "parte da história dos deportados portugueses em Timor", donde descendem  "clãs" importantes, como a família Carrascalão ou a família Ramos-Horta.

Conta António Monteiro Cardoso:

"A novidade é que os principais deportados não foram enviados pelo regime de Salazar. Os primeiros, o núcleo-duro, eram anarco-sindicalistas, enviados pela I República para a Guiné e Cabo Verde e que depois a ditadura militar aproveitou para mandar para mais longe".
 
Foi o caso dos alegados militantes da Legião Vermelha, "uma organização terrorista de contornos ocultos, de acção directa, destinada a atacar patrões, polícias e outros serventuários menores do capital". 

Um das vítimas desta organização  o comandante da polícia cívica de Lisboa, o capitão João Maria Ferreira do Amaral, originando uma brutal  vaga de repressão em  1925.

Em 1931, os deportados "sociais" e "políticos" portugueses em Timor atingia o meio milhar,  mais o que o total do funcionalismo público no território.

Sobre a política do Estado Novo em Timor, o historiador defende a tese de que Salazar "demonstrou um desprezo absoluto pela vida humana e um cinismo completo".  Na realidade, teria pedido aos portugueses, perseguidos pelos japoneses, "um 'massacre inútil', uma decisão que antecipa o que aconteceu em 1961 com a invasão de Goa", quando ordenou ao governador, gen Vassalo e Silva, que queria soldados e marinheiros "vitoriosos ou mortos".

Descurando a proteção (militar) do território, antes do início da guerra no Pacífico (fnais de 1941) , Portugal acabou por não dar quaisquer "garantias de efectiva neutralidade nem ao Japão nem à Austrália e às potências Aliadas".

Eis mais alguns excertos da entrevista:

"O tenente Pires e outros portugueses em Timor foram usados e sacrificados por Salazar para 'garantir' a soberania sobre a colónia. 

"Os mortos foram esquecidos e os sobreviventes perseguidos".

"Do tenente Pires, fica a história de um oficial que conseguiu salvar centenas de vidas " e que depois fica para a morte, acossado por todos os lados". (...)

"É um exemplo de dignidade, coragem e abnegação até à morte, para cumprir um compromisso"  (António Monteiro Cardoso).


O livro "Timor na 2º guerra mundial : o diário do Tenente Pires", de António Monteiro Cardoso, foi publicado de Centro de Estudos da História Contemporânea Portuguesa, Lisboa, 2007, 271 pp.

Fonte: Adapt., com a devida vénia, de RTP Notícias > Mundo > 26 Abril 2008, 14:59 > Histórias de Portugal e da II Guerra Mundial no "Diário do Tenente Pires" (*)


(*) Histórias de Portugal e da II Guerra Mundial no "Diário do Tenente Pires"
por © 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
Pedro Rosa Mendes, da agência Lusa, em Díli (26 de abril de 2008)

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25594: Timor-Leste, passado e presente (4): Antes da invasão e ocupação do Japão (19 de fevereiro de 1942): imagens da "Vida Mundial Ilustrada" (Ano I, nº 41, 26 de fevereiro de 1942)


 

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25640: Elementos para a história do Pel Caç Nat 54, "Águia Negras" (1966/74) - Parte I: Temos dois representantes na Tabanca Grande, o algarvio José António Viegas (1966/68) e o açoriano Mário Armas de Sousa (1968/70)...


Palmela > Poceirão > Casa do João Vaz > 2017 > Encontro do pessoal dos Pel Caç Nat 51, 52 e 54 > Elementos presentes, do Pel Caç Nat 54 > Da esquerda para a direita, Furriel Arlindo Costa (DFA), Furriel José António Viegas, 1º Cabo Marques, 1º Cabo Coelho (DFA) e 1º Cabo Manuel Januário (DFA)...Três DFA num grupo de cinco... Foi mais um encontro dos Pelotões de Caçadores Nativos, formados pelo nosso camarada Jorge Rosales, do 51 ao 56, no CIM de Bolama, e que serviram na Guiné entre 66 e 68. "É já muito dificil encontrar estes nossos camaradas, mas ainda assim juntámos o 51, 52 e 54. Na casa do ex-fur mil João Vaz (ex-prisioneiro em Conacri, libertado em 22 de novembro de 1970, no decurso da Op Mar Verde; pertenceu ao Pel Caç Nat 52)."

Foto (e legenda): © José Manuel Viegas (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]







Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Xime > 1970 > Malta da CCAÇ 12 (à direita), posando (e não "pou...sando")  junto a uma parede bidões com areia (que serviam de protecção em caso de ataque) juntamente com comaradas do Xime, à esquerda. Entre eles, estará o fur mil, açoriano, Mário Armas de Sousa, natural de Lajes das Flores, Ilha das Flores (mas que não conseguimos identificar)


Foto (e legenda): © Humberto Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Legenda de HR/LG:

"Começando da esquerda para a direita e de cima para baixo temos: o de boina já não me lembro quem era, o 2º julgo que era o fur mil vagomestre (do Xime) (parece-me ser o José Manuel Viçoso Soares, que vive no Porto, , os 3º, 4º e 5º também não me lembro), o 6º é o Sousa, ex-fur mil da CCAÇ 12 e o último sou eu (ainda com algum cabelo e sem barriga). [O 5º julgo ser o madeirense Sousa, o Mário Armas de Sousa, do Pel Caça Nat 54; ou será o fur mil António Fernando Marques, da nossa CCAÇ 12 ? L.G.].

"Na 1ª fila não me lembro quem é o 1º; o 2º, meio careca, era o fur mil dos obuses (da BAC de Bissau); os 3º e 4º também não me recordo; o 5º julgo que era o fur mil mecânico e o 6º é o Joaquim Fernandes, ex-fur mil da CCAÇ 12 e depois engenheiro civil na antiga CUF (já nesse tempo o Fernandes tinha jeito para as obras, pois foi ele que acompanhou todo o Reordenamento dos Nhabijões (a), por isso, quando cá chegou foi acabar o curso, o que muitos fizeram pois tinham-nos deixado a meio e até aldrabado nas habilitações literárias para ver se se baldavam de ir bater com os costados no Ultramar".


Em suma, o Mário Armas Sousa é decerto um deles, mas eu não sei qual... Tenho dúvidas é (i) quanto ao mês e ano em que foi tirada a foto e (ii) quanto à companhia a que pertenciam os camaradas que não eram da CCAÇ 12. Em princípio a foto deve sido tirada antes de julho de 1970, o pessoal do Xime pertenceria, portanto, à CART 2520 (1969/1971) (em meados de 1970, eles foram rendidos pela CART 2715 / BART 2917, 1970/72).

O Mário Armas de Sousa que, além do Xime, esteve em Porto Gole, Enxalé e Missirá, era do Pel Caç Nat 54 que, em novembro de 1969, foi render em Missirá o Pel Caç Nat 52, sob o comando do alf mil Mário Beja Santos (transferido para Bambadinca).

Com o Pel Caç Nat 52 (e também com o 54) fizémos (a CCAÇ 12 + CCAÇ 2636 + 1 Esq. Morteiros do Pel Mort 2106) talvez a mais dramática, temerária e penosa operação de que eu me lembre: Op Tigre Vadio (Março de 1970), na pensínsula de Madina/Belel, a norte do Rio Geba, no regulado do Cuor, na extremidade sul do famoso corredor do Morès...A tal operação em que alguns de nós tiveram que beber o próprio mijo para sobreviverem e não morrererem desidratados...





1. Temos 58 referências ao Pel Caç Nat 54, "Águias Negras", formado no CIM de Bolama, pelo nosso saudoso Jorge Rosales (1939-2019), a par dos Pel Caç Nat 51, 52, 53, 55 e 56. Mas sabemos pouco do historial desta subunidade, formada por graduados e especialistas metropolitanos e praças do recrutamento local, tal com as restantes.

O mais antigo representante deste Pelotão a integrar a Tabanca Grande é o Mário Armas de Sousa, açoriano da ilha das Flores, que esteve no CTIG em 1968/70:

Apresentou-se à Tabanca Grande, em 26 de setembro de 2005 (*) nestes termos:

(... ) "Sou ex-furriel miliciano e estive na Guiné de 1968 a 1970, em Porto Gole, Enxalé, Xime e Missirá. Também estou na fotografia da vossa página, tirada no quartel do Xime, junto dos bidões.Tenho alguma informação e fotografias do meu grupo de combate para acrescentar à vossa página se possível. (...)-

Ficamos a saber que em 1970 estava em Missirá, e que o pessoal metropolitano era o seguinte:19 (i) alf mil Correia (comandante); (ii) fur mil Mário Armas de Sousa; (iii) fur mil Inácio; (iv) fur mil Sousa Pereira; (v) 1º cabo Capitão; e (vi) 1º cabo Monteiro.





Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pelotão de Caçadores Nativos nº 54, em 1970.


Legenda do Mário Armas de Sousa:

(...) 1ª fila, da direita para esquerda: do pessoal metropolitano, o primeiro sou eu, furriel miliciano Mário Armas de Sousa; o terceiro é o 1º cabo Capitão;

2ª fila, da direita para a esquerda: o primeiro é o soldado Amarante; o segundo é o soldado Bulo; o quinto é o furriel miliciano Inácio; o sexto é o 1º cabo Tomé; o nono é o soldado Samba.

3ª fila da direita para a esquerda: do pessoal metropolitano, o primeiro é o furriel miliciano Sousa Pereira; o quinto é o alferes miliciano Correia (comandante de pelotão); o sétimo é o 1º cabo Monteiro; o oitavo, africano, é o soldado Pucha (era turra e foi capturado e ficou no nosso exército).

Foto (e legenda): © Mário Armas de Sousa (2005) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O Mário Armas de Sousa, que além do Xime esteve em Porto Gole, Enxalé e Missirá, era do Pel Caç Nat 54 que, em Novembro de 1969, foi render o Pel Caç Nat 52, sob o comando do alf mil Mário Beja Santos (transferido para Bmabadinca).

Com o Pel CAÇ NAT 52 (e também com o 54) fizémos (a CCAÇ 12 + CCAÇ 2636 + 1 Esq. Morteiros do Pel Mort 2106) talvez a mais dramática, temerária e penosa operação de que eu me lembre: Op Tigre Vadio (Março de 1970), na pensínsula de Madina/Belel, a norte do Rio Geba, no regulado do Cuor, na extremidade sul do famoso corredor do Morès... A tal operação em que alguns de nós tiveram que beber o próprio mijo para sobreviverem e não morrererem desidratados...

Em maio de 1970, já no final da comissão do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), havia três Pel Caç Nat no sector L1: o 52 (Bambadinca), o 54 (Missirá) e o 63 (Fá) (este comandado pelo alf mil at art Jorge Cabral, infelizmente já falecido).

Estas subunidades não se confundiam com os Pelotões de Milícias: nesta altura, havia já duas Companhias de Milícias no setor L1... As mílicias tinham uma função de autodefesa e eram constituídas apenas por elementos da população guineense (neste caso, predominante ou exclusivamente fulas).

O Henrique Matos, primeiro comandante do Pel Caç Nat 52, já nos disse aqui que esteve em Bolama com o Pel Caç Nat 53, do alf mil Serra (que ficou no Xime em reforço à CCAÇ 1550); o Pel Caç Nat 51, do alf mil João Perneco (que foi para Guileje); e o Pel Caç Nat 54, do alf mil Marchand (que foi inicialmente para Mansabá e, passado pouco tempo, foi parar ao Enxalé).



S/l > S/d > Convívio dos Pel Caç Nat 52 e 54 > Os antigos (e os primeiros) comandantes dos Pel Caç Nat 52 e 54 , respetivamente. alferes Henrique Matos e alferes Marchand (desconhecemos o seu primeir nome), este último falecido em há menos de um ano, em agosto de 2023.

Foto (e legenda): © José António Viegas (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 54 > O alf mil Marchand avaliando os estragos do ataque de 22/12/1966


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 54 > O Alf Mil Freitas, maeirense, da CCAÇ 1439 que estava no Enxalé e avançou com um grupo para as primeiras ajudas.


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 54 > Alguns elementos do Pelotão e da CCaç 1439 (Enxalé), fotografados num cenário de destruição, na sequência do ataque do PAIGC.

Foto (e legenda): © José António Viegas / Henrique Matos (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Enxalé > Maio de 1967 > Uma evacuação por heli, AL III > O meu amigo e conterrâneo da Ilha de S. Jorge, Açores, ten pilav, Orlando Manuel da Silveira Bettencourt (que iria morrer 11 anos depois, em 1978, em acidente aéreo na BA 4, na Terceira, sendo já ten cor pilav), eu (Henrique Matos), a meio, com o Marchand, do Pel Caç Nat 54, à direita, e o Teles, da CCAÇ 1661, à esquerda.


Foto (e legenda): © Henrique Matos (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



José António Viegas (n. 1944, em Faro)


2. O segundo elemento do Pel Caç Nat 54 a ingressar na Tabanca Grande foi o ex-fur mil José António Viegas (Bolama, Enxalé, Missirá, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1966/68).

Tem 60 referências no nosso blogue. Temos contactado regularmente.

Já quanto ao Mário Armas de Sousa, só temos 4 referências. E não temos notícias dele há muito.

Para já sabemos que o Pelotão teve como comandantes o Marchand (1966/68, Enxalé e Missirá) e o Correia (Missirá, Enxalé,Porto Gole, Xime, 1968/70). De um e do outro não sabemos o primeiro nome.




N/M Uíge > 30 de julho a 3 de agosto de 1966 > O José António Viegas, assinalado no rectângulo a vermelho: de rendição individual, foi juntar-se ao Pel Caç Nat 54, em formação no CIM de Bolama.

Foto (e legenda): © José António Viegas (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 26 de setembro de 2005 > Guiné 63/74 - P193: Tabanca Grande: O açoriano Mário Armas de Sousa (Pel Caç Nat 54: Missirá, 1969/70)

(**) Vd. poste de 30 de setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3256: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (5): Lembrando o Ten Pil Av Bettencourt (Henrique Matos)

(***) Vd. poste de 6 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10626: Tabanca Grande (368): José António Viegas, natural de Faro, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54 (1966/68), grã tabanqueiro nº 587

Guiné 61/74 - P25639: Notas de leitura (1700): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1858 a 1861) (7) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Abril de 2024:

Queridos amigos,
É evidente que a leitura de um Boletim Oficial pode dar-nos muito boas informações mas é por definição material incompleto, será a leitura que pude fazer deste período que vai de 1858 até determinada altura de 1861 (no próximo texto dar-se-á notícia da morte de D. Pedro V em novembro, aqui há o regozijo do monarca pelo casamento da sua mana, a Infanta D. Antónia que irá casar com um príncipe Leopoldo Hohenzollern Sigmaringen), teremos também o falecimento, que seguramente provocou grande consternação, de Honório Pereira Barreto; é período de epidemias, com destaque para a cólera morbo e a febre amarela, há diferentes referências a reorganizações dos serviços e ficamos a saber que a Guiné iria participar na III Exposição Universal, em Londres, devia enviar para o evento arroz, cera, marfim, tartaruga, azeite de palma, armaduras, peles de animais selvagens e penas de aves; tanto quanto parece, havia quarentena em Cabo Verde mas não na Guiné.

Um abraço do
Mário


Os Suplementos do Boletim Official trazem notícias do Estado. No caso vertente desta edição de 14 de outubro de 1861, o Sr. D. Pedro V determina às Possessões Ultramarinas que procedam a demonstrações de regozijo pelo casamento da Infanta D. Antónia com o Príncipe Leopoldo Estevão Carlos António Gustavo Eduardo Tassilo, Hohenzollern Sigmaringen, haverá três dias de folga, sendo prometidas demonstrações como iluminações, fogos de artifício e quaisquer outros festejos públicos


Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX
(e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1858 a 1861) (7)


Mário Beja Santos

Os próximos anos serão avaros com notícias da Guiné-Bissau, o que parece inexplicável, atendendo às grandes tensões existentes no Casamansa e em Bolama, para já não falar do quadro de permanentes sublevações e ataques a presídios. No Boletim Oficial n.º 29, de 14 de junho de 1858, vem uma portaria com o n.º 93, o Visconde Sá da Bandeira eleva Bissau à categoria de vila: “Tendo em consideração a povoação de Bissau é a capital da Guiné Portuguesa, e a residência do respeitável Governador, e que tem já um número bastante de habitantes para os diversos cargos municipais: hei por bem determinar que é mesmo a povoação que seja elevada à categoria de vila.” No Boletim n.º 30, de 25 de junho, Honório Pereira Barreto, Governador da Guiné, enviara ofício para o Governador Geral dando-lhe conta que encalhara na Costa da Ilha de Bissau uma canoa pertencente a João Marques de Barros, fora abandonada pela tripulação, depois roubada pelos gentios Papéis, mas o Governador obtivera dos mesmos gentios a restituição dos bens, houve louvor para o Governador pelo zelo mostrado.

Aqui e acolá vão surgindo artigos de saúde, e havia razões para tal, crescera o número de afetados pela febre amarela e pela cólera, proliferam os artigos de divulgação, fala-se de tudo desde o coral a poços artesianos. As informações sobre o serviço marítimo são abundantes. No Boletim n.º 43, de 24 de fevereiro de 1859, pela Portaria 221 do Ministério da Marinha e Ultramar, é nomeado o Tenente-Coronel Honório Pereira Barreto, adido ao Batalhão de Artilharia de 2.ª Linha, da cidade da Praia, em Governador da Guiné. E no Boletim de 4 de maio vêm más notícias, como se escreve:
“Da Guiné, aonde o ano passado passava uma epidemia devastadora, consta pelas notícias ultimamente recebidas que o estado sanitário é regular. A morte do honrado, inteligente e patriota desinteressado, Honório Pereira Barreto, Governador da Guiné, que muito temos a lastimar, não foi efeito de causas extraordinárias. A falta de o único homem que conhecia profundamente a Guiné; que estendia a sua influência para o interior e na Costa, a grande distância, instruído, e sempre pronto ao serviço do seu país, é uma perda irreparável”, declarou o Governador Geral, Sebastião Lopes de Calheiros e Menezes no discurso de abertura da Junta Geral do Distrito, em 15 de maio.

Nada consta de minimamente interessante no ano de 1860. No ano seguinte, no Boletim Oficial n.º 6, de 9 de fevereiro, consta o Ofício n.º 8 do Governo da Guiné Portuguesa, e reza o seguinte: “Na noite de 24 de setembro de 1860, aportou a esta vila, uma lancha, conduzindo o capitão e a tripulação do brigue francês Timor, naufragado na madrugada de 19, nos baixos da Costa da Ilha de Orango, uma das do arquipélago dos Bijagós; imediatamente que aqui chegaram os náufragos, apresentou-se o capitão a dar-me parte do ocorrido, recusando todavia qualquer socorro que lhe ofereci, ainda mesmo o de mandar ver se era possível desencalhar o seu navio. Achava-me naquela ocasião e neste porto o palhabote Bissau, que sem perda de tempo mandei aprontar para ir levar os feridos náufragos a Goreia”, assina o Governador António Cândido Zagalo.

Passamos agora para o Boletim n.º 10 de 19 de março desse ano, um assunto da Justiça: “Atendendo a que os meses de agosto e dezembro, em que, pelo artigo 10.º do Decreto de 1 de outubro de 1856, os juízes do distrito da Província de Cabo Verde devem fazer a correição dos diversos julgados as respetivas comarcas são tempos de chuva na Guiné, e em que aquela região que é a mais insalubre, é quanto os meses de fevereiro, março e abril ou são inteiramente saudáveis ou muito menos doentios: hei por bem determinar o seguinte: a correição que o Juiz de Direito da Comarca de Sotavento da Província de Cabo Verde deve fazer anualmente nos Estabelecimentos na Guiné, terá lugar no tempo que decorres desde o princípio de fevereiro até ao fim de abril” – trata-se de uma portaria do Ministério da Marinha e do Ultramar.

Temos agora uma informação que não deixa de causar surpresa, consta do Suplemento ao n.º 24 do Boletim Official, de 18 de junho de 1961. A propósito da realização da III Exposição Universal, a decorrer em Londres, em maio de 1872, haverá previamente uma exposição onde participarão a agricultura, a indústria e o comércio. É criada em Cabo Verde, em Santiago, uma Comissão com a colaboração do Governador Zagalo pela Guiné, a fim de reunir os produtos que aqui se enviam quanto à Guiné: arroz, cera, marfim, tartaruga, azeite de palma, armaduras, peles de animais selvagens e penas de aves. No Boletim n.º 25, de 22 de junho, são referidas situações de quarentenas e estabelece-se regulamento para a quarentena na Província de Cabo Verde.

E despedimo-nos com uma referência ao Boletim n.º 42, de 2 de novembro, é a Portaria n.º 246 do Governo Geral da Província de Cabo Verde, vejamos o que nela é essencial:
“Sendo conveniente, e de toda a urgência, estabelecer um serviço de comunicações regulares entre este arquipélago e a Guiné Portuguesa; tendo sido para este fim expressamente destinado o palhabote de guerra Bissau; e atendendo às vantagens incontestáveis que de uma tal medida devem resultar, não só para o Governo, mas também para o comércio, que nas suas transações tem decerto sofrido bastante com a falta de absoluta correspondência: hei por conveniente determinar:
O referido palhabote sairá impreterivelmente do porto da cidade da Praia para Bissau no primeiro dia de cada um dos meses de janeiro, abril, junho e outubro; assim como partirá de Bissau para esta cidade, fazendo escala por Cacheu, no primeiro dia dos meses de maio, junho, setembro e outubro;
Durante o tempo que medeia entre o dia da chegada do palhabote a Bissau, e aquele em que fica determinado que deve voltar para a cidade da Praia, poderá ser o mesmo navio empregado em qualquer comissão pelo serviço que assim exija, sem que seta forma, ou sob qualquer pretexto, fique permitido alterar a sua partida regular dos dias já indicados;
Quando em Cacheu tenha tão somente de entregar e receber correspondência, para evitar o perigo da entrada da barra, poderá ficar fora do porto, mandando apenas o escaler a terra;
Por benefício do comércio e comodidade dos particulares, poderá o palhabote de Bissau receber carga e passageiros, até onde comportar a lotação do navio, sem prejuízo dos objetos e passageiros que tenha de transportar por conta da Fazenda.”


Justifica-se ainda uma observação quanto à Portaria n.º 247, também de 2 de novembro, o Governador Geral da Província de Cabo Verde esclarece a jurisdição da Comissão Fiscal da Guiné, as suas atribuições, composição, encargos.

Fotografia de D. Pedro V
Túmulo de Honório Pereira Barreto em Bissau
Forte de Cacheu, Honório Pereira Barreto numa escultura despedaçada
Igreja de Nossa Senhora da Natividade, Cacheu
Uma imagem que vale por milhentas palavras

(continua)
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Notas do editor:

Post anterior de 7 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25614: Notas de leitura (1698): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1855 a 1857) (6) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 10 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25628: Notas de leitura (1699): Kangalutas, por Abdulai Sila; Ku Si Mon Editora, 2018 (Mário Beja Santos)