quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4838: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (VI): Estadia em Contuboel e férias na Metrópole (27MAI65 a 29SET65)

Continuação do Diário de Guerra, de Cristovão de Aguiar (VI)


Contuboel, 27 de Maio de 1965


Demorámos dois dias e duas noites para atra­ves­sar o rio Geba com todo o nosso material de campanha. Não tivemos outro re­médio senão comer rações de combate e beber água meio choca e bi­chen­ta. Dor­mi­mos, isto é, atravessámos as duas longas noites com muita mos­quitada a atazanar os miolos e a pele. E não houve repelente que a afastasse. Chegámos ao que vai ser a sede da nossa companhia anteon­tem ao princípio da noite. Estavam aqui apenas nove homens e um furriel miliciano, que comandava a re­s­pectiva secção de armas pesadas. Com a guerri­lha a apertar cada vez mais, os chefes desta guerra estão a guarnecer melhor certas posições-chaves. Fui cum­primentar as forças vivas da terra: o chefe de posto, um branco, ex-furriel e ex-semi­narista, e dois comerciantes − um português, oriundo do concelho de Góis, ainda novo, e res­pectiva consorte; e um li­banês, tam­bém casado, cujo esta­be­lecimento fica em frente da messe. Ambos os tra­ficantes não se podem ver um ao outro, como mandam as re­gras da boa vizi­nhan­ça. Não lhes dei grandes con­fianças, sobretudo ao chefe de posto, que, para se mostrar valente diante de mim, es­bo­feteou um cipaio que se não levantou à minha passagem na varanda do posto. Cha­mei-lhe a atenção para o facto e ele pare­ceu-me que não ficou nada satis­feito, pelo menos senti-o pelo olhar, que agarrei pelo cabo e devolvi ao seu dono.


Contuboel, 1 de Junho de 1965

PROMESSA

Trago à cabeça
Um cesto de rimas
Que é uma promessa
De novas vindimas...

Meu Avô era tanoeiro:
Fazia pipas e selhas,
Tonéis, dornas e barris...
Meu Pai é serralheiro:
Forja foices e relhas,
Machados e picare­tas...
Somente eu pouco fiz:
- Apenas versos e tretas!


Camamudo, 12 de Junho de 1965

Vim a este destacamento de Bafatá en­con­trar-me com o meu amigo Viriato Madeira, que está prestes a terminar a sua comis­são. Esteve anteriormente, com a sua companhia, na Ilha do Como, durante cerca de um ano, rodeado de arame farpado e sem poder sair do aquartelamento de cam­panha, im­plan­tado no chamado reino do Nino, onde ninguém se atre­via a entrar ou a sair. Vie­ram de lá todos bem marcados. Foi tal a nossa alegria, que chorámos como duas crianças perdidas que se reencontram e abraçam uma à outra. E, para festejar o nosso encon­tro, preparou-me uma bebida, que ele chama bomba, espécie de cocktail revolu­cio­nário, que me pôs a dormir ou em coma alcoólico quase ins­tan­tanea­mente. Quando des­pertei, já era tarde para seguir para Contuboel. Mandei um rádio a prevenir que passava a noite em Ba­fatá, na sede do batalhão.


Contuboel, 22 de Junho de 1965

Acabei de riscar a sexagésima cruzinha no ca­len­dário. É uma espécie de desobriga que pratico todos os dias, à noite, antes de me dei­tar. Ainda faltam tantas centenas, meu Deus! Será que chego ao fim? Comprei doze livros de Aquilino Ribeiro num estabelecimento de Bafatá. Cada um custou-me qua­renta e cinco escudos. Tenho muito que ler, se para tal tiver cabeça.


Contuboel, 29 de Junho de 1965

Fui com o meu pelotão reforçar a com­pa­nhia de Fajonquito numa operação de dois dias ao mato do Caresse. Chegámos ontem. Ao descalçar as botas de lona e tirar as peúgas grossas, encardidas, vieram-me pe­daços de pele a elas agarrada. Anteontem, a um domingo logo de manhã, ainda an­tes da missa na minha freguesia, na Ilha, onde assisti, durante a emboscada, à en­trada e à saída para lhe receber o sorriso e ficar comungado para o resto do dia, tive então o meu baptismo de fogo. Foi cerca de uma hora e meia (o tempo da missa ar­rastada do senhor padre Joaquim) que estive debaixo de metralha constante. Não vi nenhum ini­migo, mas senti-lhe a presença. Fumei quase um maço de cigarros Sa­gres e bebi toda a água do meu cantil e a do meu guarda-costas. Os velhinhos da companhia a que nos juntámos, a quatro meses apenas do fim da comissão, estão tão tarimbados nisto, que nem fizeram grande caso do tiroteio, nem sequer respon­deram. A dada altura, piraram-se no en­calço do capitão, para uma clareira onde já não havia perigo de maior. E fiquei mais o meu pelotão ainda durante algum tempo na mira dos guerrilheiros, mas não houve nem mortos nem feridos.


Contuboel, 25 de Julho de 1965

O TEU ANIVERSÁRIO

Neste dia dos teus vinte e um anos,
Dependurei uma violeta
No meu lembrar-te.
Queria oferecer-te açafates
De ternura
E beijos buliçosos
Como estes pássaros
Nos fios de alta tensão...

Lembrei-te
Como quem se demora
No beber uma memória antiga
Em fotografias desmaiadas...

O meu recordar-te
Foi um cortejo de martírio
Ao longo de canadas íntimas
Do saber-te cada vez mais longe,
Fictícia,
E no entanto perto,
Tão aconchegada ao meu peito,
Que deixaste de ser fora de mim...


Bissau, 23 de Agosto de 1965

Parto amanhã para Lisboa em gozo de férias. Vou dar um passo importante na vida e se calhar não estou para ele preparado nem ama­du­re­cido. Que se lixe. Preciso urgentemente de um descendente que me pro­longue, no caso de vir a morrer com um tiro na cabeça um dia destes nesta desal­mada guerra de nervos e do resto. O livrinho que publiquei não vai dar boa conta de mim. Precipitei-me. Já tinha plantado uma árvore. Tem apanhado bordoada da críti­ca, que até ar­repia. Vide Pinheiro Torres, no Diário de Lis­boa, e Jaime Gama, no Açores. Quanto ao as­sunto que me leva de viagem, devia es­pe­rar mais algum tempo para depois ler, com outra reflexão e outro descanso, Um Casamento do Pós-guerra, de Carlo Cas­sola.

Pico da Pedra, 19 de Setembro de 1965

Domingo de procissão de Nossa Se­nho­ra dos Prazeres. Durante o almoço familiar, estalejaram alguns foguetes, anun­ciando o le­vantar a Deus da missa da festa. Quando dei por mim, estava deitado no chão, de­baixo da mesa. O que são os reflexos condicionados! Na guerra, temos de actuar o mais rápido possível: mal se ouve um tiro ou qualquer detona­ção, tem uma pessoa de se ati­rar logo para o chão, caso contrário.


Pico da Pedra, 23 de Setembro de 1965

SONS DE DESPEDIDA

No magoado cantar desta chuva,
Es­cuto tristes sons de despedida:
- Amargurados prantos de viúva
Suplicando que o amante torne à vida.

Partir só de braços livres, sem destino,
Como esta chuva caindo sem fim:
- Ter um barco e um sonho de menino,
Que o mar já o trago dentro de mim.

Partir é soltar a tranca da porta
Desta alma que vive quase morta
Na jaula duma luta que se não cansa...

Se o mar que me deixaram em herança,
Me desse uma resposta, uma esperança,
Eu fingiria um tiro na lembrança...


Lisboa, 25 de Setembro de 1965

Acabaram-se as tréguas. Vou de novo de re­gresso a Bissau, sem ânimo de qualidade nenhuma. Quando chegar ao mato, vão de­certo al­guns estranhar que tenha voltado. O sargento Cabaço dizia, em segredo, an­tes de eu vir a férias, que o alferes Aguiar nunca mais poria os pés no teatro de guerra, com certeza iria desertar. E teimava que o sabia de fonte limpa e segura.


Contuboel, 29 de Setembro de 1965

EU E A NOITE

Abro as mãos
E a noite poisa,
A noite pesa-me.

Trago a noite
Vestida
Muito justa
No corpo todo.

Se fecho as mãos,
Não esmago
A noite,
Porque a noite
É tudo
E eu sou
A própria noite.

A noite não se anula
No fogo das estrelas...
Nem a guerra se cala
Na boca das ar­mas.

Nas mãos estendidas,
O peso da noite
E um vendaval de tosse
Na casa­mata do peito...
__________

Notas de CV:

1. Destaques da responsabilidade de CV

2. Vd. último poste do "Diário de Guerra" de 11 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4013: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (V): Do Tejo ao Geba (17 de Abril de 1965/25 de Maio de 1965)

Guiné 64/74 - P4837: ”PAIGC – Análise dos tipos de resistência , 2 - Resistência económica” - Páginas 20 a 24 (Magalhães Ribeiro)


1. Do arquivo pessoal, do Eduardo José Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp (Ranger) da CCS do BCAÇ 4612/74, Mansoa 1974:

Camaradas,
Para os interessados no conhecimento da documentação, hoje histórica, que circulava entre as hostes do PAIGC, nos anos 70, e constituíam peças da sua escassa bibliografia aplicada na filosofia da acção psicológica sobre os seus seguidores, apoiantes e outros interessados nesta matéria dou, nesta mensagem, continuidade à publicação de um caderno prático utilizado nessa finalidade.

A publicação foi iniciada no poste - P4721 (capa e páginas 1 a 4) e continuada nos postes – P4753 (páginas 5 a 9), P4799 (páginas 10 a 14) e P4810 (páginas 15 a 19).

Neste, seguem-se as páginas 20, 21, 22, 23 e 24, dum total de 28 páginas.

A qualidade de uma ou outra página das originais não é das melhores.

O documento tem inscrito na capa (página zero) os seguintes dizeres: ”PAIGC - ANÁLISE DOS TIPOS DE RESISTÊNCIA, 2 - Resistência económica, Aos camaradas participantes no seminário de quadros, realizado de 19 a 24 de Novembro de 1969, (Este texto é escrito a partir de uma gravação das palavras do secretário geral)”.






Um abraço Amigo,
Magalhães Ribeiro

Documentos: © Eduardo José Magalhães Ribeiro (2009). Direitos reservados.
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P4836: Agenda cultural (23): Exposição evocativa da participação dos jovens do Seixal, Lourinhã, na guerra colonial (Luís Graça)



Lourinhã > Seixal > Clube local > 12 de Agosto de 2009 > Aspectos da exposição a decorrer de 8 de Agosto a 5 de Setembro de 2009.



Agenda cultural > Exposição evocativa da participação dos jovens do Seixal, Lourinhã, na guerra colonial

por Luís Graça


De 8 de Agosto a 5 de Setembro de 2009, está aberta ao público, no Seixal, freguesia e concelho de Lourinhã, no clube local, uma exposição documental evocativa da participação dos jovens da terra na guerra colonial – Angola, Guiné e Moçambique (1961-1974).

A ideia original da exposição foi do meu amigo, da adolescência e juventude, Jaime Bonifácio Marques da Silva, natural do Seixal, licenciado em ciências do desporto, professor de educação física reformado, antigo vereador da cultura da Câmara Municipal de Fafe, ex-Alf Mil Pára-quedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), grande dinamizador de iniciativas ligadas à preservação da memória dos antigos combatentes da guerra colonial (nomeadamente, em Fafe e na Lourinhã).

O Jaime, que vive em Fafe onde é casado com a minha amiga Dina, professora do ensino básico reformada, diz-me que a ideia surgiu aquando de um das suas periódicas visitas à sua terra natal, Seixal. Há alguns meses atrás, encontrou casualmente, no clube local, alguns ex-combatentes da guerra colonial, seus conterrâneos. Não se viam há muitos anos, nomeadamente os que saíram para fora da terra, incluindo para o estrangeiro (França, Alemanha, Canadá, etc.).

"Na verdade, cada de um de nós, após o final da comissão de serviço militar em África, ‘fez-se à vida´ " - palavras do Jaime, no folheto explicativo da exposição.

E explicita melhor o seu ponto de vista:

"Uns emigraram para o estrangeiro, outros organizaram as suas vidas aqui na terra ou noutras zonas do país. Agora, por força do efeito inexorável do tempo que nos está a empurrar para o final da vida, aqui estamos de novo a regressar à terra que nos viu nascer e crescer e a relembrar os tempos de escola, do campo, do Largo da Festa onde jogávamos ao pião, ao botão, onde jogávamos à bola com uma bexiga de porco ou ainda onde saltávamos à fogueira na noite de São João, etc., etc.

A comissão organizadora do evento é constituída pelo Jaime e pelo Arménio Pereira (que recolheram os depoimentos orais e seleccionaram o material fotográfico), bem como pelo José Maria Malaquias (responsável pelo apoio logístico).

A exposição é constituída por 33 posters, sendo o primeiro de apresentação e de enquadramento, incluindo o contexto histórico da guerra colonial, e a lista do pessoal.

Cada um dos restantes 32 posters é dedicado a cada um dos 32 seixalenses que combateram na guerra colonial, alguns integrados na Marinha ou na Força Aérea, mas a maioria no Exército. Para pagamento da execução gráfica dos posters cada um dos ‘biografados’ contribuiu com 20 euros. No final da exposição, cada participante ficará com o respectivo poster. A Junta de Freguesia da Lourinhã fez uma pequena doação de 250 euros….

Ao todo foram 39 os ex-combatentes seixalenses, mas há 7 que não foi possível contactar em tempo útil, por viverem no fora da terra ou no estrangeiro. A exposição teve um triplo objectivo, segundo os seus organizadores:

(i) “Lutar contra a cultura do esquecimento que se instalou em Portugal após o final da guerra colonial”… Directa ou indirectamente todas as famílias foram afectadas pela guerra colonial. Ora, segundo a comissão organizadora, se há algo mais condenável do que a guerra, é o silêncio sobre ela, é o fazer de conta que a guerra nunca existiu…

(ii) Relembrar e homenagear aqueles que fizeram a guerra, obrigados ou não, que derem o melhor de si à sua Pátria, independentemente da legitimidade daquela guerra, e do regime político que a promoveu, manteve e conduziu, levando-a a um beco sem saída.

“Para nós, seixalenses, foi assim: Fomos 39 para a África. Um dós, o Arsénio [Marques Bonifácio da Silva, primo do Jaime], deixou lá a vida [, em Angola]. Outro, o Carlos [Alberto Seixas], regressou ferido e ficou incapacitado para realizar uma vida normal. Alguns trouxeram gravada na memória as imagens dos momentos trágicos vividos em combate, nas emboscadas ou em acidentes”…

(iii) Por último, “juntar num salutar convívio e em torno de um programa social e religioso os jovens o Seixal que lutaram em África, desde 4 de Junho de 1961” [data em que partiu o primeiro para Angola, o João Matias] até ao dia 6 de Novembro de 1975, data do regresso do último, o Mário João, também de Angola. (No dia 9 deste mês, houve missa por alma do Arsénio Bonifácio, e deposição de um coroa de flores, na Lourinhã, no monumento aos mortos da guerra do ultramar, seguida de almoço-convívio, no Clube do Seixal).


O Jaime, ao centro; à esquerda, o Estêbvão Alexandre Henriques, que mora no Seixal, mas é de Fonte de Lima.


A comissão organizadora faz questão de sublinhar que “não nos move nenhuma tentativa de recuperação de saudosismos do passado ou pretensos heroísmos serôdios, descabidos e sem sentido”. Mas não também pode ignorar ou esquecer “os momentos de camaradagem, de convívio, de amizade e de solidariedade vividos com os nossos camaradas de armas”.

No concelho da Lourinhã, a guerra colonial fez 20 baixas mortais, 9 em Angola, 6 na Guiné e 5 em Moçambique.

Tive o privilégio de visitar esta exposição na companhia dos meus amigos Jaime Bonifácio Marques da Silva (ex-Alf Mil Pára-quedista, BCP 21, Angola, 1970/72) e Estêvão Alexandre Henriques (ex-Fur Mil Mecânico Rádio-Montador, CCS/BCAÇ 1858, Bissau, Teixeira Pinto, Catió, 1965/67) (Vd. foto acima) 

Dos camaradas que estiveram na Guiné, tomei nota dos seguintes (mas havia mais nomes):



(i) Joaquim Pereira Marques:

fez parte da CCS/BCAÇ 1888 (Fá Mandinga e Bambadinca, 1966/68). Da sua ficha, consta que durante a sua comissão esteve destacado nos aquartelamentos de Fá e Bambadinca (vd. foto à esquerda, o Joaquim num abrigo em Bambadinca), onde actuou como operacional em inúmeras operações de combate, de reconhecimento e de apoio às operações dos fuzileiros”. Felizmente, a sua companhia não sofreu baixas. Esteve 14 anos emigrado em França. Vive hoje no Seixal.

(ii) José Maria Malaquias

soldado condutor auto, Pel Mort 2174 (Dugal / Nhacra e Bissau, 1969/71). Esteve a maior parte do tempo no Quartel Geral de Adidos, dando apoio a Movimento Nacional Feminino. Emigrou para o Canadá.

(iii) Adão Cipriano Andrade: foi ajudante de cozinha no Quartel Geral Adidos, em Bissau (1965/67). Diz que foi uma “rica vida”, tendo lá passado “o melhor tempo de tropa”. Após a “peluda”, trabalhou na agricultura e na reparação automóvel. Está hoje reformado.

(iv) Alexandre M. Santos: Sol Atirador Inf, fez parte da CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863 (Carenque e Texeira Pinto, 1971/73). Vive no Seixal, segundo creio.

(v) Deixam-me acrescentar que o ex-Fur Mil Estêvão Alexandre Henriques era amigo do Sold José Henriques Mateus, da CCAÇ 1423/BCAÇ 1859 (Bolama, Empada, Cachil, 1965/67), um camarada de que já aqui falámos e que desapareceu misteriosamente, em Outubro de 1966, na travessia de um rio; era natural da Areia Branca, povoação vizinha do Seixal.

Devido à sua especialidade, o Estêvão nunca participou em operações de combate. É hoje empresário rádio técnico em Peniche. E é também um famosíssimo coleccionador de instrumentos de bordo de navios de pesca (bússolas, sonares, rádios, além de miniaturas de barcos).



Lourinhã > Seixal > Clube local > 12 de Agosto de 2009 > O Jaime Bonifácio e o Estêvão Henriques




Lourinhã > Seixal > Clube local > 12 de Agosto de 2009 > Cartaz anunciando a exposição do Estêvão Alexandre Henriques, a decorrer em Peniche até 29 de Novembro de 2009: "Pesca em Peniche,50 anos de rádios, sondas e sonares"...

Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados


Aqui ficam os nomes de todos os 39 seixalenses que fizeram a guerra colonial, entre 1961 e 1974 (os últimos sete da lista não têm posters na exposição):

  • Emídio Francisco Baltazar
  • Carlos Alberto Seixas
  • Jaime Bonifácio Marques da Silva
  • José Marques Bonifácio da Silva
  • Luís Malaquias Marques
  • Adão Cipriano Marques
  • Quereano Ministro Baptista
  • José Maria Malaquias
  • Estêvão Alexandre Henriques
  • Arménio Pereira
  • Arménio Marques Bonifácio da Silva
  • Mário João
  • António José Pereira Calçada
  • Duarte Inácio Cláudio
  • Joaquim Damião da Costa
  • Elíseo Ferreira Henriques
  • Luís Manuel dos Santos Rufino
  • Arménio Rasteiro
  • Joaquim Pereira Marques
  • Inocêncio José Baptista
  • José João Camilo da Costa
  • José António Costa
  • Manuel Mateus Baltazar
  • António Luís da Costa Santos
  • Fernando dos Santos Baltazar
  • Alexandre M. Santos
  • José António Bernardo de Oliveira
  • Luís Abílio dos Santos Baltazar
  • José Luís Marques
  • Joaquim Custódio dos Santos
  • João Matias Antunes
  • António da Silva Inácio
  • Arsénio Bonifácio (filho de Joaquim Bonifácio)
  • José Mateus
  • Carlos Henriques
  • Carlos Alberto
  • Sebastião Marques
  • Luís António
  • Domingos Elias

O Seixal na altura (1961/74) era uma terra que vivia sobretudo da agricultura, da exloração das riquíssimas terras, roubadas ao mar, conhecidas justamente como a Várzea do Seixal. Muitos dos jovens que foram para a guerra colonial eram agricultores ou trabalhadores agrícolas. E nem todos tinham, no mínimo, os quatro anos de escolaridade que eram obrigatórios por lei…

Segundo a análise dos dados biográficos dos 32, cerca de um terço terá frequentado, no Ultramar, as escolas militares…. A malta que esteve na Força Aérea e na Marinha, tem as melhores recordações desse tempo da sua vida (por exemplo, o meu amigo Luís Malaquias Marques, que esteve na Marinha). Há bastantes condutores auto entre a malta do Exército. Há apenas um oficial miliciano e dois furriéis milicianos. Uma boa parte do pessoal emigrou para o estrangeiro, depois da sua passagem à disponibilidade.

Em boa verdade, o Seixal poderia ser tomado como uma amostra do país que de 1961 para cá mudou imenso. Mesmo durante os 13 anos que durou a guerra colonial, houve profundas mudanças (demográficas, económicas, sociais, políticas, culturais…). Os organizadores da exposição fazem questão de mostrar os números do conflito:

(i) Foram mobilizados, para os três teatros de operações, mais de 800 mil jovens;

(ii) Cerca de 120 mil foram feridos ou ficaram doentes;

(iii) Cerca de 4 mil ficaram estropiados;

(iv) E estima-se que cerca de 100 mil ficaram a sofrer de stresse pós-traumático de guerra…

Luís Graça

Guiné 63/74 - P4835: Convívios (158): Pessoal da CCAÇ 727, no dia 3 de Outubro de 2009 em Fátima (Miguel Oliveira)

1. Mensagem de Miguel Velez de Oliveira, com data de 18 de Agosto de 2009, pedindo a divulgação do Convívio Anual do Pessoal da CCAÇ 727 que esteve na Guiné entre 1964 e 1966:

Meu Caro Carlos Vinhal
Em primeiro, cordiais saudações para toda a equipa desse Grande Blogue que acompanho diariamente desde 29/06/2008. Há um ano que pela mão dos Netos por aqui ando.

Conheço muitos ex-camaradas que por lá passam uns com muita frequência, outros nem tanto. Como não estive na Guiné, só quando algum amigo ex-combatente me pede para divulgar o seu Encontro/Convívio, aqui venho chatear o meu caro Vinhal.

Posto isto, vamos à notícia, que tenho a certeza seguirá agora em rumo certo:


ALMOÇO/CONVÍVIO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 727 GUINÉ 1964-1966

Os ex-combatentes da CCAÇ 727 que sairam de Vendas Novas no dia 8 de Outubro de 1964, pelas O4H14 para Lisboa, a fim de embarcarem no navio Niassa para a Guiné (O.S. n.º235, de 08/Out/1964 da EPA), vão estar reunidos no seu Convívio Anual, este ano em Fátima.

Restaurante:
Pastilha e Filhas, Lda.
Local do Encontro: Vale de Ourém - Fátima
Data: 03 de Outubro de 2009

Contactos:
Virgílio João dos Santos - 265 793 223 ou 914 710 183
Carmelindo Guerreiro - 265 891 855 ou 967 515 573

Por hoje é tudo caro camarada Vinhal, prometo voltar, o meu tempo é enorme o teu nem tanto!!

Um abraço de amizade
Miguel
__________

Nota de CV

Vd. último poste da série de 18 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4832: Convívios (154): 6.º Encontro do pessoal da CCAÇ 4540, dia 3 de Outubro de 2009 em Odivelas (Vasco Ferreira)

Guiné 63/74 - P4834: Parabéns a você (19): Mário Vicente Fitas Ralheta, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 763 (Os Editores)

1. Hoje, dia 19 de Agosto de 2009, faz anos um dos mais brilhantes tertulianos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, o nosso camarada Mário Vicente Fitas Ralheta, a quem desejamos o melhor da vida não só hoje, mas em todos os dias das próximas décadas, durante as quais contamos com a sua prestimosa colaboração.


Mário Fitas, o Mário Vicente, autor de "Putos, Gandulos e Guerra" e de "Pami Na Dondo, A Guerrilheira", foi Furriel Miliciano de Operações Especiais da CCAÇ 763 que esteve em Cufar entre 1965 e 1966.


O nosso blogue deu o devido destaque aos livros que o Mário Vicente escreveu, tendo até publicado 11 postes com a transcrição de "Pami Na Dondo, A Guerrilheira", porque seria uma pena que, pelo menos nós os ex-combatentes da Guiné, não tivéssemos acesso a esta história tão comovente. Todos nós nos revemos nesta narrativa, porque todos nós encontrámos uma Pami Na Dondo por onde passámos.

Qualquer dos dois livros deve ser lido, pois o nosso camarada consegue com a sua escrita, tão simples, mas tão profunda, fazer-nos sentir de tal modo as situações, que quase vivemos e sentimos as emoções neles contidas.


2. Recordemos agora Mário Fitas na sua mensagem de apresentação em Junho de 2007:

Nome: Mário Vicente Fitas Ralheta

Posto: Furriel Miliciano.

Unidade: CCAÇ 763, Guiné, Cufar, Fevereiro 1965/Novembro 1966. A minha Companhia foi a construtora do 1.º aquartelamento em Cufar.

Já editei dois livros sobre a Guiné. O último Pami na Dondo a Guerrilheira, ofereço a quem desejar, basta contactar:
Mário Fitas
Rua D. Bosco, 1106
2765-129 Estoril.

Gostava de entrar no vosso grupo e trocar conhecimentos sobre a Guiné. Envio, como solicitado, dados e fotografias para fazer parte com imenso gosto da Tabanca Grande. Na 1.ª foto, vê-se a primeira suite no Aquartelamento de Cufar. Na 2.ª foto, ficam a conhecer o jovem de hoje.

Sobre a família Brandão (1), recordo-me de um rapaz de estatura média, usando óculos que abriu uma casa de comércio em Cufar em 1966.

Com os melhores cumprimentos,
Mário Fitas



3. Deixo algumas imagens ao acaso que consegui encontrar no nosso Blogue:




Guiné > Região de Tomboli > Cufar > CCAÇ 763 (Fev 1965/ Nov 1966) > A suite do Mário Fitas...

Estrada Cufar-Catió> Elementos da CCAÇ 763 junto de uma autometralhadora Daimler

Elementos da CCaç 763 em Cufar (Mário Fitas, o 2.º da direita).

Cambança do rio Ganjola, no decurso da Operação Petardo, em 10 de Junho de 1966

Da esquerda para a direita: Soldado que não recordo o nome, de camuflado o Fur Mil Enf Juvenal, o Fernando que nos acompanhou desde Bissau, Mário Fitas Fur Mil Oper. Espec. e Olindo apontador de bazuca da minha secção. Foto de Mário Fitas.

Cascais > 9 de Abril de 2009 > " Foto: o primeiro do lado direito é Mário Fitas, ex-Fur Op Esp, CCAÇ. 763, Cufar, tendo à sua direita Luciano Mourão, Presidente da Junta de Freguesia do Estoril que pertenceu à C.CAÇ 816 em Bissorã. Ao lado do Gen Chito Rodrigues, o dr. António Capucho, presidente da Câmara de Cascais, seguindo-se o Comandante Naval de Cascais" (MF)

Além de ter escrito dois livros, Mário Fitas tem bastantes trabalhos em pirogravura, de que esta linda "Viúva do Alentejo" é um exemplo.

Mas não se julgue que as capacidades deste brilhante camarada se ficam pela escrita e pela pirogravura. E que tal criar umas lindas aves, de que esta "Agapornis Personata Verde" (ou Love Birds) é um belo exemplar?

Fotos (e legendas): © Mário Fitas (2009). Direitos reservados.


Lisboa, Belém, Forte do Bom Sucesso > 10 de Junho de 2009 > Mini-encontro do pessoal da Tabanca Grande > Da esquerda para a direita, João Parreira, Piedade, Miguel, Giselda, Mário Fitas e Mário Dias (o mítico comando, que hoje se dedica à composição musical: tem uma cantata de hora e meia para estrear!... Venha o coro, a orquestra e o mecenas!)

Lisboa, Belém, Forte do Bom Sucesso > 10 de Junho de 2009 > Mini-encontro do pessoal da Tabanca Grande > Uma surpresa para o Miguel Pessoa: a presença de um dos elementos, guineense (à esquerda) que fazia parte da equipa de busca e salvamento que o resgatou em 26 de Março de 1973, na região de Guileje, depois de ter sido abatido por um Strela... No meio, o Mário Fitas e mais atrás o Fernando Chapouto...

Lisboa, Belém, Forte do Bom Sucesso > 10 de Junho de 2009 > Mini-encontro do pessoal da Tabanca Grande > O Mário Fitas e o J. L. Vacas de Carvalho (uma família que mandou, pelo menos, três dos seus homens para a guerra.

Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados)

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Notas de CV:

Da vasta participação de Mário Fitas, vd. postes de:

26 de Junho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1884: Tabanca Grande (16): Mário Fitas, ex-Fur Mil da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)

27 de Junho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1893: Notícias de Cadique (Mário Fitas, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66)

2 de Julho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1911: Bibliografia de uma guerra (19): Pami Na Dondo, guerrilheira do PAIGC, o último livro de Mário Vicente (A. Marques Lopes)

5 de Julho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1926: Bibliografia de uma guerra (21): Pami Na Dondo ajuda-nos à reconciliação com a guerrilha (Virgínio Briote / Carlos Vinhal)

17 de Julho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1961: "António Pedro, meu amigo e irmão, cruz de guerra ao peito, morreu de stresse, a 12 de Agosto de 2003" (Mário Fitas)

29 de Julho de 2007 >
Guiné 63/74 - P2006: Convívios (22): CCAÇ 763 (Cufar 1965/66), Almeirim, 23 de Setembro de 2007 (Mário Fitas)

7 de Agosto de 2007 >
Guiné 63/74 - P2034: Bibliografia de uma guerra (22): Putos, Gandulos e Guerra, de Mário Vicente, aliás, Mário Fitas (CCAÇ 763, Cufar) (Carlos Vinhal)

12 de Agosto de 2007 >
Guiné 63/74 - P2043: Bibliografia de uma guerra (23): Putos, Gandulos e Guerra, de Mário Vicente, aliás Mário Fitas (CCAÇ 763, Cufar)

22 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2202: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (8): Voltei a Cufar e a chafurdar nas bolanhas e rios de maré (Mário Fitas)

11 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2257: Convívios (34): CCAÇ 763 (Cufar 1965/67) (Mário Fitas)

22 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2296: Notas de leitura (1): Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (José Martins)

29 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2315: Catió: A morança que poderá ter sido a da nossa Pami Na Dondo, a Guerrilheira (Victor Condeço)

12 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2628: Fórum Guileje (2): Nunca uma guerra foi feita de uma só batalha (Mário Fitas)

18 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2664: Os Cães de Guerra (Mário Fitas e Carlos Filipe, CCaç 763, Cufar, 1965/66)

13 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2754: Fórum Guileje (15): Há ainda muita gente do PAIGC calada... Por medo ? Por falta de domínio da língua de Camões ? (Mário Fitas)

22 de Julho de 2008 >
Guiné 63/74 - P3083: Os Nossos Regressos (12): Vagabundo e os outros fantasmas dos Lassas que lá ficaram na Região de Tombali (Mário Fitas)

27 de Julho de 2008 >
Guiné 63/74 - P3096: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (2): Pirogravuras, de Mário Fitas

7 de Agosto de 2008 >
Guiné 63/74 - P3119: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (4): Ornitologia (Mário Fitas)

4 de Outubro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3269: Memórias literárias da guerra colonial (1): Conferência do A. Graça de Abreu (Luís Graça / Mário Fitas)

25 de Janeiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3793: Fauna & flora (16): Relações amistosas com o Macaco-cão na zona de Cufar (Mário Fitas)

20 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)

6 de Abril de 2009 >
Guiné 63/74 - P4149: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (11): Meditei sobre as palavras do sr. gen. Almeida Bruno (Mário Fitas)

1 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P4272: O Nosso Livro de Visitas (59): Em busca de Pami Na Dono, a guerrilheira (Branco Alves / Mário Fitas)

9 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 – P4313: Tugas - Quem é quem (5): João Bacar Jaló (1929-1971) (Benito Neves, Mário Fitas e João Parreira)

10 de Junho de 2009 >
Guiné 63/74 - P4499: A Tabanca Grande no 10 de Junho de 2009 (7): O Jorge Cabral e o Vacas de Carvalho apanhados pela PE... (Mário Fitas)

11 de Junho de 2009:

Guiné 63/74 - P4506: A Tabanca Grande no 10 de Junho (9): Um dos Homens que socorreu Miguel Pessoa – Bodo Jau (Mário Fitas)

Guiné 63/74 - P4507: A Tabanca Grande no 10 de Junho (10): Apresentando João Saido Jaló, filho do Capitão João Bacar Jaló (Mário Fitas)

Guiné 63/74 - P4508: A Tabanca Grande no 10 de Junho (11): Uma festa do tamanho do Luís Graça & Camaradas da Guiné (Magalhães Ribeiro / Mário Fitas)

13 de Junho de 2009 >
Guiné 63/74 - P4515: Controvérsias (17): A César o que é de César! (Mário Fitas)

Vd. postes sobre o livro "Pami Na Dondo a Guerrilheira":

21 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2293: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (1): Os bastidores de um romance (Luís Graça / Mário Fitas)

23 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2298: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (2) - Parte I: O balanta Pan Na Ufna e a sua filha (Mário Fitas)

28 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2307: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (3) - Parte II: A formação político-militar (Mário Fitas)

5 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2328: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (4) - Parte III: O amor em tempo de guerrilha (Mário Fitas)

10 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2340: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (5) - Parte IV: Pami e Malan são feitos prisioneiros (Mário Fitas)

18 de Dezembro de 2007 >
Guine 63/74 - P2363: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (6): Parte V: O primeiro interrogatório da prisioneira (Mário Fitas)

30 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2391: Pami Na Dondo, a Guerrilheira , de Mário Vicente (7) - Parte VI: Malan é entregue à PIDE de Catió (Mário Fitas)

16 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2443: Pami Na Dono, a Guerrilheira, de Mário Vicente (8) - Parte VII: O prisioneiro Malan é usado como guia (Mário Fitas)

5 de Fevereiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2506: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (9): Parte VIII: Os demónios étnicos (Mário Fitas)

20 de Fevereiro de 2008>
Guiné 63/74 - P2560: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (10) - Parte IX: A prisioneira é violada...

28 de Fevereiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2593: Pami Na Dondo, a Guerrilheira , de Mário Vicente (11) - Parte X: O preço da liberdade (Fim)

Vd. último poste da série "Parabéns a você" de 17 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4829: Parabéns a você (18): José Manuel Moreira Cancela da CCAÇ 2382 (Os Editores)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Guiné 64/74 - P4833: Armamento do PAIGC (4): Mikail Kalashnikov e a AK-47 (Avtomatni Kalashnikova – 1947) (Magalhães Ribeiro)


Mikhail Kalashnikov (foto, à esquerda)


1. Do arquivo pessoal, do Eduardo José Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp (Ranger) da CCS do BCAÇ 4612/74, Cumeré, Mansoa e Brá, 1974 [, foto à direita]:




Camaradas,O artigo é da autoria de Nick Paton Walsh e foi publicado na Pública, em 3 de Novembro de 2003, e aqui reproduzido com a devida vénia...

Apesar dos cerca de seis anos entretanto decorridos, mantêm-se completamente actualizados os factos descritos, visto que a citada arma continua a liderar a tenebrosa tabela do lamentável, infeliz e actual mercado da morte, pelo mundo fora, nomeadamente, em África e no Médio Oriente.

Um abraço Amigo,
Magalhães Ribeiro
___________________

Mikhail Kalashnikov

Para um homem cujo nome está tão inextricavelmente ligado à morte, Mikhail Kalashnikov não podia ter aspirado por um fim de vida mais calmo. Ele passa os seus dias de verão numa casa de campo na margem de um lago cristalino, no coração da planície sul dos Urais, a algumas milhas do coração industrial de Izhevsk. Aqui, entre pinheiros que tocam o céu e mosquitos do tamanho de pombos, ele e a sua endiabrada neta de sete anos, Ilona, brincam juntos nas clareiras do bosque, inspirando o ar puro e rico.

No entanto, para aqueles que rodeiam Mikhail a vida não é assim tão pacífica. Anos de testes de tiro das armas automáticas que têm o seu nome deixaram este velho, de 83 anos praticamente surdo. Se se quiser que ele nos ouça, tem que se colocar a boca a escassa distância da sua orelha e falar muito alto.




Essencialmente para todos aqueles que gostam de conhecer a história e origem de armas de fogo, trago neste poste ao vosso conhecimento, a estória do homem que idealizou a mortífera e eficaz Kalashnikov A-47, que à mais de 60 anos é a arma mais produzida, conhecida e vendida em todo o mundo.


Foi, sem dúvida nenhuma também, a arma mais usada contra as nossas tropas pelo PAIGC na Guiné.

Em 1947, a "Avtomatni Kalashnikova" ganhou um concurso soviético para a concepção da mais moderna metralhadora para o vitorioso Exército Vermelho. Cinquenta e seis anos, mais de 100 milhões de armas e muitos milhões de mortes mais tarde, ela permanece a mais prolífica máquina de morte do mundo. Mas Kalashnikov não mostra qualquer reticência em mostrar o amor e orgulho que ainda sente pela sua criação.

"Com [o desenho] das armas, passa-se o mesmo do que com uma mulher que cria um filho", explica. " Durante meses ele transporta o bebé e pensa nele. Um 'designer' faz quase o mesmo com um protótipo. Sinto-me como uma mãe - sempre orgulhoso. É um sentimento especial, como se tivesse recebido um prémio especial. Fartei-me de disparar. Ainda o faço. É por isso que sou duro de ouvido".

Segundo Aaron Karp, consultor da Base de Pequenas Armas, sediada em Genebra, os sucedâneos da Kalashnikov "poderão ter causado mais de 300 mil baixas anuais em combate nas guerras da década de 90. Elas são as armas principais de um ou de mais lados em praticamente todas as mais de 40 guerras registadas na última década". Foi talvez a principal exportação da União Soviética: existem agora 10 vezes mais AK-47 no mundo do que M16, a sua rival americana, já que os soviéticos as deram quase de borla a qualquer movimento por que sentissem empatia ou que pudesse ter uso para elas.

A chave para o seu sucesso reside num desenho simples, destinado a assegurar que mesmo as mulheres e crianças sem experiência que encheram as fábricas soviéticas durante o período de guerra as podiam produzir em massa e assim abastecer os seus pais e filhos deslocados na frente. É tão simples que versões rústicas têm sido produzidas em oficinas de aldeia no Paquistão. "Comparadas com outras espingardas automáticas, a sua produção, uso e manutenção é muito simples. Tem oito partes móveis. Desta simplicidade resulta que mesmo um soldado mal treinado a pode desmontar em cinco segundos e limpá-la facilmente".

Mas Kalashnikov parece ter encontrado uma forma de se absolver a si próprio de qualquer culpa ou responsabilidade pelo seu brinquedo de morte. Ele apresenta uma simples, mas aguçada defesa de modo a convencer-se tanto a a si próprio, como aos que o interpelam, da sua inocência: "Fiz isto para proteger a pátria mãe. E depois eles espalharam a arma (pelo mundo) não porque eu o quis. Não foi escolha minha. Foi como um génio que saísse da garrafa e começasse a andar pelos seus próprios pés e em direcções que eu não queria".

Mesmo assim "o lado positivo ultrapassou o negativo", insiste, "porque muitos países usam-na para se defender. O lado negativo é que por vezes fica fora de controlo. Os terroristas também querem usar armas simples e fáceis. Mas eu durmo descansado. O facto de haver pessoas que morrem por causa de uma AK-47 não é culpa de quem a concebeu, mas sim por causa dos políticos".

Para perceber este orgulho perene, tem que se perceber a forma de pensar caracteristicamente soviética que ainda é a de Mikhail. Antes, Kalashnikohv tinha-nos contado jovialmente como, nessa tarde, ele e Ilona se dedicaram a substituir pedaços de floresta morta. A sua alegria deixa a claro a adoração soviética pelo "trud"- um misto de trabalho e produtividade, que, em 1976, o levou a ganhar a medalha de Herói Socialista do Trabalho pelas suas invenções, e que alimenta as suas ideias. Para ele, é apenas o seu trabalho, sendo este uma pequena peça na grande engrenagem soviética.

Foi apenas quando ele viu como o grande projecto comunista eventualmente perverteu o objectivo original do seu "bebé" que Kalashnikov começou a sentir algum desconforto. Ele e a sua filha referem os dois momentos principais em que tal aconteceu. O primeiro ocorreu quando, em 1992, centenas de azerbeijanis foram massacrados em Nagorno-Karabakh pelos arménios, que contavam com o apoio do regimento 366 do exército russo.

Kalashnikov admite que ver as imagens do massacre na televisão foi "obviamente desagradável". O segundo foi quando, em 1993, Boris Ieltsin ordenou às tropas que atacassem a sede do parlamento russo.

A vida tranquila de Kalashnikov nos bosques da periferia de Izhevsk pode ser vista como uma tentativa para se distanciar daquilo em que a sua invenção se transformou. A sua calorosa e carismática filha olha por ele desveladamente. Elena organiza entrevistas, adora traduzir - ou gritar – as minhas perguntas, irradiando atenção, entusiasmo e orgulho. Nos olhos da neta Ilona brilha uma centelha.

Entretanto, a alguma milhas deste santuário, a arma continua a sua carreira Izhevsk, profusamente anunciada no site da empresa Izhmash. Num hotel, um turista americano enverga uma t-shirt com um "Roteiro de Destruição no Mundo" da AK-47. É um roteiro onde figuram a Chechénia, o Afeganistão, a faixa de Gaza, o Congo, Nagorno-Karabakh, etc. Mais abaixo na rua, num das lojas de venda de armas da cidade, Lilya, 12 anos, e um seu amigo, olham atemorizados para a exposição de Ak-47. "Foi a primeira vez que aqui viemos", conta ela. "Apenas queríamos ver".

A história de como esta ideia original apareceu está profundamente misturada com a história da vida de Kalashnikov. Nascido numa família de camponeses pobres em Novembro de 1919, pouco depois da revolução de Outubro, Mikhail Yefimiyevich Kalashnikov viu a sua família obrigada a sair da região do Altai para o exílio na Sibéria, onde arrastaram uma dura existência de camponeses. Mas foi o exílio - a vergonha de ter a família proscrita do sonho da Rússia soviética - que empurrou Kalashnikov para dar o seu melhor. "Tentei que o meu desempenho fosse o melhor possível. Era um rapaz na altura, mas trabalhava bem com os doentes".

Ele inventaria qualquer coisa pata tornar mais fácil a vida da sua família, e dos trabalhadores comunistas. "Tínhamos trigo, mas não moinhos, por isso inventei uma espécie um moinho de madeira para que pudéssemos fazer farinha. Provavelmente nasci com alguns talentos para desenho". Cedo foi enviado para trabalhar nos caminhos-de-ferro, como amanuense. Aqui as suas ambições criativas começaram a florescer. "Queria inventar uma máquina que pudesse correr para sempre. Podia ter desenvolvido um novo comboio, se tivesse continuado nos caminhos-de-ferro. Teria sido parecido com a Ak-47", brinca.

Com 19 anos de idade, foi incorporado no exército para combater na II Guerra Mundial. Integrado numa divisão de tanques, depressa descobriu uso para os seus talentos de 'designer'. Primeiro foi uma máquina para contar o número de projécteis disparado pela metralhadora do tanque - "para que soubéssemos quantos restavam". Depois foi uma engenhoca que permitia que as pistolas disparassem através das aberturas dos tanques; depois ainda um método para calcular a distância percorrida por estes.

A vida da AK-47 começou quando Kalashnikov se viu num hospital de guerra a recuperar de ferimentos e do choque nervoso provocado pelas explosões, cismando como era injusto que os alemães tivessem armas automáticas, e os seus colegas russos apenas espingardas de um só tiro. "Experimentei uma dúzia de modificações que foram rejeitadas, mas todas elas abriram caminho ao esboço final. Tinha que adquirir experiência porque não tinha preparação técnica". O processo foi longo e competitivo, com Kalashnikov a trabalhar numa série de institutos e as ideias alvo de críticas desde que nasciam e à medida que iam sendo desenvolvidas. "O departamento de artilharia forneceu esboços para uma nova arma. Tínhamos que os melhorar ou então éramos eliminados da corrida".

Em 1946, nasceu o o protótipo AK-46. Um ano, a arma verdadeira foi aprovada. Ele atribui o seu sucesso à "sorte que teve em encontrar pessoas simpáticas e prestáveis" durante toda a sua vida. Teve um bom manager, o capitão Vladimir Daikin, um encorajador chefe de departamento, Vladimir Glukhov, e um mentor, Anatoly Blagonravov, que foi o primeiro a informar os seus superiores, em 1941, da "excepcional capacidade de Kalashnikov em resolver problemas técnicos complicados".

Mikhail apresenta o produto final como se de uma verdadeira conquista comunista se tratasse - um triunfo colectivo que salvou a pátria mãe. Para ele, a arma quase que surgiu de um processo equivalente à selecção natural, fruto da necessidade e para garantir a sobrevivência - o empurrão de um jovem homem à guerra em curso. "O homem continua sempre a inventar coisas", diz. " A vida é feita de diferentes invenções. Continuei a trabalhar em diferentes coisas, reconstrui toda a minha casa. Fi-lo pela satisfação de fazer alguma coisa. Fi-lo porque aconteceu estar onde estava". Acima de tudo, ele parece orgulhoso de ter sido capaz de fazer algo, independentemente do que esse algo possa fazer: "A vida pode levar-nos a fazer muitas coisas. Até a beijar um homem com o nariz a pingar".

Nick Paton Walsh


Fonte: Pública, 3 de Novembro de 2003 (Com a devida vénia...)

Fotos: © http://images.google.pt (2009). Direitos reservados.
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P4832: Convívios (157): 6.º Encontro do pessoal da CCAÇ 4540, dia 3 de Outubro de 2009 em Odivelas (Vasco Ferreira)


6.º Convívio da Companhia de Caçadores 4540

"Somos um Caso Sério"

Guiné 1972/1972


Data do evento: 03 de Outubro de 2009

Hora de inicio: 12H00

Local do evento: QUINTA DO BRETÃO em Caneças, freguesia de Odivelas, distrito de Lisboa

Inscrição (contacto): Vasco Ferreira, 919 036 766

Desde já agradeço.

Cumprimentos
Vasco Ferreira
__________

Notas de CV:

Vasco Ferreira foi Alf Mil na CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra) 1972/74

Vd. poste de 9 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2167: Breve história da CCAÇ 4540 (Bigene, Cadique e Nhacra, 1972/74) (Vasco Ferreira)

Vd. último poste da série de 1 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4765: Convívios (153): Almoço/Convívio: CCAÇ 557, Cahcil, Bissau e Bafatá 1963/65 - (José Colaço)

Guiné 63/74 - P4831: (Ex)citações (40): Resposta a um comentário de Mário Fitas (António J. Pereira da Costa)

1. Resposta de A.J. Pereira da Costa, Coronel, ex-comandante da CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74, ao comentário feito por Mário Fitas ao seu poste P4813 (*):


Olá Camarada

Se o Homem, com a barriga vazia não pensa – dizia o meu professor de Filosofia – o bloguista, ainda por cima atabancado e em férias, não lê e também não escreve. Daí a escassez de comentários às minhas bocas. Portanto, obrigado pelas tuas.

Ora vamos passar à análise e a reflectir, com pouca força, porque com esforço já custa um bocado!

Como a História recente (e passada) tem provado, a conquista de uma Bandeira marca o começo da individualização de um povo organizado em país e a sua diferença relativamente aos que lhe estão próximos. Lembremo-nos dos Estados Unidos da América, das independências do Séc. XIX, no continente americano e não só, e, mais recentemente, das recém-constituídas repúblicas europeias. Isto para não falar das independências envergonhadas – as autonomias… Para trás ficam situações como a da Escócia, do País de Gales, da(s) Irlanda(s), e da Córsega. É melhor não continuarmos senão a confusão é enorme…

Em África também foi assim. Tudo começa no campo da Sociologia – uma parte (maior ou menor) da população de uma dada área revolta-se contra as autoridades e tem êxito graças às condições do momento: estratégicas, políticas, culturais e ideológicas – estas que normalmente já vêm de trás – económicas etc. e mais etc. Claro que as sublevações, quando não há condições favoráveis ou não ocorrem (Cabo Verde) ou são cilindradas (S. Tomé). Cada caso é um caso, mas há linhas gerais e é bom que frise que raramente uma independência resulta de uma guerra, país contra país.

No nosso tempo sabemos como foi e a tua expressão “Os anos 60, a Africanidade e a Guerra Fria” diz tudo. Este caldo político-ideológico que conhecemos, por termos vivido nele e sob ele, já está estudado e hoje só temos que aceitar que foi assim. Claro que não há aqui ficção nenhuma. A Guiné-Conakri, o Senegal, a OUA, a Suécia e os seus milhões e a necessidade de se afirmar ao respectivo povo como uma grandessíssima defensora dos direitos humanos e Bloco de Leste, por si ou por interposta pessoa, e até Cuba (também para resolver problemas internos). Podia ter sido de outra maneira? É pouco provável. A conjuntura era demasiado pressionante e a nossa capacidade para nos opormos à sua acção era baixa. Estávamos como os marinheiros, quando uma tempestade forte vem. A melhor atitude teria sido: calma, confiança nas capacidades e procedimentos e aceitação das características do fenómeno, navegando à vista. Não é bem o caso de “se não os podes vencer, junta-te a eles”, mas antes e a raciocinar de um modo tauromáquico (peço desculpa): se para pegar um touro de caras são necessários oito e nós não somos tantos, é melhor irmos de cernelha, porque são só necessários dois e não há choques de frente… que são sempre de evitar.

As imagens podem parecer pobres, mas sugerem bem o que penso…

As análises que faço terminam sempre na independência. Tudo o que sucedeu depois é História do País, quer se trate da luta pelo Poder, conflitos étnicos interiores ou interterritoriais para acesso e desfrute das boas áreas, ou outras questões que decorrem da vida dos países independentes, dentro dos seus espaços geoestratégicos. Daí que a sucessão dos presidentes não seja, para mim, um ponto de análise, aqui neste espaço, que suponho mais virado para a nossa (de nós) História. Claro que podemos analisar o que sucedeu depois ou mesmo o que está agora a suceder, mas até corremos o risco de sermos acusados de interferência nos assuntos internos do País…

Não falemos, por isso, do golpe "Nino" e contra o Nino, do golpe do Luís Cabral e de todos os outros ocorridos.

Quanto ao número de beligerantes, continuo a afirmar que só havia dois beligerantes. Claro que só no terreno é que era assim. Havia mais. Quem não se lembra de a nossa acção ser apresentada como uma cruzada anticomunista, sendo nós a primeira linha da civilização cristã e ocidental? O que era isso é que ninguém explicava. Até nós próprios, sem o sabermos, éramos beligerantes a combater noutra(s) frente(s) e sem armas. Quem mais poderia representar a Guiné senão o PAIGC? Considero imoral que, depois de tanto sacrifício, ainda se fosse dar uma oportunidade de se manifestar a outras forças. Não vejo bem quais, e estou seguro de que só poderiam ser arrivistas. Onde estariam elas durante a luta? Mas isto é a minha opinião que vale o que vale.

Quanto à variedade de nacionalidades, fui confrontado com ela, logo em 1968, quando encontrei um elemento da 3.ª de Comandos que era gambiano e para quem a guerra era uma espécie de trabalho nas obras públicas (sic). Quando a guerra acabasse ia para casa e arranjava outro emprego. É assim em todas as guerras e em todo o lado, vida em Paz incluída. Quantos de nós já encontrámos um português isolado, perfeitamente inserido na vivência de um lugar do mundo que ninguém esperou que pudesse existir? Essa multinacionalidade não é, do meu ponto de vista algo, que valha a pena considerar.

No que respeita aos cabo-verdianos, chamava a atenção para os esforços que fizemos para os separar e isolar dos guineenses, durante a guerra, porque sabíamos que ali existia uma fissura. Recentemente, nos CD do Joaquim Furtado (2.ª série), surgiu um guineense antigo combatente, que revelou que, até ao começo da guerra, os guineenses só podiam ter a 4.ª classe, por não existir liceu na Guiné, enquanto os cabo-verdianos, nas suas ilhas, podiam facilmente chegar ao 5.º ano e, como se viu, e continuar… Por isso, a malha administrativa da Guiné apoiava-se em funcionários cabo-verdianos, controlando largas populações de guineenses com o apoio de cipaios recrutados entre gente da terra. É um dos resultados da acção civilizadora dos portugueses. Se não estou em erro, o Liceu Honório Barreto foi inaugurado no tempo do general Schulz, o que pode dar uma ideia da dificuldade de acesso ao conhecimento, por parte dos naturais da Guiné. Voltando à faceta sociológica do problema relembro a independência de Cabo Verde feita sem um tiro e por simples cisão do Partido… Podem dizer que foi obtida à boleia dos factos. Não sou dessa opinião e acho que foi merecida, quer na luta (onde ela era possível) quer na acção política oportuna e eficaz.

Os que levaram o tiro na nuca e aqueles a quem as mãos foram amputadas, tinham, como é lógico, direito a essa Bandeira. Se eram vencidos de uma Guerra Civil ou colaboracionistas (o que distinguirá um colaboracionista dedicado de uma simples lavadeira?) eram guineenses, de facto, e tinham direito à respectiva bandeira. Se não eram deveriam ter sido enviados para a pátria que alguma vez disseram ser sua. Sabemos que estiveram para vir. Pelo menos os mais envolvidos com a acção das FA portuguesas (ou seriam nacionais?). Mas se não vieram logo, deveriam ter sido enviados mais tarde, como soldados esquecidos no cais… Contudo, a História é escrita e feita pelos vencedores: o PAIGC, neste caso. Ao longo da minha experiência fui detectando alguns que se sentiam desanimados com a marcha dos acontecimentos. Outros interrogar-se-iam, em segredo, como é que aquilo iria acabar e talvez começassem a sentir-se num beco sem saída. As coisas precipitaram-se como talvez não fosse difícil de prever, se bem atentássemos no desenrolar do dia-a-dia. As saídas encontradas foram as habituais que já tinham sido encontradas noutras situações: França, Bélgica, Extremo-Oriente, Vietname, etc.

A dupla nacionalidade é um fenómeno meramente administrativo e que, normalmente, não tem que ver com amores pátrios e até tem sempre o seu quê fraude. É uma espécie de deixa ver o que é que isto dá e, conforme for a música, assim eu danço. Não faltam exemplos, mesmo em Portugal, de utilização (bastante) fraudulenta da dupla nacionalidade… Sendo assim, porque será que qualquer de nós não pode optar por uma dupla nacionalidade qualquer? Será que posso ser Luso-Caimonês? Dava-me jeito por causa dos offshores… Sempre se ganha algum… Ou Luso-Papuano? Era bom por causa das praias.

Caro camarada

Lerei "Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola", embora não me sinta à vontade para apreciar factos numa região que não conheço e cuja situação, no âmbito da tal conjuntura de que falámos acima, é complexíssima. O perigosíssimo partido comunista, pró-soviético, anti-democrático e anti-ocidental, continua paulatinamente no poder, agora com o apoio de todos os países democráticos. Talvez porque fazê-lo cair seria pior… A guerra civil com o Savimbi demonstrou-o para quem tivesse dúvidas… A Paz, mesmo imperfeita, não é opcional é imperativa.

O número de retornados, no que respeita à Guiné, é mínimo. Não consigo propor uma melhor solução para o problema dos retornados do que a que foi posta em prática, embora, a partir de certo momento da evolução da guerra, fosse de prever um desenlace e o consequente ruir das suas esperanças. A guerra não podia durar sempre e o fim dela iria ser dramático. Havia a possibilidade de ligação à Metrópole. Na maioria dos países esta solução não pôde e não pode ser posta em prática, em situações de grave crise social, como era o caso. Ao fim de pouco tempo, estavam integrados na sociedade e hoje nem damos por eles. Dentro de meia geração não existem. Com todos os sobressaltos e invalidada a solução de ficarem no país que acabava de nascer, creio que foi a melhor solução. Contudo, a existência de retornados levanta a questão da multirracialidade do Portugal de então. Existia, de facto ou estávamos perante um equívoco promovido pela Administração?

Só o caso dos abandonados, que acima falei, me dá que pensar e, mesmo assim, só no caso que conheço. Sei que esteve preparada a sua saída e tenho conhecimento que quase todos desistiram. Porquê? Não sei.

Quanto ao Cumbijã… procurei no mapa da Guiné e lá encontrei o tal regato saltitantemente alegre que tomaste como medida do teu abraço. É comprido, de facto. Mas que é isso comparado com magnificência do Cacine? Aquilo é que é um RIO!... É mais largo que o Tejo em frente da Torre de Belém. Aquilo é que se pode tomar como medida para uma abraço. Ora toma lá. E como é grande, podes distribui-lo pelos teus…

António Costa
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Agosto de 2009 >
Guiné 63/74 - P4813: (Ex)citações (37): Resposta a J. Mexia Alves (A.J. Pereira da Costa)

Comentário de Mário Fitas a que se refere o Coronel Pereira da Costa:

Bom artigo para análise!
Que fazer?
Reflectir!
Mas para não alongar uns pequenos pontos:

A conquista de uma Bandeira!Os anos 60, a Africanidade e a Guerra Fria.
Não era única a do PAIGC! Veja-se o que aconteceu após o golpe "Nino".
Só havia dois beligerantes!Portugal e a Guiné (representada pelo PAIGC)Oh sr. Coronel, vamos lá por os pontos nos "iis":Portugal incluia Cabo-Verdianos, Guineenses e até Sírios que existiram na mílicia do João Bacar Jaló oficial do Exército Português galardoado com a Torre Espada.
Voltamos ao principio, os que levaram o tiro na nuca e aos que as mãos foram amputadas, não tinham direito a essa Bandeira?Guiné (representada pelo PAIGC) por pouco tempo como vimos. Mas... e qué de os outros?É ficção? Guiné Conakri, Senegal, OUA, Suécia e os seus milhões e já me esquecia Cuba! Mas esses não estiveram lá.

Caro camarada é repetido mas volto ao assunto:É imperioso ler "Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola" de Leonor Figueiredo.Depois da leitura só peço uma infíma comparação com os "Retornados e os Abandonados" dá que pensar lá isso dá.

Só uma questão quantos Portugueses há com dulpa nacionalidade e Guineenses com dupla nacionalidade incluindo a Portuguesa.

São os que são presenteados com duas bandeiras!?
Como sempre o velho abraço do tamanho do Cumbijã,
Mário Fitas
Qua Ago 12, 11:27:00 PM


Vd. último poste da série de 15 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4824: (Ex)citações (39): "Ainda estás pouco lixado, pá?"