Guiné> Fortim e Ponte Alferes Nunes entre Teixeira Pinto e Bachile, sobre o Rio Costa (Pelundo). c. 1968/69. Será que esta ponte ainda existia no princípio da década de 1070, no tempo do Jorge Picado, do José Martins e do António Graça de Abreu ?
Foto do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro, CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, Jolmete, Olossato, Bissorã,1968/70). Num poste, aqui publicado, em 17 de Novembro de 2007, o Albino diz-nos que a sua " primeira participação em escoltas foi com o pelotão da CCAÇ 2313, aquartelada em Teixeira Pinto, e para o Bachile, com a duração de 7 horas sem problemas" (*). Antes já hava explicado, por que razão fazia serviço noutras subunidades:
" (...) devido à escassez de Enfermeiros, a partir de certa altura da comissão, era a CCS do BCAÇ 2845 que fornecia às outras Companhias, sempre que requisitado, o pessoal do Serviço de Saúde. Havia uma Escala na Enfermaria, mas quase sempre me tocava a mim a alinhar, talvez porque o meu número era baixo ou então por começar na letra A, sei lá".
Foto (e legenda): © Albino Silva (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Jorge Picado, de hoje, às 16h:
Assunto - Reencontro telefónico com o Cmdt da CCaç 16
Luís: Acabo de falar com o José Martins (**). Era de facto o Cap da CCaç 16 [, que esteve em Bachile,] e terminou essa comissão uns meses depois de eu ter regressado ao Continente.
É espantoso, pois disse-me que me reconheceu logo que viu a foto no Blogue e daí o ter procurado nas listas o meu contacto telefónico, mas só foi parar à Costa Nova. Falou-me nos nomes da maioria dos Oficiais do CAOP 1.
Possivelmente o Graça de Abreu já não o terá de facto encontrado.
Lê sempre o Blogue. Por isso já sabia do comentário e, quando acabou de falar comigo, disse que ia tentar ligar para o Abreu.
Também é casado com uma chinesa, médica se percebi bem e vive em Macau.
Era Miliciano e seguiu a carreira, sendo do CPC do Rui Alexandrino que o deve conhecer.
Antes do CPC fez a 1.ª comissão em Angola e, depois dessa na Guiné, voltou a ir outra vez para Angola.
É portanto Ten Cor, se bem entendi, mas já está reformado, depois de ter ido para Macau onde esteve em algo de Segurança.
Perguntei-lhe se não tinha endereço da Net, com o intuito de o "aliciar" para o Blogue, mas respondeu-me que não está familiarizado com a "máquina".
Talvez o Graça de Abreu consiga saber mais.
Abraço
Jorge
2. O António Graça de Abreu deixou, hoje de manhã, o seguinte comentário ao poste P4334 (*):
Caro Luís:
Obrigado pelos mails transversais. Cheguei a Teixeira Pinto em Junho de 1972 e logo depois estive no Bachile. Confirmo completamente, havia lá uma CCaç 16, comandada por um capitão do QP. Creio que já não era esse José Martins, agora na China. O alferes Rocha que no meu Diário ponho a comandar essa companhia, desempenhou as funções na ausência (férias?) do capitão.
Vou para Macau,(apresentação de mais um livro meu,) Hong Kong e Zuhai dia 22 de Maio, regresso a Portugal a 5 de Junho. Depois, com a minha família chinesa e meia chinesa, sigo para Xangai, Pequim e mais China a 3 de Julho e só estarei de volta a Portugal no dia 3 de Setembro. Vai ser um Verão cheio de China.
Gostava de conhecer esse José Martins. Dá-lhe as minhas coordenadas, telf 214671920 ou 933572581, ou reenvia-lhe este mail.
Um forte abraço,
António Graça de Abreu
3. Comentário de L.G.:
Duas palavras breves, para:
(i) Saudar o nosso camarada José Martins, que bons ventos e monções o mantenham bem, de boa saúde, por essa parte do Oriente que há séculos nos fascina;
(ii) Reiterar o convite feito já pelo Jorge Picado para ele se ligar, mais formalmente, ao nosso blogue e à nossa Tabanca Grande (que é já uma rede social com mais de 320 camaradas e amigos da Guiné);
(iii) Desejar ao querido camarada António Graça de Abreu (extensivo à sua família luso-chinesa) um belo périplo pela China, de cuja cultura ele é um reputado estudioso e especialista... (E que, no verão não se esqueça de nós, mandando-nos ao menos umas postais e uns poemas; antes disso, esperamos encontrá-lo, a 20 de Junho, em Monte Real, no nosso IV Encontro);
(iv) Agradecer ao Jorge Picado a gentileza de nos ter contactado, tão célere como gentilmente...
Se esta história tem um mural... ao fundo, ela só pode acabar com esta palavra de ordem: O mundo é pequeno eo nosso blogue... é grande. (O blogue , leia-se: as pessoas que nele escrevem, que o animam, que o comentam, que o lêem, que o criticam, que o divuklgam, que acarinham... Em suma, os nossos camaradas e amigos da Guiné!).
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 17 de Novembro de 2007 Guiné 63/74 - P2275: Estórias avulsas (11): Saídas frequentes para o mato (Albino Silva)
(**) 13 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4334: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (8): Da China, em busca do Jorge Picado (José Martins, CCAÇ 16, Bachile, 1971)
Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Guiné 63/74 - P4334: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (8): Da China, em busca do Jorge Picado (José Martins, CCAÇ 16, Bachile, 1971)
1. Mensagem enviada ontem pelo editor L.G. ao Jorge Picado, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto:
Acabo de receber, às 15h30, uma chamada da China (!) (*), de um tal Martins, José Martins, que foi Capitão da CCAÇ 16, e que terá estado contigo no Natal de 1971, na Guiné (**)...
Está na China há 5 anos... E queria falar contigo. Pediu-me o teu número de telefone... Fiquei de lhe mandar através de mensagem do telemóvel... Simplesmente não ficou registado o nº dele no meu aparelho... Nabice minha ? Não sei...
Para já preciso que me autorizes a divulgar os teus contactos... Estás a reconhecer este camarada? Não sei se era Cap Mil ou do QP. Não houve tempo para grandes conversas. Também não tenho a certeza de ter ouvido bem o nº da subunidade, mas pareceu-me ser a CCAÇ 16...
Posso pôr uma mensagem no blogue, ao canto superior esquerdo, com os teus contactos, até ele te "apanhar" e contactar... Ele soube de ti através do nosso blogue... Diz-me o que fazer... Luís
PS - Como vês, o nosso blogue é grande... e o mundo é pequeno..
2. Resposta, ensonada, do Jorge de ontem à noite:
Luís:
Não tenho qualquer ideia desse nome, mas isso é normal.
Agora que foi Capitão duma CCaç Africana e tenha estado comigo no Natal de 1971? Isso eu lembrar-me-ia, pois nessa data estava no BU...RAKO de CUTIA e era o único Cap que lá estava.
Nessa data havia 1 Pel da CCaç 15 (Balantas) comigo, além do Pel Caç Nat 61. oO Cap da CCaç 15 nessa data seria já o Cap Inf Luís da Piedade Faria que tinha transitado da CCaç 2588 (BCaç 2885) para substituir o anterior dos Balantas que tinha sido evacuado para o HMP(Lisboa) e era Nascimento.
Este José Martins podia ser outro militar (outra patente) que tivesse estado comigo em CUTIA? Talvez.
Mas agora compreendo um recado que recebi vai para 2 semanas de pessoal que tinha a fazer-me pinturas na casa da Costa Nova. Disseram-me que tinham atendido nessa minha casa um telefonema duma pessoa que queria falar comigo e dizia que estava a falar da China. Evidentemente que julguei ser engano ou brincadeira, até porque na Costa só lá estou no verão.
Mas podes deixar então o telefone + 351 234 321 519 para ver se ele me liga para Ílhavo.
Abraço
3. Segunda mensagem, alvoraçada, do Jorge, com data de hoje:
Luís:
Levantei-me da cama, porque às voltas com a resposta que te enviei antes de me deitar, não me deixava adormecer e finalmente fez-se luz cá no caco.
Respondi trocando o Natal de 71 pelo de 70.
Em 1971 passei o Natal, como disse no Poste, no Bachile na área do CAOP 1 e quem lá estava era a CCaç 16, que provavelmente tinha por Capitão o tal José Martins. Deve ser isso, por que eu não me lembrava se era uma CCaç Continental ou Africana e o camarada José Camara, que está emigrado nos USA desde 1973, é que me disse que no Bachile estava essa CCaç 16.
AB
Jorge
____
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste anterior desta série O Mundo é pequeno... > 19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4215: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (7): Luís Borrega, visitante um milhão (Luís Borrega)
(**) Vd. poste de 11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3597: O meu Natal no mato (13): De Cutia (1970) ao CAOP1, em Teixeira Pinto (1971) (Jorge Picado, ex-Cap Mil)
(...) Na segunda época [ 1971,] só me recordo das Festas Natalícias.
A noite da Consoada passei-a, em representação do CAOP 1, no Destacamento do BACHILE, situado um pouco a Norte de TEIXEIRA PINTO na estrada para o CACHEU cujos trabalhos de reabertura e pavimentação decorriam nessa altura um pouco mais a Norte.
Neste aquartelamento estava pelo menos (não tenho a certeza se havia igualmente uma CCaç Africana) uma CCaç cujo Cmdt era o Cap Mil do QC Branco (em 1974, antes do 25ABRIL, vim a reencontrá-lo na minha terra onde veio morar, enquanto esteve colocado no RI de Aveiro onde apanhou a revolução, na qual esteve enquadrado) e que não tenho a certeza se seria a 3461, mas pertencia ao BCaç 3863 que tinha chegado ao Chão Manjaco em 20H30 do dia 24 de Outubro de 1971.
Não resisto a transcrever o que o camarada António Graça Abreu [, na foto à esquerda, em Pequim, c. 1980] que chegou ao CAOP 1 cerca de 5 meses depois de eu o ter deixado, escreveu no seu DIÁRIO DA GUINÉ (***) sobre o BACHILE que visitou ao fim de 6 dias.
“O Bachile, um aquartelamento pequeno rodeado por fileiras duplas de arame farpado. Ao lado um reordenamento, isto é, umas dezenas de casas pintadas de branco com telhados de zinco destinadas aos negros que, vindos das zonas libertadas, se apresentam à tropa portuguesa. As casas não estão habitadas.
"O aquartelamento é deplorável. Logo atrás do arame farpado há dezenas e dezenas de bidões cheios de areia rodeando umas tantas tabancas. Depois há telhados em cimento armado cobrindo os tegúrios semi-afundados na terra habitados pelos nossos soldados, uns setenta a oitenta. É a protecção possível contra flagelações e bombardeamentos. E dão uma certa segurança aos homens brancos expatriados na terra dos negros comandados pelo alferes Rocha, …creio ser uma miniatura exemplar de dezenas e dezenas de aquartelamentos portugueses espalhados pela Guiné... ”. (...).
(***) Sobre o nosso camarada António Graça Abreu, reputado sinófilo, que viveu na China nos anos 70/80, tendo entre 1977 e 1983 leccionado Língua e Cultura Portuguesa nas Universidades de Pequim e Shanghai, vd. o poste de 29 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3249: Bibliografia de uma guerra (33): Memórias literárias da Guerra Colonial: Na 5ª feira, todos com o nosso António Graça de Abreu
Acabo de receber, às 15h30, uma chamada da China (!) (*), de um tal Martins, José Martins, que foi Capitão da CCAÇ 16, e que terá estado contigo no Natal de 1971, na Guiné (**)...
Está na China há 5 anos... E queria falar contigo. Pediu-me o teu número de telefone... Fiquei de lhe mandar através de mensagem do telemóvel... Simplesmente não ficou registado o nº dele no meu aparelho... Nabice minha ? Não sei...
Para já preciso que me autorizes a divulgar os teus contactos... Estás a reconhecer este camarada? Não sei se era Cap Mil ou do QP. Não houve tempo para grandes conversas. Também não tenho a certeza de ter ouvido bem o nº da subunidade, mas pareceu-me ser a CCAÇ 16...
Posso pôr uma mensagem no blogue, ao canto superior esquerdo, com os teus contactos, até ele te "apanhar" e contactar... Ele soube de ti através do nosso blogue... Diz-me o que fazer... Luís
PS - Como vês, o nosso blogue é grande... e o mundo é pequeno..
2. Resposta, ensonada, do Jorge de ontem à noite:
Luís:
Não tenho qualquer ideia desse nome, mas isso é normal.
Agora que foi Capitão duma CCaç Africana e tenha estado comigo no Natal de 1971? Isso eu lembrar-me-ia, pois nessa data estava no BU...RAKO de CUTIA e era o único Cap que lá estava.
Nessa data havia 1 Pel da CCaç 15 (Balantas) comigo, além do Pel Caç Nat 61. oO Cap da CCaç 15 nessa data seria já o Cap Inf Luís da Piedade Faria que tinha transitado da CCaç 2588 (BCaç 2885) para substituir o anterior dos Balantas que tinha sido evacuado para o HMP(Lisboa) e era Nascimento.
Este José Martins podia ser outro militar (outra patente) que tivesse estado comigo em CUTIA? Talvez.
Mas agora compreendo um recado que recebi vai para 2 semanas de pessoal que tinha a fazer-me pinturas na casa da Costa Nova. Disseram-me que tinham atendido nessa minha casa um telefonema duma pessoa que queria falar comigo e dizia que estava a falar da China. Evidentemente que julguei ser engano ou brincadeira, até porque na Costa só lá estou no verão.
Mas podes deixar então o telefone + 351 234 321 519 para ver se ele me liga para Ílhavo.
Abraço
3. Segunda mensagem, alvoraçada, do Jorge, com data de hoje:
Luís:
Levantei-me da cama, porque às voltas com a resposta que te enviei antes de me deitar, não me deixava adormecer e finalmente fez-se luz cá no caco.
Respondi trocando o Natal de 71 pelo de 70.
Em 1971 passei o Natal, como disse no Poste, no Bachile na área do CAOP 1 e quem lá estava era a CCaç 16, que provavelmente tinha por Capitão o tal José Martins. Deve ser isso, por que eu não me lembrava se era uma CCaç Continental ou Africana e o camarada José Camara, que está emigrado nos USA desde 1973, é que me disse que no Bachile estava essa CCaç 16.
AB
Jorge
____
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste anterior desta série O Mundo é pequeno... > 19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4215: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (7): Luís Borrega, visitante um milhão (Luís Borrega)
(**) Vd. poste de 11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3597: O meu Natal no mato (13): De Cutia (1970) ao CAOP1, em Teixeira Pinto (1971) (Jorge Picado, ex-Cap Mil)
(...) Na segunda época [ 1971,] só me recordo das Festas Natalícias.
A noite da Consoada passei-a, em representação do CAOP 1, no Destacamento do BACHILE, situado um pouco a Norte de TEIXEIRA PINTO na estrada para o CACHEU cujos trabalhos de reabertura e pavimentação decorriam nessa altura um pouco mais a Norte.
Neste aquartelamento estava pelo menos (não tenho a certeza se havia igualmente uma CCaç Africana) uma CCaç cujo Cmdt era o Cap Mil do QC Branco (em 1974, antes do 25ABRIL, vim a reencontrá-lo na minha terra onde veio morar, enquanto esteve colocado no RI de Aveiro onde apanhou a revolução, na qual esteve enquadrado) e que não tenho a certeza se seria a 3461, mas pertencia ao BCaç 3863 que tinha chegado ao Chão Manjaco em 20H30 do dia 24 de Outubro de 1971.
Não resisto a transcrever o que o camarada António Graça Abreu [, na foto à esquerda, em Pequim, c. 1980] que chegou ao CAOP 1 cerca de 5 meses depois de eu o ter deixado, escreveu no seu DIÁRIO DA GUINÉ (***) sobre o BACHILE que visitou ao fim de 6 dias.
“O Bachile, um aquartelamento pequeno rodeado por fileiras duplas de arame farpado. Ao lado um reordenamento, isto é, umas dezenas de casas pintadas de branco com telhados de zinco destinadas aos negros que, vindos das zonas libertadas, se apresentam à tropa portuguesa. As casas não estão habitadas.
"O aquartelamento é deplorável. Logo atrás do arame farpado há dezenas e dezenas de bidões cheios de areia rodeando umas tantas tabancas. Depois há telhados em cimento armado cobrindo os tegúrios semi-afundados na terra habitados pelos nossos soldados, uns setenta a oitenta. É a protecção possível contra flagelações e bombardeamentos. E dão uma certa segurança aos homens brancos expatriados na terra dos negros comandados pelo alferes Rocha, …creio ser uma miniatura exemplar de dezenas e dezenas de aquartelamentos portugueses espalhados pela Guiné... ”. (...).
(***) Sobre o nosso camarada António Graça Abreu, reputado sinófilo, que viveu na China nos anos 70/80, tendo entre 1977 e 1983 leccionado Língua e Cultura Portuguesa nas Universidades de Pequim e Shanghai, vd. o poste de 29 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3249: Bibliografia de uma guerra (33): Memórias literárias da Guerra Colonial: Na 5ª feira, todos com o nosso António Graça de Abreu
Guiné 63/74 - P4333: Convívios (128): 3º Encontro da CAÇ 3477 “Os Gringos do Guileje”, dia 6 de Junho, em Mirandela (Amaro Samúdio)
Caro Vinhal,
Que tudo esteja bem contigo e com os teus são os meus desejos.
A C.CAÇ 3477 vai encontrar-se no dia 06 de Junho em Mirandela.
Peço a publicação do programa anexo.
Um Abraço,
A. Samúdio
3º Encontro dos Gringos do “Guileje” CCAÇ 3477
Mirandela, 6 de Junho 2009
Programa
13.00h – Recepção aos participantes no Centro Cultural Municipal de Mirandela pelo Ex. Senhor Presidente da Câmara Municipal, Dr. José Silvano, apresentação do filme da cidade, seguido de Porto de Honra.
13,30h – Descerrar a Placa da passagem dos “GRINGOS DO GUILÉJE” por Mirandela e colocação de uma coroa de flores no Monumento aos Ex. Combatentes do Ultramar.
14,00h – Almoço convívio no Restaurante Flor de Sal, com música ao vivo.
16,00h – Visita á cidade de Mirandela em Comboio Turístico
17,30h – Merenda da despedida, local a combinar
Nota: 32.00 € por pessoa
Onde Dormir:
Residencial Globo tel: 278 248 210 fax: 278 248 871
Residencial Jorge V Tel: 278 265 024 fax: 278 265 025
Quinta Entre Rios – ( Agro – Turismo ) tel: 278 263 160 fax: 278 263 160, quintaentrerios@yahoo.com ou quintaentrerios@sapo.pt
Nota: confirmação até 29 de Maio
Amândio Pires - 932 657 050
Um Abraço
Amândio Pires
(Amaro Samúdio)
Nota de MR:
Vd. último poste da série em:
Guiné 63/74 - P4332: Os Nossos Camaradas Guineenses (8): Braima Baldé, ex-Alf Cmd Graduado, BCA (1938-1975) (Amadu Djaló / Virgínio Briote)
1. O Alferes Comando Graduado Braima Baldé, do BCA - Batalhão de de Comandos Africanos, foi executado pelo PAIGC a seguir à independência, em 1975, em Bambadinca, de acordo com uma lista, já antiga, publicada no nosso blogue pelo nosso camarada, ex-Furriel Comando João Parreira (na foto, à esquerda, em 1965), e confirmada depois por uma outra, do Virgínio Briote, nosso co-editor, baseada no livro de Manuel Amaro Bernardo (*):
Vd. poste de 23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)
(…) Da 1ª Companhia de Comandos Africanos (para além Tenente Justo e do Tenente Jamanca):
Capitão Cmd Zacarias Sayegh;
Tenente Cmd Thomaz Camará (ex-1º cabo cmd 60/E dos Fantasmas – em Cumeré(;
Alferes Cmd Braima Baldé;
Alferes Cmd Demba Tcham Seca;
Alferes Cmd João Uloma ;
Alferes Cmd António Samba Juma Jaló;
1º Sarg Cmd Fodé Baió;
1º Sarg Cmd Fodé Embaló;
2º Sarg Cmd José Manuel Sedjali Embaló;
2º Sarg Cmd Quebá Dabó (...)
Na altura, o nosso editor, Luís Graça, escreveu o seguinte que marcou de maneira inequívoca e definitiva a nossa posição sobre um dossiê fracturante e doloroso:
(...) Texto do João Pareira que, juntamente com o Virgínio Briote e o Mário Dias, representa o melhor da primeira geração de comandos da Guiné, os velhos comandos de Brá, os três mosqueteiros, como eu lhes chamei. Agradeço-lhe o gesto e até a coragem. Não é fácil falar dos nossos mortos, e sobretudo de alguns dos nossos mortos. Por pudor, por vergonha, por culpa...
Alguns destes homens com quem o João Parreira, o Mário Dias e o Virgínio Briote privaram e que eram comandos como eles, eu também conheci, circunstancialmente: refiro-me aos da 1ª Companhia de Comandos Africanos que foram hóspedes, em Fá, do meu e nosso amigo e camarada Jorge Cabral. Já aqui os evoquei, tal como os vi e conheci em 1970.
Julgo que muitos deles foram heróis, embora perdedores e amorais. Lamento, mesmo assim, que tenham, morrido sem dignidade nem glória. E nem sequer tenham sido enterrados, com a dignidade que qualquer ser humano merece: é uma das 14 obras de misericórdia que constam do Evangelho dos cristãos (São Mateus). Nenhuma revolução ou movimento social pode, de resto, justificar a execução sumária de um ser humano nem a existência de valas comuns....
É importante, por isso, que esta lista seja publicada no nosso blogue: eles fazem parte dos nossos camaradas e dos nossos mortos, mesmo que incómodos, mesmo que alguns de nós tenham criticado o seu comportamento como militares e como homens. De alguma maneira, é como exumar os cadáveres que estão nas valas comuns das nossas guerras civis... (Reparem que os espanhóis ainda não o fizeram, e já não o farão, em relação às vítimas da guerra civil de 1936-39, e nomeadamente às vítimas que morreram às mãos dos vencedores!...).
O nosso gesto, para já, é meramente simbólico. Mas acho que um dia teremos que ir rezar, no Cumeré, no poilão de Bambadinca ou algures na orla de uma bolanha, por estes nossos mortos mal amados... Nossos, de Portugal e da Guiné... Nunca haverá paz na Guiné se os mortos da guerra colonial e das suas sequelas não repousarem em paz...
Os comandos africanos que serviram o Exército Português, que pertenciam ao Exército Português, e foram executados pelo PAIGC (11 da 1ª Companhia, 19 da 2ª e 8 da 3ª, num total de 38), são ainda um assunto tabu, passados mais de 30 anos, sobre o fim da guerra... Por isso, obrigado, João, porque tu, como bom comando ousaste lutar e vencer o velho tabu" (...)
2. O filho do Braima Baldé (que vive em Vialonga, Alverca) mandou em tempos, ao nosso editor, o seguinte mail:
From: Balde Serifo [mailto:serifo_balde@msn.com ]
Sent: quarta-feira, 6 de Fevereiro de 2008 13:00
To: Luís Graça
Subject: Alferes Cmd Braima Baldé
Antes de mais gostaria de lhe felicitar o seu blogue, que tive a felicidade de conhecer.
Sou o filho do Alferes Cmd Braima Baldé, que infelizmente não tive a felicidade de conhecer devido às vicissitudes da guerra.
Gostaria de saber mais coisas sobre ele no caso de o professor ter privado com ele.
Resido em Lisboa, e o meu email é serifo_balde@msn.com,
Telemóvel: 963312294.
Obrigado por tudo, professor, e agradeço muito a sua compreensão (...)
3. Ontem o criador do nosso blogue estava em condições de dar algumas notícias ao Serifo, sobre o pai que ele nunca conheceu:
Meu caro Serifo:
Como lhe acabei de dizer ao telefone, o seu pedido de informações sobre o seu pai, o nosso camarada Braima Baldé, não ficou esquecido. Mais de um ano depois, conseguimos recolher alguma informação, que deve ser nova para si. Trata-se do depoimento de um antigo camarada dele, de seu nome Amadu Djaló, também ele ex-Alferes Comando Graduado, como o seu pai, tendo pertencido ambos ao antigo Batalhão de Comandos Africanos e lutado juntos...
O depoimento foi recolhido pelo meu camarada e amigo, Virgínio Briote, nosso co-editor, antigo Alferes Comando. O Amadu (foto à direita, em Bafatá, em 1966), apesar de uma vida amargurada e atribulada, vive em Lisboa, com duas filhas, tendo tido a sorte de escapar para Portugal, na época pós-independência. É membro, recente, da nossa Tabanca Grande.
Receba as nossas melhores saudações e a certeza de que o seu pai foi um bom guineense, que serviu com lealdade as autoridades portuguesas da época, e que não merecia o destino que os seus miseráveis inimigos lhe deram. Como filho, guarde sempre a melhor memória de seu pai.
Este depoimento será também publicado no nosso blogue, na série Os Nossos Camaradas Guineenses. Espero um dia poder conhecê-lo pessoalmente e apresentá-lo ao Virgínio Briote e ao Amadu Djaló [, foto à esquerda, junto ao Monumento aos Mortos do Ultramar, em Belém]. Sobre este camarada do seu pai e nosso camarada, pode ler no nosso blogue vários textos recentes (**)(...)
Um abraço do fundador e editor do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
Luís Graça
3. Depoimento sobre o Alferes Comando Graduado Braima Baldé, pelo seu camarada Amadu Djaló (nascido em Bafatá, em 1940)
(Recolhido por Virgínio Brione, Lisboa, Maio de 2009; foto à esquerda)
Tinham acabado os comandos do CTIG, em finais de Junho de 1966, e regressei à CCS do Q.G. Uns meses mais tarde, fui transferido para Bafatá, para o BCav 757, conhecido pelo “sete de espadas”, comandado pelo tenente-coronel Moura Cardoso. Foi nessa altura que conheci o Braima.
O Braima era 1º cabo, tal como eu, embora mais antigo dois anos (incorporação de 1960), pertencia à B.A.C. e estava destacado no esquadrão de Bafatá. Não conheço os motivos mas soube que o Braima tinha sido louvado e recebido o prémio Governador da Guiné.
O Braima pertencia à família real do Corubal. A característica mais forte da personalidade dele era ser uma pessoa muito reservada. Quando a gente falava uns com os outros, o Braima podia estar junto de nós, mas era como se não estivesse, especialmente se estivéssemos nas brincadeiras. Nunca ouvi ninguém queixar-se dele.
Em 1969, com a chegada de Spínola, deu-se a formação dos comandos africanos. Primeiro, houve um curso de quadros ministrado em Brá, sob o comando do capitão Barbosa Henriques, de que eu e o Tomás Camará fomos monitores. Foi nessa altura que nos ficámos a conhecer melhor, embora nunca tivéssemos sido amigos íntimos.
Acabado o curso, regressámos às nossas unidades e ficámos a aguardar que nos chamassem para o curso de formação da 1ª CCmds Africanos, da qual, já como furriéis graduados fizemos parte.
O Braima foi graduado em 1º sargento. Entrámos juntos, embora em companhias diferentes. Fomos a Conacri, estivemos em Mansabá a dar o 4º curso de comandos e fomos a Kumbamory, cada um a comandar o seu grupo. Ao Braima calhou-lhe ir no agrupamento onde ia o major Almeida Bruno. Conta-se a história que, nesta operação, o Braima pode ter salvado a vida do major Bruno [, hoje general reformado].
Quando este, de pé, avistou uns militares, chamou-os, julgando que eram nossos. Eram páras senegaleses. O Braima apercebeu-se, gritou-lhe que se abaixasse, e segundos depois foram alvejados com rajadas.
No regresso, já em Guidage, o major Bruno [ antes ajudante de campo do Spínola, depois comandante do BCA] tirou os galões de um alferes europeu e colocou-os nos ombros do Braima.
Quando se deu o 25 de Abril., o PAIGC atribuiu-lhe um cargo numa secretaria em Bambadinca. Não foi só ao Braima, ao alferes Sada Candé, também dos comandos, o PAIGC encarregou-o de uma missão no Senegal.
Tive conhecimento que os dois foram executados, juntamente com muitos outros companheiros nossos, em 1975, em dia e local que desconheço.
4. O Serifo Baldé acaba de nos enviar a seguinte mensagem de agradecimento:
Caro professor:
Muito obrigado por estas informações que me passavam despercebidas, ficarei lhe eternamente grato.
Estarei sempre ao seu dispor assim que o entender..
Mais uma vez, está de parabéns pelo seu blogue, a nossa família (Comandos) agradece.
Um grande abraço, tudo de bom para si e aos seus...
Serifo Baldé
______________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2839: Ainda os Comandos fuzilados a seguir à independência (I): O Justo Nascimento e os outros (Carlos B. Silva / Virgínio Briote)
Vd. postes relacionados:
14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2760: Notas de leitura (8): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros... ou a guerra que não estava perdida (A.Graça de Abreu)
2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2713: Notas de leitura (7): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros: Resposta a um Combatente (M. Amaro Bernardo)
2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2711: Notas de leitura (6): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de M. Amaro Bernardo (Mário Fitas)
31 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2706: Notas de leitura (5): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo (Mário Beja Santos)
30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2318: Notas de leitura (4): Na apresentação de Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80 (Virgínio Briote)
28 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2308: Notas de leitura (3): Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné, de Manuel Amaro Bernardo (Jorge Santos)
19 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P886: Terceiro e último grupo de ex-combatentes fuzilados (João Parreira)
31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXII: Mais ex-combatentes fuzilados a seguir à independência (João Parreira)
27 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCVI: O colaboracionismo sempre teve uma paga (6) (João Parreira)
23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)
6 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIX: Salazar Saliú Queta, degolado pelos homens do PAIGC em Canjadude (José Martins)
(**) Sobre o ex-Alf Cmd graduado Amadu Djaló, vd. postes de:
22 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4067: Os nossos camaradas guineenses (3): Amadu Djaló, Fula de Bafatá, comando da 1ª CCA, preso, exilado... (Virgínio Briote)
25 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4076: Os nossos camaradas guineenses (4): Amadu Djaló, com marcas no corpo e na alma (Virgínio Briote)
27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4086: Os nossos camaradas guineenses (5): O making of do livro do Amadu Djaló, as memórias de um comando africano (Virginio Briote)
29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4102: Os nossos camaradas guineenses (6): Amadu Djaló, as memórias de um comando africano (Virginio Briote)
21 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4229: Os nossos camaradas guineenses (7): Amadu Djaló, as memórias do Comando Africano continuam (Virgínio Briote)
Vd. poste de 23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)
(…) Da 1ª Companhia de Comandos Africanos (para além Tenente Justo e do Tenente Jamanca):
Capitão Cmd Zacarias Sayegh;
Tenente Cmd Thomaz Camará (ex-1º cabo cmd 60/E dos Fantasmas – em Cumeré(;
Alferes Cmd Braima Baldé;
Alferes Cmd Demba Tcham Seca;
Alferes Cmd João Uloma ;
Alferes Cmd António Samba Juma Jaló;
1º Sarg Cmd Fodé Baió;
1º Sarg Cmd Fodé Embaló;
2º Sarg Cmd José Manuel Sedjali Embaló;
2º Sarg Cmd Quebá Dabó (...)
Na altura, o nosso editor, Luís Graça, escreveu o seguinte que marcou de maneira inequívoca e definitiva a nossa posição sobre um dossiê fracturante e doloroso:
(...) Texto do João Pareira que, juntamente com o Virgínio Briote e o Mário Dias, representa o melhor da primeira geração de comandos da Guiné, os velhos comandos de Brá, os três mosqueteiros, como eu lhes chamei. Agradeço-lhe o gesto e até a coragem. Não é fácil falar dos nossos mortos, e sobretudo de alguns dos nossos mortos. Por pudor, por vergonha, por culpa...
Alguns destes homens com quem o João Parreira, o Mário Dias e o Virgínio Briote privaram e que eram comandos como eles, eu também conheci, circunstancialmente: refiro-me aos da 1ª Companhia de Comandos Africanos que foram hóspedes, em Fá, do meu e nosso amigo e camarada Jorge Cabral. Já aqui os evoquei, tal como os vi e conheci em 1970.
Julgo que muitos deles foram heróis, embora perdedores e amorais. Lamento, mesmo assim, que tenham, morrido sem dignidade nem glória. E nem sequer tenham sido enterrados, com a dignidade que qualquer ser humano merece: é uma das 14 obras de misericórdia que constam do Evangelho dos cristãos (São Mateus). Nenhuma revolução ou movimento social pode, de resto, justificar a execução sumária de um ser humano nem a existência de valas comuns....
É importante, por isso, que esta lista seja publicada no nosso blogue: eles fazem parte dos nossos camaradas e dos nossos mortos, mesmo que incómodos, mesmo que alguns de nós tenham criticado o seu comportamento como militares e como homens. De alguma maneira, é como exumar os cadáveres que estão nas valas comuns das nossas guerras civis... (Reparem que os espanhóis ainda não o fizeram, e já não o farão, em relação às vítimas da guerra civil de 1936-39, e nomeadamente às vítimas que morreram às mãos dos vencedores!...).
O nosso gesto, para já, é meramente simbólico. Mas acho que um dia teremos que ir rezar, no Cumeré, no poilão de Bambadinca ou algures na orla de uma bolanha, por estes nossos mortos mal amados... Nossos, de Portugal e da Guiné... Nunca haverá paz na Guiné se os mortos da guerra colonial e das suas sequelas não repousarem em paz...
Os comandos africanos que serviram o Exército Português, que pertenciam ao Exército Português, e foram executados pelo PAIGC (11 da 1ª Companhia, 19 da 2ª e 8 da 3ª, num total de 38), são ainda um assunto tabu, passados mais de 30 anos, sobre o fim da guerra... Por isso, obrigado, João, porque tu, como bom comando ousaste lutar e vencer o velho tabu" (...)
2. O filho do Braima Baldé (que vive em Vialonga, Alverca) mandou em tempos, ao nosso editor, o seguinte mail:
From: Balde Serifo [mailto:serifo_balde@msn.com ]
Sent: quarta-feira, 6 de Fevereiro de 2008 13:00
To: Luís Graça
Subject: Alferes Cmd Braima Baldé
Antes de mais gostaria de lhe felicitar o seu blogue, que tive a felicidade de conhecer.
Sou o filho do Alferes Cmd Braima Baldé, que infelizmente não tive a felicidade de conhecer devido às vicissitudes da guerra.
Gostaria de saber mais coisas sobre ele no caso de o professor ter privado com ele.
Resido em Lisboa, e o meu email é serifo_balde@msn.com,
Telemóvel: 963312294.
Obrigado por tudo, professor, e agradeço muito a sua compreensão (...)
3. Ontem o criador do nosso blogue estava em condições de dar algumas notícias ao Serifo, sobre o pai que ele nunca conheceu:
Meu caro Serifo:
Como lhe acabei de dizer ao telefone, o seu pedido de informações sobre o seu pai, o nosso camarada Braima Baldé, não ficou esquecido. Mais de um ano depois, conseguimos recolher alguma informação, que deve ser nova para si. Trata-se do depoimento de um antigo camarada dele, de seu nome Amadu Djaló, também ele ex-Alferes Comando Graduado, como o seu pai, tendo pertencido ambos ao antigo Batalhão de Comandos Africanos e lutado juntos...
O depoimento foi recolhido pelo meu camarada e amigo, Virgínio Briote, nosso co-editor, antigo Alferes Comando. O Amadu (foto à direita, em Bafatá, em 1966), apesar de uma vida amargurada e atribulada, vive em Lisboa, com duas filhas, tendo tido a sorte de escapar para Portugal, na época pós-independência. É membro, recente, da nossa Tabanca Grande.
Receba as nossas melhores saudações e a certeza de que o seu pai foi um bom guineense, que serviu com lealdade as autoridades portuguesas da época, e que não merecia o destino que os seus miseráveis inimigos lhe deram. Como filho, guarde sempre a melhor memória de seu pai.
Este depoimento será também publicado no nosso blogue, na série Os Nossos Camaradas Guineenses. Espero um dia poder conhecê-lo pessoalmente e apresentá-lo ao Virgínio Briote e ao Amadu Djaló [, foto à esquerda, junto ao Monumento aos Mortos do Ultramar, em Belém]. Sobre este camarada do seu pai e nosso camarada, pode ler no nosso blogue vários textos recentes (**)(...)
Um abraço do fundador e editor do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
Luís Graça
3. Depoimento sobre o Alferes Comando Graduado Braima Baldé, pelo seu camarada Amadu Djaló (nascido em Bafatá, em 1940)
(Recolhido por Virgínio Brione, Lisboa, Maio de 2009; foto à esquerda)
Tinham acabado os comandos do CTIG, em finais de Junho de 1966, e regressei à CCS do Q.G. Uns meses mais tarde, fui transferido para Bafatá, para o BCav 757, conhecido pelo “sete de espadas”, comandado pelo tenente-coronel Moura Cardoso. Foi nessa altura que conheci o Braima.
O Braima era 1º cabo, tal como eu, embora mais antigo dois anos (incorporação de 1960), pertencia à B.A.C. e estava destacado no esquadrão de Bafatá. Não conheço os motivos mas soube que o Braima tinha sido louvado e recebido o prémio Governador da Guiné.
O Braima pertencia à família real do Corubal. A característica mais forte da personalidade dele era ser uma pessoa muito reservada. Quando a gente falava uns com os outros, o Braima podia estar junto de nós, mas era como se não estivesse, especialmente se estivéssemos nas brincadeiras. Nunca ouvi ninguém queixar-se dele.
Em 1969, com a chegada de Spínola, deu-se a formação dos comandos africanos. Primeiro, houve um curso de quadros ministrado em Brá, sob o comando do capitão Barbosa Henriques, de que eu e o Tomás Camará fomos monitores. Foi nessa altura que nos ficámos a conhecer melhor, embora nunca tivéssemos sido amigos íntimos.
Acabado o curso, regressámos às nossas unidades e ficámos a aguardar que nos chamassem para o curso de formação da 1ª CCmds Africanos, da qual, já como furriéis graduados fizemos parte.
O Braima foi graduado em 1º sargento. Entrámos juntos, embora em companhias diferentes. Fomos a Conacri, estivemos em Mansabá a dar o 4º curso de comandos e fomos a Kumbamory, cada um a comandar o seu grupo. Ao Braima calhou-lhe ir no agrupamento onde ia o major Almeida Bruno. Conta-se a história que, nesta operação, o Braima pode ter salvado a vida do major Bruno [, hoje general reformado].
Quando este, de pé, avistou uns militares, chamou-os, julgando que eram nossos. Eram páras senegaleses. O Braima apercebeu-se, gritou-lhe que se abaixasse, e segundos depois foram alvejados com rajadas.
No regresso, já em Guidage, o major Bruno [ antes ajudante de campo do Spínola, depois comandante do BCA] tirou os galões de um alferes europeu e colocou-os nos ombros do Braima.
Quando se deu o 25 de Abril., o PAIGC atribuiu-lhe um cargo numa secretaria em Bambadinca. Não foi só ao Braima, ao alferes Sada Candé, também dos comandos, o PAIGC encarregou-o de uma missão no Senegal.
Tive conhecimento que os dois foram executados, juntamente com muitos outros companheiros nossos, em 1975, em dia e local que desconheço.
4. O Serifo Baldé acaba de nos enviar a seguinte mensagem de agradecimento:
Caro professor:
Muito obrigado por estas informações que me passavam despercebidas, ficarei lhe eternamente grato.
Estarei sempre ao seu dispor assim que o entender..
Mais uma vez, está de parabéns pelo seu blogue, a nossa família (Comandos) agradece.
Um grande abraço, tudo de bom para si e aos seus...
Serifo Baldé
______________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2839: Ainda os Comandos fuzilados a seguir à independência (I): O Justo Nascimento e os outros (Carlos B. Silva / Virgínio Briote)
Vd. postes relacionados:
14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2760: Notas de leitura (8): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros... ou a guerra que não estava perdida (A.Graça de Abreu)
2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2713: Notas de leitura (7): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros: Resposta a um Combatente (M. Amaro Bernardo)
2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2711: Notas de leitura (6): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de M. Amaro Bernardo (Mário Fitas)
31 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2706: Notas de leitura (5): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo (Mário Beja Santos)
30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2318: Notas de leitura (4): Na apresentação de Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80 (Virgínio Briote)
28 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2308: Notas de leitura (3): Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné, de Manuel Amaro Bernardo (Jorge Santos)
19 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P886: Terceiro e último grupo de ex-combatentes fuzilados (João Parreira)
31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXII: Mais ex-combatentes fuzilados a seguir à independência (João Parreira)
27 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCVI: O colaboracionismo sempre teve uma paga (6) (João Parreira)
23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)
6 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIX: Salazar Saliú Queta, degolado pelos homens do PAIGC em Canjadude (José Martins)
(**) Sobre o ex-Alf Cmd graduado Amadu Djaló, vd. postes de:
22 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4067: Os nossos camaradas guineenses (3): Amadu Djaló, Fula de Bafatá, comando da 1ª CCA, preso, exilado... (Virgínio Briote)
25 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4076: Os nossos camaradas guineenses (4): Amadu Djaló, com marcas no corpo e na alma (Virgínio Briote)
27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4086: Os nossos camaradas guineenses (5): O making of do livro do Amadu Djaló, as memórias de um comando africano (Virginio Briote)
29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4102: Os nossos camaradas guineenses (6): Amadu Djaló, as memórias de um comando africano (Virginio Briote)
21 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4229: Os nossos camaradas guineenses (7): Amadu Djaló, as memórias do Comando Africano continuam (Virgínio Briote)
terça-feira, 12 de maio de 2009
Guiné 63/74 - P4331: Convívios (127): Comemoração do 39º Aniversário do Regresso do BCAÇ 3832, 9 de Maio p.p., em Monte Real (Belarmino Sardinha)
Caros Camaradas e Editores,
Conforme o anúncio divulgado no blogue, embora os organizadores se tivessem esforçado em enviar individualmente essa informação, ocorreu o reencontro de alguns camaradas, para comemorarem o 39º aniversário do regresso do BCAÇ 3832 da Guiné e do seu regresso a casa.
Os que puderam, souberam e/ou quiseram es tiveram presentes, o que proporcionou um almoço a 109 participantes, segundo informação dos organizadores.
Houve ainda lanche e quase ceia, cheia estava pelo menos a barriga, porque nada faltou, que eu desse por isso e a festa durou até às tantas. Pelas 21H30 ainda lá se encontravam mais de metade dos participantes, sendo certo que vários pernoitavam no local.
Aproveito para enviar algumas fotos, cujos nomes me escuso a indicar, não só por ser difícil conseguir lembrar-me dos nomes de todos, o que poderia ser discriminatório, mas porque além disso me parece ser mais significativo mostrar-lhes o aspecto após passados estes anos e registar para a posteridade os que estiveram presentes.
Certo de que ao reconhecerem-se na fotografia me desculparão, pois caso contrário só acertaremos contas para o ano, seguem as mesmas. O encontro ou concentração efectuou-se no Parque Olímpio Duarte Alves,em Monte Real e o Almoço no Restaurante da Pensão Cozinha Portuguesa a publicidade é apenas para registo do local).
Tendo sido eu militar de rendição individual sem vínculo a qualquer Batalhão ou Companhia, considero-me um penetra mas daqueles que são sempre convidados como se fizesse parte daquela família. Resta-me esta forma de colaboração para mostrar o meu reconhecimento.
Os Homens do BCAÇ 3832 Os Homens e as Famílias do BCAÇ 3832
A concentraçãs das "tropas" masculinas & femininas
O Bolo de Aniversário - Intervenção do ex-Capitão Leal (Tenente Coronel na reforma) então comandante da Cia. 3304
Um abraço para todos
(Belarmino Sardinha)
__________
Nota de MR:
Vd. último poste da série em:
Guiné 63/74 - P4330: Bibliografia de uma guerra (44): Memórias de um Prisioneiro de Guerra, de António Júlio Rosa (M. Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (*), ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70, com data de 27 de Abril de 2009:
Carlos e Luís,
Conforme o combinado, fiz a recensão do livro do António Júlio Rosa para a nossa bibliografia.
Com abraço,
Mário
Memórias de um prisioneiro de guerra
Beja Santos
As três guerras em que participámos em África, entre 1961 e 1974, não só definiram a identidade do país que hoje somos como deixaram marcas indeléveis nos que combateram, nos que se estropiaram, nos que vieram traumatizados pelas diferentes manifestações de horror que qualquer guerra comporta. Porque matamos, vemos e ouvimos morrer, porque fechámos os olhos ao nosso camarada que exalou o último suspiro ao nosso lado ou, mais remotamente, porque ficámos prisioneiros ou alguém desapareceu à nossa volta e veio a ficar refém do inimigo. Tivemos poucos prisioneiros de guerra e as suas histórias devem ser conhecidas.
António Júlio Rosa, nascido em Abrunhosa-a-Velha, povoação do conselho de Mangualde, parte com vinte anos para Mafra, tem o sétimo ano de liceu, vai frequentar o curso para oficiais milicianos. É um jovem tímido que regista a magnificência do Convento de Mafra, vai ao cinema da vila ver os filmes musicais de Giani Morandi, sentiu gosto na preparação física, no fim da recruta foi para Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, tirar a especialidade. Também não desgostou da atmosfera do quartel, da actividade física e das marchas finais. Em Vendas Novas fez 21 anos. Depois, é colocado em Leiria, no Regimento de Artilharia Ligeira n.º 4.
Em Outubro está mobilizado para servir na Guiné, embarcará no dia 10 de Dezembro de 1967 no “Alfredo da Silva”. Em 3 de Fevereiro, de 1968 cairá nas mãos de uma força atacante do PAIGC que viera flagelar Bissássema, perto de Tite. O relato deste calvário constitui as “Memórias de um Prisioneiro de Guerra”, por António Júlio Rosa, Campo das Letras, 2003.
É um depoimento que cativa pela sua singeleza e simplicidade, é um abrir do coração para relatar páginas de um tempo vivido entre a ignomínia e a expectativa de um regresso a Portugal. Trata-se de um relato comedido, de quem teve tempo suficiente para ajustar a contabilidade de um tempo paradoxalmente vazio, onde se montava a engrenagem de uma fuga e se esperava um quase milagre de um regresso, fosse qual fosse o pretexto.
António Júlio Rosa foi em rendição individual, foi bem acolhido pelo Batalhão de Tite, gostou do seu Comandante de Companhia, o Capitão Miliciano Costa, juiz de profissão. Começou a descobrir a guerra local, os riscos, os usos e costumes, fez os primeiros patrulhamentos, até que chegou a hora de ocupar Bissássema. Recebeu como missão ir com o seu pelotão e mais dois de milícias (um de Tite e outro de Empada) conquistar e ocupar Bissássema, então ocupada pelo inimigo.
Ocupar Bissássema não parecia ser muito difícil. Tratava-se de uma tabanca de onde as forças do PAIGC tinham desaparecido sem deixar rasto, os 70 homens entraram sem problemas e logo começaram a construir abrigos e planear um sistema defensivo, durante dias foi um enorme movimento de enxadas, pás e motosserras, já que era bastante grande a área para defender. Pela meia-noite começou um ataque do PAIGC, meia hora depois o tiroteio parecia ter acabado. Foi esperança de pouca dura, pois logo a seguir começou um novo ataque, a força do PAIGC entrou dentro do quartel lançando granadas e semeando o pânico. Abalado com a explosão de uma granada, António Rosa e dois soldados foram apanhados à mão. Na madrugada do dia 3 de Janeiro de 1968 ele passou a prisioneiro de guerra e levado para a Guiné-Conacri.
Primeiro, o estupor da captura, a confusão de partir dentro do mato denso, o chegar a uma base inimiga e ser fechado numa pequena casa de mato. Depois, os primeiros interrogatórios, António Rosa ainda tenta ocultar o posto, será depois denunciado pela carteira com o bilhete de identidade militar que levava no seu saco de campanha. Em seguida, uma nova marcha passando por diferentes acabamentos, novos interrogatórios, em que o prisioneiro vai descobrindo que os guerrilheiros recebiam apoios dentro das povoações onde operavam as tropas portuguesas.
Ele escreve: “O Vicente, um dos chefes da base, mostrou-nos, como muito orgulho, tabaco Marlboro e sabonetes Lux que a irmã lhe tinha enviado nos últimos dias da povoação de Tite. Aquela sua irmã era esposa do Jamilo, o proprietário do único café existente na povoação da sede do meu batalhão. Se enviavam encomendas, também era certo, mas não sabido, que forneciam todo o tipo de informações acerca da nossa tropa. Naquele teatro de guerra, como é que poderíamos saber quem nos apoiava verdadeiramente?”.
Novas marchas forçadas, os prisioneiros vêem à noite a iluminação de quartéis portugueses nesta região Sul, atravessam o corredor de Guilege, terão percorrido cerca de 200 km a pé em 6 dias, atravessaram a fronteira, subiram para uma camioneta e chegaram a Boké. É aqui que conversam com Nino, então comandante da zona Sul, e daqui partiram para Conacri onde foram recebidos por Amílcar Cabral. Mais tarde, partiram daqui para a prisão de Kindia onde o alferes Rosa vai encontrar Lobato, um piloto da Força Aérea que ali estava há 4 anos como prisioneiro.
Foi assim que começou a vida de cativeiro, com tempos mortos, algum ódio e muita hostilidade dos guardas. O alferes Rosa conhece o furriel Vaz. Será com Vaz e Lobato que Rosa vai começar a gizar um plano de evasão. Kindia era uma prisão para gente considerada perigosa. Os três começam a estudar as possibilidades de se evadirem, pensaram em fugir de avião, furtarem uma viatura, fugir a pé. Os dias passavam lentamente, havia tempo para ponderar todos os pormenores para ter sucesso em alcançar de novo a Guiné. E em 3 de Março de 1969 o plano de fuga é posto em prática. Inicialmente, tudo correu muito bem, internaram-se na floresta, passaram perto de aldeias, comeram fruta, viveram todas as privações possíveis. Ao fim de 6 dias, foram capturados. Desta vez não foram para Kindia mas para Conacri. Inicia-se agora um novo período (de vinte meses) de cativeiro.
Novos ódios, novos interrogatórios, chegam notícias da família, António Rosa vem a saber que já não é filho único, acabara de nascer um irmão. António Rosa regista no meio deste tratamento duríssimo a boa educação de Vasco Cabral que sempre os tratará com cortesia, em todas as circunstâncias. Na noite de 21 de Novembro de 1970, no decurso da operação “Mar Verde”, os prisioneiros portugueses na Guiné-Conacri irão ser libertados e transportados em navios de guerra até aos Bijagós e daqui para Bissau. Farão a viagem num avião militar DC6 até Lisboa.
Segue-se o regresso a Abrunhosa-a-Velha, mais tarde em Mangualde António Rosa irá leccionar Educação Física e depois tirará o curso de professor no Instituto Superior de Educação Física. Irá efectivar-se na Escola Secundária D. Dinis.
António Rosa exerceu o dever de memória. Ele e todos os outros prisioneiros que participaram em experiências de amargura e elevado conflito, merecem-nos esta narrativa de um sofrimento que não pode ser iludido ou ignorado.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4269: Agenda Cultural (11): Ciclo de Encontros Guerra Colonial: Realidade e Ficção - Alverca do Ribatejo (Beja Santos)
Vd. último poste da série de 25 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3936: Bibliografia de uma Guerra (43): 14.º Volume da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (V. Briote)
Carlos e Luís,
Conforme o combinado, fiz a recensão do livro do António Júlio Rosa para a nossa bibliografia.
Com abraço,
Mário
Memórias de um prisioneiro de guerra
Beja Santos
As três guerras em que participámos em África, entre 1961 e 1974, não só definiram a identidade do país que hoje somos como deixaram marcas indeléveis nos que combateram, nos que se estropiaram, nos que vieram traumatizados pelas diferentes manifestações de horror que qualquer guerra comporta. Porque matamos, vemos e ouvimos morrer, porque fechámos os olhos ao nosso camarada que exalou o último suspiro ao nosso lado ou, mais remotamente, porque ficámos prisioneiros ou alguém desapareceu à nossa volta e veio a ficar refém do inimigo. Tivemos poucos prisioneiros de guerra e as suas histórias devem ser conhecidas.
António Júlio Rosa, nascido em Abrunhosa-a-Velha, povoação do conselho de Mangualde, parte com vinte anos para Mafra, tem o sétimo ano de liceu, vai frequentar o curso para oficiais milicianos. É um jovem tímido que regista a magnificência do Convento de Mafra, vai ao cinema da vila ver os filmes musicais de Giani Morandi, sentiu gosto na preparação física, no fim da recruta foi para Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, tirar a especialidade. Também não desgostou da atmosfera do quartel, da actividade física e das marchas finais. Em Vendas Novas fez 21 anos. Depois, é colocado em Leiria, no Regimento de Artilharia Ligeira n.º 4.
Em Outubro está mobilizado para servir na Guiné, embarcará no dia 10 de Dezembro de 1967 no “Alfredo da Silva”. Em 3 de Fevereiro, de 1968 cairá nas mãos de uma força atacante do PAIGC que viera flagelar Bissássema, perto de Tite. O relato deste calvário constitui as “Memórias de um Prisioneiro de Guerra”, por António Júlio Rosa, Campo das Letras, 2003.
É um depoimento que cativa pela sua singeleza e simplicidade, é um abrir do coração para relatar páginas de um tempo vivido entre a ignomínia e a expectativa de um regresso a Portugal. Trata-se de um relato comedido, de quem teve tempo suficiente para ajustar a contabilidade de um tempo paradoxalmente vazio, onde se montava a engrenagem de uma fuga e se esperava um quase milagre de um regresso, fosse qual fosse o pretexto.
António Júlio Rosa foi em rendição individual, foi bem acolhido pelo Batalhão de Tite, gostou do seu Comandante de Companhia, o Capitão Miliciano Costa, juiz de profissão. Começou a descobrir a guerra local, os riscos, os usos e costumes, fez os primeiros patrulhamentos, até que chegou a hora de ocupar Bissássema. Recebeu como missão ir com o seu pelotão e mais dois de milícias (um de Tite e outro de Empada) conquistar e ocupar Bissássema, então ocupada pelo inimigo.
Ocupar Bissássema não parecia ser muito difícil. Tratava-se de uma tabanca de onde as forças do PAIGC tinham desaparecido sem deixar rasto, os 70 homens entraram sem problemas e logo começaram a construir abrigos e planear um sistema defensivo, durante dias foi um enorme movimento de enxadas, pás e motosserras, já que era bastante grande a área para defender. Pela meia-noite começou um ataque do PAIGC, meia hora depois o tiroteio parecia ter acabado. Foi esperança de pouca dura, pois logo a seguir começou um novo ataque, a força do PAIGC entrou dentro do quartel lançando granadas e semeando o pânico. Abalado com a explosão de uma granada, António Rosa e dois soldados foram apanhados à mão. Na madrugada do dia 3 de Janeiro de 1968 ele passou a prisioneiro de guerra e levado para a Guiné-Conacri.
Primeiro, o estupor da captura, a confusão de partir dentro do mato denso, o chegar a uma base inimiga e ser fechado numa pequena casa de mato. Depois, os primeiros interrogatórios, António Rosa ainda tenta ocultar o posto, será depois denunciado pela carteira com o bilhete de identidade militar que levava no seu saco de campanha. Em seguida, uma nova marcha passando por diferentes acabamentos, novos interrogatórios, em que o prisioneiro vai descobrindo que os guerrilheiros recebiam apoios dentro das povoações onde operavam as tropas portuguesas.
Ele escreve: “O Vicente, um dos chefes da base, mostrou-nos, como muito orgulho, tabaco Marlboro e sabonetes Lux que a irmã lhe tinha enviado nos últimos dias da povoação de Tite. Aquela sua irmã era esposa do Jamilo, o proprietário do único café existente na povoação da sede do meu batalhão. Se enviavam encomendas, também era certo, mas não sabido, que forneciam todo o tipo de informações acerca da nossa tropa. Naquele teatro de guerra, como é que poderíamos saber quem nos apoiava verdadeiramente?”.
Novas marchas forçadas, os prisioneiros vêem à noite a iluminação de quartéis portugueses nesta região Sul, atravessam o corredor de Guilege, terão percorrido cerca de 200 km a pé em 6 dias, atravessaram a fronteira, subiram para uma camioneta e chegaram a Boké. É aqui que conversam com Nino, então comandante da zona Sul, e daqui partiram para Conacri onde foram recebidos por Amílcar Cabral. Mais tarde, partiram daqui para a prisão de Kindia onde o alferes Rosa vai encontrar Lobato, um piloto da Força Aérea que ali estava há 4 anos como prisioneiro.
Foi assim que começou a vida de cativeiro, com tempos mortos, algum ódio e muita hostilidade dos guardas. O alferes Rosa conhece o furriel Vaz. Será com Vaz e Lobato que Rosa vai começar a gizar um plano de evasão. Kindia era uma prisão para gente considerada perigosa. Os três começam a estudar as possibilidades de se evadirem, pensaram em fugir de avião, furtarem uma viatura, fugir a pé. Os dias passavam lentamente, havia tempo para ponderar todos os pormenores para ter sucesso em alcançar de novo a Guiné. E em 3 de Março de 1969 o plano de fuga é posto em prática. Inicialmente, tudo correu muito bem, internaram-se na floresta, passaram perto de aldeias, comeram fruta, viveram todas as privações possíveis. Ao fim de 6 dias, foram capturados. Desta vez não foram para Kindia mas para Conacri. Inicia-se agora um novo período (de vinte meses) de cativeiro.
Novos ódios, novos interrogatórios, chegam notícias da família, António Rosa vem a saber que já não é filho único, acabara de nascer um irmão. António Rosa regista no meio deste tratamento duríssimo a boa educação de Vasco Cabral que sempre os tratará com cortesia, em todas as circunstâncias. Na noite de 21 de Novembro de 1970, no decurso da operação “Mar Verde”, os prisioneiros portugueses na Guiné-Conacri irão ser libertados e transportados em navios de guerra até aos Bijagós e daqui para Bissau. Farão a viagem num avião militar DC6 até Lisboa.
Segue-se o regresso a Abrunhosa-a-Velha, mais tarde em Mangualde António Rosa irá leccionar Educação Física e depois tirará o curso de professor no Instituto Superior de Educação Física. Irá efectivar-se na Escola Secundária D. Dinis.
António Rosa exerceu o dever de memória. Ele e todos os outros prisioneiros que participaram em experiências de amargura e elevado conflito, merecem-nos esta narrativa de um sofrimento que não pode ser iludido ou ignorado.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4269: Agenda Cultural (11): Ciclo de Encontros Guerra Colonial: Realidade e Ficção - Alverca do Ribatejo (Beja Santos)
Vd. último poste da série de 25 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3936: Bibliografia de uma Guerra (43): 14.º Volume da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (V. Briote)
Guiné 63/74 - P4329: Tabanca Grande (139): Francisco Santos, ex-militar da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau, Bafatá - 1963/65)
1. Mensagem de Francisco dos Santos, ex-1.º Cabo da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65, com data de 29 de Abril de 2009:
Novo tabanqueiro
Francisco dos Santos, nado a 15/12/42 e criado em Sarilhos Grandes, Montijo onde sempre fui fiel como residente, excepto aqueles vinte e três meses de residência forçada na Guiné. Sou casado com a minha sempre querida Emília [Mila para os amigos], tenho sessenta e seis anos de idade, duas filhas e três netos. Sou reformado, fui motorista, hoje dedico-me à família e à Academia Musical União e Trabalho de Sarilhos Grandes, da qual faço parte dos órgãos directivos e tenho como hobby a escrita, ou por outra, o bichinho da poesia popular.
Embarquei para a Guiné no navio mercante "Ana Mafalda" integrando a Companhia de Caçadores 557 em 27/11/1963, desembarquei em Bissau a 3/12/1963, onde a Companhia 557 substitui transitoriamente a CCaç 556 no dispositivo do BCaç 600, com vista à segurança e protecção das instalações e das populações da área da Ilha de Bissau até à chegada da CArt 349.
Com vista a Operação Tridente em a CCaç 557 foi deslocada para Catió a fim de integrar as forças postas à disposição do BCav 490, o meu pelotão foi desanexado da 557 que esteve durante a operação na ocupação do Cachil e o meu pelotão em Cauane e Caiar integrado nas forças do BCAV 490.
Terminada a Operação Tridente fui despejado no isolamento do Cachil onde permaneci até 27/11/64 rendido pela companhia de CCaç 728.
A 557 regressou a Bissau tendo assumido a missão de segurança e protecção das instalações e das populações da área em substituição da CCaç 594, ficando então na dependência do BCaç 600.
Entre 7 e 10 de Maio de 1965 por rotações com a CCaç 412, assumiu a CCaç 557 a responsabilidade do subsector de Bafatá, com um pelotão destacado em Cantacunda outro em Camamude e um secção no Geba.
Em 27/09/65 embarquei no navio mercante "Niassa" de regresso a Portugal, desembarquei em Lisboa, Cais da Fundição em 03/10/65.
Com o pagamento da jóia e quotas se apresenta o novo tabanqueiro Francisco do Santos.
Para o blogue os meus segundos versos uma vez que o Colaço já fez com que fossem publicados os primeiros (*).
Desde o RAL3 em Évora, até ao cais da Fundição em Lisboa
Foi no RI16 formada
Sim, falo dela outra vez
Por 557 baptizada
Foi a partir do RAL3
De Évora até ao Barreiro
Se não me falha a memória
O combóio foi o primeiro
Transporte da nossa história
A viagem até foi boa
Onde a ansiedade escalda
Do Barreiro até Lisboa
Depois o Ana Mafalda
Pois foi este o navio
Que à Guiné nos levou
Depois de largar o rio
O oceano atravessou
Chegámos àquela terra
Para nós tudo diferente
para além da dita guerra
Outros hábitos outra gente
E a Bissau se chegou
Depois foi o dia a dia
O que mais nos impressionou
Foi a miséria que havia
Longe está a nossa partida
De regresso ao nosso lar
um por todos p´la vida
É a mensagem a passar
Nesta missão encontrámos
Obstáculos a contornar
Alguns meses ali passámos
Que pareciam não acabar
Depois fomos parar
Ao Como e ficamos sós
P´ra lutar e trabalhar
na defesa de todos nós
Com o moral nada em cima
Havia alguns requisitos
É que para além do clima
Era a luta dos mosquitos
Não havia água pura
Onde estava a Companhia
Só havia com fartura
Na época em que chovia
Não usávamos só a manha
Nas estratégias inimigas
Tínhamos a dura bolanha
Matacanhas e formigas
Era tiro e morteirada
Mas tudo isso se alterou
Quando uma bazucada
Na palissada esbarrou
Pouco depois para já
Diminuiu a pressão
Porque a norte em Bafatá
Iria terminar a missão
Tivemos como baluarte
Um excelente capitão
Connosco em qualquer parte
Nunca fugiu à razão
Chegámos ao fim da missão
Voltamos à terra natal
Desembarcámos na Fundição
Em Lisboa, Portugal !!!
Um alfa bravo para todos os tabanqueiros
Francisco dos Santos.
Francisco Santos, 1.º Cabo da CCAÇ 557
Francisco Santos na actualidade
2. Comentário de CV:
Caro Francisco Santos
Desculpa teres ficado um pouco de tempo à espera para entrares na oficialmente na Tabanca, mas tem havido alguma aglomeração de trabalho e só há pouco tivemos reforços na equipa editorial. Daqui a uns dias tudo voltará ao normal, esperamos.
Estás em casa, uma vez que já tens uns versos publicados no nosso Blogue, através do teu e nosso camarada José Colaço. Não terás endereço próprio, mas a alternativa do Colaço serve perfeitamente para que cheguem até nós os teus textos, provavelmente a tua especialidade, em verso. Podes anexar também fotos legendadas, pois serão sempre bem-vindas.
Caro Franciso, deixo-te o tradicional abraço da tertúlia e votos de muita saúde.
__________
Comentários de CV:
(*) Vd. poste de1 6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4196: Blogpoesia (39): CCAÇ 557, Missão cumprida na Guiné (José Colaço/Francisco dos Santos)
Vd. último poste da série de 11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4322: Tabanca Grande (138): José Carlos Neves, ex-Soldado Radiotelegrafista do STM, Cufar, 1974
Novo tabanqueiro
Francisco dos Santos, nado a 15/12/42 e criado em Sarilhos Grandes, Montijo onde sempre fui fiel como residente, excepto aqueles vinte e três meses de residência forçada na Guiné. Sou casado com a minha sempre querida Emília [Mila para os amigos], tenho sessenta e seis anos de idade, duas filhas e três netos. Sou reformado, fui motorista, hoje dedico-me à família e à Academia Musical União e Trabalho de Sarilhos Grandes, da qual faço parte dos órgãos directivos e tenho como hobby a escrita, ou por outra, o bichinho da poesia popular.
Embarquei para a Guiné no navio mercante "Ana Mafalda" integrando a Companhia de Caçadores 557 em 27/11/1963, desembarquei em Bissau a 3/12/1963, onde a Companhia 557 substitui transitoriamente a CCaç 556 no dispositivo do BCaç 600, com vista à segurança e protecção das instalações e das populações da área da Ilha de Bissau até à chegada da CArt 349.
Com vista a Operação Tridente em a CCaç 557 foi deslocada para Catió a fim de integrar as forças postas à disposição do BCav 490, o meu pelotão foi desanexado da 557 que esteve durante a operação na ocupação do Cachil e o meu pelotão em Cauane e Caiar integrado nas forças do BCAV 490.
Terminada a Operação Tridente fui despejado no isolamento do Cachil onde permaneci até 27/11/64 rendido pela companhia de CCaç 728.
A 557 regressou a Bissau tendo assumido a missão de segurança e protecção das instalações e das populações da área em substituição da CCaç 594, ficando então na dependência do BCaç 600.
Entre 7 e 10 de Maio de 1965 por rotações com a CCaç 412, assumiu a CCaç 557 a responsabilidade do subsector de Bafatá, com um pelotão destacado em Cantacunda outro em Camamude e um secção no Geba.
Em 27/09/65 embarquei no navio mercante "Niassa" de regresso a Portugal, desembarquei em Lisboa, Cais da Fundição em 03/10/65.
Com o pagamento da jóia e quotas se apresenta o novo tabanqueiro Francisco do Santos.
Para o blogue os meus segundos versos uma vez que o Colaço já fez com que fossem publicados os primeiros (*).
Desde o RAL3 em Évora, até ao cais da Fundição em Lisboa
Foi no RI16 formada
Sim, falo dela outra vez
Por 557 baptizada
Foi a partir do RAL3
De Évora até ao Barreiro
Se não me falha a memória
O combóio foi o primeiro
Transporte da nossa história
A viagem até foi boa
Onde a ansiedade escalda
Do Barreiro até Lisboa
Depois o Ana Mafalda
Pois foi este o navio
Que à Guiné nos levou
Depois de largar o rio
O oceano atravessou
Chegámos àquela terra
Para nós tudo diferente
para além da dita guerra
Outros hábitos outra gente
E a Bissau se chegou
Depois foi o dia a dia
O que mais nos impressionou
Foi a miséria que havia
Longe está a nossa partida
De regresso ao nosso lar
um por todos p´la vida
É a mensagem a passar
Nesta missão encontrámos
Obstáculos a contornar
Alguns meses ali passámos
Que pareciam não acabar
Depois fomos parar
Ao Como e ficamos sós
P´ra lutar e trabalhar
na defesa de todos nós
Com o moral nada em cima
Havia alguns requisitos
É que para além do clima
Era a luta dos mosquitos
Não havia água pura
Onde estava a Companhia
Só havia com fartura
Na época em que chovia
Não usávamos só a manha
Nas estratégias inimigas
Tínhamos a dura bolanha
Matacanhas e formigas
Era tiro e morteirada
Mas tudo isso se alterou
Quando uma bazucada
Na palissada esbarrou
Pouco depois para já
Diminuiu a pressão
Porque a norte em Bafatá
Iria terminar a missão
Tivemos como baluarte
Um excelente capitão
Connosco em qualquer parte
Nunca fugiu à razão
Chegámos ao fim da missão
Voltamos à terra natal
Desembarcámos na Fundição
Em Lisboa, Portugal !!!
Um alfa bravo para todos os tabanqueiros
Francisco dos Santos.
Francisco Santos, 1.º Cabo da CCAÇ 557
Francisco Santos na actualidade
2. Comentário de CV:
Caro Francisco Santos
Desculpa teres ficado um pouco de tempo à espera para entrares na oficialmente na Tabanca, mas tem havido alguma aglomeração de trabalho e só há pouco tivemos reforços na equipa editorial. Daqui a uns dias tudo voltará ao normal, esperamos.
Estás em casa, uma vez que já tens uns versos publicados no nosso Blogue, através do teu e nosso camarada José Colaço. Não terás endereço próprio, mas a alternativa do Colaço serve perfeitamente para que cheguem até nós os teus textos, provavelmente a tua especialidade, em verso. Podes anexar também fotos legendadas, pois serão sempre bem-vindas.
Caro Franciso, deixo-te o tradicional abraço da tertúlia e votos de muita saúde.
__________
Comentários de CV:
(*) Vd. poste de1 6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4196: Blogpoesia (39): CCAÇ 557, Missão cumprida na Guiné (José Colaço/Francisco dos Santos)
Vd. último poste da série de 11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4322: Tabanca Grande (138): José Carlos Neves, ex-Soldado Radiotelegrafista do STM, Cufar, 1974
Guiné 63/74 - P4328: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (7): Atolado no Mato Cão, com a CCAÇ 1439, a madeirense do Enxalé
Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Outubro ou Setembro de 1966 > Uma coluna de 3 Unimogues, da CCAÇ 1439 (Enxalé, 1965/67), a caminho de Missirá, passando por Mato Cão... Um pesadelo, no tempo das chuvas. Temos de reconhecer que eram umas máquinas fantásticas, possantes, flexíveis... Nunca nos deixavam mal, a não ser debaixo de uma mina A/C...
Fotos do soldado Leiria, da CCAÇ 1439, gentilmente cedidas ao ex-Alf Mil Henrique Matos, comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé e Porto Gole, 1966/68). Recorde-se que o Henrique Matos, depois de chegar à Guiné, em Agosto de 1966, foi fazer o IAO a Bolama, para depois ser embarcado numa LDM e despejado no Enxalé, ferebte ao Xime, "ficando em reforço à CCAÇ 1439, independente, de madeirenses, adstrita ao BCAÇ 1888, sediado em Bambadinca".
Fotos: © Henrique Matos (2009). Direitos reservados
1. Mensagem do Henrique Matos, 1º comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68):
Caro Luís e co-editores (ainda a tempo de dar as boas-vindas ao novo co-editor, o Eduardo)
Estando Mato Cão na berra com a última estória do Jorge (sempre surpeendente) e do Mexia Alves sobre o Bu...rako onde esteve com os nharros do 52 que eu ensinei e da bolanha que havia ao lado (**), mando uma fotos da estrada (?) que atravessava a mesma bolanha e por onde tínhamos de passar (penso que era por quinzena ou à semana, já não me recordo...) para levar reabastecimentos ao destacamento de Missirá ou quando precisavamos de ir à sede do Batalhão em Bambadinca.
Estas fotos, de que já não me lembrava, foram-me cedidadas pelo Leiria que era Condutor, no passado dia 9 no encontro da CCaç 1439 que se realizou na Praia da Vieira. Trata-se de uma coluna que fiz a Missirá, em Setembro ou Outubro de 1966 (época das chuvas), constituida por 3 Unimogues, única viatura que passava naquelas condições.
Na 1ª estou no Unimogue da frente (sou o único de camuflado novo, ainda era periquito). Repare-se que este Unimogue tinha guincho, uma peça fundamental quando ficávamos atascados. Na 2ª estou ali na frente a ver não sei o quê, e a 3ª é para apreciar a navegação da viatura.
Aproveito para enviar uma foto do encontro que já referi, onde só apareceram 8 elementos e respectivas famílias. O nono sou eu que apenas fui para o Enxalé reforçar a companhia, já eles tinham mais de meia comissão. Embora sejam uns jarretas (foi mesmo o que lhes chamei) que não vão à Internet, os filhos prometeram mostrar a foto aos pais.
Praia da Vieira, Vieira de Leiria, Marinha Grande > 9 de Maio de 2009 > Convívio da malta da CCAÇ 1439 (Enxalé, 1965/67). O Henrique Matos é o segundo a contar da direita.
Foto: © Henrique Matos (2009). Direitos reservados
Só uma nota final: Falava-se no meu tempo que a origem do nome Mato Cão ou Mato de Cão se devia à existência naquela zona de muitos babuínos, mais conhecidos por Macaco Cão. Confirmo, porque os vi às dezenas numas árvores frondosas que lá havia. E quando não havia macacos era mau sinal, havia gente por perto (**).
Agora façam disto o que entenderem.
Como sempre, aquele abraço e até à Ortigosa [, dia 20 de Junho de 2009].
Henrique Matos (***)
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4317: Os Bu... rakos em que vivemos (8): Estância de férias Mato de Cão, junto ao Rio Geba (J. Mexia Alves)
11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4321: Os Bu...rakos em que vivemos (9): No Mato Cão, com o Ten-Cor Polidoro Monteiro, em finais de 1971 (Paulo Santiago)
Vd. também poste de 6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4146: Parabéns a você (3): No dia 6 de Abril de 2009, ao camarigo Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, Guiné 1971/73 (Editores)
(**) Vd. poste de 19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3758: Fauna & flora (13): Macaco cão a ladrar, gente do PAIGC a chegar (Joaquim Mexia Alves)
Vd. também poste de 27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...
(...) Na minha infância e adolescência fiz muitas viagens pelo interior da Guiné-Bissau durante a luta de libertação. Mas o que mais me encantava (70/73), pelas paisagens e desafios, era subir o Rio Geba, nas férias ou mesmo nos fins de semana, num dos barcos de passageiros do meu Pai (o Bubaque, antiga traineira algarvia, adquirida pela Marinha portuguesa e transformada, nos inícios da guerra, em Lancha Patrulha nº4, até ser comprada pelo meu Pai e transformada em navio de transporte, mais popularmente conhecido por Djanta Kú Cia).
A jornada começava com a enchente da maré, passando por Portogole, Ponta Varela, Xime e daqui para a frente quase sempre a rasar as margens, ora de um lado ora de outro, ver passar o Mato Cão e Nhabijões até chegar ao pequeno mas movimentado porto de Bambadinca, onde sempre havia lanchas e batelões.
Não raras vezes, no regresso, saíamos de noite de Bambadinca rezando, tripulantes e passageiros, para que nada acontecesse até passarmos o Mato Cão. Salvo raras ocasiões, as preces foram escutadas. O encanto era absorvente em noites de luar a descer o Geba a favor da maré, com o maquinista a ficar satisfeito, em termos de rotações do motor, só quando via faíscas e fumo espesso a sair da chaminé. Parecia que andávamos numa estrada cheia de curvas tal a velocidade com que descíamos o rio. As apreensões só desapareciam, na última curva, quando víamos as luzes do quartel do Xime. De noite Ponta Varela não constituía perigo. Passávamos a uma razoável distância.
Faço estas referências porque acabei por rever muitas imagens de Bambadinca e das suas gentes, onde passei férias com mais colegas estudantes e ia à caça, idas à boleia em viaturas militares ou civis, sem escoltas até ao Xime para ver o macaréu passar, cambanças para a outra margem do porto de Bambadinca de canoa, visita ao aquartelamento de Nhabijões que muito impressionou pela vetustez das instalações e más condições que facultava. (...)
(***) Vd. postes anteriores da série:
14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2105: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (1): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte I)
14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2107: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (2): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte II)
6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2158: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (3): O famigerado granadero do Enxalé, da CCAÇ 1439 (1965/67)
11 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2173: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (4): O capitão de 2ª linha Abna Na Onça, régulo de Porto Gole
18 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2191: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (5): O baptismo de um periquito no Enxalé
23 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2376: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (6): Insularidade e solidariedade no Natal dos açorianos
Vd. também outros poestes do Henrique Matos:
22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)
3 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2025: O cruzeiro das nossas vidas (7): Viagem até Bolama com direito a escalas em Leixões, Mindelo e Praia (Henrique Matos)
30 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3256: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (5): Lembrando o Ten Pil Av Bettencourt (Henrique Matos)
13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4023: Memória dos lugares (19): Porto Gole, 1966, muito antes das tristes valas comuns... (Henrique Matos)
27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4085: O trauma da notícia da mobilização (4): Ir em rendição individual e, para mais, 'substituir um morto'... (Henrique Matos)
Fotos do soldado Leiria, da CCAÇ 1439, gentilmente cedidas ao ex-Alf Mil Henrique Matos, comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé e Porto Gole, 1966/68). Recorde-se que o Henrique Matos, depois de chegar à Guiné, em Agosto de 1966, foi fazer o IAO a Bolama, para depois ser embarcado numa LDM e despejado no Enxalé, ferebte ao Xime, "ficando em reforço à CCAÇ 1439, independente, de madeirenses, adstrita ao BCAÇ 1888, sediado em Bambadinca".
Fotos: © Henrique Matos (2009). Direitos reservados
1. Mensagem do Henrique Matos, 1º comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68):
Caro Luís e co-editores (ainda a tempo de dar as boas-vindas ao novo co-editor, o Eduardo)
Estando Mato Cão na berra com a última estória do Jorge (sempre surpeendente) e do Mexia Alves sobre o Bu...rako onde esteve com os nharros do 52 que eu ensinei e da bolanha que havia ao lado (**), mando uma fotos da estrada (?) que atravessava a mesma bolanha e por onde tínhamos de passar (penso que era por quinzena ou à semana, já não me recordo...) para levar reabastecimentos ao destacamento de Missirá ou quando precisavamos de ir à sede do Batalhão em Bambadinca.
Estas fotos, de que já não me lembrava, foram-me cedidadas pelo Leiria que era Condutor, no passado dia 9 no encontro da CCaç 1439 que se realizou na Praia da Vieira. Trata-se de uma coluna que fiz a Missirá, em Setembro ou Outubro de 1966 (época das chuvas), constituida por 3 Unimogues, única viatura que passava naquelas condições.
Na 1ª estou no Unimogue da frente (sou o único de camuflado novo, ainda era periquito). Repare-se que este Unimogue tinha guincho, uma peça fundamental quando ficávamos atascados. Na 2ª estou ali na frente a ver não sei o quê, e a 3ª é para apreciar a navegação da viatura.
Aproveito para enviar uma foto do encontro que já referi, onde só apareceram 8 elementos e respectivas famílias. O nono sou eu que apenas fui para o Enxalé reforçar a companhia, já eles tinham mais de meia comissão. Embora sejam uns jarretas (foi mesmo o que lhes chamei) que não vão à Internet, os filhos prometeram mostrar a foto aos pais.
Praia da Vieira, Vieira de Leiria, Marinha Grande > 9 de Maio de 2009 > Convívio da malta da CCAÇ 1439 (Enxalé, 1965/67). O Henrique Matos é o segundo a contar da direita.
Foto: © Henrique Matos (2009). Direitos reservados
Só uma nota final: Falava-se no meu tempo que a origem do nome Mato Cão ou Mato de Cão se devia à existência naquela zona de muitos babuínos, mais conhecidos por Macaco Cão. Confirmo, porque os vi às dezenas numas árvores frondosas que lá havia. E quando não havia macacos era mau sinal, havia gente por perto (**).
Agora façam disto o que entenderem.
Como sempre, aquele abraço e até à Ortigosa [, dia 20 de Junho de 2009].
Henrique Matos (***)
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4317: Os Bu... rakos em que vivemos (8): Estância de férias Mato de Cão, junto ao Rio Geba (J. Mexia Alves)
11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4321: Os Bu...rakos em que vivemos (9): No Mato Cão, com o Ten-Cor Polidoro Monteiro, em finais de 1971 (Paulo Santiago)
Vd. também poste de 6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4146: Parabéns a você (3): No dia 6 de Abril de 2009, ao camarigo Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, Guiné 1971/73 (Editores)
(**) Vd. poste de 19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3758: Fauna & flora (13): Macaco cão a ladrar, gente do PAIGC a chegar (Joaquim Mexia Alves)
Vd. também poste de 27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...
(...) Na minha infância e adolescência fiz muitas viagens pelo interior da Guiné-Bissau durante a luta de libertação. Mas o que mais me encantava (70/73), pelas paisagens e desafios, era subir o Rio Geba, nas férias ou mesmo nos fins de semana, num dos barcos de passageiros do meu Pai (o Bubaque, antiga traineira algarvia, adquirida pela Marinha portuguesa e transformada, nos inícios da guerra, em Lancha Patrulha nº4, até ser comprada pelo meu Pai e transformada em navio de transporte, mais popularmente conhecido por Djanta Kú Cia).
A jornada começava com a enchente da maré, passando por Portogole, Ponta Varela, Xime e daqui para a frente quase sempre a rasar as margens, ora de um lado ora de outro, ver passar o Mato Cão e Nhabijões até chegar ao pequeno mas movimentado porto de Bambadinca, onde sempre havia lanchas e batelões.
Não raras vezes, no regresso, saíamos de noite de Bambadinca rezando, tripulantes e passageiros, para que nada acontecesse até passarmos o Mato Cão. Salvo raras ocasiões, as preces foram escutadas. O encanto era absorvente em noites de luar a descer o Geba a favor da maré, com o maquinista a ficar satisfeito, em termos de rotações do motor, só quando via faíscas e fumo espesso a sair da chaminé. Parecia que andávamos numa estrada cheia de curvas tal a velocidade com que descíamos o rio. As apreensões só desapareciam, na última curva, quando víamos as luzes do quartel do Xime. De noite Ponta Varela não constituía perigo. Passávamos a uma razoável distância.
Faço estas referências porque acabei por rever muitas imagens de Bambadinca e das suas gentes, onde passei férias com mais colegas estudantes e ia à caça, idas à boleia em viaturas militares ou civis, sem escoltas até ao Xime para ver o macaréu passar, cambanças para a outra margem do porto de Bambadinca de canoa, visita ao aquartelamento de Nhabijões que muito impressionou pela vetustez das instalações e más condições que facultava. (...)
(***) Vd. postes anteriores da série:
14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2105: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (1): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte I)
14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2107: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (2): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte II)
6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2158: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (3): O famigerado granadero do Enxalé, da CCAÇ 1439 (1965/67)
11 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2173: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (4): O capitão de 2ª linha Abna Na Onça, régulo de Porto Gole
18 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2191: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (5): O baptismo de um periquito no Enxalé
23 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2376: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (6): Insularidade e solidariedade no Natal dos açorianos
Vd. também outros poestes do Henrique Matos:
22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)
3 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2025: O cruzeiro das nossas vidas (7): Viagem até Bolama com direito a escalas em Leixões, Mindelo e Praia (Henrique Matos)
30 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3256: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (5): Lembrando o Ten Pil Av Bettencourt (Henrique Matos)
13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4023: Memória dos lugares (19): Porto Gole, 1966, muito antes das tristes valas comuns... (Henrique Matos)
27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4085: O trauma da notícia da mobilização (4): Ir em rendição individual e, para mais, 'substituir um morto'... (Henrique Matos)
Guiné 63/74 - P4327: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (7): O saxofone que não tinha sapatilhas
1. Mensagem de Manuel Traquina, ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, com data de 2 de Maio de 2009:
Para publicação no blog envio um texto e uma fotografia.
Abraço
Traquina
O Correio /Os Aerogramas
Em tempo de guerra o correio é sem dúvida uma das coisas mais importantes. Poderemos dizer que em situações difíceis é das poucas coisas que exerce grande efeito psicológico na mente de cada um. É o contacto com a família, com a namorada, com a madrinha de guerra, em suma, muitas vezes o único contacto com o mundo exterior.
Naqueles tempos eram utilizadas as cartas, chamadas tipo papel de avião, cujos envelopes tinham uma pequena orla descontinua a verde e vermelho. Porém, eram mais utilizados os aerogramas que ficavam inteiramente gratuitos, os militares chamavam-lhes os aeros ou bate estradas. Desempenhavam um papel importante, eram oferecidos pelo Movimento Nacional Feminino e, transportados gratuitamente pela TAP.
Por graça, alguns militares tinham o hábito de enviar aerogramas para determinada localidade, dirigidos à menina mais bonita, à menina mais simpática, à jovem mais bela, ou outros do género, dependente da imaginação de cada um. Depois ficava o critério do carteiro, seleccionar ou, para se ver livre de mais um aero, entregar na rua, a quem muito bem entendesse.
Desta maneira a brincar, muitos tiveram a habitual madrinha de guerra, a namorada, ou nalguns casos até mesmo esposa! Quero aqui referir e ao mesmo tempo dirigir uma palavra de agradecimento a todas aquelas que foram as nossas Madrinhas de Guerra, umas que mais tarde vieram a ser namoradas e esposas, outras que se ficaram apenas por madrinhas. Naquele ambiente de guerra, é difícil calcular a alegria que se sentia, ao receber uma carta onde por certo vinham palavras acolhedoras e amigas.
Alguns militares endereçavam aeros uns aos outros, e no exterior escreviam contém um gravador. Os gravadores de som tinham feito a sua aparição à pouco tempo e eram uma novidade. Numa época que em Mampatá se trabalhava duramente na abertura de abrigos, alguém terá recebido um aerograma que no exterior dizia, contém uma picareta. Acho que foi mal recebido e rasgado de imediato, é que quem o recebeu estava já com as mãos bastante calejadas pelo uso dessa ferramenta…
A propósito recordo que um militar recebeu resposta a uma mensagem que enviara dentro de uma garrafa, arremessada ao mar quando viajava a bordo do “Niassa”. A resposta que curiosamente não se fez tardar, veio de uma jovem espanhola, (presume-se que de corpo bronzeado desfrutando dos calores mediterrâneos) encontrou a referida garrafa numa praia do sul de Espanha. Sei apenas que se iniciou uma troca de correspondência, que chegou mesmo a namoro!
Também com frequência se escrevia às senhoras do Movimento Nacional Feminino, e pedia-se de tudo. Por vezes lá chegava esta ou aquela oferta.
No Natal de 1968 creio que houve uma oferta a todos os militares, uma pequena embalagem de plástico, que continha um maço de cigarros e um isqueiro a gasolina. Tantos terão sido os pedidos, que um dia tivemos a visita da D.ª Cilinha Supico Pinto.
Esta animada visitante, bastante alegrou os militares reunidos à sua volta na pequena parada do aquartelamento de Buba. Começou por dizer que não fizessem pedidos difíceis de satisfazer. Parece que alguém teria pedido uma namorada, em que era indicada a cor dos cabelos, as medidas da anca, de peito e outras... Mas naquele dia, a ilustre visitante vinha fazer a entrega de um instrumento musical, um saxofone, que o corneteiro da Companhia, o Gentil lhe tinha pedido.
Bastante satisfeito ficou o militar mas, logo a seguir decepcionado. Ao instrumento, já bem usado, faltava aquilo a que se chamam sapatilhas. Mais difícil foi fazer compreender àquela senhora que as sapatilhas (pequenas válvulas do instrumento) faziam falta ao instrumento e não ao militar...
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 12 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4019: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (6): Estrada nova Buba - Aldeia Formosa
Para publicação no blog envio um texto e uma fotografia.
Abraço
Traquina
O Correio /Os Aerogramas
Em tempo de guerra o correio é sem dúvida uma das coisas mais importantes. Poderemos dizer que em situações difíceis é das poucas coisas que exerce grande efeito psicológico na mente de cada um. É o contacto com a família, com a namorada, com a madrinha de guerra, em suma, muitas vezes o único contacto com o mundo exterior.
Naqueles tempos eram utilizadas as cartas, chamadas tipo papel de avião, cujos envelopes tinham uma pequena orla descontinua a verde e vermelho. Porém, eram mais utilizados os aerogramas que ficavam inteiramente gratuitos, os militares chamavam-lhes os aeros ou bate estradas. Desempenhavam um papel importante, eram oferecidos pelo Movimento Nacional Feminino e, transportados gratuitamente pela TAP.
Por graça, alguns militares tinham o hábito de enviar aerogramas para determinada localidade, dirigidos à menina mais bonita, à menina mais simpática, à jovem mais bela, ou outros do género, dependente da imaginação de cada um. Depois ficava o critério do carteiro, seleccionar ou, para se ver livre de mais um aero, entregar na rua, a quem muito bem entendesse.
Desta maneira a brincar, muitos tiveram a habitual madrinha de guerra, a namorada, ou nalguns casos até mesmo esposa! Quero aqui referir e ao mesmo tempo dirigir uma palavra de agradecimento a todas aquelas que foram as nossas Madrinhas de Guerra, umas que mais tarde vieram a ser namoradas e esposas, outras que se ficaram apenas por madrinhas. Naquele ambiente de guerra, é difícil calcular a alegria que se sentia, ao receber uma carta onde por certo vinham palavras acolhedoras e amigas.
Alguns militares endereçavam aeros uns aos outros, e no exterior escreviam contém um gravador. Os gravadores de som tinham feito a sua aparição à pouco tempo e eram uma novidade. Numa época que em Mampatá se trabalhava duramente na abertura de abrigos, alguém terá recebido um aerograma que no exterior dizia, contém uma picareta. Acho que foi mal recebido e rasgado de imediato, é que quem o recebeu estava já com as mãos bastante calejadas pelo uso dessa ferramenta…
A propósito recordo que um militar recebeu resposta a uma mensagem que enviara dentro de uma garrafa, arremessada ao mar quando viajava a bordo do “Niassa”. A resposta que curiosamente não se fez tardar, veio de uma jovem espanhola, (presume-se que de corpo bronzeado desfrutando dos calores mediterrâneos) encontrou a referida garrafa numa praia do sul de Espanha. Sei apenas que se iniciou uma troca de correspondência, que chegou mesmo a namoro!
Também com frequência se escrevia às senhoras do Movimento Nacional Feminino, e pedia-se de tudo. Por vezes lá chegava esta ou aquela oferta.
No Natal de 1968 creio que houve uma oferta a todos os militares, uma pequena embalagem de plástico, que continha um maço de cigarros e um isqueiro a gasolina. Tantos terão sido os pedidos, que um dia tivemos a visita da D.ª Cilinha Supico Pinto.
Esta animada visitante, bastante alegrou os militares reunidos à sua volta na pequena parada do aquartelamento de Buba. Começou por dizer que não fizessem pedidos difíceis de satisfazer. Parece que alguém teria pedido uma namorada, em que era indicada a cor dos cabelos, as medidas da anca, de peito e outras... Mas naquele dia, a ilustre visitante vinha fazer a entrega de um instrumento musical, um saxofone, que o corneteiro da Companhia, o Gentil lhe tinha pedido.
Bastante satisfeito ficou o militar mas, logo a seguir decepcionado. Ao instrumento, já bem usado, faltava aquilo a que se chamam sapatilhas. Mais difícil foi fazer compreender àquela senhora que as sapatilhas (pequenas válvulas do instrumento) faziam falta ao instrumento e não ao militar...
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 12 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4019: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (6): Estrada nova Buba - Aldeia Formosa
Guiné 63/74 - P4326: Estórias cabralianas (49): Cariño mio... Muy cerca de ti, el ultimo subteniente romántico (Jorge Cabral)
1. Mensagem do Jorge Cabral, ex- Alf Mil Art, Pel Caç Nat 63 (Fá e Missirá, 1969/71)
Amigos!
A propósito do Mato Cão (*) aí vai estória.
Luís, prepara o prefácio.
Abração,
Jorge Cabral
2. Estórias cabralianas > Da Enfermeira Cubana aos Tubarões no Geba
Dois dias depois de chegado a Bambadinca em meados de Junho de 69, fui mandado montar segurança no Mato Cão. Periquitíssimo, cumpri todas as regras, vigiando a mata de costas para o rio, sem sequer reparar na beleza da paisagem.
Mal sabia então, que ali havia de voltar dezenas de vezes, durante o ano que passei em Missirá. Pelo menos uma ida por semana para ver passar o Barco, no que se transformou numa quase agradável rotina.
Se a hora era propícia até lá batíamos uma boa sesta e certamente algum turra passeante se surpreendeu com os meus estridentes roncos, os quais numa estória que conto aos miúdos, assustavam os tubarões do Geba.
Tubarões no Geba? Claro que sim!
Pois não relatou o meu avô, militar em Moçambique na Guerra do Mouzinho, que marchou um dia inteiro por cima de uma jibóia?
Aí por Março de 71, chegou-me uma informação mais que duvidosa, mas que eu quis acreditar – em Madina existia uma enfermeira cubana. Ora na altura tinham-me mandado afixar nas árvores do Mato Cão, uns panfletos, convidando os turras à deserção.
Quais turras, quais quê? Eu só pensava na Cubana, que a minha imaginação transformara numa bela andaluza cheia de salero. Ela sim, seria bem-vinda a Missirá.
Assim em vez dos panfletos deixei uma mensagem:
“Se habla español. Mui cerca de ti, Cabral, el último alférez romántico”...
Que terão pensado os guerrilheiros?
Não sei. Mas hoje acredito que foi por esta e por outras que o Missirá do Cabral nunca foi atacado.
Jorge Cabral
3. Comentário de L.G.:
Não resisto, embora quebrando o meu dever de isenção, a fazer um comentário a mais esta estória cabraliana. O Jorge, que na vida real é professor universitário, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, onde coordena a pós-graduação de Criminologia e onde lecciona matérias como Direito Penal, Direito Processual Penal e Direito de Menores, não é dos tabanqueiros mais assíduos. Sei que nos lê religiosamente todos os dias, mas é mais parco na colaboração escrita. Não sendo prolixo, é contudo um dos autores mais queridos do nosso blogue, tendo inclusive um clube de fãs...
Fico feliz por ele, expressamente, me convidar para prefaciar o seu futuro livro, que ainda não tem título nem editor. Claro que aceito, logo de caras. E vamos fazer tudo para que se tranforme no sucesso editorial do ano. Ele, Cabral, bem o merece. E, com ele, o nosso blogue, a nossa Tabanca Grande, os seus leitores, os/as seus/suas admiradores/as, incluindo muitos dos seus alunos/as da pátria de Cabral (do outro, o Amílcar).
Quanto à história de hoje, não podia ser mais apropriada. 12 de Maio é o Dia Internacional do/a Enfermeiro/a. Faz anos que nasceu a mulher que fundou a moderna profissão de enfermagem, a inglesa Florence Nightingale (1820-1910).
Por outro lado, a enfermeira internacionalista cubana fazia parte do imaginário (ou das miragens) do Zé tuga, na Guiné ... Por todo lado, víamos hospitais no mato e, à nossa espera, uma enfermeira cubana, imaculada, vestida de bata branca (***)...
Que dizer destas pequenas jóias literárias do nosso Cabral (o único, o autêntico, o nosso) ? Falo com ele ao telefone, de vez em quando, e ele deixa-me sempre bem disposto, mesmo quando não me trás boas notícias da nossa Guiné (que lhe chegam em primeira mão, através dos seus alunos, incluindo os filhos da nomenclatura)... Ontem, dizia-me que continua a querer voltar a Fá Mandinga para ir buscar uns papéis, seguramente imnoportantes, que deixou escondidos, em 1971, no alto do depósito de água, num buraco bem calefatado... Ele diz-me isto sem se desconcertar, com a maior naturalidade do mundo... É por isso que o seu humor é tão sui generis... Talento que lhe vêm no ADN, ou não tivera ele um avô, militar, que lhe contava histórias do realismo fantástico, como essa de andar a marchar toda a noite, em Moçambique, por cima de uma jibóia tão comprimida como a picada...
Jorge, mãos à obra, vamos ultimar livrinho!
PS - Jorge, no exército cubano, não me parece que eles tenham esse tal posto de alferes... Pelo sim, pelo não, promovo-te, no título, a subteniente
, não acontecer que a carta não chegue a Garcia, por erro no remetente.
_________
Notas de L.G.:
(*) Vd. o postes de 11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4317: Os Bu... rakos em que vivemos (8): Estância de férias Mato de Cão, junto ao Rio Geba (J. Mexia Alves)
(**) Vd. os últimos postes desta série:
8 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4155: Estórias cabralianas (48): A Bandolândia ou uma aula de história em... 2092 (Jorge Cabral)
(...) O Cidadão – Aluno XI7 frequenta a décima semana do Curso Unificado – Primário, Secundário, Universitário, o qual segundo as normas da Declaração de Cacilhas, lher irá conferir o Diploma da Sabedoria.
Claro que, quando entrou na escola, já dominava muitas das matérias que antigamente demoravam anos a aprender, pois logo em criança lhe implantaram um chip com todos os conhecimentos básicos. Porém XI7, hoje chegou à aula cheio de dúvidas. É que encontrou uma fotografia do seu trisavô, vestido com uma farda e empunhando um instrumento, talvez uma arma.(...)
2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4129: Estórias cabralianas (47): A minha mobilização: o galo dos Cabrais... (Jorge Cabral)
(...) Calma, simpática, acolhedora, a Vila de Vendas Novas. Bom vinho, petiscos, raparigas bonitas. Que mais podia aspirar o Aspirante? No Quartel fazia tudo, isto é, nada. Acumulara cargos, Justiça, Acção Psicológica, Revista, Cinema e ainda os discursos da Peluda.
Cumpria gostosamente um peculiar horário. Após o toque de alvorada, às vezes de ressaca, de cara por lavar e barba por fazer, corria para a Formatura Geral, onde... passava revista ao Pelotão. Meia hora depois, abancava no Bar e tomava um lauto pequeno almoço, antes de regressar à cama. (...)
31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4114: Estórias cabralianas (46): Inspecção Militar: E todos os tinham no sítio... (Jorge Cabral)
(...) Pois, também eu naquela manhã de Junho me dirigi à Avenida de Berna, ao Quartel do Trem Auto, onde hoje funciona a [Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da] Universidade Nova [de Lisboa].Éramos mais de cem, altos e baixos, loiros e morenos, alguns mancos, pitosgas muitos, um quase corcunda, três gagos e dois tontos. Mandaram-nos despir e pôr em fila, numa literal e verdadeira bicha de pirilau. (...)
2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3963: Estórias cabralianas (45): Massacres e violações (Jorge Cabral)
(...) Corria o ano de 1968, quando prestes a concluir o Curso, não resisti ao convite do Estado – Férias pagas em África, com grande animação e desportos radicais. Primeiro o estágio-praia para os lados da Ericeira, findo o qual, tive um grande desgosto. Tinham-me destinado ao turismo intelectual – secretariado. Felizmente as cunhas funcionaram e consegui ser reclassificado em atirador, tendo passado a frequentar no Alentejo, o estágio-campo. Terminado este, ainda vivi muitos meses de tristeza e inveja ao ver os meus camaradas integrarem satisfeitos numerosas excursões, as quais iam embarcando (...).
27 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3808: Estórias cabralianas (44): O amoroso bando das quatro não deixou só saudades... (Jorge Cabral)
(...) O Amoroso Bando das Quatro deixou-nos muitas saudades. Mas que noite agradável ... até sonhámos com elas. Só que ainda nem três dias haviam passado, já recebíamos tratamento à fortíssima infecção que nos atingira o dito e adjacências. Graças à Penicilina, o caso seria em breve esquecido, pois afinal tinham sido apenas ossos do ofício, os quais segundo alguns até mereceram a pena... Porém, e estranhamente, os sintomas começaram a surgir nos africanos, soldados e milícias, os quais não tinham usufruído da benesse (...).
6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3572: Estórias cabralianas (43): O super-periquito e as vacas sagradas (Jorge Cabral)
(...) Cumbá, a terceira mulher do Maunde, ainda uma menina, sentiu as dores de parto, ao princípio da noite. Às duas da manhã sou lá chamado. Está muito mal e as velhas não sabem o que fazer. Eu também não. Vamos para Bambadinca. Chegamos, mas Cumbá morre e com ela a criança não nascida. Amparo o Maunde, que chora e grita:-Duas vacas, Alfero, duas vacas! (...)
26 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3519: Estórias cabralianas (42): As noites do Alfero em Missirá e uma estranhíssima ementa (Jorge Cabral)
(...) Eram calmas as noites do Alfero? Deviam ser, pois assim que pôs os pés em Missirá, cessou imediatamente a actividade operacional dos seus vizinhos de Madina. Chegou-se a pensar que o Comandante Corca Só entrara em greve, mas no Batalhão acreditava-se num oculto mérito do Cabral. Aliás, estando ainda em Fá e esperando-se um ataque a Finete, o Magalhães Filipe para aí o mandou, sozinho, reforçar o Pelotão de Milícias. Lá passou oito dias, dormindo na varanda do Bacari Soncó, que o alimentou a ovos cozidos (...).
13 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3446: Estórias cabralianas (41): O palácio do prazer, no Pilão (Jorge Cabral)
(...) De Bissau conheci muito pouco. Apenas o Pilão, e neste Os Dez Quartos, um palácio do Prazer. Era o local ideal para um sexólogo, pois tendo todos os quartos o mesmo tecto e paredes incompletas, ouviam-se os murmúrios, os gritos, os ais e os uis, deles e delas, em plena actividade. Sempre que lá fui, abstraí-me um pouco da minha função e dediquei-me à escuta, tentando até catalogar os clientes por posto, ramo, forma, jeito, velocidade e desempenho (...).
4 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3399: Estórias cabralianas (40): O meu sonho de empresário (falhado): a construção de uma tabanca-bordel (Jorge Cabral)
(...) Claro que lembro do Tosco! Havia pretas, mulatas e até uma chinesa. Todas, mais os copos, trataram-me da saúde. Entrava sempre a coxear, por via dos descontos… Mas o meu preferido era o Bolero, onde jantava no primeiro andar, antes do Tango em baixo, tocado a rigor por uma orquestra de cegos. Ainda lá fui após o 25 de Abril. A mesma orquestra, as mesmas putas, mas a música mudara – Todos em coro cantávamos a Internacional (...).
(***) Sobre os serviços de saúde do PAIGC e a ajuda cubana, vd. por exemplo:
15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli (Luís Graça)
11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P951: Antologia (47): Um médico cubano no Morés e no Cantanhez (Domingos Diaz, 1966/67)
12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P956: Antologia (48): Félix Laporta, o primeiro cubano a morrer, num ataque a Beli, em Julho de 1967
14 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P960: Antologia (49): Oficialmente morreram 17 cubanos durante a guerra
18 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P967: Antologia (51): Os combatentes cubanos ou a mística da guerrilha (Victor Dreke)
15 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2762: PAIGC: Instrução, táctica e logística (11): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XI Parte): A máquina logística (A. Marques Lopes)
17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2955: PAIGC: Instrução, táctica e logística (12): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XII Parte): Saúde (A. Marques Lopes)
24 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3090: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação do cubano Ulises Estrada
Amigos!
A propósito do Mato Cão (*) aí vai estória.
Luís, prepara o prefácio.
Abração,
Jorge Cabral
2. Estórias cabralianas > Da Enfermeira Cubana aos Tubarões no Geba
Dois dias depois de chegado a Bambadinca em meados de Junho de 69, fui mandado montar segurança no Mato Cão. Periquitíssimo, cumpri todas as regras, vigiando a mata de costas para o rio, sem sequer reparar na beleza da paisagem.
Mal sabia então, que ali havia de voltar dezenas de vezes, durante o ano que passei em Missirá. Pelo menos uma ida por semana para ver passar o Barco, no que se transformou numa quase agradável rotina.
Se a hora era propícia até lá batíamos uma boa sesta e certamente algum turra passeante se surpreendeu com os meus estridentes roncos, os quais numa estória que conto aos miúdos, assustavam os tubarões do Geba.
Tubarões no Geba? Claro que sim!
Pois não relatou o meu avô, militar em Moçambique na Guerra do Mouzinho, que marchou um dia inteiro por cima de uma jibóia?
Aí por Março de 71, chegou-me uma informação mais que duvidosa, mas que eu quis acreditar – em Madina existia uma enfermeira cubana. Ora na altura tinham-me mandado afixar nas árvores do Mato Cão, uns panfletos, convidando os turras à deserção.
Quais turras, quais quê? Eu só pensava na Cubana, que a minha imaginação transformara numa bela andaluza cheia de salero. Ela sim, seria bem-vinda a Missirá.
Assim em vez dos panfletos deixei uma mensagem:
“Se habla español. Mui cerca de ti, Cabral, el último alférez romántico”...
Que terão pensado os guerrilheiros?
Não sei. Mas hoje acredito que foi por esta e por outras que o Missirá do Cabral nunca foi atacado.
Jorge Cabral
3. Comentário de L.G.:
Não resisto, embora quebrando o meu dever de isenção, a fazer um comentário a mais esta estória cabraliana. O Jorge, que na vida real é professor universitário, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, onde coordena a pós-graduação de Criminologia e onde lecciona matérias como Direito Penal, Direito Processual Penal e Direito de Menores, não é dos tabanqueiros mais assíduos. Sei que nos lê religiosamente todos os dias, mas é mais parco na colaboração escrita. Não sendo prolixo, é contudo um dos autores mais queridos do nosso blogue, tendo inclusive um clube de fãs...
Fico feliz por ele, expressamente, me convidar para prefaciar o seu futuro livro, que ainda não tem título nem editor. Claro que aceito, logo de caras. E vamos fazer tudo para que se tranforme no sucesso editorial do ano. Ele, Cabral, bem o merece. E, com ele, o nosso blogue, a nossa Tabanca Grande, os seus leitores, os/as seus/suas admiradores/as, incluindo muitos dos seus alunos/as da pátria de Cabral (do outro, o Amílcar).
Quanto à história de hoje, não podia ser mais apropriada. 12 de Maio é o Dia Internacional do/a Enfermeiro/a. Faz anos que nasceu a mulher que fundou a moderna profissão de enfermagem, a inglesa Florence Nightingale (1820-1910).
Por outro lado, a enfermeira internacionalista cubana fazia parte do imaginário (ou das miragens) do Zé tuga, na Guiné ... Por todo lado, víamos hospitais no mato e, à nossa espera, uma enfermeira cubana, imaculada, vestida de bata branca (***)...
Que dizer destas pequenas jóias literárias do nosso Cabral (o único, o autêntico, o nosso) ? Falo com ele ao telefone, de vez em quando, e ele deixa-me sempre bem disposto, mesmo quando não me trás boas notícias da nossa Guiné (que lhe chegam em primeira mão, através dos seus alunos, incluindo os filhos da nomenclatura)... Ontem, dizia-me que continua a querer voltar a Fá Mandinga para ir buscar uns papéis, seguramente imnoportantes, que deixou escondidos, em 1971, no alto do depósito de água, num buraco bem calefatado... Ele diz-me isto sem se desconcertar, com a maior naturalidade do mundo... É por isso que o seu humor é tão sui generis... Talento que lhe vêm no ADN, ou não tivera ele um avô, militar, que lhe contava histórias do realismo fantástico, como essa de andar a marchar toda a noite, em Moçambique, por cima de uma jibóia tão comprimida como a picada...
Jorge, mãos à obra, vamos ultimar livrinho!
PS - Jorge, no exército cubano, não me parece que eles tenham esse tal posto de alferes... Pelo sim, pelo não, promovo-te, no título, a subteniente
, não acontecer que a carta não chegue a Garcia, por erro no remetente.
_________
Notas de L.G.:
(*) Vd. o postes de 11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4317: Os Bu... rakos em que vivemos (8): Estância de férias Mato de Cão, junto ao Rio Geba (J. Mexia Alves)
(**) Vd. os últimos postes desta série:
8 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4155: Estórias cabralianas (48): A Bandolândia ou uma aula de história em... 2092 (Jorge Cabral)
(...) O Cidadão – Aluno XI7 frequenta a décima semana do Curso Unificado – Primário, Secundário, Universitário, o qual segundo as normas da Declaração de Cacilhas, lher irá conferir o Diploma da Sabedoria.
Claro que, quando entrou na escola, já dominava muitas das matérias que antigamente demoravam anos a aprender, pois logo em criança lhe implantaram um chip com todos os conhecimentos básicos. Porém XI7, hoje chegou à aula cheio de dúvidas. É que encontrou uma fotografia do seu trisavô, vestido com uma farda e empunhando um instrumento, talvez uma arma.(...)
2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4129: Estórias cabralianas (47): A minha mobilização: o galo dos Cabrais... (Jorge Cabral)
(...) Calma, simpática, acolhedora, a Vila de Vendas Novas. Bom vinho, petiscos, raparigas bonitas. Que mais podia aspirar o Aspirante? No Quartel fazia tudo, isto é, nada. Acumulara cargos, Justiça, Acção Psicológica, Revista, Cinema e ainda os discursos da Peluda.
Cumpria gostosamente um peculiar horário. Após o toque de alvorada, às vezes de ressaca, de cara por lavar e barba por fazer, corria para a Formatura Geral, onde... passava revista ao Pelotão. Meia hora depois, abancava no Bar e tomava um lauto pequeno almoço, antes de regressar à cama. (...)
31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4114: Estórias cabralianas (46): Inspecção Militar: E todos os tinham no sítio... (Jorge Cabral)
(...) Pois, também eu naquela manhã de Junho me dirigi à Avenida de Berna, ao Quartel do Trem Auto, onde hoje funciona a [Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da] Universidade Nova [de Lisboa].Éramos mais de cem, altos e baixos, loiros e morenos, alguns mancos, pitosgas muitos, um quase corcunda, três gagos e dois tontos. Mandaram-nos despir e pôr em fila, numa literal e verdadeira bicha de pirilau. (...)
2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3963: Estórias cabralianas (45): Massacres e violações (Jorge Cabral)
(...) Corria o ano de 1968, quando prestes a concluir o Curso, não resisti ao convite do Estado – Férias pagas em África, com grande animação e desportos radicais. Primeiro o estágio-praia para os lados da Ericeira, findo o qual, tive um grande desgosto. Tinham-me destinado ao turismo intelectual – secretariado. Felizmente as cunhas funcionaram e consegui ser reclassificado em atirador, tendo passado a frequentar no Alentejo, o estágio-campo. Terminado este, ainda vivi muitos meses de tristeza e inveja ao ver os meus camaradas integrarem satisfeitos numerosas excursões, as quais iam embarcando (...).
27 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3808: Estórias cabralianas (44): O amoroso bando das quatro não deixou só saudades... (Jorge Cabral)
(...) O Amoroso Bando das Quatro deixou-nos muitas saudades. Mas que noite agradável ... até sonhámos com elas. Só que ainda nem três dias haviam passado, já recebíamos tratamento à fortíssima infecção que nos atingira o dito e adjacências. Graças à Penicilina, o caso seria em breve esquecido, pois afinal tinham sido apenas ossos do ofício, os quais segundo alguns até mereceram a pena... Porém, e estranhamente, os sintomas começaram a surgir nos africanos, soldados e milícias, os quais não tinham usufruído da benesse (...).
6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3572: Estórias cabralianas (43): O super-periquito e as vacas sagradas (Jorge Cabral)
(...) Cumbá, a terceira mulher do Maunde, ainda uma menina, sentiu as dores de parto, ao princípio da noite. Às duas da manhã sou lá chamado. Está muito mal e as velhas não sabem o que fazer. Eu também não. Vamos para Bambadinca. Chegamos, mas Cumbá morre e com ela a criança não nascida. Amparo o Maunde, que chora e grita:-Duas vacas, Alfero, duas vacas! (...)
26 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3519: Estórias cabralianas (42): As noites do Alfero em Missirá e uma estranhíssima ementa (Jorge Cabral)
(...) Eram calmas as noites do Alfero? Deviam ser, pois assim que pôs os pés em Missirá, cessou imediatamente a actividade operacional dos seus vizinhos de Madina. Chegou-se a pensar que o Comandante Corca Só entrara em greve, mas no Batalhão acreditava-se num oculto mérito do Cabral. Aliás, estando ainda em Fá e esperando-se um ataque a Finete, o Magalhães Filipe para aí o mandou, sozinho, reforçar o Pelotão de Milícias. Lá passou oito dias, dormindo na varanda do Bacari Soncó, que o alimentou a ovos cozidos (...).
13 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3446: Estórias cabralianas (41): O palácio do prazer, no Pilão (Jorge Cabral)
(...) De Bissau conheci muito pouco. Apenas o Pilão, e neste Os Dez Quartos, um palácio do Prazer. Era o local ideal para um sexólogo, pois tendo todos os quartos o mesmo tecto e paredes incompletas, ouviam-se os murmúrios, os gritos, os ais e os uis, deles e delas, em plena actividade. Sempre que lá fui, abstraí-me um pouco da minha função e dediquei-me à escuta, tentando até catalogar os clientes por posto, ramo, forma, jeito, velocidade e desempenho (...).
4 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3399: Estórias cabralianas (40): O meu sonho de empresário (falhado): a construção de uma tabanca-bordel (Jorge Cabral)
(...) Claro que lembro do Tosco! Havia pretas, mulatas e até uma chinesa. Todas, mais os copos, trataram-me da saúde. Entrava sempre a coxear, por via dos descontos… Mas o meu preferido era o Bolero, onde jantava no primeiro andar, antes do Tango em baixo, tocado a rigor por uma orquestra de cegos. Ainda lá fui após o 25 de Abril. A mesma orquestra, as mesmas putas, mas a música mudara – Todos em coro cantávamos a Internacional (...).
(***) Sobre os serviços de saúde do PAIGC e a ajuda cubana, vd. por exemplo:
15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli (Luís Graça)
11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P951: Antologia (47): Um médico cubano no Morés e no Cantanhez (Domingos Diaz, 1966/67)
12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P956: Antologia (48): Félix Laporta, o primeiro cubano a morrer, num ataque a Beli, em Julho de 1967
14 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P960: Antologia (49): Oficialmente morreram 17 cubanos durante a guerra
18 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P967: Antologia (51): Os combatentes cubanos ou a mística da guerrilha (Victor Dreke)
15 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2762: PAIGC: Instrução, táctica e logística (11): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XI Parte): A máquina logística (A. Marques Lopes)
17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2955: PAIGC: Instrução, táctica e logística (12): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XII Parte): Saúde (A. Marques Lopes)
24 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3090: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação do cubano Ulises Estrada
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