Caros Senhores, parabéns pela vossa iniciativa. Vejo com algum temor a nossa geração a morrer e a História da guerra, que flagelou a nossa juventude, a desaparecer da memória nacional colectiva.
Não consegui ler o vosso blogue, mas queria pedir dois favores: o primeiro é que não se esqueçam das mulheres que ficaram cá, particularmente as mulheres, noivas e namoradas, que apenas podiam morrer de saudades e tentar animar o outro lado com correspondência ou outros mimos. Não havia Net nem telemóveis, e falar para a Guiné podia ter uma espera de mais de um dia (em 1966/67). Tinha que se escrever, o mais e o melhor possível. Estive em Angola (1970/72) e sei que foi mais difícil esperar aqui em Lisboa durante a comissão na Guiné do que ir para Angola. O receio e as saudades são nsuportavelmente dolorosas.
Em segundo lugar queria pedir que não deixem de organizar todos esses testemunhos de forma a passarem um documento que guarde a vossa memória para a nossa História. Ainda estou à espera que façam justiça à geração que fez a guerra, os/as que foram e as que ficaram.
Cumprimentos.
Conceição Brito Lopes
Advogada
2. Comentário dos editores:
Não esquecemos das nossas mulheres, não esquecemos as mulheres, todas, que, de um lado e de outro (e algumas como combatentes) sofreram tanto ou mais do que nós...Elas têm assento na nossa Tabanca Grande, como esposas, viúvas, mães, irmãs e madrinhas de guerra de antigos combatentes. Ou simplesmente como órfãos de guerra. Ou tão apenas como amigas pu antigas namoradas... A nossa Tabanca Grande não tem portas. Mas é evidente que os testemunhos no feminino ainda são muito minorotários no nosso blogue (1). Obrigado, Conceição, pelo apelo à participação das mulheres e à maior sensibilidade feminina dos... homens!
Nota dos editores:
(1) Vd. posts de:
16 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2110: Cusa di nos terra (9): Susana, Chão Felupe - Parte IV: Mulher e Comunitarismo (Luís Fonseca
6 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2031: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (57): Cartas de um militar de além-mar em África para aquém em Portugal (6)
20 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1862: 42 anos depois, com emoção e revolta, sei das circunstâncias horríveis em que morreu o meu irmão... (Adelaide Gramunha Marques)
(...) Quando vi a mensagem do Sr. António Pinto e vi o nome do meu irmão ali escrito com todas as letras, nem parei para pensar e foi então que um murro me atingiu em cheio o estômago, a cabeça começou a girar e as lágrimas não paravam de brotar dos meus olhos.
Ali à minha frente estava aquilo que durante anos e anos eu tentei saber e nunca tive ninguém que mo dissesse. Como foi a morte do Martinho Gramunha Marques ? O meu coração pedia a Deus que tivesse sido rápido, que ele não tenha sofrido.
Agora sei que isso não foi assim. Agora que já passaram 2 dias desde que tive conhecimento da vossa existência, e tendo lido com mais calma alguns dos comentários e narrativas, acho que foi bom, esta revelação aproximou-me mais dele (...).
3 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1812: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (10): As mulheres dos meus homens eram minhas irmãs
28 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1630: Uma estranha forma de morte (Luís Graça)
5 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1563: Nunca pensei que também havia as Maria de Portugal (Zé Teixeira)
28 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1554: As Marias que ficaram na rectaguarda (Luís Graça /Paulo Raposo / Paulo Salgado / Torcato Mendonça)
2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1239: Recordando o meu pai: era o silêncio o que mais custava ouvir-lhe (Ana Ferreira)
9 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXXVI: Cabo 14: pergunto-me se ele algum vez regressou, de facto (Ana Ferreira)
(...) Esta noite, ao navegar pelos blogs que visito habitualmente, fui parar, através de hiperligações de posts, ao Blogue Fora-Nada, que reúne documentos e memórias de ex-combatentes da Guiné-Bissau.
Não fui combatente na Guiné, mas esses caminhos foram percorridos por mim de modo e tempo diferentes... Tornaram-se mesmo decisivos na minha vida de jovem estudante universitária rebelde, namorada de um alferes miliciano que para ali fora enviado para a guerra, mais tarde meu companheiro de vida (já lá vão 35 anos) e de mulher e mãe, que considerou importante ir para Bissau, como cooperante!
A Guiné dos aerogramas despertara um desejo imenso de conhecer a Guiné das bolanhas, das tabancas, dos mosquitos, dos rios e pântanos e das gentes que ali viviam, dos flupes, dos mandingas, dos papéis, de Amílcar Cabral, dos guerrilheiros do PAIGC...
Nunca tinha aceite a Guerra Colonial, mas uma vez que ela tinha entrado nas nossas vidas abruptamente e deixado incapacidades físicas ao maridão, senti uma vontade imensa de viajar para aquele pequeno país e conhecê-lo bem! (...).
(...) VB: Esta é já (ou pode vir a ser) uma das mais belas novelas sobre o amor em tempo de guerra (colonial)... Vem confirmar o teu já suspeitado talento de escritor... Que garra, que (con)tensão, que ritmo!... É um privilégio, para mim e para os demais tertulianos, podermos ler esta tua mininovela em primeira mão ! LG (...)
12 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXLIV: A galeria dos meus heróis (3): A Helena de Bafatá (Luís Graça)
23 de Abril de 2004 > Guiné 69/71 – I: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luís Graça)
(...) Trinta e cinco anos depois.
No 25 de Abril de 2004 presto a minha homenagem às mulheres portuguesas.
Que se vestiam de luto enquanto os maridos ou noivos andavam no ultramar.
Às que rastejavam no chão de Fátima, implorando à Virgem o regresso dos seus filhos, sãos e salvos.
Às que continuavam, silenciosas e inquietas, ao lado dos homens nos campos, nas fábricas e nos escritórios.
Às que ficavam em casa, rezando o terço à noite.
Às que aguardavam com angústia a hora matinal do correio.
Às que, poucas, subscreviam abaixo-assinados contra o regime e contra a guerra.
Às que, poucas, liam e divulgavam folhetos clandestinos ou sintonizavam altas horas da madrugada as vozes que vinham de longe e que falavam de resistência em tempo de solidão.
Às que, muitas, carinhosamente tiravam do fumeiro (e da barriga) as chouriças e os salpicões que iriam levar até junto dos seus filhos, no outro lado do mundo, um pouco do amor de mãe, das saudades da terra, dos sabores da comida e da alegria da festa.
E sobretudo às, muitas, e em geral adolescentes e jovens solteiras, que se correspondiam com os soldados mobilizados para a guerra colonial, na qualidade de madrinhas de guerra. (...).
24 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXIV: Bibliografia da guerra no feminino (3): Madrinhas de guerra (Jorge Santos / Constança Lucas)
24 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXII: Bibliografia da guerra no feminino (2) (Jorge Santos)