[, foto à esquerda, 1972, no CAOP1, em Teixeira Pinto, TO da Guiné]
Tenho por ti todo o respeito do mundo e as diferenças de opinião fazem parte do que somos e enriquecem naturalmente a nossa vida.
Há uns postes atrás, num comentário a comentários, um deles meu, dizes que concordas com a afirmação do Réne Pélissier que volto a citar:
"Para a história colonial portuguesa basta consultar os autores de língua inglesa. Há séculos que a maior parte a denuncia como negreira, arcaica, brutal e incapaz: a quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos".
O francês Pélissier fez esta afirmação, em entrevista a Lena Figueiredo, publicada no jornal Diário de Notícias, Artes, de 02.04.2007 [, Clicar aqui para ler a entrevista na íntegra. LG]. (*)
Isto é uma opinião, ou arrumar de vez com a história colonial portuguesa "quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos?" Isto é uma afirmação de quase ódio a Portugal e aos portugueses. Claro que não fomos santos, mas esta não é a nossa História, tanta vez mal contada.
"Para a história colonial portuguesa basta consultar os autores de língua inglesa. Há séculos que a maior parte a denuncia como negreira, arcaica, brutal e incapaz: a quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos".
O francês Pélissier fez esta afirmação, em entrevista a Lena Figueiredo, publicada no jornal Diário de Notícias, Artes, de 02.04.2007 [, Clicar aqui para ler a entrevista na íntegra. LG]. (*)
Isto é uma opinião, ou arrumar de vez com a história colonial portuguesa "quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos?" Isto é uma afirmação de quase ódio a Portugal e aos portugueses. Claro que não fomos santos, mas esta não é a nossa História, tanta vez mal contada.
E aqui não estamos no reino das opiniões.
Por isso, meu caro Cherno [, foto à direita, 1989, em Kiev, Ucrânia], saúdo a tua verticalidade e honestidade intelectual ao acrescentares ainda no mesmo rol de comentários, em referência outra vez ao René Pélissier:
“Nem sempre concordei com a sua linguagem arrogante e de desprezo para com os portugueses e seus aliados.”
A questão, meu caro Cherno, é termos no blogue tantos camaradas que gostam não só enaltecer o trabalho de Pélissier (que nunca foi à Guiné e é uma espécie de rato de biblioteca, rato reaccionário de esquerda, mas rato) mas também de concordar com o que tu chamas “a sua linguagem arrogante e de desprezo para com os portugueses”. E é pena, e às vezes, dói.
Sabemos como funcionava no século XIX muito do recrutamento (chamemos-lhe assim!)
de escravos africanos que embarcavam pela força nos navios negreiros, de bandeira norte-americana, inglesa e francesa (havia navios negreiros portugueses?) rumo ao Brasil, às Caraíbas, à América do Norte?
Por isso, meu caro Cherno [, foto à direita, 1989, em Kiev, Ucrânia], saúdo a tua verticalidade e honestidade intelectual ao acrescentares ainda no mesmo rol de comentários, em referência outra vez ao René Pélissier:
“Nem sempre concordei com a sua linguagem arrogante e de desprezo para com os portugueses e seus aliados.”
A questão, meu caro Cherno, é termos no blogue tantos camaradas que gostam não só enaltecer o trabalho de Pélissier (que nunca foi à Guiné e é uma espécie de rato de biblioteca, rato reaccionário de esquerda, mas rato) mas também de concordar com o que tu chamas “a sua linguagem arrogante e de desprezo para com os portugueses”. E é pena, e às vezes, dói.
Sabemos como funcionava no século XIX muito do recrutamento (chamemos-lhe assim!)
de escravos africanos que embarcavam pela força nos navios negreiros, de bandeira norte-americana, inglesa e francesa (havia navios negreiros portugueses?) rumo ao Brasil, às Caraíbas, à América do Norte?
É ou não verdade que muitos desses infelizes negros, que morriam às centenas em cada viagem transatlântica, eram entregues, vendidos aos capitães negreiros brancos pelos chefes tribais negros dos territórios que se estendem do Senegal até Angola e eram resultado de infindáveis lutas fratricidas entre diferentes etnias? Quem vencia capturava os seus escravos e depois vendia-os aos negreiros ingleses, franceses e norte-americanos.
Estarei a inventar?
Não questiono o colonialismo português. Existiu, com certeza, cometeram-se muitos crimes contra os povos das colónias. E os povos africanos não cometiam constantemente crimes entre si?
Será que é correcto pôr nos pratos da balança, de um lado os brancos, os maus, do outro, os negros, os bons? É assim tão simples, tudo a preto ou branco? Ou o mundo felizmente é a cores, a todas as cores do universo.
Bons e maus existem, coexistem sempre em gente de múltiplas cores.
Estamos em 2012. Os tempos são outros, os povos africanos conseguiram a sua tortuosa independência.
Pós independência quase todos os novos dirigentes africanos cometeram outros tantos incontáveis atentados e crimes contra os seus povos. Vê só as lutas tribais no Congo, no Ruanda, no Sudão com milhões de mortos.
Não questiono o colonialismo português. Existiu, com certeza, cometeram-se muitos crimes contra os povos das colónias. E os povos africanos não cometiam constantemente crimes entre si?
Será que é correcto pôr nos pratos da balança, de um lado os brancos, os maus, do outro, os negros, os bons? É assim tão simples, tudo a preto ou branco? Ou o mundo felizmente é a cores, a todas as cores do universo.
Bons e maus existem, coexistem sempre em gente de múltiplas cores.
Estamos em 2012. Os tempos são outros, os povos africanos conseguiram a sua tortuosa independência.
Pós independência quase todos os novos dirigentes africanos cometeram outros tantos incontáveis atentados e crimes contra os seus povos. Vê só as lutas tribais no Congo, no Ruanda, no Sudão com milhões de mortos.
Também sei que o neocolonialismo existiu e existe e também tem fomentado muitos conflitos. Mas será o responsável, por exemplo, por quase trinta anos de guerra civil em Angola?
Hoje, cinquenta anos após as mais variadas independência, continuar a acusar os colonialistas portugueses de serem "a quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos", é mentira e não fica bem a quem o faz, ainda por cima um francês que passa uma esponja encharcada mas “limpinha” sobre o colonialismo da França.
Os africanos, tal como alguns brasileiros -- ou até os cubanos, com Fidel de Castro em Havana diante de João Paulo II, há uns anos atrás, a acusar o colonialismo espanhol das desgraças de Cuba, cem anos após a independência da ilha - , os africanos, alguns brasileiros e cubanos, dizia eu, têm tudo a ganhar em se libertaram do complexo anticolonialista. Povos que não conseguem libertar-se dos traumas verdadeiros ou fictícios de um passado que já nem sequer conheceram, com que procuram sempre justificar as suas incapacidades e incompetências, não crescem e permanecerão não vítimas do colonialismo mas reféns de si próprios.
É muito fácil acusar os colonialistas que deus (ou o diabo!) tenha. Muito mais difícil é construir um país e lutar por uma vida melhor para os seus povos.
Abraço,
António Graça de Abreu
[Subtítulo da responsabilidade do editor]
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 16 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7294: Carta aberta a... (2): Professores António de Oliveria Salazar e Marcello Caetano (António Graça de Abreu)
(*) Entrevista dada ao DN, a propósito do livro:
Título: Campanhas Coloniais de Portugal 1844-1941, As
Hoje, cinquenta anos após as mais variadas independência, continuar a acusar os colonialistas portugueses de serem "a quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos", é mentira e não fica bem a quem o faz, ainda por cima um francês que passa uma esponja encharcada mas “limpinha” sobre o colonialismo da França.
Os africanos, tal como alguns brasileiros -- ou até os cubanos, com Fidel de Castro em Havana diante de João Paulo II, há uns anos atrás, a acusar o colonialismo espanhol das desgraças de Cuba, cem anos após a independência da ilha - , os africanos, alguns brasileiros e cubanos, dizia eu, têm tudo a ganhar em se libertaram do complexo anticolonialista. Povos que não conseguem libertar-se dos traumas verdadeiros ou fictícios de um passado que já nem sequer conheceram, com que procuram sempre justificar as suas incapacidades e incompetências, não crescem e permanecerão não vítimas do colonialismo mas reféns de si próprios.
É muito fácil acusar os colonialistas que deus (ou o diabo!) tenha. Muito mais difícil é construir um país e lutar por uma vida melhor para os seus povos.
Abraço,
António Graça de Abreu
[Subtítulo da responsabilidade do editor]
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 16 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7294: Carta aberta a... (2): Professores António de Oliveria Salazar e Marcello Caetano (António Graça de Abreu)
(*) Entrevista dada ao DN, a propósito do livro:
Título: Campanhas Coloniais de Portugal 1844-1941, As
Autor: René Pélissier
Coleção: Histórias de PortugalCategoria: Ciências sociais e humanas
Editora, local e ano: Editorial Estampa, Lisboa, 2006
Nº pp. 448
Brochado, 14x20,5 cm, €21,95
Nº pp. 448
Brochado, 14x20,5 cm, €21,95
Pela primeira vez, este livro revela a história global da conquista do enorme império colonial que Portugal chegou a construir em África, na Índia e na Insulíndia, a partir de 1844.
Marcada por guerras quase permanentes no início do século XX, esta conquista durou até 1941. No seu apogeu, a extensão do império português foi proporcionalmente igual à do império francês. Como é que, sem dinheiro nem emigrantes numerosos, mas por meio de armas, este pequeno e pobre reino, que as grandes potências queriam desapossar, foi capaz de conseguir uma tal empresa?
É o que nos conta esta obra minuciosamente documentada. Abundante em informações, este livro magistral esclarece toda uma vertente de História quase desconhecida, cujas consequências não cessam de se repercutir no nosso mundo contemporâneo.