Juvenal Amado (*), ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74
PARABÉNS A VOCÊ
DIA 17 DE JUNHO DE 2009 - JUVENAL AMADO FAZ 59 ANOS
Desenganem-se, não temos, desta feita, mais um sexa... genário na Tertúlia. Ainda há quem faça só 59 aninhos.
Parabéns camarada Juvenal. Que este dia seja mais um na tua vida, em que te sintas realizado juntos dos teus familiares mais directos, dos que aparecem nos dias de aniversário, porque a vida assim permite, e daqueles que consideras amigos e queres ver junto de ti em dias festivos como o de hoje.
Pelo que conhecemos de ti, através do que escreves, és concerteza uma pessoa que ocupas condignamente o teu lugar no agregado familiar e na sociedade, e um amigo, daqueles que não se quer nem se pode perder.
A Tabanca inteira, que conquistaste com as tuas belas prosas e versos, desejam-te muitos anos de vida, junto dos que mais amas. Nós, espectadores atentos, associamo-nos à tua alegria.
Não te esqueças da obrigação que assumiste e continua a escrever para nós como só tu sabes.
Dirijo-me agora aos camaradas e amigos que mais recentemente entraram na Tabanca, para consultarem os postes do Juvenal, listados em baixo, porque vale a pena.
Deixo-vos este trabalho dedicado pelo Juvenal ao nosso malogrado camarada António Ferreira, que morreu numa emboscada no Quirafo no dia 17 de Abril de 1972.
SÓ DEUS TEM OS QUE MAIS GOSTA
por Juvenal Amado
O vazio que ficou.
A dor que nos atingiu, vai transformar-se em ausência
e mais tarde saudade.
O calor o suor, cheiro adocicado do sangue e carne queimada
não nos largará mais.
As bocas abertas falam, mas ninguém ouve.
Os gritos estão presos na garganta,
as lágrimas ameaçam soltar-se e cair em cascatas,
abrindo sulcos entre o pó acumulado nos rostos.
Se pudéssemos,
voltaríamos atrás uns breves minutos,
alteraríamos o rumo da história.
O calor que nunca nos dá descanso.
O que não daríamos para poder escolher,
escolhermos outro caminho,
não fazermos da mesma forma.
As mãos estão negras em volta dos punhos das armas.
O silêncio é opressivo,
de nada vale tentar ouvir se até a natureza se calou
perante a violência, de que só o homem é capaz.
Ali jazem sonhos anseios futuros aguardados.
As últimas cartas ainda queimam no bolso,
não vai haver resposta.
Os rostos jovens nas fotos nunca vão envelhecer.
O tempo passará para todos,
menos para quem está naquelas fotos.
O que somos será sempre reflexo das nossas vivências passadas?
Há quem defenda que é um CARMA.
Viemos completar com a passagem por esta vida,
mais um elo para a nossa eternidade
ou vida melhor noutra dimensão.
Aquele é o filho de...
Marido de...
O pai de...
Alguém escreveu que o que separa da Paz e da Guerra são os enterros.
Em Paz os filhos enterram os pais...
Em Guerra os pais enterram os filhos...
Invertem-se assim os valores
tidos como certos pela ordem natural das coisas.
Como diz a canção «Só Deus tem os que mais gosta».
Que este pensamento minimize a dor de todos
que viram partir os seus na flor da idade.
(Dedicado ao António Ferreira e demais camaradas mortos na emboscada do Quirafo - Vd. poste 4207)
Algumas fotos:
Juvenal Amado em bébé. Momento de ternura de sua mãe
Juvenal Amado em 18 de Dezembro de 1972, no dia do embarque com destino à Guiné
Galomaro > Juvenal num dos Postos avançados
Galomaro > Morteiro 81 e traseira da Messe de sargentos e oficiais
Juvenal junto ao um monte de tijolos para utilizar na reconstrução de Bengacia
Galomaro > Vista a partir do campo de futebol
Juvenal a bordo de uma LDG
Juvenal preparado para uma patrulha nocturna
Juvenal Amado no Xime
Fotos : © Juvenal Amado (2009). Direitos reservados
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
6 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2413: Tabanca Grande (50): Juvenal Amado, ex-1º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872 (1971/73)
11 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2430: Estórias do Juvenal Amado (1): Um dia negro, na estrada Galomaro - Saltinho (Juvenal Amado, CCS/BCAÇ 3872)
7 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2510: Estórias do Juvenal Amado (2): O boato: nós, o Sardeira e a Maria Turra (J. Amado, CCS/BCAÇ 3873, Galomaro, 1972/74)
18 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2551: Estórias do Juvenal Amado (3): Como hóspede do Xime (Juvenal Amado)
23 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2575: Estórias do Juvenal Amado (4): A pequena e adorável Mariama que eu conheci no reordenamento de Bengacia (Juvenal Amado)
3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2606: Estórias de Juvenal Amado (5): Uma estória de amor
13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2635: Estórias do Juvenal Amado (6): O Falé e o burro do mato (Juvenal Amado)
26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2686: Convívios (44): BCAÇ 3872, no dia 11 de Maio de 2008 na Mealhada (Juvenal Amado)
30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2702: Estórias do Juvenal Amado (7): A Caminho de Buruntuma (Juvenal Amado)
19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2779: Estórias do Juvenal Amado (8): O último Natal em Galomaro (Juvenal Amado)
25 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2882: Estórias de Juvenal Amado (9): Há dias de sorte
1 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2910: Estórias de Juvenal Amado (10): A patrulha nocturna (Juvenal Amado)
14 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2938: Estórias do Juvenal Amado (11): Galomaro, Bambadinca, Cancolim e Gabu (Juvenal Amado)
17 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3067: Estórias do Juvenal Amado (12): O longo abraço (Juvenal Amado)
4 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3110: Estórias do Juvenal Amado (13): Pela calada da noite
9 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3124: O Nosso Livro de Visitas (23): Vasco Joaquim, 1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2912 (Juvenal Amado/Carlos Vinhal)
10 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3126: Estórias do Juvenal Amado (14): Morteiro no meio da Parada de Cancolim
19 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3140: Os nossos regressos (14): O meu regresso e o 25 de Abril (Juvenal Amado)
2 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3162: Estórias do Juvenal Amado (15): Adeus, até ao meu regresso
4 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3564: História de Vida (20): Meninos Soldados (Juvenal Amado)
13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4027: As nossas mulheres (8): A uma mãe, a todas as mães, a todas as mulheres da nossa vida (Juvenal Amado)
3 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4134: O trauma da notícia da mobilização (8): Amado, volta já para o Quartel (Juvenal Amado)
18 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4207: In Memoriam (20): Para o António Ferreira e demais camaradas mortos no Quirafo (Juvenal Amado)
1 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4270: Blogpoesia (42): Reflexão - É mais fácil (Juvenal Amado)
8 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4302: Convívios (120): Pessoal da CCS DO BCAÇ 3872, Confraternizou no dia 3 de Maio de 2009, no Cartaxo (Juvenal Amado)
2 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4450: Estórias do Juvenal Amado (16): Borrasca no Pilão
11 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4509: Estórias do Juvenal Amado (17): Ataque a Campata
Vd. último poste da série de > 6 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4467: Parabéns a você (8): Belarmino Sardinha
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
terça-feira, 16 de junho de 2009
Guiné 63/74 – P4537: Agenda Cultural (17): 2º Ciclo de Conferências “Memórias Literárias da Guerra Colonial”, na B.M.R.R., 18 de Junho (Manuel Bastos)
CONVITE
Camaradas Tertulianos, Trazemos ao vosso conhecimento mais uma intervenção, no 2.º Ciclo de Conferências dedicado às "Memórias Literárias da Guerra Colonial, desta vez do nosso camarada Manuel Bastos.
Este evento vai decorrer no próximo dia 18 de Junho, pelas 19 horas, na Biblioteca-Museu República e Resistência/Grandela, em Lisboa, onde o Manuel Bastos falará sobre o tema: “Cacimbados: A vida por um fio”.
BIBLIOTECA-MUSEU REPÚBLICA E RESISTÊNCIA
ESPAÇO GRANDELLA
Estrada de Benfica, 419
1500-078 Lisboa
Telefone: 21 771 23 10
Um abraço,
___________
Nota de M.R.:
(*) Vd. poste anterior, desta série em:
Guiné 63/74 - P4536: Memória dos lugares (31): Béli, CCAÇ. 1589 (1966/68) (Armandino Alves)
1. O Armandino Alves que foi 1º Cabo Enf da CCAÇ 1589 (1966/68), em Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, enviou-nos mais uma interessante mensagem:
Camaradas,
Hoje vou-vos falar um pouco do meu passado em Béli.
Quando chegámos a Béli, o Comandante do Pelotão que fomos substituir, informou o nosso Alferes que os ataques, que o IN fazia a Béli, eram programados, pois só aconteciam de três em três meses.
Isso de facto verificou-se o que nos levou a pensar, que o intuito deles era que estivéssemos quietinhos e não nos aventurássemos a sair para a mata.
E que podíamos nós fazer só com um pelotão, 1 Cabo Cipaio e dois ou três milícias?
É claro, mantínhamo-nos no nosso lugar ripostando apenas aos ataques com o equipamento que tínhamos: 2 morteiros de 60 mm, 2 metralhadoras pesadas e as G3.
Mais tarde, fomos reforçados com uma secção de morteiros 81 mm, constituída por 1 cabo e 4 soldados.
Tivemos de construir os abrigos para estes últimos morteiros pois, como é óbvio, para os de 60 mm não eram necessários.
Mais tarde, fomos reforçados com um Furriel dos “Comandos”, que tinha apanhado uma “porrada” e veio para o Béli de castigo.
Por pouco tempo tivemos este “reforço”, pois quando limpava a sua arma (G3), deu um tiro no pé e ficou sem dois dedos. Não sei se foi por acidente, ou se foi de propósito, pois dado ser “Comando”, creio eu, que não ia limpar tão “inocentemente” a sua arma com uma bala na câmara.
Foi evacuado para Bissau e nunca mais regressou a Béli.
Outro caso “esquisito” foi o de um cabo atirador, que foi buscar um garrafão de água e, já dentro do abrigo, bateu com ele nos ferros dos pés da cama partindo o fundo. Os vidros resultantes cortaram-lhe a barriga da perna, de cima até abaixo, tendo sido transportado para a enfermaria, a fim de ser suturado. Vi-me e desejei-me, para que ele se deixasse anestesiar localmente, poiss ele não a queria de modo nenhum.
Dizia-me ele que se fosse uma injecção “normal“ não levantava qualquer problema, mas ficar a dormir, anestesiado, não queria de modo nenhum.
Só com a ajuda de outros camaradas o consegui convencer do contrário, explicando-lhe que, quem ia ficar dormente, era o local da perna a ser cosido, e não ele por todo.
Felizmente que este acidente foi de dia e, graças a Deus, tendo corrido tudo na perfeição.
Um outro acontecimento foi na época das chuvas que como todos nós, os que passamos na Guiné, bem sabemos, são ricas em trovoadas assustadoras e espectaculares. Raios por todos os lados que, à noite no meio da escuridão, fazem arabescos no céu, dignos de serem registados em filme.
Como é lógico, nessa altura não havia “Cancorders” para realizar tais filmes, só fotos e a preto e branco. E, ali no meio do mato, não haviam sequer rolos fotográficos, só em Bissau, e ainda era preciso que alguém no-los trouxessem.
Pois, nessa altura, dizia eu, chovia a bom chover e eram dias e dias seguidos.
Então numa dessas noites, o pessoal de um dos abrigos acordou a meio de repente com os colchões a boiar, pois o dique que impedia a água de entrar no abrigo tinha ruído e a esta entrou de escantilhão.
Foi preciso ir ao abrigo do gerador buscar uma motobomba portátil, para escoar a água que se encontrava dentro do abrigo. Lá surgiu então um voluntário, que deitou a correr para a ir buscar mas, na aflição, esqueceu-se que o cavalo-de–friso estava colocado, como habitualmente, no seu sítio e quando ele reparou, e tentou travar a sua corrida já estava mesmo em cima dele.
Resultado, o arame farpado rasgou-lhe os lábios o peito e os braços. Mesmo assim ele não desistiu, pegou na motobomba e levou-a para o abrigo.
Depois foram os colegas a transportá-lo á enfermaria. Àquela hora da madrugada e sem luz eléctrica, tivemos que utilizar um “petromax”, a petróleo, que quase não dava luz, pois o vidro estava tão fumado que, mesmo posto no máximo, quase não permitia ver nada.
Assim, enquanto um colega segurava o “petromax” acima da cabeça, eu lá lhe fui cosendo os lábios, tarefa bastante difícil, pois como o local era mesmo muito escuro, com a falta de luz ainda mais difícil se tornou.
Mas enfim, com aquelas condições, lá consegui realizar mais um verdadeiro “feito”.
Os restantes ferimentos, como eram superficiais, foram devidamente desinfectados e, uma vez retomada a acalmia, lá voltamos a adormecer.
Armandino Alves
1º Cabo Enf da CCAÇ 1589
_________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
Guiné 63/74 - P4535: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (3): Já começámos a pôr a mão... na massa do Camilo, e a 20/1/2010 haverá ronco (Pepito)
Guiné-Bissau > Bissau > Sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > "Iemberém atrai cada vez mais turistas" > Foto publicada em 14 de Junho de 2009 (e tirada em
26 de Maio último).
Em plena floresta de Cantanhez, a tabanca de Iemberém tem vindo a oferecer melhores condições de acolhimento para os turistas que, vindos de Bissau ou da Europa, procuram nestas paragens um contacto directo com as populações locais, com a sua cultura, a sua maneira de estar na vida e ao mesmo tempo apreciarem a beleza única que este Parque Nacional proporciona em termos de flora e fauna selvagem.
Com o apoio da União Europeia e da ONG IMVF de Portugal [, Instituto Marquês de Valle Flôr], está em fase de conclusão a construção de um restaurante típico e a reabilitação de uma unidade de alojamento com 5 quartos.
Em colaboração com a ONG italiana AIN Onlus foi identificado e ir-se-á implantar um Parque de Campismo que permita aos apreciadores estar mais perto da natureza e igualmente a identificação de dois itinerários marítimos: o da ilha dos Pássaros e o do ilhéu de Melo.
Foto (e legenda): © AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). Direitos reservados
1. Mensagem do Pepito, director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, em Bissau, enviada esta manhã:
Luís
Nem queiras saber a alegria de ver o Camilo aderir com entusiasmo ao Grupo de Amigos da Capela de Guiledje (*). Ele não é pessoa de meias palavras. Toma as decisões na hora. Já estão em Guiledje 150 sacos de cimento (começamos hoje a fazer os blocos para as paredes) e 5 latas de tinta, oferecidos pelo Camilo.
O Patrício Ribeiro está a finalizar a planta de reconstrução da capela, respeitando o formato original.
A inauguração do Museu e da Capela está marcada para 20 de Janeiro de 2010, que corresponde ao nosso Dia dos Heróis Nacionais (data do assassinato de Amílcar Cabral).
Tudo faremos para trazer a esposa do nosso falecido Capitão Neto para essa cerimónia. Vais-me ajudar a fazer-lhe o convite.
abraço
pepito
_______
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste anterior 16 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4534: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (2): António Camilo oferece 300 sacos de cimento e 150 litros de tinta
26 de Maio último).
Em plena floresta de Cantanhez, a tabanca de Iemberém tem vindo a oferecer melhores condições de acolhimento para os turistas que, vindos de Bissau ou da Europa, procuram nestas paragens um contacto directo com as populações locais, com a sua cultura, a sua maneira de estar na vida e ao mesmo tempo apreciarem a beleza única que este Parque Nacional proporciona em termos de flora e fauna selvagem.
Com o apoio da União Europeia e da ONG IMVF de Portugal [, Instituto Marquês de Valle Flôr], está em fase de conclusão a construção de um restaurante típico e a reabilitação de uma unidade de alojamento com 5 quartos.
Em colaboração com a ONG italiana AIN Onlus foi identificado e ir-se-á implantar um Parque de Campismo que permita aos apreciadores estar mais perto da natureza e igualmente a identificação de dois itinerários marítimos: o da ilha dos Pássaros e o do ilhéu de Melo.
Foto (e legenda): © AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). Direitos reservados
1. Mensagem do Pepito, director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, em Bissau, enviada esta manhã:
Luís
Nem queiras saber a alegria de ver o Camilo aderir com entusiasmo ao Grupo de Amigos da Capela de Guiledje (*). Ele não é pessoa de meias palavras. Toma as decisões na hora. Já estão em Guiledje 150 sacos de cimento (começamos hoje a fazer os blocos para as paredes) e 5 latas de tinta, oferecidos pelo Camilo.
O Patrício Ribeiro está a finalizar a planta de reconstrução da capela, respeitando o formato original.
A inauguração do Museu e da Capela está marcada para 20 de Janeiro de 2010, que corresponde ao nosso Dia dos Heróis Nacionais (data do assassinato de Amílcar Cabral).
Tudo faremos para trazer a esposa do nosso falecido Capitão Neto para essa cerimónia. Vais-me ajudar a fazer-lhe o convite.
abraço
pepito
_______
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste anterior 16 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4534: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (2): António Camilo oferece 300 sacos de cimento e 150 litros de tinta
Guiné 63/74 - P4534: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (2): António Camilo oferece 300 sacos de cimento e 150 litros de tinta
Segundo o António Camilo, parece que há um ex-militar nosso que quer também reconstruir esta capela, à semelhança do que se passa em Guileje, onde a ONG AD - Acção para o Desenvolvimento lidera o projecto de construção do Museu Memória de Guiledje e a reconstrução da capela... (LG)
Fotos: © Tony Grilo (2009). Direitos reservados.
1. Telefonou-me o António Camilo, de Lagoa (foto ao lado, lado esquerdo, na sua morança no Saltinho, no dia 1 de Março de 2008) e que todo o mundo conhece como um veterano das viagens à Guiné, em missões humanitárias...
Tinha acabado de chegar da Guiné-Bissau, aonde já foi este ano por duas vezes (*), e numa delas, não sei se na última ou na penúltima, permaneceu lá cerca de 3 meses (se bem percebi...). Se não me enganei nas contas, trata-se da sua 9ª viagem... Foi de carro, veio de avião. Deixou a viatura em Jugudul, ao cuidado de um português, amigo seu, que é proprietário da bomba de gasolina local.
Desta vez esteve com o Patrício Ribeiro e com o Pepito, no 10 de Junho, na embaixada portuguesa em Bissau. Esteve em Guileje e em Iemberém (onde ficou nos bungalows de apoio ao ecoturismo), esteve mais a sul, em Cabedú (que cahiu um sótio muit bonito)... Disse-me que as viagens para o sul estão muito difíceis. Está chover copiosamente. Esteve em Buba, mas não conseguiu chegar a Bedanda... Para ele, a melhor altura para se viajar na Guiné-Bissau é o mês de Janeiro.
A razão de ser do telefonema ? Queria saber qual era o nosso poste com as fotografias da capelinha de Guileje (**).
O António Camilo passa a integrar, formalmente, a nossa Tabanca Grande e, ao mesmo, a pertencer ao número, até à data restrito, do Grupos dos Amigos da Capela de Guiledje (de que já fazem parte o Patrício Ribeiro, o António Cunha e o Manuel Reis).
Ele tem um contentor em Buba, com materiais de contrução, incluindo cimento e tinta, à guarda de uma missão religiosa (falou-me de uma portuguesa, missionária, que é a responsável da missão, mas cujo nome não retive)... Construiu lá um centro de saúde e gostaria de fazer uma escola... Mas, ao que parece, as autoridades locais (o "presidente da Câmara") preferem dinheiro vivido do que doações em géneros... Ora, pela sua experiência, não se deve dar dinheiro...
Com tudo isto, há materiais que sobram e que estão a fazer falta em Guileje. Daí o seu gesto, generoso e solidário, prometendo ao Patrício Ribeiro, o pai dos tugas, e ao Pepito 300 sacos de cimento (já com mistura de areia, segundo percebi), de 50 kg cada, e uma meia dúzia de latas de tinta, branca, de 20 ou 25 litros cada... O único problema ligístico a resolver é o transprte... Mas a AD - Acção para o Desenvolvimento tem uma camioneta, operacional...
Segundo as contas do Camilo, o material deve chegar e sobrar. A capela é pequena (talvez 12/15 metros por 5/6 metros, perfazendo cerca de 60 a 90 metros quadrados, o suficiente para uma unidade de quadrícula com a CART 1613 que a construir entre 1967 e 1968 (`**)...
Aqui fica a boa notícia para o Grupo de Amigos da Capela de Guileje que vai passar a contar com mais um elemento. Aqui fica também uma especial saudação ao nosso andarilho de Lagoa, o António Camilo, que passa finalmente, e por direito próprio, a poder sentar-se à sombra do poilão (ou das mangueiras) da nossa Tabanca Grande...
O Camilo deu-me o contacto do seu estabelecimento comercial Electrolagoense, Lagoa, tel 282 353 451. Mail: electrolagoense@sapo.pt
O Camilo foi Fur Mil na CCAÇ 1565 (tal como o José Moreira, de Coimbra, outro rosto da solidariedade dos antigos combatentes portugueses oara com o povo da Guiné-Bissau) (***). Dados da ficha de unidade:
Unidade mobilizadora: RI 1. Partida para a Guiné: 20 de Abril de 1966. Regresso: 22 de Janeiro de 1968. Localidades por onde passou ou esteve: Bissau, Jumbembém, Canjambari, Bissau. Teve quatro comandantes: Cap Mil Rui António Nuno Romero, Cap Inf QP José Lopes, Cap Mil Inf Jão Alberto de Sá Barros e Silva.
Outro camarada nosso, e grande amigo da Guiné-Bissau, é o Carlos Silva que também esteve em Jumbembém, embora em época posterior (1969/71) (****). O Carlos tem a melhor página, na Net, sobre a região de Farim: Guerra na Guiné - BCAÇ 2879, Farim, 1969/71, Página de Carlos Silva... É também um dos fundadors e dirigentes, com o Carlos Fortunato, da ONGD Ajuda Amiga - Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento... Last but not the least, é o advogado dos guineenses, sobretudo dos mais pobres e desprotegidos. Reside em Massamá, Queluz.
__________
Notas de L.G.:
(*) 16 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3900: Expedição Humanitária 2009 (1): Já se fez à estrada a expedição da Humanitarius, com o J. Almeida, o A. Camilo e outros
(**) Vd. poste de 6 de Junho de 2009 > Guiné 64/74 - P4469: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (1): Já temos três: Patrício Ribeiro, António Cunha e Manuel Reis
(***) Vd. poste de 17 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3906: Expedição Humanitária 2009 (4): 25 toneladas de ajuda, 897 caixotes, 22 expedicionários... E obrigado, povo meu (José Moreira)
(****) Vd. postes de:
8 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2417: Tabanca Grande (51): Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem 1969/71)
20 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1976: Tabanca Grande (27): Carlos Silva, mais um 'apanhado do clima' (CCAÇ 2548, Jumbembem)
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Guiné 63/74 - P4533: Controvérsias (24): A minha análise pessoal do desastre com a jangada no Cheche, na retirada de Madina do Boé (Armandino Alves)
1. O Armandino Alves foi 1º Cabo Enf da CCAÇ 1589 (1966/68), em Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, apresentou um comentário em 13 de Junho no poste: Guiné 63/74 - P2984: Op Mabecos Bravios: a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche (Maj Gen Hélio Felgas † ), que merece ser poste:
Camaradas,
Eu já num poste disse como os guineenses ao serviço das nossas tropas conseguiam virar a jangada no CheChe, para ficarem com os garrafões do vinho.
Portanto é ponto assente que a jangada virava embora não se afundasse.
O Camarada Rui Felício tem toda a razão, para estar revoltado e basta um pouco de atenção à leitura do relato do falecido Coronel Hélio Felgas, para se constatar que essa teoria do disparo do IN cai por terra.
Então nesse momento não estava a pousar o héli-canhão?
Alguém de bom senso acha que o IN (se lá estivesse) ia revelar a sua posição sabendo que o héli-canhão logo os atacaria.
Não!
O nosso camarada não especifica a quantidade de homens que embarcaram nessa leva mas, para morrerem 47, tinham que ser quase o dobro, se não fossem mais.
Reparem que havia uma ordem de serviço que proibia a jangada de transportar mais de 50 homens de cada vez.
No meu tempo a jangada era movimentada a braços. Havia dois cabos, um de cada lado do rio, presos às margens e os milícias colocavam-se ao longo das laterais e puxavam, com os pés bem assentes no chão e a jangada lá se ia deslocando lentamente.
Posteriormente, parece que a jangada era puxada, ou empurrada, por um barco com o motor fora de borda.
Ora, para esse barco puxar/empurrar a jangada teria que forçar o motor conforme o peso suportado pela jangada. Ora, quanto mais força mais ondulação, o que, obviamente, mais desestabilizaria a estrutura da jangada.
À mencionada instabilidade, juntava-se o factor pessoal embarcado que, ao não estarem quietos nos seus sítios, contribuíram sobremodo para a jangada virar.
Quanto ao filme não o vi, porque já sabia que nada do que lá apresentam ia corresponder à verdade, e sinto-me no direito de pensar que são apenas estratégias para ganhar audiência e ampliar o lucro a obter com o mesmo.
Armandino Alves,
Ex-1º Cabo Enf CCAÇ 1589
_________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
14 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4518: Controvérsias (19): Sob a evacuação das NT de Madina do Boé (Armandino Alves)
Camaradas,
Eu já num poste disse como os guineenses ao serviço das nossas tropas conseguiam virar a jangada no CheChe, para ficarem com os garrafões do vinho.
Portanto é ponto assente que a jangada virava embora não se afundasse.
O Camarada Rui Felício tem toda a razão, para estar revoltado e basta um pouco de atenção à leitura do relato do falecido Coronel Hélio Felgas, para se constatar que essa teoria do disparo do IN cai por terra.
Então nesse momento não estava a pousar o héli-canhão?
Alguém de bom senso acha que o IN (se lá estivesse) ia revelar a sua posição sabendo que o héli-canhão logo os atacaria.
Não!
O nosso camarada não especifica a quantidade de homens que embarcaram nessa leva mas, para morrerem 47, tinham que ser quase o dobro, se não fossem mais.
Reparem que havia uma ordem de serviço que proibia a jangada de transportar mais de 50 homens de cada vez.
No meu tempo a jangada era movimentada a braços. Havia dois cabos, um de cada lado do rio, presos às margens e os milícias colocavam-se ao longo das laterais e puxavam, com os pés bem assentes no chão e a jangada lá se ia deslocando lentamente.
Posteriormente, parece que a jangada era puxada, ou empurrada, por um barco com o motor fora de borda.
Ora, para esse barco puxar/empurrar a jangada teria que forçar o motor conforme o peso suportado pela jangada. Ora, quanto mais força mais ondulação, o que, obviamente, mais desestabilizaria a estrutura da jangada.
À mencionada instabilidade, juntava-se o factor pessoal embarcado que, ao não estarem quietos nos seus sítios, contribuíram sobremodo para a jangada virar.
Quanto ao filme não o vi, porque já sabia que nada do que lá apresentam ia corresponder à verdade, e sinto-me no direito de pensar que são apenas estratégias para ganhar audiência e ampliar o lucro a obter com o mesmo.
Armandino Alves,
Ex-1º Cabo Enf CCAÇ 1589
_________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
14 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4518: Controvérsias (19): Sob a evacuação das NT de Madina do Boé (Armandino Alves)
Guiné 63/74 - P4532: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (IV): Desertores
1. Mensagem do Vasco da Gama (*), ex-Cap Mil da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã, Cumbijã, 1972/74, com data de 14 de Junho de 2009:
Camarada Carlos Vinhal,
Envio texto que anexo que pretende analisar o tema desertores.
Um abraço amigo
Vasco da Gama
BANALIDADES DA FOZ DO MONDEGO - IV
Também tive um (?) desertor na minha CCav 8351 – Os Tigres do Cumbijã
Sem querer entrar em qualquer polémica, até porque não possuo nem armas nem argumentos suficientes sobre o assunto lançado no post 4517 (**) pelo nosso camarada António G. Matos, gostaria de referir que considero este nosso camarada, que não conheço pessoalmente, um dos bloguistas de leitura obrigatória, não só pela qualidade da sua escrita e pelo encadear das suas ideias, mas fundamentalmente pela profundidade dos temas que nos apresenta e que são, tenho a certeza, fruto de uma reflexão prévia.
Não basta pois, dispararmos um quero que os desertores se lixem, ou os desertores que vão tocar tangos para a rua deles.
A guerra não foi pertença apenas dos combatentes, mas envolveu a sociedade em geral e as nossas famílias em particular e, porque não, também alguns desertores.
Haverá, creio, vários tipos de desertores na nossa guerra da Guiné.
Antes da sua classificação, dizer que temos no nosso Blogue combatentes que partiram para a Guiné para defender a integridade da pátria que, para eles, ia de Trás-Os-Montes a Timor e outros que eram pura e simplesmente obrigados a ir, embora não concordassem com a guerra como solução para o problema ultramarino. Eu, para que não paire qualquer dúvida, enquadrava-me nestes últimos. Curiosamente estas diferenças esbatiam-se, de imediato, entre nós. O sofrimento e a solidão eram o denominador comum entre todos. Conversávamos, colocávamos dúvidas, estávamos juntos!
Ajudávamo-nos
Estimulávamo-nos
Éramos unidos
Éramos amigos
Partilhávamos
Hoje somos Irmãos
Voltando à minha classificação dos desertores:
Os meninos bem de vida e filhos de papá que deram o salto quando souberam que a Guiné lhes havia saído em rifa e que foram para exílios dourados de Paris ou de Genebra ou de qualquer outra cidade europeia, onde prosseguiram os seus estudos e concluíram os seus cursos. Safaram-se, direi eu; o que não admito é que hoje mandem palpites sobre a guerra colonial e se armem e por vezes sejam considerados e tratados como heróis anti-fascistas e não tenham a coragem de dizer: fugi porque tive medo da Guiné e tive possibilidade de o fazer. O que farias tu no meu lugar?
Preferem o epíteto de lutadores pela liberdade vindos do bem-bom e chegados a Portugal de Sud-Expresso ou de avião… Se lhes tem saído na rifa Luanda, o galo cantaria de outra maneira e o seu discurso seria diferente.
Os anónimos que foram para França a salto e que se mantiveram calados, dizendo apenas: para a Guiné nunca! Tiveram a guerra deles nos arredores de Paris, vivendo de forma sub-humana nos bidons-ville mas mantiveram-se humildes e mantêm a sua máxima de Guiné, nunca. Tiveram medo e confessam-no, sem se armarem….
Temos os que embarcaram connosco e que deram o salto quando vieram de férias à metrópole. Aconteceu a um furriel da minha companhia, o Pereira, a quem os Tigres designam por furriel fugitivo ou fugitivo, tout court. O seu não regresso à minha Companhia ainda me levou a ser ouvido pelo Pide de Aldeia Formosa que achou estranho o facto de eu não ter desconfiado de nada…
O fugitivo foi a um dos primeiros convívios da nossa Companhia, alguns anos após o 25 de Abril. Acreditem que nenhum de nós lhe cobrou o que quer que fosse, muito embora nunca mais tivesse aparecido. Conversámos e ele apenas referiu que não conseguia aguentar a situação que a nossa Companhia estava a viver e que tinha tido a oportunidade de se pirar. Eu sei que apenas pensou nele e os outros que se lixem, mas para quê fazê-lo sofrer mais com o nosso julgamento?
Cada um é como cada qual e quão diferente foi a atitude do nosso José Brás que, de férias em Portugal, recebeu a notícia da morte dos seus camaradas, o Dias e o Oliveira que morreram sem ele em Xinxi-Dari.
Nem o pai o convenceu a dar o salto e o Mejo iria continuar a ser a sua pátria por mais algum tempo…. “E sem precisar de dizer-lhe que me sentia miserável por ter deixado morrer aqueles amigos sem a minha presença de arma na mão…”
Obrigado pelos teus escritos, já reconhecidos publicamente, e um obrigado ainda maior pela lição, verdadeiro hino a uma das mais bonitas palavras – a solidariedade - que este teu fabuloso conto encerra.
Quem me dera que o furriel da minha Companhia se chamasse José Brás.
Temos os desertores que se passaram do nosso lado para o inimigo. Estes, que até são ouvidos e vistos em programas televisivos, além de desertores, aproveitaram os seus conhecimentos dos locais de onde desertaram, entregaram trunfos ao outro lado, permitindo que os seus ex-camaradas sofressem ainda mais. Os meus camaradas que os qualifiquem….
Há, pois, na minha perspectiva, tipos diversos de desertores…, e se calhar alguns deles mereciam uma oportunidade para se justificarem…, ou não!
Termino com um abraço de respeito a todos os meus queridos camaradas combatentes da Guiné e também com uma pergunta inocente: Como chamar aos nossos camaradas que embarcaram connosco tendo ido até ao mato profundo e dias após chegarem ao mato eram, fruto de cunha valente, transferidos em definitivo para o ar condicionado de Bissau?
Um abração
Vasco A.R.da Gama
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3939: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (1): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74
(**) Vd. poste de 13 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4517: Controvérsias (18): O outro lado da guerra, os desertores (António G. Matos)
Vd. último poste da série de 26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3939: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (III) Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos
Camarada Carlos Vinhal,
Envio texto que anexo que pretende analisar o tema desertores.
Um abraço amigo
Vasco da Gama
BANALIDADES DA FOZ DO MONDEGO - IV
Também tive um (?) desertor na minha CCav 8351 – Os Tigres do Cumbijã
Sem querer entrar em qualquer polémica, até porque não possuo nem armas nem argumentos suficientes sobre o assunto lançado no post 4517 (**) pelo nosso camarada António G. Matos, gostaria de referir que considero este nosso camarada, que não conheço pessoalmente, um dos bloguistas de leitura obrigatória, não só pela qualidade da sua escrita e pelo encadear das suas ideias, mas fundamentalmente pela profundidade dos temas que nos apresenta e que são, tenho a certeza, fruto de uma reflexão prévia.
Não basta pois, dispararmos um quero que os desertores se lixem, ou os desertores que vão tocar tangos para a rua deles.
A guerra não foi pertença apenas dos combatentes, mas envolveu a sociedade em geral e as nossas famílias em particular e, porque não, também alguns desertores.
Haverá, creio, vários tipos de desertores na nossa guerra da Guiné.
Antes da sua classificação, dizer que temos no nosso Blogue combatentes que partiram para a Guiné para defender a integridade da pátria que, para eles, ia de Trás-Os-Montes a Timor e outros que eram pura e simplesmente obrigados a ir, embora não concordassem com a guerra como solução para o problema ultramarino. Eu, para que não paire qualquer dúvida, enquadrava-me nestes últimos. Curiosamente estas diferenças esbatiam-se, de imediato, entre nós. O sofrimento e a solidão eram o denominador comum entre todos. Conversávamos, colocávamos dúvidas, estávamos juntos!
Ajudávamo-nos
Estimulávamo-nos
Éramos unidos
Éramos amigos
Partilhávamos
Hoje somos Irmãos
Voltando à minha classificação dos desertores:
Os meninos bem de vida e filhos de papá que deram o salto quando souberam que a Guiné lhes havia saído em rifa e que foram para exílios dourados de Paris ou de Genebra ou de qualquer outra cidade europeia, onde prosseguiram os seus estudos e concluíram os seus cursos. Safaram-se, direi eu; o que não admito é que hoje mandem palpites sobre a guerra colonial e se armem e por vezes sejam considerados e tratados como heróis anti-fascistas e não tenham a coragem de dizer: fugi porque tive medo da Guiné e tive possibilidade de o fazer. O que farias tu no meu lugar?
Preferem o epíteto de lutadores pela liberdade vindos do bem-bom e chegados a Portugal de Sud-Expresso ou de avião… Se lhes tem saído na rifa Luanda, o galo cantaria de outra maneira e o seu discurso seria diferente.
Os anónimos que foram para França a salto e que se mantiveram calados, dizendo apenas: para a Guiné nunca! Tiveram a guerra deles nos arredores de Paris, vivendo de forma sub-humana nos bidons-ville mas mantiveram-se humildes e mantêm a sua máxima de Guiné, nunca. Tiveram medo e confessam-no, sem se armarem….
Temos os que embarcaram connosco e que deram o salto quando vieram de férias à metrópole. Aconteceu a um furriel da minha companhia, o Pereira, a quem os Tigres designam por furriel fugitivo ou fugitivo, tout court. O seu não regresso à minha Companhia ainda me levou a ser ouvido pelo Pide de Aldeia Formosa que achou estranho o facto de eu não ter desconfiado de nada…
O fugitivo foi a um dos primeiros convívios da nossa Companhia, alguns anos após o 25 de Abril. Acreditem que nenhum de nós lhe cobrou o que quer que fosse, muito embora nunca mais tivesse aparecido. Conversámos e ele apenas referiu que não conseguia aguentar a situação que a nossa Companhia estava a viver e que tinha tido a oportunidade de se pirar. Eu sei que apenas pensou nele e os outros que se lixem, mas para quê fazê-lo sofrer mais com o nosso julgamento?
Cada um é como cada qual e quão diferente foi a atitude do nosso José Brás que, de férias em Portugal, recebeu a notícia da morte dos seus camaradas, o Dias e o Oliveira que morreram sem ele em Xinxi-Dari.
Nem o pai o convenceu a dar o salto e o Mejo iria continuar a ser a sua pátria por mais algum tempo…. “E sem precisar de dizer-lhe que me sentia miserável por ter deixado morrer aqueles amigos sem a minha presença de arma na mão…”
Obrigado pelos teus escritos, já reconhecidos publicamente, e um obrigado ainda maior pela lição, verdadeiro hino a uma das mais bonitas palavras – a solidariedade - que este teu fabuloso conto encerra.
Quem me dera que o furriel da minha Companhia se chamasse José Brás.
Temos os desertores que se passaram do nosso lado para o inimigo. Estes, que até são ouvidos e vistos em programas televisivos, além de desertores, aproveitaram os seus conhecimentos dos locais de onde desertaram, entregaram trunfos ao outro lado, permitindo que os seus ex-camaradas sofressem ainda mais. Os meus camaradas que os qualifiquem….
Há, pois, na minha perspectiva, tipos diversos de desertores…, e se calhar alguns deles mereciam uma oportunidade para se justificarem…, ou não!
Termino com um abraço de respeito a todos os meus queridos camaradas combatentes da Guiné e também com uma pergunta inocente: Como chamar aos nossos camaradas que embarcaram connosco tendo ido até ao mato profundo e dias após chegarem ao mato eram, fruto de cunha valente, transferidos em definitivo para o ar condicionado de Bissau?
Um abração
Vasco A.R.da Gama
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3939: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (1): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74
(**) Vd. poste de 13 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4517: Controvérsias (18): O outro lado da guerra, os desertores (António G. Matos)
Vd. último poste da série de 26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3939: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (III) Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos
Guiné 63/74 - P4531: A Tabanca Grande no 10 de Junho (13): Tertulianos éramos mais de 30… (Hélder Sousa / Xico Allen)
1. Mensagem de Hélder Sousa, ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72, com data de 17 de Maio de 2009:
Camaradas,
No passado 10 de Junho foi possível verificar que mais de 3 dezenas de tertulianos passaram pela área do Forte do Bom Sucesso, próximo do Memorial aos Mortos do Ultramar e que, de uma forma ou de outra, mostraram o carinho e apreço pelo Luís Graça e, também, pela Alice (não é verdade que se diz que por detrás de um grande Homem há sempre uma grande Mulher?), como o cimento aglutinador de todo o universo que ele (inadvertidamente?) em tão boa hora gerou, com a criação do seu blogue até que o transformou no Nosso Blogue.
As fotos que já foram colocadas mostram bem o que quero dizer.
Também a rapaziada da Tabanca de Matosinhos esteve bem representada, por muitos dos seus ilustres membros, sendo até motivo de algumas lamentações dos comensais das 4ªs feiras que aparentemente (só aparentemente) se sentiram desamparados. Na realidade puderam comer mais descansados, puderam conversar mais sem serem interpelados pelo sempre em pé do Xico Allen e, porventura, até puderam ter rancho melhorado.
Esse pessoal da Tabanca de Matosinhos também produziu algumas fotos que se juntam, mostrando tanto os encontros e conversas ocorridas junto ao local da concentração como também as feitas no local onde a Tabanca resolveu abancar, em Lisboa, em pleno Bairro de Chelas, em plena Zona J, sem qualquer sombra de problema, no restaurante de um guineense, já anteriormente referido, de seu nome Joaquim Djassi, onde nos batemos, para além da imensa simpatia com que fomos recebidos, com um peixinho da bolanha que estava simplesmente delicioso, acompanhado de inhame e também de arrozinho para não nos esquecermos e depois com uma galinha de chabéu (foto 8), que também não desmerecia em nada em qualidade e sabor.
Disse nos batemos porque aqui este sulista que vos escreve teve o privilégio de ter sido cooptado pelo pessoal da Tabanca de Matosinhos, ao qual agradece publicamente a gentileza, e fez então parte do grupo que se banqueteou , conforme referi.
Fotos: © Xico Allen & Benjamim Durães (2009). Direitos reservados
As fotos que vão anexas não têm legendas pois foi assim que as recebi do Xico Allen e como alguns dos elementos figurados não me são ainda familiares quanto ao nome, não quero salientar aqueles que conheço e reconheço e deixar os outros no anonimato. Não seria justo.
Um grande e forte abraço,
Hélder Sousa
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
Guiné 63/74 - P4530: Tabanca Grande (152): José Marques Ferreira, ex-Soldado Apontador de Armas Pesadas, CCAÇ 462 (1963/65
1. Mensagem de José Marques Ferreira, ex-Soldado Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462, Guiné 1963/65, com data de 13 de Junho de 2009, com a sua apresentação à Tertúlia:
Caro Vinhal:
Aí vai a nota de assentos, no essencial:
- Soldado, apontador de Armas Pesadas (Breda)
- CCaç 462 (do BCaç 10, Chaves)
- Dependência operacional e administrativa na Guiné: BCaç 507 (Cmdt Ten Cor Hélio Felgas), depois BCav 790 (Cmdt Ten Cor Henrique Calado)
- Zona operacional por onde passei:
De Bissau directamente para Ingoré, após uma semana de estadia na Escola de Teixeira Pinto, para aclimatar.
A Companhia dispersou-se desde Ingoré (Comando), por Sedengal, S. Domingos, Susana, Varela (durante dezasseis meses).
Passado este tempo, somos obrigados a substituir a Companhia Operacional do BCaç 507 (já não lembro o número, mas se for preciso arranjo, pois ficou reduzida a quase metade entre mortos, evacuados e outras situações) e saltamos para Bula.
Depois, a poucos meses de acabar a comissão, fomos os primeiros habitantes de Có (comando), ficando a Companhia a ocupar com os três pelotões restantes as localidades de Ponate, Jolmete e Pelundo (também os primeiros militares a chegar àquelas paragens) onde foi tudo feito a partir do nada...
-Como a excursão não estava completa, despediram-nos para Mansoa, donde saímos para o Niassa...
-Data de embarque em Lisboa: 14 de Julho de 1963. Desembarque em Bissau: 21 de Julho de 1963.
-Data de embarque em Bissau: 7 de Agosto de 1965. Desembarque em Lisboa: 14 de Agosto de 1965.
Há mais factos, mas vão ser guardados para melhor oportunidade e também para não entupir o blog e o vosso trabalho.
Fomos para a Guiné, a partir de Chaves, como Companhia independente e só na Guiné é que nos deram a zona a ocupar pois Ingoré, quando chegamos, apenas tinha uma secção.
Mais tarde e na história que se há-de contar, passou aquela localidade a ter a estrutura de um Comando de Batalhão, onde estiveram alguns camaradas da minha localidade e por eles fiquei a saber desta evolução.
Já vai extenso este intróito.
Um abraço,
José Marques Ferreira
Fotos: © José Marques Ferreira (2009). Direitos reservados
2. Comentário de CV
Caro Camarada José Ferreira, bem aparecido na nossa Tabanca Grande.
Muito obrigado por aderires a esta grande família e por te propores a colaborar na feitura daquilo que queremos deixar para memória futura.
Quem melhor do que nós poderá contar como a guerra se travou? Quem sentiu as balas a assobiarem por cima da cabeça? Quem dormiu, mal, aos mosquitos, à chuva e ao cacimbo? Quem comeu o que calhou e quem bebeu água suja, retirada da bolanha?
Se não deixarmos tudo escrito, outros contarão, romanceando, ligarão os nossos momentos mais trágicos ao luar e ao estrelado dos céus de uma África misteriosa, etc, etc.
Sabemos que a realidade foi bem diferente. Caminhámos à luz de sucessivos relâmpagos em noites de chuva diluviana, tropeçando a cada passada, agarrados uns outros para que ninguém ficasse, irremediavelmente, para trás.
Cabe a ti e a todos nós contar a triste realidade dum local e época de sofrimento.
Contamos contigo.
Recebe camarada, um abraço de boas-vindas em nome da Tertúlia.
CV
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 9 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4488: Tabanca Grande (151): Jorge Rosales, ex-Alf Mil, Porto Gole, 1964/66, grande amigo do Cap 2ª linha Abna Na Onça
Caro Vinhal:
Aí vai a nota de assentos, no essencial:
- Soldado, apontador de Armas Pesadas (Breda)
- CCaç 462 (do BCaç 10, Chaves)
- Dependência operacional e administrativa na Guiné: BCaç 507 (Cmdt Ten Cor Hélio Felgas), depois BCav 790 (Cmdt Ten Cor Henrique Calado)
- Zona operacional por onde passei:
De Bissau directamente para Ingoré, após uma semana de estadia na Escola de Teixeira Pinto, para aclimatar.
A Companhia dispersou-se desde Ingoré (Comando), por Sedengal, S. Domingos, Susana, Varela (durante dezasseis meses).
Passado este tempo, somos obrigados a substituir a Companhia Operacional do BCaç 507 (já não lembro o número, mas se for preciso arranjo, pois ficou reduzida a quase metade entre mortos, evacuados e outras situações) e saltamos para Bula.
Depois, a poucos meses de acabar a comissão, fomos os primeiros habitantes de Có (comando), ficando a Companhia a ocupar com os três pelotões restantes as localidades de Ponate, Jolmete e Pelundo (também os primeiros militares a chegar àquelas paragens) onde foi tudo feito a partir do nada...
-Como a excursão não estava completa, despediram-nos para Mansoa, donde saímos para o Niassa...
-Data de embarque em Lisboa: 14 de Julho de 1963. Desembarque em Bissau: 21 de Julho de 1963.
-Data de embarque em Bissau: 7 de Agosto de 1965. Desembarque em Lisboa: 14 de Agosto de 1965.
Há mais factos, mas vão ser guardados para melhor oportunidade e também para não entupir o blog e o vosso trabalho.
Fomos para a Guiné, a partir de Chaves, como Companhia independente e só na Guiné é que nos deram a zona a ocupar pois Ingoré, quando chegamos, apenas tinha uma secção.
Mais tarde e na história que se há-de contar, passou aquela localidade a ter a estrutura de um Comando de Batalhão, onde estiveram alguns camaradas da minha localidade e por eles fiquei a saber desta evolução.
Já vai extenso este intróito.
Um abraço,
José Marques Ferreira
Fotos: © José Marques Ferreira (2009). Direitos reservados
2. Comentário de CV
Caro Camarada José Ferreira, bem aparecido na nossa Tabanca Grande.
Muito obrigado por aderires a esta grande família e por te propores a colaborar na feitura daquilo que queremos deixar para memória futura.
Quem melhor do que nós poderá contar como a guerra se travou? Quem sentiu as balas a assobiarem por cima da cabeça? Quem dormiu, mal, aos mosquitos, à chuva e ao cacimbo? Quem comeu o que calhou e quem bebeu água suja, retirada da bolanha?
Se não deixarmos tudo escrito, outros contarão, romanceando, ligarão os nossos momentos mais trágicos ao luar e ao estrelado dos céus de uma África misteriosa, etc, etc.
Sabemos que a realidade foi bem diferente. Caminhámos à luz de sucessivos relâmpagos em noites de chuva diluviana, tropeçando a cada passada, agarrados uns outros para que ninguém ficasse, irremediavelmente, para trás.
Cabe a ti e a todos nós contar a triste realidade dum local e época de sofrimento.
Contamos contigo.
Recebe camarada, um abraço de boas-vindas em nome da Tertúlia.
CV
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 9 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4488: Tabanca Grande (151): Jorge Rosales, ex-Alf Mil, Porto Gole, 1964/66, grande amigo do Cap 2ª linha Abna Na Onça
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Ingoré,
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José Marques Ferreira,
Mansoa,
Pelundo,
S. Domingos,
Susana,
Tabanca Grande,
Ten Cor Henrique Calado,
Varela
Guiné 63/74 - P4529: Em 6 Março de 66, o filme da primeira operação helitransportada no CTIG (Amadu Djaló / V. Briote)
Furriel Carlos Guedes com o guião CCmds, 6 de março de 66, 13h00, Bissalanca, Alf Mil Luís Rainha e elementos do seu grupo, "O sCenturiões", esquadrilha de Al - III, sobrevoo e travessia do Geba, lançamento, regresso à BA 12, saída dos helis, 2º srgt cmd Mário Valente, sold cmd Joaquim Esperto, cap Garcia Leandro, tenente oilav Velez Caldas, alf mil Virgínio Briote (Gr Cmds "Os Diabólicos"), especialistas da FAP, piloto (nome?), alf lil Luís Rainha, de costas com o chapéu chinês do Pansau Na Isna, festa em Bissau, imagens sobrepostas do aquartelamento de Brá.
Trata-se de um filme feito em condições muito particulares. O então alf mil Luís Rainha era o dono da máquina e um dos cmdts de um dos Grupos, "Os Centurões" encarregados do assalto. Filmou o que pôde, sem o conhecimento e treino indispensáveis para uma realização apresentável. Antes do assalto, desligou a máquina, o objectivo e as condições psicológicas falavam mais alto. Fez o que pôde.
Música extraída do filme Platoon e da Mayra Andrade. Com a devida vénia.
Vídeo (4' 58''): You Tube > Brá 65/67 (conta do VB)
1. Op Hermínia,
por Virgínio Briote
Em 6 de Março de 1966 realizou-se a 1ª heliportagem de assalto na Guiné. A zona, seleccionada através de reconhecimento aéreo, foi em Jabadá, Tite.
Seis Alouettes - III transportaram, até às portas do acampamento do PAIGC, 30 comandos do CTIG, 15 do Gr Centuriões (Alf Raínha) e 15 do Gr Diabólicos. (Alf Briote).
Em 6 de Março de 1966 realizou-se a 1ª heliportagem de assalto na Guiné. A zona, seleccionada através de reconhecimento aéreo, foi em Jabadá, Tite.
Seis Alouettes - III transportaram, até às portas do acampamento do PAIGC, 30 comandos do CTIG, 15 do Gr Centuriões (Alf Raínha) e 15 do Gr Diabólicos. (Alf Briote).
Comandou a operação no terreno o então capitão Garcia Leandro, na altura cmdt da CCmds.
A tripulação dos All - III foi comandada pelo maj pilav Mendonça (se não estou errado) e dela fazia parte, entre outros excelentes pilotos, o tenente Velez Caldas, que levou o meu grupo a muitos outros locais.
Era um domingo. Às 13h00 descolaram da BA12 e às 13h20 estávamos no solo.
A tripulação dos All - III foi comandada pelo maj pilav Mendonça (se não estou errado) e dela fazia parte, entre outros excelentes pilotos, o tenente Velez Caldas, que levou o meu grupo a muitos outros locais.
Era um domingo. Às 13h00 descolaram da BA12 e às 13h20 estávamos no solo.
O acampamento estava dividido em duas partes. Uma albergava a população, a outra a guerrilha. Aos Centuriões tinha calhado, por moeda ao ar, atacar o acampamento da guerrilha, ao outro grupo cercar e recuperar a população. Como muitas vezes aconteceu, as coisas foram um pouco diferentes.
A guerrilha estava misturada com a população nos dois abarracamentos. Depois do lançamento o Grupo Diabólicos, com uma equipa lançada um ou dois minutos depois do grupo, viu-se envolvido por fogo cruzado.
A guerrilha estava misturada com a população nos dois abarracamentos. Depois do lançamento o Grupo Diabólicos, com uma equipa lançada um ou dois minutos depois do grupo, viu-se envolvido por fogo cruzado.
Às 13h25 morreu o Soldado António A. Maria da Silva, atingido por um único tiro.
A evacuação foi pedida com os helis ainda no ar. Imediatamente, um, protegido por uma parelha de T-6, aproximou-se da zona e pediu sinalização. Foi lançada uma granada de fumos laranja e o capim da pequena lala começou a arder.
De um momento para o outro, só havia uma saída para a equipa que estava a proceder à evacuação, o caminho para o Geba. Com o heli e o Silva no ar, a equipa progrediu em direcção à mata, ao encontro das outras duas que já lá se encontravam.
Foram transportadas para o aquartelamento de Jabadá as pessoas que se conseguiram subtrair ao PAIGC, enquanto durante parte do trajecto a guerrilha nos ia acompanhando com fogo de morteiro mal ajustado.
A evacuação foi pedida com os helis ainda no ar. Imediatamente, um, protegido por uma parelha de T-6, aproximou-se da zona e pediu sinalização. Foi lançada uma granada de fumos laranja e o capim da pequena lala começou a arder.
De um momento para o outro, só havia uma saída para a equipa que estava a proceder à evacuação, o caminho para o Geba. Com o heli e o Silva no ar, a equipa progrediu em direcção à mata, ao encontro das outras duas que já lá se encontravam.
Foram transportadas para o aquartelamento de Jabadá as pessoas que se conseguiram subtrair ao PAIGC, enquanto durante parte do trajecto a guerrilha nos ia acompanhando com fogo de morteiro mal ajustado.
Por volta das 16h00, os dois grupos reunidos, rumaram para o aquartelamento e, às 16h30, foram transportados de heli para Bissau.
vb
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2. De helis para Jabadá,
por Amadu Bailo Djaló (*)
Preparámos um assalto de helicópteros em Jabadá Biafada. Era a primeira vez que se ia fazer uma operação com os helicópteros na Guiné. Tínhamos passado quase dois meses em treinos com os Alouettes.
Iam dois grupos [dos Comandos do CTIG], os Centuriões e os Diabólicos, quinze homens de cada, no total de seis helicópteros. Ia também o comandante da companhia de comandos, o capitão Garcia Leandro.
6 de Março de 1966, cerca das 13h00. Estávamos no aeroporto desde o meio-dia, à espera dos oficiais. Neste espaço de tempo houve uma cena entre dois companheiros dos Diabólicos, o Silva, um europeu e um africano, o Adulai Djaló. O Silva disse ao Djaló:
- Djaló, tu vais morrer nesta operação!
- Filho da mãe, tu é que vais morrer! - respondeu o Adulai.
Estávamos todos a rir, com grande gozo e alarido, quando chegaram os oficiais.
Embarcámos e tomámos altura com destino a Jabadá, para a missão de assalto com apoio da aviação. Com o ruído dos T-6, curvámos para a mata e, na altura, os aviões estavam a bombardear.
Ficámos cara a cara com os T-6, eles tomaram altura e nós baixámos para o assalto. Saímos a disparar para a tabanca, as primeiras imagens que me ficaram foram a de uma máquina de costura e o corpo de um homem balanta.
No meio dos tiros e dos rebentamentos, ouvimos pelo rádio os Diabólicos pedirem uma evacuação. O tiroteio foi intenso, mas não demorou muito tempo. Estava muita gente, guerrilheiros e população, todos misturados, houve muitas baixas.
Eu estava preocupado com a informação que tínhamos ouvido no rádio, o pedido de uma evacuação. Se o Silva disse que tinha sonhado que o Djaló ia morrer no assalto…
Estava ansioso que os grupos se encontrassem para sabermos quem morreu. Quando acabaram os disparos e começámos a retirar em direcção a uma clareira, ao longe vi o grupo Diabólicos. Não, Djaló não morreu, ele vem ali ao fundo.
Quando os dois grupos se uniram, perguntei ao Djaló quem tinha morrido e ele disse:
- Foi o Silva!
Esta operação, Hermínia, foi a primeira que se fez na Guiné com os Allouettes.
__________
Notas de vb:
Tive conhecimento, pouco tempo depois, que não tinha havido nenhum voluntário do Foto-Cine para filmar a Op Hermínia. Muitos anos depois, em 2005, o Luís Raínha entregou-me uma bobine de um filme para ser passado para DVD. É deste filme que extraí a parte respeitante à operação. Apesar da má qualidade da filmagem e dos quarenta anos passados, arrisquei pô-lo no YouTube. Com os agradecimentos e a devida vénia ao Luís Rainha.
(*) Das Memórias de Amadu Bailo Djaló, na altura Soldado do Gr Cmds Centuriões
por Amadu Bailo Djaló (*)
Preparámos um assalto de helicópteros em Jabadá Biafada. Era a primeira vez que se ia fazer uma operação com os helicópteros na Guiné. Tínhamos passado quase dois meses em treinos com os Alouettes.
Iam dois grupos [dos Comandos do CTIG], os Centuriões e os Diabólicos, quinze homens de cada, no total de seis helicópteros. Ia também o comandante da companhia de comandos, o capitão Garcia Leandro.
6 de Março de 1966, cerca das 13h00. Estávamos no aeroporto desde o meio-dia, à espera dos oficiais. Neste espaço de tempo houve uma cena entre dois companheiros dos Diabólicos, o Silva, um europeu e um africano, o Adulai Djaló. O Silva disse ao Djaló:
- Djaló, tu vais morrer nesta operação!
- Filho da mãe, tu é que vais morrer! - respondeu o Adulai.
Estávamos todos a rir, com grande gozo e alarido, quando chegaram os oficiais.
Embarcámos e tomámos altura com destino a Jabadá, para a missão de assalto com apoio da aviação. Com o ruído dos T-6, curvámos para a mata e, na altura, os aviões estavam a bombardear.
Ficámos cara a cara com os T-6, eles tomaram altura e nós baixámos para o assalto. Saímos a disparar para a tabanca, as primeiras imagens que me ficaram foram a de uma máquina de costura e o corpo de um homem balanta.
No meio dos tiros e dos rebentamentos, ouvimos pelo rádio os Diabólicos pedirem uma evacuação. O tiroteio foi intenso, mas não demorou muito tempo. Estava muita gente, guerrilheiros e população, todos misturados, houve muitas baixas.
Eu estava preocupado com a informação que tínhamos ouvido no rádio, o pedido de uma evacuação. Se o Silva disse que tinha sonhado que o Djaló ia morrer no assalto…
Estava ansioso que os grupos se encontrassem para sabermos quem morreu. Quando acabaram os disparos e começámos a retirar em direcção a uma clareira, ao longe vi o grupo Diabólicos. Não, Djaló não morreu, ele vem ali ao fundo.
Quando os dois grupos se uniram, perguntei ao Djaló quem tinha morrido e ele disse:
- Foi o Silva!
Esta operação, Hermínia, foi a primeira que se fez na Guiné com os Allouettes.
__________
Notas de vb:
Tive conhecimento, pouco tempo depois, que não tinha havido nenhum voluntário do Foto-Cine para filmar a Op Hermínia. Muitos anos depois, em 2005, o Luís Raínha entregou-me uma bobine de um filme para ser passado para DVD. É deste filme que extraí a parte respeitante à operação. Apesar da má qualidade da filmagem e dos quarenta anos passados, arrisquei pô-lo no YouTube. Com os agradecimentos e a devida vénia ao Luís Rainha.
(*) Das Memórias de Amadu Bailo Djaló, na altura Soldado do Gr Cmds Centuriões
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