Para o Torcato: Se bem me lembro, numa das operações em que estive envolvido, fomos até Mansambo e, para surpresa minha, o comandante era um amigo meu do Liceu de Oeiras. Quando deixou o mato foi comandar a CCS do QG em Bissau e eu era o seu "ajudante". Raios me partam, não me lembro do seu nome.
Numa das minhas anedotas desse tempo, uma vez cheguei a Bambadinca e a minha farda de campanha consistia em calças camufladas, dólman a que tinha cortado as mangas, uma écharpe de seda que havia pertencido a minha mãe; como armamento, a G-3 com a tanga do primeiro turra que lerpei, atada ao tapa-chamas; como galhardete, cinturão sem cartucheiras, um punhal enorme, fula, cujo cabo era um cartucho calibre 50; e cinco granadas de mão.
Vinha no Unimog, passei à frente da messe de oficiais, dei uma bruta continência a um tenente coronel periquito pela aparência da sua farda. O homem olhou para mim, começa a gritar pelo capitão, eu disse ao condutor para parar, apiei-me da viatura e fui falar com o tal TC.
Nessa altura o capitão que apareceu, era o meu amigo do liceu que estava não sei porquê em Bambadinca, nem eu sabia as razões pro que o TC queria participar de mim. Além disso, nesse tempo usava uma larga barba. O dito capitão disse então:
- Meu tenente coronel, este é o furriel Ferraz, do Xime... - e olhou para mim com uma vontade de rir tremenda.
A única coisa que me lembrei de lhe dizer foi:
- Vossselência. meu tenente coronel... eu estou aqui para fazer a guerra, não para desfiles.
Tenho muitas saudades desse capitão porque tivemos largas conversas no seu gabinete, e fora, num dos bares-cafés de Bissau, sobre a futilidade da luta em que estávamos envolvidos e das inevitáveis consequências que a derrota nos iria trazer.
Hoje, ainda que longe do meu querido Portugal, vejo e leio o triste estado em que o país se encontra. Esta realidade causa-me profundo pesar. Estou velho e não há nada que possa fazer para mudar a pobre situação do nosso país. Vivo aqui há 41 anos e ainda não me tornei cidadão americano como patriota que fui e sou. Se por acaso estiveste em Mansambo, penso que deverias ter conhecido a capitão de que falo. Diz-me o seu nome.
2. Comentário do Torcato Mendonça ao Poste P9043:
O Capitão era o Capitão Neto. Havia um Capitão [, Eugénio Batista] Neves que era o comandante da CCS do BCAC 2852 e depois comandou a 2404 que nos rendeu em Mansambo (Novembro de 69).
3. Comentário de L.G.:
Quererá o Torcato referir-se ao Cap Mil Sérgio Luís Taveira Neto, que à época da Op Lança Afiada - 8 a 18 de Março de 1969 - comandou a CART 1746 ? ... Certamente por impossibilidade temporária do Cap Mil António Vaz que era efetivamente o comandante da CART 1746, no Xime, "de Janeiro 1968 até ao fim da comissão, em Junho de 1969", como ele próprio nos confirmou, há uns anos atrás.
Quererá o Torcato referir-se ao Cap Mil Sérgio Luís Taveira Neto, que à época da Op Lança Afiada - 8 a 18 de Março de 1969 - comandou a CART 1746 ? ... Certamente por impossibilidade temporária do Cap Mil António Vaz que era efetivamente o comandante da CART 1746, no Xime, "de Janeiro 1968 até ao fim da comissão, em Junho de 1969", como ele próprio nos confirmou, há uns anos atrás.
Por seu turno, será que o José Ferraz queria referir-se ao comandante da CART 2339 (Mansambo, 1968/69) ? O Torcato deve ter pensado que ele se referia ao seu próprio comandante (, CART 1746, Xime, 1968/69).
Segundo os registos que temos, no nosso blogue, e com base nos postes do Torcato Mendonça, o primeiro comandante da CART 2339 foi o Cap Mil Meira de Carvalho ("Logo em Évora, devido a doença, teve que
abandonar a Companhia").
"O Capitão Lima foi o segundo dos quatros comandantes que a companhia teve". O terceiro e penúltimo Comandante da Companhia foi o Capitão QP Moura
Soares. "Por motivo de doença" (...) "foi substituído, em Dezembro
de 1968, pelo quarto e último Comandante, o Capitão QP [Raul Alberto] Laranjeira Henriques,
28 anos, 3ª Comissão no Ultramar"...
O Laranjeira Henriques, que eu conheci bem (eu e os meus camaradas da CCAÇ 12), era o comandante da CART 2339 ("Os Viriatos") já na altura da Op Lança Afiada...
Seria este o colega de Liceu do José Ferraz ?... Em princípio, o Laranjeira Henriques era mais velho (terá nascido em 1940 ou 1941) do que o José Ferraz (que é de 1945)... Era capitão do QP, logo oriundo da Academia Militar...
Pertencia originalmente à CART 2413 (Independente, foi mobilizada pelo RAP 2; partiu para a Guiné em 11
de Agosto de 1968 e regressou a 18 de Junho de 1970; esteve em Fá Mandinga e
Xitole; comandantes: Cap Art Raul Alberto Laranjeira Henriques; Cap Inf José
Medina Ramos)...
Por seu turno, a CCAÇ 2404/BCAÇ 2852 substitui a CART 2339, (Mansambo) entre Novembro de 1969 e Maio de 1970... Foi, por sua vez, rendida pela CART 2714 ("Bravos e Leais"), pertencente ao BART 2917
(1970/1972). Confirma-se, por outro lado, a transferência do Cap Inf Eugénio Batista Neves, "por motivos disciplinares", em Agosto de 1969, para a CCAÇ 2404/BCAÇ 2852 que comandou até Fevereiro de 1970... A CCAÇ 2404 foi transferida para Mansambo em Novembro de 1969.
O José Ferraz, de rendição individual, foi para a CCS/QG, em Bissau, em Junho de 1969, quando a CART 1746 terminou a sua comissão e regressou à metrópole. Logo, em Mansambo, entre Janeiro e Maio de 1969, só podia ter conhecido o Cap Art Laranjeira Henriques... Talvez o Torcato Mendonça nos possa dizer se o Laranjeira Henriques foi para a CCS/QG, em Bissau, em Novembro de 1969... O Ferraz regressou a casa em 1970, não sei exatamente em que mês... Em Dezembro desse ano, emigrou para os EUA.
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Nota do editor:
Último poste da série > 26 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9101: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (7): Um acidente... no Pilão