1. O nosso Camarada José Marques Ferreira, ex-Sold. Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462, Ingoré - 1963/65 -, enviou-nos em 9 de março de 2010, a seguinte mensagem:
Camaradas,
Como diz o Torcato, que tive oportunidade de ler: «Há tanto tempo que não envio nada, que já nem sei… ».
Mas é uma questão de compromisso e, comigo, os compromissos assumidos cumprem-se. A menos que deixem de existir possibilidades. Enfim, penso que ainda tenho os «cinco» bem aferidos.
Então, como costumo dizer, aqui vai uma «estória inocentinha» apenas para relembrar coisas de longe e de saudade.
É que, vocês são capazes de pensar, e talvez tenham razão, que nem a copiar o que outros fizeram sou mais «trabalhador».
Assim, brevemente, irei enviar alguma coisa da minha autoria, para constituir o «livro das minhas recordações», que o é na totalidade este grande blogue (ou blogue grande?!).
Hospital Militar em Bissau. Aqui não se faziam partos, porque todos os que, infelizmente, lá davam entrada eram militares. Só muitos anos depois é que passaram a existir mulheres nas Forças Armadas da Guiné, especialmente na Força Aérea. Dois dos Camaradas que estão na foto, são da freguesia de Valongo e o terceiro é da freguesia de Espinhel, no concelho de Águeda. Um deles é natural de Arrancada e o outro do lugar do Casaínho (eram ambos “funcionários” do Hospital).
A inocente estória que segue é sobre os Bijagós, de quem andei bastante longe…
A inocente estória que segue é sobre os Bijagós, de quem andei bastante longe…
O PARTO NOS BIJAGÓS
Como sabemos, existem diversas raças de indígenas na Guiné. Cada qual tem os seus costumes próprios e também alguns que sendo comuns a várias outras raças, não deixam por isso de ter certas características que lhe dão individualidade. Muito resumidamente, vamos ver algumas noções curiosas acerca do parto na raça Bijagó.
A parturiente tanto pode ser uma rapariga solteira (campune) como uma mulher casada (ocanto), como é óbvio.
Tratando-se da primeira, quando está nas proximidades do parto recolhe a casa e manda chamar algumas "mulheres grandes" que possam servir de parteiras.
Uma dessas mulheres, e enquanto a parturiente vai enumerando o nome dos indivíduos com quem manteve relações sexuais até à altura do parto, conserva-se ao lado da cama, tendo na mão um molho de palha a arder, na ânsia de afastar os maus espíritos.
Se a parturiente é uma mulher casada, tal enumeração não se dá, pois se parte do princípio que a mulher é fiel ao marido (?!).
A seguir ao parto o recém-nascido é lavado com água do mar, limpo de todas as sujidades e esfregado com óleo de palma. Cerca de três dias depois a mãe é levada a uma praia e lavada com água do mar.
No entanto, o mais vulgar entre as raparigas solteiras (campunes) é a provocação do aborto. Como o nascimento dum filho a coloca numa posição social diferente, embora continue campune, ela prefere resolver o problema da forma mais simples: elimina-o.
Esta resolução, ao mesmo tempo que tira a preocupação à rapariga, evita também problemas ao rapaz se acaso ainda não foi ao fanado.
É que está decidido que os rapazes antes de irem ao fanado não podem ter relações sexuais e admitir a existência de um filho antes da época própria, é admitir uma fraude àquele princípio.
Além disso, todo o filho que nasça antes do fanado deixa de pertencer ao pai, e até à mãe, e passa a pertencer aos pais desta.
Cremos que é apenas nos Bijagós que este costume se segue como o descrevemos.
DOC
(Dr. Ramiro Fernandes de Figueiredo)
(Ex.alf.mil. médico da CCaç. 462-Guiné 1963/1965)
Nota: Esta curiosidade foi extraída do «Jornal da Caserna», periódico da CCaç. 462, com data de Outubro de 1964.
Um abraço,
J.M. Ferreira
Sold Ap Armas Pes
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Nota de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
16 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5822: Estórias avulsas (75): Do Cumeré a Canquelifá (João Adelino Aves Miranda, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/73)
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