terça-feira, 17 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12051: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (18): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2o07) - Parte V: Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (II). A festa do fanado (feminino). Fotos.








~






Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 >  Festa do fanado (feminino), a que se associaram os militares.

Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68).


2. Memórias de Guileje, ao tempo da CART 1613, por José Neto (1929-2007) > Parte V: Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (II). A festa do fanado. Fotos

(...) Saliento o facto ocorrido durante a festa do fanado em que as meninas foram preparadas para a, para nós bárbara, ablação de parte dos seus órgãos genitais.

Atraídos pela música, os militares metropolitanos acercaram-se do local onde decorria o ritual – as meninas postadas à volta do enorme almofariz enquanto as mulheres, com o pilão, moíam cereais cuja farinha se derramava sobre as cabeças das ainda crianças – e sem quaisquer constrangimentos dançaram e cantaram como se fossem parte da cerimónia.

Houve nesta festa uma excepção que me apraz referir: eu fui o único fotógrafo autorizado a registar as cenas preliminares. Na palhota onde se procedeu à cirurgia nem pensar.

Tal deferência nada tinha a ver com o meu cargo ou posição na companhia, mas sim porque quando o correio me trazia os slides revelados, eu montava o cenário e mostrava à população as suas caras e os seus lugares que provocavam grandes ovações e expressões de alegria dos visados. Era o que chamavam de cenima do nosso sargenti. (*)


3. Comentário, de 17 do corrente,  de Cherno Baldé, nosso amigo e irmão guineense [, foto à direita]:

(...) A guerra colonial travada num meio essencialmente rural/tradicional tinha, também, o condão de provocar efeitos secundários ou colaterais de âmbito sócio-cultural. Só algumas raras pessoas podiam perceber o alcance e a profundidade das transformações sociais que se operavam no seio dessas mesmas sociedades.

Neste caso concreto das imagens [do Zé Neto], o que salta a vista é o facto de as mulheres, no uso da liberdade pontual que a cerimónia [do fanado] autorizava nos idos anos 60, desafiarem a tradição e quebrarem o velho tabu do uso de roupas do sexo oposto e, sobretudo, de homens de guerra. 

No caso da Guiné, o facto não é meramente fortuito, pois tratava-se de uma fase de viragem histórica e que viria a ser bem aproveitado e vulgarizado pelo PAIGC no período pós-independência (...)

Guiné 63/74 - P12050: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (17): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte V: Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (I): A capela






Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 1 > Vistas diversas da capela. Na pequena festa de inauguração da capela,  e a convite do Capitão Corvacho, o Régulo Suleimane compareceu com toda a sua família e vestido a rigor, embora fosse muçulmano.




Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 > Início das cerimónias do Ramadão. O régulo em traje de gala.


Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68).

O Zé Neto, como era conhecido entre nós, é um dos primeiros 50 camaradas a ingressar no nosso blogue. Hoje somos 12 vezes mais, a maior parte dos tabanqueiros não o conheceram nem têm acesso à sua colaboração, dispersa, incluindo as valiosas fotos do seu álbum . Daí também esta nova edição dos seus postes sobre Guileje, no ano em que celebramos o 9º aniversário. Por outro lado, fez 40 anos, a 22 de maio de 2013, que as NT retiraram de Guileje.

2. Memórias de Guileje, ao tempo da CART 1613, por José Neto (1929-2007) > Parte V:  Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (I)


Uma das boas características do meu pessoal era a de que não gostavam de estar parados nos intervalos das operações. Cada um, nas suas profissões ou aptidões, ia bulindo e foi assim que  (i) se reconstruíram e melhoraram abrigos, (ii) se implantou uma horta que aproveitava a água, depois de decantada, dos chuveiros das praças e (iii) se construiu a obra mais emblemática que deixámos em Guileje: a Capela.

Por sugestão do capelão, Padre João Batista Alves de Magalhães, que apenas pediu um coberto para oficiar a missa quando ia a Guileje, pois dava a volta a toda a área da responsabilidade do batalhão, os Furriéis Maurício (Transmissões) e Arclides Mateus (Atirador), ambos com conhecimentos de desenho de construção civil, planearam e dirigiram a construção do pequeno templo.

Vinte ou trinta anos depois muito se falou em ecumenismo e outras ideias do mesmo sentido, mas nas profundezas da Guiné isso já se praticava.

Na pequena festa de inauguração da Capela e a convite do Capitão Corvacho, o Régulo Suleimane compareceu com toda a sua família e vestido a rigor, embora fosse muçulmano.

As portas da Capela nunca se fecharam. Os europeus iam lá fazer as suas orações e nunca constou que alguém tivesse mexido fosse no que fosse. Do mesmo modo, quando da celebração do fim do Ramadão, com rituais próprios, mas completamente desconhecidos para a quase totalidade dos rapazes, estes comportaram-se com respeito, a que não faltou uma ponta de curiosidade, é certo.

Saliento o facto ocorrido durante a festa do fanado em que as meninas foram preparadas para a, para nós bárbara, ablação de parte dos seus órgãos genitais.

Atraídos pela música, os militares metropolitanos acercaram-se do local onde decorria o ritual – as meninas postadas à volta do enorme almofariz enquanto as mulheres, com o pilão, moíam cereais cuja farinha se derramava sobre as cabeças das ainda crianças – e sem quaisquer constrangimentos dançaram e cantaram como se fossem parte da cerimónia.

Houve nesta festa uma excepção que me apraz referir: eu fui o único fotógrafo autorizado a registar as cenas preliminares. Na palhota onde se procedeu à cirurgia nem pensar.

Tal deferência nada tinha a ver com o meu cargo ou posição na companhia, mas sim porque quando o correio me trazia os slides revelados, eu montava o cenário e mostrava à população as suas caras e os seus lugares que provocavam grandes ovações e expressões de alegria dos visados. Era o que chamavam de cenima do nosso sargenti.

(Continua)

_______

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12049: Estórias avulsas (66): Ética militar (José Colaço)

Mensagem do nosso camarada José Colaço, ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65, com data de 12 de Setembro de 2013:


ÉTICA MILITAR

Quando jovem sempre tive por hábito vestir o melhor possível muitas das vezes com sacrifício de outros bens porque nem sempre se pode ter tudo.

Desta vez o passeio teve um encontro inesperado. Em sentido contrário vinha o major Ricardo Durão com o tenente coronel, comandante do BCav 757, e mais um ou dois oficiais. Aquele encontro não era o que desejava. Fico parado, em sentido, e faço-lhe a continência com uma palada, mas o major mira-me de alto a baixo e diz-me:
- Anda aqui.

Faz-me as perguntas sacramentais: quem era eu e a que unidade pertencia.
Resposta em sentido:
- Soldado de transmissões 1162 da CCaç 557.
- Põe-te à vontade.

Começa a examinar a indumentária; os sapatos são pretos mas são civis, as calças não são de caqui e o corte não é militar, a camisa (quem está autorizado a usar camisas de nylon são os graduados). O bivaque era a única peça que ele admitia, embora não estivesse 100% a rigor devido ao tecido que era terilene e devia ser caqui.

Mandou-me seguir o meu caminho:
- Vou tratar do teu assunto com o comandante da tua companhia.

Bem o disse, melhor o fez. Passado pouco tempo fui chamado ao capitão para esclarecer o que se tinha passado, e quanto a factos não há argumentos, há que aceitar e não aparecer com tal indumentária à frente do senhor oficial.

Solução: para usar a mesma indumentária sem ser incomodado pelo dito oficial, o capitão passava-me um papelinho com autorização de trajar à civil e eu, a única coisa que tinha que fazer, era deixar o bivaque no cacifo e aí estava eu um rapaz livre a passear sem o incómodo do sentido de ter que sair porque na mesa ao lado estava o senhor oficial fulano ou sicrano.

Um abraço.
Colaço
____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11937: Estórias avulsas (65): Manga di ronco... Uma "rapidinha" a Bafatá, para uma "patuscada"! (José Ribeiro)

Guiné 63/74 - P12048: Notas de leitura (520): "Guiné Mal Amada - O Inferno da Guerra", por António Ramalho de Almeida (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Maio de 2013:

Queridos amigos,
Trata-se de recordações de um alferes instrutor de companhias de milícias, deambulou por Empada, Nhacra, Nova Lamego, Teixeira Pinto, entre 1964 e 1966.
Tanto quanto sei, trata-se do primeiro relato de um instrutor de milícias. Dá para perceber como Empada era um inferno. Aqui e acolá, penso que deliberadamente, mistura a ficção com a realidade, põe Spínola na Guiné em 1966 e descreve uma coluna por Mato Cão numa atmosfera arrepiante, pior cenário de guerra não podia haver. É bem provável que esteja a contar a ida de uma coluna que foi criar em Missirá um quartel.
Ficamos com um quadro conjuntural da Guiné desse tempo, ainda com zonas relativamente tranquilas à mistura com outras altamente explosivas.

Um abraço do
Mário


Guiné mal amada, o inferno da guerra

Beja Santos

“Guiné mal amada, o inferno da guerra”, por António Ramalho de Almeida, Fronteira do Caos Editores, 2013, reúne as recordações de um alferes que chegou à Guiné em Outubro de 1964 e a quem foi dada a incumbência de instruir companhias de milícias. Andava com uma equipa constituída por um sargento, um furriel, três cabos atiradores e três cabos enfermeiros. Empada foi o seu primeiro destino, aqui conheceu o batismo da guerra. Tinham-lhe dito no Quartel-General que iriam ser criadas 20 companhias que depois seriam distribuídas estrategicamente pela província, integradas em companhias ou batalhões das nossas tropas. “A minha missão era a de, em cerca de um mês, prepará-los para poderem dar uma resposta mínima a essa integração, quer no que respeitava a treino militar, quer a orientação disciplinar”.

Foi metido na lancha Bor até Bolama e daqui para Empada. Descreve a chegada: “Não havia cais, e tinha que se sair para a água do rio e seguir a pé até à margem. Depois o caminho que nos levava até ao quartel era medonho, já que parecia um túnel de mato denso. Senti que a apreensão não era só minha, já que o motorista que nos foi buscar tentava sair dali o mais depressa possível, e a secção que nos fazia a segurança pediu para nós levarmos as armas em posição de fogo”. Fica estarrecido com Empada, mas tratava-se de um ponto estratégico importante, “era o primeiro ponto do sector Sul com uma localização privilegiada para evitar infiltrações em direção ao Sul da província”. Ali permaneceu mês e meio. Conheceu Dauda Cassamá, cedo lhe conferiu a natural capacidade de chefiar a companhia. E começam as flagelações a Empada, umas a seguir às outras. Assistiu a um julgamento sumário de alguém que foi acusado de traidor. Executado, foi abandonado junto da pista de aviação, no dia seguinte apenas restavam alguns farrapos da roupa que trazia. Quem se dispunha a ir em perseguição do IN era Dauda e os seus homens, no regresso deixava à porta do capitão os braços direitos dos guerrilheiros mortos.

Em Dezembro de 1964, passa o seu primeiro Natal fora da família. Em Janeiro, está em Nhacra a preparar uma nova companhia. No Quartel-General conheceu um oficial modelar, o capitão Passos Ramos, barbaramente morto perto de Jolmete, em Abril de 1970. Chegaram muitos voluntários, eram precisos 120 homens e apareceram mais de 200. “Tudo gente nova, seduzida pelos 25 escudos semanais, pela comida, pela farda”. É à volta de Nhacra, vendo o temor com que eram recebidos e outras vezes a população a refugiar-se no mato para evitar com o encontro com as nossas tropas, que apercebe da tragédia do jogo duplo, população acossada, obrigada a estratégias de sobrevivência.

A seguir parte para Nova Lamego, aí permanecerá de Março a Maio. Na viagem até Bambadinca descobriu o macaréu. Aqui diverte-se, vai à caça das perdizes, descobre o Dr. Torres que conhecia toda a região melhor que ninguém e circulava no seu jipe por terrenos inimigos, ficou marcado pelas paisagens, pela amabilidade das gentes, por aqueles mercados onde se vendia mel bravio, tamarindo, papaia.

Regressa a Bissau, o seu novo trabalho era ler todos os relatórios de ações em combate e deles retirar todos os trechos onde era mencionado o nome do militar em termos elogiosos. Descreve o funcionamento do Quartel-General. Vai a Madina do Boé de raspão, a secretariar um processo de averiguações. Faz parte de um conjunto que tocava numa sala da UDIB. Volta a Nhacra e depois goza férias.

Aqui e acolá, presume-se que o narrador descarrega a veia da ficção. Iremos ler que o general Spínola chegará à Guiné no tempo da sua comissão, o que é manifestamente impossível, Spínola só pôs os pês na Guiné em Maio de 1968. E temos uma espantosa expedição militar para abrir o itinerário por terra entre Bissau a Bambadinca: “Todos sabíamos que havia uma zona da Guiné temida pelos receios de contos e lendas, e de fantasias, que fizeram do Mato Cão um verdadeiro Cabo das Tormentas onde o Adamastor era implacável… Contavam-se histórias de fazer arrepiar os mais ousados, senti um arrepio”. O narrador ia à boleia, seguiria depois para Pirada. E lá foram, segundo diz, desafiar o PAIGC em Mato Cão, um efetivo de 200 militares, à frente o rebenta-minas, pelotões a pé, de ambos os lados da picada, depois seguiam três ou quatro unimogs com grupos de combate, e depois os carros da engenharia, com uma grua e camiões cheios de material de construção, já que a missão visava a construção de um quartel numa zona próxima de Bambadinca, na margem direita do Geba. A viagem é de cortar a respiração, a estrada, por falta de uso, estava péssima, a tensão era enorme na coluna, havia para ali um silêncio sepulcral, afinal fez-se um percurso sem grandes problemas. Despejaram-se algumas rajadas de metralhadora para as margens da picada, não obtiveram resposta. Não se percebe exatamente como, chegaram a Bambadinca. O que terá acontecido, realmente, foi a deslocação de meios de Engenharia num local a Norte de Bambadinca, destinado a manter uma presença dissuasora numa região chamada Cuor, a Engenharia terá feito um quartel em Missirá, tornara-se fulcral proteger a navegabilidade do Geba. Mas li com imensa satisfação este relato ficcionado, já que passei cerca de 17 meses a ir praticamente todos os dias montar a segurança em Mato de Cão, onde o alferes Ramalho de Almeida viveu uma odisseia militar. O alferes instrutor de milícias chega a Pirada, descreve o ambiente fronteiriço, a atmosfera de espionagem e o papel de levar e trazer atribuído ao comerciante Mário Soares. Tanto quanto parece, já não estamos na ficção, o que se descreve é real, os incidentes fronteiriços, com retaliações de premeio.

Novo Natal passado na Guiné, agora o alferes instrutor é colocado em Ilondé, perto de Quinhamel. Considera que tinha chegado ao paraíso, atirou-se ao trabalho, preparou mais uma companhia. Descreve incidentes e um suicídio de alguém que não terá resistido psicologicamente ao aliciamento do PAIGC.

Como era o único oficial de Cavalaria, deram-lhe a missão de comandar um pelotão de autometralhadoras Fox, e dar-lhe-iam a compensação de regressar mais cedo a Lisboa. Desta vez vai para o chão Manjaco com duas Fox equipadas de metralhadoras, segue para Teixeira Pinto. Cedo descobre diversões como a apanha do camarão, nestes termos: “O pequeno ia para a sopa, para caldo de camarão ou para molhos; o médio era para rissóis, para caril, para omeletes e o grande era reservado para se comer à noite com cerveja fresca”. Desvela Teixeira Pinto e as colunas com uma Fox na frente, passando por Bachile, até ao “comboio” para o Cacheu. Deram-lhe a incumbência de nomadizar à volta de Teixeira Pinto, “Conheci recantos lindíssimos, vi zonas de floresta dignas de admiração, e até zonas onde possivelmente nunca nenhum ser humano lá teria passado, pelo desenho esquisito do arvoredo”. Recorda o campeonato do mundo de futebol de 1966. E assim chegou ao fim do inferno. E retoma a ficção: “Devo afirmar que embora o meu tempo de permanência sob o consulado do general Spínola na Guiné fosse muito curto, apenas umas semanas, a verdade é que senti claramente uma mudança notável no ambiente militar da província”.

Mantém vivas as recordações da Guiné, ia contando à família e aos amigos os factos, as cenas e os episódios que mais o tocaram. E chegou agora o momento de passar tudo a escrito, para conhecermos o inferno da sua guerra, entre a ficção e a realidade.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 de Setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12033: Notas de leitura (519): "País Sem Rumo", por António de Spínola (Mário Beja Santos)

domingo, 15 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12047: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (13): A minha singela homenagem aos pais de todos nós

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 24 de Agosto de 2013:

Cordiais saudações.
Tem-se falado muito que a nossa geração foi sacrificada, no que concordo plenamente.
Tenho dito em alguns comentários, e confirmo, que os nossos toscos, arrogantes e oportunistas líderes políticos nos derespeitaram e continuam fazendo-o, ao não reconhecer que estávamos a serviço compulsório do ESTADO PORTUGUÊS,  aliás é essa a minha opinião sobre as as nossas PSEUDO ELITES de longa data, com raras e honrosíssimas excepções.

Mas divaguei demais sobre algo que não era a minha ideia inicial.
Queria lembrar a ansiedade e sofrimento de nossos pais e demais familiares, enquanto nós estávamos por lá "perdidos" nas bolanhas de uma África inóspita.

Ao enviar a foto de meus pais, quero homenagear os de todos nós.
Será que o sofrimento deles foi em vão?

Forte abraço
Vasco Pires

 A família de Vasco Pires e um amigo (com óculos, à direita) da diáspora de Goa


José Martins Pires, pai de Vasco Pires, em 1930
____________

Nota do editor

Último poste da série de 11 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11929: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (12): Fotos do Cap Op Esp Fernando Assunção Silva em confraternização com oficiais e sargentos sob o seu comando

Guiné 63/74 - P12046: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (7): A saga do corte umbilical

1. Em mensagem do dia 9 de Setembro de 2013, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos mais um episódio da sua série Pós-Guiné:


O PÓS-GUINÉ 65/67

7 - E LÁ VOLTA À BAILA A CICATRIZ RESULTANTE.. etc, etc, etc, etc,

1986?

A determinada altura decidi que havia de fazer um balanço sério e honesto do que fora a minha contribuição enquanto Combatente na Guiné. Competia-me a mim analisar e fi-lo seguindo a voz da consciência, que tantas vezes me condena e que n'algumas vezes (o seu lado mau) me tentou empurrar para o descalabro. Só que nunca gostei de ser empurrado e até reajo mal a quem mo faça e se calhar é por isso que ainda por aqui ando e andarei. Quanto mais ruim for, melhor... porque se diz que só morrem os bons.


E ASSIM "FONDO": 

Já escrevinhei como fui prá tropa depois de ter ido "às sortes"... para onde fui e pelo que passei, aprendi e ensinei... pelas amizades conseguidas e também pelos poucos alguns ódios (decerto resultantes da inveja que também é um pecado capital) com que tentaram destruir-me.
Só que e já o Senhor Almeida Garret dizia no Frei Luís de Sousa, pela boca de Telmo Pais: "Ruim terra te comerá cedo, corpo da maior alma que deitou Portugal". Mas enganou-se, no "te comerá cedo", se é qu'a coisa se adapta ao meu caso.

Voltemos ao balanço na guerra, não sem que antes vos pergunte:
SOU OU NÃO ERUDITO?

Começo:
PORQUE É QUE NÃO GOSTO OU GOSTAREI d'alguns países?

Simples... muito simples mesmo:
Porque soube que apoiaram o PAIGC e com isso contribuíram para que tanta rapaziada nossa não tenha voltado com vida e que outros tenham voltado com graves mazelas.

PORQUE É QUE NÃO GOSTEI do chefe inimigo?
Ora, sendo este o causador também dos infortúnios atrás assinalados... e mais... considerando que estudou em Portugal à nossa custa, tirou cursos, trabalhou e conviveu com gentes honradas... porquê enveredar pela luta armada contra militares "DO POVO DAQUI", que apenas foi obrigado a cumprir um dever?
Não me agradou, apesar de tudo, o seu fim mas "Quem com ferros mata, com ferros morre";

PORQUE É QUE DESGOSTEI daquele valente cubano que sempre admirei?
Desgostei eu e o seu líder, que a determinada altura o repudiou.
Eu... porque embora a figurinha me merecesse algum respeito e até alguma romântica admiração mas unicamente até ao dia em que soube que também ele se ofereceu para combater contra nós, o que não foi aceite pelos movimentos que nos obrigaram a defender a Pátria devido à internacionalização da guerra que daí poderia advir, o que lhes não convinha.
O seu fim também não foi do meu agrado, mas todos os sonhadores assim acabam.

PORQUE É QUE CONTINUO A NÃO GOSTAR dos desertores e se calhar nem eles gostam agora de si próprios?
Porque por cada um que fugiu com medo, correspondeu a mais um dia que ficámos nós a penar no inferno.
Perdoo, mas um poucochinho apenas, aqueles poucos que já se retrataram.

PORQUE É QUE NUNCA GOSTEI OU GOSTAREI dos que fugiram? E fizeram-no mesmo sem saber se seriam apurados... sim...  porque se na altura até os medrosos... os mERDosos e os maricas ficavam "livres", porquê ir a salto lá pr'ós bens-bons?
Voltaram e bem recebidos foram... que lhes faça bom proveito.

E PORQUE É QUE NÃO GOSTO d'alguns QU'ATÈ cantam?
Cantam? ná... protestam, ou melhor agora estão mais comedidos, que o dinheiro faz-lhes falta.
Tenho-lhes um pó, que nem vos digo nem vos conto e também tenho nas, rádio e TV, botões que os desligam e dessa forma corto-lhes o pio.

Fim, por hoje, do maldizer que foi a realidade.
Proximamente falarei das boas coisas.

E A GUINÉ SEMPRE PRESENTE
O grupo desportivo do Banco onde trabalhei bem e depressa e por isso também me pagaram e reconheceram o mérito, tinha uma Secção de Judo.
Fui ver... gostei e decidi-me participar, porque e até dado que o "Mestre" tinha sido Fuzileiro Especial e combatera na Guiné.
Pensando nas recordações que poderíamos a vir a desbobinar, lá fui e por lá andei anos a fio... e falámos... falámos, sobre as amargas experiências... sobre outras menos desagradáveis... enfim partilhámos emoções, saudades e o desejo firme de lá voltar sempre presente, bem como a ânsia de regressarmos aos vinte e poucos anos.

Conheci os acontecimentos sobre a operação a Conacry, com maior profundidade e até alguns outros que não mais vi sequer comentados e mais se me arreigou a certeza de que as, valentia e sofrimento das nossas tropas foram bastante superiores àquilo porque eu também passara.
Até que certo dia desisti.
Já não aguentava mais, tanta demonstração (para promoção) e onde me calhava ser sempre eu a cair. É que nem me salvava com aquela máxima judoca que diz: "Quanto maior for o nosso adversário, maior será a sua queda".

Tantas levei qu'agora uso apenas o quimono para avivar a memória cá em casa e numa demonstração de força psicológica - SÓ, pois que a verdadeira foi-se.

(continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12015: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (6): A saga do corte umbilical

Guiné 63/74 - P12045: Em busca de... (229): Camaradas e memórias do Sold Cav António Manuel Rosa dos Santos (CCAV 1651/ BCAV 1905, Teixeira Pinto, 1967/69)... Para realização de um vídeo à não-memória, no âmbito da candidatura ao Prémio EDP Novos Artistas (Sandro Ferreira, artista plástico)

1. Mensagem do nosso leitor Sandro Ferreira:

De: Sandro Ferreira

Data: 27 de Agosto de 2013 às 10:51

Assunto: Guiné 1967/69

Olá, bons dias, desde já felicito os administradores do blog por toda a pesquisa e postagem desta parte da nossa História recente.

Chamo-me Sandro Ferreira, sou artista plástico e um dos seleccionados para o Prémio EDP Novos Artistas, todo o meu trabalho anda em torno da Guerra Colonial/Guerra do Ultramar e as memórias da mesma.

Um dos trabalhos que conto apresentar é um video que em conjunto com a base onde é apresentado representa um monumento à não memória. Tenho conhecimento de um ex-combatente (pai de uma amiga) que combateu na Guiné entre 1967 e 69, António Manuel Rosa dos Santos nº 2082/66,  fazendo parte da CCAV 1651/BCAV 1905 [, A CCS esteve sediada em Teixeira Pinto, 1967].

O António sofre de uam doença crónica degenerativa, num estado muito avançado, daí o monumento á memória perdida ou não memória.

Gostaria pois de saber se seria possivel encontrar alguém (nos vossos contactos) que tivesse estado na mesma comissão e que pudesse contar algo sobre António Manuel Rosa dos Santos para incluir no video como únicas memórias exteriores.

Não sei se fui claro no que pretendo mas se me pudessem ajudar agradecia imenso.

Muitos cumprimentos

Sandro Ferreira

2. Comentário de L.G:

Infelizmente não temos aqui ninguém da CCAV 1651. Mas temos camaradas da CCS/BCAV 1905. Talvez através deles possamos chegar à companhia do António Rosa Rosa Santos. Esperemos que este seu apelo obtenha uma resposta positiva. Transmita à sua amiga, filha do nosso camarada, as nossas preocupações pela saúde do pai. E ao Sandro, desejamos que faça um bom trabalho, fazendo bom uso do seu talento para homenagear a memória dos ex-combatentes da guerra colonial. Parabéns por ter sido selecionado no âmbito do Prémio EDP Novos Artistas.
____________

Nota do editor:

Último poste da série > 8 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12016: Em busca de... (228): Foto do malogrado Júlio Lemos Martins (, da CCaç 797, Tite e Nhacra, 1965/67, afogado no Rio Louvado, em 12/8/1965) para inclusão em livro dos combatentes mortos na guerra do ultramar, naturais de Ponte de Lima (Júlio Pinto)

Guiné 63/74 - P12044: Agenda cultural (282): Festival Todos 2013. Além do Intendente alarga-se agora ao Poço dos Negros e a São Bento, Lisboa, 12-15 set 2013


Fonte: Sítio da Câmara Municipal de Lisboa (Reproduzido com a devida vénia)


FESTIVAL TODOS ALARGA HORIZONTES DA INTERCULTURALIDADE (*)

A quinta edição do festival TODOS – festival intercultural para a cidade de Lisboa - realiza-se de 12 a 15 de setembro e apresenta este ano uma novidade. Além do Intendente, o seu espaço tradicional, alarga-se agora ao Poço dos Negros  (**) e a São Bento, prometendo transportar a cidade para uma caminhada de culturas onde não faltarão a gastronomia, a música, a dança, a literatura, o cinema ou a fotografia.

Com um vasto programa cultural e recreativo, o festival promete uma viagem de quatro dias pelo mundo “sem sair de Lisboa”, quatro dias de interculturalidade de que se destaca “O Bairro Gastronómico” em vários locais da cidade como o pátio do Liceu Passos Manuel ou a Rua de São Bento, “Cantar Credos em Corações ao Alto” na igreja de Santa Catarina, ”Frases do bairro, um novo património” de arte urbana na Rua de São Bento, ou a “Galeria humana já anda na rua” com uma exposição de fotografia itinerante.

Não faltam também um workshop para o 1.º Ciclo do ensino básico, ceia de todos os sabores, uma exposição do fotógrafo Luís Pavão, duas noites contagiantes no B.Leza com a Orquestra Todos e muitas outras atividades culturais.

Sítio do festival

Programa

______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 15 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12043: Agenda cultural (281): Exposição "A Última Fronteira – Lisboa em tempos de guerra". Lisboa, Terreiro do Paço, de 15/7 a 12/12/2013, todos os dias, das 10h00 às 20h00. A não perder.

(*) Segundo o olisipógrafo Norberto Araújo («Peregrinações em Lisboa», vol. XIII), a Rua Poço dos Negros deve o seu nome, na melhor das hipóteses, à (i) "circunstância de por aqui ter existido um poço ou vala onde se enterravam os cadáveres dos escravos"; também se admite a hipótese de ser (ii) "a designação uma projecção toponímica de qualquer poço, da horta dos 'frades negros', que eram os de S. Bento".


Guiné 63/74 - P12043: Agenda cultural (281): Exposição "A Última Fronteira – Lisboa em tempos de guerra". Lisboa, Terreiro do Paço, de 15/7 a 12/12/2013, todos os dias, das 10h00 às 20h00. A não perder.


Lisboa > Sentinela da Legião Portuguesa de serviço no Terreiro do Paço. 1942. ANTT - Arquivo Nacional Torre do Tombo.

Se em 1940 a vida corria tranquila em Lisboa, em 1941 tudo mudou. Começava a falar-se de uma iminente invasão hispano-alemã a Portugal e os exercícios de defesa civil, então confiados à Legião Portuguesa, multiplicavam-se. Protegiam-se os monumentos com tapumes e sacos de areia. Debaixo destas proteções, “desapareceram”, entre outros, o portal da Sé, as arcadas do Terreiro do Paço e as estátuas da cidade. Fonte:
Agênda Cultural de Lisboa ( Reproduzido com a devida vénia).

EXPOSIÇÃO "A ÚLTIMA FRONTEIRA – LISBOA EM TEMPOS DE GUERRA"

Exposição dedicada aos anos 40, época em que Lisboa se tornou um local de esperança, a última fronteira para a liberdade para milhões de pessoas.

Mostra composta por material proveniente de diversos acervos onde se incluem fotografias, documentos, trajes e objetos de decoração, reproduções de cartazes publicitários, mobiliário comercial, doméstico e urbano, maquinaria de comunicação, acessórios e filmes que ilustram o papel da cidade no tempo da Segunda Guerra Mundial.

O ponto de partida para a exposição é o livro Lisboa, uma Cidade em Tempos de Guerra, de Margarida Magalhães Ramalho.

19 julho a 15 dezembro | 2ªf.-dom | 10h00-20h00

Entrada | adultos 3€ | estudantes e reformados 2€ | família (4pax) 8€ | desempregados grátis

Local: Torreão Poente do Terreiro do Paço

Fonte:: Sítio da Câmara Municipal de Lisboa

______________

Nota do editor:

Último poste da série > 4 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12008: Agenda cultural (280): As nossas camaradas Enfermeiras Paraquedistas, Giselda Pessoa, Maria Arminda e Rosa Serra, vão estar amanhã, dia 5, na SIC, no programa Boa Tarde, a partir das 15h30

Guiné 63/74 - P12042: Convívios (531): 5º Encontro de Gerações de Lanceiros Policia Militar/Policia do Exército, Regimento de Lanceiros nº 2 – 26 de Outubro de 2013 (Nuno Esteves)

1. Recebemos do nosso Amigo e visitante, Nuno Esteves, ex-Soldado PE do 1º Turno 94, o pedido de divulgação do seguinte programa festivo. 


6.º Encontro de Gerações de Lanceiros 
Polícia Militar (PM) / Polícia do Exército (PE) 


Caros Camaradas, a exemplo dos Encontros que temos realizado, venho solicitar mais uma vez, a vossa colaboração no sentido de ser divulgado na vossa Tabanca Grande, mais um Encontro de Lanceiros PM/PE a realizar-se desta vez na Casa Mãe: o Regimento de Lanceiros nº 2. 

O programa do Evento será composto por: 
Parte Cultural (organização da Associação de Lanceiros)
Visita opcional ao Mosteiro dos Jerónimos 
09h45 
Concentração em frente ao Mosteiro dos Jerónimos
(Para quem optar fazer a visita)
10h00 às 12h30
Visita guiada com a colaboração da srª Lina Oliveira 
Preços das entradas no Mosteiro dos Jerónimos.
Bilhete Individual: 7 €
Bilhete especial:50%
Idade igual/ superior a 65 anos (mediante comprovativo) 
portadores de deficiência 
Bilhete de Família
50% de desconto para os filhos menores (15-18 anos) desde que 
acompanhados por um dos pais.
Cartão Jovem: 60%

Programa no Regimento
11h00-11h30 
Concentração junto à Porta de Armas do Regimento. 
Missa pelos camaradas falecidos
(carece de confirmação)
Homenagem aos camaradas falecidos 
(deposição de coroa de flores no Monumento aos Mortos)
Visita ao Núcleo Museológico/Regimento
13h00-13h30
Inicio do almoço convivio no Refeitório das Legendas 

Ementa do Almoço
Aperitivos
Martini ou Favaios,sumo.
Entradas
Pastéis de Bacalhau,Croquetes,Rissóis.
Bebidas
Vinho Branco e Tinto,Sumo de laranja,Água.
Sopa
Caldo Verde
Prato
Bifinhos com cogumelos e Arroz.
Dieta (a)
Pescada cozida ou Bife de Perú grelhado com arroz.
Sobremesas
Pudim de ovos caseiro ou Arroz Doce
Fruta da época
café.
Bolo alusivo ao Evento.

(a) Quem desejar dieta,terá de informar a Organização num prazo máximo de 20 dias antes da data do Encontro.

Preço
Por pessoa-22 € 
Crianças até aos 6 anos-Grátis
Crianças dos 6 aos 12 anos-5 €

Contactos para confirmação de presença e nº de acompanhantes (o Encontro é extensivo a familiares)

Contactos
Luis Páscoa
Nuno Esteves 

Prazo máximo de confirmação de presença (*)
30 de Setembro de 2013

(*) A presença só será efectivamente confirmada após transferência bancária de metade do valor total para o NIB 0036.0310.99100010381.29 do Montepio Geral,solicita-se que guardem o talão multibanco para apresentarem no dia do Encontro.O restante valor em falta, terá de ser efectuado no dia do Encontro.O participante,deverá indicar o nº de pessoas que o acompanham e no caso de crianças,indicar a idade das mesmas.

Um forte abraço para toda a Tabanca. 

Com os melhores cumprimentos e com um forte abraço Lanceiro para todos.
Nuno Esteves
ex-Soldado PE
___________
Nota de MR: 

Vd. último poste da série em:


Guiné 63/74 - P12041: Convívios (530): Almoço convívio do pessoal que esteve no HM241 entre os anos 1967 e 1972, Viseu - 5 de Outubro de 2013 (Manuel Freitas)

1. O nosso Camarada Manuel Freitas, que foi 1º Cabo Escriturário no HM 241 - Bissau - 1968/70, solicita-nos a divulgação do próximo convívio do Almoço/Convívio do pessoal que esteve no HM241 entre os anos 1967 e 1972 

Almoço convívio do pessoal que esteve no HM241 entre os anos 1967 e 1972

5 de Outubro de 2013 - Viseu

Caro Luís Graça,

Estou, a exemplo dos anos anteriores, a solicitar-te o favor de publicares no nosso blogue o anúncio, do almoço/convívio para ex-militares que estiveram no HM 241, durante os anos de 1967 a 1972, para o dia 5 de Outubro de 2013, em Viseu, concentração às 10h30 na entrada do Palácio do Gelo seguindo-se almoço no Restaurante Perdigueiro.


Contactos: 
manuel.freitas@equicontas.com 
ou 964498832 - telemóvel. 

Agradeço-te e envio-te um grande abraço, 
Manuel Freitas 
1º Cabo Escriturário do HM 241 
____________ 
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 




Guiné 63/74 - P12040: Manuscrito(s) (Luís Graça) (10): O dever de servir a Pátria... Éramos todos iguais, mas uns mais do que outros

1. Estimado alfero Cabral:

A octogésima estória cabraliana (*) merece ser saudada, de maneira "discreta", como o alfero gosta, mas também com regozijo da parte dos inúmeros fãs da série, onde se inclui este seu "discreto"  leitor. 

O senhor alfero sabe quanto discretamente o admiro e anseio o lançamento do seu livro para poder ser um dos 10 primeiros, pelo menos, a ter o privilégio de uma dedicatória autografada.

Levanta o meu alfero (que eu tive a honra de conhecer em Bambadinca, nos idos tempos de 1969/71), duas questões interessantes para a história do nosso tempo, em geral, e da guerra colonial (ou do ultramar, como preferir), em particular:

(i) era possível motivar alguns militares da tropa, como o 1º sargento Candeias ou até alguns cadetes de Mafra, com o simples slogan propagandístico "há mulatas em Luanda";

(ii) naquele tempo, de impoluto patriotismo (coisa que os jovens de hoje não sabem muito bem o que é), também funcionava a "valente cunha de última hora", a avaliar pelo inesperado desfecho da situação do cadete Cabral: em vez do almejado tacho no SAM - Secretariado de Administração Militar, com direito a ar condicionado ou, no mínimo, de ventoínho de muitas rotações e garrafeira de uísque velho, puseram-no como apontador de artilharia em pleno coração da Guiné; em vez da ilha de Luanda e das mulatas angolanas, enfim mandaram-no para Fá e para as mandingas (e balantas) da Guiné...

Este último tema (o do "factor C") interessa-me particularmente, já que não tem sido devidamente abordado no nosso blogue, como deveria e eu desejaria.. 

Afinal, a lei era igual para todos ou havia, como hoje, uns mais iguais do que outros ?... 

Em Alcácer Quibir parece que morreu (ou ficou prisioneira dos moiros) a fina flor na Nação... Mas na Guiné a sociodemografia da guerra e da morte foi muito mais nivelada por baixo... Houve muito boa gente que se safou  de ir parar ao chamado Vietname português...

Ainda ontem um amigo e conterrâneo meu, mais novo, me contava como um  primo seu, mais velho, da minha geração, ficou livre da tropa (e portanto de ir parar à Guiné ou a outros sítios indesejáveis do vasto império onde havia guerra) mediante "cunha valente de última hora"...

A avó (de ambos) pagou 200 contos (o que na época dava para comprar um apartamento) para livrar o querido netinho da servidão militar... O patriota impoluto que conseguiu livrar o mancebo era nem mais nem menos do que uma das figuras gradas do regime de então, médico, militar,  de muitos galões, poderoso e influente... que esteve à frente de respeitáveis instituições como o Hospital Militar Principal... 

A senhora era vizinha da tal figura grada da Nação, morava ali para os lados da Estrela, e adorava aquele netinho (filho único da sua querida filha, viúva) e tinha bagalhoça. (Pessoa de resto que eu bem conheci e a quem fiquei a dever favores, diga-se de passagem).

 O menino pôde fazer a sua carreira, académica e depois profissional,  tranquilamente, tendo-se em licenciado em economia e arranjado um bom emprego numa instituição bancária, enquanto os jovens da sua geração andaram a matar e a morrer em Angola, Guiné, Moçambique...

Claro que, também aqui, nesta história nem todos os netos são ou eram iguais...Um deles, meu amigo, e irmão do meu informante, foi parar com os costados à Guiné, tal como eu... Enfim, já naquele tempo havia netos ricos e netos pobres... E, claro, médicos militares, figuras da mais fina flor da Nação, com diferentes leituras do valor do "patriotismo impoluto"...

Ouvindo histórias aqui e acolá, vamos juntando as pontas e reconstituíndo o "puzzle": 

(i)  o sistema estava longe de tratar todos por igual (na escola, na tropa, na vida civil...); 

(ii) a classe social também contava (e se contava!); 

(iii) o "capital de relações sociais" também contava muito (o pessoal do "downstairs" que servia o pessoal do "upstairs", também tiravam partido dessa condião e, muitas das v vezes, eram as pessoas certas a quem o pobre necessitado devia meter um cunha); 

(iv) os resultados dos testes psicotécnicos, por mais válidos e fiáveis que fossem (segundo as garantias dos psicólogos militares) podiam ser, nalguns casos,  desvirtuados na secretaria...

Por outro lado, a sociedade portuguesa é marcada por séculos de relações clientelares... E o poder manifestava-se, também,  através do favor (e da sua simbologia): "com favor não te conhecerás, sem ele não te conhecerão"... 

Por outro lado, essas relações de poder eram assimétricas: como se diz na nossa terra, "dou um presunto a quem me der um porco"... E, em boa verdade, quem é que não estaria disposto, no nosso tempo, a dar 200 notas de conto, se as tivesse, só para se safar do alegado inferno da Guiné ? (**)
________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12035: Estórias cabralianas (80): As mulatas de Luanda (Jorge Cabral)

(**) Último poste da série > 19 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11955: Manuscrito(s) (Luís Graça) (9): Em honra da Lourinhã e da(s) sua(s) banda(s) filarmónica(s)

Guiné 63/74 - P12039: Parabéns a você (626): Ribeiro Agostinho, ex-Soldado da CCS/QG/CTIG (Guiné, 1968/70)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 de Setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12022: Parabéns a você (625): Rui Baptista, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3489 (Guiné, 1971/74) e Tony Grilo, ex-Soldado Apontador Obus do BAC-1 (Guiné, 1966/68)

sábado, 14 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12038: Blogpoesia (354): Por cada bombeiro que morre... e outros poemas de setembro (J. L. Mendes Gomes)

Por cada bombeiro que morre...


Choro a vida de cada bombeiro,
Que, cada ano,
É sacrificada aos incêndios malvados
De miseráveis mãos que os ateiam,
A soldo, de horrendos criminosos...
Devem ser rechaçados, sem clemência!...

Choro as lágrimas dolorosas
Dos seus pais e dos seus filhos,
Com seus irmãos,
E da gente toda da aldeia
Que carinhosamente os viu nascer!...

Choro...choro...até morrer...
Por esta prova de amor,
Gratuita, mesmo divina,
De cada bombeiro que morre,
Nosso irmão!...

Berlim, 6 de Setembro de 2013
9h30m

Somos como somos...

O que somos e temos cá dentro a fervilhar,
Acaba por vir ao de cima
E tudo comandar,
Nas sendas da nossa vida.

Cada um não é um fruto do acaso.
Tem, para trás,
Uma árvore, muito antiga,
Com raízes, de tão fundas,
Se perdem nos negrumes,
Como segredos enigmáticos
Que correm nas nossas veias...

Se enlaçam, se engrenham uns aos outros,
Segundo a lei da sorte,
Que o destino nos ofereceu,
E se enriquecem com a arte
Que nos desabrocha espontânea,
À luz e força
Da nossa mente
E nossa vontade,
Como forja que se acende,
À chuva e vento,
Do ambiente que nos rodeia...

É assim que somos.
Uma mistura livre
E determinada,
Entre a herança que herdamos
E o que alcança
Nosso corpo e nossa alma...

Ouvindo Hélène Grimud, em Jean S.Bach

Berlim, 11 de Setembro de 2013
7h14m

Regresso a casa...

Aqui em Mulhouse,
Há uma cortina de plátanos verde-amarelados,
Frente à minha janela.
Grossos braços levantados,
Parecem não acordar.
Nada bole.

Só a brancura de dois cisnes,
Suavemente deslizantes
Sobre o lago,
Fazem ondinhas,
À flor da água,
Que se espraiam
Como fumo.
O céu de cinza tão opaco
Nada escreve...
Quase toca nos meus olhos,
A despertar.

Está na hora de fazer as malas
E ir para a estrada...
Nova etapa,
Rumo a casa,
Que me espera,
Tão distante,
Depois de França,
Toda a Ibéria,
Com saudade,
Junto ao mar.

Mulhouse, 14 de Setembro de 2013

Joaquim Luís Mendes Gomes

[ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau,  1964/66; jurista, reformado]

______________

Nota do editor:
Último poste da série > 31 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11996: Blogpoesia (353): Pôr-do-sol (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P12037: Os nossos médicos (68): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (4): Bacar




1. Enviada pelo nosso camarada Mário Vasconcelos (ex-Alf Mil TRMS do BCAÇ 3872), a quem agradecemos desde já, chegou até nós mais uma memória do ex-Alf Mil Médico Rui Vieira Coelho [foto actual à esquerda] que esteve integrado nos BCAÇ 3872 e 4518 (Galomaro, 1973/74), esta dedicada ao seu "braço direito", Bacar Djaló.


____________

Nota do editor

(*) Vd. poste de 7 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11811: Os nossos médicos (60): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (3): Binta e Jamba (Mário Vasconcelos / Rui Vieira Coelho)

Último poste da série de 11 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11930: Os nossos médicos (67): Maximino [José Vaz da] Cunha, natural de Chaves, ex-alf mil médico, BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto) e HM 241 (Bissau, 1968/70)

Guiné 63/74 - P12036: Bom ou mau tempo na bolanha (31): O computador na guerra (Tony Borié)

Trigésimo primeiro episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.



O lápis, afiado à mão, que se consumia até se conseguir segurar nos dedos, e a esferográfica “Bic”, eram os utensílios de trabalho mais usados pelo Cifra nas suas tarefas de cifrar e decifrar mensagens. Escrevia, escrevia, apagava, apagava, riscava por cima, rasgava o papel, ia buscar o papel de novo ao caixote do lixo para rectificar determinada palavra que lhe passou, e depois não fazia sentido no texto. Também lá havia uma caneta de madeira com um aparo, e um frasco com tinta, mas todos ignoravam estes objectos, pois às vezes eram páginas e páginas, com resumo de operações, onde era mencionado o nome dos feridos e mortos, e às vezes havia mesmo “desculpas esfarrapadas” para justificar o sucedido, mas algumas mencionavam secamente, morreu em combate, com duas balas, uma na região do coração e outra mais abaixo no estômago, ou, a parte do seu corpo, a partir do peito para cima ficou desfeita, irreconhecível.

O Cifra escrevia isto tudo e rectificava para ver se estava enganado, portanto depois de ler estes textos duas ou três vezes, ficava-lhe na memória por algum tempo, e como era um razoável militar, mas um fraco, mesmo fraco guerreiro, e não tinha lá muita coragem, isto tudo ainda o atormentava mais.

Certa vez acabaram-se os lápis por algum tempo, era tudo feito a esferográfica, era só riscos em cima das palavras, algumas mensagens iam com o teor do assunto trocado, o que em alguns casos era perigoso, pois era a vida dos militares que estava em jogo, se uma ordem fosse compreendida fora do seu verdadeiro contexto podia matar pessoas.

Às vezes o Cifra pensava que estava numa guerra, onde o lápis e a esferográfica eram tão ou mais importantes que a “minha querida G-3”, como dizia o furriel miliciano, que andava sempre a fumar um cigarro feito à mão.

Mas agora, esqueçamos a guerra e perdoem lá, de vir a foto de uma criança e de um casal de noivos, que não estão de modo nenhum ligados aos acontecimentos que o Cifra e os seus amigos, antigos combatentes viveram em cenário de guerra, e vamos só fazer a comparação, sem o Cifra ser cifra, e ver como devia ser mais fácil todo esse conjunto de processos de cifra e escrita, com os COMPUTADORES, que a nova geração não larga, e já não pode viver sem eles!

Adeus, lápis e esferográfica “Bic”, a continuar assim ninguém mais sabe, desenhar as letras!

Tony Borie, 2011

____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12005: Bom ou mau tempo na bolanha (30): O "Zé Quina" que já foi o "Marafado" (Toni Borié)

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12035: Estórias cabralianas (80): As mulatas de Luanda (Jorge Cabral)



Mafra  > Sobreiro > 1968 >  O cadete Cabral, discursando no jantar comemorativo do fim da recruta, na EPI.

Fotos (e legenda): © Jorge Cabral (2013). Todos os direitos reservados

1. Mais uma estória cabraliana, que nos chega pela amável e  caixa de correio da Anabela Martins, com data de hoje à tarde ("Encarrega-me o senhor Prof. Jorge Cabral de enviar o anexo. Com os melhores cumprimentos"):


1. Estórias cabralianas > As Mulatas de Luanda

por Jorge Cabral [ex-comandante do Pel Caç Nat 63, Bambadinca, Fá Mandinga, Missirá, 1969/71]


Numa noite, no início de Maio de 1968, apareceu-me irritado o meu amigo Filipe. Ia para a tropa.
– Tens a certeza Filipe? Olha vamos passar por lá, pela Junta de Freguesia. (Onde à porta afixavam as listas).

E fomos. Corri os olhos pelo edital e era verdade. Lá constava, Filipe Narciso Gonçalves da Silva. Só que, um pouco mais abaixo, encontrei o meu nome, Jorge Pedro de Almeida Cabral. Devia ser engano, um erro, eu tinha direito a adiamento. Que o Filipe fosse, não era para admirar. De igual idade e entrados ao mesmo tempo na Faculdade, ele não passara do primeiro ano, enquanto eu contava acabar o curso no ano seguinte.
–  Vamos os dois. Sabes que não discuto o destino.
 – Eu não vou –  gritou-me ele. (E não foi...).

E.P.I, Mafra, 15 de Junho, era o que estava escrito. Porque me teriam chamado? Política?

Era do contra mas discreto, tal como continuei a ser toda a vida. Aliás, há quem diga que o sou em demasia. Agora até as minhas doenças são discretas. Não há ecografia que não acuse... tudo, mas discreto (...discreta litíase, discreto enfisema...).

Porém, precisava saber a razão do chamamento.

Assim, dois dias depois, desloquei-me ao Distrito de Recrutamento. Recebeu-me um Primeiro Sargento, Candeias de seu nome. Expostas as razões e documentos, o militar consultou as normas e declarou:
– Tem razão. Mas,  se não vai agora, vai para o ano. Eu acabei de chegar de Angola, de Luanda, que cidade! As mulatas...

E durante uma hora, falou-me das mulatas.
– Mulheres assim não encontramos cá! E você é capaz de ser colocado numa secretaria em Luanda. Mas faça um requerimento. Não demore é muito.

Saí animado. Com a hipótese de não ir para a tropa? Não, com as mulatas de Luanda...

Esqueci o requerimento. Qual tropa, qual quê! Ia era fazer uma espécie de estágio. E depois, depois... as mulatas de Luanda. Chegado a Mafra, logo na primeira saída no café em frente do Convento, apresentaram-me Nasciolinda, a filha do escrivão. Então, não é que era mulata! Bem, não era de Luanda... mas representava um presságio do que me estava destinado. E as coisas até corriam bem com a Narciolinda, se eu não lhe tivesse escrito um poema, no qual jogava com as palavras, dizendo que a queria ver na Tapada, mas destapada...Não gostou. Paciência... Continuei vida fora a brincar com as palavras e a inventar trocadilhos, o que me ocasionou inúmeros dissabores.

A Recruta correu bem. Ágil e resistente, não senti qualquer dificuldade. Claro que,  na carreira de tiro, fui um desastre. Nem uma vez acertei no alvo. Estranho, porque nas barraquinhas do Parque Mayer, fui sempre o melhor...

Mafra chegou ao fim. O pelotão reuniu-se num jantar no Sobreiro. Discursei. No regresso ao Quartel, o Tenente Comandante, disse-me:
–  O Cabral vai para o Lumiar, Secretariado.

Na manhã do dia seguinte em formatura, distribuiram as respectivas guias de marcha. A minha dizia:
– E.P.A. Vendas Novas.

Ainda pensei que fosse secretariado de artilharia...mas não, era mesmo atirador.
– Então, meu Tenente ?  – perguntei.
– Devo ter visto mal  – respondeu-me.

Mais uma vez, não discuti o destino.

Fiquei a ganhar. Se fosse um ano depois, o mais certo era ter sido Capitão, como quase todos os meus colegas. Não imagino, nem ninguém consegue imaginar, o que seria uma Companhia Cabraliana...Se tivesse ído para Secretariado, atrasaria o expediente, perderia os papeis e não me teria sido possível, organizar, como fiz em Missirá, um original arquivo debaixo da cama, partilhado por insetos onde as garrafas vazias se misturavam com mensagens secretas...

Mas,  afinal, que teria acontecido para me terem reclassificado de madrugada? Perigoso subversivo? Operacional insubstituível?

Nada disso. Apenas uma valente cunha de última hora. Eu ganhei. O da cunha também Perderam as mulatas de Luanda.

Coitadas...

Jorge Cabral

PS – Anexo foto do tal jantar de fim da recruta. Cadete Cabral discursando.
____________

Nota do editor:

Último poste da série > 17 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11720: Estórias cabralianas (79): O Capitão-Tenente dos Submarinos (Jorge Cabral)

(...) Qual Guiné? São tantas. Cada um cria a sua ou inventa... E quem diz Guiné, diz Guerra. Por mim conheço muitas... Mas como esta, que mora no Beco do Cotovelo, à beira da Mouraria, não deve haver mais nenhuma. É na tasca da Conceição, onde às vezes abanco com três ex-combatentes da Guiné. Todos eles lá estiveram, em lugares e tempos diferentes e todos davam pelo nome de Mouraria. (...)