Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da Semana > 27 de Abril de 2008 > "Esta foto será legendada muito em breve. Aos nossos visitantes pedimos desculpas pelo atraso"...
Querido Pepito, queridos amigos da AD e da Guiné-Bissau, irmãos e irmãs: para quê mais palavras, se esta imagem vale por mil palavras ? Metaforicamente falando, está aqui a tua Guiné, a vossa Guiné, a nossa Guiné, a aprender a andar, a cair e a pôr-se de pé, como jovem nação que é... É a minha leitura, ou sugestão de leitura, se mo permitem: sem cinismos, sem paternalismos, com a com + paixão com que eu, à distância de milhares de quilómetros, vos vejo, e às vossas boas obras... Força, amiga, força, irmã!... Que o caminho se faz caminhando, parafraseando o grande poeta espanhol António Machado ("Caminante no hay camino, se hace camino al andar", poema popularizado pelo cantor catalão Joan Manel Serrat) (*).
Numa sociedade patriarcal e machista, como a sociedade fula do tempo da guerra colonial, seria de todo improvável poder encontrar uma aprendiz de biciclista...
Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento. Direitos reservados (Com a devida vénia...)
Guiné > Região de Tombali > Guileje > Simpósio Internacional de Guileje > 3 de Março de 2008 > No regresso a Bissau, o Nuno Rubim, o capitão fula, aqui de costas, contempla pela última vez o antigo aquartelamento e parte mantenhas com habitantes locais (que agora residem em Mejo)... Dois deles deslocavam-se de bicicleta, um meio de transporte, ainda hoje, um luxo que não está ao alcance da maioria da população...
Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
1. O nosso irmãozimnho de Fajonquito continua a deliciar-nos com o seu talento de escritor e a frescura das suas memórias de infância e adolescência, passadas na zona leste da Guiné-Bissau, junto à fronteira com o Senegal, em contacto com os diabos brancos (entre meados de 1960 e 1974, em Cambaju e Fajonquito) ...
Há dias o Cherno Baldé mandou-nos mais dois textos, datados de Novembro de 2006, de que publicamos hoje o último, o Velho Marabu de Sumbundo... No próximo texto, escrito recentemente, ele fala-nos das suas aventuras de menino e moço em Fajonquito (1970-1975
O VELHO MARABU DE SUMBUNDO... ou a história de uma revelação fantástica
por Cherno Baldé
No período decorrido entre os anos de 1972/75, vivendo em Fajonquito para onde mudámos no ano de 1968 na sequência da transferência do meu pai (**), acompanhava este com frequência, em deslocações às aldeias vizinhas, durante os fins-de-semana.
Nessa altura, o meu pai tinha sempre consigo uma bicicleta como meio de transporte para esses casos. Eram, na maioria dos casos, bicicletas usadas que ele raramente montava, não só pela idade que não permitia muito esforço físico, mas também a necessidade ou a obrigatoriedade de falar e cumprimentar cada pessoa com que nos cruzávamos. Eram mantenhas prolongadas que nunca mais acabavam, durante as quais cada um tentava sondar o outro sobre assuntos dos mais variados de seu interesse, coisas de adultos no mundo rural de Fuladu de então. Eu, ao lado, ouvia e ouvia, era quase sempre o mesmo discurso que, na minha opinião de criança apressada, não servia para nada.
Não foi uma única vez, foram várias vezes que ele me levou consigo. Nunca percebi bem, porque razão nos levava consigo nessas andanças. A bicicleta e eu não tínhamos quase nenhuma utilidade prática, éramos simples objectos de decoração da sua importância cuja presença nem sequer era notada. Ele raramente falava comigo, limitando-se a monologar consigo mesmo durante a caminhada, e as pessoas com que nos cruzávamos nunca me dirigiam a fala sequer, salvo quando nos cruzávamos com um grupo de mulheres mais tagarelas. Elas sim, elas sempre se dirigiam a mim depois de cumprimentar o meu pai, perguntando da minha mãe ou dos meus irmãos.
Na sociedade Fula, as mulheres estavam mais próximas das crianças e formavam assim um grupo que raramente penetrava no espaço fechado e reservado dos homens. Altivos e soberbos, estes, aparentemente, não tinham em muita conta as mulheres, as quais pertenciam, juntamente com as crianças não circuncisas, ao mundo dos não iniciados e que, pelo seu comportamento leviano e infantil, só mereciam indiferença.
Uma vez, acompanhei-o à aldeia mandinga de Sumbundo, distante cerca de 13 km de Fajonquito, a nordeste]. O trajecto que levava para lá chegar passava por várias aldeias, Canhámina, Sintchã Coli, Djambur, Fanca, Sare Wali e Walikunda, dependendo das voltas que quisesse fazer.
Daquela vez foi com alguma surpresa, para mim, que entrámos na aldeia de Sumbundo. A primeira vista, parecia diferente das outras aldeias vizinhas, era uma aldeia enorme e densamente povoada, e ao contrário das aldeias dos Fulas, a presença de gado bovino nas imediações era diminuta, quase nula, mas em contrapartida haviam muitas cabras e burros à solta e à volta das casas, pastando ou amarrados junto das suas casotas de palha.
O meu pai era muito conhecido na zona devido às suas actividades comerciais e também pelas ligações antigas que a nossa família tinha com aquela gente. Por isso, passou ainda por todas as moranças da aldeia antes de se dirigir a casa do velho Marabu (***). Quando entrámos, o velho estava sentado ao pé da cama na pele de um carneiro. Dispensaram vários minutos para os habituais salamaleques de velhos conhecidos. Passaram depois para outros temas. Eu assistia silencioso sem compreender o sentido da conversa, sentado ao lado do meu pai, absorto nas minhas cogitações. O barulho das crianças e os gritos das mulheres ocupadas nos seus afazeres domésticos entrava casa adentro sem incomodar todavia os dois homens concentrados nos seus assuntos.
Finalmente, o meu pai, visivelmente satisfeito, e voltando a si, olhou longamente para mim, o que ele fazia raramente, percebi então que a consulta tinha chegado ao fim, todavia dirigindo-se ao velhote, informou-o que eu estava na escola a aprender a leitura e a escrita dos brancos mas que ele não estava sossegado pois queria que eu fosse, também, à nossa escola tradicional a fim de aprender o Alcorão.
O velho Marabu percebeu a aflição (o dilema) do meu pai e também aquilo que ele queria dizer naquelas poucas palavras e olhou meigamente para mim e concentrou-se nos seus instrumentos. Tirou um papel branco duma sacola aos seus pés, meteu-o numa pasta que tinha a seu lado e embrulhando-o com um pano pô-lo em cima da pele de carneiro. Pegou no seu rosário e durante alguns minutos, com o olhar posto no vazio e manobrando o rosário com os dedos da mão direita, fazia as contas deste deslizar uma a uma, murmurando algumas palavras ininteligíveis.
Sem dar muita importância à questão inicialmente posta, disse ao meu pai que ambos eram conciliáveis, isto é, uma e outra coisa eram boas, pois tanto fazia que eu fosse à escola europeia ou à corânica, ou ainda às duas ao mesmo tempo, estava predestinado a sair-me bem. Só mais tarde, reflectindo no assunto, vim a perceber a importância de que revestiram aqueles poucos minutos para o futuro da minha vida.
As palavras de um reputado Marabu tinham um peso enorme nas decisões dos homens dessa época. Olhando nos olhos do meu pai de forma prolongada, acrescentou ainda que eu era pessoa dotada de uma “cabeça larga” e faria 77 anos de vida nesta terra. O significado de “cabeça larga” entre nós podia ser interpretado de variadas formas e estava ligado a conotações tanto positivas como negativas. O “cabeça larga” podia ser uma pessoa que tinha acesso ao mundo invisível, que podia ver aquilo a que aos seres normais estava vedado ou ter acesso a acontecimentos futuros, a fenómenos que ainda não tinham acontecido, mas também podia ser associado ao domínio da feitiçaria e consumo da carne humana. Ah, o homem se desacreditou completamente, pensei comigo.
Esta revelação a que o velho Marabu parecia dar maior relevância na sua tentativa de vasculhar o meu futuro não foi bem recebida por meu pai, pois este deu sinais em como que já queria se despedir. Antes de dar a mão a meu pai, o Marabu desembrulhou calmamente a pasta que continha o papel branco, retirou de lá a folha e deitou-a em cima da pele de carneiro à sua frente, como que para dar força às suas palavras. Curiosamente, vimos que o papel que antes era completamente branco e limpo, agora, inexplicavelmente, estava toda manchada de tinta, representando uma curiosa grafia em letras árabes num dos lados.
O meu pai não disse mais nada, levantou-se acto contínuo e disse-me para o anteceder na saída. Ele era assim mesmo, ouvia aquilo que lhe apetecia ouvir e detestava o resto. Aquela manobra de prestidigitação do velho parece que não tinha despertado nenhuma curiosidade nele, ou porque lhe era por demais familiar ou porque não queria ouvir detalhes que pudessem ofuscar e/ou desfazer a magia da energia positiva do momento.
Já passavam das cinco horas da tarde quando nos pusemos a caminho de casa. Esta era sempre a melhor parte, para mim, pois no regresso vínhamos sempre montados na bicicleta e agora não havia muita conversa no caminho, cumprimentava as pessoas sem descer da bicicleta e às vezes nem sequer parava pois já o sol estava a esconder-se lá para oeste e não havia tempo a perder, ele pedalava, pedalava, e eu lá atrás gozava com o prazer da corrida e da brisa que soprava no meu rosto de criança feliz escondida no grande bubu do meu pai.
No entanto, para dissipar qualquer dúvida não resisti à tentação de perguntar-lhe sobre o significado das palavras do velho Marabu, aliás, queria deixar bem claro a meu pai que o velho se tinha enganado pois que eu era completamente cego, quer dizer não era nenhum “cabeça larga” como tinha sugerido o Marabu. Mas, quando o fiz, ele limitou-se a sossegar-me dizendo que aquele velho mandinga já não estava bem da bola por isso não valia a pena se martirizar com suas alucinações de velhice.
Mais tarde, na minha vida de homem já maduro, esta consulta trivial sem importância voltaria várias vezes na minha cabeça, pensando nas palavras que ouvi e naquela magia ou arte fenomenal que se me deu assistir e ver com os meus olhos de criança. E, sempre que depois me acontecia por premonição ver numa visão ou em sonhos factos que depois se confirmavam passado algum tempo, lembrava-me das palavras do velho Marabu que me atribuía capacidades extraordinárias e questiono a mim mesmo se não seriam estas visões que o Marabu tinha vislumbrado através do seu rosário mágico.
Os 77 anos de vida que ele me deu ainda estão por se confirmar, mas já constituíram para mim uma importante fonte de confiança na minha longevidade. Todavia, se antes me parecia ser uma boa idade para morrer, com o tempo e a pressão da idade, estou tentado a mudar de opinião e, penso, que o velho Marabu talvez, se tenha equivocado, afinal, 77 anos é tão pouco tempo para viver.
Voltando à questão da cabeça larga, no dia 17 de Dezembro de 2006, passados mais de 20 anos de separação, veio visitar-me um antigo colega de infância, que actualmente reside na cidade senegalesa de Ziguinchor, de nome Algássimo Baldé. Na nossa conversa amena, na presença da minha esposa, Geralda, relembrou-me duas coisas que teria dito a seu respeito e que na sua opinião se tinham confirmado.
- Primeiro, disse-me ele, você me tinha dito que mais tarde eu seria calvo, estou aqui hoje à tua frente para te mostrar a minha cabeça completamente calva. Segundo, você me tinha dito que eu era pessoa muito trabalhadora mas que tinha pouca sorte, infelizmente, isto também se revelou verdade, trago aqui comigo um extracto de um jornal que conta a história de como os rebeldes daquela zona nos assaltaram e me roubaram numa única noite todos os bens que tinha acumulado durante mais de 20 anos de trabalho árduo e meticuloso. Depois de passar por ser um dos mais ricos da zona da baixa Casamança (área de Ziguinchor), agora sou obrigado a trabalhar de motorista de táxi para dar sustento a minha família. E durante todo o percurso que fizemos, eu e mais outros prisioneiros, levando em cima das nossas cabeças o espólio desses bandidos, não pensei em outra coisa que suas palavras. Parecia ouvir o martelamento das tuas palavras como se fosse ontem “Você é pessoa muito trabalhadora mas tem pouca sorte na vida”.
Eu nem podia acreditar naquilo que ouvia, e nem sequer me lembrava de ter feito aquelas vaticinações incríveis que ele tinha gravado na sua cabeça para sempre. Seriam os sinais evidentes da luz que o Marabu tinha visto na minha infância? Não sei dizer.
Bissau, Novembro de 2006
[Fixação / revisão de texto / bold a cores: L.G.]
___________
Notas de L.G:.
(*) Vd. poste de 26 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3243: Blogpoesia (26): 35 anos de Guiné-Bissau: A minha contribuição para a tua festa, meu irmão, minha irmã (Luís Graça)
(**) Vd. postes da série Memórias do Chico, menino e moço:
19 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4553: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (1): A primeira visão, aterradora, de um helicanhão
24 de Junho de 2009 > Guine 63/74 - P4567: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (2): Cambajú, uma janela para o mundo
25 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4580: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (3): A chegada dos primeiros homens brancos a Cambajú em 1965: terror e fascínio
30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4611: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (4): O ataque dos meus primos a Cambajú e o meu pai que foi um herói
6 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4646: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (5): A família extensa, reunida em Fajonquito, em 1968
13 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4679: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (6): Uma gesta familiar, de Canhámina a Sinchã Samagaia, aliás, Luanda
Vd. também postes de:
18 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4550: Tabanca Grande (153): Cherno Baldé (n. 1960), rafeiro de Fajonquito, hoje engenheiro em Bissau...
7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4650: (Ex)citações (32): A Tabanca Grande ou... Global: de Contuboel, Fajonquito e Bissau com amizade (Cherno Baldé)
(***) Marabu: sacerdote muçulmano, que leva uma vista ascética, e é venerado, em vida e depois da morte, como um homem sábio e santo...
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 21 de julho de 2009
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4713: Efemérides (21): 20 de Julho de 1969... O dia em que o primeiro homem pisou a Lua (Rui Felício, CCAÇ 2405, Samba Cumbera)
20 de Julho de 1969 > Apolo 11 > O astronauta Edwin 'Buzz' Aldrin caminha sobre o solo lunar... A quinta missão tripulada do Programa Apolo, constituída pelos pelos astronautas norte-americanos Neil Armstrong, Edwin 'Buzz' Aldrin e Michael Collins, chega à lua... Faz hoje 40 anos. Foto da NASA.
Na Guiné portuguesa, seis anos depois do início da guerra colonial, em Samba Cumbera, a sudoeste de Galomaro, na zona leste, um tuga, o Alf Mil Rui Felício, tem os olhos pregados na lua e mantém uma conversa filosófica com o seu amigo Samba, chefe da tabanca e homem sábio...
Onde é que estacam os meus camaradas da Guiné nesse dia ?
Eu (e a malta da minha CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12, saímos de Contuboel, a caminho de Bambadinca, sector L1:
"A partir de 18 de Julho de 1969, finda a instrução de especialidade, a CCAÇ 12 foi dada como operacional, sendo colocada em Bambadinca (Sector L1), como unidade de intervenção, ficando pronta a actuar às ordens de qualquer um dos sectores da Zona Leste da Guiné (em especial dos Sectores L1, L3 e L5). Durante a sua primeira comissão (1969/71), actou sobretudo no Sector L1 (Bambadinca, correspondente ao triângulo Bambadinca-Xime-Xitole, mas incluindo também, a norte do Rio Geba, o regulado Cuor onde começava o famoso corredor do Morès...) (...).
"Ainda não haviam sido distribuídos os camuflados às praças africanas quando a CCAÇ 12 fez a sua primeira saída para o mato. A 21 [de Julho de 1969], três Gr Comb (2º, 3º e 4º) seguiam em farda nº 3 para Madina Xaquili a fim de reforçar temporariamente o sub- sector de Galomaro,[a sul de Bafatá] (...).
"Seria, aliás, em Madina Xaquili que a CCAÇ 12 teria o seu baptismo de fogo. Os três Gr Comb haviam regressado, em 24, à tarde, dum patrulhamento ofensivo na região de Padada, tendo ficado dois dias emboscados no mato (Op Elmo Torneado), quando Madina Xaquili foi atacada ao anoitecer por um grupo IN que muito provavelmente veio no seu encalce.0 ataque deu-se no momento em que dois Gr Comb da CCAÇ 2446 que vinha render a CCAÇ 12, saíram da tabanca a fim de se emboscarem. [Esta companhia madeirense teve dois mortos e vários feridos]" (...) (*).
Nesse dia, em todo o TO da Guiné, apenas terá morrido um homem, não em combate, mas por doença, o Sold Morna Nalé, diz o obituário da Liga dos Combatentes... (LG)
Foto: Apollo 11 > Wikipédia (Copyleft)
1.Reprodução de um texto de Rui Felício, ex-Alf Mil CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Subsector de Galomaro, Zona Leste), na altura destacado em Samba Cumbera, com o seu 3º Grupo de Combate :
O dia em que o homem foi à lua (**)
por Rui Felício
Era domingo… Durante todo o dia a rádio ia noticiando a chegada do homem à Lua… A célebre frase do astronauta afirmando que o passo que acabara de dar em solo lunar era um passo de gigante para a humanidade (***), era escutada repetidamente nos pequenos transistores que nos mantinham ligados ao mundo.
Claro que não havia televisão na Guiné e, mesmo que houvesse, jamais seria vista em Samba Cumbera, pequena tabanca onde a luz nos era fornecida através de garrafas de cerveja cheias de petróleo, nas quais se embebiam torcidas de desperdício que, depois de acesas, nos enchiam os pulmões de fuligem e fumo.
Mas nos confins da mata, longe de toda a civilização, a importante notícia precisava de ser partilhada e divulgada... Os soldados se encarregariam de o fazer à sua maneira, junto das bajudas.Por mim, preferia meditar sobre o assunto, silenciosamente... Afinal os nossos avós jamais imaginariam que alguma vez o homem pudesse chegar à Lua, apesar de Júlio Verne, o visionário do século anterior, já o ter previsto…
E, longe das mais modernas evoluções da ciência e da tecnologia, os naturais da Guiné que nasciam e morriam na sua aldeia da selva sem nunca sairem do pequeno perímetro onde viviam, muito menos sonhariam com essa utópica possibilidade de o homem chegar à Lua.
Como muitas vezes fazia, depois de jantar, sentei-me numa cadeira de fula, onde descansava semi deitado, olhando o céu, nessa noite muito limpo e estrelado…Bem alto, a luz branca da lua, em quarto crescente, derramava-se pela orla da floresta e pelos cones de capim dos telhados das tabancas, desenhando sombras fantasmagóricas pelo terreno limpo do centro da aldeia.
E mantive-me assim deitado, o olhar fixo na lua, tentando prescrutar o mais pequeno sinal da presença do homem que eu sabia estar ali vagueando, em qualquer lugar do Mar das Tempestades…
Não sei quanto tempo assim me mantive, absorto, atento e quieto… Despertei e voltei à realidade com a voz do meu simpático amigo Samba, Chefe da Tabanca de Samba Cumbera, que me perguntava se podia sentar-se a meu lado, para o qual arrastara uma cadeira semelhante à minha…
Era um homem de grande cultura árabe, que conhecia muito da história do islamismo, que sabia com um estranho rigor a exacta direcção de Meca, que lia e escrevia árabe, que conhecia em pormenor toda a história dos Fulas e da razão de ser da sua permanência na terra da Guiné… Para onde, dizia, foram empurrados em sucessivas lutas tribais com os seus rivais Mandingas…
As nossas conversas eram normalmente muito agradáveis e, posso dizer, sempre aprendi mais com ele do que ele comigo…Temos a tendência e o preconceito de avaliar os outros, pelos nossos parâmetros e pela nossa cultura, catalogando-os de bárbaros e analfabetos só porque não têm o conhecimento e a instrução, medidos pelos nossos padrões.
Aprendi que no meio daquela gente, existiam homens com conhecimento mais vasto e aprofundado que muitos dos nossos soldados… O Samba era um deles…Perguntou-me porque estava tão pensativo e quieto… Respondi-lhe que aquela noite era muito especial para o mundo, porque estava se passando algo que nunca antes tinha acontecido…
Franziu o rosto, comentando que, pelo meu ar, não devia ser coisa boa… Sorri, dizendo-lhe que era exactamente o contrário…E, embora sabendo de antemão a resposta, perguntei-lhe apenas como forma de iniciar a revelação do que estava acontecendo:
- Sabes que neste preciso momento um homem como nós caminha na lua que está ali em cima diante dos nossos olhos?
A reacção foi inesperada e contrária a tudo o que eu teria imaginado:
- Alfero! Não é um homem como nós, não! É o profeta Maomé que, juntamente com Alá dali nos vigia a todos, para nos proteger, nos ensinar o caminho justo e para nos castigar quando dele nos desviamos…
E prosseguiu:
- Como é possivel que homem grande e instruido como o Alfero, só hoje soubesse isso? Não entendo mesmo!...
Pensei durante uns segundos se devia argumentar, puxar dos meus galões de homem civilizado, e demonstrar-lhe a minha superioridade, provando-lhe que não era nada daquilo que ele dizia. Desisti de o fazer…
Afinal, ambos nos estávamos alimentando de sonhos… e, cada um à sua maneira, sentiamo-nos felizes pela beleza insubstituível de um luar africano em noite calma e limpída…Independentemente de quem lá estava caminhando naquele momento…
Rui Felício,
Ex-Alf Mil Inf,
3º Gr Comb
CCAÇ 2405
(Dulombi, 1968/70)
P.S. - Passados dias, com a chegada de um jornal de Lisboa, mostrei-lhe as fotografias do astronauta pisando a Lua. E, então expliquei-lhe o que realmente se tinha passado naquela noite… Pelo seu ar meio trocista, ainda hoje não sei se o convenci… Mas como ele também não me convenceu que por lá andavam Alá e o Maomé, ficamos quites, cada um na sua... em paz! (****)
2. Comentário de L.G.:
Camaradas, é uma efeméride como muitas outras... Era domingo e o Rui Felício estava em Samba Cumbera, a sudoeste de Galomaro, destacado com o seu pelotão... Numa pobre tabanca, fula, em autodefesa. Escreveu este belo texto (e até agora o único, creio eu, publicado no nosso blogue,na I Série), em que se fala da nossa chegada à lua...
Eu tinha acabado de chegar a Bambadinca... Alguns dias depois, a 24, ainda em farda nº 3, a malta da CCaç 12 apanha o seu primeiro enxerto de porrada... A vida era simples, na Guiné, longe do Vietname, a menos de 400 mil km da lua...
E vocês onde estavam nesse dia, camaradas ?
Um Alfa Bravo para todos. Boas férias para quem está de partida...
Luís Graça
PS - Fiz questão de recuperar o texto do baixinho de Dulombi...
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 29 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVIII: O baptismo de fogo da CCAÇ 12, em farda nº 3, em Madina Xaquili (Julho de 1969)
(**) Vd. poste de 19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXL [640]: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (3): O dia em que o homem foi à lua
Vd. também poste de 12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXV: Paulo Raposo e Rui Felício, dois novos camaradas (CCAÇ 2405, Galomaro, 1968/70)
(***) O astronauta Neil Armstrong foi o primeiro homem a pisar a Lua... Ficou célebre a sua frase: "Este é um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade". Os outros dois tripulantes da nave Apolo 11 eram Edwin Aldrin e Michael Collins.
(****) Vd. último poste da série Efemérides 23 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3925: Efemérides (16): Portugal e o Futuro, de António Spínola, um best-seller há 35 anos
Na Guiné portuguesa, seis anos depois do início da guerra colonial, em Samba Cumbera, a sudoeste de Galomaro, na zona leste, um tuga, o Alf Mil Rui Felício, tem os olhos pregados na lua e mantém uma conversa filosófica com o seu amigo Samba, chefe da tabanca e homem sábio...
Onde é que estacam os meus camaradas da Guiné nesse dia ?
Eu (e a malta da minha CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12, saímos de Contuboel, a caminho de Bambadinca, sector L1:
"A partir de 18 de Julho de 1969, finda a instrução de especialidade, a CCAÇ 12 foi dada como operacional, sendo colocada em Bambadinca (Sector L1), como unidade de intervenção, ficando pronta a actuar às ordens de qualquer um dos sectores da Zona Leste da Guiné (em especial dos Sectores L1, L3 e L5). Durante a sua primeira comissão (1969/71), actou sobretudo no Sector L1 (Bambadinca, correspondente ao triângulo Bambadinca-Xime-Xitole, mas incluindo também, a norte do Rio Geba, o regulado Cuor onde começava o famoso corredor do Morès...) (...).
"Ainda não haviam sido distribuídos os camuflados às praças africanas quando a CCAÇ 12 fez a sua primeira saída para o mato. A 21 [de Julho de 1969], três Gr Comb (2º, 3º e 4º) seguiam em farda nº 3 para Madina Xaquili a fim de reforçar temporariamente o sub- sector de Galomaro,[a sul de Bafatá] (...).
"Seria, aliás, em Madina Xaquili que a CCAÇ 12 teria o seu baptismo de fogo. Os três Gr Comb haviam regressado, em 24, à tarde, dum patrulhamento ofensivo na região de Padada, tendo ficado dois dias emboscados no mato (Op Elmo Torneado), quando Madina Xaquili foi atacada ao anoitecer por um grupo IN que muito provavelmente veio no seu encalce.0 ataque deu-se no momento em que dois Gr Comb da CCAÇ 2446 que vinha render a CCAÇ 12, saíram da tabanca a fim de se emboscarem. [Esta companhia madeirense teve dois mortos e vários feridos]" (...) (*).
Nesse dia, em todo o TO da Guiné, apenas terá morrido um homem, não em combate, mas por doença, o Sold Morna Nalé, diz o obituário da Liga dos Combatentes... (LG)
Foto: Apollo 11 > Wikipédia (Copyleft)
1.Reprodução de um texto de Rui Felício, ex-Alf Mil CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Subsector de Galomaro, Zona Leste), na altura destacado em Samba Cumbera, com o seu 3º Grupo de Combate :
O dia em que o homem foi à lua (**)
por Rui Felício
Era domingo… Durante todo o dia a rádio ia noticiando a chegada do homem à Lua… A célebre frase do astronauta afirmando que o passo que acabara de dar em solo lunar era um passo de gigante para a humanidade (***), era escutada repetidamente nos pequenos transistores que nos mantinham ligados ao mundo.
Claro que não havia televisão na Guiné e, mesmo que houvesse, jamais seria vista em Samba Cumbera, pequena tabanca onde a luz nos era fornecida através de garrafas de cerveja cheias de petróleo, nas quais se embebiam torcidas de desperdício que, depois de acesas, nos enchiam os pulmões de fuligem e fumo.
Mas nos confins da mata, longe de toda a civilização, a importante notícia precisava de ser partilhada e divulgada... Os soldados se encarregariam de o fazer à sua maneira, junto das bajudas.Por mim, preferia meditar sobre o assunto, silenciosamente... Afinal os nossos avós jamais imaginariam que alguma vez o homem pudesse chegar à Lua, apesar de Júlio Verne, o visionário do século anterior, já o ter previsto…
E, longe das mais modernas evoluções da ciência e da tecnologia, os naturais da Guiné que nasciam e morriam na sua aldeia da selva sem nunca sairem do pequeno perímetro onde viviam, muito menos sonhariam com essa utópica possibilidade de o homem chegar à Lua.
Como muitas vezes fazia, depois de jantar, sentei-me numa cadeira de fula, onde descansava semi deitado, olhando o céu, nessa noite muito limpo e estrelado…Bem alto, a luz branca da lua, em quarto crescente, derramava-se pela orla da floresta e pelos cones de capim dos telhados das tabancas, desenhando sombras fantasmagóricas pelo terreno limpo do centro da aldeia.
E mantive-me assim deitado, o olhar fixo na lua, tentando prescrutar o mais pequeno sinal da presença do homem que eu sabia estar ali vagueando, em qualquer lugar do Mar das Tempestades…
Não sei quanto tempo assim me mantive, absorto, atento e quieto… Despertei e voltei à realidade com a voz do meu simpático amigo Samba, Chefe da Tabanca de Samba Cumbera, que me perguntava se podia sentar-se a meu lado, para o qual arrastara uma cadeira semelhante à minha…
Era um homem de grande cultura árabe, que conhecia muito da história do islamismo, que sabia com um estranho rigor a exacta direcção de Meca, que lia e escrevia árabe, que conhecia em pormenor toda a história dos Fulas e da razão de ser da sua permanência na terra da Guiné… Para onde, dizia, foram empurrados em sucessivas lutas tribais com os seus rivais Mandingas…
As nossas conversas eram normalmente muito agradáveis e, posso dizer, sempre aprendi mais com ele do que ele comigo…Temos a tendência e o preconceito de avaliar os outros, pelos nossos parâmetros e pela nossa cultura, catalogando-os de bárbaros e analfabetos só porque não têm o conhecimento e a instrução, medidos pelos nossos padrões.
Aprendi que no meio daquela gente, existiam homens com conhecimento mais vasto e aprofundado que muitos dos nossos soldados… O Samba era um deles…Perguntou-me porque estava tão pensativo e quieto… Respondi-lhe que aquela noite era muito especial para o mundo, porque estava se passando algo que nunca antes tinha acontecido…
Franziu o rosto, comentando que, pelo meu ar, não devia ser coisa boa… Sorri, dizendo-lhe que era exactamente o contrário…E, embora sabendo de antemão a resposta, perguntei-lhe apenas como forma de iniciar a revelação do que estava acontecendo:
- Sabes que neste preciso momento um homem como nós caminha na lua que está ali em cima diante dos nossos olhos?
A reacção foi inesperada e contrária a tudo o que eu teria imaginado:
- Alfero! Não é um homem como nós, não! É o profeta Maomé que, juntamente com Alá dali nos vigia a todos, para nos proteger, nos ensinar o caminho justo e para nos castigar quando dele nos desviamos…
E prosseguiu:
- Como é possivel que homem grande e instruido como o Alfero, só hoje soubesse isso? Não entendo mesmo!...
Pensei durante uns segundos se devia argumentar, puxar dos meus galões de homem civilizado, e demonstrar-lhe a minha superioridade, provando-lhe que não era nada daquilo que ele dizia. Desisti de o fazer…
Afinal, ambos nos estávamos alimentando de sonhos… e, cada um à sua maneira, sentiamo-nos felizes pela beleza insubstituível de um luar africano em noite calma e limpída…Independentemente de quem lá estava caminhando naquele momento…
Rui Felício,
Ex-Alf Mil Inf,
3º Gr Comb
CCAÇ 2405
(Dulombi, 1968/70)
P.S. - Passados dias, com a chegada de um jornal de Lisboa, mostrei-lhe as fotografias do astronauta pisando a Lua. E, então expliquei-lhe o que realmente se tinha passado naquela noite… Pelo seu ar meio trocista, ainda hoje não sei se o convenci… Mas como ele também não me convenceu que por lá andavam Alá e o Maomé, ficamos quites, cada um na sua... em paz! (****)
2. Comentário de L.G.:
Camaradas, é uma efeméride como muitas outras... Era domingo e o Rui Felício estava em Samba Cumbera, a sudoeste de Galomaro, destacado com o seu pelotão... Numa pobre tabanca, fula, em autodefesa. Escreveu este belo texto (e até agora o único, creio eu, publicado no nosso blogue,na I Série), em que se fala da nossa chegada à lua...
Eu tinha acabado de chegar a Bambadinca... Alguns dias depois, a 24, ainda em farda nº 3, a malta da CCaç 12 apanha o seu primeiro enxerto de porrada... A vida era simples, na Guiné, longe do Vietname, a menos de 400 mil km da lua...
E vocês onde estavam nesse dia, camaradas ?
Um Alfa Bravo para todos. Boas férias para quem está de partida...
Luís Graça
PS - Fiz questão de recuperar o texto do baixinho de Dulombi...
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 29 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVIII: O baptismo de fogo da CCAÇ 12, em farda nº 3, em Madina Xaquili (Julho de 1969)
(**) Vd. poste de 19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXL [640]: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (3): O dia em que o homem foi à lua
Vd. também poste de 12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXV: Paulo Raposo e Rui Felício, dois novos camaradas (CCAÇ 2405, Galomaro, 1968/70)
(***) O astronauta Neil Armstrong foi o primeiro homem a pisar a Lua... Ficou célebre a sua frase: "Este é um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade". Os outros dois tripulantes da nave Apolo 11 eram Edwin Aldrin e Michael Collins.
(****) Vd. último poste da série Efemérides 23 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3925: Efemérides (16): Portugal e o Futuro, de António Spínola, um best-seller há 35 anos
Guiné 63/74 - P4712: Notas de leitura (12): Cronologia da guerra colonial, de José Brandão (Beja Santos)
Capa do livro de José Brandão, Cronologia da Guerra Colonial: Angola, Guiné, Moçambique, 1961-1974. Lisboa: Prefácio, 2008. 454 pp. (Contactos da Editora Prefácio: Rua Pinheiro Chagas n.° 19 - 1º, 1050-174 Lisboa, Telefone +351 217 802 764; +351 213 143 378 , mail: editora.prefacio@mail.telepac.pt ).
O autor, ex-operário metalúrgico, ex-dirigente sindical e ex-membro da comissão política do PS, nasceu em 1948, em Algés, Oeiras, fez a guerra colonial em Moçambique, como radiotelegrafista (1969/71). Foi, desde 1972, um operacional da ARA- Acção Revolucionária Armada, organização criada pelo PCP, e que sabotou, na Metrópole, diversos objectivos militares, afectos ao esforço de guerra no Ultramar, no âmbito da sua luta contra o regime de Salazar-Caetano e a guerra colonial (*).
Foi preso em 27 de Março de 1973 pela PIDE / DGS. É autor de diversas publicações. Cite-se algumas das mais recentes: Suicídios Famosos em Portugal, Edições Europress, Novembro 2007, Portugal Trágico – O Regicídio, Âncora Editora, Fevereiro 2008; A Vida Dramática dos Reis de Portugal, Ministério dos Livros, Setembro 2008.
Tem colaboração dispersa pela imprensa escrita (por exemplo, no Expresso). Anima o blogue Gostar de livros.
O nosso camarada Beja Santos ofertou-nos um exemplar desta publicação, Cronologia da Guerra Colonial, com o objectivo de, em cojunta com outras publicações, vir um dia destes a serem leiloada, num dos nossos encontros, permitindo a angariação de fundos para a manutenção do blogue. O nosso muito obrigado (LG).
1. Texto do Mário Beja Santos, datado de 4 de Dezembro último:
Comentário: Aqui está o que de essencial se passou nas três frentes da nossa guerra em África, ao longo de treze anos, com os seus eventos registados mês a mês e a relação de todos os mortos(combate, acidente ou doença)nesses teatros de operações.
Observa o coronel Ricardo Ferreira Durão:
«Depois do 25 de Abril ainda morreram nos três teatros de guerra 530 militares, 159 dos quais em resultado directo de acções de combate... Portugal manteve entre 1961 e 1973 uma média anual de 105 mil homens envolvidos nas três frentes. Os efectivos tiveram os valores mais elevados em 1973, quando atingiram o total de 148 mil homens».
José Brandão, que se tem notabilizado pela divulgação histórica e colabora no site http://www.vidaslusofonas.pt/ , oferece, com esta iniciativa, um excelente instrumento auxiliar de estudo e uma ferramenta para radiografar os mais significativos feitos militares, em paralelo com a evolução política, nacional e internacional, integrando, com todo o rigor, a presença dos feitos dos movimentos de libertação. (**)
___________
Notas de L.G.:
(*) Algumas das acções de sabotagem e outras levadas a cabo pela ARA:
26 de Outubro de 1970 - Bomba no navio Cunene, ao serviço da guerra colonial.
20 de Novembro de 1970 - Acções contra: (i) Escola Técnica da PIDE/DGS ; (ii) Centro Cultural dos EUA; (iii) material de guerra destinado às guerras coloniais, no Cais da Fundição, em Lisboa.
8 de Março de 1971 - Explosão de engenhos na base aéra de Tancos que destruiu ou danificou 28 aviões e helicópteros.
Junho de 1971 - Sabotagem da central de telecomunicações nacionais e internacionais, em Lisboa, durante a conferência ministerial da NATO.
Junho de 1971 - Corte da rede eléctrica de alta tensão em Sacavém e Belas em simultâneo com o corte das telecomunicações.
3 de Outubro de 1971 - Assalto ao Paiol na Serra da Amoreira.
27 de Outubro de 1971 - Sabotagem do Quartel General do Comiberlant, três dias antes da sua inauguração.
12 de Janeiro de 1972 - Sabotagem de Material de Guerra que seguia para a guerra colonial no navio Muxima.
Agosto de 1972 - Cortes de torres da rede eléctrica de alta tensão em Lisboa (Alhandra e Belas), no Porto e Coimbra, no dia da 'eleição' do Presidente da República Almirante Américo Tomaz.
Fonte: Wikipédia > Acção Revolucionária Armada
(**) Vd. último poste desta série > 15 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3133: Notas de leitura (11): A Guiné do século XVII ao século XIX (Beja Santos)
Há vários postes desta série, com numeração duplicada, por lapso dos editores.
O autor, ex-operário metalúrgico, ex-dirigente sindical e ex-membro da comissão política do PS, nasceu em 1948, em Algés, Oeiras, fez a guerra colonial em Moçambique, como radiotelegrafista (1969/71). Foi, desde 1972, um operacional da ARA- Acção Revolucionária Armada, organização criada pelo PCP, e que sabotou, na Metrópole, diversos objectivos militares, afectos ao esforço de guerra no Ultramar, no âmbito da sua luta contra o regime de Salazar-Caetano e a guerra colonial (*).
Foi preso em 27 de Março de 1973 pela PIDE / DGS. É autor de diversas publicações. Cite-se algumas das mais recentes: Suicídios Famosos em Portugal, Edições Europress, Novembro 2007, Portugal Trágico – O Regicídio, Âncora Editora, Fevereiro 2008; A Vida Dramática dos Reis de Portugal, Ministério dos Livros, Setembro 2008.
Tem colaboração dispersa pela imprensa escrita (por exemplo, no Expresso). Anima o blogue Gostar de livros.
O nosso camarada Beja Santos ofertou-nos um exemplar desta publicação, Cronologia da Guerra Colonial, com o objectivo de, em cojunta com outras publicações, vir um dia destes a serem leiloada, num dos nossos encontros, permitindo a angariação de fundos para a manutenção do blogue. O nosso muito obrigado (LG).
1. Texto do Mário Beja Santos, datado de 4 de Dezembro último:
Comentário: Aqui está o que de essencial se passou nas três frentes da nossa guerra em África, ao longo de treze anos, com os seus eventos registados mês a mês e a relação de todos os mortos(combate, acidente ou doença)nesses teatros de operações.
Observa o coronel Ricardo Ferreira Durão:
«Depois do 25 de Abril ainda morreram nos três teatros de guerra 530 militares, 159 dos quais em resultado directo de acções de combate... Portugal manteve entre 1961 e 1973 uma média anual de 105 mil homens envolvidos nas três frentes. Os efectivos tiveram os valores mais elevados em 1973, quando atingiram o total de 148 mil homens».
José Brandão, que se tem notabilizado pela divulgação histórica e colabora no site http://www.vidaslusofonas.pt/ , oferece, com esta iniciativa, um excelente instrumento auxiliar de estudo e uma ferramenta para radiografar os mais significativos feitos militares, em paralelo com a evolução política, nacional e internacional, integrando, com todo o rigor, a presença dos feitos dos movimentos de libertação. (**)
___________
Notas de L.G.:
(*) Algumas das acções de sabotagem e outras levadas a cabo pela ARA:
26 de Outubro de 1970 - Bomba no navio Cunene, ao serviço da guerra colonial.
20 de Novembro de 1970 - Acções contra: (i) Escola Técnica da PIDE/DGS ; (ii) Centro Cultural dos EUA; (iii) material de guerra destinado às guerras coloniais, no Cais da Fundição, em Lisboa.
8 de Março de 1971 - Explosão de engenhos na base aéra de Tancos que destruiu ou danificou 28 aviões e helicópteros.
Junho de 1971 - Sabotagem da central de telecomunicações nacionais e internacionais, em Lisboa, durante a conferência ministerial da NATO.
Junho de 1971 - Corte da rede eléctrica de alta tensão em Sacavém e Belas em simultâneo com o corte das telecomunicações.
3 de Outubro de 1971 - Assalto ao Paiol na Serra da Amoreira.
27 de Outubro de 1971 - Sabotagem do Quartel General do Comiberlant, três dias antes da sua inauguração.
12 de Janeiro de 1972 - Sabotagem de Material de Guerra que seguia para a guerra colonial no navio Muxima.
Agosto de 1972 - Cortes de torres da rede eléctrica de alta tensão em Lisboa (Alhandra e Belas), no Porto e Coimbra, no dia da 'eleição' do Presidente da República Almirante Américo Tomaz.
Fonte: Wikipédia > Acção Revolucionária Armada
(**) Vd. último poste desta série > 15 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3133: Notas de leitura (11): A Guiné do século XVII ao século XIX (Beja Santos)
Há vários postes desta série, com numeração duplicada, por lapso dos editores.
Guiné 63/74 - P4710: Blogoterapia (119): As Fantas, as Marias, as Natachas, ou o amor em tempo de guerra e de diáspora (Cherno Baldé)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje > 2 de Março de 2008 > Filhas de amores de guerra... Estas duas mulheres, de olhar triste, irmãs, vieram de longe procurar-nos, uma delas com um filho às costas... Queriam saber notícias de um tal Furriel Mil Mecânico Auto, de apelido Barros, que terá estado em Cacine em 1971/72... e que seria de origem madeirense.
Por essa altura, entre 20 de Maio de 1970 até 15 de Fevereiro de 1972, sabe-se que passou por Cacine a CCaç 2726... Segundo informação, de 18 de Maio de 2008, do nosso camarada Juvenal Candeias (, ex-Alf Mil da CCAÇ 3520, Cameconde, 1971/74) , "a CCaç 2726 era a companhia açoreana que eu fui render em Cacine! Pessoalmente não me lembrava do Furriel Auto, mas acabei de telefonar a um soldado auto da minha companhia, que se lembrava perfeitamente do Furriel Auto da 2726... só que o nome... já foi! Contudo, quando lhe falei em Barros, confirmou-me, com muita segurança, que esse era, efectivamente, o Furriel Auto da CCaç 2726. Espero que não se tenha enganado!"...
Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > Um despojo de guerra, uma fotografia de uma bajuda, certamente de etnia mandinga, oferecida a um tal Soncó, tendo no verso a data de 2 de Fevereiro de 1971. Foi apanhada, a foto, pelo Jorge Cabral, comandante do Pel Caç Nat 63, no acampamento temporário, do PAIGC, em Belel, a norte do Enxalé, a sul do Oio, no limite do Cuor, e do Sector L1. (*)
Foto : © Jorge Cabral (2007). Direitos reservados.
1.
Mensagem do Cherno Baldé, membro da nossa Tabanca Grande, autor da série Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (aqui na foto, à esquerda, enquanto estudante e Kiev, na Ucrânia, onde se formou em Planificação e Gestão Económica; vive em Bissau e é casado desde 1992 com a linda Geralda Santos Rocha, natural de Bissau (foto à direita). (**)
Prezado amigo, Luís,
Antes de mais quero fazer uma pequena correção sobre mim. A minha formação de base não é engenharia como erradamente transcreveu e tacitamente eu corroborei, mas planificação e gestão económica.
Na verdade, mesmo aqui entre nós, esta confusão é muito frequente e é tanta que já não me preocupo muito em desmentir pois, no fundo, depois de 18 anos a trabalhar no Ministério das Infraestruturas e Transportes (projectos de obras públicas) e com engenheiros, quase que tomei o gosto.
Depois, quero dizer que gosto da forma como o Jorge Cabral (Cabral há muitos e ...cabrões ainda mais!...) conta suas experiências (estórias) de vida na Guiné (**) A mim, pessoalmente, não me incomoda, aliás eu o felicito pela coragem que tem em fazê-lo com honestidade e sem pudor.
O apelido da sua Fanta (Baldé) diz claramente que é da etnia fula
e não mandinga como ele pensa, embora a área de Binta seja de maioria mandinga como de resto o é toda a zona de Farim. (***).
Todavia, e voltando ao assunto, em alguma parte faltou a coragem da assumpção das responsabilidades quando os filhos, depois de muitos anos, foram bater às portas aos seus pretensos pais (não me refiro aqui, particularmente, a ninguém em especial).
Para aqueles que não sabem (o que é pouco provável) quero informar que, também, nós, Africanos (Pretos, se quiserem), tivemos a oportunidade de viver em terras da Europa, esta velha Europa, orgulhosa e racista mas que também sabe ser, às vezes, acolhedora e bondosa. E também nós tivemos, temos e teremos as nossas experiências não menos dramaticas com as Marias e as Natachas.
Diz um ditado popular que "o mundo é como o rabo de uma pomba" que faz viragens permanentes. Eu nunca utilizarei o termo puta porque penso que o não foram e aí o Jorge é bem explícito. Se todos os Homens fossem tão humanos como o são as mulheres (todas as mulheres), o mundo seria mais justo e a vida mais fácil de viver.
Hoje, envio mais uma parte das minhas crónicas (memórias) que, curiosamente também aborda esta questão da sexualidade escondida nas casernas (****).
Na minha opinião, na nossa Tabanca Grande, as pessoas devem ser mais abertas ao diálogo, à troca de ideias sem preconceitos e/ou ideias fixas.
Um abraço deste irmãozinho de Fajonquito,
Cherno A. Baldé, Chico
[Revisão / fixação de texto / bold a cores: L.G.]
2. Comentário de L.G.:
Não páras de nos surpreender, Cherno Baldé... Fica feita a correcção: não és engenheiro, és um especialista da área da planificação e gestão económica, não és pior nem melhor por não seres engenheiro. O que importa é que te sintas bem na tua pele e possas ser útil, com as tuas competências e experiência, à tua Pátria e ao teu povo...
De resto, os títulos (académicos, profissionais, sociais ou outros) aqui não são relevantes: como sabes, na nossa Tabanca Grande, tratamo-nos por tu, à boa maneira romana... Os camaradas da Guiné tratam-se por tu, e os seus amigos são convidados a seguir o seu exemplo... Eu trato o Chico por tu e o Chico deve responde no mesmo registo... Não é preciso estar a lembrar-to, meu irmãozinho.
Quantos aos textos que me mandaste, vão de certo fazer as delícias dos teus (e das tuas) fãs... Obrigado por teres retomado, aqui, um tema que é delicado... mas que não é virgem nem tabu, no nosso blogue: o tema das nossas Fantas, mas também das nossas Marias, das nossas Natashas... Falamos do(s) amor(es) em tempo de guerra, de diáspora, de imigração... (Para sermos politicamente correctos, que é uma coisa pior que a sarna, também teríamos que dizer: dos nossos Chernos, dos nossos Manéis, dos Vladimiros...).
Obrigado, por fim, pelo teu apelo, que nada tem de surpeendente vindo de um homem como tu, cidadão do mundo, no sentido da abertura de espírito, da tolerância, do diálogo, da liberdade... Não imaginas como essas palavras caiem tão bem, no nosso blogue, e na nossa Tabanca Grande, em início ou em véspera de férias, numa altura em que andamos já todos tão cansados e irritados...
Cuida de ti. Luís Graça
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 14 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2841: Estórias cabralianas (35): A bajuda de Belel, os Soncó e o amigo dos turras (Jorge Cabral)
Vd. último poste da série > 7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4651. Estórias cabralianas (51): Alfero esfregador entre as balantas (Jorge Cabral)
Vd. também, entre outros, o poste de 29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1900: Estórias cabralianas (25): Dois amores de guerra e uma declaração: Não sou pai dos 'piquinos Alferos Cabral' (Jorge Cabral)
(**) Vd. último poste da série Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé):13 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4679: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (6): Uma gesta familiar, de Canhámina a Sinchã Samagaia, aliás, Luanda
(***) O Cherno Baldé terá trocado o nome dos autores: a história da Fanta Baldé não é do Jorge Cabral mas do Victor Junqueira > Vd. poste de 31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: Histórias de Vitor Junqueira (7): A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação
(...) Comentário (prévio) de L.G.:
(i) Amigos e camaradas: o que vão ler, é um dos mais belos textos que um homem pode escrever sobre uma mulher em tempo de guerra. O estilo é puro e duro, o título enganador... Há uma tremenda ternura subliminar que me emocionou, e que só pode honrar o homem, o médico e o português que é o Vitor Junqueiro. É um texto que nos honra a todos. É uma homenagem a todas as Fantas Baldés da Guiné que climatizaram os nossos pesadelos, e que dormiram connosco na cama...
(ii) É um texto corajoso, escrito na primeira pessoa do singular, sem máscaras, sem defesas, que muitos de nós gostariam de ter escrito. É um escrito da maturidade, um escrito que revela uma grande nobreza de alma, sensibilidade e humanidade...
(iii) É um poste que definitivamente vai figurar na antologia dos melhores postes do nosso blogue... (...)
Vd. ainda o poste de 9 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4306: Blogpoesia (46): O sexo em tempo de guerra (Luís Graça)
(****) A publicar em próxima oportunidade
Guiné 63/74 - P4709: Da Suécia com saudade (12) (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (12): O meu tecto mais não é que o soalho do vizinho
Djurgarden
1. Mensagem de Joseph Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2381 - Os Maiorais, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70, com data de 17 de Julho de 2009:
Caros Camaradas e Amigos!
Afastado, por razões profissionais, das leituras assíduas da nossa Tabanca Grande, ao procurar pôr-me em dia fiquei surpreendido com o teor radicalista e excludente de alguns contributos e comentários.
As terríveis experiências de um passado que nos une não serão mais fortes que alguns egos? A original ideia do fundador do blogue foi de... inclusão! De todas as cores de pele, e não só! Daí o êxito da iniciativa, num somatório único de documentação histórica-vivida.
Recordo um pequeno trabalho do poeta sueco Nils Ferlin:
"Dançam no andar de cima! O prédio está acordado apesar de já passar da meia-noite. E, bruscamente, compreendo que o tecto - O MEU TECTO - mais não é que o soalho do vizinho"
José Belo.
2. Resposta de Luís Graça com a mesma data:
José:
São de um grande conforto, para mim, o Carlos, o Eduardo e o Virgínio, as tuas palavras. Reconfortantes e oportunas. E como é poderosa a mensagem do teu poeta sueco: não há fronteiras, não há paredes, o meu tecto é o teu soalho... Que lindo! És um grande camarada... Vamos publicar na tua série habitual... Saúde para ti. Saudades da malta do blogue.
Um Alfa Bravo.
Luís
__________
Nota de CV:
(*) Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4221: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (11): Custa a acreditar que o Gen Almeida Bruno nos trate assim
1. Mensagem de Joseph Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2381 - Os Maiorais, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70, com data de 17 de Julho de 2009:
Caros Camaradas e Amigos!
Afastado, por razões profissionais, das leituras assíduas da nossa Tabanca Grande, ao procurar pôr-me em dia fiquei surpreendido com o teor radicalista e excludente de alguns contributos e comentários.
As terríveis experiências de um passado que nos une não serão mais fortes que alguns egos? A original ideia do fundador do blogue foi de... inclusão! De todas as cores de pele, e não só! Daí o êxito da iniciativa, num somatório único de documentação histórica-vivida.
Recordo um pequeno trabalho do poeta sueco Nils Ferlin:
"Dançam no andar de cima! O prédio está acordado apesar de já passar da meia-noite. E, bruscamente, compreendo que o tecto - O MEU TECTO - mais não é que o soalho do vizinho"
José Belo.
2. Resposta de Luís Graça com a mesma data:
José:
São de um grande conforto, para mim, o Carlos, o Eduardo e o Virgínio, as tuas palavras. Reconfortantes e oportunas. E como é poderosa a mensagem do teu poeta sueco: não há fronteiras, não há paredes, o meu tecto é o teu soalho... Que lindo! És um grande camarada... Vamos publicar na tua série habitual... Saúde para ti. Saudades da malta do blogue.
Um Alfa Bravo.
Luís
__________
Nota de CV:
(*) Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4221: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (11): Custa a acreditar que o Gen Almeida Bruno nos trate assim
Guiné 63/74 - P4708: Blogoterapia (118): CCAÇ 2317 - Sofrer e morrer em Gandembel (Manuel Tavares Oliveira)
1. Manuel Tavares de Oliveira (*), ex-1.º Cabo da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana, deixou este comentário no Poste "Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (**):
Sim, Alferes Reis, foi um sofrimento desde o momento em que saímos de Guileje para Gandembel, antes de lá chegarmos, mais ou menos a um quilómetro, tivemos a morte num fornilho do nosso Alferes Leitão e, a partir daí , iniciámos o que viria a ser um constante confronto, com curtos intervalos.
Um que me lembro e não posso tirar do meu pensamento, foi aquele que o inimigo conseguiu encostar à rede uma bateria de canhões e disparou sem interrupção. Eu, que estava entregue ao morteiro 120, não pude de forma alguma fazer mais que o primeiro disparo e, este, fi-lo porque o morteiro estava sempre com uma munição.
Também me lembro que foi nesse dia que o Fur Ferreira foi ferido pelo soldado básico, que não conseguiu segurar a G3, caindo para trás com o dedo no gatilho.
Alferes Reis, não é fácil esquecer a forma como o Fur Alves ficou sem as pernas, nessa missão de abastecimento de água em que eu também estava presente.
Aqui mais uma vez não consigo esquecer-me dos nossos sofrimentos numa guerra estúpida.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
6 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4647: Estórias avulsas (41): Fotos de Gandembel e Ponte Balana (Manuel Oliveira)
e
11 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4669: Tabanca Grande (161): Manuel Tavares Oliveira, um sobrevivente de Gandembel / Balana, ex-1º Cabo da CCAÇ 2317 (1968/1969)
(**) Vd. poste 19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques
Vd. último poste da série de 12 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4672: Blogoterapia (117): Quem somos nós? (António J. Pereira da Costa)
Sim, Alferes Reis, foi um sofrimento desde o momento em que saímos de Guileje para Gandembel, antes de lá chegarmos, mais ou menos a um quilómetro, tivemos a morte num fornilho do nosso Alferes Leitão e, a partir daí , iniciámos o que viria a ser um constante confronto, com curtos intervalos.
Um que me lembro e não posso tirar do meu pensamento, foi aquele que o inimigo conseguiu encostar à rede uma bateria de canhões e disparou sem interrupção. Eu, que estava entregue ao morteiro 120, não pude de forma alguma fazer mais que o primeiro disparo e, este, fi-lo porque o morteiro estava sempre com uma munição.
Também me lembro que foi nesse dia que o Fur Ferreira foi ferido pelo soldado básico, que não conseguiu segurar a G3, caindo para trás com o dedo no gatilho.
Alferes Reis, não é fácil esquecer a forma como o Fur Alves ficou sem as pernas, nessa missão de abastecimento de água em que eu também estava presente.
Aqui mais uma vez não consigo esquecer-me dos nossos sofrimentos numa guerra estúpida.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
6 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4647: Estórias avulsas (41): Fotos de Gandembel e Ponte Balana (Manuel Oliveira)
e
11 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4669: Tabanca Grande (161): Manuel Tavares Oliveira, um sobrevivente de Gandembel / Balana, ex-1º Cabo da CCAÇ 2317 (1968/1969)
(**) Vd. poste 19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques
Vd. último poste da série de 12 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4672: Blogoterapia (117): Quem somos nós? (António J. Pereira da Costa)
domingo, 19 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4707: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (10): Mina bailarina
1. Mensagem de Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, com data de 14 de Julho de 2009:
Caro Carlos Vinhal:
Na postagem desta estória pedia-te que, no poema, respeitasses os parágrafos
para não desvirtuar a intenção do autor ao destacar as duas sílabas "mina"
sempre só numa linha.
Um abraço e até para a semana.
Fernando Gouveia.
A GUERRA VISTA DE BAFATÁ
Foto 1 - Bafatá. A tabanca da Roccha em primeiro plano. Da rotunda à direita partia a Av. Principal que terminava junto do mercado e da piscina. Ao fundo vê-se a igreja. 1969.
10 – Mina Bailarina
Foto 2 - Bafatá vista da estrada para Geba. Aqui andava-se livremente, sem minas, apesar de essa tabanca, a uns escassos 10 Km, ser atacada regularmente. 1969.
Cabe desde já referir que o título desta pequena e simples estória se deve, não a uma mina bailarina antipessoal nem tão pouco à potente mina anticarro que faz parte da estória, mas sim ao título de um belíssimo poema bastante mais carregado de significado, de um nosso camarada Coronel na reserva, com quatro comissões na guerra colonial que, entre outras coisas, se dedica à poesia.
Terminarei com esse poema, “Mina Bailarina” incluído no livro “Incursões” da autoria de Bernardo Branco (pseudónimo) e com capa de José Rodrigues.
Se em qualquer guerra se pode considerar: a frente e a retaguarda, cada uma completando a outra, então direi que pertencia à retaguarda.
Já referi várias vezes que, desde a mobilização para a Guiné e até ao regresso à metrópole, tive sorte, sorte e mais sorte, contrariamente ao que infelizmente se passou com muitos camaradas.
Por sorte não fui comandar um Pelotão de Reconhecimento como aconteceu com a maior parte dos meus colegas do Pel Rec Inf de Mafra. Fui sim destinado às Informações, nomeadamente a Oficial de Informações do Comando de Agrupamento de Bafatá.
Entrando directamente na estória que hoje aqui me traz, começo por dizer que as minhas funções no Comando de Agrupamento eram na prática, e principalmente, receber, triar e registar de várias formas todas as notícias (informações) que iam chegando, normalmente via mensagens rádio referentes quer ao IN, quer às NT.
Abrindo aqui um parênteses, referirei que durante os dois anos em que lá exerci essas funções, nunca em caso algum tive qualquer contacto com elementos da PIDE, o que sempre achei estranho. Ainda bem que assim foi, mas não posso deixar de referir que essa indiferença por parte da PIDE era talvez um prenúncio da sua decadência, bem como do regímen que a sustentava.
Um dos registos que a toda a hora tinha que fazer era a actualização de todas as acções IN no mapa da zona leste à Esc 1/50.000, que ocupava toda uma parede da sala onde trabalhava. Havia sinais autocolantes em mica vermelha que iam sendo colocados nos locais dessas acções. Decorrido um certo tempo esses sinais eram substituídos por outros cor-de-laranja. Assim, num simples relance de olhar, podia-se detectar onde, de momento, havia mais actividade IN.
À tarde de determinado dia (do ano de 1969) chegou uma mensagem referindo a detecção e levantamento de uma mina anticarro, por uma coluna que se dirigia para um destacamento (não lembro o nome) algures no sector de Bambadinca.
Seria mais um sinal que iria colocar no mapa, mas não foi só isso. Tendo reparado que havia mais sinais cor-de-laranja de minas no mesmo itinerário e puxando da memória e dos arquivos, depressa cheguei à conclusão que todas as vezes que esse destacamento era atacado (de 2 em 2 meses, suponho), no dia seguinte a respectiva coluna de reabastecimento detectava e levantava uma mina anticarro.
Não foi difícil tirar a conclusão final: Esse aquartelamento iria ser atacado, nesse dia, ao anoitecer como era costume.
De imediato fui ter com o Cor Hélio Felgas, meu comandante, e dado que o conhecia muito bem, levei logo comigo o bloco das mensagens.
- Meu comandante, este destacamento vai ser atacado hoje. Ouviu as minhas explicações. Sem dizer uma palavra, estendeu a mão para o bloco das mensagens e escreveu:
- Prevê-se ataque IN esse hoje tome providências.
Ao anoitecer chegava uma mensagem referindo o ataque. De imediato o Cor Felgas mandou outra a perguntar quais as providências tomadas.
Não me recordo se houve ou não mais uma punição para um comandante de destacamento, caso naquele dia não tenha saído do arame.
E a propósito de mina, nada melhor para terminar que a bela e também dramática poesia que se segue.
MINA BAILARINA
Filão que paga as contas
e o rodopio.
Há muito que o mineiro
salva o salário na folha corrente
e o saldo positivo-negativo se exa-
mina.
Na febril valsa o operário,
no calafrio
em que o preço da fome se ensina,
aperta nos braços de inúmeros moldes
cruzes onde o sangue pinta o papel que deter-
mina.
Vêm assim ao de cima
as escórias do túnel
que o filão de extropiados elimina e ilu-
mina
e nas contas do fabricante
há um acordo que exter-
mina.
E só depois da valsa assassina
alimentar a dança
é que os mandantes do baile que ful-
mina
se apressam a mudar a música,
sem que de uma vez por todas rebentem
com o filão que os recri-
mina.
A próxima estória andará à volta de uma Operação de Páras, que acertou no alvo, resultado de um interrogatório a um elemento IN e onde mostrarei vários livros escolares IN e outros objectos capturados.
Até para a semana camaradas.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 12 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4675: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (9): Férias na Metrópole. Não há duas sem três...
Caro Carlos Vinhal:
Na postagem desta estória pedia-te que, no poema, respeitasses os parágrafos
para não desvirtuar a intenção do autor ao destacar as duas sílabas "mina"
sempre só numa linha.
Um abraço e até para a semana.
Fernando Gouveia.
A GUERRA VISTA DE BAFATÁ
Foto 1 - Bafatá. A tabanca da Roccha em primeiro plano. Da rotunda à direita partia a Av. Principal que terminava junto do mercado e da piscina. Ao fundo vê-se a igreja. 1969.
10 – Mina Bailarina
Foto 2 - Bafatá vista da estrada para Geba. Aqui andava-se livremente, sem minas, apesar de essa tabanca, a uns escassos 10 Km, ser atacada regularmente. 1969.
Cabe desde já referir que o título desta pequena e simples estória se deve, não a uma mina bailarina antipessoal nem tão pouco à potente mina anticarro que faz parte da estória, mas sim ao título de um belíssimo poema bastante mais carregado de significado, de um nosso camarada Coronel na reserva, com quatro comissões na guerra colonial que, entre outras coisas, se dedica à poesia.
Terminarei com esse poema, “Mina Bailarina” incluído no livro “Incursões” da autoria de Bernardo Branco (pseudónimo) e com capa de José Rodrigues.
Se em qualquer guerra se pode considerar: a frente e a retaguarda, cada uma completando a outra, então direi que pertencia à retaguarda.
Já referi várias vezes que, desde a mobilização para a Guiné e até ao regresso à metrópole, tive sorte, sorte e mais sorte, contrariamente ao que infelizmente se passou com muitos camaradas.
Por sorte não fui comandar um Pelotão de Reconhecimento como aconteceu com a maior parte dos meus colegas do Pel Rec Inf de Mafra. Fui sim destinado às Informações, nomeadamente a Oficial de Informações do Comando de Agrupamento de Bafatá.
Entrando directamente na estória que hoje aqui me traz, começo por dizer que as minhas funções no Comando de Agrupamento eram na prática, e principalmente, receber, triar e registar de várias formas todas as notícias (informações) que iam chegando, normalmente via mensagens rádio referentes quer ao IN, quer às NT.
Abrindo aqui um parênteses, referirei que durante os dois anos em que lá exerci essas funções, nunca em caso algum tive qualquer contacto com elementos da PIDE, o que sempre achei estranho. Ainda bem que assim foi, mas não posso deixar de referir que essa indiferença por parte da PIDE era talvez um prenúncio da sua decadência, bem como do regímen que a sustentava.
Um dos registos que a toda a hora tinha que fazer era a actualização de todas as acções IN no mapa da zona leste à Esc 1/50.000, que ocupava toda uma parede da sala onde trabalhava. Havia sinais autocolantes em mica vermelha que iam sendo colocados nos locais dessas acções. Decorrido um certo tempo esses sinais eram substituídos por outros cor-de-laranja. Assim, num simples relance de olhar, podia-se detectar onde, de momento, havia mais actividade IN.
À tarde de determinado dia (do ano de 1969) chegou uma mensagem referindo a detecção e levantamento de uma mina anticarro, por uma coluna que se dirigia para um destacamento (não lembro o nome) algures no sector de Bambadinca.
Seria mais um sinal que iria colocar no mapa, mas não foi só isso. Tendo reparado que havia mais sinais cor-de-laranja de minas no mesmo itinerário e puxando da memória e dos arquivos, depressa cheguei à conclusão que todas as vezes que esse destacamento era atacado (de 2 em 2 meses, suponho), no dia seguinte a respectiva coluna de reabastecimento detectava e levantava uma mina anticarro.
Não foi difícil tirar a conclusão final: Esse aquartelamento iria ser atacado, nesse dia, ao anoitecer como era costume.
De imediato fui ter com o Cor Hélio Felgas, meu comandante, e dado que o conhecia muito bem, levei logo comigo o bloco das mensagens.
- Meu comandante, este destacamento vai ser atacado hoje. Ouviu as minhas explicações. Sem dizer uma palavra, estendeu a mão para o bloco das mensagens e escreveu:
- Prevê-se ataque IN esse hoje tome providências.
Ao anoitecer chegava uma mensagem referindo o ataque. De imediato o Cor Felgas mandou outra a perguntar quais as providências tomadas.
Não me recordo se houve ou não mais uma punição para um comandante de destacamento, caso naquele dia não tenha saído do arame.
E a propósito de mina, nada melhor para terminar que a bela e também dramática poesia que se segue.
MINA BAILARINA
Filão que paga as contas
e o rodopio.
Há muito que o mineiro
salva o salário na folha corrente
e o saldo positivo-negativo se exa-
mina.
Na febril valsa o operário,
no calafrio
em que o preço da fome se ensina,
aperta nos braços de inúmeros moldes
cruzes onde o sangue pinta o papel que deter-
mina.
Vêm assim ao de cima
as escórias do túnel
que o filão de extropiados elimina e ilu-
mina
e nas contas do fabricante
há um acordo que exter-
mina.
E só depois da valsa assassina
alimentar a dança
é que os mandantes do baile que ful-
mina
se apressam a mudar a música,
sem que de uma vez por todas rebentem
com o filão que os recri-
mina.
A próxima estória andará à volta de uma Operação de Páras, que acertou no alvo, resultado de um interrogatório a um elemento IN e onde mostrarei vários livros escolares IN e outros objectos capturados.
Até para a semana camaradas.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 12 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4675: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (9): Férias na Metrópole. Não há duas sem três...
sábado, 18 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4706: Meu pai, meu velho, meu camarada (10): Depoimento e fotos sobre o Cap-Pára João Costa Cordeiro (Miguel Pessoa)
1. Mensagem de Miguel Pessoa (1), ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Pilav Reformado, com data de 18 de Julho de 2009:
Caros amigos:
Estou de passagem por Lx tentando pôr em dia as mensagens da Net.
Um destes dias o Luís telefonou-me tentando obter alguns dados sobre o Cap. Cordeiro. Infelizmente pouco tenho.
Mesmo assim, envio-vos três fotos obtidas durante a minha evacuação (uma já foi publicada no blogue), bem
como este texto adaptado de alguns dados fornecidos pelo agora Gen Norberto Bernardes, seu companheiro na CCP123 em 1973 (como tenente, depois capitão).
Não tive a oportunidade de obter a sua autorização para serem publicados, pelo que convém que sejam usados com alguma parcimónia.
Um abraço fugaz (vou afastar-me novamente da Net, a partir de 2ªfeira...).
Miguel
Obs: Dados fornecidos pelo Gen. Norberto Bernardes, que entre 11 de Junho de 1972 e 17 de Fevereiro de 1974 prestou serviço na CCP123/BCP12.
A CCP123 como todas as Companhias tinha 4 pelotões a 30 homens (nas operações só eram empenhados 25 - um volante de 5 descansava em cada operação e fazia a guarda de equipamentos e munições de reserva quando estava aquartelada em quartéis do Exército).
Mas actuavam operacionalmente nesse período ou a nível pelotão (poucas vezes) e quase sempre a nível de bigrupo (2 pelotões). Operacionalmente o Comandante da Companhia actuava como comandante de um bigrupo.
O oficial mais antigo ou mais graduado de um dos pelotões da companhia era cumulativamente o comandante do outro bigrupo.
O Cap Cordeiro foi Comandante da CCP 123 entre 12 de Outubro de 1972 e 15 de Outubro de 1973. No entanto a partir de 8 de Agosto de 1973, o Cap. Bernardes assumiu interinamente o comando da CCP123 e formalmente em 15 de Outubro de 1973 até 18 de Fevereiro de 1974.
Um Comandante de Companhia tinha como responsabilidades a actividade administrativa (pouca, porque era centralizada no Comando do Batalhão e a FAP centralizava os vencimentos), a disciplina, a instrução e o moral e o bem-estar. Na área operacional era comandante de um bigrupo (2 pelotões).
Neste caso o Cap Cordeiro era o comandante do 1.º bigrupo e o Cap. Bernardes do 2. bigrupo. Que actuavam isolados.
Ambos estes oficiais estiveram envolvidos na recuperação do Ten. Miguel Pessoa no Guileje, em 26MAR73, o Cap. Cordeiro no grupo que fez o resgate, o então Ten. Bernardes no grupo que fez a defesa próxima.
O Cap. Cordeiro foi transferido da CCP123 para a CCP122 em 16 de Outubro de 1973, ali tendo permanecido até 3 de Janeiro de 1974.
Abraço,
Miguel Pessoa
Fotos: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados
_____________
Nota de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
Guiné 63/74 - P4705: Meu pai, meu velho, meu camarada (9): Testemunho do Coronel Pára Sílvio Araújo sobre o Cap-Pára João Costa Cordeiro (João Seabra)
1. Mensagem de João Seabra, ex-Alf Mil da CCAV 8350, Piratas de Guileje (Guileje, 1972/74), com data de 17 de Julho de 2009:
Caro Luís,
Se ainda vier a propósito, podes publicar o testemunho do Coronel Pára Sílvio Araújo e Sá (já falecido) e Comandante do BCP 12, sobre o Capitão João Cordeiro (RELOPS nº 16/73 "Dinossauro Preto", de que há pouco tempo obtive cópia no AHMS).
Tenho estado sem "ir ao blogue", porque tenho o trabalho atrasadíssimo e gostava de ter 10 dias de férias, a partir de 28 de Julho.
Se tiver tempo, ainda porei à tua consideração (e de mais uns quantos) uns esclarecimentos, acompanhados de pedido de conselho.
Abraço,
João Seabra
Imagem: © João Seabra (2009). Direitos reservados
_____________
Notas de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4704: Depois da guerra, o stresse... da paz (3): José Eduardo Oliveira, ex-Fur Mil, CCAÇ 675, Binta, 1965/66
1. Texto do Camarada José Eduardo Oliveira, ex-Fur Mil Enfermeiro, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim (1964/66), enviado em 16 de Julho:
Bom dia Luís,
Renovados agradecimentos pela 2ª postagem, a tal do "stress de paz"... não politicamente correcta.
A apresentação está excepcional e a selecção de imagens e comentários merece nota "10".
Já percebi entretanto, pelo comentário de Alberto Branquinho, que vou (vamos) ter "perfeccionistas". Tudo bem. Eu sou mais do género desenrascado e prá frente, mas cá estarei para o debate de ideias. Ao pormenor, se for caso disso. A esse propósito como devo responder. Para o blogue? Ou há outra maneira? Confesso ser um "periquito" nesta área...
Em relação a pormenores peço o favor da seguinte correcção. A CCAÇ 675 esteve na Guiné em 1964/66 e não 1964/65. Chegámos a Bissau em 13 de Maio de 1964 e regressámos de Bissau a Lisboa, em viagem do "UIGE" de 28 de Abril de 1966.
No mato, zona de Binta e Guidage, estivemos desde Julho de 1964 a Abril de 1966. Em termos operacionais pode-se dizer que em cerca de 9 meses "ganhámos a guerra mas...NÃO FECHÁMOS A GUERRA.".Tivemos uma mina anti-carro, que nos provocou um morto e oito feridos e já com 18 meses de comissão, tivemos mais um morto devido a uma mina anti-pessoal.
Durante a recuperação de populações na fase da Tabanca Nova e da Vila Tomé Pinto fizemos mais de 20 patrulhas por mês. Na 675 não havia greves de zelo...
Votos de bom fim-de-semana e até breve. Telefono na próxima 2ª feira.
Um grande abraço,
José Eduardo Oliveira
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
2. Comentário do Luís Graça
Amigos e camaradas:
Não é todos os dias que aparece um de nós a dizer e assumir em público, que a GUINÉ, a experiência da "guerra & paz" que foi a Guiné, também representou alguns dos melhores dias, semanas, meses e até anos das NOSSAS VIDAS...
Politicamente incorrecto?
No nosso blogue, não conhecemos esse advérbio de modo...
Leiam e comentem.
LG
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Notas de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
Guiné 63/74 - P4703: Meu pai, meu velho, meu camarada (8): Sobre o Capitão-Pára João Costa Cordeiro (Manuel Peredo)
1. O nosso Camarada Manuel Peredo, que foi Fur Mil Pára-quedista (CCP 122 / BCP 12, Brá, Bissalanca, 1972/74), enviou-nos a seguinte mensagem em 17 de Julho:
Camaradas,
Li com especial atenção o poste de Pedro Cordeiro, filho do Capitão-Pára Cordeiro.
Foi meu Comandante de Companhia durante uns três meses, mais ou menos.
Depois de regressarmos de Gadamael ele passou a comandar a CCP 122 em substituição do Capitão Terras Marques.
Soube do seu falecimento, quando já tinha regressado à Metrópole. Não posso fazer grandes comentários sobre a sua personalidade, devido ao pouco tempo que estive sob o seu comando e, na altura, a nossa actividade operacional, também não era muito elevada, porque todo o batalhão estava muito desgastado depois da campanha de Gadamael.
A ideia que tenho dele é que devia ser um homem sério e pouco dado a brincadeiras.
Aqui mando uma fotografia onde ele está no meio de um grupo que acabara a comissão.
Nos páras fazia-se uma festa para homenagear os "velhinhos" e entregar os galhardetes da companhia e do batalhão. Eu sou o primeiro da direita, ao lado do Primeiro Sargento Cardoso, secretário da companhia. Na foto estão também o Primeiro Sargento Tavares e o Furriel Fernandes, meu colega de pelotão.
Um abraço,
Manuel Peredo
Fur Mil Pára do CCP 122
Foto: © Manuel Peredo (2008). Direitos reservados
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Notas de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
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