sexta-feira, 12 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5978: Mais casos de insubordinação no teatro de guerra: CCAÇ 5, Canjadude, 25 de Novembro de 1969 (José Corceiro)

1. Comentário de José Corceiro, ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5, Gatos Pretos (Canjadude, 1969/71), ao poste de 11 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5972: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (3): O Cap Patrício, a CCAÇ 15, dois casos de insubordinação e ainda o Cherno Baldé

Caro José Cortes


Na CCAÇ 5, dia 8 de Novembro de 1969, houve uma rebelião de todos os militares nativos, [os quais] abandonaram o Aquartelamento de Canjadude em direcção a Nova Lamego. A cadeia hierárquica foi posta em causa pelos militares Africanos… e que trabalhão!

No dia 25 de Novembro de 1969, por volta das 23.30h, um cabo metropolitano quebrou a ordem estabelecida e,  de G3 em punho, foi ao abrigo do Capitão (comandante da companhia),  desafiando-o com todo o tipo de provocações, a gritar que o queria matar ali fora,  à vista de todos.

Um abraço

José Corceiro
 
2. Comentário de L.G.:
 
O José Martins, ex-Fur Mil Trms, dos Gatos Pretos, CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70) (*), confirmou-me esta noite, ao telefone,  esta história. Ele também esteve implicado nos acontecimentos (ou foi apanhado por eles, por tabela).  Confirma que houve uma insubordinação, e que o pessoal africano só terá regressado ao quartel sob a ameaça dos T 6... Não sei se  estamos a falar do mesmo caso... Vamos ter cautela com o uso (e o abuso) dos detalhes... Espero que ele, por escrito, nos diga mais pormenores...
 
 Já aqui falámos também do caso de Paúnca (**), contado pelo J. Casimiro Carvalho, com a grave insubordinação dos soldados africanos da CCAÇ 11 (Os Lacraus de Paúnca) que expulsaram, do aquartelamento,  os graduados e especialistas, de origem metropolitana... Estamos a falar no pós-25 de Abril. Mas terá havido seguramente mais casos, no Teatro de Operações da Guiné, com tropas quer metropolitanas quer do recrutamento local... O nosso blogue fica aberta a outros comentários, depoimentos, histórias, etc., sobre este tema até aqui pouco explorado (e delicado).
 
_____________
 
Notas de L.G.:
 
(*) Sobre a CCAÇ 5, temos mais de 30 referências (sem contar  com a I Série do blogue, que não está indexada: Vd. postes do José Martins e do João Carvalho. Procurar por exemplo por Canjadude, na I Série do Blogue)

(**)  25 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)

2 comentários:

José Marcelino Martins disse...

Confirmo a conversa ontem havida com o Luís Graça.

Quanto ao acontecimento do dia 8 de Novembro de 1969, de que já me não recordava, foi-me lembrado pelo Luís, durante o telefonema.

A CCaç 5 era, na altura, comandada pelo Capitão de Infantaria Manuel Ferreira de Oliveira (Setembro de 1969-Março de 1970).

A causa primária não a sei determinar, porque realmente foi um caso que esqueci, mas originou que os militares africanos da companhia, que pretendiam ser ouvidos pelo comandante, o que não aconteceu.

De imediato os mesmos elementos formaram na parada, pretendendo desta forma coagir o comandante a recebe-los. Tal facto, formatura sem ordem expressa para tal, representa já por si um acto de rebelião, punível pelo então célebre, RDM – Regulamento de disciplina militar.

Nova recusa do comando e sugestão dada por alguns graduados para que dispersassem, afim de evitar a tomada de medidas disciplinares.

Porem, a decisão, unânime e/por arrastamento, foi dirigiram-se para a porta de armas Norte, que dava acesso a Nova Lamego, para onde se dirigiram para apresentar o caso ao comando do Batalhão.

Era normal, no fim da tarde, que a aviação fizesse passagens pela zona do Boé, afim de detectar movimentos IN na zona adjacente ao rio Corubal. Naquele dia, ocasionalmente, já que variavam as áreas de aproximação ao Boé, deu-se por uma parelha de T6, que percorreram a estrada de Nova Lamego para sul.

Como sabiam que estavam a infringir as normas de conduta, aqueles Gatos Pretos optaram por regressar ao aquartelamento, com receio de flagelação por “fogo amigo, já que aquela movimentação não era do conhecimento de ninguém.

Questionaram o Capitão sobre o aparecimento dos meios aéreos, que lhes respondeu que não sabia.

A “raiva” foi dirigida para o “furriel rádio”, que era eu. Quando tentei falar com o grupo dos mais exaltados, fui impedido de o fazer, recebendo ordens especificas para me manter dentro da secretaria.

Depois, tudo passou.

O texto reflecte o que de momento me recordei, Talvez o Corceiro, com o rigor dos seus escritos, uma imensa mais valia para o blogue e para os elementos da CCaç 5, possa adiantar algo mais, já que dei o “segundo pontapé da partida”

Um abraço

José Martins

Anónimo disse...

Amigo Luís Graça
Tenho registos muito pormenorizados dos dois casos, que presenciei, oportunamente mandarei artigo a relatar os mesmos. Para mim, foram acontecimentos delicados, que não podem ser respondidos em comentário, foi um aglutinar de acontecimentos nos dois casos, que levou à insubordinação.
Um abraço
José Corceiro