quinta-feira, 14 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8101: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (2): Como o tempo passa! ... (Rui Felício, CCAÇ 2405, Galomaro e Dulombi, 1968/70)

1. Mensagem do nosso camarada Rui Felício, ex- Alf Mil, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Galomaro e Dulombi, 1968/70) [Juntamente com o Paulo Raposo, o Victor David e o Jorge Rijo, o Rui faz(ia) parte dos famosos Baixinhos de Dulombi, os quatro alferes milicianos da CCAÇ 2405]. Jurista, vive em Lisboa. Conhecemo-nos no I Encontro Nacional do nosso blogue, na Ameira, Montemor o Novo, em 14 de Outubro de 2006.




Data: 11 de Abril de 2011 12:18


Assunto: Re: 7º aniversário do nosso blogue > 23 de Abril de 2011


Caro Luís Graça,


O tempo passa... Não me tinha apercebido que o teu blog já conta 7 anos!


Parabéns pelo excelente trabalho de organização que tens desenvolvido, com a prestimosa dedicação de alguns eficientes colaboradores que dão a esta publicação um lugar de topo na recordação de uma fase incipiente da vida da nossa geração. Que nos acompanhará sempre, que jamais se desvanecerá da nossa memória, enquanto por cá andarmos.


E que,  a esse desiderato, adiciona o mérito, não menos importante, de lembrar às gerações posteriores que a guerra de África foi mais do que um simples conflito armado com todos os males que qualquer guerra traz. Foi, sobretudo, a descoberta da solidariedade que, por vezes escondida, nos momentos difíceis se revelava e animava os jovens desterrados nos confins da selva.


Foi também o conhecimento de outros povos, de outras culturas, de outras mentalidades.
Com os quais partilhámos o nosso conhecimento e de quem obtivemos a sabedoria que não vem nos livros.


Um abraço
Rui Felício




Escrito e Lido é o Blogue do nosso camarada Rui Felício. Desde 1 de Dezembro de 2010. "Episódios que são sementes da vida"... Já sabíamos, do nosso blogue, que ele era um exímio contador de histórias... Infelizmente, não tem aparecido, nos últimos anos... Temos no nosso blogue (I e II Série) alguns das suas estórias de Dulombi que merecem figurar numa futura antologia do nosso blogue... Aqui ficam os links e algumas deixas...




9 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXIX: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (1): O nosso vagomestre Cabral


(...) O Natal aproximava-se… Antes da data prevista, chegara-nos um presente inesperado! Um periquito…. O furriel Cabral foi-nos mandado para substituir o furriel vagomestre, uns meses antes falecido em acidente de viação na estrada de Galomaro-Bafatá numa viagem de reabastecimento de viveres à nossa Companhia… O Cabral era uma jóia de pessoa, simpatiquíssimo, um tanto ingénuo e crédulo, sempre bem disposto e que rapidamente granjeou a estima de todos. (...)


14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVII: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (2): O voo incandescente do Jagudi sobre Madina Xaquili


(...) Ao cair da tarde, com a luz alaranjada do sol a começar a esconder-se na linha do horizonte poente, o Paulo Raposo, alferes da CCAÇ 2405, de quem guardo as mais pistorescas histórias, estava sentado perto do bunker do Capitão, com o olhar fixo num ponto afastado a sul do aquartelamento, perto do arame farpado. Aproximei-me e comentei:
- Eh, pá, não estejas a pensar na morte da bezerra… Já faltou mais e não tarda estaremos em Lisboa a beber umas imperiais e a olhar as bajudas brancas que por lá abundam. (...)


19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXL: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (3): O dia em que o homem foi à lua


(...) 20 de Julho de 1969. Era domingo… Durante todo o dia a rádio ia noticiando a chegada do homem à Lua… A célebre frase do astronauta afirmando que o passo que acabara de dar em solo lunar era um passo de gigante para a humanidade, era escutada repetidamente nos pequenos transístores que nos mantinham ligados ao mundo. Claro que não havia televisão na Guiné e, mesmo que houvesse, jamais seria vista em Samba Cumbera, pequena tabanca onde a luz nos era fornecida através de garrafas de cerveja cheias de petróleo, nas quais se embebiam torcidas de desperdício que, depois de acesas, nos enchiam os pulmões de fuligem e fumo. (...)


5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço


(...) Daí a poucos dias íamos finalmente embarcar em Bissau no Carvalho Araújo para o ansiado regresso… Tínhamos acabado de receber no Dulombi a Companhia de atónitos periquitos que, durante uma semana, iam ficar em sobreposição connosco. Acolhemo-los com o aquele ar superior de guerreiros invencíveis, calejados pelos combates, a pele tisnada dos sóis tropicais, e além das costumadas praxes, meio inofensivas, que exercemos sobre eles, dedicámos-lhes, com a proverbial simpatia característica dos Baixinhos do Dulombi, um hino de recepção ao periquito que ainda hoje cantamos em todos os almoços anuais de comemoração que realizamos. (...)


18 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1085: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (5): O improvisado fato de banho do Alferes Parrot na piscina do QG


(...) Já de si, o apelido originário da ascendência estrangeira da sua Família, o tornava notado. A sua invulgar estatura de quase dois metros, os olhos salientes, o cabelo arruivado, a pele branca e sardenta e o corpo magro, longilíneo e desengonçado, completavam a estranha figura propicia ao sorriso e aos mais díspares comentários. Falo do Parrot, que conheci em Mafra e que fez parte do meu pelotão do 1º Ciclo do COM da incorporação de Abril de 1967. Não era fácil, porém, tirar o Parrot da sua fleumática postura de não te rales, por mais provocações que se lhe tentassem fazer. Ele era a calma personificada, e senhor de uma inteligência fora do comum. (...)


27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1217: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (6): Sinchã Lomá, o Spínola e o alferes que não era parvo de todo


(...) Sinchã Lomá é uma pequena tabanca a Sudoeste de Dulo Gengele e esta por sua vez fica a Sul de Pate Gibel. Quando a CCAÇ 2405 chegou a Galomaro, destacou três dos seus Grupos de Combate para regiões circundantes da sede da Companhia com a missão de marcar posição no terreno e fazer ao mesmo tempo uma espécie de guarda avançada para protecção da Companhia. A mim, coube-me ir para Pate Gibel, a tabanca mais a sul de Galomaro. (...)


8 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1352: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405)(7): Perigos vários, a divisa dos Baixinhos de Dulombi (Rui Felício)


(...) No terço final da comissão, com a Companhia finalmente concentrada no Dulombi, pensou-se em encontrar um emblema e uma divisa para a nossa Unidade. Não deveríamos deixar acabar a comissão sem legar aos vindouros um símbolo que nos identificasse, tal como a maioria das outras unidades já o tinham feito. Acolhida a ideia, estabeleceu-se um período de tempo para que fossem apresentados projectos para futura escolha daquele que merecesse o consenso geral. E assim surgiram meia dúzia de ideias para a o emblema da Companhia. (...)


30 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2073: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (8): O Fula, a galinha e o vestido


(...) Galomaro, Maio de 1981. Passados 11 anos após o regresso da CCAÇ 2405, retornei à Guiné, em 1981, naturalmente já civil, e passei alguns dias em Galomaro onde esteve sediada a Companhia antes da sua deslocação final para o Dulombi. Percorri, de jeep ou de bicicleta, toda aquela região que tão bem conheci por força dos patrulhamentos militares efectuados entre 1968 e 1970. (...)


26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2683: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (9): O Jorge Félix e o Prisioneiro


(...) Num certo dia de Agosto de 1969, o Jorge Félix transportou no seu helicóptero um grupo de paraquedistas que iam fazer um assalto, a uma base do PAIGC, identificada pelos serviços de informações militares da Guiné, como estando localizada na região de Galomaro. Ao procurar local para a aterragem perto do objectivo, em plena mata, o Jorge Félix foi descendo o helicóptero e, a uns 5 metros do chão, a deslocação de ar provocada pelo movimento das pás do aparelho, afastou uma série de ramos de arbustos deixando a descoberto um guerrilheiro do PAIGC que ali se havia emboscado. O homem estava armado com um RPG7, e a granada colocada, apontando para o helicóptero, o que naturalmente deixou em pânico o piloto e os tripulantes. (...).
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Nota do editor:


Vd. poste anterior da série > 13 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8091: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (1): Um Oscar Bravo (OBrigado) a quem nos visita, lê, comenta, divulga, alimenta, critica, incentiva, avalia, escrutina, ajuda a crescer e a melhorar... A todos os autores, comentadores, leitores, a todos/as os/as amigos/as, camaradas e camarigos/as da Guiné (A equipa editorial)


(...) Em qualquer dos casos, aqui fica o apelo, aos resistentes, aos resilientes, aos sobreviventes, aos bravos da Guiné: Ajudem-nos a todos nós, editores, colaboradores permanentes e autores, a fazer "mais e melhor"... E sobretudo, tragam caras novas, histórias novas, fotos novas (do "baú velho")... E a quem ainda tem pachorra de ir visitar o nosso blogue, uma ou até mais vezes por dia, o nosso Oscar Bravo!!! (...)

Guiné 63/74 - P8100: Álbum fotográfico do Florimundo Rocha, ex-sold cond auto (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74) (Parte I)




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacameto da Ponte de Caium > 1973 > Regresso da ida á lenha, de "burrinho" (Unimog 411) com atrelado. Foi esta viatuarque caiu na zona da morte da emboscada do dia 14/6/1973, tendo morrido 4 dos seus cinco ocupantes (salvou-se o condutor,o Rocha) (*).




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte Caium > 1973 > O Rocha na Tabanca de Sinchã Tumane, nos arredores.





Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte Caium >  1973 > O Carlos Alexandre e o Rocha no varandim tabuleiro da ponte.

Legendas do Carlos Alexandre
Fotos: © Florimundo Rocha (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.





1. As fotos foram-nos enviadas pela Susana Rocha, filha do nosso camarada Florimundo (ou Flor, como é carinhosamente conhecido em Lagoa, sua terra natal) Rocha... Foram editadas por nós. Alguns estão em mau estado de conservação. As legendas foram completadas com a ajuda do Carlos Alexandre, de Peniche, ex-sold trms, ao tempo em que o Rocha e o Jacinto Cristina estiveram na Ponte Caium... Os três são membros da nossa Tabanca Grande.

Eis aqui a resposta ao meu mail, com data de 12 do corrente:


Luís,  boa noite. Relativamente às fotos enviadas pela filha do Rocha, só uma é mais dificil de analisar dado o seu mau estado, mas julgo não me enganar na identificação das suas personagens. 


A foto que nos mostra o regresso com a lenha [, uma secção do 3º Gr Comb, Os fantasmas do leste, que estava destacado da Ponte de Caium], temos o Rocha a conduzir. A seu lado o Ribeiro (o companheiro que desventrava e tratava a carne das caçadas ). Atrás do Rocha está o Silva, que na altura era sonâmbulo.


Atrás do Silva,  o Cristina, claro o nosso padeiro, só o consegui identificar depois de ampliar a fotografia. A seu lado,  o Pereira, que é natural de uma aldeia perto do Pinhão, foi identificado pelo Barbeiro, um companheiro, que tambem conhece o blogue, com quem mantenho uma relação mais próxima, falamos pelo telefone, e estamos sempre juntos nos encontros do batalhão (E neste caso eles vivem perto um do outro).


Atrás do Silva e de bigode, o Gordinho. Atrás do Gordinho,  o José Alberto, de que só se vê a cabeça. (É cmpanheiro de alguns encontros do batalhão, vive em Vidago).


O companheiro no cimo da lenha, [no atrelado,] onde a foto está em piores condições, tenho mais dificuldade em identificar, mas é concerteza o Chaves, companheiro que não vejo desde África.


A foto em que o Rocha está sozinho foi tirada na aldeia de Sinchã Tumane.


A outra sou de facto eu e o Rocha no varandim do tabuleiro da ponte. Julgo ter sido tirada antes da emboscada em 1973 (*), já que o casaco fino que uso só esteve em África até às minhas férias, altura em que se deu o triste acidente. Aliás as três foram tiradas em 1973.


Espero ter sido preciso, e ajudado na identificação do pessoal. e no que fôr necessario estarei ao dispõr para responder ao que souber e puder.


Um abraço. Carlos Alexandre

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 7 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8061: (De)Caras (7): Reconstituição da emboscada do dia 14/6/73, a 3 Km de Piche, pelo sold cond auto Florimundo Rocha (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74), o único sobrevivente do Unimog 411

Guiné 63/74 - P8099: Convívios (311): Reencontro ao fim de 41 anos (Carlos Pinheiro)

1. Mensagem de Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro* (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 13 de Abril de 2011:

Camarigo Carlos Vinhal
Tenho acompanhado o blogue com todo o interesse, mas a pachorra para escrever tem faltado.

Porém, recentemente tive oportunidade de reencontrar o meu Comandante da Guiné, o Comandante do Destacamento do STM, o então Capitão Bento Soares, hoje General na Reforma, ao fim destes anos todos.

Foi um reencontro muito sentido por todos, como aliás descrevo no artigo que anexo.

Se entenderes oportuno a sua publicação, estás perfeitamente à vontade como sempre.

Quanto à fotografia incluída no texto, se a conseguires reduzir, talvez fique melhor. Mas dessas técnicas sabes tu.

Aproveito para perguntar se ainda há vagas para Monte Real, porque também lá queria ir este ano, para começar.

Um abraço
Carlos Pinheiro


O reencontro ao fim de 41 anos

Se há períodos da vida que nunca esquecemos, nós os que estivemos na guerra de África, por muito que o tempo vá passando, mesmo assim nunca se esquecem esses tempos, as nossas missões, os nossos camaradas e quem nos comandou.

Já passaram quarenta e um anos desde que em Novembro de 1968 me apresentei, voluntariamente, no Destacamento do STM no CTIG em Bissau. Andava por ali à sorte. Tinha ido em rendição individual e o meu Batalhão, o BCAÇ 1911, tinha vindo no mesmo barco em que eu tinha ido, o UIGE. Enfim, estava “desempregado” logo à chegada.

Como já tinha alguma experiência do STM, tinha estado alguns meses no QG/II RM em Tomar, apresentei-me no STM oferecendo-me para trabalhar naquilo que eu já sabia.

Era Comandante do Destacamento o então jovem Capitão Bento Soares que, depois da minha apresentação, deu ordem para fosse chamado, dos Adidos, para o seu Serviço.

Os tempos passaram, cada um foi à sua vida e agora, passados os tais quarenta e um anos, conseguimos voltar à fala, neste caso à escrita, através da Internet e lá nos encontrámos ao fim destes anos todos.

Foi no dia 22 de Março. O local foi o Retiro da Águia, no Falagueiro, freguesia da Asseiceira, concelho de Tomar, onde previamente tínhamos marcado uma lampreia devidamente confeccionada e condimentada e que por aquele lados é pescada no Nabão.


Para além do agora General, na Reforma, João Afonso Bento Soares e de mim próprio, ex-1.º Cabo, serviram de testemunha deste reencontro o Ten Cor Pára-quedista, Albano Figueiredo e o ex-Fur Mil Eduardo Galamba, todos expedicionários naquele tempo, naquelas terras da Guiné.

O pitéu estava muito bem elaborado, aliás como é hábito e tradição daquela casa. O vinho que serviu de acompanhamento, verde tinto da Adega de Amarante, correspondeu também às expectativas.

Depois foi o desenrolar de recordações através da memória de todos, mas também com a visualização dos vários álbuns fotográficos que todos, mais ou menos religiosamente, guardam e que nestes momentos nos fazem recordar momentos, locais e acima de tudo as pessoas, os nossos camaradas, que ali passaram mais de dois anos nas então chamadas comissões de serviço.

Como foi bom recordar tempos passados, trabalhos conseguidos, e convívios vividos. Mas através das tais fotografias também recordámos, com muita saudade, os camaradas que já nos deixaram. No nosso caso, foram ali recordados com muito respeito pelas suas memórias, o Pereira de Fafe e o Sá da Arrifana, este último que já nos deixou neste ano de 2011, com quem trabalhámos dias e noites sem fim.

Mas porque já não temos tempo para deixarmos passar outros quarenta e um anos sem nos voltarmos a ver, ficou logo ali marcado outro convívio gastronómico, ainda sem data marcada, à base de enguias grelhadas, fritas ou de ensopado, e mais uma febra para o Galamba que continua arredado de qualquer tipo de peixe, mas certamente antes do Verão, cujo combate decorrerá, em princípio, na terra do General Sem Medo, o Boquilobo, freguesia da Brogueira, concelho de Torres Novas, onde certamente também teremos oportunidade de visitar a Casa Memorial de Humberto Delgado, que ali está patente ao público.

De facto é salutar e gratificante, ao fim de tantos anos, camaradas de armas, com posições completamente distintas, mas todos empenhados no mesmo fim, voltarem a encontrar-se, recordando histórias já com muitas barbas bem compridas, que no final de contas marcaram, e de que maneira, as nossas vidas.

Só quem passou por elas é que pode avaliar como estes momentos são únicos e indescritíveis.
Que venha o próximo encontro em breve.
Carlos Pinheiro
13.04.11
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7467: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (8): Noite de Natal de 1969 em Bissau (Carlos Pinheiro)

Vd. último poste da série de 14 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8097: Convívios (225): 11º Encontro da Tabanca do Centro, dia 27 de Abril de 2011 em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P8098: Parabéns a você (244): Jorge Picado agradece à Tertúlia

1. Mensagem de Jorge Picado (ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 13 de Abril de 2011:

Amigo Carlos Vinhal
Vejamos se desta vez consigo responder-te, sem que algum dos meus filhos me requisite para "trabalho não programado e urgente".

Como (in)subordinado, mas amigo de verdade, além de te agradecer desde já, aqui te envio mais uma prendinha.
Como sei no entanto que o trabalho não te falta, já que és um acumulador de "tachos insaciável", vão apenas umas poucas palavrinhas que publicarás quando houver disponibilidade.


Mansabá, Messe dos Oficiais, 11 de Abril de 1971 > O Cap Mil Jorge Picado, CMDT da CART 2732,  festejou assim o seu 34.º aniversário. Vê-mo-lo de pé à frente da coluna. Ainda pertencentes à "2732", também de pé, à esquerda, o ex-Alf Mil Nunes Bento e à direita o ex-Alf Mil Oliveira Rodrigues. Em primeiro plano, sentado à esquerda, o ex-Alf Mil Manuel Casal. Desconheço quando e como acabou a noite.
Foto de Jorge Picado
Legenda de Carlos Vinhal. Com o devido respeito a Vossa Senhoria, meu Capitão.


Agradecimento

Caríssimo(a)s Camarigo(a)s
É com profunda gratidão que venho agradecer a todos que tiveram a gentileza de me endereçar os parabéns pelas minhas "risonhas 74 primaveras".

É claro que enquanto celebrar aniversários, não deixarei de comemorar "primaveras", já que entramos há pouco tempo nesta "estação". Mas quanto a anos, aí o caso muda de figura, pois já nem de "outonos" de trata, mas na verdade são "invernos".

Meus querido(a)s amigo(a)s, para não cometer o erro de olvidar algum de vós, perdoem-me, mas não especificarei os vossos nomes, salvo as seguintes excepções que espero compreendam.

Em primeiro lugar às senhoras, D. Filomena Sampaio e D. Felismina Costa que não conheço pessoalmente, mas apenas dos seus escrito, já que quanto a "um dos anjos que descia do céu" lá na Guiné, e de que eu felizmente nunca precisei, conheci em Monte Real. Trata-se da Giselda Pessoa.

Por sua vez um agradecimento especial ao "cartoonista de serviço permanente da Tabanca Grande", já que há outos camarigos igualmente habilidosos para as artes gráficas, mas refiro-me ao "aéreo-strelado" Miguel Pessoa, que muito me favoreceu no "postal". Até pareço um "menino e moço"...

Cá o "Kota", ficou muito emocionado e sensibilizado com o que disseram e o vosso gesto, podem crer, e cada vez mais orgulhoso de pertencer a esta Grande Família de Veteranos da Guiné.

Muito obrigado.
Abraço-vos com muita amizade.
Jorge Picado
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8094: Parabéns a você (243): Luís Faria, ex-Fur Mil da CCAÇ 2791 (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P8097: Convívios (310): 11º Encontro da Tabanca do Centro, dia 27 de Abril de 2011 em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

11º ENCONTRO DA TABANCA DO CENTRO

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O 11º Encontro da Tabanca do Centro vai ter lugar no dia 27 de Abril, pelas 13 horas e 30 minutos, na Pensão Montanha, em Monte Real.


Porque nos pediram para mudar a ementa, desta vez o almoço será ... Cozido à Portuguesa!


O local de reunião, será como sempre no Café Central de Monte Real, pelas 13 horas.


As inscrições devem ser feitas até às 12 horas e 30 minutos aqui na caixa de comentários, ou por tabanca.centro@gmail.com do dia 25 de Abril, impreterivelmente.


Insisto que temos de dar destino aos dinheiros já existentes, para apoio exclusivo a ex-combatentes.



Nota:

A fotografia é do Miguel Pessoa e retrata o verdadeiro "cozido à portuguesa" da Preciosa!

Para que não haja dúvidas!
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Notas de CV:

- Poste transposto a partir do Blogue da Tabanca do Centro, com a devida vénia

Vd. último poste da série de 12 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8090: Convívios (225): Lampreiada, visita ao aproveitamento hidroeléctrico de Crestuma-Lever e não só, 30 de Abril (António Carvalho)

Guiné 63/74 - P8096: Em busca de... (158): Manuel Lino Sabino, procura notícias do pessoal da sua Companhia de Polícia Militar 3100 (Sousa de Castro)




1. O nosso Camarada Sousa de Castro, que foi 1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74, enviou-nos em 12 de Abril, o seguinte apêlo.



Camarigos,
A filha de um ex-Combatente - Manuela Sabino -, procura notícias do pessoal que pertenceu à companhia de seu pai - Manuel Lino Sabino -, que pertenceu à Companhia de Polícia Militar 3100.
Acabou a sua comissão em 10-11-1973, tinha o Número Mecanográfico: 020340/71 e era PM/CA.
Sendo assim peço que divulguem as fotos que ela me enviou, pois é possível que apareça alguém que se lembre dele e o reconheça.
Cumprimentos,
Sousa de Castro
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Nota de M.R.:
Vd. o último poste desta série em:
27 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7874: Em busca de... (157): Camaradas da CART 3567 (António J. Pereira da Costa)

Guiné 63/74 - P8095: FAP (64): Procuro informações sobre o meu avô, 1º Cabo MMA, Fernando Ferreira Martins (Bissalanca, AB2, 1963/1964), morto em acidente em 26/3/1964 (João Martins)



Guiné > Bissau > Bissalanca > AB2 (Aeródromo base nº 2) > 1964 (?) > O 1º Cabo MMA  Fernando Ferreira Martins na messe (JM),  edifício nº 1041






Guiné > Bissau > 1964 (?) > A "casa desconhecida", diz o João Martins... "Casa onde o meu avô possivelmente viveu"... [Já agora, caros leitores, que marca será a deste carro ? E já agora, modelo e ano... A matrícula é da Guiné... Mercedes, provavelmente modelo 170, dos anos cinquenta, diz o Zé Manel Dinis, que é perito em carros antigos... E eu ia a jurar que era um... Ford!]





Guiné > Bissau > Bissalanca > AB2 (Aeródromo base nº 2) > 1964 (?) > O 1º Cabo MMA  Fernando Ferreira Martins com mais 3 camaradas... [ Peço aos camaradas da FAP para identificar as aeronaves... Dakota, segundo o Jorge Narciso. Cabeça a minha, já não me lembrava!]


Guiné > Bissau > Bissalanca > AB2 (Aeródromo base nº 2) > 1964 (?) > Mais uma foto do nosso 1º Cabo MMA  Martins na pista de aviação ...[ Peço aos camaradas da FAP para identificar as aeronaves... T 6 Harvard, segundo o Jorge Narciso ]



Guiné > Bissau > Bissalanca > AB2 (Aeródromo base nº 2) > 1964 (?) >  Capa da caderneta de voo do nosso 1º Cabo MMA Fernando Ferreira Martins


Guiné > Bissau > Bissalanca > AB2 (Aeródromo base nº 2) > Caderneta de voo > Março de 1964 >  O último voo (registado) do 1º Cabo MMA Martins foi a 24 de Março de 1964, em Heli Alouette, nº de matrícula 9206, como mecânico. Missão: local. Duração: 20 minutos. Total de tempo de voo: 256 h 35 m (como mecânico), mais 2h 10m como passageiro...  Se este foi o seu último, o acidente de serviço que o vitimou terá sido em terra... Um ponto por esclarecer... Nesse mês voou também em Avioneta Auster, como  MMA. Pelo total de horas regitado na caderneta, o Martins deve ter ido para o TO da Guiné em 1963.



Guiné > Bissau > Bissalanca > AB2 (Aeródromo base nº 2) > 1964 (?) > Folha nº 18 da Caderneta de voo onde o Comandante do Agrupamento Operacional escreveu: "Encerra-se a presente caderneta em virtude de o seu titular ter falecido em serviço no dia 26 [e não 20] Março 64. O.S. n~73 de 27 de Março 64 do AB2. Quartel em Bissalanca, 20 de Maio 64. O Comandante do Agrup Operacional". (Se se ampliar a imagem, verifica-se que a data do acidente em serviço foi 26 e não 20 de Março de 1964).



Guiné > Bissau (?) > Arredores > O 1~Cabo MMA Martins, na 2º fila, o primeiro a contar da direita para a esquerda, mais 3 camaradas,  junto a um grupo da população local (mulheres e crianças). Estando os 4 camaradas à civil, tudo indica que a foto tenha sido tirada em Bissau ou arredores.




Guiné > Bissau >  1964 (?) >  Da direita para a esquerda, o Fernando Ferreira Martins mais os seus três amigos (cuja identidade se desconhece)... Diz o nosso camarada Arménio Estorninho, que esta foto apresentada foi tirada na Praça Teixeira Pinto, em Bissau e tendo como fundo a Mata Teixeira Pinto "que era um Parque de Lazer" 




Guiné > Bissau >  1964 (?) >  O Fernando Ferreira Martins (o segundo a contar da direita para a esquerda) na Praça Honório Barreto (se não me engano...)



Guiné > Bissau (?)  >  Arredores > 1964 (?) >  Da direita para a esquerda, o Fernando Ferreira Martins  é o terceiro 


Legendas: J.M. / L.G. Fotos editadas por L.G.


Fotos: © João Martins (2011). Todos os direitos reservados  





1. Mensagem de João Martins:



Data - Terça-feira, 12 de Abril de 2011 11:32

Assunto - 
Fernando Martins - Bissau 64

Caro Luís Graça,

Espero que este email o encontre bem. Chamo-me João Martins e descobri o seu Blog através do meu pai, que já tinha navegado por alguns blogs sobre a Guiné em busca de mais informação. 

O meu pai não esteve lá, mas o pai dele e meu avô - Fernando Ferreira Martins -, esteve.Segundo os registos faleceu lá a 20 de Março 1964 num acidente com um Alouette, era mecânico da FAP. 

Segundo percebi, toda esta situação foi um pouco "abafada",  não se percebendo bem o que aconteceu. Na sua juventude, o meu pai procurou mais alguma informação mas nunca chegou a conseguir saber o que teria realmente acontecido.

Bem, talvez por ironia do destino, estou a concluir os meus estudos na área do pós-conflito e irei na próxima semana fazer investigação para o Bairro do Quelele, em Bissau (tentar perceber qual a evolução desde a guerra de 98/99). Como estou lá, tinha todo o gosto em conseguir pelo menos descobrir a casa onde o meu avô viveu, e possivelmente o local do acidente...Gostava de ir lá. Certamente, compreende o que digo. 

Obviamente que todas e quaisquer informações adicionais que conseguisse descobrir seriam muito bem recebidas! Embora nunca tenham remexido muito no assunto, creio que tanto o meu pai como a minha avó ficariam muito contentes por poderem saber mais novidades.

Assim, vinha-lhe pedir ajuda. Tenho noção que provavelmente não me a conseguirá dar, mas tinha que tentar. Envio-lhe em anexo a digitalização da caderneta de voo, com as duas últimas páginas, que relatam os últimos voos e a notícia do falecimento (poderá reparar que o último voo é datado de dia 24 e o falecimento de dia 20 ...). 

Envio também algumas fotos em que aparece o meu avô e outras em que aparece juntamente com 3 camaradas que aparecem sempre com ele em todas as fotos. Aparecem sempre os 4 juntos, não sei quem são, mas tenho a certeza que eram muito chegados.  

Agradeço desde já a atenção dispensada.

Os melhores cumprimentos,

João


2. Comentário de L.G.:

Fico sensibilizado pelo seu gesto,  não só por procurar conhecer melhor as circunstâncias em que morreu o seu avô, e nosso camarada,  Fernando Ferreira Martins,  mas também  por vir "bater à porta" da nossa Tabanca Grande...

Além de publicar a sua mensagem e as fotos que nos mandou, iremos fazer um apelo,sobretudo aos nossos camaradas da Força Aérea, que integram a nossa Tabanca Grande bem como o blogue Especialistas da BA12 Guiné 65/74, fundado e superiormente dirigido por Victor Barata. Outra fonte importante é o portal UltramarTerraweb, também ligado aos veteranos da guerra do ultramar,

Ora, segundo a valiosa informação recolhida, analisada, sistematizada  e divulgada pelo veterano J. C. Abreu dos Santos, sob a forma de ficheiro em pdf, datado de 1 de Fevereiro de 2010,  relativo aos Militares Mortos em Serviços > FAP - Pilotos e especialistas > De 12 de Abril de 1959 a 14 de Novembro de 1975, disponível no portal Ultramar Terraweb,  o seu avô era  1º Cabo MMA  [Mecânico de Manutenção Aérea] e estava colocada no TO da Guiné, no AB2 [Aeródromo Base nº 2, em Bissalanca, que daria depois lugar à BA 12 - Base Aérea nº 12, em 1965]. Estava afecto aos Helicópteros Alouette III e morreu a 26/3/1964 [e não a 20], por acidente,  ocorrido a  "2km sul de Bissalanca" (sic)... 


Sobre as circunstâncias do acidente, há a seguinte informação muito sucinta, lacónica, no citado documento: "Caiu  [o heli ?] a 1,5 m e rotor atingiu os ocupantes" (sic). Neste acidente terá morrido também o  2º Srgt MMA Alexandre Manuel Ramalho de Matos, natural de Estremoz.  Se os dois (o seu avô e o 2º sargento) eram "ocupantes", isso quererá dizer que o acidente ocorreu durante um voo... Mas, nesse caso, o que terá acontecido ao piloto ? E o que faziam dois mecânicos, um cabo e um sargento, no mesmo Alouette ? 

No Blogue Especialistas da BA12 Guiné 65/74, numa pesquisa rápida, não encontrei informação sobre este acidente nem sobre as duas (pelo menos) vítimas mortais. Vou pedir ao nosso camarada e amigo Victor Barata os seus bons ofícios para que divulge, no seu blogue, este poste, incluindo a sua mensagem e as fotos do seu avô (e dos seus amigos e camaradas).

Desejo-lhe boa sorte para o seu trabalho de campo, em Bissau, no bairro de Quelelé (onde temos amigos). Tem aqui o mapa da ilha de Bissau, de 1949 (Escala 1/50000)... Claro que houve muitas mudanças depois disso, hoje Bissau está (quase) irreconhecível... Já agora diga-me qual é a sua formação académica de base: sociologia, antropologia, ciência política ?... 

Receba um Alfa Bravo (ABraço) de todos nós,  membros desta Tabanca Grande. E a propósito, fica convidado para se juntar esta comunidade de antigos combatentes (e amigos da Guiné) que partilham aqui histórias, memórias e afectos. Luís Graça

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Nota do editor


 Último poste da série > 3 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7892: FAP (63): Ainda a propósito do malogrado Fur Mil Pil Frederico Vidal (1943-1964) (Manuel Amante / Carlos Cordeiro)

Guiné 63/74 - P8094: Parabéns a você (243): Luís Faria, ex-Fur Mil da CCAÇ 2791 (Tertúlia / Editores)


PARABÉNS A VOCÊ

14 DE ABRIL DE 2011

LUÍS FARIA

Caro camarada Luís Faria*, a Tabanca Grande solidariza-se contigo nesta data festiva.

Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia, desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.
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Notas de CV:

- Postal de aniversário de autoria de Miguel Pessoa

- (*) Luís Faria foi Fur Mil Inf MA na CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72

- Vd. último poste da série de 11 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8080: Parabéns a você (242): Agradecimentos de Rosa Serra, Joaquim Mexia Alves e José Eduardo Reis

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8093: Notas de leitura (228): Poemas, de Artur Augusto da Silva (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Abril de 2011:

Queridos amigos,

Era indispensável registar no nosso roteiro cultural luso-guineense o advogado Artur Augusto da Silva que conheci, aí pelos 20 anos, na leitura de uma monografia sobre o artista modernista António Soares, de quem tenho um belo desenho dos anos 30.

 Curiosamente, Artur Augusto da Silva também escreveu sobre Jorge Barradas, outra das minhas devoções modernistas. Esta edição de Bissau, a que aqui se faz referência, comporta uma fieira de pérolas onde se enlaçam a língua portuguesa e diferentes exaltações guineenses. É só comprovar.

Agora, vou resumir o que sobre a Guiné-Bissau escreveu Pedro Rosa Mendes numa edição especial da Visão “África 30 anos depois”.

Um abraço do
Mário


Artur Augusto (da Silva), poeta luso-guineense

Beja Santos

Artur Augusto da Silva (1912-1983), nasceu na Ilha Brava (Cabo Verde) e passou a sua infância e adolescência entre Portugal e a Guiné. Após ter concluído o curso de Direito, em Lisboa, partiu para Angola, onde permaneceu alguns anos, entre o final dos anos 30 e início dos anos 40, tendo-se radicado na Guiné no final dessa década nas letras, como consta da sua bibliografia, escreveu poesia, romance e ensaio, sobretudo monografias de artistas portugueses. Frequentou em Lisboa os meios intelectuais do modernismo e conviveu com figuras da música da pintura e da literatura como Luís de Freitas Branco, Eduardo Malta e António Botto. Por exemplo Luís Dourdill é autor da capa do seu romance A Grande Aventura (1941).

Na Guiné, manteve-se extremamente activo, tendo participado na fundação do colégio-liceu de Bissau e Centro de Estudos da Guiné Portuguesa onde publicou alguns trabalhos ainda hoje não superados sobre usos e costumes de Fulas, Felupes e Mandingas. Entrou em litígio com as autoridades por ser defensor de várias dezenas de guineenses acusados de sedição e, em 1966, proibido de regressar à Guiné. Regressou a Bissau depois da independência do país e foi juiz no Supremo Tribunal de Justiça e professor de Direito Consuetudinário na Escola de Direito de Bissau.

“E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu poemas” é uma edição póstuma que ficou a cargo do Centro Cultural Português na Guiné-Bissau (Dezembro de 1997), e o levantamento poético ficou a cargo de Carlos Schwartz da Silva (Pepito), seu filho e nosso confrade no blogue.




Artur Augusto da Silva e Clara Schwarz a subir o Chiado (fotografia do blogue)


É autor de poemas solares, das reminiscências da infância, dos valores telúricos, neles circulam o sangue da lusofonia em toda a sua plenitude, a luxuriante vertigem das paisagens tropicais, a exaltação etnográfica e etnológica. Nenhum poeta luso-guineense é tão caprichoso no uso da língua portuguesa, nela vazando, por formas glorificadas, as gentes e a natureza guineense.

É uma escassa colectânea de poemas, fazem ressaltar um ânimo maravilhoso e maravilhado, terá sido um homem de bonomia, de solicitude, um adaptador da língua e da cultura portuguesa aos valores de uma Pátria emergente. Basta ver o arranque do seu poema “Morreu o Homem”, dedicado a um amigo de nome Mamadu Baldé:

“Mamadu Baldé, filho de Salifo, filho de Indjai, filho de Tchamo, filho de Monjur, filho de Mutari, cuja linhagem se perde há mais de dois mil anos nas terras do Egipto e de quem os antepassados remotos viram Moisés e Maomé e com eles conversaram sobre o tempo e as colheitas”.

É uma toada quase bíblica, porque Mamadu Baldé deverá orgulhar-se da genealogia, da linhagem e da estirpe, tudo se perde nos fins da história e no despontar do vigor cultural africano. Depois canta a terra negra da sua infância onde brincou com os seus irmãos negros, com eles nadou no rio, saboreou o caju, a papaia e o mango e recorda o poilão de Santa Luzia que vomitava fogo quando a santa queria orações. Recolhe-se e faz um apelo à terra verde e vermelha da Guiné: “só te peço que todas as noites/ deixes baixar sobre meu coração/ o silêncio que cura os males da alma/ e que quando os dias nascerem húmidos e tenros/ como o barro das tuas bolanhas,/ deixes o meu corpo/ receber esse afago matinal/ que foi o meu primeiro baptismo/ e te peço seja a minha absolvição”.

Poesia de encanto e regalo para os olhos, água fresca para os sentimentos, nela convergem elementos vegetais, odores, fauna e flora, mistérios do animismo, danças e batuques, o fogo das queimadas, o barro das bolanhas e, inevitavelmente, a impressão que provoca o tornado, os seus céus eléctricos e as suas trombas de água. É poesia de um homem reconciliado, dialogante, observador e atento aos mistérios. Sobretudo, é uma poesia que espalha simplicidade e gratificação, cujo exemplo mais eloquente é o poema

Benditas

Bendita seja, minha mãe,
que me ensinaste a amar
as crianças e os velhos,
os pecadores arrependidos
e os pobre e os perseguidos
Bendita sejas!

Bendita sejas, minha mãe
que me ensinaste a desprezar
os ricos e os mandarins
e a odiar,
a odiar,
a odiar,
os verdugos e os carrascos.
Bendita sejas!

Bendita sejas, minha mãe,
que com o teu dedo irreal,
ainda me apontas
os caminhos do Bem e do Mal.
Bendita sejas!

Bendita sejas, minha mãe,
por teres enchido minha alma
de paz e tranquilidade
e de me teres ensinado a ser pequeno entre os humildes
e sobretudo entre os poderosos.
Bendita sejas!

Bendita sejas, minha mãe!
que me ensinaste a ser
de todos os valores clássicos
e a cimentar os valores clássicos,
como se tudo estivesse para refazer.
Bendita sejas!

Bendita sejas tu, que me fizeste aleitar
por uma ama negra,
para que eu bebesse a sabedoria
desse povo admirável
e compreendesse os seus segredos.

Bendita sejas, minha ama,
que me ensinaste a ser corajoso
e a não temer o perigo.

Bendita sejas tu, que eras serena
como uma noite de primavera,
boa como uma palavra de perdão,
grande como um pensamento fecundo.

Benditas sejais vós!!

O leitor interessado tem acesso à sua antologia poética no site:
http://www.triplov.com/guinea_bissau/artur_augusto_silva/index.htm
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8081: Notas de leitura (227): A Guiné-Bissau e os sabores da lusofonia (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8092: In Memoriam (74): No dia 9 de Abril de 2011, a cidade de Matosinhos homenageou os pescadores mortos no naufrágio de 2 de Dezembro de 1947 e os combatentes da Guerra do Ultramar caídos em campanha (Carlos Vinhal)

Memorial aos mortos na tragédia de 2 de Dezembro de 1947 e aos matosinhenses caídos em campanha na Guerra do Ultramar

A juventude matosinhense em África, uma das várias figuras pictóricas, de autoria do Prof Alfredo Barros, que se podem admirar no Memorial imaginado pelo Arq Abreu Pessegueiro.

Força Militar presente na cerimónia, composta por elementos da Fanfarra do Regimento da Artilharia 5 e por um Pelotão (-) da Escola Prática de Transmissões, comandada pelo Alferes Hélder Leão

As cerimónias tiveram início com o Alferes Hélder Leão apresentando a formatura ao Ten Cor Armando José Ribeiro da Costa

As alocuções iniciaram-se com a intervenção do Mestre José Brandão, Presidente da Associação de Pescadores Aposentados de Matosinhos.

Ribeiro Agostinho, ex-combatente na Guiné (e membro da nossa Tabanca Grande),  fala em nome dos seus camaradas.

Momento em que o senhor Ten Cor Armando Costa, na qualidade de Comandante das Forças em presença e na de Presidente da Comissão instaladora do Núcleo da Liga dos Combatentes em Matosinhos, tomou a palavra.

O Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Dr. Guilherme Pinto fala aos presentes

Manuel Tavares de Sousa, ex-combatente na Guiné ao serviço da Armada Portuguesa, no momento em que declamava os poemas.

O Coro da Associação dos Pescadores Aposentados de Matosinhos que com a sua actuação encerrou a cerimónia de homenagem aos Pescadores e aos combatentes falecidos. 

Francisco Oliveira, o Porta-bandeira durante a cerimónia, acompanhado pelo nosso camarada e tertuliano António Maria.


MATOSINHOS HOMENAGEIA OS PESCADORES MORTOS NO NAUFRÁGIO DE 2 DE DEZEMBRO DE 1947 E OS COMBATENTES CAÍDOS EM CAMPANHA NA GUERRA DO ULTRAMAR

No Dia do Combatente, 9 de Abril de 2011, a cidade de Matosinhos prestou homenagem conjunta aos seus heróis do mar, os pescadores mortos no naufrágio de 2 de Dezembro de 1947, e aos seus heróis da Guerra do Ultramar, os combatentes caídos em campanha naquela guerra de África*.

A iniciativa partiu de um pequeno grupo de ex-combatentes da Guiné (António Maria, Carlos Vinhal, Francisco Oliveira e Ribeiro Agostinho) e da Câmara Municipal de Matosinhos na pessoa do seu Presidente, Dr. Guilherme Pinto, e a colaboração do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, na pessoa do senhor Ten Cor Armando Costa coadjuvado pelos senhores Sargentos Ajudantes Carlos Osório e Joaquim Oliveira, que organizou todo o programa de homenagem.

Assim, pelas 10 horas da manhã, a Igreja Matriz encheu-se de fiéis para assistirem à Missa de sufrágio pelos pescadores e militares que iriam ser homenageados dali a pouco no Cemitério de Sendim. Esta cerimónia religiosa foi presidida pelo Capelão Militar, coadjuvado pelo Pároco de Matosinhos.

Seguidamente houve deslocação para o Cemitério. Apesar do calor que se fazia sentir, os matosinhenses não deixaram de marcar presença assim como as autoridades civis e religiosas do Concelho que se associaram deste modo aos familiares dos pescadores e dos combatentes homenageados.

Com a chegada ao local do Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Dr. Guilherme Pinto, iniciou-se a cerimónia de homenagem com apresentação da Força Militar presente, pelo seu Comandante Hélder Leão, ao senhor Ten Cor Armando José Ribeiro da Costa, da Liga dos Combatentes.

Iniciaram-se as alocuções com a intervenção do Mestre José Brandão, Presidente da Associação dos Pescadores Aposentados de Matosinhos, que relembrou desastre do dia 2 de Dezembro de 1947 e a desgraça que se abateu principalmente sobre a classe piscatória, onde pereceram mais de 150 pescadores, a maioria de Matosinhos, mas também alguns naturais de Aguda e da Póvoa de Varzim, todos justamente aqui lembrados, porque todos contribuíam para o engrandecimento desta (então) Vila, na altura detentora do maior Porto de Pesca de Portugal.

Seguiu-se a intervenção do ex-combatente da Guiné, Manuel José Ribeiro Agostinho, que falou em nome dos camaradas presentes, realçando o significado deste Memorial que em Matosinhos perpetua os seus filhos caídos na Guerra Colonial. Lembrou que a partir de agora vai ser tempo de pensar em algo que lembre o esforço dos matosinhenses que,  não morrendo em campanha, têm também o direito ao reconhecimento do seu esforço naquela guerra. Muitos carregam mazelas irrecuperáveis, principalmente stress pós-traumático e deficiências físicas. Que se espera uma colaboração profícua entre Câmara Municipal, os ex-combatentes e o Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes para levar a efeito esta iniciativa, apesar das condicionantes económicas actuais.
Foi ainda lançada a ideia de cada freguesia do Concelho poder homenagear os seus combatentes, assim se queira.

Tomou depois a palavra o senhor Ten Cor Armando Costa, da Liga dos Combatentes,  que realçou uma vez mais o esforço e a abnegação dos militares que participaram na guerra colonial, assim como os pescadores, também eles homenageados que de comum tiveram a coragem para enfrentar os perigos com que depararam. Que Matosinhos, a partir de agora passa a figurar entre as autarquias que esculpiu na pedra o reconhecimento a uma geração que não envergonhou a História de Portugal. Lembrou também as actuais participações das Forças Armadas Portuguesas mundo fora, num conceito bem diferente, mas levando, em acções humanitárias,  bem longe o nome de Portugal.

Para terminar as alocuções, tomou a palavra o Dr. Guilherme Pinto que salientou o sentido de heroicidade comum aos pescadores e aos militares que enfrentam perigos desconhecidos, sem vacilar, dando a vida no desempenho da sua missão, mesmo sabida de antemão, arriscada. Que neste Memorial ficam para sempre gravados os nomes destes heróis.

Discursos do camarada Ribeiro Agostinho, Ten Cor Armando Costa e Dr. Guilherme Pinto
Com a devida vénia a Mário Rêga

Aconteceram então os momentos mais altos da cerimónia quando a Fanfarra procedeu ao Toque de Sentido, seguido do Toque de Silêncio e o Capelão Militar benzeu o Memorial.

O Edil de Matosinhos procedeu à deposição de duas coroas de flores, acompanhado simbolicamente por um representante dos Pescadores, um representante dos ex-combatentes e pelo Ten Cor Armando Costa.

Seguiu-se o Toque de Homenagem aos Mortos, 1 minuto de silêncio, Toque de Alvorada e Toque de Descansar.

De acordo com o alinhamento da cerimónia, o nosso camarada Manuel Tavares de Sousa, ex-combatente da Guiné como militar da Armada Portuguesa, seguidamente leu dois poemas, um bastante conhecido, do Paco Bandeira, que deu origem a uma canção de grande sucesso e, outro, que se publica, de sua autoria escrito especialmente para este dia.


Finalmente, o Coro da Associação dos Pescadores Aposentados de Matosinhos interpretou dois temas alusivos ao mar e à sua faina.

Como foi sugerido pelo do Dr. Guilherme Pinto, convido a quem visitar Matosinhos a se deslocar ao Cemitério de Sendim para admirar aquela bonita obra imaginada por dois vultos importantes do norte ligados à arte e à arquitectura, o Prof Alfredo Barros e o Arq Abreu Pessegueiro. Verão que não dão o tempo por mal empregue.

Fotos: © Carlos Vinhal e Ribeiro Agostinho (2011). Todos os direitos reservados
Texto e edição de fotos: Carlos Vinhal
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Nota de CV:

(*) Vd. poste da série de 3 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8039: In Memoriam (73): Cerimónia de homenagem aos Combatentes de Matosinhos caídos em Campanha em Angola, Guiné e Moçambique, dia 9 de Abril de 2011 pelas 11H15 no Cemitério de Sendim (Carlos Vinhal)