Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 31 de outubro de 2009
Guiné 63/74 - P5185: Convívios (173): Convívio da CART 3492 & Restante pessoal que passou pelo Xitole (Joaquim Mexia Alves)
sábado, 5 de setembro de 2009
Guiné 63/74 - P4900: (Ex)citações (42): Resposta ao P4813 (J. Mexia Alves)
Resposta ao P4813
Caro Camarigo António Pereira da Costa
Não vou escrever muitas palavras a responder à tua resposta.
Já nos conhecemos de outras discussões e sabemos bem que se concordamos nalgumas coisas, noutras temos opiniões diferentes o que é muito salutar.
Julgo que nos envolve uma amizade especial, cimentada nos lugares do Xime e Bambadinca, pelo que estou à vontade, como tu estás, para podermos concordar e discordar.
Apenas dois ou três pontos:
1 - «Temos exemplos como do Ten. Veloso da FAP que desertou, em Moçambique, com avião, mecânico e tudo… É também uma forma de valentia.»
É opinião tua!
Para mim é uma forma desprezível de afirmar a sua discordância.
Se vamos por esse ponto de vista, também é valentia assaltar um banco!
2 – Quando digo que nós ganhámos a guerra e o PAIGC também, quero utilizar um sentido figurado.
Ganhámo-la porque fizemos ambas as partes o que nos era pedido, mas soubemos na maioria esmagadora dos casos, fazer as pazes connosco e com os outros.
Uma guerra só pode ser “ganha” por ambos os beligerantes, se as duas partes chegarem à conclusão de que a guerra nada resolve e que não é preciso morrer gente para que as pessoas se entendam.
3 – Eu nunca disse que ganhámos a guerra, disse sim que não a perdemos!
Continuo sem entender a necessidade de se afirmar que perdemos a guerra, (refiro-me às Forças Armadas Portuguesas), baseados sempre no que havia de vir.
Mas parece-me que para falar sobre isso tem de se entrar na politica e por aí eu não vou.
O 25 de Abril não precisa disso, justifica-se por si próprio.
Coisa bem diferente é o 26, 27 28 e por aí adiante e aqui também, já me estou a referir a outros textos em que se fala dos que foram deixados, dos que foram assassinados e dos que tendo vindo, continuam ostracizados.
Sem qualquer falta de respeito por ti ou por outros, não voltarei a este tema, ou melhor, não responderei a mais nenhuma resposta que eternize esta troca de opiniões.
Com a amizade que nos une, abraço-te camarigamente
Joaquim Mexia Alves
__________
Notas de CV:
Sobre o assunto em (Ex)citação vd. postes de:
11 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4813: (Ex)citações (39): Resposta a J. Mexia Alves (A.J. Pereira da Costa)
13 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4680: (Ex)citações (34): Resposta ao amigo Pereira da Costa (J. Mexia Alves)
12 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4672: Blogoterapia (117): Quem somos nós? (António J. Pereira da Costa)
OBS:- Lamentavelmente esta mensagem do nosso camarada Mexia Alves extraviou-se e perdeu a actualidade. Foi-nos reenviada e agora publicada. Julgamos estar o assunto devidamente escalpelado.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Guiné 63/74 - P4781: Também quero homenagear os nossos picadores (J. Mexia Alves)
Caros camarigos editores
Tenho andado ocupado com outras guerras, mas não tenho deixado de vir ao fogo acariciador da fogueira da nossa Tabanca.
Por isso aqui vai um texto de homenagem que também quero fazer aos picadores (**).
Peço-vos que me acusem a recepção do dito cujo, visto que por vezes esta coisa falha e os textos não vos chegam às mãos.
Abraço fortemente camarigo para todos do
Joaquim Mexia Alves
2. Em o poste 966...
Caro Luís Graça,
Quero dar as boas vindas ao Mexia Alves. Lembro-me que ele, à época, estava completamente apanhado. Era boa praça.
Recordo-me dele muito bem e de um incidente no início de 1973, numa farra em Bambadinca, em que estava o Major de Operações do Batalhão [BART 3873], os alferes e furriéis da CCAÇ 12 e o Mexia Alves [Alf Mil Op Especiais, comandante do PEL CAÇ NAT 52].
Armou-se uma bronca a propósito de uns versos de uma canção, adaptada ao Comandante do Batalhão (Ten Cor António Tiago, já falecido), em que ele era tratado por Manel Ceguinho, o que levou o Major a dizer ao Mexia Alves que "não estávamos ali para armar em cobardes".
Ficou um ambiente de cortar à faca, que se ultrapassou com uma tirada do Mexia Alves, na qual dizia:
- Cobarde, eu, meu Major ?!... Eu que pico a estrada com os pés... que avanço à frente do Pelotão quando não há picadores ?!...
O Major colocou um sorriso amarelo e recolheu aos seus aposentos e nós lá ficámos a beber e a cantar as canções habituais. Umas bem sérias e outras de baixo nível, bem ordinárias como a da famosa Maria Bardajona...
Um abraço a todos,
António Duarte
Os Picadores
Caros camarigos
Reproduzo o post 966 (***), para também fazer a minha homenagem aos picadores.
Sempre me admirou a coragem daqueles homens que com uma pica na mão, desafiavam constantemente as leis das probabilidades.
Lembremo-nos que a pica era um dos artefactos militares mais modernos da longa panóplia de armamento que o nosso Exército fornecia às tropas, aqui muito bem descrito pelo Luís Graça:
«espantosa tecnologia que era um pau, menos comprido que a altura de um homem, maneirinho, direito, suficientemente pesado para dar sensibilidade à mão, terminando numa das extremidades por um prego grosso e bem afiado...»
Enquanto o resto da tropa seguia junta, para se protegerem uns aos outros, aqueles homens seguiam destacados na frente, separados dos outros, para que, imagine-se, se rebentassem alguma mina os outros não fossem atingidos.
Coisa estranha e cruel, numa tropa tão solidária!
Mas era assim que tinha de ser e era assim que se fazia.
Heróis desconhecidos a maior parte deles, porque em cada saída para as colunas ou para a mata, eles executavam o seu acto heróico à frente dos nossos olhos, conscientemente.
Por isso a reprodução do post acima, para demonstrar que só um gajo muito apanhado do clima, executaria tal missão.
Bem, é que um dia, não faço ideia porquê, decidimos ir do Mato Cão a Missirá pela estrada que já não era percorrida há longos meses.
Pegámos no burrinho como apoio e lá fomos nós estrada fora, com os picadores à frente.
Mas a coisa estava a demorar muito tempo e era preciso voltar no mesmo dia pelo que, o Alferes da coisa, (este vosso humilde criado), já muito apanhado, decidiu ir durante um pouco à frente, servindo-se dos seus pés como picas.
Há um ditado que nos diz que, “ao menino e ao borracho, põe Deus a mão por baixo” que aqui neste caso se poderia alterar para, “ao militar que é tolo, protege-o Deus de ficar num bolo”.
Depois, se bem me lembro, optámos por tentar seguir paralelamente à dita estrada.
Não houve problemas e regressámos ao palácio do Mato Cão em paz e sossego.
Um abraço sentido aos picadores.
Abraço camarigo para todos
Joaquim Mexia Alves
As Picas em acção na estrada Catió/Ganjola
Foto e legenda: © Jorge Teixeira (Portojo) (2009). Direitos reservados.
Bironque, 03DEZ71 > Esta mina AC felizmente foi detectada pelo método científico da vareta, ou pica.
Foto e legenda: © Carlos Vinhal (2009). Direitos reservados.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 3 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4773: Blogoterapia (119): Ainda choro e me revolto por todas as nossas mentiras... (Joaquim Mexia Alves, Pel Caç Nat 52 e CCAÇ 15)
(**) Vd. poste de 30 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4760: Pensamento do dia (17): Recordando as Picas (Jorge Teixeira)
(***) Vd. poste de 17 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P966: O Mexia Alves que eu conheci em Bambadinca (António Duarte, CCAÇ 12, 1973)
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4701: Parabéns a você (14): Dia 17 de Julho de 2009 - Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492
Não podíamos deixar passar esta data sem enviar ao nosso camarada Álvaro os nossos votos de que festeje esta data por muitos anos, sempre acompanhado dos seus familiares e dos imensos amigos que tem. Os nossos parabéns são também extensivos ao senhor Rolando Basto, tão jovem quanto o seu filho.
O senhor Rolando acompanhado de seu filho Álvaro num dos Natais da Tabanca de Matosinhos
Vamos recordar o que nos disse Álvaro Basto, quando se apresentou à Tabanca Grande em 5 de Junho de 2007:
[...]
O meu nome é Álvaro Basto, tenho 58 anos e, tal como vocês, não escapei ao Servicinho Militar Obrigatório em 70.
Após algumas cabulices no liceu, fui incorporado nas Caldas da Rainha e posteriormente em Lisboa no HMP - Hospital Militar Principal - vindo, após os 3 meses obrigatórios da especialidade, a ser integrado como enfermeiro no HMR (Hospital Militar Regional) do Porto onde sempre vivi e onde permaneci um ano inteiro (pertinho de casa, vejam lá a sorte e os maus hábitos que adquiri)...
No início de Dezembro de 1971 sou informado que iria embarcar no dia 18 seguinte para a Guiné (imaginem o choque lá em casa, filho único... há um ano praticamente em regime de emprego civil perto de casa; enfim, foi o drama, um drama afinal igual a tantos e tantos outros que na altura grassavam pelas famílias portuguesas...).
Não embarquei no dia 18 mas em 22 desse mesmo mês (acho que a explicação já foi aqui, na tertúlia, avançada por um camarada) e foi nessa viagem que conheci o Mexia Alves, o António Barroso e o Artur Soares, digníssimos tertulianos aqui presentes, integrado na CART 3492 (Xitole) do BART 3873 (Bambadinca).
Temos pois muitas estórias em comum e um acervo fotográfico interessante que, apesar do desgaste do colorido provocado pelo tempo, se tem mantido em condições razoáveis.
Logo após o regresso da Guiné que para mim, por ser Furriel Enfermeiro, durou até ao dia 1 de Abril de 1974 (dia de enganos, daí eu dizer sempre que só regressei de lá vivo por engano...), ainda mantive o contacto com alguns daqueles com quem mais tinha privado, mas o stress era tal que decidi afastar de vez da mente aquela época vivida longe, que teve muitos maus momentos, mas teve sobretudo um papel importantíssimo na minha formação social com os seus incontáveis momentos de alegria e descontracção, que em conjunto aí vivemos todos.
[...]
Portugal > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 10 de Junho de 2009 > Da esquerda para a direita: na primeira fila, a Fernanda e o Álvaro Basto; atrás, o Zé Teixeira e o A. Marques Lopes.... Os resistentes, mas não os últimos... Não, não houve deserção, apenas debandada geral... Habitualmente, às 4ªs feiras, a casa enche-se, chega à meia centena e é uma alegria!... E todas as semanas há novas caras, que a fama da Tabanca de Matosinhos já ecoa bem longe, na blogosfera.. (LG)
Viseu> 15 de Junho de 2007> Encontro do BART 3873 ( Bambadinca 72/74)> Da esquerda para a direita e de cima para baixo: Casimiro Barata, António Silva, Álvaro Basto, António Barroso; Silva, Eduardinho, Lima Rodrigues, António Azevedo; Maçães, Mourão, Ceia, Artur Soares e Carlos Nunes (os que vão assinalados a azul e a bold, são membros da nossa tertúlia).
Álvaro Basto é um dos fundadores da Tabanca de Matosinhos, e um dos dois administradores do Blogue Tabanca de Matosinhos & Camaradas da Guiné.
Se atentarem à lista de postes com o nome de Álvaro Basto, verificam que muitos deles dizem respeito ao nosso camarada António Batista. Na realidade, o Álvaro tem sido mais que um irmão deste nosso camarada, quer acompanhando a evolução do seu processo em busca dos direitos que o País lhe deve por ter combatido na Guiné, onde foi feito prisioneiro de guerra, quer fazendo-se dele acompanhar nos diversos convívios das tertúlias da Tabanca de Matosinhos e Tabanca Grande. Caro Álvaro, um bem-haja para ti porque és um camarada solidário.
O nosso camarada António Batista
Maia > 21 de Julho de 2007 > O nosso primeiro encontro com o António da Silva Batista (ao centro). À esquerda, o Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492, Xitole, 1971/74) ; à direita, o Paulo Santiago (ex-Alf Mil, cmdt do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72).
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1888: Tabanca Grande (19): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf, CART 3492/BART 3873 (Xitole, 71/74)
16 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1957: Em busca de... (1): Antanho Victor Ribeiro Mendes Godinho, Cap Mil, CART 3492, Xitole, 1972/74 (Álvaro Basto)
17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1959: Em busca de... (2): António da Silva Batista, de Crestins-Maia, o morto-vivo do Quirafo (Álvaro Basto / Paulo Santiago)
22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1983: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (1) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)
22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)
28 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2005: Convívios (21): BART 3873 (Bambadinca 72/74), em Viseu, no dia 16 de Junho último (Álvaro Basto)
30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2011: Vamos ajudar o António Batista, ex-Soldado da CCAÇ 3490/BART 3872 (Júlio César / Paulo Santiago / Álvaro Basto / Carlos Vinhal)
2 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2023: A História da CART 3492 / BART 3873 (Xitole, 1972/74) ou mais de 2 anos em meia dúzia de linhas (Álvaro Basto)
4 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2028: A História da CART 3492: Afinal, não regressaram todos (Álvaro Basto)
3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2151: Convívios (31): CART 3492/BART 3873 (Xitole, 1972/74), Monte Real, 5 de Outubro de 2007 (Álvaro Basto)
25 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2381: Diana Andringa, com o teu apoio, podemos ajudar o António Batista, o morto-vivo do Quirafo (Álvaro Basto)
25 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2680: O caso do nosso camarada António Batista (Carlos Vinhal / Álvaro Basto / Paulo Santiago e Pereira da Costa)
9 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4310: Tabanca de Matosinhos (11): As crianças da Guiné-Bissau precisam da nossa ajuda (Álvaro Basto)
11 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4502: Blogoterapia (106): Tabanca de Matosinhos, a tabanca mais portuguesa de Portugal (Álvaro Basto / Luís Graça)
7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4653: Dando a mão à palmatória (21): A verdadeira fotografia do Alf Mil Cav Mosca, assassinado no dia 21 de Abril de 1970 (Os Editores)
Vd. último poste da série de 13 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4677: Parabéns a você (13): Dia 13 de Julho de 2009 - Rogério Ferreira, ex-Fur Mil da CCAÇ 2658/BCAÇ 2905 (Editores)
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Guiné 63/74 - P4317: Os Bu...rakos em que vivemos (8): Estância de férias Mato de Cão, junto ao Rio Geba (J. Mexia Alves)
Caro Carlos
Tendo em vista a série Os Bu... rakos em que vivemos, lembrei-me do Mato de Cão, pois então, nome oficial segundo sei, da reconhecida estância de férias junto ao Geba, e que albergou durante largos meses o Bando do 52.
Ora bem, chegava-se ao Mato Cão, (tiro-lhe o de), vindo de Bambadinca, pelo rio Geba, de sintex a remos, aportando aos restos de um antigo cais(?), onde se desembarcava.
Se me não falha a memória, logo à esquerda, e com vista para a bolanha do lado do Enxalé, ficava o complexo dos balneários, sobretudo a zona de duches.
Dado o clima ameno e soalheiro, estes duches ficavam ao ar livre, e eram constituídos por um buraco no chão, que dava acesso a um poço, cheio de uma água leitosa, e que respondia inteiramente aos melhores padrões da qualidade de águas domésticas.
Os utentes colocavam-se à volta do referido buraco e, alegremente, todos nus em franca camaradagem, (nada de más interpretações!), utilizavam uma espécie de terrina da sopa, em alumínio da tropa, presa por umas cordas, e que, trazida à superfície cheia de água, era a mesma retirada da referida terrina com umas estéticas latas de pêssego em calda, derramando depois os militares a água sobre as suas cabeças para procederem aos seus banhos de limpeza.
Para se chegar ao destacamento propriamente dito, subia-se então uma ladeira íngreme, (o burrinho da água só a conseguia subir em marcha atrás), acedendo-se então à parada à volta da qual, mais coisa menos coisa, se desenvolvia todo o complexo militar.
À esquerda, salvo o erro, ficavam os espaldões de dois morteiros 81 e respectivas instalações, dormitórios do pessoal do pelotão de morteiros.
Um pouco mais à frente e do lado direito ficava o bar e a sala de banquetes, toda forrada a chapas de zinco e assim também coberta, sendo aberta do lado da frente para o exterior, como convém a instalações de férias em climas tropicais.
A arca a pitrol refrescava as cervejas que o pessoal ia com todo o prazer consumindo. Fazia também algum gelo para dar mais alegria aos uísques emborcados, sobretudo ao fim da tarde.
Para encurtar razões, e sobretudo o texto, os quartos de dormir eram todos situados abaixo do chão, cavados na terra, para que assim não se perdesse o calor que tanta falta fazia nas longas noites de Inverno da Guiné!
Por cima, o telhado, de chapas de zinco, era sustentado normalmente em paus de cibo, que assentavam em graciosos bidões cheios de uma massa de cimento e terra.
Lembro-me de como era agradável o jogo que então fazia, quando deitado na cama, os ratos, de quando em vez, passeavam por cima do mosquiteiro, e com pancadas secas os projectava contra o tecto, voltando depois a cair sobre o mosquiteiro.
Tal jogo e divertimento não se consegue nas melhores estâncias de férias das Caraíbas!
No espaço central deste planalto, (porque o Mato Cão era um pequeno planalto), erguiam-se as tabancas do pessoal africano do Bando do 52.
Tudo estava rodeado de umas incompreensíveis valas sobretudo para o lado Sinchã Corubal, Madina, Belel, junto à qual, se a memória não me atraiçoa, estava uma guarita térrea com uma metralhadora Breda.
Ao fim da tarde, e na esplanada do bar e sala de banquetes, bebendo umas cervejas e uns uísques, o pessoal esperava ansioso o ligar da iluminação pública, o que curiosamente nunca acontecia, talvez pelo facto de não haver gerador no Mato Cão.
Bem, o Mato Cão era um verdadeiro Bur…ako, tendo apenas a vantagem, valha-nos isso, do pessoal amigo do PAIGC não ter incomodado muito durante a minha estadia.
Há aliás um post no blogue, de alguém ligado à Força Aérea que faz uma descrição do Mato Cão, por onde passou de helicóptero, que é reveladora das condições de vida (**).
Ah,… uma coisa boa… tinha um lindíssimo Pôr-do-Sol!
Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
Mando fotografias que podem escolher obviamente.
Tenho pena de não ter nunhuma dos banhos!!!
Na 2024 está este vosso amigo com os Furriéis Bonito, Santos e Varrasquinho, por ordem de alturas!!
A chega à Estância era sempre um momento vivido com prazer
Para que não fiquem dúvidas quanto à qualidade do serviço, aqui fica a vista parcial das modelares instalações
Na sala de jantar imperava o conforto e era obrigatório o uso de traje formal, como documenta a imagem
Um pequeno descanso após as lautas refeições, era sempre bem-vindo
Os momentos de diversão eram proprcionados utilizando os mais modernos equipamentos à disposição. Indispensável a companhia de animais domésticos, seleccionados entre as melhores raças da espécie.
Mais um recanto. Cada hóspede tinha direito a dois colaboradores, sempre atentos às suas necessidades
O convívio e a camaradagem são notáveis. Reparem que o camarada da direita (Fur Mil Varrasquinho), para não correr o risco de estragar a sequência de alturas, se encolhe ligeiramente
Prova de que não estamos aqui a enganar as pessoas, é este lindíssimo pôr-do-sol em Mato Cão.
Fotos: © J. Mexia Alves (2009). Direitos reservados.
Fotos editadas e legendadas pelo editor
2. Comentário de CV:
Desculpem-me, mas é mais forte do que eu. Tenho que meter a colherada.
O camarada Mexia há muito que nos presenteia com alguns mimos literários, carregados de humor e ironia. Duas coisas indispensáveis quando queremos doirar a pílula.
O período entre o 25 de Abril e o 1.º de Maio é, por excelência, a época em que, como aves migratórias, aparecem os heróis da clandestinidade, que coitados, em países subdesenvolvidos como França, Bélgica, Holanda e equiparados, para evitarem a chatice de irem fazer a guerra colonial, sofreram as mais violentas agruras, disparando perigosas canções revolucionárias, enquanto figurões, como o Mexia Alves, se deleitavam em luxuosos aquartelamentos militares da Guiné, Angola e Moçambique, onde a falta de conforto era coisa impensável.
No caso particular, Burako de Mato de Cão (***), fala quem sabe, pois as Termas de Monte Real foram fundadas pela família deste nosso camarada.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Maio > Guiné 63/74 - P4288: Espelho meu, diz-me quem sou eu (1): Joaquim Mexia Alves
Vd. último poste da série de 27 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4252: Os Bu... rakos em que vivemos (7): Destacamento de Rio Caium (Luís Borrega)
(**) Possivelmente o António Martins de Matos... Vd. poste de 11 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4010: FAP (15): Correio com antenas... (António Martins de Matos, ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74)
... Mas não é. O Joaquim já descobriu qual é, é um poste, mais antigo, de 2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)
Aqui vai um excerto: é uma história, bonita, de solidariedade entre a gente do ar e da terra:
(...) Mensagem de Nuno Almeida, ex-Esp MMA (Canibais), DFA Guiné, que vive em Lisboa (foto à esquerda, cortesia do blogue de Victor Barata, Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74), a quem agradeço, mais uma vez´, este depoimento, mas não volto a convidar para aderir à nossa Tabanca Grande, porque ele já cá está, de pleno direito... (LG):
Camarada Mexia Alves:
Estava a ler o blogue do Luís Graça e vi a sua referência a Mato Cão, o que me fez recordar um episódio, não sei se passado, também, consigo e que passo a relatar:
Fui mecânico de helicópteros da FAP e cumpri o ano 1972 na Guiné. Um dia, creio que no Verão de 1972, fui com um heli fazer o que, creio, se chamava o Comando de Sector (levar o [Ten-] Coronel de Bambadinca a visitar os aquartelamentos).
Fomos visitando vários locais e, quando sinto o piloto fazer manobra para proceder a uma aterragem, fico em estado de choque, pois não se vislumbrava nada no terreno que indicasse haver ali alguém ou algo minimamente capaz de albergar seres humanos. Inicialmente temi que o piloto tivesse detectado alguma falha no aparelho e fosse aterrar para que eu verificasse a condição do mesmo e poder continuar a voar. Mas quando aterramos (num espaço de mato desbravado e completamente inóspito), e a intensa poeira, levantada pelas pás do heli, começa a assentar, vejo surgirem, de buracos cavados no chão, homens em estado de higiene e aspecto físico degradantes (pelo menos aos olhos dum militar que dormia em Bissau e tinha água corrente para se lavar a seu bel prazer).
Chocou-me, e ao piloto também, a situação sub-humana em que esses homens estavam a viver.
A sua reacção, ao verem o [Ten-] Coronel, foi a de parecer que o queriam linchar, tal era a sua revolta pelo que estavam a ser obrigados a suportar.
Quando regressámos a Bambadinca, o piloto foi ao bar e comprou dois pacotes de tabaco Marlboro, escreveu neles algo que creio foi: "com a amizade da Força Aérea", e quando passámos à vertical de Mato Cão largámos esses pacotes, querendo demonstrar a nossa solidariedade para com quem tão maltratado estava a ser.
Mais tarde, em [25 de] Novembro de 1972, fui ferido [com gravidade], ao proceder a uma evacuação, na mata de Choquemone, em Bula, e aí melhor me apercebi das privações e sobressaltos que, a todo o momento, uma geração de jovens, na casa dos 20 anos, foi obrigada a suportar, adquirindo mazelas físicas e, principalmente, psicológicas, que ainda hoje perduram, e que muitos teimam em não aceitar que existem e estão latentes no nosso dia-a-dia.
Abraços, do ex-1º cabo FAP Nuno Almeida (o Poeta) (...)
(***) O sítio, paradisíaco, do Mato Cão era tão popular na época que no nosso blogue há mais de três dezenas de referências com este descritor: Vd. marcadores ou palavras-chave na coluna do lado esquerdo...
Esta estância (turística) também era muito frequentada por outros camaradas nossos como o Beja Santos (Pel Caç Nat 52, 1968/70), Luís Graça e Humberto Reis (CCAÇ 12, 1969/71), Jorge Cabral (Pel Caç Nat 63, 1969/1)... Mas nesse tempo não ainda havia as luxuosas infra-estrtuturas hoteleiras aqui tão bem descritas pelo J. Mexia Alves (devem ter construídas e inauguradas depois, em 1972)... O turistame fazia lá campismo selvagem... Bons tempos! Nessa altura o Rio Geba era muito concorrido, até se faziam comboios entre o Xime e Bambadinca e até mesmo Bafatá (no chamado Geba Estreito)... Dizem-nos que o rio agora está assoreado, por aquelas bandas... (LG)
sábado, 25 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4248: Ainda e sempre a tragédia do Quirafo. Um depoimento do Dr. Pinheiro Azevedo seria relevante (Álvaro Basto)
Luís
Excelente texto, este do Mário Miguéis (*) a quem na passada quarta-feira tive o prazer de conhecer pessoalmente embora não o relacionando nem de perto nem de longe com este assunto.
O esforço pela síntese da verdade na amálgama de tanta informação, alguma até contraditória, é merecedora do nosso mais vivo respeito e daqui quero expressar-lhe desde já os meus parabéns.
Muito do que tenho procurado transmitir tem sido ventilado com o Dr. Pinheiro Azevedo com quem continuo a ter excelentes relações e que por diversas vezes tenho tentado trazer à liça com as suas informações obviamente credíveis e esclarecedoras.
Adianto que irei uma vez mais insistir para que, também ele, dê o seu contributo esclarecendo e confirmando alguns dos aspectos mais relevantes desta tragédia especialmente no que concerne à identificação dos corpos.
O horror dessa tarefa teve em mim duas acções contraditórias no tempo, por um lado nunca mais esqueci as suas imagens mais gerais e por outro (se calhar ditado pelo meu inconsciente), o de ter esquecido muitos dos pormenores.
Ficou-me com especial nitidez a imagem do Armandino que jazia inanimado em cima de um unimog e os corpos mutilados e carbonizados nas casas de banho. Recordo-me da dificuldade que reinava em reconhecer muitos deles. Recordo-me que dois deles estavam especialmente mal tratados e que não haveria concenso quanto a saber-se quem era quem. Acho que o Dr. Alfredo Pinheiro Azevedo se recusou mesmo a assinar as respectivas certidões de óbito desses dois tendo-me contado que, mais tarde, em Bissau de partida para férias, foi confrontado com a insistência do Capitão Lourenço e tanto quanto sei do primeiro sargento da companhia que queriam... arrumar aquela papelada... tendo-se no entanto este mantido firme e não tendo assinado...
Mas para evitar mais especulações estou a mandar cópia deste mail ao Dr. Alfredo Viana Pinheiro Azevedo com um pedido solene aqui expresso de se pronunciar...
Esperemos que ele se decida a faze-lo depois de ler a síntese do Miguéis no Post 4194 e no Post 4200
Um grande Alfa Bravo
Álvaro Basto
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 17 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4200: Ainda e sempre a tragédia do Quirafo. Sortes distintas para António Batista e António Ferreira (Mário Migueis / Paulo Santiago)
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4146: Parabéns a você (3): No dia 6 de Abril de 2009, ao camarigo Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, Guiné 1971/73 (Editores)
A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74).
O nosso camarigo (*) Joaquim Mexia Alves está hoje de parabéns.
Falar dele é fácil e difícil. Fácil, porque não é preciso estar a inventar para enumerar as suas qualidades de cidadão e amigo. Difícil, porque acabamos por pecar por defeito.
Há poucos dias dizia ele que entre nós os dois se criou uma empatia muito grande, aquando da organização do último Encontro da Tertúlia. Foi fácil e aconteceu normalmente. Ele no terreno, contactando o restaurante e organizando tudo para que o Encontro corresse da melhor maneira, como correu, e eu apenas secretariando, organizando a papelada, parte para que ele, confessou, tinha pouco ou nenhum jeito.
O entendimento entre nós foi imediato, não sendo preciso mais que meia dúzia de telefonemas e alguns mails. Do resultado, melhor que o vosso testemunho não há.
O contacto que tivemos naquele dia e uma pequena tertúlia espontânea com alguns camaradas, acontecida numa esplanada de café, à noite, em Monte Real, deixou claro a pessoa que é, e como é fácil criar com ele amizade. Os presentes discutiram a guerra da Guiné e, aqui e ali discordaram, mas respeitaram-se e apertaram as mãos como verdadeiros camarigos.
Ortigosa, Monte Real, 17 de Maio de 2008 > III Encontro da Tertúlia do Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, brilhantemente organizado por Joaquim Mexia Alves
Pessoa leal no confronto verbal, não fugindo à polémica quando se trata de defender os seus pontos de vista, respeitador da opinião dos seus antagonistas de ocasião, extremamente correcto no trato, o Joaquim é uma pessoa agradável e afável. Sendo uma figura muito conhecida em Monte Real, onde a sua família tem tradição, não vi nele qualquer ar de vaidade. Foi preciso eu perguntar-lhe se o homenageado num memorial existente no Jardim de Monte Real era seu familiar. Respondeu que sim, que era o seu pai, mas sem entrar em pormenores quanto ao passado daquela figura marcante de Monte Real e do Distrito de Leiria.
Monte Real >Termas de Monte Real > O Joaquim Mexia Alves junto ao busto do fundador das termas, Olímpio Duarte Alves, que foi também governador civil de Leiria (1959-68). Na base do monumento lê-se: "A Olympio Duarte Alves, uma vida ao serviço destas termas que fundou e do termalismo nacional".
A sua colaboração no Blogue é tão extensa que pesquisar as suas intervenções é coisa complicada. Localizei uns quantos postes mais marcantes que poderão consultar. Destes é fácil derivar para outros não referenciados.
Deixo estas fotos relativas à sua passagem pela Guiné, onde como Alferes Miliciano, esteve ao serviço CART 3492, Pelotão de Caçadores Nativos 52 e CCAÇ 15.
Mato Cão > Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > Destacamento da Ponte dos Fulas > O Joaquim Mexia Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, que de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973 passou por três unidades no TO da Guiné: pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), antes de ingressar no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e depois na CCAÇ 15 (Mansoa ). A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74).
Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, CART 3942 (Xitole), Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e CCAÇ 15 (Mansoa)
Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > CART 3492 > 1972 > "No jipe, frente para trás: Alf Canas, Alf Novais, Alf Lima (Secretaria?), Alf Rodrigues (meu camarada de curso, também que era da CCS e veio depois para o Xitole, por troca com o Alf Gonçalves Dias se não me engano), Alf Martins (CART 3493, Mansambo) e eu [, assinalado cum círculo]".
Lisboa > Sociedade de Geografia > 6 de Março de 2008 > Três históricos do Pel Caç Nat 52 > Joaquim Mexia Alves, à esquerda da foto, no lançamento do livro Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, de Mário Beja Santos, que está ao centro. À direita, está o Henrique Matos que foi o 1.º Comandante do Pel Caç Nat 52. Desta vez, no lançamento do 2.º livro (Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio), este quadro não se vai repetir, devido à ausência do J. Mexia Alves.
Monte Real > Base Aérea n.º 5 > 25 de Fevereiro de 1988 > O Cap Pil Av Jaime Brandão, mais o seu amigo e conterrâneo Joaquim Mexia Alves, preparando-se para um passeio de... A7.
Talvez por ser um homem sensível, tem uma veia poética e musical que não se coíbe de demonstrar, principalmente quando está entre amigos, situação em que se sente como peixe na água.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > CART 3942 / BART 3873 > 1972 > O nosso autor e cantor Joaquim Mexia Alves... Além da CART 3942 (Xitole), o J. Mexia Alves comandou, como Alf Mil Op Esp o Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e e esteve ainda, na parte finald a sua comissão, na CCAÇ 15 (Mansoa )
Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Um momento poético-musical: da esquerda para a direita, o J. Luís Vacas de Carvalho, o J. Mexia Alves e o David Guimarães
Fado da Guiné
Letra (original): © Joaquim Mexia Alves (2007)
Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera)
Lembras-te bem daquele dia
Enquanto o barco partia
E tu morrias no cais.
Braço dado com a morte,
Enfrentavas tua sorte,
Abafando os teus ais.
(bis)
Dobrado o Equador,
Ficou para trás o amor
Que então em ti vivia.
Da vida tens outra margem
Onde o medo é coragem
E a noite se quer dia.
(bis)
Aqui estás mais uma vez,
Forte, leal, português,
Sempre de cabeça erguida.
Não te deixas esquecer,
Nem aos que viste morrer
Nessa guerra em tempos ida.
(bis)
Que o suor do teu valor
Que vai abafando a dor
Que te faz manter de pé,
Seja massa e fermento
Desse nobre sentimento
Que nutres pela Guiné.
(bis)
Joaquim Mexia Alves
Monte Real,
18 de Agosto de 2007
Para o camarigo Mário Beja Santos
na véspera da apresentação do seu livro
Hoje fico assim,
Sentado a pensar.
Queria tanto que a memória
Se fizesse viva
E eu pudesse recordar.
Não,
Mais que recordar,
Viver
Aquele caminho do Mato Cão
E o cheiro daquele tarrafo
A agarrar-se-me ao coração.
Lembro-me agora
De quando ali cheguei
Ao pé deles
Os do 52
Ali na Ponte do Udunduma.
O medo entranhado
No suor quente,
Os pensamentos a correrem
Por aqueles espaços fora.
Todos me pareciam estranhos!
Não eram os meus homens
Aqueles que comigo embarcaram
Indecentemente,
Mesmo antes do Natal.
Não aqueles não eram a minha gente!
Confesso agora,
Tinha medo,
Muito medo!
Sei lá se sou capaz,
Sei lá se um dia à noite
No escuro silencioso do breu...
Sei lá!
Mas vá lá que és homem,
Mostra-te sem medo,
Levanta-te na tua altura,
Deixa que te meçam
E percebam que estás aqui
E não vais recuar.
Olha-os nos olhos,
Entrega-te por eles
De modo que eles percebam,
Para que também eles
Se venham a entregar por ti.
Sorri
O sorriso dos sem medo,
Ou melhor dos loucos,
Que já nem sequer pensam
Porque também não vale a pena
Já pensar.
E passa o tempo,
E as conversas chegam.
A empatia começa a nascer
E a confiança neles
E deles em mim
A tomar forma,
A criar raízes.
Já são a minha gente
E eu já sou deles também.
À volta da cadeira de verga
(Já falei dela uma vez),
Sentados pelo chão, (***).
Trocam-se recordações.
Surge um nome,
Um tal Tigre de Missirá!
Que raio tem o homem
Que eu não tenha!
Também já não interessa,
O homem já não mora cá.
Pois se deixaste um nome,
Se deixaste recordações,
Não penses tu,
Ó desconhecido,
Que não hei-de fazer melhor.
É assim que há muito,
Muito tempo,
Já povoavas os meus pensamentos!
Sabia lá eu um dia
Que te havia de encontrar,
Na guerra das palavras escritas,
Em que a arma
É uma caneta.
Hoje fico assim,
Sentado a pensar.
Será que o livro do Mário
Traz cheiros de bolanha molhada,
Barulhos de macaréu,
Gritos de macaco cão,
Cantares de humor duvidoso
De homens tisnados do sol,
Que cantam para espantar
O medo de não voltar.
Hoje fico assim
Sentado a pensar,
Que um livro pode trazer
Um abraço do passado
Para agora no presente
Viver, sonhar, recordar.
Hoje fico assim
Sentado a recordar...
Joaquim Mexia Alves
Monte Real, 10 de Novembro de 2008
Sentado na minha cadeira (2),
Cerveja na mão,
Fito os olhos no longe,
Tão longe,
Que vai para além do horizonte.
O Sol começa a descer ,
Lá ao fundo,
Para os lados do Enxalé,
E os seus raios de luz
Tocam a terra de sangue
E pintam o ambiente de vermelho.
O momento é mágico,
Porque não há nada mais bonito
Que o Pôr do Sol na Guiné.
Na bolanha,
Junto ao Geba
(Que se ouve a murmurar),
Passa um pequeno tornado.
Quase que o podia agarrar!
Ao meu lado,
O Furriel Bonito.
Deve estar a meditar
No que é que eu estarei...
A pensar!
Estou para aqui, isolado,
Vivendo como uma toupeira
Debaixo de terra,
Cercado de arame farpado.
A letargia da rotina diária
Toma conta de mim
E tanto me faz
Que o dia nasça
Como chegue ao fim.
Fecho os olhos por um momento.
Estou em Monte Real!
É fim de tarde,
Hora de banho
E vestir a preceito,
Que o meu pai não deixa
Que se jante no Hotel
Sem uma roupa de jeito.
Já lá vem o chefe de mesa
Que tem muito que contar,
Fala-me da carne e do peixe,
Tenho a boca a salivar.
Tocam-me no ombro!
Esfumou-se o meu sonho!
É o Mamadu que me diz,
Com o seu sorriso:
«Alfero,
O comer está pronto.»
O que lhe falta
Em smoking de profissão,
Excede em alegria
E dedicação.
Levanto-me,
Olho em redor.
Nas pequenas tabancas,
A luz das fogueiras
Ilumina a escuridão
Da falta de luz.
Abano a cabeça,
Para afastar o torpor,
E grito bem alto
Com a minha voz forte,
A afastar o temor:
«Pessoal,
vamos morfar,
que nunca se sabe,
quando isto vai acabar!»
Monte Real, 29 de Março de 2008
Poema (original): © Joaquim Mexia Alves (2007)
Ao nosso querido amigo, camarada, camarigo Joaquim Mexia Alves, os Editores Luís Graça, Virgínio Briote, Carlos Vinhal e os restantes 312 tertulianos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, desejam-lhe as maiores venturas para os próximos 40 anos que queremos sempre com boa saúde.
__________
Notas de CV:
(*) Camarigo - Palavra inventada por Joaquim Mexia Alves que significa mais que um amigo, mais que um camarada. Significa as duas coisas juntas, alguém que sendo camarada junta a particularidade de ser ao mesmo tempo amigo.
Da vasta colaboração de Joaquim Mexia Alves podem ver estes postes de:
7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)
12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)
2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)
25 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1997: Álbum das Glórias (22): O Alf Mil Pires, cmdt do Pel Caç Nat 63, em Mato Cão, na festa do meus 24 anos (Joaquim Mexia Alves)
15 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2179: Fado da Guiné (letra original de Joaquim Mexia Alves)
19 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2364: O meu Natal no mato (5): Mato Cão, 1972: Com calor, muito calor, e longe, muito longe do meu clã (Joaquim Mexia Alves)
13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2631: Dando a mão à palmatória (5): Recado para uma ida à Guiné (Joaquim Mexia Alves)
30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2701: Blogpoesia (10): Olhando para uma foto minha, no Mato Cão, ao pôr do sol, com o Furriel Bonito... (Joaquim Mexia Alves)
15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)
19 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2961: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (11): Às vezes dá-me umas saudades da Guiné... (J. Mexia Alves)
1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3261: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (7): o meu amigo e conterrâneo Jaime Brandão (J. Mexia Alves)
26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3940: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (2): J. Mexia Alves, ex-Alf Mil (Xitole, Mato Cão, Mansoa)
(*) Camarigo - Palavra inventada por Joaquim Mexia Alves para significar mais que amigo, mais que camarada. Camarigo significa as duas coisas juntas, alguém que sendo camarada junta a particularidade de ser ao mesmo tempo amigo.
Vd. postes da série Parabéns a você de:
20 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2367: Parabéns a você (1): Humberto Reis, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71): born in Portugal, December 19th, 1946 (Luís Graça)
e
27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4084: Parabéns a você (2): Carlos Vinhal, nosso co-editor, um rapaz de Leça, que desmontava minas em Mansabá (Luís Graça)
domingo, 29 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4104: Carta aberta a... (2): Sr. gen Almeida Bruno (2): Tinha pelo Gen João Almeida Bruno a maior consideração e respeito (J. Mexia Alves)
Caros camarigos Luís, Carlos, Virgínio e todos os Atabancados
Tinha pelo Gen João Almeida Bruno, Major no meu tempo, a maior consideração e respeito.
O Maj Almeida Bruno foi a pessoa a quem pedi para sair da zona operacional do Batalhão de Bambadinca, por achar que tinha uma nítida incompatibilidade com o comando do Batalhão, e assim fui colocado na CCaç 15 dos Balantas de Mansoa.
O Maj Almeida Bruno era ou é ainda, também, amigo de um dos meus irmãos mais velhos que foi piloto da Força Aérea nos anos cinquenta.
Tudo isto para dizer que algo me ligava ao Gen Almeida Bruno, para além do respeito e consideração que me merecia.
Pois tudo isso desapareceu com esta frase do referido senhor.
Não foi uma frase infeliz!
Só o podia ser, se este militar não tivesse conhecimento do que se passava na Guiné, mas ele sabia bem e tinha acesso a toda a actividade operacional das companhias de quadrícula da Guiné.
Se havia algumas unidades, poucas, muito poucas, que se fechavam no arame, a maior parte delas cumpriam com grande risco a sua missão, indo muitas vezes para além dela.
Basta perceber que se Bissau nunca teve quaisquer problemas, era porque as unidades militares estacionadas na Guiné cumpriam o que lhes era exigido e elas se exigiam.
Aliás, a maior parte das pouquíssimas companhias que se fechavam no arame acabavam normalmente por pagar caro essa atitude.
A frase do Gen Almeida Bruno ofende-me mais que o recente artigo da Visão que fez levantar a nossa indignação.
Um jornalista, se pode ter conhecimento das coisas, pode não as ter vivido e portanto não poder aferir daquilo que notícia.
O Almeida Bruno tinha conhecimento e sabia das condições em que a maior parte das unidades militares viviam e cumpriam a sua missão, pelo que tinha de elogiá-las e ser-lhes profundamente agradecido.
Talvez Almeida Bruno devesse ter passado 9 meses no Mato Cão, enterrado num buraco no chão, sem luz e sem água, tendo por companhia a enormidade da mata envolvente e como meio de transporte um sintex a remos.
Talvez então percebesse! Mas a verdade é que ele sabia isto tudo e mesmo assim não se coibiu de proferir a aleivosia que proferiu.
Espero que o Almeida Bruno se retrate do que disse, e peça desculpa aos militares que deram as suas vidas na guerra da Guiné.
Assim talvez volte a ser na minha memória o homem que respeitei e pelo qual tinha consideração.
Julgo que deveriam ser enviadas ao Almeida Bruno todas estas mensagens de indignação dos ex-combatentes desta Tabanca Grande.
Mas também, não é pelo que um senhor militar diz, que a nossa honra e dignidade é afectada.
Quando as coisas ditas são tão longe da realidade e tão acintosas, o seu veneno acaba por cair em cima de quem as proferiu.
Abraço camarigo a todos do
Joaquim Mexia Alves
__________
Nota de CV:
Vd. primeiro poste da série de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4103: Carta aberta ao sr. Gen Almeida Bruno (1): Sinto-me muito honrado em ter pertencido a um dos tais bandos (José Teixeira)
segunda-feira, 9 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4005: Para amenizar, quem conhece a NEP das abelhas? (J. Mexia Alves)
Quem estiver em condições de esclerecer o nosso camarada Mexia Alves, faça o favor de se apresentar.
Caros Luis, Virgínio, Carlos e todos os camarigos.
Vamos lá então amenizar a coisa que isto por aqui está muito denso!
E então lanço um desafio aos camarigos que souberem da coisa, para darem ao conhecimento da Tabanca, uma célebre NEP, de que no meu tempo muito se falava na Guiné.
Era conhecida pela NEP das abelhas e eu nunca a vi e nunca a li, mas ao que me diziam, continha coisas de "bradar aos céus".
Segundo diziam, a NEP preconizava entre outras coisas, em caso de ataque de abelhas, a entrada imediata no curso de água mais perto...
Dizia-se também que a mesma aconselhava o rebentamento de granadas de fumo, talvez com o intuito de dar a conhecer ao inimigo a nossa posição!!!
Não sei se a NEP existia ou não e se continha tais "conselhos", mas embora nunca tenha tido nenhum ataque de abelhas, sei que era uma coisa terrivel, que fazia o pessoal atacado entrar num descontrole total e lembro-me de ouvir referir, que um Alferes de uma Companhia Independente teria morrido na mata de vido às multiplas picadas de um ataque de abelhas.
Alguém sabe alguma coisa sobre isto, da NEP, ou mortes causadas pelas abelhas?
Abraço camarigo a todos do
Joaquim Mexia Alves
(*) Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, CART 3942 (Xitole), Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e CCAÇ 15 (Mansoa)
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Nota de CV:
Vd. poste da última intervenção de Joaquim Mexia Alves de 2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3965: Nuvens negras sobre Bissau (7): Ao combatente Nino Veira, um poema de Joaquim Mexia Alves
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Guiné 63/74 - P3364: Blogoterapia (66): Amargos de boca (J. Mexia Alves)
Meus caros Luis, Virginio e Carlos
Nalgumas das coisas que faço na minha vida, conta-se uma colaboração semanal que tenho num espaço da Net em que escrevo, ao Sábado e Terça Feira, textos que fazem parte do nosso dia a dia, política, sociedade, etc.
Neste Sábado, 25 de Outubro, vamos ter o almoço da CART 3492, do Xitole, à qual pertenci de origem.
Ao pensar no texto que havia de escrever para este Sábado cumprir o meu compromisso, não pude deixar de pensar no que ia viver dentro de horas e saiu este escrito que aqui vos deixo à vossa disposição, para publicação, ou apenas para vosso conhecimento, como melhor entenderdes.
Deixo-vos também o meu abraço camarigo e emocionado
Joaquim Mexia Alves
2. PARA ALÉM DA AMIZADE
Este texto que hoje escrevo provavelmente poderá dizer pouco a muitos daqueles que visitam este espaço, não só porque a sua idade, (julgo que mais nova do que a minha), os distancia dos factos que provocam esta escrita, como também por ser assunto que normalmente não ocorre ao pensamento das pessoas, por dele estarem afastadas, por não o terem vivido.
Hoje tenho um almoço que reúne cerca de 40 homens que juntos, integrados na mesma Companhia, partiram no dia 21 de Dezembro de 1971, a bordo do navio Niassa, para uma comissão militar na Guiné.
Irei, já sei, rever alguns que já não vejo há 36 anos e que no entanto estão indelevelmente marcados na minha memória, na minha vida.
Enquanto escrevo este texto, sinto uma emoção profunda, um quase sentimento de saudade inexplicável, que, julgo eu, vem daquilo que nos une e está muitas vezes para além da compreensão humana.
Nunca, em momento algum, atrevo-me a dizê-lo, se formam ligações tão profundas, tão enraizadas, que vão para além da amizade como normalmente a concebemos, como nos tempos de provação, de dificuldade, de medo, (sim de medo), por que passam aqueles que juntos fazem ou têm de fazer uma guerra.
Não é logicamente isso que faz da guerra uma coisa boa, porque a guerra é sempre um mal que deve ser evitado a todo o custo.
Mas a verdade é que aqueles que estão juntos numa guerra, longe de casa e dos seus, percebem que a sua ligação vai muito para além da normal camaradagem, da sã amizade, pois implica uma entrega constante da vida de cada um, nas mãos do outro, dos outros, que estão ao nosso lado e vivem connosco as dores, os sofrimentos, que cheiram em nós o suor do medo, que também a eles lhes sai dos poros e sabem que nós o sentimos.
E é assim que passados muitos anos, às vezes sem nos vermos, o abraço é sincero, forte, acolhedor de parte a parte, como se disséssemos uns aos outros:
- Tu é que me percebes. Achega-te a mim que eu é que te entendo!
Mas tem mais um sentimento ainda, pelo menos nesta guerra que vivemos em África.
É que aqueles que combateram dignamente contra nós, são agora também nossos camaradas de armas e não lhes guardamos qualquer rancor, mas pelo contrário, irmanamo-nos nos sentimentos e encontramos até em nós uma vontade de ajudar a construir os países por que lutaram e onde lutámos.
Mas há sempre um amargo de boca, para ser benigno na expressão!
E este amargo de boca vem do facto do nosso país não ter um comportamento digno para com aqueles que por ele combateram, com ou sem razão, obrigados ou não.
Não me refiro obviamente tanto àqueles que graças a Deus estão bem, mas a tantos que continuam a viver no dia a dia os reflexos da guerra, que não dormem como os outros, que não têm estabilidade emocional, que foram desestruturados pela guerra, e a quem ninguém acode a não ser os familiares e amigos.
E há bastantes, sabemo-lo bem, que vivem sem abrigo e o Estado nada faz.
Conheço deles que têm processos há dezenas de anos para obterem um qualquer subsídio que lhes permita fazer face à instabilidade emocional, que não lhes permite ter um emprego estável, e continuam a fazer-se perguntas burocráticas para que nada se resolva.
Outro amargo de boca, que me toca especialmente porque também os comandei, foi o abandono a que Portugal votou aqueles que, naturais desses novos países, pertenceram às Forças Armadas Portuguesas.
Abandonados à sua sorte, muitos foram fuzilados sem qualquer justificação, e outros vivem ao Deus dará.
Também os nossos mortos que por lá continuam, se exige ao nosso país que os traga de volta à terra que os viu partir, e às famílias que querem finalmente encerrar esse doloroso capítulo das suas vidas.
Perdoem-me o desabafo, mas hoje tinha de escrever sobre eles, cidadãos anónimos que deram parte das suas vidas por Portugal, e se sentem hoje e ainda tão desprezados e ostracizados.
Mas eu orgulho-me deles, e orgulho-me com eles, e hoje vamos abraçarmo-nos, vamos rir e cantar, vamos olharmo-nos nos olhos e dizermos uns aos outros:
- Tu é que me percebes. Achega-te a mim que eu é que te entendo!
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Nota de CV
Vd. último poste desta série > 21 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3337: Blogoterapia (65): 800 mil páginas visitadas em 21 de Outubro de 2008 (Carlos Vinhal)