1. Mensagem, com data de 16 de Fevereiro último, de Manuel Maia (*), ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610,
Bissum Naga,
Cafal Balanta e
Cafine, (1972/74), a quem já chamámos, meio a sério, meio a brincar, o Camões do Cantanhez , o bardo de Cafal Balanta (*)
HISTÓRIA DE PORTUGAL EM SEXTILHAS
Agora que se aponta para uma Europa una, de nacionalismos esbatidos, uma Europa desprovida de fronteiras,onde o tempo de forma inexorável dita as suas leis propiciando o esquecimento desta panóplia de culturas - enxamear de povos onde as diferenças por que se bateram tantos dos nossos avoengos poderão vir a ser ignoradas - creio ser justo trazer à liça algo da chamada "História do passado" em que se enaltece a importância do papel individual, se referenciam batalhas (episódios marcantes desses nacionalismos), se descrevem factos isolados,sem denotar preocupações de cariz conjuntural.
A forma encontrada,numa poesia onde a sextilha foi a aposta, procura num tom despretensioso relembrar feitos relevantes de figuras prenhes de prestígio,que por mérito próprio souberam alcandorar-se a um lugar de destaque no seio deste povo a caminho da nona centúria.
Trata-se de uma forma diferente de abordagem da História, utilizando a rima como veículo de apoio ou, se quisermos, aproveitando toda a musicalidade da poesia, aflorar o passado num balizamento que vai da ancestralidade até ao último quartel do século XX.
São duas as faixas de leitores a atingir;
(i) O universo escolar,num posicionamento de apoio ao manual escolhido,
possibilitando ainda ao docente - através de pequenos pormenores evocadores -
o situar no tempo de determinados factos rememorizadores do enquadramento pretendida;
(ii) E o indivíduo,com hábitos de leitura, ou não, que frequentou a escola primária no período anterior à revolução abrilina, incapaz de resistir à nosltalgia desse período epocal, podendo ainda neste item englobar as largas centenas de milhar na diáspora para os quais,estou certo,a linguagem simples será factor primordial de acessibilidade.
O Autor: Manuel Maia
1 - D´Iberos pelos Celtas invadidos
resultam Celtiberos já fundidos,
gerando os lusos genes que hoje herdamos.
Depois Alanos, Vândalos, Suevos,
Romanos, Godos ´inda outros coevos,
com Mouros, mesclam sangue que ostentamos.
2 -Na tribo lusitana resistente,
que ao invasor romano fará frente,
um nome sobressai entre os demais.
Das armas, Viriato, um amador,
até então não mais do que pastor,
destroça afamados generais.
3 -Pretor Vetílio, Fábio Emiliano,
Nigídio, Lélio, até Serviliano,
caíram derrotados, perdedores.
Mais tarde Roma envia Cipião
que usa como arma a vil traição,
morrendo o luso às mãos de embaixadores.
4 -Sertório Quinto, general romano,
tornou-se um dia chefe lusitano,
gigante a combater as legiões.
Tal como em tempos idos,Viriato,
foi alvo de hediondo assassinato,
dinheiro de Perpena fez traições...
5 -De Munho e Ouruana, a sorte quiz
nascesse em Ribadouro, Egas Moniz,
da corte um rico-homem, mui sagaz.
Por Britiande em Lamecenses terras,
prepara infante Afonso para as guerras
que a vida a um rei ousado sempre traz...
6 -Mercê do seu empenho e honradez,
logrou o fim dum cerco, certa vez,
a Guimarães vergada ante invasor.
Infante à vassalagem condenado,
Moniz, de fiador fica obrigado,
falhou promessa Afonso, incumpridor.
7 -De corda no pescoço e pé descalço,
tal como um condenado ao cadafalso,
partiu Egas Moniz para Toledo.
Palavra foi penhor de homem honesto,
família solidária com seu gesto,
disposta a dar a vida vai sem medo.
8 -Sensível à grandeza de atitude,
responde com a mesma magnitude
Afonso que é monarca de Leão.
Recusa o sacrifício,um acto nobre,
faceta de humanista que descobre
a força enorme que há num coração...
9 -D' Henrique e Teresa, Afonso foi gerado,
e em seus hercúleos ombros sustentado
o reino, Portugal, que impõe respeito
às c´roas de Castela e da Moirama,
na ponta de uma espada que reclama:
"P´ros povos, liberdade é um direito!"...
10 -Em S. Mamede vence a mãe,Teresa,
Cerneja com Leão deu-lhe a certeza
que Ourique contra Mouros confirmou:
Fadado foi p´ra rei por ser audaz!
Vencendo em Valdevez vai selar paz,
com Leoneses donde se soltou...
11 -Com Vico a rubricar (um cardeal)
acordo feito sob ordem Papal,
de mil cento e quarenta e três datado.
Zamora foi o palco escolhido,
e ali p´las duas partes é assumido
que passe a reino o que era só condado.
12 -Forais a muitas terras concedidos,
vantagens, privilégios repetidos,
dão a argamassa ao reino, as suas bases...
Religiosas Ordens e Cruzados
nas lutas contra os Mouros são usados,
pretextos pela Fé, bem eficazes.
13-Ao Papa é vassalagem prometida.
Quatro onças foi a tença exigida
p´ro fausto alimentar na Santa Igreja.
Presúrias são criadas p´ra defesa
de terras que à moirama em luta acesa,
se ganham com peleja após peleja...
14-Defesa e crescimento, uma constante
em prol do reino, sempre a todo o instante,
motivação do nosso fundador.
Coimbra tem o corpo sepultado
daquele agora aqui tão evocado,
Afonso Henriques, rei "Conquistador".
15-Da corte já arredio, ex-cavaleiro,
homiziado, agora bandoleiro,
"Geraldo Sem Pavor", arrependido.
P´ra resgatar as culpas do passado,
assalta, noite adentro, acto arrojado,
"Yeborah", mourisca, decidido.
16-Surpresa e rapidez na ousadia
de ataque a cada homem da vigia,
permitem franquear portas da entrada.
Tomando então cidade facilmente
Geraldo a entrega ao rei como presente
que dele o faz alcaide, de assentada...
17-D.Fuas foi de Afonso companheiro,
mui destro a cavalgar, bom marinheiro,
das duas artes granjeando fama.
De Porto-Mós, alcaide o fez el-rei
mais tarde o almirante -mor da grei
que destroçou galés da vil moirama.
18-Sitia Porto-Mós, Gamin o Mouro,
enraivecido, igual na arena, ao touro...
mas nessa noite azar lhe bate à porta.
Sabendo da incursão estando em Leiria,
D. Fuas acorreu com maestria,
de madrugada, ataque mouro aborta...
19-Desbaratando a tropa, os chefes prende,
Gamin, forçado, ali logo se rende
levado p´ra Coimbra, onde o rei mora.
D. Fuas por Afonso foi louvado,
além de enormemente agraciado,
p´lo acto cometido em boa hora...
20-Lisboa sofre ataque via mar,
galés mouriscas querem saquear
a urbe p´ros negócios atraente.
D. Fuas vai armar alguns navios
e ao largo do Espichel vence os gentios
ganhando a admiração de toda a gente.
21-De volta p´ra Lisboa amplia a frota
vogando, encontra Mouros que derrota,
em Ceuta, onde alguns barcos apresou.
Lisboa o vê chegar triunfalmente,
p´ro ver partir de novo, para sempre,
´smagada a frota lusa, se finou...
22-Gonçalo Mendes,velho Lidador,
de mil batalhas justo vencedor
cavalga a céu aberto o alazão.
Luzente cervilheira, duro arnez,
pesado lorigão, grande altivez,
o tronco erguido, a Toledana à mão.
23-Fronteiro foi de Beja,com valor,
noventa e cinco anos de vigor,
fidalgo a boa luta não renega.
Sabendo d´agarena posição
avança peito aberto p´ra misssão
ciente da vitória na refrega.
24-O mês é Julho, o sol abrasador,
um magrebino chefe é opositor
´stá em luta aberta a cruz e o crescente.
Astuto Almoleimar, chefe berbére,
alfange à cervilheira lhe desfere,
do golpe o velho luso se ressente.
25-Rasgada a carne o ombro esmiuçado,
ficou o Lidador muito abalado,
mas firme sem perder da luta o norte.
Avança qual cruzado contra o mal
cravando a Toledana no gorjal,
do mouro que se esvai até à morte.
26-De rubro sangue a terra está tingida,
centenas são os corpos já sem vida,
rasgados por espada ou azagaia.
Dois nomes entre todos são destaque,
o mouro Almoleimar, chefe de ataque,
e o velho Lidador, homem da Maia.
27-Seguindo o pai na saga aventureira,
tomou Alvor e Silves, Albufeira,
D. Sancho, novo rei, "Povoador".
Mas cedo irá mudar sua estratégia
devido à Moura concertação régia
que reconquista as terras de Almansor.
28-Tarefa passa a ser o povoar
da terra vasta com gente a minguar
que obriga a ser estrangeiro, um bom recurso.
Com bispos teve atritos importantes
mas tudo ficaria como dantes
co´a Igreja a dominar no seu percurso.
29-O fruto da união de Dulce e Sancho,
Afonso mui doente,um corpo ancho,
de lepra sofredor, sobreviveu.
À Santa Senhorinha é atribuída
a milagrosa cura então sentida
que o rei, erguendo templo, agradeceu.
30-Dos seis Afonsos, "Gordo" foi segundo,
nutrindo pelo reino amor profundo,
ao clero e nobres vai impor travão.
Fez lei para as desamortizações,
obriga a comprovar as doações,
mercê d´Inquirições feitas então.
31-Não tinha " O Gordo" o gosto pela espada,
visando antes ter "casa arrumada",
daí sua apetência administrativa.
Criou as Leis Gerais, ineditismo,
mostrou lá por Tolosa brilhantismo
na briga ao Infiel, mui positiva...
32-Seu filho, Sancho, ascende ao trono luso,
sujeito a mil pressões fica confuso
cedendo ao clero,às tias, à nobreza.
Mau grado as lutas mouras ter vencido,
poder real ficou enfraquecido,
no ar pairava a dúvida, a incerteza.
33-Notável na refrega, este monarca,
que o Alentejo logo todo abarca,
tomando aos Mouros Elvas, Juromenha,
depois Serpa, Aljustrel, Mértola, Moura,
rumando p´ro Algarve, "qual vassoura",
"limpeza" de Tavira logo engenha.
34-Raptada foi rainha a contragosto(?),
prostrado fica rei face ao desgosto,
sentiu monarca, fôra abandonado.
Estratégia irmão montara com o clero,
levando o Papa a impor golpe severo,
sofrido, viu seu trono ser cassado.
35-"Capelo" inseguro co´a nobreza,
lidando com o clero sem firmeza,
sofreu deste suprema humilhação.
Mostrando ter do Papa grande medo,
deposto foi enviado p´ra Toledo
p´ra lá viver sem digna condição.
Manuel Maia
[Fixação / revisão de texto: L.G.]
_________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 27 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P4087: Blogpoesia (33) : O bardo de Cafal Balanta (Manuel Maia)