sexta-feira, 3 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4635: FAP (31): Uma viagem de heli a Bafatá, em 1969, com o cmdt Diogo Neto e o casal Ivette e Pierre Fargeas (Jorge Félix)



Que nostalgia, que saudade, que morabeza! ... Perfeita a escolha da música do Charles Aznavour, a sua canção Te espero, em espanhol, com seu sotaque meio francês e meio arménio... Um rapaz do mundo, com idade de ser nosso pai (n. 1924...), pai da nossa geração dos baby boomers...

Pasa el tiempo y sin ti no sé vivir / la razón es para mí siempre sufrir / y ahora el viento al pasar me da a entender / que en la vida sólo a ti esperaré (*). ... (Alguém me sabe dizer qual é a versão original, ou o título, em francês? Vd. o sítio oficial do cantor)...

Uma canción desesperada, uma canção, eterna, para um amor talvez impossível, um amor sofrido, uma canção que fica aqui tão bem quando olhamos para o passado, quando tínhamos vinte anos e estávamos na guerra... (Tens razão, António Rosinha, a musiquinha faz-nos muito falta no blogue, só que eu não tenho jeito para piratear e há normas legais e regras editoriais, mas todas as sugestões são bem vindas...).

Jorge: Gosto muito do plano em que estás tu, aparentemente concentrado na tua missão, mas de repente viras-te para trás... e pedes um cigarro!... (Aí temi pela segurança do heli e da tua preciosa carga...).

Como éramos todos tão apaixonados pelas vida (e pelas lindas mulheres....), como éramos todos tão conscientemente irresponsáveis, como éramos todos tão sem jeito, como éramos todos tão inconscientemente loucos, optimistas e generosos, como éramos todos já tão maduros e tão sofridos, como éramos todos... (Porra, Jorge, que me fazes chorar! )...

No vídeo, montado pelo Jorge Félix (Alf Mil Pil, BA 12, Bissalanca, 1968/70), reconhece-se o casal Fargeas e o Cor Pilav Diogo Neto. (Na foto, à esquerda, um foto actual do Pierre Fargeas, técnico de manutenção do Al III).

O heli parte de Bissalanca e faz uma viagem até Bafatá, sobrevoando as bolanhas, as tabancas, a avenida principal da bela vila colonial (ainda não tinha o estatuto de cidade em 1969), a catedral, o mercado... No heliporto são recebidos por militares que, muito provavelmente, o nosso camarada Fernando Gouveia, um rapaz desse tempo, que trabalhou sob as ordens do Hélio Felhas, no Comando de Agrupamento, é capaz e reconhecer... Visita, a pé, ao encantador mercado de Bafatá, de arquitectura revivalista, e regresso a Bissalanca, à BA 12, ao longo do Rio Geba... (Tudo sítios que eu conheci, por água e terra...).

Obrigado, Jorge, isto faz-te tão bem à alma, a ti e a todos nós!!! ... Obrigado por teres regressado... Obrigado por teres voltado ao bricolage das emoções e das imagens... Obrigado também ao teu amigo Fargeas que te facultou o filme (feito, na época, em 8 mm, suponho).

O que é feito dele, hoje ? Vive em França, ainda com a sua belíssima Ivete ? Convida-o a vir até à nossa Tabanca Grande, sentar-se debaixo do nosso poilão e contar as suas histórias de Bissalanca(e quiçá de Bissau, Bafatá, Bolama, Bijagós)... Ele pode escrever em francês, que a gente traduz... Este homem tem cinco anos de comissão na Guiné! Ele também é um Zé Especial... (LG)

Vídeo (2' 44''): Alojado no You Tube (Cortesia de Jorge Félix). © Jorge Félix 2009). Direitos reservados.

1. Mensagem de ontem, do Jorge Félix (**):

Caro Luís:

Segue o endereço de um vídeo que eu fiz com imagens que me foram enviadas pelo Senhor Pierre Fargeas, homem da fábrica dos Allouettes III, que fazia a sua manutenção em Bissalanca nos anos 1969 até 1974.

Fiz uma pequena montagem das imagens, onde estou a guiar o heli, segue ao meu lado esquerdo a esposa do Pierre, Ivette Fargeas, e depois uns senhores que não me recordo o nome. O Coronel é o meu comandante Diogo Neto.

Aqueles que atabancaram em Bafatá conhecem melhor que eu as imagens. Isto aconteceu no ano de 1969. Se achares bem, publica no nosso Blog (***).

Abraço

Jorge Félix

________

Notas de L.G.:

(*) Letra de Charles Aznavour, canção Te espero

Pasa el tiempo y sin ti no sé vivir,
la razón es para mí siempre sufrir,
y ahora el viento al pasar me da a entender
que en la vida sólo a ti esperaré.

Yo recuerdo tu mirar y tu besar,
tu sonrisa bajo el sol primaveral,
estoy solo sin saber lo que tú harás,
en mi alma hay dolor al esperar.

Ven... a mí ven no tardes más,
ven por favor te ruego yo,
no podré esperar ven a mí,
yo quiero saber si has de venir,
por fin así dímelo amor.

Es la herida que envejece sin piedad,
más mi amor siempre será eternidad,
en mis blancas noches tú revivirás
el recuerdo de mi amor al despertar.

En mi mente siempre como un altar
y tu rostro grabo en mí para soñar
el momento ha de llegar muy pronto ya
y veré la realidadal despertar.

Ven... ven a mí ven, ven no tardes más,
ven por favor te ruego yo no podré esperar,
ven... oh ven a mí yo... yo quiero saber
si has de venir por fin así dímelo amor.....


(**) Vd. postes anteriores do Jorge (podem não estar todos...):

27 de Fevereiro de 2008> Guiné 63/74 - P2587: Gandembel: Será que ainda estão vivos os jovens que eu evacuei, em Outubro de 1968 ? (Jorge Félix, ex Alf Mil Piloto Aviador)

28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2592: Voando sob os céus de Bambadinca, na Op Lança Afiada, em Março de 1969 (Jorge Félix, ex-Alf Pil Av Al III)

12 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2627: Vídeos da Guerra (8): Nha Bolanha (Jorge Félix, ex-Alf Mil Piloto Aviador, 1968/70)

23 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3226: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (1): Honório, Sargento Pil Av de DO 27 (Jorge Félix / J. L. Monteiro Ribeiro)

30 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3380: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (10): Quando a guerra era com os copos... ou o elogio do Tosco, em Lisboa (Jorge Félix)

6 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3412: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (11): Ainda o Honório, o Jagudi... ou o puro gozo de voar (Jorge Félix)

1 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3546: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (14): Em Junho de 69 havia bajudas a alternar no Tosco, na Conde Redondo (Jorge Félix)

11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3604: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (15): Eu, o Duarte, o Coelho, o Nico... mais o Jubilé do Honório (Jorge Félix)

16 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3904: FAP (13): Nha Bolanha, o Ramos, o Jorge Caiano, o Manso, o corta-fogo do AL III, Bissalanca... (Jorge Félix)

1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3953: O Spínola que eu conheci (3): Um homem de carácter (Jorge Félix)

1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3955: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (3): O local estava minado e o PAIGC sabia-o (Jorge Félix)

(***) Vd. último poste desta série > 28 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4597: FAP (30): Ferro Q.B. para acalmar as hostes (Miguel Pessoa)

Guiné 63/74 - P4634: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (13): A desonra da CCAV 8350 ou o direito a contar a minha versão... (Constantino Costa)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Imagens do arquartelamento da tabanca e aquartelamento, cinco ou seis anos antes do seu abandono, em 22 de Maio de 1973, uma decisão do comandante do COP 5, o então major Coutinho e Lima, que ainda hoje é objecto de controvérsia. Fotos do nosso saudoso Zé Neto (1929-2007).

Fotos: © Zé Neto / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.




1. O que é prometido, é devido. Limadas algumas arestas (técnicas, comunicacionais e éticas), eis a primeira mensagem (revista e melhorada), enviada, na qualidade de membro da nossa Tabanca Grande (*), pelo camarada Constantino Costa, que vive em São João da Madeira e que foi um dos bravos de Guileje, tendo pertencido à CCav 8350 (Guileje e Gadamael, 1972/73):


[Fixação / revisão de texto / negritos: L.G.]


Camarada Luís Graça e restantes Camaradas da Guiné,

Nunca foi meu propósito ofender quem quer que fosse (**) e, por isso, considero despropositadas algumas das tuas críticas, bem como a forma, muito pouco educada e deselegante, como os visados reagiram ao teor do meu e-mail (**) .

A razão da sua existência só pretende recordar a alguns dos tertulianos, que aquilo que se passou em Guileje e Gadamael, foi muito além do que até agora resolveram narrar e que tenho vindo a ler muito atentamente.

Foram omitidos factos importantes que, em meu entender, indirectamente, provocaram a fuga de Guileje. Digo, assumidamente, fuga porque antes mesmo dela ter acontecido, a
actividade operacional do pessoal se limitava, praticamente, ao interior do aquartelamento, registando-se apenas algumas saídas esporádicas.

O tertuliano ex-Alferes Manuel Reis, mostra algum esquecimento ao afirmar "não lembrar ao diabo, que eu tivesse elaborado relatórios de patrulhamentos não efectuados e está no
seu pleno direito em tal esquecimento". Mas eu não lhe admito que insinue, que é mentira o que eu afirmo, porque se há alguém que se "esqueceu" não fui eu certamente.

No seguimento, não quero deixar passar em claro a afirmação do ex-Alferes Manuel Reis, de que “essa de elaborar relatórios de patrulhamentos, não efectuados, não lembra ao diabo”, e permito-me dizer que não sou eu de forma alguma responsável pela seu "esquecimento" no que respeita a este assunto. Qualquer pessoa menos atenta no aquartelamento sabia deste facto.

Também não lhe admito a insinuação de que por detrás das minhas afirmações estará alguém a ajustar o tiro. Sou Homem, maior e vacinado, para assumir e me responsabilizar por todos os meus gestos, e por tudo aquilo que afirmo.

Afirma, ainda este tertuliano que em Gadamael, no dia em que o major saiu sob prisão, os soldados o encarregaram, conjuntamente com o ex-Alferes João Seabra, de falar com ele e
transmitir-lhe a sua solidariedade. E mais, disponibilizando-se para impedir a sua saída o que não corresponde à verdade. É que, caso não saibam, eu também estive em Gadamael.

Mais diz que o major nos convívios é sempre alvo de manifestações de carinho, mas não acrescentou que aos ditos convívios, raramente, comparece mais do que 50% dos efectivos da CCAV 8350.

Apesar desta declaração de admiração e carinho por parte do ex-Alferes Manuel Reis, este num dos seus e-mails, refere que existem camaradas que discordam da decisão tomada pelo major, em Guilege. Em que ficamos afinal?

Para sua informação (mais uma vez mal informado), estive presente nos convívios efectuados em, Condeixa, Santa Maria da Feira e Pombal. Não são muitos, mas são alguns.

Luís Graça, até aqui creio que as críticas são simples e legítimas!

Num à parte, gostaria de observar que os ex-Alferes João Seabra, Manuel Reis e o ex-Furriel Casimiro de Carvalho, apesar de terem dito que desconhecem a existência da minha pessoa, sabem muito bem a quem se referem mas, por razões óbvias, pretendem fazer crer o contrário o que, diga-se em abono da verdade, pouco me afecta.

O ex-Furriel Carvalho refere que em relação aos “camaradas mortos em combate eu os devia honrar”.

No meu e-mail, não vejo em parte alguma, qualquer referência menos honrosa aos meus Camaradas mortos em combate. Se o furriel não concorda comigo, terá interpretado mal as minhas palavras, mas isso não lhe concede o direito de insinuar indignamente, que proferi uma única palavra menos correcta para com esses nossos infelizes camaradas e amigos!

Ainda em relação à tão nefasta patrulha, gostaria de saber onde se encontrava o nosso 2º Comandante, que permitiu que os seus homens saíssem para o mato deficientemente armados e só com 12 efectivos.

Ao ex-Furriel Carvalho quero dizer que não pretendo de forma alguma beliscar a sua actuação em Gadamael Porto, que considero muito corajosa, mas concorde comigo, que a referência a actos de coragem, para uma eventual atribuição de medalhas, ou outras condecorações, deve partir de terceiros e não serem referenciadas pelos próprios candidatos às mesmas.

Não é verdade que não tem tido qualquer contenção em referir os seus actos e a sua indignação pelo facto de não se terem lembrado de si?

Sei que se portou com valentia, mas um pouco de modéstia ficava-lhe bem. Admito que não se recorde do que se passou na tal patrulha efectuada em Colibuia, nos arredores do aquartelamento, mas os factos são um pouco diferentes daquilo que relatou, já que a suposta emboscada do IN aconteceu durante a noite, com o pessoal todo a disparar sem nexo, tendo vindo a verificar-se que, afinal, o tal IN, não passava de um bando de macacos.

O outro suposto ataque aconteceu nos arredores de Gadamael, quando um pelotão se encontrava nos arredores do aquartelamento. Ouviram-se, ao longe, alguns disparos e de imediato todo o pelotão fugiu deixando no solo algumas armas, que logo depois foram recuperadas. Aí sim, eram 4 inimigos.

Quanto ás declarações do ex-Alferes João Seabra, teço as seguintes considerações:

Este tertuliano tenta irónica e depreciativamente referenciar a minha actividade na secretaria da CCAV 8350 e, sobre isso, tenho a dizer que se me encontrava na secretaria, foi porque alguém, com poderes para isso, assim o tinha decidido. E mais, não necessitei de cunhas para alcançar esse estatuto, muito menos para ser colocado em Bissau. “Creio que aqui, para bom entendedor meia palavra basta”.

Não quero deixar de referir que, para quem tem uma memória tão viva, se esqueça, que eu fui eleito por unanimidade (oficiais, sargentos e praças) como sendo o representante, junto da CCAV 8350, do (tristemente célebre) Movimento das Forças Armadas, com delegação de poderes conferidos pelo então Capitão António Vieira.

Num exemplar acto de exibicionismo (barato) cultural e linguístico o ex-Alferes João Seabra, refere o verbo omitir como transativo, complemento directo, fazendo alarde dos seus
conhecimentos como se os outros se tratassem de analfabetos ou ignorantes.

Não lhe fica bem a sua vaidade e sede de protagonismo. Antes fica-lhe mal sinceramente!

Quanto a omissões e outras, permito-me questionar-lhes o seguinte:

- Onde estava o 2º Comandante quando o aquartelamento estava a ser atacado pelo IN e todos se recusavam a fazer serviços nos postos de sentinela?

- Onde estava quando era necessário efectuar obras de segurança nos limites do aquartelamento, para protecção da CCAV 8350 e da respectiva população?

- Onde estava(m) quando foi necessário regular o tiro do obus de 14 cm e do morteiro 10,7 cm?

- Onde estava quando algumas mulheres africanas se deslocaram à bolanha para se abastecerem de água e foram atacadas. Não só não lhes foi efectuada a devida protecção, como após o ataque se recusaram a socorrê-las, de imediato, tendo o major de se colocar à frente dos nossos camaradas para que lhes fosse prestado o devido auxílio.

- Onde estava(m) quando o Bari se deslocava pelo aquartelamento, como se de um amigo se tratasse, tendo a protecção do Capitão Abel Quintas e que, mais tarde, se juntou ao IN prestando-lhe informações de vital importância?

- Onde estava(m) quando a força aérea pediu informações sobre os ataques do IN, lhes foi dito que não sabiam de onde aqueles partiam e para bombardearem tudo á volta do aquartelamento?
- Onde estava(m) quando eram elaborados os relatórios de patrulhamentos que nunca foram efectuados? Recordo-lhes que ao contrário do que dizem os abrigos estavam praticamente
intactos.

- Onde estava(m) e quem se recusou a efectuar a protecção ao major, quando este pretendia deslocar-se de Guileje para Gadamael? Alguém foi responsabilizado? Claro que não!

- Quem permitiu que, aquando da fuga de Guileje, lá tivessem sido deixados 2 morteiros de 60 mm, cerca de 10 G-3 e importantes documentos(?) (cartas geográficas militares), que o IN veio, posteriormente, a utilizar?

-Porque é que nos convívios nunca referiram o que na realidade se passou durante a reunião de oficiais na véspera da fuga? Falem sobre isto!

O major Coutinho e Lima alega que, mesmo que chegassem reforços, estes demorariam entre dois a três dias a chegar, e que não conseguiria aguentar o aquartelamento naquelas condições, mas esta sua tese vai por água abaixo, dado que só passados três dias é que o IN invadiu o aquartelamento. Mais diz, que a fuga teve como objectivo evitar um massacre, porque, dizem, o IN se encontrava nas imediações do aquartelamento.

Nada mais errado como se veio então a verificar.

Passados mais de 35 anos, é por demais evidente que alguns procuram tentar justificar um acto que nada teve de digno, e que apenas enxovalhou a honra e dignidade da CCAV 8350, as Forças Armadas Portuguesas e Portugal.

É uma vã tentativa tentar ilibar o major de uma decisão que, essa sim, foi irresponsável e perigosíssima, porque se pensarem bem poderia ter originado um massacre, caso o IN tivesse detectado o nosso movimento de fuga e atacado em força.

O que dirão aqueles que abnegadamente e corajosamente sofreram (e continuam a sofrer), tendo-se mantido nos seus postos e cumprido o seu dever até ao fim? Bem sabem que nem todos fugiram!

O que diriam hoje aqueles que, involuntariamente, perderam a vida em vão, em Guileje e Gadamael? Alguém lhes concedeu uma oportunidade para fugirem também? Que vergonha!

Não critiquem negativa e depreciativamente aqueles que tentam dar as suas visões e pareceres diferentes, nem omitam e deturpem os factos sobre o que aconteceu em Guileje e
Gadamael, adulterando situações como se fossem os únicos donos da verdade, ignorando a lealdade, a realidade e o rigor.

Nunca foi minha intenção ofender ou humilhar quem quer que seja, mas não posso estar calado ouvindo, ou lendo, sobre acontecimentos ocorridos em Guileje e, ou, Gadamael sem dar a minha modesta contribuição no sentido de revelar e esclarecer algumas situações, direi para não ferir susceptibilidades, algo obscuras e confusas.

Não aceito que os ex-Alferes João Seabra e Manuel Reis, cheguem ao ponto de criticarem a actuação dos (então) seus superiores hierárquicos, casos dos Generais António Spínola e Almeida Bruno, do Coronel Rafael Durão, Capitão Ferreira da Silva e outros, como se estes tivessem contribuído de alguma forma para o descalabro de Guileje ou Gadamael. “Convém sacudir a água do capote”.

Antes pelo contrário, o Major Coutinho e Lima, Capitão Abel Quintas, Alferes João Seabra e Manuel Reis (2ºs. Cmdts) agem como Pilatos, lavando as mãos e atribuindo as culpas a terceiros. Não é digno!

O camarada Luís Graça, entre outras coisas, diz que estranha o teor da minha primeira mensagem, porque eu não me apresentei como devia ser.

Convém esclarecer que além do meu nome, Constantino Costa, indiquei a minha CCAV 8350, como tendo estado ao seu serviço e, ainda mais, que tinha estado em Guileje e Gadamael.Não referi os Piratas de Guileje apenas devido ao facto da minha aversão à palavra piratas e a tudo o que ela significa.

Mais diz Luís Graça que fiz acusações gratuitas e graves a antigos camaradas, Major Coutinho e Lima, Cap Abel Quintas, Alferes João Seabra, Alf Manuel Reis e Fur Casimiro de Carvalho, e a isso vou tentar responder a seguir com clareza:

1º. No presente texto continuo a afirmar que foram omitidos, alterados e distorcidos alguns dos factos narrados pelos visados.

2º. Na minha opinião pessoal o Major Coutinho e Lima nunca esteve à altura do cargo e bem mereceu a punição que lhe foi aplicada, embora eu admita que talvez tenha exagerado, porque, pensando bem, nem tudo o que o Major fez foi mal feito.

Mas convém não esquecer que o Major Coutinho e Lima infringiu gravemente regulamentos militares de então. Não está em causa se tinha ou não motivos para o fazer, é facto que ele desobedeceu a uma ordem legítima do Comandante-Chefe do CTIG.

O Major, e volto a frisar que estas são as minhas opiniões pessoais, não só não tinha o direito de desobedecer, como sequer de questionar essa mesma ordem. “O Cor Rafael Durão é que era o mau da fita”.

3º. Em boa verdade, reafirmo que elaborei relatórios de patrulhamentos, que nunca foram efectuados, sendo assinados pelos comandantes e, posteriormente, enviados para Bissau.

4º. Nas frases por mim proferidas, só falo em oportunismo porque nos vários textos publicados, pelos visados, abundam as referências a actos de heroísmo dos próprios, como se eles tivessem sido os únicos intervenientes nos tão trágicos acontecimentos. Então o resto da Companhia, não estava lá? Se duvidam, releiam os vossos textos.

Não é verdade que a CCAV, tivesse sofrido nove mortos em combate, dado que houve quem morresse afogado, quando tentavam fugir para Cacine. Quem omitiu este facto?

5º. O Fur Casimiro de Carvalho refere que, antes da emboscada fatal disse a dois colegas muito novos, que não partissem juntamente com os 12 colegas para o tal patrulhamento por ter pena dos mesmos.

Compreendo a sua intenção, mas convém sublinhar que mais 2 homens poderiam ter feito diferença que bastasse. Dos 12 homens que saíram, voltaram 8, um deles gravemente
ferido. Isto vem demonstrar, mais uma vez, que na CCAV não havia nem rei nem roque.

Ao contrário do que diz o ex-Alferes João Seabra eu recordo-me muito bem dele, e sempre pensei que fosse uma pessoa recatada e inimiga de protagonismo mas, pelos vistos, enganei-me. É por demais evidente que tem o dom da palavra, da qual usa e abusa, em proveito das suas façanhas descritas.

Com alguma ironia diz que eu fazia alguns biscates como "dactilógrafo" de confiança, mas o que é verdade, é que sempre estive no local dos acontecimentos, não necessitando de uma qualquer cunha para ser colocado em Bissau.

Também se esquece de referir que dada a recusa de alguns (muitos), a efectuarem postos de sentinela durante os cerrados ataques do IN, recorriam ao tal "dactilógrafo" para o fazer.

Mais ignora que visto ninguém querer fazer fogo com o morteiro de 60 mm, o colocaram nas mãos do tal "dactilógrafo". Mais esquece que, quando quase todos abandonavam Gadamael Porto, esse "dactilógrafo" conseguiu convencer alguns a regressar e não o viu no local.

Quanto às omissões creio que, quem se der ao trabalho de ler o meu texto, comprovará que são muitas.

É claro que não fazia parte do seu pelotão (ainda bem), mas como não sou surdo e os seus homens não eram mudos. As notícias espalhavam-se e por isso se sabia que os patrulhamentos não eram efectuados até ao local indicado. Por favor, não queira "tapar o sol com uma peneira".

Também é facto que o ex-alf João Seabra não fugiu de Gadamael, mas a verdade é que raramente era visto juntos dos subordinados.

Em 1 de Junho de 1973, o ex-Alferes Manuel Reis encontrava-se em Gadamael e também é verdade que, nessa data, aí estava colocada uma Companhia de Pára-quedistas. Creio
que as datas a que se refere são de pouca relevância.

Quem tivesse estado próximo do rio de Gadamael, facilmente se teria apercebido que aí se encontravam oficias e sargentos das duas companhias, e alguns deles acabaram por atravessar o rio em direcção a Cacine.

Um último comentário me merece a sua narrativa sobre a emboscada tida a cerca de 2 quilómetros do aquartelamento, onde diz que chegou a fazer fogo com um LGF, apanhou
um morteiro de 60 mm e ainda quebrou a G-3 ao atirar-se para um buraco. Desculpe-me, mas aqui está uma cena para dizer que não se tratava de um simples militar, mas de um autêntico Rambo.

Com actos como e descrito, bastavam meia dúzia de militares do calibre do ex-Alf João Seabra para, em pouco tempo, termos derrotado o IN e só foi pena que não tivesse agido assim, quando podia e devia tê-lo feito.

O que penso do Major Coutinho e Lima tem a ver essencialmente com o facto de ter sido o autor do primeiro e único abandono das tropas portuguesas de um quartel militar, desgraçando o bom nome (constantemente enxovalhada) da Companhia de Cavalaria 8350, e por conseguinte o dos seus sacrificados militares.

Desobedeceu a uma ordem legítima dada pelo seu superior directo, desonrou as forças armadas e, agora, tem tentado captar a simpatia e colaboração daqueles que não mereceu comandar. Pode o major Coutinho e Lima dizer o que disser, mas muitos sabem, e jamais esquecerão, o que se passou em Guileje, apesar de todas as tentativas orquestradas nesse sentido.

O major Coutinho e Lima acusa-me de pretender protagonismo, mas não sou eu que tenho andado de convívio em convívio e a publicar em livro a versão, para si mais conveniente, numa vã tentativa de convencer tudo e todos de que na verdade a decisão de fugir de Guileje foi uma atitude heróica (como já li), e que dignificou, assim, não só os militares da CCAV 8350, como as Forças Armadas Portuguesas.

Porque é que o major Coutinho e Lima não relata no seu livro que uma parte da população de Guileje não queria abandoná-la? O major sabe que isto é verdade!

O major Coutinho e Lima acha que tomou a atitude correcta sabendo que em breve iria ser substituído?

Se tivesse acontecido um massacre o major assumiria a responsabilidade?

O major afirma que foi o Capitão Abel Quintas, que proferiu a tristemente célebre frase: “O aquartelamento está cercada por todos os lados”. Onde se encontrava então o Capitão Abel Quintas?

O major Coutinho e Lima pode reunir inúmeras qualidades pessoais, mas eu considero que, como militar, não cumpriu. Peço-lhe, humilde e sensatamente, que se remeta ao silêncio.

O major fala em propaganda que eu talvez não mereça, no entanto quero dizer-lhe que por três vezes estive presente em almoços convívios da CCAV 8350 e estive tentado a
cumprimentá-lo, mas tê-lo-ia feito pela pessoa, não como militar.

Com toda a franqueza lhe digo que tenho muito orgulho por ter sido militar (soldado), em serviço na Guiné. O mesmo não diria se tivesse sido Comandante do COP. Também é verdade que nunca o senhor foi ilibado, mas sim amnistiado, o que é bem diferente.

Porque é que noutras zonas, os militares altamente massacradas pelo IN, diariamente, não abandonaram as suas instalações e se mantiveram firmes nas suas posições, apesar de terem sofrido um elevado número de feridos e mortos?

Admitam que a avaliação da situação em Guileje foi prematura e que o IN não concentrava a maior parte das suas forças nas proximidades do quartel, assim como admitam também, era possível resistir durante mais alguns dias até á chegada de reforços.

A aviação não sabia para onde havia de fazer fogo ou largar as bombas, porque não tinha as necessárias indicações precisas de quem as havia de ter.

Ninguém saia do quartel excepto um grupo de africanas, para se abastecer de água sem que lhe fosse concedida a devida protecção.

Quase todos se recusavam a fazer turnos de sentinela e tiveram de recorrer ao "dactilógrafo biscateiro”.

Ao General Spínola são feitas acusações gratuitas e covardes. Deixem a sua memória em paz, por favor.

Em 21/Maio/1973, o major Coutinho e Lima, regressou de Gadamael, salvo erro, com a protecção de 2 grupos de combate e chegou ileso a Guileje, isto apesar de dizerem que Guileje estava cercada.

Durante a fuga de Guileje um africano bateu com um pau numa colmeia de abelhas e alguns gritaram que era o IN, sendo o suficiente para que grande número de militares fugissem em debandada largando as armas no meio de um grande alarido. Onde estava o IN então?

Quantas vezes o grupo de serviço ao abastecimento de água se deslocava entre 3 a 4 km e, apesar do que afirmam, apenas alguns iam armados. Agora alguns dizem que o
abastecimento de água se efectuava sob fortes medidas de segurança. Nada mais falso!

Todos sabemos que o Cor Rafael Durão recebeu ordens para comandar o COP em substituição do Major Coutinho e Lima. O Cor Rafael Durão já se encontrava em Gadamael quando lá chegámos, pronto para seguir viagem para Guileje. Alguém acredita que um homem de confiança, e braço direito do Gen Spínola, após analisar a situação em Guileje, não informaria de imediato o Comando-Chefe e este rapidamente não enviaria reforços ?! No mínimo, peço menos leviandade na análise da situação de Guileje.

Haja a humildade de reconhecer que não haviam reais motivos, para se abandonar Guileje e que este reconhecimento mais dignificaria aqueles que contribuíram para o enxovalhamento da Ccav 8350 e das Forças Armadas Portuguesas, contribuindo para humilhação e total desrespeito daqueles que deram o seu melhor em prol dos seus camaradas e amigos, e população.

A ausência de evacuações dos feridos foi um mau pretexto para se anularem as saídas para o mato em acções de patrulhamento, o que permitiu ao IN efectuar incursões esporádicas nas imediações do aquartelamento. Se, anteriormente, as acções de patrulhamento eram reduzidas, então a partir de determinada data foram pura e simplesmente anuladas.

Como já antes referi não é verdade que Guileje estivesse reduzida a escombros dado que de todos os abrigos só um foi atingido, sem que daí resultasse qualquer vítima.

Gostaria de salientar que durante o 1º. trimestre de 1973 as nossas tropas sofreram 135 mortos em combate e só Guileje foi abandonado. Em Guidage morreram 39 militares, mas os sobreviventes continuaram no seu posto, contrariados ou não.

Em Gadamael, apesar das baixas mortais e das deploráveis condições de sobrevivência, alguns (bravos) permaneceram no seu posto.


O Major Coutinho e Lima sabia que o COP tinha como objectivo fazer face ao previsível agravamento da guerra no sul da Guiné. Que medidas tomou?

O Cap Manuel Monge também pediu autorização para abandonar Gadamael, mas como lhe foi negada autorização, não deu ordem de retirada. Fraco ?

Permitam-me que relembre que, quando o IN fazia fogo para o aquartelamento, daí se recusavam a fazer fogo para não denunciarem as suas posições. Tínhamos potentes obuses de 14 cm (?) e não respondíamos ao fogo IN (isto não lembraria ao próprio diabo).

Em 22-02-1973, Casimiro de Carvalho, escreve que tem “havido poucas saídas para o mato”.
Em 21-03-1973, Casimiro de Carvalho, escreve que “cada vez há menos patrulhas e que é quase só dormir e efectuar tarefas dentro do quartel”.

Em 25-03-1973, novamente, Casimiro de Carvalho, diz haver ordem de saída que foi anulada talvez porque estivesse marcado algum jogo de futebol.

Durante os bombardeamentos a Guileje os artilheiros raramente se atreviam a sair dos abrigos. Entre 19 e 21-05-1973, foram efectuadas 14 missões pela força aérea sem que o major as refira no seu livro.

No seu livro o major refere que em Guileje só houve uma baixa em combate, o que não é verdade.

Num aparte permito-me observar camarada Luís Graça, que sobre as minhas palavras teceste algumas considerações menos correctas, mas não te vi tão interessado em questionar os visados pelas suas declarações, que não passam de filmes para não admitir o cabal esclarecimento sobre os factos na reconstituição da história de Guilege.

As afirmações do ex-Alf Manuel Reis roçam o insulto e em nada dignificam o seu autor. Ele não admite que se discorde da "sua" verdade?

Em que pensava o ex-Alf João Seabra, ao entregar alguns documentos ao Nuno Rubim, e lhe disse, “para não dar como bom tudo o que lhe contou sem exame crítico e confronto com outras fontes”. Contradição?

Quem afirmou que a sua amizade com o Major Coutinho e Lima poderia prejudicar a sua real análise sobre os acontecimentos de Guileje?

Chegam ao cúmulo de afirmar que o IN acertou em quase todas as instalações de Guileje o que está longe da verdade. Só um abrigo foi ligeiramente atingido.

O ex-Alf João Seabra afirma que o aquartelamento de Guileje praticamente não tinha valas, mas o quê, ou quem, o impediu que tais valas fossem previamente executadas, não foi ele 2º. Cmdt?

Em caso de assalto ao quartel de onde é que se ripostaria, dado que os abrigos só possuíam entrada/saída?

Lamento que toda a sua argúcia, discernimento, capacidade de análise e poder de decisão, não tivessem sido utilizadas em Guileje.

Dizem que raramente tinham o apoio da força aérea, mas ao mesmo tempo afirmam que durante as colunas de abastecimento se encontrava, na pista de Guileje, uma DO-27 armada com roquetes e foguetes. Palavras do ex-alferes João Seabra.

Durante a emboscada sofrida pelo 2º Grupo do quartel fizeram fogo com o morteiro 10,7 cm, mas de imediato foi mandado suspender o fogo dado que as granadas caíram muito próximo dos homens emboscados. O seu especialista (Furriel Neves) encontrava-se entre o grupo emboscado. Como se compreende que tenha saído para o mato? Regular o tiro? Não foi efectuada a regulação de tiro do morteiro 10,7 cm? De quem foi a (ir)responsabilidade de ordenar a sua saída?

Infelizmente o passeio acabou em tragédia, com vítimas mortais. Foram atribuídas responsabilidades? É claro que não!

O obus de 14 cm também não fez fogo porque, também, ainda não tinha sido efectuada a sua regulação de tiro.

O protagonismo (?) do ex-Alf João Seabra vai ao ponto de, na sua narrativa sobre a referida emboscada, já ter tido o discernimento de poder constatar (deduzir) que o IN não praticou um grande feito de armas dado que, com um pouco de mais de 12 homens (o que demonstra que não sabia quantos homens tinha o seu grupo), sem esquecer que também se encontrava no local o grupo de combate do ex-Alf Manuel Reis (comandados por um alferes), que o IN (nas suas palavras) tinha a obrigação de os abater a todos. O mesmo afirma que apesar de não ter avistado o IN, aqueles deviam ser entre 40 a 70(57%).

O major Coutinho e Lima, no seu livro, refere que na dita emboscada participaram cerca de 100 elementos do IN. Porque não 1.000?

Ainda diz que se tivesse avançado teria sido uma carnificina. A que documentos recorreram para afirmarem que a artilharia de Guileje estava inoperacional?

Ao longo de mais de 35 anos tenho estado em contacto com alguns camaradas de Guilege e Gadamael (CCAV 8350 / Pel Art / Comp Pára-quedistas) e todos aceitam como verídica a minha versão dos factos ocorridos naqueles locais.

É indecente insinuar que estou a mando de alguém, quando só pretendo corrigir e acrescentar alguns factos, o que não teria feito se a vossa narração tivesse sido mais rigorosa.

Chegou-se ao ponto de, irresponsavelmente, se deixar de efectuar patrulhamentos pelo facto de não estarem reunidas condições de garantia, para evacuação de feridos e, com
isso, se permitiu que o IN se aproximasse do aquartelamento em pequenos grupos. Houve aqui sensatez?

Por conveniência, também se têm socorrido de relatórios referentes a operações que não passaram do papel.

Continuo a afirmar que foram inúmeras as vezes que as patrulhas ficarem aquém do local indicado, e tanto é verdade que ligavam para o quartel a indicarem o local onde estavam, para que dali não fizessem fogo (bater a zona) para o local indicado.

Um dos intervenientes em Gadamael (Sarg pára Carmo Vicente), também tece considerações nada elogiosas para a CCAV 8350, assim como sobre muitos dos intervenientes na guerra travada na Guiné.

Carmo Vicente, entre outras coisas, afirma que todos os militares apoiaram o Major Coutinho e Lima, o que não corresponde à verdade. Só pode ser um reflexo das suas ideias infectadas por alinhamentos político-partidários com certeza.

Na sua análise sobre a guerra na Guiné a sua cegueira política em relação a diversos intervenientes retirou-lhe o discernimento, para efectuar comentários justos e imparciais.

Carmo Vicente é um homem cheio de ódio e amargura, o que não lhe permite distinguir os bons dos maus, atacando tudo e todos.

Numa das suas crónicas (1985) refere que os botes servidos para evacuar feridos, foram assaltados por uma avalanche de desertores. Sugiro-lhe que tenha a hombridade de mencionar o número de desertores das Companhias de Pára-quedistas instaladas em Gadamael. Ou nega a sua existência?

Não posso deixar de referir os filmes e documentários ultimamente exibidos, tão plenos de falsidade que me causa revolta e repugnância.

Luís Graça, dizes que tenho dificuldade em lidar com o contraditório, mas permite-me corrigir-te dizendo-te que, o que me custa, é lidar com omissões, ou versões imprecisas e incorrectas, criadas por pessoas que não admitem que estão erradas.

A verdade dos acontecimentos não pode ser exclusiva do ex-Major Coutinho e Lima, ex-Cap Abel Quintas e ex-Alferes João Seabra e Manuel Reis.

No meio de tudo isto o Casimiro de Carvalho (que foi um valente), tem sofrido uma lavagem ao cérebro. Esse sim, lutou com valentia!

Luis Graça, o meu acompanhamento da evolução do blogue, permite-me dizer-te que denotei alguns sinais teus de proteccionismo e parcialidade, para com alguns elementos da tabanca e as suas versões. Não pode ser assim. Tens que ser 100% imparcial, de modo a criar admiração, confiança e condições, que motivem a aderência de outros camaradas nossos ao blogue.

Estranho que no teu e-mail aludas ao facto de não seres obrigado a reproduzir os meus esclarecimentos e por isso permito-me reparar que também não creio seres obrigado a publicar qualquer outro esclarecimento, venha ele de quem vier. Enfim, critérios!

Ao visitar o teu blogue qualquer pessoa mais atenta notará que muitos dos tertulianos ainda não enviaram as respectivas fotografias e por isso me surpreende tanta insistência.

Tenho falado com camaradas que manifestam interesse em participar no blogue, mas eles temem sentir-se diferenciados dos restantes camaradas bloguistas.

Repito que para demonstrar que estou de amizade e boa fé, peço para aderir como novo camarada tertuliano, para o que enviarei as fotos solicitadas.

Termino esta mensagem reservando-me ao direito de nunca mais tornar a incomodar o pessoal com este assunto. Pela minha parte, sobre esta negra fase da guerra relativa a Guileje e Gadamael, está tudo dito.

Agradeço a publicação deste meu e-mail.

Mais agradeço a atenção dispensada, desejando a todos os Camaradas da Guiné felicidades e boa sorte.

Constantino Costa


2. Comentário de L.G.:

Troquei com o Constantino alguns mails e falámos ao telefone, antes de chegarmos até aqui, até ao dia de hoje. Passámos a conhecermo-nos melhor e sobretudo a comunicar melhor. Ainda ontem lhe telefonei para reforçar os meus votos de boas vindas à nossa Tabanca Grande.

Não vou aqui dar conta das nossas conversas privadas (ou de bastidores). Ele tinha evocado, inicialmente, o seu direito de resposta (aos comentários que lhe foram feitos no bogue) e eu pus-lhe algumas condições prévias. Primeiro, reiterei o meu convite para ele integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande, o que significava também respeitar as nossas regras de convívio. O que ele aceitou, mau grado algumas reservas iniciais. Por minha parte, procurei esforçar-me por convencê-lo de que aqui, no blogue, não sou (nem posso ser) o advogado de defesa de ninguém. Claro que os amigos e camaradas da Guiné também são meus amigos e camaradas.

Por outro lado, também era importante que o Constantino percebesse que o nosso blogue não pode transformar-se num tribunal em que se julgam os veteranos de guerra, e em que há uns que são os juízes, os outros os acusadores e um terceiro grupo os réus…

Aqui não há juízes, nem acusadores nem réus. O que não quer dizer que a gente não possa discordar, uns dos outros, na apreciação e até no relato dos factos que respeitam à Guiné e à guerra no período de 1963/74…

Ficou, claro, para nós, que uma das regras de ouro do nosso blogue (mas também mais difíceis de cumprir por todos nós) é a manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, evitando deliberadamente as picardias, as polémicas acaloradas, as interpelações pessoais, os insultos, a violência verbal...

Voltando ao discurso directo:

Meu caro Constantino, Guileje / Gadamael é, para ti e para todos nós, um dossiê doloroso… (Chamaste-lhe a fase negra da guerra...). Sobre Guileje temos, no nosso blogue, mais de 220 referências (postes com a palavra-chave Guileje), contra pouco mais de 60 sobre Guidage e 70 sobre Gadamael (***)... Estamos à beira da saturação do tema. E dificilmente chegaremos a um consenso sobre alguns dos pontos mais controversos da resposta das NT à ofensiva desencadeada pelo PAIGC, em Maio / Junho de 1973 (Op Amílcar Cabral).

O teu depoimento é mais uma peça importante de um protagonista dos acontecimentos… Agradeço o esforço (notável) que fizeste por o tornar aceitável, para efeitos de publicação no nosso blogue, eliminando ou corrigindo imprecisões e excessos de linguagem.

Todos nós - tu, na CCav 8350, eu, na CCaç 12 - em épocas diferentes, em sítios diferentes temos boas e más recordações, dos sítios, das gentes, dos camaradas, dos superiores hierárquicos... Tínhamos e temos (ainda) hoje diferentes versões da guerra e da sua legitimidade... Mais: não temos que ter a mesma leitura da história, nem dos acontecimentos, nem do antes em do depois... Se calhar temos ainda contas para ajustar do tempo da guerra... Eu tinha, já perdoei, mas não esqueci...

Não te pedi (nem peço) para ser politicamente correcto. Nem a ti nem a ninguém, seria matar o blogue... Peço apenas aos meus camaradas da Guiné que contem a sua história, a sua versão dos acontecimentos de que foram protagonistas ou testemunhas, com objectividade, assertividade, autenticidade, honestidade intelectual, etc., valorizando os factos e recusando fazer juízos de valor sobre o comportamento (humano e operacional) dos camaradas que estão vivos...

Meu caro Constantino, estamos hoje de acordo sobre este e outros pontos: a entrada pela via da polémica da insinuação e da interpelação pessoal (na tua mensagem original, dirigias-te várias vezes aos teus camaradas, nestes termos: o senhor isto, o senhor aquilo) também não era a melhor maneira de darmos início a uma relação que se queria(quer) no mínimo civilizada, e se possível amistosa.

Como o mundo é pequeno e o nosso blogue é grande, dir-te-ei apenas: até logo, camarada!

__________

Notas de L.G.:

(*) 2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4625: Tabanca Grande (157): Constantino Costa (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/74)

(**) Vd. 5 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4282: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (11): Heróis... (Constantino Costa, Sold CCav 8350, 1972/74)

[Inclui comentários de: Coutinho e Lima, J. Casimiro Carvalho, João Seabra, Manuel Reis]

Vd. postes anteriores desta série:

14 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4344: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (12): Homenagem dos Homens Grandes de Guiledje a Coutinho e Lima (Camisa Mara / TV Klelé)

1 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4271: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (10): Respondendo ao João Seabra (António Martins de Matos)

23 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4239: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (9): Eu, a FAP, o BCP 12 e a emboscada de 18 de Maio (João Seabra)

24 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

25 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3790: Dossiê Guileje / Gadamael (3): "Um precedente grave" (Diário, Mansoa, 28 de Maio de 1973) ... (António Graça de Abreu)

27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)

29 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3816: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (5): Strellado nos céus de Guileje, em 25 de Março de 1973 (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav)

1 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P3954: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (6): A posição, mais difícil do que a minha, do Cap Cmd Ferreira da Silva (João Seabra)

4 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3982: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (7): Ferreira da Silva, ex-Capitão Comando, novo comandante do COP 5 a partir de 31/5/1973

15 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4035: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (8): Amigo Paiva, confirmas que fomos vítimas de ameaças e pressões (Manuel Reis)

23 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4239: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (9): Eu, a FAP, o BCP 12 e a emboscada de 18 de Maio (João Seabra)

1 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4271: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (10): Respondendo ao João Seabra (António Martins de Matos)

14 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4344: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (12): Homenagem dos Homens Grandes de Guiledje a Coutinho e Lima (Camisa Mara / TV Klelé)

(***) Já agora, para além de Guileje (220), Gadamael (70) e Guidaje, aqui vão os outros sítios mais citados no nosso blogue (não se inclui a I Série, de Abril de 2005 a Maio de 2006):

Bambadinca: 200
Bissau: 136
Missirá: 88
Mampatá: 85
Gandembel: 84
Cufar: 83
Catió: 63
Bafatá: 60

Nhacra não conta: as 200 citações que vêm nas estatísticas, referem-se a rascunhos, postes não publicados; resulta de um erro de sistema, que lentamentre tem vindo a ser corrigido. A seguir a a Guileje e a Bambadinca, o marcador do nosso top ten é Tabanca Grande, com 156 referências...

Guiné 63/74 - P4633: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (10): Bafatá, Amor e Ódio

1. Mensagem de Torcato Mendonça (*), ex-Alf Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), com data de 1 de Julho de 2009:
Camaradas,
Estava no Café e comecei a rascunhar.
Não é uma homenagem. Prefiro uma saudade, um voto que, quarenta anos passados, ainda por cá andem bem ou, se já partiram, estejam num Olimpo qualquer, em "terra de leite e mel" as "Virgens" de outrora, quais esculturas em ébano talhadas pelos Deuses. A Helena, Solemato, Ana Maria e não sei quem mais...
Reli e acabei por rir. De facto há aqui um problema... agora... já voltei a rir e a sanidade mental???
BAFATÁ; Amor e ódio
Era uma vez um homem jovem, tão jovem que, quando lhe perguntavam a profissão dizia: estudante.
Calmo, sorridente, bon vivant, o homem jovem percorria a vida de bem com ele e com os outros.
Um dia os velhos, gentes que não gostavam de jovens, disseram-lhe: - precisamos de ti. A partir de agora vamos tomar conta de ti e serás um tu, um ser com um número. Juntamos-te a outros seres a outros tu’s.
Fizeram-no. A princípio estranhou, protestou em surdina cada vez mais fraca, mais fraca e, de repente ou lentamente, começou a ser o tu, o número metamorfoseado e já diferente. Corria, saltava, fazia correr e saltar, brincava ás guerras com armas verdadeiras, dizia disparates como sendo verdades mais fortes do que leis, vestia como os outros, igual aos outros, vestuário esverdeado. Bonito o tom. Esverdeado.
Um dia pagaram-lhe uma viagem, só de ida e lá foi mar fora. Seguia o rumo outrora traçado pelas caravelas do seu País.
Parou e desembarcou numa terra diferente, terra quente, húmida, avermelhada, com densas matas e rios que eram tejos.
O tempo passou lentamente.
Ah esqueci-me. Era militar. Todos os que o acompanhavam o eram. Eram muitos mais de cento e cinquenta. O grupo dele tinha cerca de trinta, por vezes mais e outras menos.
E que faziam?
Defendiam a pátria. Defendiam um país do Minho a Timor. Só que eles ficaram logo na Guiné. Poupança no cruzeiro. Os velhos, mais um que os outros, eram poupadinhos.
Habituaram-se àquela vida. Eram unidos e defendiam-se em bloco como se fossem um. Porquê? Porque só assim podiam sobreviver.
Viviam, preferencialmente, nas matas em tabancas aqui e acolá. Tinham um aquartelamento meio enterrado, meio tudo e quase nada. O inimigo visitava-os a tiro de armas ligeiras e pesadas. Eles iam á procura deles e zás, catrapás, partiam-lhes as casotas de mato.
De quando em vez iam á cidade.
Primeiro passavam por uma aldeola onde estava o Batalhão. Assim habituavam-se ás casas e aos objectos que outrora usavam.
Quais? Tantos. Dos mais simples até aos mais complicados. Até ás portas. Sim na sede do Batalhão haviam portas. Quando, ao serem fechadas, batiam mais forte, pareciam saídas de armas pesadas… e lá vem ataque… salta macaquinho. Os residentes riam-se e diziam: é a porta… a partir de um mês de Maio começaram a saltar ou a estremecer… é a porta!
Nesse dia ou no outro, já mais adaptados iam até á cidade. A cidade era Bafatá. Tinha luz dia e noite, casas, ruas e gentes ou vestidas como eles ou com melhor roupagem sempre esverdeada. Outros vestiam roupagens garridas e bonitas de vida civil. Mas todos, toda essa gente, ria. Tinham piscina, sim piscina, casa bonitas, restaurantes, lojas de libaneses onde de tudo se vendia, cinema. Sim sala de cinema. Encostada á cidade haviam casas de putas, esculturas de ébano á disposição. Havia tanto.
Eles queriam num dia e numa noite viver tudo, ter tudo. Bebiam, comiam, iam ás putas (gente boa), á piscina para terror de quem lá estava, ao mercado e ás lojas, ao cinema. Tudo num dia e numa noite.
Olhavam os outros iguais a eles, vestidos como eles ou á civil e gostavam de os ver rir. É bom rir. Tentavam rir mas ficavam com a cara dorida.
Tinham pena dos bafatenses se um dia fossem para o mato. Como seria?
Que interessa isso? Será que eles sentiriam por aquela gente um misto de amor e ódio? Ou inveja? Nada disso. Cada um na sua e eles já não sabiam viver de outra maneira. Nem uns nem outros.
No dia seguinte, por vezes logo no final do primeiro, voltavam.
Vestiam e apertavam roupas, cinturões e cartucheiras, granadas e armas, afivelavam a máscara do ódio, do sempre pronto para tudo e partiam. Nunca olhavam para trás. A estrada asfaltada já era igual á picada de mil perigos.
Voltavam a ser números. Será que os homens da cidade, vestidos como eles eram também números? Certamente que sim, números felizes e que sabiam rir. Vidas. Tantas vidas, numa só vida.
Adeus Bafatá até á próxima…
Torcato Mendonça
Alf Mil da CART 2339
_____________
Notas de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
1 de Julho de 2009 > 1 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4618: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (9): Cansamba, subsector de Galomaro, 1 de Agosto de 1969

Guiné 63/74 - P4632: Os bu... rakos em que vivemos (13): Sare Banda um dos bu…rakos em que morremos! (A. Marques Lopes)


1. O nosso Camarada Luís Graça tem andado a arrumar os seus “papéis” e descobriu entre o seu “correio” atrasado, uma mensagem do A. Marques Lopes, coronel (DFA) na situação na reforma, que foi Alferes Miliciano da CART 1690 (Geba, 1967/1968), sobre o seu bu.. rako em Sare Banda, e que sendo uma matéria sempre actual, hoje publicamos:

Sare Banda estava perto de Sinchã Jobel, e é natural que fosse atacada. O alferes morto foi o Carlos Alberto Trindade Peixoto, o meu segundo substituto. O outro morto foi o Furriel Raul Canadas Ferreira. Mas as circunstâncias da morte deles não estão devidamente relatadas.Foi assim: este, como todos os destacamentos da CART 1690, não tinham luz eléctrica, nem mesmo um miserável gerador. Eles estavam os dois numa tenda a jogar às cartas, com um petromax aceso. Para os guerrilheiros foi muito simples, foi só apontar o RPG2. As fotografias que mando tirei-as em Abril 2006, quando a caminho de Sinchã Jobel. Vai também uma fotografia (Google) de Sinchã Sutu, que ficava mais abaixo, mais perto de Sare Ganá.

UM ATAQUE A SARE BANDA

08SET68

DESENROLAR DA ACÇÃO

01. Acção inicial do IN

Em (0821H00SET68), um numeroso grupo IN, estimado em cerca de 100 elementos instalados em semi-circulo nas direcções NE-SW e SE-NW, atacou o destacamento de SARE BANDA com o seguinte armamento:

- Canhão s/recuo- Morteiro 82
- Lança granadas RPG-2
- Lança granadas P-27 "PANCEROVKA"
- Metralhadoras pesadas
- Metralhadoras ligeiras
- Armas automáticas
- Armas semi-automáticas

O ataque foi iniciado com um tiro ao canhão S/Recuo e dois Lança Granadas Foguete, dirigidos contra a cantina e depósitos de géneros que atingiram mortalmente o Alferes Comandante do Destacamento e um furriel e provocaram ferimentos numa praça. Estes tiros iniciais do IN atingiram e destruíram ainda o mastro da antena horizontal do rádio, ficando assim o destacamento de comunicações cortadas com toda a rede de GEBA. No seguimento da acção do IN atingiu com uma granada incendiária uma barraca coberta por 2 panos de lona de viaturas pesadas, onde costumavam dormir vários elementos das NT por não caberem todos nos abrigos, o que provocou a destruição de todo o material lá existente e iluminação das posições das NT.

02. REACÇÃO DAS NT

a) Das forças do destacamento

Após a surpresa inicial dos elementos que se encontravam fora dos abrigos correram para os mesmos e reagiram imediatamente ao ataque IN. Não obstante terem ficado sem o seu Comandante sem comunicações logo aos tiros iniciais, nunca perderam a calma e o moral, opondotenaz resistência aos intentos do IN. Refira-se que logo no inicio da reacção as NT atingiram com tiros de morteiro a guarnição IN do canhão s/recuo calando-o definitivamente, e cm determinada altura do ataque repeliram energicamente uma tentativa de penetração de elementos IN ao destacamento, que para o efeito haviam conseguido chegar junto da rede do arame farpado. Essa reacção feita só à base de tiros de espingarda G-3 e granadas de mão em virtude de se ter avariado o Lança Granadas Foguete, foi verdadeiramente eficaz e decisiva para o desenrolar dos acontecimentos, pois o IN foi obrigado a recuar deixando no terreno 3 mortos além de armamento e arrastado consigo outros elementos feridos e mortos.

O IN sempre perseguido pelo fogo das NT recuou cerca de 200 metros instalando-se entre SARE BANDA e SINCHÃ SÜTU donde continuou a flagelar o destacamento ate cerca das 22H30 (1 hora e 30 minutos depois do inicio do ataque) desistiu dos seus intentos retirando definitivamente.
b)-Das forças de GEBA/CART 1690Em virtude das péssimas condições atmosféricas não foram ouvidos em GEBA os rebentamentos de forma a poderem ter sido localizados. Refira-se ainda que o facto do destacamento de SARE BANDA ter ficado sem comunicações logo de inicio do ataque, só permitiu que em GEBA se tivesse conhecimento do sucedido cerca das 09H0209SET68 e através de 2 praças do destacamento que haviam vindo a pé voluntariamente comunicar a ocorrência.

Prontamente saiu de GEBA uma coluna de socorro que ao atingir SARE BANDA às 05H45 fez um reconhecimento nos arredores seguido de batida de madrugada, mas já não conseguindo contactar com o IN, que havia retirado na direcção de DARSALAME e se dirigindo para SINCHA JOBEL. RESULTADOS OBTIDOS Baixas sofridas pelo IN; 8 mortos confirmados. Muitos feridos sendo possível que hajam mais mortos devido aos rastos de sangue encontrados no carreiro de retirada do IN.

Material capturado ao IN:

- 1 Espingarda semi-automática "SIMONOV" cal. 7,62 mm
- 1 "Espingarda automática G-3 / 7,62 mm
- 1 Granadas de canhão s/recuo
- 2 "Granadas de lança-granadas foguete
- 1 Granadas de morteiro 82 mm
- 2 Granadas de mão OF. RG-4
- 8 Carregadores de Met. Lig.
- 2 Fitas de Met. Lig.
- 2 Facas de mato
- 2 Bolsas p/transporte de munições
- 2 Cantis
- Diversas Munições de armas aut.
- 1 Bolsa de medicamentos com o seguinte;
- 3 Streptomycin. Sulphite-ampolas de 5.000.000 (Frascos)
- 1 Éter (frasco)
- 1 Mercúrio cromo (frasco)
- 1 Bálsamo (frascos)
- 10 Injecções (desconhecidas em ampolas)
- 178 Aspirinas comprimidos (carteiras)
- 96 Madexposte em comprimidos
- 6 Chinim Sulfur (comp. emb. de 5)
- 5 Codemel (carteiras de 10 Comprimidos)
- 1 Adesivo (rolo)
- 1 Algodão cardado (maço)
- 1 Garrote
- 20 Ligaduras de gaze de 10 cm x 5cm
- 1 Seringa de plástico c/agulha

A. Marques Lopes
Alf Mil da CART 1690
____________
Notas de M.R.:

(*) Vd. também poste sobre esta matéria em:

28 Maio 2005 > Guiné 63/74 - XXVIII: Um ataque a Sare Banda (1968)

(**) Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4631: Controvérsias (31): Os Milicianos, combatentes de primeira, cidadãos de segunda (Vasco da Gama)

1. Mensagem de Vasco da Gama (*), ex-Cap Mil da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã, 1972/74, com data de 30 de Junho de 2009:

Camarada Editor Carlos Vinhal,

Junto envio texto bem como algumas fotos que serão por ti colocadas no desenrolar do escrito, ou no final. Sempre o pedido do periquito informático: Chegou o Texto e as Fotos?
Caro carlos, vou enviar, depois vejo as fotos e indico a legendagem.
Desculpa.
Abração
Vasco da Gama

P.S. Para além dos dois destinatários acima é costume, ou bom hábito, dar conhecimento aos outros dois Editores?


OS MILICIANOS (não só os Cabos), COMBATENTES DE PRIMEIRA, CIDADÃOS DE SEGUNDA.

Ao contrário do que já li, creio que o Post 4584 do nosso Camarada Libério Lopes, é deveras importante, bem como alguns dos comentários que se lhe seguiram, levantando uma questão pertinente e fazendo comparações que não têm nada de injustas.

As banalidades que hoje vou escrevinhar, quero-as mais abrangentes, pois como disse, o escrito do nosso camarada Libério, foi depois enriquecido com alguns comentários, abrindo desta forma a porta para que possa falar dos Milicianos em geral.

No que diz respeito aos Cabos Milicianos/Furriéis e face ao papel que desempenharam, primeiro na formação e instrução das Companhias, onde no caso concreto da minha CCav8351 foram de uma utilidade enorme, trabalhando em conjunto com os aspirantes, desempenhando alguns deles, na ausência dos aspirantes, exactamente as mesmas funções, eram discriminados nas regalias, vou chamar-lhes sociais e fundamentalmente no pagamento dos serviços que prestavam. Ignoro qual o fosso salarial entre um aspirante e um cabo miliciano, mas fosse qual fosse, era tremendamente injusto para a similitude dos papéis que desempenhavam na formação activa das Companhias e no enriquecimento do cimentar das relações de TODOS os elementos de uma Companhia. Mais tarde, na guerra, foram peças fulcrais na minha Companhia e presto-lhes a minha humilde homenagem. Também não sei a diferença salarial entre um alferes e um furriel, mas o funcionamento do sistema, na sua génese, tinha por bom criar uma separação entre as pessoas, para mais fácil utilização do argumento do galão em detrimento do diálogo inteligente. Felizmente, tive a sorte de ter um conjunto de furriéis que, pela sua excelência, em muito contribuíram para que e em face dos perigos que corremos, a nossa CCav 8351 não fosse mais fustigada por um número maior de baixas e que irmanados com os alferes com os soldados e comigo, constituíram uma equipa que se fosse de futebol lhe chamaria de “dream team”.

Não é por mero acaso que dois furriéis da minha Companhia foram graduados em alferes, sendo a dificuldade a da escolha. Ficaram de fora outros que dariam também excelentes alferes em qualquer Companhia.

Obrigado a todos, Camaradas e Amigos.

Caros Camaradas, também eu que fui Capitão Miliciano senti discriminação enquanto militar Miliciano tendo de engolir, contra todos os meus princípios, metade das respostas que alguns oficiais do quadro, nem todos, mereciam da minha parte face a medidas que tomavam num mapa muito grande, preenchido por alfinetes coloridos, debitando algumas baboseiras, do embosque aqui, assalte acolá, cambe o rio acoli, sem terem o mínimo conhecimento do terreno que nos obrigavam a pisar. Quão diferente é um quilómetro no mapa de um quilómetro no terreno, mas eles não sabiam disso; só conheciam o mapa, o terreno era para nós os MILICIANOS.

Quero ressalvar que esta minha exposição tem a ver com a realidade que eu vivi no comando da Companhia de Cavalaria 8351 e reporto-me a vivências pessoais nos matos do Cumbijã e de Nhacobá, sendo que este somatório de factos que relato não tem a ver com pessoas enquanto tal, mas com os cargos que desempenhavam.

Quantos oficiais profissionais me acompanharam, quando fui ocupar aquele imenso campo de minas que era então o desértico Cumbijã?

Foto 1 - O Cumbijã desértico, povoado de minas.

Quantos oficiais profissionais me acompanharam no assalto a Nhacobá?

Quantos oficiais profissionais estiveram presentes na operação “Lance Pertinente” em 1973 que tinha como objectivo, pasme-se, fazer um reconhecimento à Região do Unal? Eu estava de férias em Portugal, por isso e relativamente a esta operação fico-me por aqui, adiantando apenas que foram envolvidas cinco Companhias e centenas de carregadores que acarretavam bidons e paus à cabeça, para cambar determinado rio, sob chuva que caiu ininterruptamente durante vários dias. Cinco companhias camaradas no Teatro de operações! Quem as coordenou no terreno? Terá sido o Alferes da minha Companhia que marchou com o seu pelotão à frente desta operação de seu nome FLORIVALDO dos SANTOS ABUNDÂNCIO, apesar da presença de capitães milicianos na operação? Se não foi qual a razão de ter sido ele a elaborar o relatório? Ou ter um oficial profissional ido de Aldeia para o nosso Cumbijã e permanecido durante cinco dias já dava direito a louvor?

Foto 2 - Saída para o mato. O Alferes Abundâncio no meio do grupo de combate com a sua farfalhuda bigodeira.

É verdade que os alfinetes coloridos se enganaram no nome dos rios? E os rios que eram, para os alfinetes, simples fios de água, que tinham de ser atravessados com água pelo peito? O meu Camarada e Amigo Abundâncio, um destes dias, quando os afazeres profissionais lhe permitirem, escreverá sobre o assunto. Cabe aqui uma palavra de respeito, carinho e agradecimento ao Abundâncio, grande Homem grande Camarada e grande Amigo.

Quantos oficiais profissionais estiveram com OS TIGRES quando nos mataram o António Bento Boa? E o Victor Coelho? E o Fausto Costa? Todos estes meus companheiros foram mortos em combate em situações e dias diferentes.

Foto 3 - O Alferes Beires juntamente com outros camaradas, aparecendo à esquerda da foto com um balde na mão o nosso camarada Fausto Costa, morto em combate a 21 de Agosto de 1973.

Quanto recebem as famílias destes meus queridos camaradas de pensão? Sim, só falo em termos monetários, pois sobre o reconhecimento da sociedade para com eles estamos conversados!

Quanto recebem de reforma os meus camaradas feridos gravemente em combate evacuados para a então Metrópole?

Quanto recebe de reforma o nosso camarada Batista, membro do nosso Blogue, mais conhecido pelo morto-vivo?

Já agora, quanto recebe de reforma um qualquer coronel, que no meu tempo tinha a mesma patente que eu?

Houve oficiais profissionais que se distinguiram? Não posso dizer que não, mas esses não viveram nenhuma das situações que eu descrevi e que são as que conheço. Reafirmo o que já disse uma vez, agora com maior precisão: quem aguentou a guerra dos tiros, no mato que eu conheço, foi a tropa macaca a que eu me honro de ter pertencido.

Quero apenas ressalvar que a sacrificada Companhia do Guileje e de Gadamael Porto, a nossa irmã, CCav 8350, Os Piratas, quando foi para o Cumbijã a 29 de Novembro de 1973, era comandada na altura por um Capitão do Quadro Permanente o então Cap Rui Reis (nunca mais o vi), com quem sempre tive relações cordiais. O Cap Reis foi depois substituído pelo Cap Vieira, com quem me encontrei há dias, sendo hoje Coronel reformado. Para eles um abraço extensivo a todos Os Piratas de Guileje, que tiveram quatro ou cinco Comandantes de Companhia e que sofreram horrores no porrete da guerra, tendo ainda de aguentar com bocas que roçavam o enxovalho! Nas pessoas dos meus Amigos Manuel Reis, João Seabra e Casimiro Carvalho, as minhas homenagens a todos OS PIRATAS de GUILEJE.

Nem de propósito, num post da autoria do meu Amigo Santos Oliveira, com o número 4608 é relatado episódio que o envolve a ele e a um combatente natural da Guiné de seu nome João Bacar Djaló. O primeiro era furriel e o segundo alferes. Não o vou repetir, está lá tudo, preto no branco. Retiro apenas afirmações avulsas como “os graduados são sempre inferiores” ou “os nativos quando comandam tropas são sempre inferiores”!!! Também eu, que comandei como Miliciano uma Companhia, era graduado, logo capitão de segunda, logo chefe de um qualquer bando acoitado no arame farpado, só faltando dizer que tudo o que OS TIGRES fizeram se deveu aos estrategas de operações ou aos inteligentes do bem bom do ar condicionado. Claro que depois de ter servido como capitão, fui desgraduado e ao passar à disponibilidade, tive as exactas regalias de qualquer outro alferes. É o usar e deitar fora, apanágio das capelinhas que por aí pululam.

Foto 4 - Azambuja Martins, Vasco da Gama e o nosso homem da bianda, Xico Ferreira.

Foto 5 - Furriel Azambuja e Furriel Joaquim da Silva Costa em Nhacobá.

O que é premiado nesta sociedade que me vai consumindo?

O Mérito ou o Carreirismo?

O Valor ou o Oportunismo?

Os Sabedores ou os Seguidores?

Os Inteligentes ou os Bajuladores?

Responda quem souber, mas de uma coisa tenho a certeza:

Os meus queridos camaradas da 8351, independentemente do posto, tiveram na sua esmagadora maioria, Mérito, Valor, Sabedoria e Inteligência.

Numa sociedade em que quase todos se atropelam no afã da busca dos seus objectivos, numa sociedade onda ninguém agradece nada a ninguém, eu curvo-me perante todos eles, os mortos, os feridos e os que me acompanharam até ao dia do nosso regresso tanto mais, como alguém disse, NINGUÉM MORRE POR DOBRAR A COLUNA SEMPRE QUE ACHE NECESSÁRIO!

Honraram-me com o seu companheirismo, como hoje me honram ao convidarem-me para o casamento dos filhos, para o baptizado dos netos ou para as comezainas em casa deste ou daquele.

Emblema da CCAV 8351 "Os Tigres de Cumbijã", que tinha como divisa ET PLURIBUS UNUM

Texto e fotos: © Vasco da Gama (2009). Direitos reservados


Um Abraço do Tigre
Vasco Augusto Rodrigues da Gama
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4532: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (III): Desertores

Vd. último episódio da série de 30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4614: Controvérsias (23): Milicianos… eram os peões das nicas! (Jorge Teixeira)