segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7286: Notas de leitura (171): A Malta das Trincheiras, de André Brun (Arménio Estorninho)

1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381,Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 11 de Novembro de 2010:

Cordiais saudações a todos os tabanqueiros.

Ainda, em referência ao Poste P7225 – Contrapondo (Alberto Branquinho), no qual está escrito “Em guerra esteve o povo português em 1914-1918, com mortos, feridos, estropiados, gaseados… e alguém fala nisso?”

Quanto ao despropósito do chorrilho de imprecisões e atoardas, que do meu ponto de vista não merecem qualquer consideração e não lhe ficaria mal ao menos respeitar os camaradas mortos, deficientes físicos e psíquicos.

Assim, vindo a propósito e achando por conveniente o momento oportuno, a partir de agora irei dar começo em apresentar uma série de crónicas que foram publicadas na revista “Portugal na 1.ª Grande Guerra.” E, no ano de 1924 sendo parte das mesmas extraídas para composição e impressão do livro com o titulo “A Malta das Trincheiras,” sendo seu autor o Major André Bruno, e o qual foi Comandante de um Batalhão do Corpo Expedicionário Português, a terras de França.

Crónica 1

O retrato, cuja reprodução serve de capa ao livro “ A Malta das Trincheiras,” foi executado nas trinchas de Ferme du Bois (Quinta do Bosque) pelo pintor Sousa Lopes.


Extractos da “estória” de José Maria Folgadinho que foi parar às trincheiras quando Portugal esteve (diga-se somente) em 1917 e 1918 na 1.ª Grande Guerra.

José Maria Folgadinho é da Comarca de Arganil, como poderia ser de Freixo de Espada à Cinta ou de Vila Real de Santo António. Não fez para isso a menor diligência. Caiu nas sortes, foi para o regimento, andou por lá alguns meses de instrução, e, quando tinha aprendido algumas artes militares e várias artimanhas de caserna, licenciaram-no. Na aldeia falava-se que iam portugueses para a guerra, falava-se em que não iam… Folgadinho, esse, depois de ter falado uns tempos com a Gertrudes, falava com a menina Rosária, quando de repente, ordem de mobilização e partida.

Pegou num saco de retalhos, meteu pés ao caminho, chegou tarde, deram-lhe uma porção de equipamentos, enfiaram-no num comboio, dormiu e chegou a Lisboa, que, como o herói do Sr. Tomás Ribeiro, ele nunca tinha visto. Também a não deixaram ver, porque o puseram a bordo de um grande navio e este abalou. Folgadinho, pouco marítimo enjoou como uma catita, dormiu duas noites com um bolo-rei de lona enfiado no pescoço e começou a achar que fazia frio. Cada vez mais se foi instalando nesta opinião, até que o barco chegou a um porto.

- Isto aqui é que é a França, meu sargento? - perguntou ele ao seu primeiro.

- É, respondeu este muito aborrecido.

A França estava feia. Fazia cada vez mais frio, sobre a cidade caía neve e Folgadinho não tinha trazido guarda-chuva. Escusado será dizer que ficou que nem uma sopa ao som da Portuguesa. Para variar um pouco de meios de transporte, meteram-no num outro comboio. Este levou três dias a parar em todas as estações e foi nessa viagem tormentosa, sob rajadas de neve, que Folgadinho soube que a carne de vaca metida em latas se chamava “corned beef” e que há uma gente que se entretém a enfiar vinagre, cebolas e mostarda dentro dos frascos a que chamam depois pickles. Ele, que no regimento estava habituado ao feijão, à couve, à batata, à tora de carne fresca, não percebeu a graça que tudo aquilo podia ter.

Um dia, com uma grande guedelha compridíssima, uma barba de oito dias, sujo como um limpa chaminés, o equipamento às três pancadas, os ossos num feixe, José Maria Folgadinho fez a sua entrada numa pequena cidade “Aire-sur-la-Lys.” Chegado a um pátio de uma pequena herdade, apontaram-lhe um palheiro e era ali. Tirou a tralha de cima das banhas, estendeu os braços, mediu a palha com a vista, deitou-se e dormiu.

Passa essa noite um pouco sobressaltado com baterias que estoiram por perto, que, quando uma pessoa vai a olhar para dentro, ribombam, abalam a casa de cada um e levam nisto horas sem fim.

No fim de três dias estava como em casa. Tinha dado uma volta pela localidade, espreitando para dentro das casas. Vira muitos santos pendurados, chão de tijolos muito limpos, uns fogões muito reluzentes e caras de boa gente.

Porque é reinadio e mais patusco que os ingleses que por ali andam há três anos, Folgadinho torna-se simpático. O que ele é, é malandro. Escangalha as bombas, passa por onde não deve passar, suja e não limpa; mas é simpático e gostam dele. Até estimam que ele estrague para poderem fazer reclamações ao “maire” e pedir duzentos francos por um pé de salsa pisado.

Tocavam ao rancho quatro vezes por dia, havia vinho e chá, concluiu que quando fizesse menos frio, aquilo não seria tão feio como o tinham pintado.

Folgadinho sabe que a nove quilómetros se tira um retrato por um franco. Ele aí vai a unhas de cavalo… Depois das fundições de canhões, quem tem ganho mais dinheiro com a guerra, são os fotógrafos da zona onde acantona a tropa.

Certa tarde chega a ordem para ir a instrução a trincheiras. Momento de comoção. Os oficiais passam graves, com mapas na mão, a dizerem histórias uns aos outros. Na manhã seguinte abala-se. Até às trinchas são uns quarenta quilómetros e faz-se a marcha em dois dias. No fim do primeiro, Folgadinho começa a ver casas arrasadas e dorme num telheiro que não tem telha. Ouve-se o troar do canhão ao longe e Folgadinho, sentado no capacete de aço, continua a olhar para o céu, a ver muitos aeroplanos. Só vem a rapaziada da companhia, mais o nosso capitão, o nosso tenente, os nossos sargentos… Um piquenique em família.

Na manhã do segundo dia rompe-se a marcha sem cornetas e, depois do alto do almoço a companhia divide-se em dois grupos. Entra em zona em que a cautela não é desnecessária. À Tarde chega-se a uma aldeia onde há ingleses em barda. Metem o nosso amigo com outros dentro de um palheiro cheio de camaradas britânicos. A noite é passada com um pouco de sobressalto com baterias que estoiram por perto.

O dia passa e o Folgadinho vai ver os ingleses fazerem exercício. Sente-se turista e mirone.

A vida seria boa se não fosse à tardinha a ordem de formar. A companhia vai partir para as trinchas.

De súbito, lá do alto, há um grande estoiro de terra que voa pelo ar e fumo que se enrodilha. Folgadinho avança o nariz fora da forma. Mau! Que foi aquilo? Uma granada que veio de lá, não achando graça e a saliva seca-se-lhe um pouco.

Quatro à direita volver… Marche… e ele lá vai em direcção ao ponto onde a segunda e terceira granada acabam de cair. Toma-se, porém por um campo, por detrás dumas árvores e Folgadinho sente-se mais feliz. Apanha-se outra estrada onde, à luz do crepúsculo, passam carros pesadamente e grupos de ingleses que regressam, arma em bandoleira, capacete no braço e cigarro na boca. Andam-se dois ou três quilómetros, cortam-se caminhos até que de repente e junto a uma tabuleta aparece uma passadeira de madeira. Essa passadeira vai-se metendo pelo chão abaixo, até se enterrar entre dois taludes revestidos de sacos cheios de terra.

As marmitas, todos os acessórios da mobília de um soldado esbarram nas esquinas bruscas daquele beco que não consegue andar dez metros na mesma direcção.

José Maria Folgadinho, “lãzudo” da 1.ª Grande Guerra, está pela primeira vez nas trinchas.

Foram situações havidas, das quais cinquenta anos depois muitos de nós tivemos a oportunidade de nos revermos e como mancebos chegarmos à ZI da Guiné, a história repete-se.

Com um forte Abraço,
Arménio Estorninho
1.º Cabo Mec Auto
CCaç 2381
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7165: Estórias do meu amigo de infância Alfredo Ramos, ex-Sold Condutor Auto da CCAÇ 556 (Guiné, 1963/65) (Arménio Estorninho)

Vd. último poste da série de 15 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7284: Notas de leitura (170): Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, Crónica dos Feitos da Guiné, de Luís Sanches de Baêna (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7285: História de vida (34): Do Cunene a Gadamael ou as (des)ilusões do Portugal plurirracial e pluricontinental... Para o Cherno Baldé, com apreço (José Gonçalves)

 1. Resposta do José Gonçalves ao comentário do Cherno Baldé (*):


Meu caro Cherno, obrigado pelas tuas palavras e quero dizer-te que estou completamente de acordo contigo quando dizes que as necessidades e o querer dos homens e mulheres nativos da Guiné, que lutaram ao nosso lado, por um ideal, pelos seus próprios interesses sócio-económicos e por vezes até pelo ódio por outras etnias (depois eu explico porque uso a palavra ódio),   não foram tomados em consideração pelas Forças Armadas Portuguesas no terreno aquando da retirada e não mereciam o que lhes aconteceu.


Como deves saber,  em qualquer exército democrático todos recebemos ordens de outrem até chegar ao poder político e as ordens são para cumprir ou há consequências. Apesar de ter hoje conhecimento do que se passou com os soldados africanos,  não sei o que poderia ter sido feito diferente para salvaguardar os interesses dos nossos camaradas que decidiram ou foram esquecidos lá e continuaram a fazer a sua vida na Guiné.


A Guiné é um país independente e  Portugal não tinha e não tem o direito de intervir a não ser que os tratados fossem violados, o que veio a acontecer,  e uma intervenção na ONU por parte de Portugal a denunciar tais massacres à comunidade internacional era apropriado, mas do que serve ?


Todos nós sabemos o peso das resoluções da ONU! Não valem muito a não ser que os interesses dos grandes estejam comprometidos.

Totalmente suporto que os soldados que lutaram debaixo da bandeira portuguesa,  deviam ter uma reforma do governo português, mas quero que saibas que eu também não a recebo e nunca a receberei porque nunca descontei para a caixa de aposentações [, Segurança Social,] em Portugal  e sem o ter feito não tenho direito apesar de ser português,  nascido em Portugal. Regras feitas pelos políticos que nunca compreenderei. 

Agora um pouco de humor: dizem que os políticos são como as fraldas e que de tempos a tempos têm que ser mudados e pela mesma razão !

 Voltemos ao ideal de que falei. Apesar de natureza colonialista e muito paternalista,  o ideal porque lutámos,  continha valores muito nobres como a liberdade e igualdade entre as raças (apesar de eu pensar que só há uma, a humana!),  um país secular e multidimensional, onde brancos, pretos e mestiços podiam viver em harmonia debaixo da mesma bandeira. Só que esse mesmo ideal existia pura e simplesmente  para conveniência das classes dominantes que o utilizavam para os seus próprios fins que era o controlo absoluto do seu povo, colonizador e colonizado.

Como jovem que fui, este ideal foi-me incutido desde muito jovem, ainda me lembro de ler nos livros da escola primária toda esta propaganda e pensar nessa altura que Portugal devia ser o melhor país do mundo devido a toda a sua bravura e nobreza e assim me manipularam como manipularam a maior parte da minha geração.

Para te dar um pouco das minhas experiências pessoais deixa-me dizer-te que por muito tempo me considerei Angolano/Português e não o contrário pois vivi em Angola dos  8 aos 18 anos para onde fui com toda a minha família em Janeiro de  1961 e foi aí que se passaram os meus anos formativos (**). 

O meu pai sempre foi um guerreira da vida, à procura de sucesso para a sua família apesar de ter somente a 3ª classe da escola básica. Com esta sua vontade pelo sucesso, tentou emigrar para o Canadá aos vinte e tal anos, mas como tinha cadastro na PIDE, apesar de ter sido aceite pelo Canadá,  o governo português não autorizou a sua saída, e assim em 1960 foi-lhe feita a proposta  para ir para Angola como colono o que este aceitou,  porque era aventureiro e sabia que em Portugal as oportunidades para ele eram poucas.

Lembro-me de um jornalista perguntar ao meu pai no hospital da Junqueira onde nos encontrávamos a fazer exames médicos antes da partida, para onde íamos?  Ao que o meu pai respondeu Colonato do Cunene! . O dito jornalista,  com lágrimas nos olhos disse em voz baixa quase inaudível:
- Isto não se faz...isto não se faz...Com dois filhos assim tão novos isto não se faz !...   

Vi no rosto do meu pai pela primeira vez um ar de preocupação por todos nós, mas calou-se e não disse nada. Passadas umas semanas lá estavamos nós numa povoação chamada Castanheira de Pêra, nome bastante português mas não no norte de Portugal mas sim ao sul da Matala,  no distrito do Cunene [, no sul de Angola, vd. mapa à direita]. 


O meu pai tentou fazer o seu melhor para triunfar mas nunca tinha sido agricultor na sua vida e em Castanheira de Pêra ou se cultivava ou se morria à fome. Uma outra estipulação era a proibição de empregar qualquer nativo para não perturbar a seu modo de vida que era basicamente a criação de gado. Como poderia um casal de portugueses brancos,  vindos do Algarve,  sem nunca ter sido agricultores,  triunfarem no colonato do Cunene quando o governo lhes promete o Céu e no fim dá-lhes um casal de bois bravos, 4 hectares de terra,  uma carrroça e diz Governa-te.

O meu irmão mais velho frequentava a escola comercial em Faro o que lhe foi impossivel continuar. A opção que teve foi trabalhar no campo a cortar bissapas,  nome angolano dado a arbustos. Eu guardava os bois na bela savana angolana depois de sair da escola primária.  Como calculas,  o meu pai não aguentou muito tempo e em menos de um ano deixou o colonato e arranjou emprego como electricista numa fábrica de  papel no Alto Catumbela onde foi bem sucedido devido ao seu esforço e vontade.

Ao mesmo tempo começou a guerra em Angola e a população branca estava aterrorizada,  mesmo no Cunene. Lembro-me de dormir no sótão da nossa casa 6 meses com medo de sermos massacrados.

Cherno,  a razão porque te conto toda esta história é para te dizer que as vítimas eram na maior parte das vezes os colonos e os colonizados. Nessa altura eu tinha muito orgulho em dizer em voz alta e bom som que era Angolano de corpo e alma e considerava meus compatriotas todos os pretos, brancos e mestiços que viviam no mesmo país,  Portugal. Vivia eu numa comunidade afluente onde gente de toda a raça convivia em harmonia com o objectivo de uma Angola melhor. 

Esta era a minha realidade mas bem analisada veríamos que não era bem assim. Em certas comunidades havia esta harmonia mas a maioria da população vivia marginalizada e  num estado de pobreza extrema sendo explorada por pretos, brancos e mestiços de classe sociais mais elevadas. A exploração também não tem côr.

O princípio da desintegração de toda esta compilação de sentimentos aconteceu na viagem de Bolama para Cacine quando viajava para o meu destacamento em Gadamael. Como é que uma simples viagem de barco consegue desfazer algo acumulado em duas dezenas de anos ?

Neste mesmo navio patrulha ia um sargento das tropas africanas. Acho que o seu destino era Jemberém.  Uma das declarações do mesmo foi como a percussão de todo um desencadear de pensamentos dentro do meu cérebro jovem e ingénuo.  O sargento ia falando dos roncos que tinha já feito e das operações realizadas e a certo momento diz-nos que em regra quando vai para o mato "tudo o que é preto é para matar". 

Para mim isto foi um choque tremendo pois este não era o sentimento nem o treino que tinha tido. Como africano estava ofendido (nessa altura ainda me sentia africano,  hoje sou canadiano/português) e como comandante militar senti nesse momento que havia algo de errado nesta guerra para onde ia. O inimigo para mim não tinha côr mas sim uma ideologia que era diferente da minha e que a queria impor à força, a Portugal e às populações, que viviam debaixo da mesma bandeira. Para o sargento o inimigo era preto e vivia no mato fora das zonas controladas pelas nossas tropas. Quem estaria certo ?

 Mas como podia este homem vêr os seus irmãos da mesma côr vivendo na mesma "província" como inimigos mortais ? Seria que eram todos turras ? Seria que este sargento não tinha sentimentos ? Seria que se encontrasse com um cubano branco não o matava e só mataria os pretos ? Quem teria incutido este ódio num homem que parecia afável em todos os outros aspectos ? Será que eu e os meus soldados iríamos ter os mesmos sentimentos passado uns tempos ? Esperava sinceramente que não,  mas já não tinha a certeza de nada.

Por fim cheguei a Gadamael,  entrei dentro da rotina dos bombardeamentos  mas este sargento não me saía da mente pois não queria ser como ele. O 25 de Abril diminuiu este tipo de preocupação mas começou uma nova série,  relacionada com as consequências da descolonização.  

De início não podia imaginar que Portugal poderia abandonar as então chamadas "províncias ultramarinas" porque eu conhecia bem Angola e a realidade angolana. Compreendi logo de início que a Guiné era muito diferente e que a minha experiência angolana não era a mesma na Guiné.  Lembro-me das conversas com os meus soldados tentando mentalizá-los que o regresso a casa talvez demorasse mais do que eles pensavam, que no meu parecer Portugal não ia abandonar as populações e as tropas africanas e que para tudo isto se resolver era preciso tempo.  A resposta deles era quase sempre a mesma: Eles que resolvessem isso depressa que eles queriam ir para casa. O mesmo sentimento era quase unânime  entre os outros pelotões e os oficiais e sargentos.

Foi então que entendi que os princípios e ideais porque estava lutando não eram iguais à maioria dos meus camaradas . Nessa altura eu ainda me sentia africano e tinha um peso enorme no coração por saber o que estava para acontecer a todos os meus compatriotas angolanos com a inevitável retirada. Tinha por lá ainda muitos amigos de infância e estava preocupado. A minha preocupação era legítima pois a maior parte deles veio de lá com as calças na mão como se costuma dizer.

O 25 de Abril foi um processo irrefreável como um comboio sem travões descendo uma ladeira. A descolonização ia ser feita o mais rapidamente possível desse no que desse.

Os comandos militares do MFA  sabiam que não podiam mandar a guerra continuar porque na mente dos militares a guerra já tinha acabado e agora era tudo "democracia" portanto "o povo é quem mais ordena" e o povo ordenou a entrega das colónias que foi um termo rejuvenescido para  justificar o que já estava num processo irreversível. 

Se os caixões continuassem a chegar a Portugal,  o povo revoltarse-ia e também acho que os militares não aceitariam um continuar da guerra. As negociações não contemplavam  mais nada do que a independência total e era pura e simplesmente uma questão de quando e não se nos íamos retirar. Associações de soldados, sargentos e oficias milicianos começaram a aparecer por todo o lado dentro das Forças Armadas e já não se decidia nada a não ser por comité.

Infelizmente,  Cherno,  a descolonização que se fez  não foi a que deveria ter sido feita mas a que foi possível fazer dentro de um clima que na altura se tornou caótico e que injuriou brancos, pretos e mestiços que se consideravam cidadãos de um Portugal multirracial e pluricontinental,  principalmente aqueles vivendo em África. 

Por outro lado temos também que imputar responsabilidade aos movimentos de libertação pois para bem do povo estes deviam ter insistido numa outra descolonização. Era o interesse e o bem estar do seu povo que beneficiaria de uma descolonização ordenada preservando a economia, e infraestruturas do governo como a educação e a saúde pública. Não foi isto que os movimentos exigiram de Portugal o que queriam era que saíssemos o mais rápido possível para que pudessem discutir entre eles quem reinaria, e foi isso que fizemos em detrimento do povo africano (branco, preto e mestiço) 

A minha visão deste assunto e de outros tem evoluído através dos tempos com a minha própria maturação e um entendimento mais global do mundo, vejo hoje as coisas de maneira diferente, as coisas já não aparecem a preto e branco mas sim em diferentes tons incluindo todas as cores do arco íris.  Também descobri através de muitos anos de ponderação e experiência que a culpa em coisas deste géreno não vem só de um lado e que,  para se resolver os probemas sérios, temos que escutar, analisar, reflectir,  pedir desculpa e desculpar. Um dos grandes exemplos, e filho de Africa é o Nelson Mandela que conseguiu pacificar o seu povo. Devia haver um Nelson Mandela para cada país do mundo, principalmente em África. 

Não te quero cansar mais pois esta história já está muito comprida. Quero novamente agradecer as tuas palavras e também os teus textos que acho maravilhosos. 

Obrigado
 Jose Goncalves
 Alf Mil Op Esp


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Nota de L.G.:


(*) Vd. comentário ao poste de 10 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7253: (Ex)citações (108): Transferência de soberania com dignidade ou rendição sem honra nem glória ? Quando se olha para trás, é que se enxerga tudo... (José Gonçalves)


(...) Caro José Gonçalves,

Tenho lido com muito interesse os seus depoimentos ou pontos de vista que me parecem sinceros e muito realistas, certamente, fruto de uma longa reflexão e maturidade.


Sobre o poste de hoje, a minha modesta apreciação feita mais acima continua válida, no entanto queria chamar a atenção sobre um aspecto que, na minha opinião, podia e devia ser considerado,  e não foi,  que é a opinião desses soldados nativos e das milícias que, como é sabido, não viam a questão com os mesmos olhos nem tinham as mesmas motivações. E a parte da população Guineense que se arriscou ao lado de Portugal e que era considerada pela outra parte como sendo os cães dos colonialistas mereciam ser abandonados a sua sorte? Exceptuando a pequena Bélgica, nenhuma outra potência colonial o fez.  



Um dia vou contar a história de um pequeno grupo de milícias fulas destemidos que, quase sem armas, atacou a localidade de Cuntima, no norte, e as drásticas consequências que daí resultaram para a comunidade local. Houve muitos que não se deixaram enganar pelas falsas promessas de um falso acordo que, de facto, foi uma verdadeira capitulação. Esta história faz lembrar os acordos de rendição ou capitulação da Alemanha na 1ª guerra.

Cherno Baldé (...)



 (**) Último poste desta série > 12 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7267: História de vida (33): Adilan, nha minino. Ou como se fica com um menino nos braços - 2ª parte (Manuel Joaquim)

Guiné 63/74 - P7284: Notas de leitura (170): Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, Crónica dos Feitos da Guiné, de Luís Sanches de Baêna (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Novembro de 2010:

Queridos amigos,
Foi muito bom ter tido a companhia do nosso blogue ontem, no lançamento do livro do Armor Pires Mota, na Associação 25 de Abril. Tivemos casa cheia, os confrades apareceram em massa, com a Alice e Luís Graça na primeira fila. O Humberto Reis trouxe as suas lembranças para Bambadinca e deu-me um rolo de cartas, estou desconfiado que ele pensa que irei tirar azimutes ou andar em operações…
Os meus preparativos prosseguem. Vou levar azeite em lata, amanhã de manhã vou à rua do Arsenal comprar bacalhau.
A minha amizade com o Fodé nasceu à volta do bacalhau com batatas, vai prosseguir assim.
Estou a acabar, com este livro dos fuzileiros, o primeiro carregamento de leituras que me trouxe o António Duarte Silva.
Na minha sala de trabalho, já estou cercado de sacos de plástico, inclusive tenho aqui uma saca enorme com livros destinados à biblioteca do blogue.

Um abraço do
Mário


Os fuzileiros na Guiné (1), entre 1961 e 1974

Beja Santos

“Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, Crónica dos Feitos da Guiné”, é o relato minucioso destas tropas especiais a que se propõe o Capitão-de-Fragata Luís Sanches de Baêna (Edições Inapa, 2006). Trata-se de um documento exaustivo que inclui a identificação dos dados históricos e culturais da região, incluindo o conhecimento das etnias. Após um quadro relativo às efemérides da subversão da Guiné e entra-se directamente no cenário de conflito latente, em 1962.

Em Junho desse ano chega a Bissalanca o DFE 2 sob o comando do 2.º Tenente Vasconcelos Caeiro. São identificados os meios navais então existentes e é elucidativo o que o Comando da Defesa Marítima informa em finais de 1962: “Mantem-se o estado de expectativa no Sul da Guiné, onde existem vários focos de aliciamento das populações que é necessário colmatar”. O reforço de efectivos navais começa em finais de Janeiro de 1963. Desde muito cedo que vão surgir conflitos por vezes pouco discretos entre o Comando-Chefe e a Armada: esta considera que os Fuzileiros não estavam a ser aproveitados nas missões que lhes eram próprias e que na região assumiam um papel de grande relevância, tendo em conta a particularidade das características geo-hidrográficas. Em Março desse ano, grupos do PAIGC apoderaram-se dos navios Mirandela e Arouca, perto de Cafine, no Sul. O dispositivo naval inclui Lanchas de Fiscalização e Lanchas-Patrulhas. Os meios eram poucos, foi necessário recorrer à imaginação para conseguir os melhores resultados. Vão chegando, ao longo de 1963, um rebocador, um ferry-boat, batelões e mais dois Destacamentos de Fuzileiros, comandados por Ribeiro Pacheco e Alpoim Calvão. As novas unidades foram aquarteladas em Bolama. O armamento é escasso e as deficiências eram muitas: falta pessoal habilitado a trabalhar com bazuca, morteiro e MG 42; grande parte do pessoal nunca tinha efectuado lançamento de granadas; não havia pessoal habilitado a trabalhar com explosivos, etc. O trabalho em coordenação dava bons resultados, envolvendo o Exército, os Pára-quedistas e os Fuzileiros.

Assim ocorreu a operação “Trevo” que levou à ocupação de Darsalame, no Cubisseco.

Em 1964 teve lugar a acção de maior envergadura de toda a guerra, a Operação “Tridente”. O autor detalha ao pormenor e destaca trechos do relato de Alpoim Calvão: “O Comandante sentia um nó na garganta. Ali, à frente dos seus olhos, estava o inimigo, na iminência de se apoderar de um dos seus homens. Apoiou-se a uma árvore, pesando o dilema: arriscar mais vidas para tentar recuperar o corpo ou ver mãos ávidas arrastarem-no aos poucos para as densas sombras da mata, onde se viria depois de troféu de propaganda? Subitamente viu alguns homens destacarem-se do perímetro defensivo. Distinguiu perfeitamente as largas espáduas do Sargento André, a achaboucada figura do Fonseca, o Botelho, o Dias da Rosa, o ágil perfil de lobo do Piedade Grumete e outros mais. Símbolos da mais pura camaradagem e da mais viril fraternidade – a das armas. Espelhos da valentia impossível, resumos gloriosos do que há de mais belo e de mais profundo na alma humana. Avançaram resolutos, pelo limiar da eternidade, em direcção ao camarada morto. Alcançaram-no esmagando as sombras que o queriam levar. Regressaram às linhas. Aos ombros, em vez de um, traziam dois cadáveres: a dádiva generosa do Botelho fora total […]”. A Operação “Tridente” terá sido duríssima para os Fuzileiros (sofreram dois mortos, nove feridos graves e muitos evacuados por doença”. Em Março, chega o novo Destacamento de Fuzileiros e o Comandante-Chefe passa a ser o General Schulz. Os Fuzileiros mantêm-se activos no Sul e também no rio Corubal, no canal do Geba as forças do PAIGC começam a atacar a navegação em Ponta Varela.

Não há condições de pormenorizar as tropas que chegam e as que partem, mesmo as chefias. O fundamental a reter é que nesta fase da guerra, o Comando da Defesa Marítima é inteiramente responsável por largas porções do território do Sul, fiscalizando águas territoriais e interiores, assegurando transporte, intervindo isolada ou conjuntamente. As necessidades de intervenção aumentam, os Fuzileiros vão estar activos em quatro áreas distintas: Cacheu; Geba, Mansoa e Corubal; Rio Grande de Buba e Tombali-Pobreza; Cumbijã e Cacine, as quatro da responsabilidade do respectivo Comandante de Destacamento. As forças do PAIGC vêem o seu armamento melhorado, o uso do morteiro 60 e de explosivos passou a ser referenciado.


Chegamos assim a 1965, o PAIGC aumenta a sua actividade no sector Leste (Pirada, Canquelifá e Beli) e começa a utilizar minas antipessoais com caixas de madeira, o que trouxe nova preocupação para a mobilidade das tropas. Os ataques nas rias do Sul agravam-se. Em cada área de Destacamento, os Fuzileiros fazem patrulhas, emboscadas, golpes de mão e protegem a navegação. As emboscadas no Cacheu passam a ser frequentes mesmo a lanchas dotadas de peças de artilharia dissuasoras. O autor escreve “Em Outubro constatava-se estar a margem sul do rio Cacheu fortemente contaminada pelo inimigo entre Forol e Canjaja, com a presença de pequenos grupos das bases de Iador, Máqué e Canjaja. No mês seguinte, o inimigo tornava a manifestar-se na ilha de Bissau… as acções terroristas estenderam-se à tabanca de Morocunda, em Farim, causando 19 mortos e 70 feridos entre a população que assistia a um batuque”. O PAIGC frequenta com mais assiduidade a região entre Jugudul e Enxalé, no fim desse ano despovoaram-se todas as tabancas que ainda restavam na região.

Referindo-se ao início de 1966, o autor observa que o Cantanhez permanecia um santuário onde os guerrilheiros se mantinham acantonados em força, algumas das operações desencadeados no ano anterior, envolvendo Fuzileiros, tinham sido mal sucedidas, não se tendo conseguido entrar em Cafine. Em Janeiro, é posta em marcha uma grande operação para conquistar Cafine, mas os Fuzileiros viram-se de novo obrigados a retirar. Em meados do ano, o PAIGC passou a empregar o canhão sem recuo e há notícia da presença de cubanos entre os guerrilheiros. Graças ao apoio dado pelas autoridades senegalesas, Sambuiá torna-se numa base temível, e no Leste prossegue a pressão sobre Beli e Madina do Boé. Tendo em conta que não havia efectivos para ocupar o Cantanhez, foi considerado que o emprego dos Fuzileiros devia ser orientado para as operações anfíbias, para a execução de operações com forte probabilidade de contacto e para ataques de surpresas com golpes de mão.

Seguindo o relato do autor, verifica-se que uma larga percentagem de insucessos decorria a erros no local de desembarque, à chegada de tropas quando a maré já se encontrava na vazante à hora de reembarque, à própria natureza do terreno com tarrafe intransponível. No Sul, entrou-se numa certa rotina de operações no Rio Grande de Buba, o inimigo revelava-se mais agressivo, passando a atacar nos reembarques, usando as suas temíveis bazucas.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7275: Notas de leitura (169): O Império dos Espiões, de Rui Araújo (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7283: Parabéns a você (174): Coronel Pacífico dos Reis, ex-Comandante da CCAÇ 5 (José Martins / José Corceiro)

1. Neste dia 15 de Novembro de 2010, data de aniversário do Coronel Pacífico dos Reis, dois antigos militares da CCAÇ 5 (Canjadude), José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms) e José Corceiro (ex-1.º Cabo TRMS) quiseram deixar o seu testemunho, em jeito de homenagem ao seu antigo Comandante.

O Coronel de Cavalaria Pacifico dos Reis, antes de deixar o serviço activo.

2. Comecemos por José Martins:

Apesar de ter conhecido o nosso amigo Pacifico dos Reis em Junho/Julho de 1968, há mais de 42 anos, nunca lhe enviei saudação alguma por ocasião do seu aniversário. Razões para tal? Muito simples: em Novembro de 1968 encontrava-me em gozo de licença na metrópole; em 1969 o nosso aniversariante, já se encontrava em Bolama, a comandar a Companhia de Instrução.

É por isso que, hoje e agora, lhe envio um abraço de parabéns, não só como bloguista, mas também como seu Sargento de Transmissões, que fui, e seu amigo incondicional.

O Capitão Pacifico dos Reis, junto da Fox resgatada.
© Foto: Colecção de José Martins

Como Oficial de Cavalaria que é, custava-lhe que, ao fazer operações ou colunas na direcção ao Cheche, verificar que se encontrava “abandonado” no trilho, uma auto metralhadora FOX, que tinha rebentado uma mina anticarro com o rodado. Aproveitando a presença de um reboque que tinha sido incorporada na coluna que foi levar as canoas ao Cheche para a execução da jangada de má memória, a retirou e, passado algum tempo, a mesma viatura já estava no serviço operacional.

Chegar a um Teatro de Operações e ir comandar uma Companhia Africana, não é fácil. Se se acrescentar que a CCAÇ 5 se encontrava dispersa por quatro locais diferentes – Nova Lamego, Canjadude, Cabuca e Cheche – tendo de gerir a substituição do pessoal que, ao mudar de local trazia a família e os parcos haveres que sempre os acompanhava, originando que no novo destino fosse necessária a construção de nova morança, que face ao baixo pré que recebiam (torna-se necessário recordar que a maioria dos militares africanos eram soldados de 2.ª classe, que equivalia a pré mais baixo), conseguiu manter a operacionalidade e, logo a seguir, é reunida a Companhia em Canjadude, com a constituição de um novo subsector.

Aí conseguiu, além do respeito dos soldados, europeus ou africanos, mas sobretudo o reconhecimento e a estima que lhe devotavam, como prova a carta do Amar, depois de deixar a Unidade.


É por tudo isto que me atrevo a ser porta-voz de todos os militares que serviram na Guiné sob o seu comando – Companhia de Caçadores n.º 5 e Centro de Instrução Militar – sobretudo os Africanos que mesmo que o quisessem não teriam a oportunidade de mandar um abraço ao seu “Capitão Faca de Mato”. Por isso, e recordando esses bons tempos, apesar de difíceis, aqui fica uma das melhores realizações do Comandante:

A Secção de Comando Dragão – Dragão porque era uma autentica força de assalto que sempre acompanhava o “Oficial e Cavaleiro” nas suas incursões no mato, e que se manteve pelos anos restantes a ser a “força de elite” da Unidade.
© Foto José Martins


Feliz aniversário, Comandante e Amigo

José Marcelino Martins
10 de Novembro de 2010-11-10


3. Intervenção de José Corceiro

É com imenso prazer que aproveito a oportunidade de enviar os meus cumprimentar e parabenizar, no dia do seu aniversário, o Coronel Pacífico dos Reis, que eu conheci, há mais de 41 anos, como comandante da CCAÇ 5 em Canjadude, onde cumpri a comissão de serviço militar na Guiné.

Eu na altura era um miúdo com 21 anos, mas muito curioso, analítico e observador, sempre com a máquina fotográfica pronta para registar o acontecimento. Interessado em tudo aquilo que me rodeava, porque não descobria nos meus labirintos mentais, justificações nem causas que dessem respostas satisfatórias ao meu turbilhão de dúvidas, assim como não encontrava fundamentações, nem as razões, para a continuidade duma guerra, que no caso me parecia absurda, injusta e desajustada, estando a consumir e a destruir os melhores anos da juventude dum País!

Surpreendeu-me, em Canjadude, a atitude de total disponibilidade perante a guerra, do Capitão Pacífico dos Reis, militar sempre operacional, combativo e arrojado, para não dar oportunidade a que o IN se instalasse no nosso domínio. Sempre que havia saídas para o mato ia à frente, o destemido, mas sempre atento, Capitão Pacífico dos Reis, a comandar a operação rodeado dos seus briosos e audazes Dragões, cuja especialidade foi adquirida na escola da guerra. Palmilhavam e investigavam com olhos de lince todo o terreno circundante para detectar algum sinal que indiciasse que algo de estranho por ali acontecia, mas por vezes era necessário recorrer a lupa para destrinçar no orvalho da manhã, se terá sido humano ou macaco que há momentos ali passou! O Capitão tinha como ponto de honra cumprir a missão, de poder devolver cada homem que comandava, ao seio dos seus familiares, são e salvo!

Tive o grato prazer de me encontrar com o coronel Pacífico dos Reis, há menos dum mês, depois de terem passados 41 anos. Encontrei um homem jovial, sereno, tranquilo e orgulhoso por ter cumprido a missão de vida que abraçou. Narrou alguns dos episódios da CCAÇ 5, como quem os viveu ontem!

Ao homem e ao militar, José Manuel Pacífico dos Reis, expresso os meus sinceros desejos, que a nova etapa que hoje começa, se prolongue por muitos e virtuosos anos, conservando-lhe a força para poder caminhar com jovialidade na senda da vida, com lucidez, paz, saúde e amor, na companhia dos seus familiares e amigos.

Parabéns e Felicidade
Um abraço
José Corceiro


4. Finalmente, aqui ficam os votos dos editores e da tertúlia em geral de que o Coronel Pacífico dos Reis tenha um alegre dia de aniversário, rodeado pela família e amigos que não o esquecerão nunca, e uma longa vida repleta de saúde.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7178: Tabanca Grande (251): José Manuel Marques Pacífico dos Reis, Coronel Cav Reformado, CCAÇ 5 e CIM/Bolama (Guiné, 1968/70)

Vd. último poste da série de 15 de Novembro de 2010 Guiné 63/74 - P7282: Parabéns a você (173): Orlando Pinela, ex-1º Cabo Reab Mat da CART 1614/BART 1896, Cabedú, 1966/68 (Editores/Tertúlia)

Guiné 63/74 - P7282: Parabéns a você (173): Orlando Pinela, ex-1º Cabo Reab Mat da CART 1614/BART 1896, Cabedú, 1966/68 (Editores/Tertúlia)


1. Completa hoje 65 anos o nosso Camarada Orlando Pinela, que foi 1º Cabo Reab Mat da CART 1614/BART 1896, Cabedú, 1966/68.
O Orlando já se apresentou na nossa tabanca em 20009 e ficou então de nos enviar as habituais fotos (actual e do tempo de tropa), bem como a estória da sua guerra, que continuamos a aguardar a todo o momento.


2. O Orlando era o Quarteleiro da companhia e foi ferido em Setembro de 1967, em Cabedú, tendo-se apresentado aqui nas nossas fileiras tertulianas, em 24 de Março de 2009, com a seguinte mensagem: “Boa tarde e saudações cordiais do camarada Pinela.Aí vai o meu pobre historial militar.

Fiz a recruta na Serra da Carregueira no 1.º turno de 1966, tendo tido uma recepção excepcional como faxina à cozinha. Nunca tinha visto tanta loiça, era um autêntico Hotel de *****, os quartos eram todos duplos e tinham uma média de 160 camas.

Esses dois meses, além da chuva e do frio, tudo passou sem grandes sobressaltos além de alguns roubos de equipamento.Como já estávamos naquele Resort há muito tempo, todos fomos à vida indo eu parar ao Entroncamento, terra muito conhecida pelos comboios, talvez fossem mais os militares que a população.

Aí sim, tive uma recepção estupenda de boas instalações, no quarto de vez em quando, como o mesmo não era muito grande, era necessário desviar as camas para passar o comboio e também não éramos muitos, mais ou menos uns 300.Assim chegou o mês de Agosto, fim da especialidade e nova mudança sempre a fugir para o Norte.

Agora sim fui para uma cidade estupenda, a capital de Trás-os-Montes, Vila Real, condições acolhedoras e condignas e uma excelente camaradagem, ficando a fazer serviço no material de Guerra, tendo quase todos os dias a visita do senhor Comandante da Unidade (RI13), um homem com dignidade e de bom coração.

Como também sou Trasmontano da região de Bragança, muitos fins-de-semana lá ia a casa para encher as peles. Assim pelo fim de Setembro acabou a estadia nesta unidade e rumando para uma cidade a Sul do Rio Douro, Vila Nova de Gaia, já com o bilhete na bagagem para novos rumos. Estive três dias na Serra do Pilar até me reagrupar à Companhia. Mais uma vez fui conhecer novas caras, pois nem uma alma conhecida.

O Bart 1896 integrava as Carts 1612, 1613 e 1614, tendo passado por uma Bateria em Leixões até ao treino operacional em Viana do Castelo com o embarque a 12 de Novembro de 1966.

Esta descrição é em traços largos a minha passagem pelo Serviço Militar no Continente, talvez não seja muito importante para os camaradas do blogue, mas é o começo da minha apresentação.

Dentro de dias vou começar a escrever a minha singela passagem por terras da Guiné. Despeço-me com um abraço para todos os camaradas da Tabanca Grande e em especial ao camarada Carlos Vinhal em ter pachorra para me aturar.

Um abraço

Orlando Pinela”

3. Em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, Magalhães Ribeiro e demais tertulianos, aqui te endereçamos as maiores felicidades, melhores níveis de saúde e alegria, junto dos teus queridos familiares e amigos, neste teu dia de aniversário, desejando que o mesmo se prolongue por muitos, prósperos e felizes anos.

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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

14 de Novembro de 2010 >
Guiné 63/74 - P7279: Parabéns a você (172): César Vieira Dias, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71 (Editores/Tertúlia)

domingo, 14 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7281: (De) Caras (6): Titina Silá (1943-1973), morta duas vezes, pelos fuzos e pelo esquecimento... (Nelson Herbert / Luís Graça)




Guiné > PAIGC > s/d > s/l > Amílcar Cabral, ao centro, rodeado de guerrilheiros do seu partido... Foto enviada pelo Nelson Herbert, jornalista guineense que trabalha na Voz da América, membro da nossa Tabanca Grande, habitual colaborador do nosso blogue. Julgo que esta foto faz parte do Arquivo Amílcar Cabral, da Fundação Mário Soares.


1. Mensagem de Nelson Herbert:

Data: 14 de Novembro de 2010 03:05

Assunto: Mulheres do PAIGC !

Caro Editores

Para que conste no blogue ! (*)

Achei interessante esta foto, cuja autoria entretanto desconheço...Amílcar Cabral, rodeado de guerrilheiras do PAIGC, algures na Guiné !



Várias mulheres guerrilheiras, guineenses e caboverdianas, destacaram-se durante a guerrilha ... De entre elas o nome mais sonante é a da hoje heroína nacional guineense Titina Silá (que não consigo identificar na foto), morta a 30 de Janeiro de 1973 quando a canoa em que seguia com mais guerrilheiros, foi surpreendida por uma patrulha de fuzileiros ("Zebro" ) durante uma travessia de um dos afluentes do Rio Farim ...


Titina Sila chefiava por sinal uma delegação da guerrilha que se dirigia a Conacri, para as cerimónias fúnebres de Amílcar Cabral !

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Nelson:

Essa data, a de 30 de Janeiro, é hoje feriado nacional na Guiné-Bissau. Titina Silá é, com todo o mérito, uma heroína nacional. Sei pouco da sua vida. Terá sido uma das raras guerrilheiras a combater os tugas, de armas na mão. Também são raras as suas fotos.

Às mulheres, na luta de guerrilha, foram dadas sobretudo actividades de apoio, na rectaguarda. Em todo o caso, a mulher guerrilheira está no nosso imaginário. Basta lembrar, entre outros, os romances dos nosso camaradas Estranha Noiva de Guerra (de Armor Pires Mota, 2010, 2ª edição, ainda há dias lançada no mercado) ou Pami Na Dondo, a Guerrilheira (de Mário Vicente, aliás Mário Fitas, 2005).


Gostava de conhecer, em detalhe, as circunstâncias em que a Titina [Ernestina] Silá (1943-1973) foi morta pelos nossos fuzileiros. Pode ser que haja alguém, no nosso blogue, que conheça pormenores desta acção militar. 

Os seus restos mortais (?) repousam hoje no Forte da Amura. Estive lá no dia 7 de Março de 2008. Fiz-lhes uns versos...


(...) E quanto a ti, Titina,
que incendiavas paixões
pelo Oio ?
Que fazes também aqui,
jazida entre os poilões,
debruados de branco,
da triste Amura ?
Cuidado, Silá,
que os tugas montaram-te a cilada
na cambança do Rio Farim.

(...)


Segundo informação recolhida pelo nosso camarada e amigo A. Marques Lopes, era a Titina Silá quem dirigia a Norte o Comité da Milícia Popular e que tinha como missão organizar a passagem de pessoas e mercadorias nas cambanças do rio Cacheu, segundo diz o Luís Cabral no seu livro "Crónica da Libertação". Diz aí também que ele, Luís Cabral, mais o Chico Mendes eram os responsáveis da Frente Norte.


Ainda este ano o nome de Titina Silá foi evocado pelo guineense Edson Incopté, na página do Didinho [, a quem agradeço a foto]. O autor lamenta que esta mulher esteja esquecida pelos guineenses...


(...) "Hoje, passados 37 anos após a sua morte, o respeito permanece mas não a merecida recordação! É Incomodativo constatar a falta de consideração para com a memória de Titina Sila, não só dentro do PAIGC, não só dentro dos órgãos governamentais, mas também entre a sociedade em geral. (...) A força espiritual que hoje sabemos que existiu em Titina Sila, tem de estar na nossa consciência, principalmente na consciência dos nossos governantes (...). A grande revolução que se deseja dentro da mente dos nossos jovens necessita de referências como Titina Sila. Só com essa revolução de mentalidade teremos uma Guiné-Bissau renovada sob todos os aspectos. Ou seja,  meus irmãos, nunca mais teremos Titina Sila, mas podemos ter pessoas que se inspiram nela no seu dia-a-dia. Os tempos são outros, mas podemos fazer voltar o bom tempo em que as crianças eram ensinadas à cantar tão sentida canção: “Titina na riu di Farim, Titina nada i tchiga na metadi i fasi força pa iangasa kanua tuga odjale i kunsa lança bumba…” (...)
________


Nota de L.G.:


Guiné 63/74 - P7280: Memória dos lugares (112): Mondajane, a sudoeste de Dulombi, tabanca fula em autodefesa que ameaçámos queimar no princípio de Setembro de 1969 (Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil, CART 2339, 1968/69)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Subsector de Galomaro > Carta de Duas Fontes, 1/50000 > Posição relativa de Mondajane, tabanca fula em autodefesa, a sudoeste de Dulombi, seriamente ameaçada em Agosto/Setembro de 1969 pela penetração do PAIGC no regulado do Corubal. Com a retirada de Béli, Madina do Boé e Cheche, passou a haver um corredor por onde o PAIGC se infiltrava facilmente na parte meridional do chão fula, a norte do Rio Corubal.



Apesar do reforço temporário de tropas pára-quedistas ao subsector de Galomaro (a partir de Agosto de 1969, COP 7), bem como da CCAÇ 12 (que vai ter a sua estreia logo em Julho de 1969, em plena época das chuvas), Madina Xaquili (entre Galomaro e Canjadude) seria uma das primeiras tabancas fulas, a cair,  com a sua defesa a tornar-se insustentável (foi andonada pela população e depois pelas NT em Outubro de 1969). Padada, mais a sul, também já tinha sido abandonada (em data que não posso precisar). O PAIGC apertava o cerco ao chão fula.

Em Agosto de 1969, Madina Xaquili e o Pel Mil 147 constam no dispositivo das unidades combatentes do BCAÇ 2852, em virtude de ter constituído um novo Sector, o L5, com sede em Galomaro (onde já estava de resto a CCAÇ 2405, com forças espalhadas por Imilo, Cantacunda, Mondajane, Fá, Dulo Gengele), integrado no CO7 (Bafatá). Nunca mais ouvir falar de Mondajane, sendo muito provável que tenha sido também abandonada...


Imagem: Luís Graça (2010)



Coimbra > O Gil Maia dos Santos, de 4 anos, com a maninha, que acaba de nascer, com 2 kg. Com um Bj para  toda a tertúlia. Enviado por "Avô, babadíssimo, CMSantos, Cart 2339".





 
1. O Carlos Marques Santos (ex-furriel miliciano da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69) é um dos nossos tertulianos da primeira hora [, foto à direita, de 1968].  Foi por mão dele, por exemplo,  que o Torcato Mendonça chegou até nós. É casado com a Teresa, que nos acompanha também desde o princípio, e é pai da artista Inês Santos.  Por razões de saúde (Mansambo não lhe fez bem à saúde, nem a ele nem ao Torcato), tem participado pouco na II Série do nosso blogue. Há dias (8 do corrente) mandou-nos uma mensagem: "Tenho andado um pouco distraído das questões do Blogue,  sem perder a leitura habitual. Hoje, a propósito de avós e netos informo, oficialmente, o nascimento de mais uma neta, pequenina, mas mesmo pequenina, da mana do Gil,  meu neto mais velho - 4 anos" (...).

O CMS (como eu lhe chamo) é um camarada muito querido de todos nós. É professor de educação física, reformado. Decidi, em homenagem ao nosso "baboso avô", recuperar estes textos que remontam  a 2006. (*)


(i)  Dei conta, nas minhas notas pessoais de que entre 27 de Agosto e 27 de Setembro de 1969, estive com o meu pelotão em reforço do sector de Galomaro/Dulombi, mais propriamente em Mondajane, sem no entanto haver qualquer nota na História da Companhia. (#)

Talvez na História do BCAÇ 2852 haja referência a esse tempo esquecido, mas vivido por nós, 3.º Grupo de Combate da CART 2339. (**)

A 27 de Agosto foi recebida a notícia de que iríamos para Galomaro.


A 28 saímos e chegámos cerca do meio dia com indicação de que irímos para Mondajane [, a sudoeste de Dulombi], o que não aconteceu nesse dia mas sim no dia seguinte.

No cruzamento para Dulombi rebenta uma mina na GMC que segue à minha frente  a cerca de 15/20 metros, destruindo a sua frente. Resultado: um morto (desintegrado) e um ferido (condutor) que faleceu ainda nesse dia. Nós íamos apeados, fazendo a segurança à coluna que integrava uma nova Companhia em treino operacional e que era de madeirenses.

Impossibilitados de prosseguir,  fomos para Dulombi com os reabastecimentos. Aí fomos informados que deveríamos seguir a pé para Mondajane, que atingimos e onde nos instalámos.

Aí, e enquanto aguardávamos uma coluna com as nossas coisas, sem resultado, aparece-nos um pelotão vindo de Dulombi, carregando parte das nossas coisas, a pé e à cabeça, informando ser necessário termos que ir a Dulombi carregar, a pé e à cabeça, o resto das coisas. O que aconteceu no dia seguinte.

Dia 1 de Setembro de 1969, fui a Dulombi com 17 carregadores e 2 secções de milícias,  mais 10 homens do meu pelotão, a pé e por trilhos, buscar coisas que eram absolutamente necessárias, numa zona desconhecida e densamente arborizada, o que aconteceria de 2 em 2 dias.

A população recusa-se a ajudar (a zona era perigosa) e só com a intervenção pela força (ameaçámos queimar a tabanca), isso é conseguido. Note-se que nestas circunstâncias - falta de géneros e outros bens - repartimos com as populações.

A 5 de Setembro, um nativo mata um portentoso javali e houve carne fresca confeccionada.

A 7, chega um grupo de carregadores de Galomaro, carregando ainda parte das nossas coisas que estavam em Dulombi. Nesse dia o pelotão que aí estava foi rendido.


A 9, nova caminhada para Dulombi para carregar géneros.

Entretanto a 13 um nosso soldado é evacuado por doença e a 15, à tarde, recebemos a visita dos capitães das Companhias 2405 [Galomaro] e 2406 [ Saltinho].

Dia 19 novamente ida a Dulombi para reabastecimento. A pé e pela densa mata.

Dia 23, notícia de que iríamos ser rendidos no dia seguinte. Nada.

Dia 24, rendidos finalmente e saída para Bambadinca [pela estrada Bafatá-Bambadinca], com chegada a Mansambo a 27 de Setembro de 1969. Sem incidentes.


Em suma, um mês a feijão frade. Sem banho e sem mudar de roupa.

   (ii) Humberto [Reis]: Há dias evocaste aqui uma companhia de madeirenses, que levou porrada em Madina Xaquili, no subsector de Galomaro, com vocês, da CCAÇ 12.(***)


Eu também estive em reforço a Galomaro e disso já dei referência e andei por Dulombi e Mondajane, Madina Xaquili, etc. Essa história está, por mim, contada no blogue salvo erro com o título um mês a feijão frade.

Referiste os madeirenses e presumo que são os mesmos que, em treino operacional, andaram comigo. Esses factos não estão descritos na história da minha Companhia, mas eu tenho-os registados nas minhas notas pessoais diárias que elaborei enquanto estive na Guiné.

Há poucos dias, com o Luís, que estava em trabalho em Coimbra, pude com o Victor David recordar factos de Galomaro e Dulombi.


Lembro-me que em coluna para Mondajane, onde eu iria estar em reforço da CCAÇ 2405, a coluna sofreu o rebentamento de uma mina (A/C) na viatura que seguia ao meu lado (nós estávamos apeados) e desse rebentamento um soldado madeirense, pela acção da mina, desintegrou-se. Esta mina rebentou a cerca de 12 metros de mim e felizmente nada sofri.


O Luís perguntava: então o lenço que estaria mais tarde e durante algum tempo pendurado numa árvore nesse itinerário seria dele? Presumo que sim, pois bocados desse soldado, o relógio, roupa, etc… ficaram agarrados à árvore. Seria essa a Companhia [, a CCAÇ 2446,] a que te referes? [O tristemente famoso lenço pendurado numa árvore localizava-se algures no troço da Estrada Bambadinca-Mansambo, e não no subsector de Galomaro, na estrada para Mondajane, como sugere o Carlos. L.G.]

Se foi [a mesma companhia], parece que não entraram na guerra com sorte e também não a tiveram depois. Consegues referenciar no tempo esse ataque?


Poderei a partir daí confrontar as minhas notas, desconhecendo no entanto a denominação da tal Companhia.


Um abraço,


Carlos Marques dos Santos


Cart 2339 – Mansambo, sempre em diligências solitárias  (****)
______

(#) Nota do CMS:


O alferes do Grupo de Combate da Companhia de Galomaro que nos apoiou era meu primo. Ainda bem. Para não variar, a 29, rebentamentos cerca das 7.00h e uma nossa coluna emboscada no sítio do costume. Um morto e um ferido das NT. Ainda faltavam cerca de 2 meses e meio para o regresso à Metrópole.


_____________

Notas de L.G.:

(*) Postes da I Série do nosso  blogue:

24 Janeiro 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXVI: Um mês a feijão frade... e desenfiado (Mondajane, Dulombi, Galomaro, 1969)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXIV: a morte a caminho de Mondajane, com os madeirenses da CCAÇ 2446 (Carlos Marques Santos)



(**) Infelizmente a História do BCAÇ 2852 é omisso sobre este destacamento onde penou o Carlos Marques dos Santos e o seu Grupo de Combate. Oficial ou oficiosamente, o CMS andou um mês desenfiado, sem conhecimento das autoridades máximas do Sector L1 (Bambadina). De acordo com o registo que fica para a História, em Setembro de 1969, a CART 2339 limitava-se a ter um pelotão em Candamã (2 secções) e em Afiá (uma secção). Mas em Agosto, tinha apenas um pelotão em reforço ao COP-7 (Galomaro)...

A História da CCAÇ 12, por sua vez,  confirma a existência, em Agosto de 1969, de tropas de Mansambo em Candamã e Afiá: vd post de 30 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXX: A CAÇ 12 em operação conjunta com a CART 2339 e os paraquedistas (Agosto de 1969) ...

Em resumo, havia muito mais vida, na Guiné do nosso tempo, do que nas secretarias das nossas companhias...


Posteriormente à inserção deste poste,  o Marques dos Santos enviou-me a seguinte mensagem: "Grato pela publicação desta nota. Isto demonstra as incongruências das 'várias histórias oficiais escritas'. Não será caso único. Que os nossos companheiros de tertúlia descubram pequenos pormenores vividos, mas não descritos. Ainda hoje, no meu dia a dia, dou extrema importância a um bem ao alcance de uma torneira – a água".

(***) Vd. postes de 7 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6686: A minha CCAÇ 12 (5): Baptismo de fogo em farda nº 3, em Madina Xaquili, e os primeiros feridos graves: Sori Jau, Braima Bá, Uri Baldé... (Julho de 1969) (Luís Graça)

 (****) Último poste desta série > 8 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7245: Memória dos lugares (110): Ponte Caium: Mais fotos ... (Carlos Alexandre, CCAÇ 3546, Piche, 1972/74)

Guiné 63/74 - P7279: Parabéns a você (172): César Vieira Dias, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71 (Editores/Tertúlia)



Neste domingo 14 de Novembro de 2010, está o nosso camarada César Dias (ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/1971) a comemorar mais um aniversário.

Que a sorte que te levou a terras da Guiné e te trouxe são e salvo, apesar da perigosa Especialidade que a mesma sorte te arranjou, continue a acompanhar-te durante este percurso terreno, que queremos e temos a certeza de que vai ser longo. 
Que estejas sempre ladeado pelas pessoas que são os pilares da tua vida, os familiares e os amigos mais próximos. Não te esqueças destes outros amigos que tens espalhados pelo mundo e que querem o melhor para ti, a nossa tertúlia.

Caro Dias, meu antigo patrão, assim te considero porque a minha Companhia foi filial do teu Batalhão, os meus votos pessoais de que continues a neutralizar as armadilhas da vida e a indicar os caminhos mais seguros àqueles que são a tua continuação.

Em nome dos editores e da tertúlia envio-te um abraço cheio de amizade.
CV
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Notas de CV:

Postal de aniversário de autoria do nosso camarada Miguel Pessoa

(*) Vd. poste de 14 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5266: Parabéns a você (41): César Vieira Dias, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71 (Editores)

Vd. último poste da série de 13 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7274: Parabéns a você (171): José Manuel Lopes, ex- Fur Mil Inf Armas Pesadas, na CART 6250 (Editores)