sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15336: FAP (93): O impacto do Strela na actividade aérea na Guiné - III e última Parte (José Matos, historiador e... astrónomo)


Guiné > Zona Leste > Bafatá > ambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > O célebres e velhinho caça-bomradeiro T6 G, tanbémk conhecido por "ronco", na pista de aviação de Bafatá, Em primeiro plano, o fur mil at nf, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)  Arlindo T.Roda, autor da foto. Os T 6G vão desempemhar um importante papel no final da guerra...


Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição: LG].




1. Terceira (e última) parte do artigo do nosso grã-tabanqueiro José Matos sobre a "arma que mudou a guerra", o míssil terra-ar Strela, de origem russa, introduzido na Guiné depois da morte de Amílcar Cabral, na sequência da escalada da guerra. 

Recorde-se que o José [Augusto] Matos, formado em astronomia em 2006 na Inglaterra [ University of Central Lancashire, Preston, UK ], é especialista em aviação e exploração espacial desde 1992, e faz parte da Fisua - Associação de Física da Universidade de Aveiro.

Tem-se dedicado, como investigador independente, à história militar, e em particular à história da guerra na Guiné (1961/74). 




SA 7- Grail (designação NATO), 
míssil terra-ar, de origem russa (9k 32 Strela 2), desenhado por volta de 1964 e operacional em 1968. 

Caraterísticas técnicas do SA- 7 «Grail» / 9K32M Strela-2 | Míssil antiaéreo:


Fabricante: KB Machinostroyenia; função principal: defesa antiaérea próxima; alcance: até 4,2 km; velocidade: 1300 km/h; tipo de ogiva : alto Explosivo / pré-fragmentada; peso da ogiva : 15 kg.; peso total: 10 kg; comprimento: 1.47 m; diâmetro: 72 mm; sistema orientação: infravermelhos. O Strela 2 foi concebido e testado por volta de 1964. Foi dado como operacional em 1968. Com um alcance máximo de 3,7 km e problemas com o sistema de orientação, as prestações do míssil não foram consideradas satisfatórias. Rapidamente foi lançada a versão Strela-2M, em 1971. A versão melhorada podia atingir em teoria alvos a distâncias de até 4,2 km. Era eficaz contra alvos a mais de 50 metros de altura e menos de 1500 metros.

Foto: Cortesia de Wikipedia. Imagem do domínio público.



O impacto do Strela na actividade aérea 
na Guiné (III e última parte),
  por José Matos



A evolução da guerra colonial na Guiné tomou um rumo dramático em 1973-74, quando o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) adquiriu a última versão do míssil soviético terra-ar SA-7 (Strela-2M). A utilização desta arma pela guerrilha provocou profundas alterações no emprego da aviação e na eficácia das operações aéreas. Aproveitando os efeitos tácticos do míssil, que tiveram reflexos estratégicos, os guerrilheiros lançaram várias operações de grande envergadura e a guerra entrou numa fase muito delicada. Surpreendida, inicialmente, a Força Aérea tomou rapidamente várias contramedidas que reduziram a eficácia do míssil. Que impacto teve, verdadeiramente, na actividade aérea e qual o efeito das contramedidas adoptadas é o que se pretende analisar neste artigo.

(Continuação) (*)


O efeito das contramedidas


É inegável que o aparecimento do míssil na Guiné teve consequências nas operações aéreas e no uso do poder aéreo, mas as várias contramedidas adoptadas, ao longo do ano, surtem efeito, pois mais nenhum avião volta a ser abatido até ao final de 1973, embora as equipas de mísseis continuem activas dando cobertura às acções no terreno. 

Desde finais de abril até dezembro de 1973, são referenciados 15 disparos contra aviões Fiat, mas nenhum avião é atingido [36].  Este indicador mostra que os pilotos da BA12 conseguiram, ao longo do resto do ano, contornar a ameaça antiaérea e recuperar o controlo sobre a generalidade das acções de apoio que prestavam às forças terrestres.

O único abate acontece em 31 de janeiro de 1974, quando o G.91 5437,  pilotado pelo Tenente Castro Gil,  é atingido por um míssil perto da fronteira com o Senegal, numa missão de apoio a Canquelifá. O piloto consegue ejectar-se e escapar à guerrilha, regressando no dia seguinte ao quartel de Piche, à boleia numa bicicleta de um habitante local.

No relatório de análise ao incidente verificou-se que as normas de segurança foram cumpridas, mas que “o adiantado da hora (17h30), dificultando a visibilidade, contribuiu para que não fosse possível ao nº 1 detectar o lançamento do míssil” e que “o avião ainda não tinha sido pintado com tinta de baixa reflexão de infravermelhos" [37].

Nesta altura, a Força Aérea tinha já efectuado contactos em França para comprar uma tinta de baixa reflexão, de tonalidade verde escura capaz de evitar o míssil. Mas só em março de 1974 é que chegam a Bissalanca as primeiras aeronaves pintadas com a nova tinta anti-reflectiva: o Fiat 5401 e o Alouette III 9401 [38].


As acções aéreas de ataque em 1974

A análise da actividade operacional, em 1974, mostra que as acções aéreas de ataque aumentam nos últimos meses da guerra (com excepção de março), como se pode ver no gráfico seguinte.




As acções aéreas de ataque em 1974

 Este incremento deve-se, essencialmente, ao T-6G, que passa a voar com mais frequência neste tipo de missões, nomeadamente, a partir de março, em missões ATIP [39]. Uma análise deste tipo de missões, por aeronave, permite perceber que o T-6 tem um papel importante na fase final da guerra, como se pode ver no gráfico seguinte.





Este desenvolvimento resulta, em parte, da experiência adquirida no C-47. Do famoso “Flecha de Prata”, passou-se para experimentações nos “Roncos”, como eram conhecidos, na época, os T-6G. Num destes aviões, foi aplicado um derivómetro-visor. Houve que conceber e aplicar na “aeronave artilheira”, uma pala, para evitar que o pouco óleo pulverizado, que sempre sai do escape do motor, não ofuscasse o campo de visão e o retículo de pontaria do visor. Preparou-se a indispensável tabela de tiro e executaram-se, durante o dia, alguns bombardeamentos em voo horizontal, com 4 aviões em formação. Desta forma, os “Roncos” começaram a ser usados em bombardeamentos diurnos de área a 10 000 pés, servindo o “avião artilheiro” de guia para os bombardeamentos. Nestas missões, os T-6G eram armados com 6 bombas de 15 kg e voavam em formações de 4 aviões [40].

No entanto, com a excepção de janeiro de 1974, a actividade do GO1201, baixa nos derradeiros meses da guerra, como se pode ver no gráfico 9 [41].


Em busca de sistemas antimíssil

Fiat G-91, camuflado... Hoje é peça de museu...
É também na fase final da guerra, que a FAP procura equipar os Fiat com um sistema antimíssil doflare, a comprar nos EUA. Logo no início de fevereiro de 1974, um grupo de técnicos americanos da firma TRACOR desloca-se às Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA), em Alverca, com o propósito de estudar a possibilidade de instalação de contentores para ejecção de flares nos G.91. Os técnicos americanos concluem que é possível a instalação de 4 contentores do tipo TBC-72, lateralmente, junto ao bordo de fuga dos pylons internos do Fiat e capazes de fornecer uma protecção contínua entre 4,5 a 6 minutos, conforme a cadência de disparo dos flares [42].
tipo

Pouco tempo depois, em meados de fevereiro de 1974, o novo ministro da Defesa, Silva Cunha, dá ordens para que se iniciem rapidamente as diligências conducentes à aquisição do equipamento em causa [43].  Os custos da aquisição ascendem a 19 mil contos  [, equivalente hoje  3.062.558,26 €
(LG)] e prevê-se que esta verba possa ser suportada por conta de um empréstimo de 150 milhões de rands (6 milhões de contos) [967.123.661,80 € a preços de hoje, usando o conversor da Pordata (LG)] que Portugal fez junto da África do Sul [44]. O dinheiro sul-africano destinava-se, principalmente, a reforçar o poder aéreo com a aquisição de novas aeronaves para usar nas três frentes de guerra.

Como o TBC-72 é um equipamento de origem americana e como Portugal está sujeito a um embargo de armas, tanto o Ministério da Defesa como dos Negócios Estrangeiros tentam saber se a aquisição é possível. A 22 de abril, o embaixador português em Washington recebe instruções para apurar qual a melhor forma dos americanos venderem o equipamento, embora não devendo revelar às autoridades americanas que os flares se destinam a equipar aviões em serviço na Guiné [45].  Mas, o diplomata português já não tem tempo de fazer nada, pois, em poucos dias, dá-se o golpe militar de 25 Abril e a situação político-militar em Portugal e nas colónias muda radicalmente.

No entanto, apesar da Revolução de Abril, os responsáveis militares portugueses continuam a manter, durante algum tempo, a intenção de comprar os flares e outros sistemas antimíssil. A 21 de junho de 1974, na primeira reunião do Comité de Assistência África do Sul/Portugal (POSAAC), em Pretória, é decidido incluir na lista do material a financiar por conta do empréstimo sul-africano, 167 kits anti-Strela para os helicópteros Alouette III (kits a fornecer pela África do Sul), além do sistema TRACOR.46.  Os kits para os helicópteros eram constituídos por dois escudos térmicos sobre o motor e um deflector na tubeira do escape para desviar o fluxo de ar quente proveniente do motor. Tanto a África do Sul como a Rodésia usaram estes kits nos seus Alouette III. Nesta altura, porém, a guerra na Guiné já tinha terminado e estas aquisições deixavam de fazer sentido. A guerra do Strela tinha chegado ao fim.

José Matos (2015)

O autor agradece ao Arquivo da Defesa Nacional, ao Arquivo Histórico-Militar e à Torre do Tombo, as facilidades concedidas para esta investigação. Ao General José Lemos Ferreira, ao TGen Fernando de Jesus Vasquez, ao TGen António Martins de Matos, ao MGen António Martins Rodrigues, ao Cor Miguel Pessoa, ao TCor José Pinto Ferreira e ao Ten Jorge Vasco Moura pela leitura e comentários, bem como pelas informações prestadas.

[Fixação de texto, imagens e links: LG. Temos cerca de meia centena de referências, no nosso blogue, aos mísseis Strela]
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Notas do autor:

[36] Correia, José Manuel, Strela: A Ameaça ao Domínio dos céus no Ultramar Português, 2ª parte, Mais Alto n.º 393 Setembro/Outubro 2011, p. 28.

[37] Informação n.º 462 da 2ª Repartição do Estado-Maior da Força Aérea, Assunto: Avião abatido por míssil terra-ar em 31 Jan 74, 7 de Junho de 1974, ADN Fundo Geral Cx. 5074.

[38] Correia, op. cit., p. 31.

[39] Análise dos Sitreps Circunstanciados n.º 1/74 a 17/74 do COMZAVERDEGUINÉ, Bissau, ADN/F2/16/89 e AHM/DIV/2/4/295/3.~

[40] Informação prestada ao autor pelo General Fernando de Jesus Vazquez.

[41] Análise dos Sitreps Circunstanciados n.º 1/74 a 17/74 do COMZAVERDEGUINÉ, Bissau, ADN/F2/16/89 e AHM/DIV/2/4/295/3.

[42] Informação n.º 65-Pº 4.1.5/GAB do Estado-Maior da Força Aérea, Assunto: Medidas anti-míssil Strela (Sistema TRACOR), 6 de Fevereiro de 1974, ADN/F3/7/13/5.

[43] Informação n.º 355 da Secretaria de Estado da Aeronáutica, Assunto: Equipamento antimíssil Strela (TRACOR), 18 de Abril de 1974, ADN/F3/7/13/5.

[44] Memorando de 20 de Maio de 1974 do Gabinete do Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, ADN Fundo Geral Cx. 833/9.

[45] Nota secreta do Director Geral do MNE para o Embaixador de Portugal em Washington, Assunto: Aquisição de equipamento antimíssil Strela, 22 de Abril de 1974, ADN /F3/7/13/5.

[46] Acta da 1.ª reunião da Comissão Executiva da POSAAC, Pretória, 21 de Junho de 1974, ADN SGDN/7554.3.
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Nota do editor:

(*) Postes anteriores da série > 6 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15333: FAP (91): O impacto do Strela na actividade aérea na Guiné - Parte I (José Matos, historiador e... astrónomo)

8 comentários:

Luís Graça disse...

Mail enviado hoje pelo correio interno da Tabanca Grande... Um em cada cinco endereços está a dar erro (falha na receção)... Não sabemos ainda se é problema do Gmail, ou da caixa de correio dos nossos grã-tabanqueiros


Assunto - A guerra na Guiné (1961/74) ainda nos traz surpresas ? O Strela e os desertores do PAIGC


Amigos/as e camaradas:

Bom dia!...

Agora o que nos preocupa são as canseiras da vida, além das mazelas da guerra... Já não lemos (nem escrevemos sobre) os factos e os feitos da guerra que nos coube em sorte (um ano cá, dois anos lá, para a maior parte de nós), com a mesma paixão e sofreguidão, de há 10 anos atrás.

E no entanto o dossiê está longe de estar fechado... O único que parece estar fechado é o dos MiG, segundo o António Martins de Matos. À medida que se vão "devassando" os arquivos mortos, pelos investigadores e estudiosos da guerra, há (e pode haver) sempre pequenas/grandes surpresas...

Hoje o blogue traz a 1ª parte de três partes de um artigo do nosso amigo José Matos que nos fala da "arma tática", o Strela, que teve "efeitos estratégicos" na condução da guerra. Os amigos (americanos e alemães) ajudaram-nos, à socapa, mas acabaram por ser 2 desertores do PAIGC, fulas, que nos deram preciosas informações, permitindo-nos dar a volta... ao "míssil do povo" (ou "roquetão")!...

Descobrimos, por outro lado, que o José Matos não é general (a notícia da sua promoção foi um manifesto exagero... da AFAP), mas em contrapartida é astrónomo...e está ligado profissionalmente à aeronáutica e à exploração espacial (Associação de Física da Universidade de Aveiro).

Nas horas vagas (?), é historiador... Enfim, arranja tempo para se interessar pelo que se passou na Guiné, no nosso tempo, durante a guerra de 1961/74.

Recorde-se que o José [Augusto]Matos é filho de um camarada nosso, o ex-fur mil José Matos, da CCav 677 (São João, 1964/66), já falecido em 1998. E é seguramente o seu carinho e amor pelo seu pai (e a sua memória) que o faz gastar parte do seu tempo nestas viagens ao passado de dois pequenos países lusófonos (Guiné-Bissau e Portugal) de que raramente se fala, hoje em dia...

Mas, para um astrónomo como ele, são dois ínfimos pontos, na nossa grande galáxia, que lhe servem de referência (e quiçá de ancoragem). Viajantes do tempo e do espaço, todos precisamos de pequenos portos de abrigo, manutenção e reabastecimento..

Espero que ele se continue a sentir em casa... na nossa Tabanca Grande e vá publicando "novas" sobre a "nossa" Guiné...

Bom fim de semana para todos/as. Boa saúde, bom descanso, boas leituras. Luís Graça e demais editores

Luís Graça disse...

Meu caro Zé: desculpa "devassar-te" a intimidade... Tudo começou porque os tipos da Associação da Força Aérea (AFAP) promoveram-te a general... E pensei logo que eras demasiado novo para chegares a general... Também não sabia grande coisa de ti, para além do facto de seres filho de um camarada nosso, viveres algures pela região de Aveiro e teres uma paixão uma paixão por aviões e coisas da nossa guerra... Fui ao Linkedin e apanheio o teu CV resumido...

Espero que me leves a mal... Tem um bom fim de semana. LG

PS - Eis o que no "site" da AFAP:

ARTIGO "O IMPACTO DO MISSÍL STRELA NA ACTIVIDADE AÉREA NA GUINÉ" - DE GENERAL JOSÉ MATOS

Publicamos aqui na íntegra o excelente artigo sobre o impacto do míssil strella na actividade aérea na Guiné, da autoria o General José Matos.

" A evolução da guerra colonial na Guiné tomou um rumo dramático em 1973-74, quando o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) adquiriu a última versão do míssil soviético terra-ar SA-7 (Strela-2M). (...)"

Descarregue aqui o texto integral do artigo (em formato .pdf)

17 de março de 2015

http://www.emfa.pt/www/po/unidades/subPagina-AFAP-003.053-artigo-quot-o-impacto-do-missil-strela-na-actividade-aerea-na-guine-quot-de-general-jose-matos

Luís Graça disse...

Zé: Há, no teu artigo, uma ideia subjacente, a de que a história de uma guerra é a história da supremacia das armas... e da sua relativa eficácia. Na guerra, o primado da política continua a ser importante, se não mesmo decisivo... Os alemães, na II Guerra Mundial, tinham, armas tecnologicamente sofisticadas com a bomba voadora V2, o avião a jacto, um novo tipo de submarino, e com tempo e vagar poderiam ter chegado ao fabrico da bomba atómica... Mesmo assim perderam a guerra...

O Strela não representou apenas uma escalada na guerra, depois da temerária e desastrosa Op Mar Verde e do assassínio de Amílcar Cabral (que todos poderiam desejar, menos o Spínola!)... Não foi uma arma decisiva, a malta da FAP soube dar-lhe a volta, mas obrigou as duas partes a repensar a estratégia da guerra... Sobretudo teve um impacto psicológico negativo nas nossas tropas (, e nomeadamente no exército) e acabou por aprofundar as divergências, insanáveis, entre Spínola e Marcelo Caetano... Quando Spínola chega a Lisboa, a 6 de agosto de 1973, para dar início à sua licença de férias nas termas do Luso, sabe que a guerra está perdida, não militarmente, mas politicamente... Caetano, não podendo enm querendo dar os meios que o Spínola lhe exigiu, quis a todo o custo que o "militar" Spínola se sacrificasse no altar da pátria... O "político" Spínola percebeu isso, e recusou-se a ser outro Vassalo e Silva...

Anónimo disse...

Sim, a supremacia do armamento é sempre muito importante mas nem sempre decisiva. A questão é muito complexa porque supremacia de armamento é um valor relativo, na medida em que ter supremacia não é ter mais e melhores armas, é muito mais do que isso : é dispor de um equipamento que, num dado momento, altera de forma irreversível o equilíbrio no terreno. A Guiné é um exemplo bem eloquente. Andávamos ali, nós e eles, a derramar sangue, durante anos e anos, em que ninguém ganhava nem ninguém perdia, parecendo que tudo estava a melhorar piorando logo a seguir, num autêntico suplício de Tântalo. Bastou que aparecesse o Strella -SA 7, para toda a nossa vantagem (domínio livre e absoluto do ar, segurança nos itinerários principais) ser posta em causa. Claro que se conseguiu improvisar (à portuguesa), voando ou muito baixo ou muito alto, mas nunca mais as tropas no mato se sentiram como antes.
Um abração

Carvalho de Mampatá

Jose Matos disse...

Olá Luís
Em resposta ao teu oportuno comentário, como eu mostro ao longo do artigo, a FAP conseguiu minorar a ameaça do míssil e continuou a voar na Guiné, tendo mesmo aumentando o número de missões de ataque. O grande problema foram as missões de transporte e de evacuação, que foram as mais afetadas, o que teve efeitos negativos tremendos no moral das tropas terrestres.
Quanto à saída do Spínola estou a escrever um artigo sobre isso, ao contrário do que se pensa Caetano tentou arranjar os meios militares que Spínola pediu em maio de 1973. Em 1974, estavam em curso as aquisições de equipamento militar com o dinheiro dos sul-africanos…provavelmente iríamos ter Mirages e outros meios que podiam reforçar o poder militar português. Portanto, Caetano optou pela via militar, em vez da solução política…Ab Zé

Jose Matos disse...

Olá Luís
Quando referes no texto que o empréstimo de 150 milhões de rands (6 milhões de contos) são 967 mil euros, a preços de hoje, isto está errado, 6 milhões de contos são 30 milhões de euros, mas a preços de hoje seria muito mais que 30 milhões, apontaria para centenas de milhões de euros, Ab Zé

Antº Rosinha disse...

A propósito de muito ou pouco dinheiro, vinha nos jornais, já sem censura, que Caetano garantia na histórica reunião com a "BRIGADA DO REUMÁTICO" que não havia problemas financeiros para continuar a guerra por outro tanto tempo como o que já tinha decorrido.

(claro que é só a minha memória espevitada a trabalhar)

Está a fazer agora 40 anos que começou a guerra a sério da independência de Angola.

Luís Graça disse...


Zé, já corrigi, tens toda a razão. Usando o conversor da Pordata,

(i) 19 mil contos (19 milhões de escudos) em 1974 valeria hoje 3.062.558,26 €

(ii) 6 milhões de contos (6 mil milhões de escudos) representariam hoje 967.123.661,80 €


http://www.pordata.pt/Portugal