Foto: © Manuel Resende (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
1. Mensagem de José Manuel Matos Dinis [, foto à direita, do Manuel Resende, 2012], secretário da Magnífica Tabanca da Linha onde pontifica o comandante Jorge Rosales:
Data: 3 de Outubro de 2013 às 13:02
Assunto: O dia de aniversário do Rosales (*)
Don Rosales encantou-se pelo pré-cosmopolitismo da região entre Cascais e Estoril. Mas os laços só consolidaram, quando conheceu uma senhora de uma família tradicional de Cascais, por quem se apaixonou, e foi correspondido. Casaram, e decorridos pelo menos os meses que a natureza impõe, nasceu um robusto rapaz, a que se seguiu uma menina e outro rapazola. O primogénito foi rodeado de mimos, e veio ao mundo com seis quilos, setecentas e oitenta e cinco gramas, segundo dados oficiais da família. Chamaram-lhe Jorge, um nome distinto e com apetências imperiais.
Don Rosales assistia ao desenvolvimento do puto com indisfarçável orgulho, e cogitava, se houvesse mais uma dúzia daqueles matulões, garantia-se a si próprio, Portugal nunca se teria separado da Galiza.
Aos dez anos o meu pai deu-me um passe metálico, com fotografia, onde se colocava um bilhete semanal, e mandou-me estudar para os Salesianos do Estoril, a ESSA. Na minha turma andava um rapazito, também Zé, e de apelido Rosales. Tinha um irmão mais velho, que andava lá para os últimos anos do liceu, vestia-se à adulto, com casaco, levava uns cadernos debaixo do braço que lhe conferiam ar intelectual, e batia-me alarvemente, alegando que eu fazia macaquices ao irmão benjamim. Depois já não alegava nada, batia-me, porque sim. Jurei vingar-me.
Mais tarde, quando eu andava pelos dezassete ou dezoito aninhos, o meu clube de putos, o CAC, mas com grande aura na região, foi treinar algumas vezes contra o Estoril-Praia, clube mais ou menos referenciável em ambientes luminosos e dragonianos, fundado por um grupo de que se destacava um primo meu. Lá andava outra vez o Rosales, o tipo assanhado que eu, ainda lingrinhas, tinha que evitar no meio do campo. Por isso jogava a extremo-direito.
Havia dois defesas na equipe da Amoreira que, alternadamente, me calhavam em sorte, o Coropos, e mais escassamente, porque era direito, o Virgílio. Eram dois bulldozers, e a minha equipa fazia um futebol geométrico de grande efeito prático: antes de recebermos a chicha, já tínhamos que saber a quem a endossar. Era lindo, ver os canarinhos em corridas desenfreadas de um lado para o outro. No meio do campo amarelo, o alferes promovido a capitão levava as mãos à cabeça e clamava por calma.
Felizmente para eles, os jogos-treino não tinham espectadores, ou seriam varridos com saraivadas de pedras, sempre abundantes no topo norte. A vingança consumar-se-ia muito mais tarde, no Blogue do Luis Graça (**), onde voltei a encontrar a imponente figura, mas mais lento de movimentos, sem as fintas com jogo de cintura, e até umas artroses que lhe tolhem os lançamentos em profundidade.
Por isso aproveito esta magnífica ocasião gentil e solidariamente concedida pelo Boss, para vos dar conta do que o aniversariante tem ocultado de personalidade litigante.
Para não faltar à verdade, ainda acrescento que o dito Rosales foi campeão nacional de ténis de mesa, que se transferiu para a Académica, onde esteve quase a triunfar, se o Dr. Rocha tivesse mudado de ares, e posteriormente optou por ir defender a Pátria, e escolheu Porto Gole como destino de privilégio. Assessorado pelo Alface, distinguiu-se com virilidade e distinção. Também mantevev relações próximas com o chefe local Abna Onsa, temido e fiel à NT, com quem consertava táticas e acções.
A vocação imperial que lhe estava destinada, tem-na praticado com visíveis resultados, em tascas, bares, e outros estabelecimentos de bebidas. Às vezes aparece em minha casa, sempre a dar ordens disfarçadas de perguntas gentis, do género Ó Zé, tens cá algum vinho bonzinho?
Com o óbvio desejo de lhe tornar a vida num castigo, daqui lhe apresento os parabéns, e o desejo longa vida.
JD [ José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71]
Portugal > Estoril > 1920 > Foto do Grande Casino Internacional Monte Estoril. Autor desconhecido. Postal do arquivo Arquivo de Luís Filipe Dias Gonzaga Ribeiro, bisneto do antigo dono do local. Documento, com mais de 90 anos, do domínio público. Reproduzido na Wikimedia Commons (com a devida vénia..).
Lê-se na Wikipédia, sobre o Estoril, freguesia do Concelho de Cascais:
(...) "A sua proeminência recente teve início no começo do século XX por Fausto de Figueiredo (detentor da concessão de exploração de jogo, no Casino Estoril). Finalmente, sob a visão de Fausto Cardoso de Figueiredo e do seu sócio, Augusto Carreira de Sousa, surge, em 1913, o projeto do Estoril enquanto centro turístico de ambições internacionais.
O início da I Guerra Mundial implicou atrasos consideráveis na sua concretização, pelo que só em 16 de Janeiro de 1916 se procedeu à colocação da primeira pedra para a construção do casino. Segue-se um período de intensa construção nas zonas conquistadas ao pinhal, às terras de lavoura e às pedreiras, facilitada, desde 1940, pelo fácil acesso rodoviário proporcionado pela estrada marginal, junto ao mar. O concelho assume-se, então, como centro turístico de primeira ordem, recebendo durante e depois da II Guerra Mundial um elevadíssimo número de refugiados e exilados, (...)
2. Mais alguns depoimenntos, pedidos pelo editor à última hora, a alguns dos frequentadores da Tabanca da Linha. Muitos dos seus amigos e camaradas da Tabanca da Linha ficaram, infelizmente, de fora, na impossibilidade de os contactar a todos em tempo útil. Aqui ficam as mensagens que nos chegaram até domingo á noite (LG):
2a.Armando Pires [, aqui na Tabanca da Linha, à esquerda, com o Jorge Rosales, à direita, em novembro de 2012. Foto de Manuel Resende]
Já não sei pela mão de quem, fui ao almoço da Tabanca da Linha.
Conhecia uns dois ou três dos presentes e os outros foram-me sendo apresentados.
Já estávamos dos digestivos, iam-se misturando as histórias do passado, quando um decidiu incluir-me como actor de uma bravata por ele imaginada.
Senti necessidade de sair por ser mais forte o meu respeito por todos.
Foi quando a tua mão forte pousou suavemente no meu ombro, e na tua voz serena me disseste, “tem calma, Armando, a malta aqui da linha conhece o gajo, é um inventor, ninguém acredita nas coisas que o gajo conta”.
O teu gesto, Jorge, tornou-se marca indelével de ti. A um grande Homem bastam pequenas coisas para o tornar admirado, respeitado. À admiração e ao respeito fui somando a amizade que te ganhei.
Gosto de ouvir quando ao telefone me dizes, “Armando, sabes quem fala? É o Jorge, o Rosales, estás bom Armando?”
E sinto até o vazio dos anos, tantos anos, que tardei em te conhecer.
Ainda bem que te conheci, Jorge.
Hoje fazes anos. Leva um profundo abraço meu.
É o melhor de mim que tenho para te dar.
2b. Mário Beja Santos
[Imagem à direita: Coruche > 2010 19º Encontro Nacional da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missitá, 1965/67) > Da direita para a esquerda, o Mário Beja Santos, o Henrique Matos , o João Crisóstomo e o Jorge Rosales. Foto do Henrique Matos.]
Meu Estimado Jorge Rosales:
Quem me preparou tão bem os soldados e cabos guineenses de Missirá e Bambadinca ], do Pel Caç Nat 52,] está sempre no meu coração, é uma inerência afetuosa muito apreciada, fica sabendo .
(iv) Jovem (teria hoje 76/77 anos se fosse vivo), o Abna Na Onça era um homem imponente, nos seus 120 kg. Schultz tinha-lhe oferecido um relógio de ouro e uma G3 como reconhecimento pelos seus brilhantes serviços …
(v) Recorde-se que, mais tarde, será morto, em Bissá, em 15/4/67, com seis dos seus polícias administrativos, todos eles residentes em Porto Gole… Nesse dia o destacamento é abandonado pelas NT: foi "um dia trágico para quem estava no inferno de Bissá, como escreveu o Abel Rei no seu diário (Entre o paraíso e o inferno: de Fá a Bissá. Memórias da Guiné, 1967/68, editado em 2002, pp. 68/70);
(vi) O Jorge Rolaes tinha um guarda-costas bijagó. Parte dos soldados eram balantas. Possuíam apenas 1 morteiro (60) e 1 bazuca. A farda ainda era amarela, o famoso caqui amarelo, antes do camuflado.
(vii) Ficou 18 meses em Porto Gole. Ia a Bambadinca jogar à bola com os de Fá. Foi uma vez a Bafatá, apanhar o NordAtlas. Lembra-se da piscina.
(viii) Enquanto lá esteve, em Porto Gole, havia um certo respeito mútuo, de parte a parte, entre as NT e o PAIGC. A influência de Cabral era evidente, fazendo a distinção entre o povo (português) e o regime (colonialista). Podiam deslocar-se num raio de 10 km….
O início da I Guerra Mundial implicou atrasos consideráveis na sua concretização, pelo que só em 16 de Janeiro de 1916 se procedeu à colocação da primeira pedra para a construção do casino. Segue-se um período de intensa construção nas zonas conquistadas ao pinhal, às terras de lavoura e às pedreiras, facilitada, desde 1940, pelo fácil acesso rodoviário proporcionado pela estrada marginal, junto ao mar. O concelho assume-se, então, como centro turístico de primeira ordem, recebendo durante e depois da II Guerra Mundial um elevadíssimo número de refugiados e exilados, (...)
2. Mais alguns depoimenntos, pedidos pelo editor à última hora, a alguns dos frequentadores da Tabanca da Linha. Muitos dos seus amigos e camaradas da Tabanca da Linha ficaram, infelizmente, de fora, na impossibilidade de os contactar a todos em tempo útil. Aqui ficam as mensagens que nos chegaram até domingo á noite (LG):
2a.Armando Pires [, aqui na Tabanca da Linha, à esquerda, com o Jorge Rosales, à direita, em novembro de 2012. Foto de Manuel Resende]
Já não sei pela mão de quem, fui ao almoço da Tabanca da Linha.
Conhecia uns dois ou três dos presentes e os outros foram-me sendo apresentados.
Já estávamos dos digestivos, iam-se misturando as histórias do passado, quando um decidiu incluir-me como actor de uma bravata por ele imaginada.
Senti necessidade de sair por ser mais forte o meu respeito por todos.
Foi quando a tua mão forte pousou suavemente no meu ombro, e na tua voz serena me disseste, “tem calma, Armando, a malta aqui da linha conhece o gajo, é um inventor, ninguém acredita nas coisas que o gajo conta”.
O teu gesto, Jorge, tornou-se marca indelével de ti. A um grande Homem bastam pequenas coisas para o tornar admirado, respeitado. À admiração e ao respeito fui somando a amizade que te ganhei.
Gosto de ouvir quando ao telefone me dizes, “Armando, sabes quem fala? É o Jorge, o Rosales, estás bom Armando?”
E sinto até o vazio dos anos, tantos anos, que tardei em te conhecer.
Ainda bem que te conheci, Jorge.
Hoje fazes anos. Leva um profundo abraço meu.
É o melhor de mim que tenho para te dar.
2b. Mário Beja Santos
[Imagem à direita: Coruche > 2010 19º Encontro Nacional da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missitá, 1965/67) > Da direita para a esquerda, o Mário Beja Santos, o Henrique Matos , o João Crisóstomo e o Jorge Rosales. Foto do Henrique Matos.]
Meu Estimado Jorge Rosales:
Quem me preparou tão bem os soldados e cabos guineenses de Missirá e Bambadinca ], do Pel Caç Nat 52,] está sempre no meu coração, é uma inerência afetuosa muito apreciada, fica sabendo .
Desejo-te mil alegrias aniversariantes saúde e bonomia nunca te faltem,,espero ver-te em breve, sabe-se se lá na Tabanca da Linha ou coisa parecida.
Um abraço de gratidão do Mário Beja Santos
2c. Hélder Sousa [, foto à esquerda: com o Zé Manuel Dinis, o "secretário", Tabnaca da Linha, nov 2012. Foto de Manuel Resende]
Ora bem, cá temos mais um aniversário do nosso amigo Jorge Rosales.
Há uns três anos atrás tive oportunidade de descrever como conheci, melhor, como interagi com o Rosales a propósito das reuniões do autodenominado “Grupo do Cadaval”, para diligenciar a produção do livro “História de Portugal em Sextilhas” do nosso ‘bardo’ Manuel Maia.
Disse que não o conhecia antes, apesar das suas qualidades futebolísticas. E, sendo mais novo e vivendo, à data, na “linha de Vila Franca”, não me tinha cruzado com ele, nem tampouco na Guiné, devido essencialmente à diferença de idades.
Disse que foi através deste incomparável e insubstituível ‘local de encontros’ que é o nosso Blogue, que cheguei ao conhecimento e reconhecimento do Rosales.
Já disse isso tudo e, sendo assim, o que haverá mais?
Ora bem, o tempo foi passando, e por via de circunstâncias várias foi possível um relacionamento mais próximo, com mais cumplicidade, com o Jorge. E, por via disso, todas as ‘coisas boas’ que se foram dizendo do Rosales foram sendo confirmadas.
Desde muito cedo que teve a sina de aturar o Zé Dinis, que como sabem, não é nada fácil, não senhor, depois foi a aventura na Guiné. Nos meus contactos com ele aprendi a apreciar o seu modo sereno de estar, de conversar, de resolver as questões que se passam à sua volta. Vi como se relaciona superiormente com as gentes do Couço, vi como se impõe naturalmente na “Tabanca da Linha”, vi como ao seu redor as conversas se desenrolavam com profundidade e tranquilidade no último Encontro da nossa “Tabanca Grande”.
Por tudo isto posso dizer que o Rosales é um amigo firme e confiável, que estimo e prezo e que ganhei através do nosso Blogue.
Ah, é verdade, hoje é o dia do seu aniversário e sendo assim aqui ficam os meus parabéns e os votos de uma longa vida.
Parabéns! Hélder Sousa
1º Postal de parabéns dedicado ao Jorge Morales. 71º Aniversário, em 2010. Cartoon do Miguel Pessoa (2010), sob foto de, salvo erro, Henrique de Matos.
2d. Luís Graça
Homenagem a um grã-tabanqueiro,
régulo da Magnífica Tabanca da Linha,
antecipando o almoço-convívio,
no dia 17, na Adega Camponesa,
em Cabreiro, Alcabideche, Cascais (**):
Foi craque de futebol
E do pinguepongue campeão,
Desterrado em Porto Gole,
Tudo por mor da Nação.
É de galega linhagem,
Na Linha nado e criado,
É-lhe devida homenagem
Por ter sido bravo soldado.
Comandante só há um
Na Magnífica Tabanca:
Rosales, e mais nenhum,
Que ainda salta e pouco manca.
Estudou nos Salesianos,
Foi herói de capa e espada,
Faz setenta e quatro anos,
É um bom pai e camarada.
É o melhor pai do mundo,
Diz a Marta, no Brasil.
Tenho-lhe um amor profundo,
Diz o Tiago, no Estoril.
É um camarada porreiro,
Dizemos todos em coro,
É nosso grã-tabanqueiro,
É amigo que vale ouro.
Que este dia se repita,
Por muitos e bons aninhos,
Saúde, sorte e guita,
São os votos dos velhinhos.
Tu, periquito, vai no mato
Que o Rosales segue para Bolama,
Da guerra já ele está farto,
Só quer uísque e uma boa cama.
Adeus, meu povo balanta,
Adeus, caqui amarelo,
Nunca sede tive tanta,
Só queria uísque com gelo.
Água do Couço sabe bem,
Na Adega da Camponesa,
Aparece lá também,
Oh! bajuda, oh! beleza.
Se o bom irã me ajudar,
E me der anos p'ra viver,
...Ao Geba quero voltar,
E Porto Gole rever!
__________________
Notas do editor:
(*) Últimos dois postes anteriores da série >
7 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12122: Parabéns a você (633): Obrigado, pai... Tenho muito orgulho em si (Tiago ). Obrigada, pai, por seres o melhor pai do mundo (Marta): depoimentos dos filhos do Jorge Rosales, no dia do seu 74º aniversário
7 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P121121: Parabéns a você (632): Jorge Rosales, régulo da Magnífica Tabanca da Linha, ex-alf mil, 1ª CCAÇ, Porto Gole, 1964/66
(**) Vd. poste de 9 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4488: Tabanca Grande (151): Jorge Rosales, ex-Alf Mil, Porto Gole, 1964/66, grande amigo do Cap 2ª linha Abna Na Onça
Resenha biográfica (recolhida por L.G.):
(i) O Jorge Rosales era alf mil, tendo pertencido à 1ª Companhia de Caçadores Indígena, com sede em Farim (Havia mais duas, uma Bedanda, a 4ª CCAÇ, e outra em Nova Lamego, 3ª CCAÇ, que deram origem à CCAÇ 6 e à CCAÇ 5, respetivamente).
(ii) Em Farim, ficou pouco tempo, talvez uma semana. A companhia estava dispersa. Foi destacado para Porto Gole, com duas secções (da CCAÇ 556, do Enxalé) e outra secção, sua, de africanos (, da 1ª CCAÇ).
2c. Hélder Sousa [, foto à esquerda: com o Zé Manuel Dinis, o "secretário", Tabnaca da Linha, nov 2012. Foto de Manuel Resende]
Ora bem, cá temos mais um aniversário do nosso amigo Jorge Rosales.
Há uns três anos atrás tive oportunidade de descrever como conheci, melhor, como interagi com o Rosales a propósito das reuniões do autodenominado “Grupo do Cadaval”, para diligenciar a produção do livro “História de Portugal em Sextilhas” do nosso ‘bardo’ Manuel Maia.
Disse que não o conhecia antes, apesar das suas qualidades futebolísticas. E, sendo mais novo e vivendo, à data, na “linha de Vila Franca”, não me tinha cruzado com ele, nem tampouco na Guiné, devido essencialmente à diferença de idades.
Disse que foi através deste incomparável e insubstituível ‘local de encontros’ que é o nosso Blogue, que cheguei ao conhecimento e reconhecimento do Rosales.
Já disse isso tudo e, sendo assim, o que haverá mais?
Ora bem, o tempo foi passando, e por via de circunstâncias várias foi possível um relacionamento mais próximo, com mais cumplicidade, com o Jorge. E, por via disso, todas as ‘coisas boas’ que se foram dizendo do Rosales foram sendo confirmadas.
Desde muito cedo que teve a sina de aturar o Zé Dinis, que como sabem, não é nada fácil, não senhor, depois foi a aventura na Guiné. Nos meus contactos com ele aprendi a apreciar o seu modo sereno de estar, de conversar, de resolver as questões que se passam à sua volta. Vi como se relaciona superiormente com as gentes do Couço, vi como se impõe naturalmente na “Tabanca da Linha”, vi como ao seu redor as conversas se desenrolavam com profundidade e tranquilidade no último Encontro da nossa “Tabanca Grande”.
Por tudo isto posso dizer que o Rosales é um amigo firme e confiável, que estimo e prezo e que ganhei através do nosso Blogue.
Ah, é verdade, hoje é o dia do seu aniversário e sendo assim aqui ficam os meus parabéns e os votos de uma longa vida.
Parabéns! Hélder Sousa
1º Postal de parabéns dedicado ao Jorge Morales. 71º Aniversário, em 2010. Cartoon do Miguel Pessoa (2010), sob foto de, salvo erro, Henrique de Matos.
2d. Luís Graça
Homenagem a um grã-tabanqueiro,
régulo da Magnífica Tabanca da Linha,
antecipando o almoço-convívio,
no dia 17, na Adega Camponesa,
em Cabreiro, Alcabideche, Cascais (**):
Foi craque de futebol
E do pinguepongue campeão,
Desterrado em Porto Gole,
Tudo por mor da Nação.
É de galega linhagem,
Na Linha nado e criado,
É-lhe devida homenagem
Por ter sido bravo soldado.
Comandante só há um
Na Magnífica Tabanca:
Rosales, e mais nenhum,
Que ainda salta e pouco manca.
Estudou nos Salesianos,
Foi herói de capa e espada,
Faz setenta e quatro anos,
É um bom pai e camarada.
É o melhor pai do mundo,
Diz a Marta, no Brasil.
Tenho-lhe um amor profundo,
Diz o Tiago, no Estoril.
É um camarada porreiro,
Dizemos todos em coro,
É nosso grã-tabanqueiro,
É amigo que vale ouro.
Que este dia se repita,
Por muitos e bons aninhos,
Saúde, sorte e guita,
São os votos dos velhinhos.
Tu, periquito, vai no mato
Que o Rosales segue para Bolama,
Da guerra já ele está farto,
Só quer uísque e uma boa cama.
Adeus, meu povo balanta,
Adeus, caqui amarelo,
Nunca sede tive tanta,
Só queria uísque com gelo.
Água do Couço sabe bem,
Na Adega da Camponesa,
Aparece lá também,
Oh! bajuda, oh! beleza.
Se o bom irã me ajudar,
E me der anos p'ra viver,
...Ao Geba quero voltar,
E Porto Gole rever!
__________________
Notas do editor:
(*) Últimos dois postes anteriores da série >
7 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12122: Parabéns a você (633): Obrigado, pai... Tenho muito orgulho em si (Tiago ). Obrigada, pai, por seres o melhor pai do mundo (Marta): depoimentos dos filhos do Jorge Rosales, no dia do seu 74º aniversário
7 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P121121: Parabéns a você (632): Jorge Rosales, régulo da Magnífica Tabanca da Linha, ex-alf mil, 1ª CCAÇ, Porto Gole, 1964/66
(**) Vd. poste de 9 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4488: Tabanca Grande (151): Jorge Rosales, ex-Alf Mil, Porto Gole, 1964/66, grande amigo do Cap 2ª linha Abna Na Onça
Resenha biográfica (recolhida por L.G.):
(ii) Em Farim, ficou pouco tempo, talvez uma semana. A companhia estava dispersa. Foi destacado para Porto Gole, com duas secções (da CCAÇ 556, do Enxalé) e outra secção, sua, de africanos (, da 1ª CCAÇ).
(iii) Em Porto Gole fez amizade com o mítico Capitão de 2ª linha, o Abna Na Onça, chefe espiritual, poderoso, da comunidade balanta da região, a quem o PAIGC havia cometido o erro fatal de “matar duas mulheres e roubar centenas de cabeças de gado”. O seu prestígio, a sua influência e e o seu carisma eram tão grandes que ele sabia tudo o que se passava numa vasta região que ia de Mansoa a Bambadinca (nomeadamente, importantes informações militares, como a passagem de homens e armas do PAIGC).
(iv) Jovem (teria hoje 76/77 anos se fosse vivo), o Abna Na Onça era um homem imponente, nos seus 120 kg. Schultz tinha-lhe oferecido um relógio de ouro e uma G3 como reconhecimento pelos seus brilhantes serviços …
(v) Recorde-se que, mais tarde, será morto, em Bissá, em 15/4/67, com seis dos seus polícias administrativos, todos eles residentes em Porto Gole… Nesse dia o destacamento é abandonado pelas NT: foi "um dia trágico para quem estava no inferno de Bissá, como escreveu o Abel Rei no seu diário (Entre o paraíso e o inferno: de Fá a Bissá. Memórias da Guiné, 1967/68, editado em 2002, pp. 68/70);
(vi) O Jorge Rolaes tinha um guarda-costas bijagó. Parte dos soldados eram balantas. Possuíam apenas 1 morteiro (60) e 1 bazuca. A farda ainda era amarela, o famoso caqui amarelo, antes do camuflado.
(vii) Ficou 18 meses em Porto Gole. Ia a Bambadinca jogar à bola com os de Fá. Foi uma vez a Bafatá, apanhar o NordAtlas. Lembra-se da piscina.
(viii) Enquanto lá esteve, em Porto Gole, havia um certo respeito mútuo, de parte a parte, entre as NT e o PAIGC. A influência de Cabral era evidente, fazendo a distinção entre o povo (português) e o regime (colonialista). Podiam deslocar-se num raio de 10 km….
(ix) Mas a ligação com Mansoa já se perdera. O troço já não era seguro. Em Mansoa estavam os respeitados Águias Negras (o BART 645), que dominavam o triângulo do Óio: Olossato, Bissorâ e Mansabá) .
(x) Do lado do Geba, eram os fuzileiros que impunham a lei e o respeito. Lançavam uma bóia e fundeavam a LDG em frente a Porto Gole. Vinha quase tudo por rio: os frescos, a bianda, os cunhetes de munições… (exceto o correio, que era lançado do ar, de DO 27, e às vezes ir cair no tarrafo; em contrapartida, o correio expedido ia de LDG... Singuralidades de Porto Gole que não tinha uma simples pista de terra batida, para as aeronaves).
(xi) Tem vários amigos fuzos, desse tempo, incluindo o comandante Castanho Pais.
(xii) Do outro lado, a nascente estava a CCAÇ 556, no Enxalé, frente ao Xime… Também conhece dois furrieís do Enxalé, de quem se tornou amigo.
(xiii) Também passou por Fá. E, no final da comissão, esteve em Bolama, por onde passavam os periquitos… Conviveu com algumas companhias que, da ilha de Bolama, partiam para operações no continente…Deu formação a pessoal africano.
(xiv) No seu tempo (Março de 1966), morreu em Porto Gole o alf mil António Maldonado, que o veio substituir. O Maldonado, de Coimbra, estava em Bolama. Eram amigos, tinham estado em Mafra. Tinham combinado revezar-se ao fim de um ano. O Maldonado vinha para Porto Gole e o Jorge ia para Bolama… No meio disto, há um coronel que vem dificultar o acordo de cavalheiros. Enfim, uma história que era preciso contar com tempo e vagar (, coisa que ainda aconteceu).
(xv) O Maldonado [, António Aníbal M. C. Maldonado} é morto, em 4/3/1966, num ataque violentíssimo a Porto Gole, depois de as NT terem feito um ronco nas áreas controladas pelo PAIGC… Ferido, aguardou em vão o heli que só podia vir de manhã. A mãe do Jorge foi ao enterro, em Coimbra. O cadáver foi rapidamente trasladado, contrariamente ao que acontecia na época. Esta morte abalou-o,ao Jorge.
(xvi) O Jorge participou no nosso IV Encontro, em 2009. Na altura, queixava-se de estar isolado, de não ter ninguém do seu tempo, até pelo facto de ter sido de rendição individual. Mais tarde vai criar a Mgnífica Tabanca da Linha, de que se torna "régulo". (O pessoal da Linha reune-se habitualmente na Adega Camponesa, no Cabreiro, em Alcabideche, Telefone: 214 690 328).
(x) Do lado do Geba, eram os fuzileiros que impunham a lei e o respeito. Lançavam uma bóia e fundeavam a LDG em frente a Porto Gole. Vinha quase tudo por rio: os frescos, a bianda, os cunhetes de munições… (exceto o correio, que era lançado do ar, de DO 27, e às vezes ir cair no tarrafo; em contrapartida, o correio expedido ia de LDG... Singuralidades de Porto Gole que não tinha uma simples pista de terra batida, para as aeronaves).
(xi) Tem vários amigos fuzos, desse tempo, incluindo o comandante Castanho Pais.
(xii) Do outro lado, a nascente estava a CCAÇ 556, no Enxalé, frente ao Xime… Também conhece dois furrieís do Enxalé, de quem se tornou amigo.
(xiii) Também passou por Fá. E, no final da comissão, esteve em Bolama, por onde passavam os periquitos… Conviveu com algumas companhias que, da ilha de Bolama, partiam para operações no continente…Deu formação a pessoal africano.
(xiv) No seu tempo (Março de 1966), morreu em Porto Gole o alf mil António Maldonado, que o veio substituir. O Maldonado, de Coimbra, estava em Bolama. Eram amigos, tinham estado em Mafra. Tinham combinado revezar-se ao fim de um ano. O Maldonado vinha para Porto Gole e o Jorge ia para Bolama… No meio disto, há um coronel que vem dificultar o acordo de cavalheiros. Enfim, uma história que era preciso contar com tempo e vagar (, coisa que ainda aconteceu).
(xv) O Maldonado [, António Aníbal M. C. Maldonado} é morto, em 4/3/1966, num ataque violentíssimo a Porto Gole, depois de as NT terem feito um ronco nas áreas controladas pelo PAIGC… Ferido, aguardou em vão o heli que só podia vir de manhã. A mãe do Jorge foi ao enterro, em Coimbra. O cadáver foi rapidamente trasladado, contrariamente ao que acontecia na época. Esta morte abalou-o,ao Jorge.
(xvi) O Jorge participou no nosso IV Encontro, em 2009. Na altura, queixava-se de estar isolado, de não ter ninguém do seu tempo, até pelo facto de ter sido de rendição individual. Mais tarde vai criar a Mgnífica Tabanca da Linha, de que se torna "régulo". (O pessoal da Linha reune-se habitualmente na Adega Camponesa, no Cabreiro, em Alcabideche, Telefone: 214 690 328).
(xvii) Está reformado de uma dessas empresas que faziam o reabastecimento de combustível aos aviões, no aeroporto de Lisboa, pelo que conhece muita malta ligada à TAP e à antiga ANA. Tem dois filhos, Marta (doutorada em antropologia, investigadora, professora auxiliar convidada na NOVA - Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas) e o Tiago (bancário, em Oeiras).
(xviii) O Jorge vive no Monte Estoril. Tem também casa e um pequena exploração agrícola, no Couço, Coruche… Em 2009, quando entrou para a nossa Tabanca Grande, não descartava a hipótese de voltar à Guiné, "com mais malta do seu tempo"…