segunda-feira, 24 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25679: As nossas geografias emocionais (25): Quase todos partimos, até 1972, num navio de transporte de tropas, a partir do Gare Marítima da Rocha Conde Óbidos, e não da Gare Marítma de Alcantara...



Lisboa > 22 de Março de 2009 > Cais e Gare Marítima de Alcântara, vistas da Ponte 25 de Abril... > Não, não foi o nosso cais de partida... A nossa "porta de saída" para África foi o Cais da Rocha do Conde Óbidos, que fica mais para leste, a 1600 metros de distância...  Às vezes confundimos os dois cais e as duas gares (que são do mesmo arquiteto, o Pardal Monteiro).  

O Cais de Alcântara também era usado, mais pontualmente, para as partidas  e as chegadas de tropas,  mas era o cais da Rocha do Conde de Óbidos que estava destinado a esse fim.  Aliás, eram onde atracavam os navios da CCN (Companhia Colonial de Navegação), enquanto o de Alcântara era o terminal da CNN (Companhia Nacional de Navegação) e a SG (Sociedade Geral). 

Pelo outro lado, não passávamos sequer pelas gares....pelo que nunca pudemos admirar os painéis do Almada Negreiros, obras-primas da pintura portuguesa do séc. XX.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 


Lisboa > Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos > Da autoria do arquiteto Pardal Monteiro, foi inaugurada em 1948... Foi daqui que partimos, muitos de nós,  para a Guiné... Nos últimos anos da guerra (a partir de meados de 1972), o transporte já se fazia por via aérea, através dos TAM - Transportes Aéreos Militares. (LG)

Foto do domínio público. Cortesia de Wikipedia.



1. O porto de Lisboa tem dois cais e duas  gares marítimas, a de Alcântara, a poente, e a da Rocha Conde de Óbidos,  a nascente. Ambas servidas por linha férrea... Mas muitos camaradas, sobretudo os de fora de Lisboa, confundem as gares...

Recorde-se a aqui, resumidamente, a história da sua construção:

(i) A modernização do porto de Lisboa é relativamente recente. as primeiras grandes obras remontam ao ano de 1887, no reinado de D. Luís. 

Até 1907 não havia cais acostável (!) para os navios de passageiros, de maior tonelagem. Ficavam ao largo do Tejo, fazendo-se o transbordo de passageiros e bagagens, "à moda antiga"...

Datam dos finais da monarquia, os trabalhos de dragagem, na margem norte do rio, a oeste do cais de Alcântara. 

(ii) Em 1918 começaram a poder atracar no porto de Lisboa os transatlânticos de maior arqueação bruta. 

(iii) A atracação de navios de passageiros passou a ser obrigatória em 1927.

(iv) O cais de Alcântara  e o molhe oeste (poente) do cais de Santos ficaram reservados para as companhias de navegação estrangeiras. 

(v) Os navios nacionais, com destino às ilhas adjacentes e às colónias de  África, partiam do cais da Fundição, Terreiro do Trigo (junto a Santa Apolónia) e molhe leste (nascente) do cais de Santos.

(vi) É no âmbito do “plano de melhoramentos do porto de Lisboa: margem norte do Rio Tejo”, da iniciativa do Estado Novo, que vão ser construídas as gares marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos; era então ministro das Obras Públicas e Comunicações, o eng Duarte Pacheco (1901-1943).

(vii) O projeto destas gares marítimas com 2 pisos, é do arquiteto Pardal Monteiro (1895-1957), um dos grandes arquitetos estadonovistas cua obra marcou a cidade de Lisboa, entre as décadas de 1920 e 1950, com edifícios icónicos como a Estação do Cais do Sodré, o Instituto Superior Técnico, a Igreja de N. Sra. de Fátima, o 
Hotel Ritz, etc.

(viii) A gare marítima de Alcântara será inaugurada ainda em plena II Guerra Mundial (a 7 de julho de 1943), quando afluíam a Lisboa dezenas de milhares de refugiados de um continente devastado pela tragédia da deriva totalitária e da guerra.

(ix) Por sua vez, a gare marítima Rocha de Conde de Óbidos (chamava-se assim em virtude do cais estar próximo do palácio do Conde de Óbidos, hoje edifício da Cruz Vermelha, ao lado do Museu Nacional de Arte Antiga, ou Museu das Janelas Verdes) só foi inaugurada em 1948; é 
 aqui se localizava o estaleiro naval que, em 1936, seria  concessionado a um empresa do grupo CUF, a primeira do país a construir navios com casco de aço.

Para muito de nós, antigos combatentes, o cais da Rocha de Conde de Óbidos foi o local de embarque para a guerra colonial... 

Vínhamos, geralmente de noite, de comboio, das unidades de mobilização (muitos vinham diretamente do Campo Militar de Santa Margarida). Nunca passávamos pela gare.  

Só mais tarde eu vim a conhecer os salões Almada Negreiros e admirar os seus painéis, hoje famosos ...

Já aqui confessei, em tempos,  que gosto mais dos painéis da Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, pela sua modernidade e ousadia (temática e estética) (*). 

Todos os cais de partida (mais do que os de chegada) fazem parte das nossas geografias emocionais (**).


(**) Último poste da série > 2 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25327: As nossoas geografias emocionais (24): Nhamate, no sector Oeste 1, Bissorã, em 1970, ao tempo da CCAÇ 13, "Leões Negros"

Guiné 61/74 - P25678: (In)citações (267): Compensações às colónias (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 22 de Junho de 2024:

Meus caros camaradas e amigos,
Começo por agradecer os votos pelo meu aniversário, embora nós tenhamos muitos anos de prática, sabe sempre bem sentir o aconchego dos amigos.
Assim envio uma reflexão sobre estes tempos mais menos conturbados, que povoam os nossos dias.

Um abraço
Juvenal Amado



COMPENSACÕES ÀS COLÓNIAS

E de repente, o senhor Presidente da Republica sai-se desta forma ligeira sobre o assunto, tal como comentou o decote da senhora no Canadá numa das suas visitas de Estado.

Foi saudado com um enorme coro de críticas mais menos violentas, onde pontua muita gente de direita saudosista e, muitos veteranos ressentidos não sei bem do quê.

Portugal foi ao seu tempo “descobridor” que, não pediu licença para ocupar vastas regiões das quais não tirou mais proventos, porque não teve nunca força para ocupação total dos territórios reclamados para si no contexto das nações colonizadoras. Mesmo assim de Angola, Moçambique e Brasil, as riquezas o comércio de escravos os seus lucros escorreram para a capital do reino em quantidades consideráveis, não fosse a avareza da nobreza e clero, teriam feito de Portugal uma nação próspera, com resultados que teriam chegado aos dias de hoje.

Ao contrário sabemos das enormes dívidas que foram contraídas no sistema financeiro internacional por reis e por fim pela república até aos dias de hoje.

Perdido que foi o Brasil ficamos com duas colonias muito cobiçadas que pela sua riqueza serviriam de penhor no sistema financeiro internacional.

Mas lá diz o ditado que não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe e, 500 anos em que se mantiveram esses territórios num imobilismo confrangedor para onde era preciso carta de chamada, fomos acordados na nossa precoce juventude muitos de nós na escola primária, para uma realidade dura, que foi o eclodir de violência armada com intuito de nos expulsar de lá. Durante 13 anos de guerra fez-se pela modernização o que não se tinha feito até então. O rastilho estava aceso e já não havia forma de o apagar. O direito à autodeterminação consagrado na carta das Nações Unidas foi exigido, aliás sendo Portugal o ultimo a enfrentar o problema, que ao contrário de alguns ex-colonizadores, não manteve poder através do neocolonialismo onde as potências outrora dominantes exerceram a sua vontade sobre os novos países atrás de golpes de estado, ou guerras civis incessantes. Homens da sua confiança possibilitaram em troca de umas de migalhas a uma clique governativa que vendeu assim o futuro do seu povo.

Mas voltando ao tema levantado por Sua Ex.ª, o problema não é só português. A Bélgica, a França, a Inglaterra, a Holanda, a Espanha e até a Alemanha ocuparam, dominaram e extorquiram de riquezas vastos territórios do nosso globo.
Sufocaram com sangue revoltas, segregaram, escravizaram as populações indígenas fisicamente e nas suas crenças, impondo religião dominante no Ocidente.

A Bélgica é acusada de genocídio de mais 10.000 de congoleses, mas os outros, também impuseram a sua vontade com massacres mais ao menos documentados.

Durante as duas Grande Guerras os colonizadores utilizaram milhões de súbditos coloniais nas suas guerras na Europa e na Ásia. O resultado era de prever findo que foram os conflitos, logo estes se apressaram a pedir a independência, facto que acabou nas guerras de libertação. Os que lutaram contra a nova ordem Mundial da Alemanha e Japão imperiais transformaram-se em opressores dos povos sob a sua tutela. Voltaram as tropas expedicionárias o ódio das posições oficiais e da propaganda do regime, voltaram-se irmãos contra irmãos.

Esta nossa Europa dos “bons costumes” tem que reconhecer que é rica à custa de muita miséria do terceiro Mundo.

A aceitação desses novos países provocou rios de sangue refugiados e deslocados. Quando digo que não sei bem de quê de que os veteranos se ressentem é pelo simples facto, que nós fomos também fomos carne para canhão e deixamos a nossa juventude nas matas e bolanhas, quando não deixamos lá a pele.

Para além do direito a estarmos orgulhosos por termos vestido a farda, não somos heróis, somos vítimas e é preciso interiorizar esse sentimento.

E assim chegamos ao cerne da questão. Será que não se deve algo aos povos que estiveram sob nossa administração cinco séculos?

Está claro que não pode haver sentido literal na devolução de alguma coisa material, uma vez que nem juros podiam pagar, mas há formas de compensação que passa pela cooperação, por apoio na saúde, na educação, tecnologia, verdadeira amizade e tudo tratado sem sobranceria nem paternalismo que sobra por cá, quando se fala dos novos países de expressão portuguesa. Distanciarmo-nos de discursos de ódio e xenofónicos é pois um imperativo.

São países muitos jovens e necessitam quase tudo, pese as enormes riquezas de que são detentores, também precisam de tempo e respeito, para assim encontrarem um caminho melhor para os seus povos.

Um abraço
21/06/2024
Juvenal Sacadura Amado

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Nota do editor

Último post da série de 31 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25590: (In)citações (266): Vamos identificar as Unidades com as Divisas, lemas e designações mais curiosas e divertidas (Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil Inf)

domingo, 23 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25677: Elementos para a história dos Pel Caç Nat 52, 54 e 63 que, ao tempo da BART 2917 (Bambadinca, jun 70 / mar 72), estavam destacados no Sector L1 - Parte II

 

Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > Mato Cão > O ten cor Polidoro Monteiro, último comandante do BART 2917, o alf médico Vilar e o alf mil Paulo Santiago, cmdt do Pel Caç Nat 53 (Saltinho) e depois instrutor de milícias (no CIM de Bambadinca)  com um crocodilo juvenil  do rio Geba... 

Foto tirada em novembro ou dezembro de 1971 no Mato Cão, após ocupação da zona com vista à construção de um destacamento, encarregue de proteger a navegação no Geba Estreito e impedir as infiltrações na guerrilha no reordenamento de Nhabijões, um enorme conjunto de tabancas de população balanta e mandinga tradicionalmente "sob duplo controlo".

Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Destacamento do Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1973 > O alf mil Joaquim Mexia Alves, posando com um babuíno (macaco-cão) mais o Braima Candé (em primeiro plano), tendo na segunda fila, de pé, o seu impedido, o Mamadu, ladeado pelo Manga Turé. 

Foto (e legenda): © Joaquim Mexia Alves  (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão >  Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >   Vista do Rio Geba e bolanha de Nhabijões, a partir do "planalto" do Mato Cão.  Foto do último cmdt do Pelotão, alf mil  Luís Mourato Oliveira.

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Em 1 de julho de 1971, ao tempo do BART 2917 (Bambadinca, junho 1970/maio 1972), era a seguinte dispositivo das NT no Sector L1 (Zona Leste), no que diz respeito aos Pel Caç Nat 52, 54 e 63

  • Pel Caç Nat 52 >  Fá Mandinga;
  • Pel Caç Nat 54 > Bambadinca;
  • Pel Caç Nat 63 > Missirá (reforçado por 1 Pel Mil 202 / CMil 1) e a seguir Mato Cão

Maio 71

Op Triângulo Vermelho - 4 e 5mai71

Na região de Enxalé-Cuor, sector L1, foi feito um patrulhamento por forças de 3 GComb/CArt 2715 (Xime), CCaç 12 (Bambadinca), CCP 123 (Bissalanca) e 1 Pel Caç 54 (Bambadinca). 

O lN flagelou as NT, causando 2 mortos e 9 feridos e sofrendo 4 mortos.

Destruídas 12 tabancas, 20 moranças e meios de vida. Capturado 1 elemento armado com esp "Mauser" e documentos diversos.

Agosto 71

28ago71

- Um grupo IN estimado em cerca de 10 elementos flagelou com LROCK, RPG-2 e ARMAUTLIG, de Mato Cão, o barco “Manuel Barbosa” causando 8 feridos graves, e 9 feridos ligeiros.

- Pelas 14,50 horas uma Secção do Pel Caç Nat 52 iniciou a progressão em meio auto com destino a Finete onde se juntaria uma Secção do Pel Mil  201.

- Às 15,10 horas, em [BAMBADINCA 4C2-84], a viatura Unimog 411 de matrícula “ME-18-93” accionou uma mina A/P reforçada, com a roda da frente do lado direito, ficando completamente destruída e provocando ferimentos na quase totalidade dos elementos das NT que nela seguiam, nomeadamente no 2º cabo atirador Nhaga Maque do Pel Caç Nat  52 que veio mais tarde a falecer em Bambadinca como consequência dos ferimentos recebidos.

- Após o accionamento da mina o sold cond Manuel Castro Ribeiro Silva   da CCS/BART 2917 mas destacado no Pel Caç Nat 52, assumiu o Comando da Secção, instalando os seus companheiros e montando um dispositivo de segurança à viatura com os elementos mais válidos após o que se deslocou a Bambadinca, transportando aos ombros um dos feridos, a fim de avisar as NT sedeadas neste aquartelamento.

- Imediatamente se deslocou de Bambadinca uma Secção da CCAÇ 12 (acompanhada de um enfermeiro e macas) que se encarregou do transporte dos feridos de Finete, para onde as milícias desta tabanca, que imediatamente acorreram ao local do acionamento da mina os tinham já transportado, para Bambadinca.

- Num reconhecimento feito posteriormente não foi detectada a colocação de mais qualquer engenho explosivo, tendo-se no entanto detectado em [BAMBADINCA 4C7-74], vestígios de instalação em emboscada de um Grupo IN estimado em cerca de 10 elementos, o que vem confirmar declarações de milícias em Finete que dizem ter ouvido alguns tiros.

Novembro  71

2-7nov71

Op Tareco Vilão I

(Desenrolar da acção)

- No dia 2 de novembro pelas 8,30 horas os 2 Gr Comb da CCAÇ 12 (Bambadinca) deslocaram-se em meios auto de Bambadinca  para o Porto (fluvial) de Bambadinca de onde em meios fluviais [barco sintex], prosseguiram para Mato Cão, onde chegaram cerca das 21,00 horas.

- Substituíram então, no local, os Gr Comb  da CCAÇ 12 empenhados na Op Tudo Vale , montando uma rede de emboscadas nos trilhos de acesso mais provável do IN ao Destacamento de Mato Cão, garantindo a segurança com a colaboração do Pel Caç Nat  63, do pessoal que procede à instalação daquele Destacamento.

- No dia 3 pelas 13,30 horas, um Grupo IN estimado em cerca de 40 elementos flagelou com RPG-2 e Arm Aut Lig de [BAMBADINCA 1H97-61], apoiados por RPG-7 e Mort 82, o estacionamento de Mato Cão,  causando 2 feridos graves e 8 ligeiros.

- As NT reagiram imediatamente obrigando o IN a retirar, com baixas prováveis.

- Feito reconhecimento à área de instalação IN,  detectaram-se vestígios de IN ter aproximado e retirado na direcção de Chicri, tendo-se encontrado vários vestígios de sangue.

- No dia 6 pelas 16,55 horas, um Grupo IN não estimado flagelou da direcção de Chicri o estacionamento de Mato Cão e as forças de segurança ao mesmo, durante 5 minutos com Mort 82 e LRock.

- As NT reagiram prontamente pelo fogo de Mort 81 obrigando o IN a retirar.

- Posteriormente o 20º Pel Art (Xime) bateu os trilhos prováveis de retirada.

- Não foi feita uma conveniente batida imediata por, após os tiros de artilharia, ter anoitecido sendo a visibilidade muito fraca.

- No dia 7 pelas 6,45 horas quando o Pel Caç Nat 63 explorava o contacto havido ao anoitecer do dia 6 reconhecendo a mata a Norte de arame farpado detectaram a cerca de 600 metros do mesmo, numeroso Grupo IN estimado em 50 elementos que ali se encontrava emboscado.

- As NT imediatamente abriram fogo, tendo o IN,  ao sentir-se descoberto, reagido com RPG-2, RPG-7, Mort 60 e Arm Aut Lig  ao mesmo tempo que um outro Grupo IN localizado mais para Norte e a uns 500 metros do primeiro, começou a flagelar o estacionamento de Mato Cão  com Mort  82 e RPG-7.

- As NT imediatamente exploraram o contacto manobrando pelo fogo e movimento obrigando o IN a retirar.

- Apesar da pronta e enérgica reacção do Pel Caç Nat  63,  o IN conseguiu ao fim de cerca de um minuto quebrar o contacto em virtude do Pelotão ter esgotado as munições de MorT 60 e dilagrama que transportava consigo, cujo consumo foi maior do que seria de prever num contacto deste tipo em virtude do LGFog. 8,9 cm não ter funcionado.

- Remuniciado, o Pel Caç Nat 63 prosseguiu na batida tendo encontrado abandonado no terreno um morto, armado de pistola CESKA ZBROJOVKA m/1927, de origem checa, identificado por documentos que possuía como sendo Mário Campos, e uma granada de RPG-7.

- Foram ainda detectados vestígios e vistos elementos IN arrastando mais cinco corpos de elementos feridos ou mortos pelas NT.

- Entretanto, primeiro, os Mort 81 do Destacamento e posteriormente o 20º Pel Art /BAC 7  (10,5 cm) (Xime) batiam os itinerários previsíveis de retirada tendo o Pel Caç Nat  63 verificado que alguns dos impactos de artilharia se situavam sobre o trilho seguido pelo IN e nas suas imediações encontrava-se muito sangue.

- Neste contacto as NT sofreram 3 feridos graves e 9 (um civil) ligeiros sendo um ferido grave e 3 ligeiros proveniente do contacto directo com o IN e os restantes como consequência da flagelação ao estacionamento.

- No dia 7 pelas 14,30 horas, os 2 Gr Comb  da CCAÇ 12,  após serem substituídos no local pelas NT empenhadas na Op Tareco Vilão II II, iniciaram progressão em meios fluviais [Barco Girassol] para Bambadinca, permanecendo o Pel Caç Nat  63 e uma Secção do Pel Mil  202 em Mato Cão, onde chegaram cerca das 16,00 horas

Fonte: História do BART 2917, de 15nov1969 a 27mar1972, mimeog, 182 pp. (Cópia, em formo digital, gentilmente cedida por Benjamim Durães)



Guiné > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca (1955) > Escala de 1/50 mil > Detalhes: posição relativa de Bambadinca, Nhabijões, Mato Cão, Missirá, Sancorlá e Salá. O PAIGC só mandava (alguma coisa), a partir de Salá... tendo "barracas", mas a noroeste, na zona de Madina / Belel). Já no OIo havia a "base central" de Sara Sarauol... O destacamento, mais a norte de Bambadinca, no setor L1. era Missirá, guarnecido por um Pel Caç Nat (52 ou 63, em diferentes períodos) e um pelotão de milícias... Vários camaradas nossos, membros da Tabanca Grande, andaram por outros sítios, "pouco recomendáveis"... A Madina/ Belel (que já não vem neste excerto do mapa) ia-se uma vez por ano, na época seca...para dar e levar porrada.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


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Guiné 61/74 - P25676: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (23): "Os grelos"

Adão Pinho Cruz
Ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547
Autor do livro "Contos do Ser e Não Ser"


Os grelos

Eu seguia rua abaixo, pelo lado esquerdo da Sá da Bandeira. À minha frente, ia um casal, ela de meiaidade, gordinha, ele mais velho, hemiplégico, de bengala na mão esquerda, arrastando a perna direita, pendendo sempre para a direita, trajetória que a mulher ia corrigindo com um pequeno toque na mão dele. Se assim não fosse, as sequelas do seu AVC, à semelhança de um GPS, obrigavam-no a tombar para fora do passeio.

Lá mais ao fundo, frente ao Pingo Doce, o homem, como se uma mola o puxasse sempre para aquele lado, faz, com toda a facilidade, um rodopio de noventa graus para a direita, ficando em linha reta com a porta do supermercado. A mulher olha para a direita e para a esquerda (look right and look left, à londrina) e atravessa a rua, tendo o cuidado de pegar na mão do marido, pois, de outra forma, com a sua pendência para a direita, ele iria desembocar dez ou vinte metros acima.

Já dentro do Pingo Doce, resolvi seguir os passos daquele par amoroso, ao mesmo tempo que ia dando uma olhadela às prateleiras que me interessavam. A dada altura, verifiquei que o homem parou, olhando insistentemente para o sítio onde estavam as carnes de porco. A mulher puxou-o, mas ele resistiu. Apoiou-se na prateleira, encostou a bengala e com a mão esquerda pegou numa embalagem contendo uma orelha de porco.

Imediatamente a mulher gordinha o dissuadiu dizendo-lhe:
- Nem penses, vou-te comprar uns grelinhos que vi ali e que têm um aspeto do carago!
- Que se fodam os grelos, respondeu ele de forma bem entendível, apesar da fala meio entaramelada.

Só tive tempo de dar meia-volta e tapar a boca com a mão, a fim de abafar uma explosiva gargalhada, que eu não saberia explicar aos circundantes.

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Nota do editor

Último post da série de 16 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25646: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (22): "Engenharia e tatuagem"

Guiné 61/74 - P25675: Fotos à procura de.. uma legenda (181): Nos navios de transporte de tropas ,em que fizemos o "cruzeiro das nossas vidas", havia sessões de cinema, ao ar livre, no convés...

 


T/T Quanza > BCaç 617 >  A caminho da Guiné > c. 8-15 janeiro de 1964 > Tela para projeção de filmes  ao ar livre...




T/T Quanza > BCaç 617 > A caminho de Guiné > 9 de janeiro de 1964 > Exercício de salvamento a bordo


Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. As fotos do  João Sacôto (ex-alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66; piloto e  comandante da TAP, reformado) não mentem: no T/T Quanza, onde viajou para a Guiné, havia uma tela, pendurada no mastro principal (o da ré), no convés, onde era pressuposto projetar-se filmes... 

Não sabemos quais, nem quantos, nem a que horas... (se é que chegou a haver alguma sessão dessas durante a viagem). Mas só podia ser à noite...Como as noites eram frias e ventosas, em alto mar, é de imaginar que as sessões de cinema ao ar livre não deviam ser muito concorridas... 

Alguém se lembra ainda destes "cruzeiros das nossas vidas" ? Nos outros navios de transporte de tropas (Niassa, Uíge, Ana Mafalda, Carvalho Araújo, etc.) também havia sessões de cinema à noite, no convés ?  E serviam-se mantas e pipocas ?

Camaradas, a caixa de comentários é vossa...

PS1 - Parece que a Companhia Nacional de Navegação foi inovadora, terá ido a primeira a instalar telas  gigantes no convés para sessões de cinema ao ar livre, nas carreiras de África, logo em finais dos anos 40... E nomeadamente no navio Angola.

Diz a Wikipedia, sobre a Companhia Nacional de Navegação (CNN):

(...) A CNN deteve a maior frota do país, com nove unidades: o "N/T Príncipe Perfeito" (1961), que se constituía no seu navio-almirante, os gémeos "N/T Angola" (1948) e "N/T Moçambique" (1949), o "N/T Niassa" (1955), os irmãos "N/T Índia" (1951) e "N/T Timor" (1951), o "N/T Quanza" (1929),os gémeos "N/T Lúrio" (1950) e o "N/T Zambézia" (1949).

Nestes navios se fez a maior parte do transporte dos contingentes militares, material, funcionários do Estado e portugueses que iam para os antigos territórios portugueses em África Ocidental. (....) Alguns deles faziam ainda as carreiras de África Oriental e do Extremo Oriente.(...)


PS2 - Temos mais de 60 referências com o descritor "O cruzeiro das nossas vidas"... Não nos lembramos de ler, nesses postes, alusão a sessões de cinema ao ar livre... Mas alguns navios, como era o caso do Quanza, em 1964, já estava equipado...

PS3 - Sobre o N/M Quanza ver aqui...
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25555: Fotos à procura de... uma legenda (180): não sendo a G3, que espingarda automática empunham estes dois militares do BCP 21, no Leste de Angola, c. 1970/72 ?

sábado, 22 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25674: (De) Caras (209): Hermínio Marques, ex-Soldado Condutor da CCAÇ 2382: "Vou contar-lhe como perdi as minhas coisas em Contabane" (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Junho de 2024:

Queridos amigos,
Pelo adiante vos contarei a alegria que tive em encontrar um soldado a quem dei recruta na ilha de S. Miguel, de outubro a dezembro de 1967, uma amizade indefetível, não nos víamos há umas boas décadas, o prazenteiro andou-me a mostrar as belezas da ilha de Sta. Maria, ele é do Santo Espírito, este encontro foi primeiro milagre; o segundo ocorreu no dia seguinte, alguém que me questiona à hora do pequeno-almoço, o mais importante de tudo é que ele nos acompanha lá onde vive, entre Nova Iorque e Boston, fiquei a conhecer a família, a quem fui apresentado, espontaneamente decidimos tirar uma fotografia, tão eloquente quanto a nossa Tabanca é Grande. E ouvi com pormenores o que se passou em Contabane, em 22 de junho de 1968.

Um abraço do
Mário



Vou contar-lhe como perdi as minhas coisas em Contabane

Mário Beja Santos

Hora do pequeno-almoço, 17 de junho de 2024, Hotel Colombo, Vila do Porto. Mordiscando com apetite uns ovos mexidos com bacon, antevendo as delícias panorâmicas que me serão proporcionadas durante um passeio a uma boa parte da ilha de Sta. Maria, eis que se aproxima da mesa alguém que pede desculpa pela interrupção, não leve a mal, o senhor lembra-me alguém que escreve num blogue que eu frequento regularmente lá na América, estou aqui de visita porque a minha mulher nasceu e viveu aqui bem perto, trouxemos a família para conhecer a terra natal da mãe da avó, é que eu estive na guerra da Guiné e o senhor lembra-me alguém, não se ofenda se não for essa pessoa.

Então levanto-me, confirmo que ele está certo, é o soldado condutor Hermínio Marques, escrevo à pressa CCAÇ 2382, andarilharam por Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, mas ele quer falar-me de Contabane, uma flagelação que durou três horas, ficou tudo reduzido a um caco, perdeu os seus haveres, sobrou uma mala de cartão toda empapada, cada um dos que lá estavam ficou com o que tinha vestido. Contagiou-me a alegria deste homem cuja existência, como compreenderão, ignorava completamente, para amenizar o ambiente falei-lhe de um telefonema que há muitos anos recebi do João Crisóstomo, ele tinha adquirido no aeroporto um dos volumes do meu Diário da Guiné, estava profundamente emocionado, prometi que nos iriamos conhecer quando viesse a Portugal.

O Hermínio leva-me junto da família, sinto-me como tivesse chegado da Lua, falo-lhes da Guiné e do que vivemos, a mulher do Hermínio vai-me respondendo, o resto da família parece ignorar a língua portuguesa. Estamos todos num embaraço, o Hermínio insiste que eu tenho de saber o que viveram em Contabane, a mulher leva-me a um corredor e mostra-me uma casa lá no alto, era a casa dos avós, e é nisto que Hermínio insiste, vamos tirar uma fotografia, peço licença para a divulgar no blogue, então porque não? Prometemos voltar à fala, ao fundo da sala alguém põe um dedo em cima de um relógio, e eu não quero partir para a Praia Formosa, Farol da Maia e Baía de S. Lourenço sem o estômago aconchegado. Novo abraço, fico a saber que o Hermínio vive entre Nova Iorque e Boston, nasceu na região de Viseu, só me faltou perguntar-lhe se também vai levar a família ou já a levou à sua terra natal.
Vila do Porto, Santa Maria, Açores, 17 de Junho de 2024 - Mário Beja Santos e Hermínio Martins

Vou passar a manhã dividido entre este encontro e o espetáculo de uma ilha desconhecida, aonde quero voltar, eu tenho a impressão que já lera um texto do Manuel Traquina[1], nosso confrade, sobre a destruição de Contabane, no meio da conversa o Hermínio falava-me nos Palhaços, na irreverência que o Capitão Carlos Nery caprichara para uso do estandarte, é facto que é uma completa desobediência aos preceitos castrenses, é quase uma diversão.[2]


E pronto, que o Hermínio e os seus gozem de muita saúde e que ele nos acompanhe lá dos EUA, da minha parte, e até poder, deste lado do oceano endosso-lhe notícias do que vou fazendo, com lembranças da Guiné.

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Notas do editor

[1] - Vd. post de 19 DE AGOSTO DE 2008 > Guiné 63/74 - P3141: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (2): O ataque de 22 de Junho de 1968 a Contabane

[2] - Vd. post de 8 DE JUNHO DE 2010 > Guiné 63/74 - P6561: Histórias de Carlos Nery, ex-Cap Mil da CCAÇ 2382 (3): Fui o criador do emblema da Companhia, e gosto

Último post da série de 29 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25575: (De) Caras (208): António Baldé, ex-1º cabo , CIM Bolama (1966/69), Pel Caç Nat 56 (São João, 1969/70), e CART 11 (Paunca, 1970/71): "Eu tinha um sonho: ser apicultor no Cantanhez"...

Guiné 61/74 - P25673: Humor de caserna (69): O visionário "alfero Cabral", de saudosa memória (1944-2021), que, durante o seu "regulado" (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71), ainda quis formar o Pelotão de Caçadoras NATIVAS 63...








Lisboa > Belém >  Monumento aos Combatentes do Ultramar > 10 de junho de 2016 > O nosso "alfero Cabral, de saudosa memória (1944-2021), na Marinha, Força Aérea, Exército e Milícia... Fotos do Mário Fitas (ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67).


Fotos (e legenda): © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementat: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região Leste > Região de Bafatá > Secytor L1 (Bambadinca )> Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 > O "alfero Cabral", sempre benditas entre as mulheres, aqui entre  as suas queridas bajudas mandingas... Visionário, durante o seu "regulado" ainda formar o Pelotão de Caçadores NATIVAS 63...

Foto: © Jorge Cabral (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Na altura, escrevi em comentário ao poste P16191, entretanto readaptado (o "alfero" deixou-nos, inconsolados, em finais de 2021) (*): 

Meu caro "alfero Cabral":

Não te vi, porque fugiste mal o sol começou a apertar mais. Eu fui tarde e só fui espreitar... Mas folgo em saber que os teus problemas de saúde "vão indo e vindo", ou seja. que estás melhor. Como diz o povo, a doença vem a cavalo e vai a pé...

Fizeste bem vir também espreitar a "romaria" do 10 de junho...É um local de encontro obrigatório para os "último soldados do império"... É um local "sagrado" e "simbólico", aquele... onde cada um vai (e vem) com sentimentos às vezes contraditórios...

O nosso Mário Fitas, o "lassa", registou para a posteridade as "mantenhas" que partiste com os 3 ramos das novas Forças Armadas do Portugal Democrático, representadas por 3 gentis militares, do sexo feminino... Não te estou a imaginar, na próxima encarnação, na Marinha, muito menos na Força Aérea. És demasiado terráqueo para te alistares nestas duas armas, "elitistas".,..

A ti, que és um entendido em questões do género, e sempre foste bendito as mulheres, aqui na terra, não te estou a ver, de novo fardado, a não ser como comandante do Pelotão de Caçadoras NATIVAS, lá nos céus... Ou melhor, e já que o poder agora é delas (a frase é tua), não te vejo como comandante do novo Pel Caç Nat, mas como "guia", "guru", "coach", "instrutor", papel que de resto já desempenhavas na tua Fá Mandinga... 

Ainda um dia hás de escrever uma "estória cabraliana" sobre a tua tentativa, gorada por Bambadinca, de criar e formar um Pelotão de Caçadoras NATIVAS... 

Aqueles tenentes coronéis e majores que por lá nos (des)comandaram,  não percebiam nada, nem das poda nem da psico... Infelizmente, nunca chegaste a  submeter  o teu projeto inovador  ao aval do "Homem Grande" de Bissau... Ele certamente que apoiaria, com entusiasmo, a tua proposta, desde que fosse tudo "Por Mor de Uma Guiné Melhor"...

PZ  - Que Deus, Alá e os bons irãs .. e as tuas bajudas te façam boa companhia, l
á no assento etéreo onde agora repousas (**)...

Guiné 61/74 - P25672: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte IV: o momento alto, a inauguração da escola de Boebau, Manati, nas montanhas de Liquiçá, em 19 de março de 2018


Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > Escola de São Francisco de Assis (ESFA) > 19 de março de 2018 > A população recebe o Embaixador de Portugal em Timor-Leste José Pedro Machado Vieira e outros convidados durante a cerimónia da inauguração da nova Escola, que a população de Boebau chama agora “sua”.


Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > Escola de São Francisco de Assis (ESFA) > Março de 2018 > Quando as pessoas sonham, a obra nasce. Alguns dos responsáveis pela ideia e pela obra da nova escola de Boebau: da esquerda para a direita, Rui Chamusco, João Crisóstomo e Gaspar Sobral.
 

Fotos (e legendas): © Rui Chamusco  (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Rui Chamusco passou a integrar desde 10 de maio último a nossa Tabanca Grande (*). É cofundador da ASTIL, com a sua conterrânea,  Glória Lourenço Sobral, professora do ensino secundário,  e  com o marido desta, Gaspar Costa Sobral,  luso-timorense que, em Angola, antes da independência, foi topógrafo, e é hoje formado em  direito.

A ASTIL é a sigla da Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste, criada em 2015. Entre outros projetos desenvolvidos pela ASTIL,  destaque-se a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), nas montanhas de Liquiçá (pré-escolar e 1º ciclo) e o apadrinhamento de crianças em idade escolar. (Havia, então, em Boebau,  150 crianças sem acesso à educação.)

O Rui, professor de música, do ensino secundário, reformado, natural do Sabugal, e a viver na Lourinhã, tem-se dedicado de alma e coração a este projeto no longínquo território de Timor-Leste. 

 Desde a sua primeira viagem a Timor-Leste, no 1º trimestre de 2016, que ele vai escrevendo umas "crónicas" para os membros da ASTIL e demais amigos de Timor Leste.  

Temos estado a recuperar essas crónicas, agora as da segunda estadia, em 2018 (**).

Em Dili ele costuma ficar na casa do Eustáquio, irmão (mais novo) do Gaspar Sobral, e que andou, com a irmã mais nova, a mãe e mais duas pessoas amigas da família durant três anos e meio,. refugiados  nas montanhas de Liquiçá, logo a seguir à invasão e ocupação da Indonésia(em 7 de dezembro de 1975).

 Em 2018 o Rui Chamusco partiu para Timor, em 25 de janeiro,  com o Gaspar Sobral, numa acidentada viagem de 3 dias... O João Crisóstomo também partiu de Nova Iroque, em 2 de março, para  se juntar, ao Rui e ao Gaspar Sobral,  na sessão da inauguração da Escola,  em Boebau, em 19 de março de 2018. Regressou a Nova Ioque em 28.




Lourinhã > 2017 > Rui Chamusco e Gaspar Sobral.  A família Sobral tem um antepassado comum que foi lurai, régulo, no tempo dos portugueses. As insígnias do poder (incluindo a espada) estão na posse do Gaspar, que vive em Coimbra.  A família Sobral andou vários anos pelas montanhas de Luiquiçá e de Ermera, tentando escapar à tirania dos ocupantes indonésios. O Gaspar esteve 38 anos fora da sua terra, só lá voltando em 2016, com o Rui.

Foto: Luís Graça  (2017)


1. Esta é a segunda viagem e estadia do Rui Chamusco (de 27 de janeiro a 14 de junho de 2018) (*), em Timor Leste, uma missão solidária que culminou com a inauguração da Escola de São Francisco de Assis (ESFA), em 19 de março de 2018, em Boebau, Manati, nas montanhas de Liquiçá.

O Rui Chamusco, nosso grão- tabanqueiro nº 886, é professor de música, do ensino secundário, reformado (e homem de sete instrumentos), natural da Malcata, Sabugal, a viver na Lourinhã.

O Rui tem-se dedicado de alma e coração a um projeto de solidariedade no longínquo território de Timor-Leste (a 3 dias de viagem, por avião, a cerca de 15 km de distância em linha reta).

É cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste, com sede em Coimbra. Juntamente com outros destacadas figuras, como o Gaspar Sobral (nascido em Timor) e a Glória Sobral (natural da Malpaca, Sabugal).

Através da família Sobral, um exemplo de "resistência e resiliência", e das crónicas do Rui, vemos seguramente melhor Timor-Leste, de ontem e de hoje: uma visão macro e micro. Enfim, um privilégio, para os nossos leitores. E um obrigado ao nosso cronista, extensivo ao Gaspar, ao Eustáquio,à Aurora, à Adobe e outros protagonistas destas histórias luso-timorenses.

Estas crónicas tem um enorme interessante para se conhecer o que é hoje a República Democrática de Timor Leste,  país membro da CPLP, com o qual mantemos laços históricos, e sobretudo afetivos, tal como mantemos  com a Guiné-Bissau e outras antigos territórios que estiveram sob a administração portuguesa em África e na Ásia (LG).



II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL)
 
Parte IV - Momento alto: a inauguração da nossa escola



16.03.2018, sexta feira - A caminho 
de Boebau


O dia da inauguração da escola aproxima-se, os preparativos para a festa estão em andamento, o regresso a Boebau é necessário. No jipe Pajero do Abeca seguem as nossas “bagagens” e outros pertences (acordeão, mochilas, sacos de comida, esteiras, etc...). 

A Marcelina e a Zaida seguem na viatura umas quantas horas antes. Eu e o
Gaspar partiremos mais tarde nos “motores” (motorizadas) que o Eustáquio e o António estão cuidando para a condução. Daqui a mais ou menos três horas, se tudo correr bem, estaremos em Boebau.


Chegada a Boebau


Ainda as motas não tinham parado quando, ao longe, se ouvem vozes e instrumentos em perfeita simbiose. Eram os jovens e as crianças de Boebau que ensaiavam os números musicais e as danças para participarem na festa da inauguração. Não imaginam a emoção que se apoderou de mim. Fomos recebidos com grande regozijo e, depois de efusivos cumprimentos, fizemos as arrumações devidas para a nossa “instalação” nas dependências da escola.

Daqui até ao dia da inauguração foi um frenesim e um stress crescente para que nada faltasse, para que as pessoas convidadas se sentissem entre nós o melhor possível. Mais isto, mais aquilo; vamos ali, vamos acolá; contactos, telefonemas...e eu sei lá quanta coisa mais. Sempre com a preocupação de fazer as coisas bem, de estar presentes em tudo, de agradecer toda a simpatia e colaboração neste evento.

Até às tantas da noite, aí estivemos entre cânticos de alegria, antecipando a festa que se prepara. E mais uma vez constato o velho ditado “ o melhor da festa é esperar por ela”.

Assim foram estes três dias de preparação.

18.03.2018 - Preparando...

Logo de manhã, acompanhados do chefe da aldeia, o amigo Laurindo, fizemos um pequeno passeio a pé até à casa do chefe da aldeia, uma pessoa calma, com postura física que invejo, e com uma presença tranquilizante. Recebidos no terraço com o café da manhã, ali se foi juntando um pequeno grupo dos que iam passando. Entre eles o secretário do chefe da aldeia que, imaginem só, tem de ordenado sete dólares por mês.

Fiquei impressionado com esta disparidade salarial, sem saber o que pensar e o que dizer.  Consolou-me ao menos o saber que o nome das plantas envasadas que vão ser levadas para ornamento da escola no dia da inauguração se chamam “ondas de amor”.

Logo ali ao lado, do lado esquerdo de quem desce, em terreno que estávamos pisando, fui informado que toda a paisagem que avistávamos foi o campo de batalha na invasão indonésia. E um dos presentes, guerrilheiro de então, indicava com precisão os lugares dos combates. Sentimos fortes emoções mas ao mesmo tempo uns privilegiados ao partilharem connosco estas vivências.

 Rituais

Ao princípio da tarde eu e o Gaspar fomos alertados de que os “anciãos” iriam fazer um ritual da cultura timorense, e que gostariam que nós também participássemos. Trata-se de expurgar as forças negativas e de pedir a proteção dos antepassados para a nossa escola.

Claro que acedemos de imediato, até porque no dia da inauguração haverá uma
cerimónia de rito cristão: celebração da missa.

À hora indicada, lá estávamos nós na casa do sr. Bôzé, em sítio reservado para tal: o Gaspar, eu, Bôzé, mais três anciãos. Não entendi nada das preces que foram feitas, mas segui à risca o que me era pedido, com muito respeito e alguma ansiedade. 

Depois do ritual cumprido saímos deste local de culto em direção à escola. Aí chegados assistimos ao segundo ritual que consiste em juntar uma amostra de cada material empregue na construção da escola (um pedaço de zinco, uma mão cheia de cimento, um bocado de madeira, etc.).  Ao lado estão folhas de betel, umas moedas e uma nota, uma pinga de água e uma galinha. Trata-se de saber o futuro desta escola.

Depois de umas quantas rezas feitas pelos anciãos, foi morta uma galinha e foram-lhe extraídas as entranhas para, através da sua análise, conhecer o futuro desta escola.

Depois de nos informarem de que é um futuro promissor, e depois de examinarem o fígado da defunta, mostram-nos os seus contornos e afirmam sem hesitar “ está aqui a dizer que ainda vão construir mais escolas”. 

Fiquei perplexo pois eles, sem qualquer fonte de informação sobre os projetos da ASTIL (a nossa associação) vêm de encontro ao nosso desejo de construção de mais duas escolas em zonas carenciadas, na diocese de Baucau e na diocese de Dili.

Acreditemos ou não, estamos muito gratos a estes anciãos que de esta forma nos
quiseram transmitir os seus valores culturais. Por isso também o nosso respeito e consideração. Obrigado pelo vosso empenhamento e sobretudo pela vossa amizade.

Estamos convosco!...




Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > 2024 > A Escola de 
São Francisco de Assis (ESFA) , foi inaugurada em 19 de março de 2018...  


Foto (e legenda): © Rui Chamusco (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


19.03.2018, domingo - Dia da 
Inauguração

Um dia já passado depois da inauguração da Escola de São Francisco em Boebau, e depois de retemperadas as forças físicas, cá estamos para vos darmos as notícias ossíveis.

Antes de mais queremos agradecer todas as mensagens de congratulação pelo evento. Gostaríamos de agradecer pessoalmente, mas compreendam que nos é quase impossível.

Este dia memorável para todos nós, e particularmente para as gentes de Boebao/Manati, foi vivido com muita intensidade, quase até ao limite das nossas forças físicas. Eu não sei como foi possível, em terras de montanha, tanta resistência durante quatro dias. Sei que a proteção divina nos acompanha e disso temos provas concretas; sei que São Francisco de Assis e a Senhora de Fátima estão connosco; sei que o apoio dos amigos e amigas do Projeto de Solidariedade nos dá muita força, mas sem a “mãozinha de Deus” nada seria possível e teríamos sucumbido.

A presença física de entidades importantes: 

  • o Embaixador de Portugal em Timor, 
  • o Representante da Santa Sé em Timor, 
  • o Diretor Regional da Educação, 
  • o Diretor da Escola Rui Cinati em Dili, 
  • a representante da Fundação Oriente, 
  • o gerente e sub gerente da Caixa Geral de Depósitos /BNU, 
  • o Chefe de Polícia do Posto de Liquiçá, 
  • o chefe de suco de Leotalá, 
  • os chefes de aldeia de Manati e de Boebau, 
  • a reportagem televisiva da RTTL 
  • e mais presenças que não consigo identificar foram para nós uma honra e um estímulo muito grande. 

Fomos alvos de elogios não merecidos, que muito agradecemos, e aos quais eu respondo sempre com a frase de São Francisco que, já no final da sua
vida nesta terra, juntou os irmãos e lhes disse: “Irmãos, comecemos porque até agora pouco ou nada fizemos”.

Apraz-me relatar o entusiasmo, a participação, a colaboração de toda esta gente que tudo fez para que este dia fosse uma grande festa, com música, artes decorativas, rituais e cerimónias religiosas e pagãs que muito nos sensibilizaram. Este povo é muito agradecido. E ouvir o nosso nome sempre que encontramos alguém, sobretudo crianças, “Bom dia Tiu Rui, Bom dia Paicasa (é o Gaspar), Bom dia Painino (é o Eustáquio ou João Moniz) sabe melhor do que qualquer agradecimento.

A escola foi inaugurada, e toda a gente se pergunta: E agora, como vai ser? Quem vai garantir o seu funcionamento? Para tranquilidade de todos queremos informar que hoje já começaram as atividades. Ontem mesmo, celebramos um acordo com a professora Rita para dar aulas na nossa escola. Mais ainda informamos, que logo alguém se ofereceu para pagar o seu ordenado até Dezembro, final do ano letivo em Timor Leste.

Entretanto, enquanto por cá estivermos, eu e o Gaspar assumimos o compromisso de periodicamente ir até Boebau para darmos cursos intensivos de Português e de Música. Estas são duas disciplinas de referência na nossa escola que já estão a cativar crianças e adultos até de outras localidades.

A outro nível, estamos a angariar apoios junto das entidades competentes,
nomeadamente no Ministério da Educação e na Embaixada de Portugal, para angariar professores e apoios económicos em ordem ao começo do novo ano letivo, de modo a começar a desenvolver o currículo do Ministério da Educação. A Luta não para, continua...

Nas últimas palavras que publicamente proferi, disse: 

(...) "A escola de São Francisco de Assis está inaugurada. Esta escola não é minha, nem do Gaspar, nem do João Crisóstomo, nem da Astil. Esta escola é vossa, das vossas crianças, do povo de Boebau/Manati. Cuidai bem dela, como um presente caído do céu, e que seja o local de aprendizagens e conhecimentos para vós e os vossos filhos, que vos permitam ser
melhores”.  (...)

Este é o nosso grande desejo!...

Algumas fotografias documentam momentos do dia da inauguração. Compreendam que, por estas vias de comunicação não nos seja permitido partilhar todo o dossier existente. A quem o desejar daremos mais pormenores.

Obrigado mais uma vez por estarem connosco neste projeto de solidariedade. Esperamos que, tal como nós, sintam alegria e orgulho de termos sido escolhidos por Deus para cumprir esta honrosa missão. Desde Timor, um grande abraço para todos, e que Deus nos abençoe!..



21. 03.2018, terça feira - Os horrores e as marcas da guerra


Sem contar, o Dr. Ascenso, o Amali e eu fomos almoçar ao Boca Doce, um pequeno restaurante perto do Hotel Plaza frequentado por ”gente de peso”. Talvez por ser já um pouco fora de horas, poucos clientes ainda estavam a almoçar. Mas foi o suficiente para me dar conta de gente muito importante 
que o Ascenso cumprimentava, desde 
dirigentes políticos e militares, Reitor 
da Universidade etc, etc... 

Já no final da nossa refeição, juntou-se a nós o patrão que em amena
cavaqueira foi fazendo comentários às solicitações interloquiais. Foi então que me dei conta da dor e do sofrimento que alguns (muitos) timorenses passam ao relatar episódios da guerra pelos quais tiveram de passar e que deixaram marcas indeléveis.

Recordava-se a vala de Aileu, para a qual foram atirados milhares de corpos, e da recuperação dos restos mortais que ali jazem. 

O sr. Santos contava então que o exército indonésio recheado de militares timorenses e chineses, esperaram que o grupo de prisioneiros acabasse de rezar o terço para depois dispararem sobre eles e acabassem por cair na vala que eles próprios escavaram. Depois de fazerem a última prece, o orientador da reza virou-se para os militares e disse: “estamos prontos.Podeis disparar”. 

O primeiro a disparar devia ser um soldado timorense que, na primeira linha, apontou a arma mas não teve a coragem de matar os seus irmãos timorenses e deixou cair a arma do crime. Foi então que um soldado indonésio (chinês) apontou a sua arma e matou todos os que estavam à sua frente.

O senhor Santos tapava e apoiava o seu rosto enquanto contava, e era fácil
aperceber-se de quanto sofria ao recordar estes horrores de guerra. E eu, ao ter
consciência destes horrores, sou levado a lembrar-me da canção que tantas vezes ensinei às crianças, extraída do poema de Júlio Roberto “ Nós as crianças “: “Nós as crianças, queremos brincar em liberdade, em qualquer lugar. Não queremos mais o ódio, não queremos mais a guerra, não queremos mais mentira,não queremos mais miséria. Queremos pão para toda a terra. Queremos brincar ao sol, sem haver prisões, sem armas nem tiros e sem canhões.”

 Não! Guerra Nunca Mais !…


23.03.1018, quinta feira - O “avô laifaek”

Já tinha ouvido falar que os crocodilos estavam a invadir a baía de Dili: avistamentos, filmagens, relatos...mas nada que fizesse prever o que , no passado dia 18, aconteceu na baía de Tíbar. 

Uma criança de 12 anos foi atacada por um crocodilo, o “avô Laifaek”, de cujo corpo só se encontrou uma perna, supondo que todo o resto tenha sido devorado por este temido bicho que, para sua proteção a cultura timorense respeita e admira. 

A notícia ainda está fresca, e por isso os comentários e as reações a este acontecimento são as mais díspares possíveis. Uns dizem “tem que se abater o atacante: outros contrapõem “ não! É o “avô laifaek”. E neste dilema cultural, se os ataques continuarem teremos esta ilha de Timor habitada por crocodilos em vez de irmãos timorenses. 

Anteontem passei em Tíbar, e o amigo condutor chamou-me a atenção para um letreiro, não muito visível; “ Cuidado! Aqui há crocodilos”. Mas será que isto é suficiente para evitar mais tragédias? A cultura não serve também para esclarecer costumes e tradições? Não haverá meios de impedir a devastação humana? 

Dizia sabiamente o nosso José Régio “ Um homem é um homem; um bicho é um bicho”. E por muito respeito que tenhamos pela natureza e por todos os seres que habitam esta terra, requerem-se atitudes e decisões inteligentes que ponham solução a este problema. Se for necessário abater, eliminar, controlar por que não?


(...) 27.03.2018, segunda feira - Na escola do Alaka e no bairro Ailok Laran

A pedido do João, hoje fomos com ele à escola do Alaka (2 salas!) de ensino pré
escolar. Ficamos estupefactos com o que vimos: umas trinta a quarenta crianças com as suas fardas vestidas, umas três ou quatro pessoas adultas que suponho serem educadoras e auxiliares e umas instalações indignas para uma educação de tantas crianças em idade pré escolar. 

Não há casas de banho, não há água, não há sala de professores, pouco ou nada ali há de estruturas físicas. No entanto e graças à ação das educadoras, todas estas crianças têm uma educação esmerada. Sorriem, saúdam, estabelecem relações com os visitantes, recitam e rezam em grupo. Tudo muito bem ensaiado, como costumamos dizer. Foram momentos agradáveis mas que dilaceraram o coração, devido às carências que ali existem.

Depois dos mimos que lhes distribuímos, depois das fotografias que em conjunto tiramos foram as despedidas calorosas do tempo atmosférico e dos afetos. Já de saída,  chegou a diretora que nos fez o seu lamento sobre as condições do funcionamento desta escola e, claro está, o seu pedido de ajuda. 

Tivéramos nós essa possibilidade, mas não podemos chegar a todo o lado. Infelizmente, aqui como noutros lados, o Estado é rico mas os cidadãos na sua maioria são pobres. E com o argumento de que a escola é de ensino particular, pior ainda. O pai do Alaka já me tinha alertado para a falta de condições desta escola. Mas vendo o que se passa in loco é mais fácil de acreditar.

De tarde o João divertiu-se como uma criança. Quis brincar com o Alaka, tirar
fotografias, fazendo videos, jogando a bola e eu sei lá quantas coisa mais. Setenta e quatro anos a correrem atrás dos três, quatro, cinco e seis. Foram momentos hilariantes e de boa disposição que nem nós nem o João iremos esquecer. Lá diz o ditado: “De velhinho se volta a menino”. Só que nem todos os velhinhos aceitam isto.



Lourinhã (2017) > O João Crisóstomo,
 outro grande amigo de  Timor e da ESFA.
Foto: LG
28.03.2018, terça feira - Obrigado, João!

O João Crisóstomo regressou regressou hoje a New York. Esteve connosco durante três semanas, sempre em atividade (eu nem sei se ele dormia), sempre em contactos, sempre pronto a fazer fosse o que fosse em prol da educação e particularmente do nosso projeto de solidariedade.

O João falou com um grande número de personalidades importantes da vida social, política e religiosa timorense, exercendo a sua influência e credibilidade que ao longo dos anos de luta pela independência foi adquirindo e que lhe confere um estatuto de 
pessoa muito querida e estimada 
por gente de alta roda.

Bem hajas,  João,  por tudo o que tens feito por nós; por te associares de alma e coração aos nossos projetos (***); pela força e coragem que nos transmites com o teu exemplo de luta e de ajuda. Sabemos que os momentos de algum desânimo perante as dificuldades em ti se transformam em energia e que, apesar dos anos, o teu dinamismo vai continuar e empolgar todos os teus amigos. O feitiço desta terra, deste povo, destas crianças e jovens apoderou-se de ti, de nós. E por isso temos a certeza de que ainda nos voltaremos a encontrar aqui, seja quando for.

Obrigado,  João pela tua generosidade e desprendimento. Em nome do Alaka (teu afilhado, em nome das crianças com quem tu brincaste e jogaste a bola, em nome desta gente grande que adorou a tua forma de ser OBRIGADU!


[Seleção / revisão e fixação de texto / negritos e itálicos: LG]
____________

Conta solidária da Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (ASTIL)

IBAN: PT50 0035 0702 000297617308 4
 
___________

Fundadores: Rui Chamusco,
Glória Sobral e Gaspar Sobral


Programa de inauguração da Escola 
de São Francisco de Assis (ESFA)

  • Boas Vindas

A equipa de Boas Vindas - Chefe de Suco, ......Chefe da Aldeia......César Bruno, João Sobral Etelvino Colombo, João Crisóstomo, Rui Chamusco e Gaspar Sobral.


Hino Nacional de Timor-Leste seguido de hino da alegria da UE

  • Colocação dos tais - Entidades contempladas

- Chefe de Suco Leotalá - Manuel da Silva Santos

- Chefe de Posto de Liquiçá - Rogério dos Santos

- Administrador de Município - Domingos da Conceição dos Santos

- Chefe do comando geral da Polícia – Superintendente Olavo Cristóvão

- Director de Educação de Liquiçá - Zito António da Costa de Oliveira

- Ministro de Educação e Cultura - Dr. Fernando Hanjam

- Embaixador de Portugal – Doutor José Pedro Machado Vieira

- Embaixador da União Europeia – Dr. Alexandre Leitão

- Representante do Vaticano, o núncio apostólico Mario Godamo
 


  • Entidades vindas dos EUA (contempladas com tais)

- João Crisóstomo - Membro do núcleo dinamizador do Projecto de Solidariedade vindo dos EUA (membro da ASTiL);

- Ralph Niemeyer – Jornalista;

- Lucila - Assistente de Ralph Niemeyer, Jornalista e camerawoman.


  • Abertura e benção da Escola seguida de celebração da missa pelo Monsenhor..., Representante do Vaticano em Timor-Leste.

  • Momento Cultural – Abertura com o Hino da Alegria
(dois grupos de crianças irão apresentar danças e músicas tradicionais timorenses e portuguesas)

*Por Rui Manuel Fernandes Chamusco e Laurindo da Silva*

- Dança Tradicional - Dança tebe dai com crianças

- Música portuguesa - Abre a Janela

- Dança tradicional - Dança tebe

- Música no coração: Notas musicais

- Música portuguesa - A chuva

- Música portuguesa - Saia velhinha

- Música tradicional - Laurindo e acaba

  • Uma breve comunicação sobre a obra

- João Sobral, César Bruno e Etelvino Colombo farão uma breve comunicação sobre algumas etapas e dificuldades de construção da obra, antes e depois do lançamento da 1ª pedra em 28 de Julho de 2017;

- Entrega dos tais e o Rui Chamusco fará uma pequena intervenção para explicar os símbolos franciscanos em vigor nesta escola.

- Entrega das fardas por quatro entidades representativas do Governo de Timor, Embaixador de Portugal, embaixador da União Europeia, e representante da Igreja.

  • Momento das comunicações das entidades convidadas

(Quatro minutos para cada intervenção das autoridades anfitrians dando as Boas Vindas aos ilustres convidados e 40 minutos a estes últimos)

- Chefe de Suco Leotalá – Manuel da Silva Santos (3 minutos)

- Chefe de Posto de Liquiçá – Rogério dos Santos (3 minutos)

- Administrador de Município – Domingos da Conceição dos Santos (3 minutos)

- Director de Educação de Liquiçá – Zito António da Costa de Oliveira (3 minutos)

- Chefe do comando geral da Polícia – Superintendente Olavo Cristóvão (3 minutos)

- Ministro de Educação e Cultura – Dr. Fernando Hanjam

- Embaixador de Portugal – Dr. José Pedro Machado Vieira 

- Embaixador da União Europeia – Dr. Alexandre Leitão

  • Encerramento

- Palavras de agradecimento por um dos organizadores do evento.


NOTA: O presente programa pode sofrer (como sofreu...) alterações

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Notas do editor:


 
(**) Úktimo poste da série > 17 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25649: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte III: O Eustáquio, que tinha 14 anos, andou fugido nas montanhas de Liquiçá e Ermera, com a mãe e a irmã mais nova, mais duas pessoas amigas da família Sobral, durante três anos e meio


(***) Vd. postes de:


14 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17860: Ser solidário 206): "Uma escola em Timor" - Parte II: fotos do edifício, em construção, em Manati-Boibau, Liquiçá, Timor Leste... (Rui Chamusco, tabanca de Porto Dinheiro)