Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 14 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3623: Recortes de imprensa (11): A guerra do J. Casimiro Carvalho, pirata de Guileje e herói de Gadamael (Correio da Manhã)
Guiné > Bissau > 1974 > O repouso do guerreiro , herói de Gadamael> O Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho, talvez o pirata de Guileje mais conhecido (seguramente o mais fotografado, o mais fotogénico e o mais divulgado no nosso blogue; a razão é simples: é o único exemplar da espécie). A sua companhia, a CCAV 8350, era a unidade de quadrícula de Guileje, quando o comandante do COP 5, o major de artilharia de Coutinho e Lima, tomou a dramática decisão de retirar, para Gadamael, em 22 de Maio de 1973, as nossas tropas (c. 200) e a população civil (c. 500) face ao cerco do PAIGC, iniciado cinco dias antes, em 18 de Maio (Op Amílcar Cabral).
Na segunda foto, a contar de cima, vemos o J. Casimiro Carvalho Orion, no cais do Pidjiguiti, em frente das LFG Orion, Lira e Argos...
Fotos: © José Casimiro Carvalho / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados
1. A revista Domingo do Correio da Manhã, na sua edição de hoje, 14 Dezembro 2008, traz uma reportagem sobre o nosso camarada J. Casimiro Carvalho, na secção A Minha Guerra. Com a devida vénia, publicam-se o texto, com algumas adaptações (Revisão do texto e subtítulos: L.G.).
A Minha Guerra - José Pereira de Carvalho - Guiné 1972/1974 > "Combati no inferno verdadeiro"
"Alombei com camaradas mortos, vi outros serem abatidos, socorri alguns em Guileje e Gadamael e evitei que dois soldados mais novos fossem para a matança.
"Fiz a recruta em Leiria, no Regimento de Infantaria 7, e de seguida fui escolhido para frequentar o Curso de Sargentos Milicianos nas Caldas da Rainha. Depois fui nomeado para Tavira, mas não cheguei a ir porque fui escolhido para tirar o Curso de Operações Especiais nos Rangers de Lamego, que terminei com 15,28 valores". ~
Férias em Guileje
O relato, em jeito de narrativa autobiográfica continua assim:
"Mais tarde, em Estremoz, como cabo miliciano, dei instrução num pelotão da Companhia de Cavalaria 8351 (Os Tigres de Cumbijã). Fui nomeado para servir no Comando Territorial Independente da Guiné e transferido para a Companhia de Cavalaria 8350 (Os Piratas de Guileje).
"Embarcámos em Outubro de 1972 e, já em Bissau, seguimos para Cumeré, e duas semanas mais tarde embarcámos numa lancha de desembarque para Gadamael, donde seguimos para Guileje. Aqui, em sobreposição com Os Gringos, tivemos um período de muito trabalho em patrulhas. Mas passámos uns meses descansados. Andei a caçar pássaros com uma caçadeira que o chefe da tabanca me emprestava (só pagava os cartuchos). Apanhava aos 50 pardais com cada tiro e os jubis (miúdos) agarravam os que ficavam feridos. Era cada arrozada!"...
O inferno de Guileje
Os bons tempos de Guileje, dos primeiros meses, de finais de 1972 a princípios de 1973, vão rapidamente acabar, quando a direcção do PAIGC, na seqùência do assassinato do seu líder histórico, em 21 de Janeiro de 1973, decidiu lançar uma grande ofensiva contra Guidaje, a norte Guileje e Gadamael, a sul (Op Amílcar Cabral):
"Mas os tempos iriam piorar. Um dia, o alferes Lourenço, ao manusear uma granada duma armadilha, rodeado de militares - eu estava emboscado com o meu grupo -, ela explodiu-lhe na mão e matou-o instantaneamente. Já no quartel, ao ajudar a pegar no cadáver, este quase se partiu em dois. Que dor senti, chorei como nunca.
"Era o prenúncio do que nos esperava. Um dia fomos atacados pelo inimigo com canhões sem recuo, e um Fiat G91 da Força Aérea Portuguesa foi contactado pelo comandante capitão Abel Quintas, que lhe indicou o rumo das saídas (zona de explosão dos projécteis a saírem das bocas de fogo) e ele seguiu. Mais tarde soube que tinha sido abatido por um míssil Strella terra-ar. Intervieram os pára-quedistas e o grupo do Marcelino (‘Os Vingadores’ das Operações Especiais), numa confusão de tropas como nunca tinha visto. Pedi ao Marcelino para me levar na operação de resgate do piloto tenente Pessoa, que aceitou, mas o meu comandante não foi na conversa, não obstante o Marcelino ter dito que me trazia de regresso, nem que fosse às costas".
A retirada de Guileje e um outro inferno chamado Gadamael
Em 22 de Maio de 1973, o Fur Mil Op Esp Casimiro, da CCAV 8350, não estava em Guileje. Eis a razão por que isso aconteceu:
"Entretanto, fui nomeado para comandar os reabastecimentos, antes do isolamento, entre Cacine e Gadamael. Andava eu a curtir o Sol em lanchas de desembarque, quando Guileje, no Sul da Guiné, foi abandonada, por ordem do então major Coutinho e Lima – que por isso foi mandado prender pelo general Spínola -, seguindo as nossas tropas e a população para Gadamael Porto, a 18 km de distância, onde passados uns dias começou a matança no verdadeiro inferno.
"Foi um horror que a minha cabeça ainda hoje se recusa a qualificar e quantificar. Em Gadamael não havia casamatas (abrigos subterrâneos) como em Guileje, só valas. Os bombardeamentos eram tão intensos que nem dava para acreditar e, depois de ouvirmos as saídas, passavam apenas 22 ou 23 segundos até as granadas caírem em cima de nós. Num dos voos para uma vala, onde nos escondíamos, senti as nádegas húmidas e ao pôr a mão ficou encharcada em sangue. Gritei que estava ferido e fui evacuado num barco patrulha da Marinha para Cacine, onde verificaram que tinha um estilhaço de um morteiro de 122 mm. Como não havia necessidade de ser transferido para Bissau, fui nomeado chefe de limpeza.
"Quando começaram a chegar as vítimas deste holocausto, e como ouvia os meus camaradas a embrulhadar (bombardeados), deu-me um clique na cabeça, peguei numa Kalashnikov, virei-me para um oficial e disse: ‘ou me mandam já para Gadamael onde morrem os meus homens ou varro já esta m...’
"Não me lembro dos momentos seguintes, mas sei que depois me vi num Sintex (barco em forma de banheira de fibra de vidro), a caminho de Gadamael. Aqui, num dos bombardeamentos, já no fim, vi um soldado a cair e, ainda com o fumo no ar e o eco das explosões nos ouvidos, saí em correria louca, alombei com ele às costas e corri para a enfermaria. Ao colocá-lo no chão, vi que não tinha metade do crânio e os miolos escorriam pelas minhas costas.
"Nessa enfermaria jazia um militar morto por bombardeamentos em Guileje e que mais tarde foi enfiado em dois bidões soldados juntos, tal o estado do cadáver. Na enfermaria, os cadáveres eram tantos e o cheiro tão nauseabundo que era constantemente regada com creolina.
"Num dos ataques, o capitão Quintas (comandante de ‘Os Piratas de Guileje’, cujo nome e emblema foram criados por mim) foi ferido muito gravemente. Ajudei-o a chegar ao cais, debaixo de fogo, arranjei um Sintex e, como não tinha depósito, corri, debaixo dum bombardeamento terrível, a arranjar um. O barco seguiu então para Cacine levando mais feridos.
"Noutra altura, um oficial chamou meia dúzia de homens e mandou-os fazer uma patrulha ao longo de um rio e emboscarem-se numa zona de uma antiga pista de aviação. Eu, ao sair com o alferes Branco, reparei em dois soldados que estavam para ir e ordenei-lhes que ficassem porque ainda eram muito novos para morrer.
"Quando o alferes nos mandou emboscar, ouvi um barulho estranho vindo do mato, atirei-me ao chão e gritei que estávamos a ser atacados. Ainda vi a cara do alferes a ser atingida por uma rajada. Foi um tiroteio terrível. Um grupo de pára-quedistas foi em nosso socorro e quando chegou encontrou quatro corpos: o alferes Branco, o cabo Neves e os soldados Serafim e Anselmo.
"A minha companhia foi evacuada e esteve para regressar à Metrópole, mas foi decidido que devíamos fazer outra Instrução de Actividade Operacional. Eu fui para Prabis com 12 homens, outros para Quinhamel ou Bijemita, depois fomos para Colibuia-Cumbijã. Eu fui destacado para render o furriel Cláudio Moreira das Operações Especiais. Entretanto, aconteceu o 25 de Abril e fui para Paúnca para a Companhia de Caçadores 11 (‘Os Lacraus’), até ao fim da comissão".
O culto dos rangers
A reportagem do Correio da Manhã termina com uma nota biográfica sobre o nosso amigo e camarada, enquanto paisano:
"José Casimiro Pereira de Carvalho mora em Vermoim, na Maia, e é casado há 33 anos. Tem duas filhas, a Kika, de 31 anos (administrativa) e a Sofia, de 26 (economista). Tem uma neta, da primeira filha, com dois meses (Beatriz).
"Nasceu em Cedofeita, Porto. Completou o ciclo preparatório, trabalhou em hotelaria e quando foi para a tropa estava no Hotel Castor, no Porto. Quando regressou, era furriel miliciano de Operações Especiais (Ranger). Convidado para seguir a vida militar, não aceitou e foi trabalhar como empregado de mesa no restaurante Barcarola.
"Entretanto, foi para a BT-GNR, onde esteve durante 26 anos, até à reforma, em 2003. Agora, passa o tempo a ajudar um amigo que trabalha em aço inox para mobiliário. Todos os anos a família vai a Lamego, aos Rangers, porque adora a instituição".
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Nota de L.G.:
(*) Vd. poste anterior desta série:
8 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3584: Recortes de Imprensa (10): Os ficheiros secretos de Coutinho e Lima, no Correio da Manhã, de 7/12/08
Guiné 63/74 - P3622: Brasões, guiões ou crachás (6): BART 2917 e 2924, BCAÇ 507 e 512, CCAV 1484, Pel Caç Nat 52 e Pel Mort 4574 (José Martins)
BART 2917 - Guiné 1970/72 - Divisa: P'la Guiné e suas gentes
Mobilizado no Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 – Vila Nova de Gaia
Embarque em 17Mai70
Desembarque em 25Mai70
Regresso em 24Mar72
Divisa – P´la Guiné e suas gentes
Segue para Bambadinca em 29Mai70 assumindo a responsabilidade do Sector L1, que abrangia os subsectores de Xime, Xitole, Mansabá e Bambadinca. A sua actividade desenvolveu-se na coordenação e realização patrulhamentos, emboscadas e segurança de itinerários, assim como protecção de trabalhos de reordenamento dos aldeamentos. Implementou e organizou o funcionamento do Centro de Instrução de Milícias. Deslocou-se para Bissau a fim de aguardar embarque em 15Mar72.
Tem como subunidades orgânicas as CArt 1714, 1715 e 1716, que se mantiveram sempre na área do seu sector.
Imagem: Benjamim Durães/ultramar.terraweb
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BATALHÃO DE ARTILHARIA N.º 2924
BART 2924 - Guiné 1970/72 - Divisa: Porfiamos o Céu, a Terra e as Ondas, Atroando
Mobilizado no Grupo de Artilharia Contra Aeronaves n.º 2 – Torres Novas
Embarque em 23Set70
Desembarque em 29Set70
Regresso em 21Set72
Divisa – Porfiamos o Céu, a Terra e as Ondas atroando
Entre 05 e 31Out70 realizou no Centro de Instrução Militar, em Bolama, a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional, em conjunto com as suas companhias orgânicas. Segue em 28Nov70 para o sector de Tite, para treino operacional e assume o Sector S1 em 15Dez70, que incluía os subsectores de Nova Sintra, Jabadá, Fulacunda e Tite. A área de Ganjauará é retirada a este sector em 24Nov71. Desenvolveu intensa actividade efectuando e coordenando patrulhamentos, emboscadas, reconhecimentos ofensivos e reacção a flagelações de aquartelamentos e povoações em autodefesa. Coordenou e orientou o reordenamento de aldeamentos e trabalhos de asfaltagem, na sua área de acção. Foi rendido em 20Ago72, seguindo para Bissau a aguardar embarque.
Tem como subunidades orgânicas, que estiveram sempre integradas no seu sector, as CArt 2771, 2772 e 2773.
Imagem: José Sobral/ultramar.terraweb
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BATALHÃO DE CAÇADORES N.º 507
BCAÇ 507 - Guiné 1963/65
Mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 2 - Abrantes
Embarque em 14Jul63
Desembarque em 20Jul63
Regresso em 29Abr65
Divisa –
Constituído apenas por Comando e CCS (Companhia de Comando e Serviços), não dispondo, portanto de subunidades orgânicas, recebeu os elementos de recompletamento, que ainda não tinham terminado a sua comissão de serviço, e que estavam integrados no BCAÇ 239, a que sucedeu. Em20Jul63 assume a responsabilidade do sector B, com sede em Bula, enquadrando as companhias instaladas em Teixeira Pinto, Mansoa, S. Domingos e Farim. O sector foi aumentado com os subsectores de Mansabá e Ingoré (28Jul63) e Bissorã (01Ago63). Em 01Set63 a sua zona de acção foi reduzida dos subsectores de Mansoa, Farim, Mansabá e Bissorã, e aumentado dos subsectores de Binar (08Mai64) e Có (02Mar65). Desenvolveu a sua actividade operacional em patrulhamentos, reconhecimentos, batidas e emboscadas, com o objectivo de travar o alastramento da subsversão na zona Oeste, assim como a segurança e protecção das populações. Em 28Abr65, deixou a sector de Bula, já designado sector O1, seguindo para Bissau para aguardar embarque.
Imagem: Carlos Coutinho/ultramar.terraweb
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BATALHÃO DE CAÇADORES N.º 512
BCAÇ 512 - Guiné 1963/65 - Divisa: Honra e Glória
Mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 7 - Leiria
Embarque em 17Jul63
Desembarque em 22Jul63
Regresso em 12Ago65
Divisa – Honra e Glória
Constituído apenas por Comando e CCS (Companhia de Comando e Serviços), não dispondo, portanto de subunidades orgânicas. A fim de instalar e organizar a sua zona de acção, segue para Mansoa em 20Ago63. Em 01Set63, assume a responsabilidade do recém criado sector C, englobando nele as companhias que se encontravam instaladas em Mansoa, Mansabá, Bissorã e Farim, assim como os seus destacamentos. Foram acrescentados os subsectores de Enxalé (08Dez63) e Bigene (23Dez63). O sector é reduzido, por entrada em sector de outros batalhões, sendo retirados os subsectores de Farim e Bigene (23Mai64) e Mansabá e Bissorã (31Mai64). Desenvolveu a sua actividade em especial nas zonas de Óio-Morés, Biambifoi e Enxalé, efectuando patrulhamentos, reconhecimentos, batidas, emboscadas e golpes de mão, nomeadamente sobre as linhas de infiltração inimigas. Em 22Jul64 a sua zona de acção foi integrado no sector atribuído ao BArt 645 e foi deslocada para Bissau, onde assumiu a segurança do aquartelamento do Centro de Instrução de Comandos, em Brá. A 29Dez64, desloca-se para Nova Lamego, para proceder à instalação do novo sector L3, cuja responsabilidade assume em 11Jan65, tendo sido criados os subsectores de Canquelifá (25Fev65), Bajocunda (11Mar65), Madina do Boé e Buruntuma (23Mai65), tendo recorrido a subunidades de intervenção às ordens do Comando Chefe. Neste sector organizou operações para travar a penetração de forças inimigas e travar relacionamento com as populações. A 01Jun65 foi para Bissau a fim de aguardar embarque de regresso.
Imagem: Carlos Coutinho/ultramar.terraweb
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COMPANHIA DE CAVALARIA N.º 1484
CCAV 1484 - Guiné 1965/67 - Divisa: Vontade e Audácia
Mobilizada no Regimento de Cavalaria n.º 7 - Lisboa
Embarque 20/Out/65
Desembarque em Bissau em 26/Out/65
Regresso em 02/Ago/67
Comandante: Cap Cav Rui Manuel Soares Pessoa e Amorim
Companhia independente ficou instalada em Nhacra, onde rendeu a CArt 565, ficando adida ao BArt 1857, aquartelado em Santa Luzia - Bissau.
Fez treino operacional em Mansoa durante o mês de Nov/65, que culminou com uma operação na área de Cobonge.
O efectivo da Companhia tomou o seguinte dispositivo:
Em Nhacra: Comando da Companhia, 2 GComb e 1 Pel da Comp Mil 10 em reforço
Em Safim: 1 GComb reforçado com 2 Pel da Comp Mil 10, com 1 Secção destacada em Ensalmá e outra em João Landim.
Em 08Jun66 a CCav 1484 foi rendida em Nhacra pela CCaç 797 e seguiu para Catió, onde ficou em intervenção ao Sector, adida ao BCaç 1858 e, após a rendição deste, ao BArt 1913.
Durante o período de permanência em Catió deu cobertura, em Cufar, à rendição da CCaç 763 pela CCaç 1621 e, no Cachil (Como) à rendição da CCaç 728 pela CCaç 1587.
De 12Jun66 a 28Jun67 efectuou 40 operações no Sector, sofreu 2 mortos e 22 feridos em combate, registando ainda 1 morto por acidente.
Em 20Jul67 segue para Bissau, embarcando no Uíge em 26Jul67 e chegado a Lisboa em 02Ago67.
(Imagens e texto de Benito Neves)
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PELOTÃO DE CAÇADORES NATIVOS N.º 52
PEL CAÇ NAT 52 - Guiné 1966/74 - Divisa: Matar ou Morrer / Os Gaviões
Mobilizado no Comando Territorial Independente da Guiné
Criado em Setembro de 1966
Desactivado em Agosto de 1974
Divisa – Matar ou Morrer / Os Gaviões
Colocado inicialmente em Porto Gole, foi transferido, sucessivamente, para Enxalé (Mai69), Missirá (Jun69), Bambadinca (Set69), Fá Mandinga (Jul71), Fá Mandinga (Abr72), Ponte do Rio Udunduma (Jul72) e Mato de Cão (Out72), onde se manteve até ser extinto.
Pequena unidade da guarnição normal.
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PELOTÃO DE MORTEIROS N.º 4574/72
PEL MORT 4574/72 - Guiné 1972/74
Mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 15 - Tomar
Embarque em Jul/72
Regresso Após Abr74
Foi colocado junto do Batalhão instalado no sector L3 em Nova Lamego, destacando forças a nível de Secção ou Esquadra para as subunidades instaladas naquela área de acção.
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Notas de CV:
Vd. postes anteriores da série de:
10 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3429: Brasões, guiões ou crachás (1): CCAÇ 2797, Pel Caç Nat 51 e Pel Caç Nat 67, Cufar, 1970/72 (Luís de Sousa)
14 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3453: Brasões, guiões ou crachás (2): CCAV 678, 1964/66 (Manuel Bastos)
22 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3501: Brasões, guiões ou crachás (3): CAOP 1: BCAÇ 2885; CART 2732 e CCAÇ 5 (Jorge Picado/Carlos Vinhal/José Martins)
1 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3551: Brasões, Guiões ou Crachás (4): CCAÇ 728; CCAÇ 2617; CCAÇ 3566; PEL CAÇ NAT 63; CCAV 677 e CCAÇ 2402 (José Martins)
7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3580: Brasões, guiões ou crachás (5): BCAÇ 2893, CART 730 e 23339, CCAÇ 726, 1426, 2406, 2636, 2701 e 3477 (José Martins)
Guiné 63/74 - P3621: Em busca de... (57): Ex-combatentes do BCaç 2928 (Bula...1970/72) (António Matos)
À procura de Camaradas
Mensagem do António Matos, com data de 14 de Dezembro de 2008
Gostaria imenso de usufruir do sistema de procura de camaradas a quem perdi o rasto desde 1972 !!!
Como se faz isto ?
Os dados são:
Batalhão de Caçadores 2928
Companhia 2790
Capitão Sucena
Pelotão do alferes Matos e dos furrieis Tavares e Guedes Vaz
Ida para a Guiné em 1970
Regresso em 1972
Soldados açoreanos provavelmente imigrados no Canadá ou, eventualmente, já regressados a S.Miguel.
António Matos
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Nota de vb:
Último poste da série de 13 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3617: Em busca de... (55): Ex-combatentes da CCAÇ 594 (Guiné, 1963/65) (Júlio Pinto/Artur da Costa Rodrigues)
Guiné 63/74 - P3620: Album fotográfico de Santos Oliveira (7): Bissau
Bissau > Pintando
Bissau > Dezembro de 1965 > Lendo junto ao quarto
Bissau > Dezembro de 1965 > Amura
Bissau > Dezembro de 1965 > Ao fundo o Porto e a Ilha do Rei
Bissau > Julho de 1966 > Estátua de Teixeira Pinto
Bissau > Julho de 1966
Bissau > Julho de 1966 > Estátua de Honório Barreto
Medalha das Campanhas da Guiné
Diploma do CTIG - 1964/1966
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3577: Album fotográfico de Santos Oliveira (6): Tite e Enxudé
Guiné 63/74 - P3619: Em busca de... (56): Ex-combatentes da CCAÇ 2312 (Có, 1968/69) (Silvie/António Ferreira)
Olá,
Ando à procura de associações de combatentes das forças armadas, portugueses que combateram na Guiné. O meu pai foi um desses soldados e queria fazer-lhe uma surpresa.
Encontrei o seu mail na net e queria saber se me podia indicar como posso entrar em contacto com essas pessoas ou se há convívios que se organizam em Portugal.
Muito obrigada.
Silvie
2. Mensagem enviada à nossa amiga Silvie em 5 de Dezembro
Cara Silvie
Veja se o seu pai lhe diz qual foi a Companhia e ou Batalhão onde foi integrado para a Guiné. Já agora as datas de ida e regresso assim como os locais onde esteve na Guiné. Indique também o nome de seu pai.
Em posse desses elementos, poderemos dar informações mais precisas.
Há por cá convívios a nível nacional, mas se pudermos encontrar camaradas de seu pai, ainda será melhor.
Os nossos cumprimentos e um abraço especial ao seu pai, nosso camarada.
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
3. Mensagem da filha do nosso camarada, com data de 6 de Dezembro:
Bom dia Sr Carlos,
Agradeço por ter respondido e peço já desculpas por eu dar muitos erros em português (é que sou filha de emigrantes e infelizemente não tive aulas de português).
Aqui vão as informações que me pediu:
Nome: António FERREIRA
Data de ida: Janeiro de 1966
Datas de volta: Junho 1969 (ferido grave)
Batalhão: 2834
Companhia: 2312
Primeiro Pelotão
Caçadores
Fico à espero e agradeço muito.
Cumprimentos.
Silvie
4. No mesmo dia foi enviada a seguinte reposta à filha do nosso camarada António Ferreira:
Cara Silvie, cara filha.
Utilizei o termo cara filha para que fique a saber que os filhos nos nossos camaradas, nossos filhos consideramos. Quem combateu na Guiné, ficou possuído de uma mística tal que nos tornamos verdadeiros camaradas, amigos e porque não irmãos. Se quiser considere-se nossa sobrinha de coração.
Aproveito para mandar ao meu camarada António Ferreira um grande abraço solidário, fazendo votos de que o ferimento que recebeu na Guiné lhe não tenha deixado nenhuma sequela para a vida.
Posto isto, vamos ao mais importante.
O seu pai esteve no Batalhão de Caçadores 2834 que tinha 4 Companhias, a saber: CCS, CCAÇ 2312 (a dele), CCAÇ 2313 e CCAÇ 2314. A Companhia dele deve ter estado em Có e a sede de Batalhão em Buba.
Arranjei um contacto telefónico de um companheiro dele, da CCAÇ 2312, que é o Mário Neves, cujo telemóvel é: 936 242 703 (*)
Tenho mais dois contactos da CCAÇ 2313 que poderão conhecer outros camaradas da Companhia do seu pai, que são:
José Ferreira - telemóvel - 936 699 301, telefone fixo - 234 666 413 (*)
Luciano Castro - telemóvel - 968 831 065, telefone fixo - 234 742 46 (*)
Faltam como é lógico os indicativos de Portugal que conhecerão melhor do que eu.
Vou entretanto publicar o vosso pedido no nosso Blogue e do que conseguirmos, lhes será dada notícia.
Creia-nos ao vosso inteiro dispôr.
Deixo ao António Ferreira um abraço e à Silvie e restante família as nossas melhores saudações.
Se não houver outros contactos entretanto entre nós, ficam desde já os nossos Votos de Bom e Santo Natal para todos e um Bom Ano 2009.
Carlos Vinhal
Co-editor
5. Em 13 de Dezembro recebemos esta mensagem da nossa amiga Silvie:
Senhor Carlos,
Daqui a uns dias, se tudo correr, bem vou para Portugal passar as festas e assim vou poder transmitir as suas saudações e as informações que me deu ao meu pai. Ele concerteza vai ficar muito contente, sobretudo com os contactos dos companheiros.
Muito obrigada pela sua ajuda e desejo-lhe também umas boas festas e um feliz Ano 2009.
Silvie
6. Comentário de CV:
Foram prestadas estas informações ao nosso amigo António Ferreira, através da sua filha Silvie, elementos estes (*) recolhidos na página do nosso camarada Jorge Santos a quem agradecemos a existência da sua secção Ponto de Encontro, a que recorremos frequentemente.
Se entre os nossos camaradas e leitores houver quem tenha mais elementos a acrescentar aos já fornecidos a estes nossos amigos, por favor contactem-nos.
Ao António Ferreira, desejamos que consiga encontrar os amigos há tanto tempo desencontrados.
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Nota de CV;
Vd. último poste da série de 13 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3617: Em busca de... (55): Ex-combatentes da CCAÇ 594 (Guiné, 1963/65) (Júlio Pinto/Artur da Costa Rodrigues)
Guiné 63/74 - P3618: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (2): A festa ... e a solidão de há 35 anos (Luís Graça)
Academia Militar > Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref Coutinho e Lima , A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos > O autor, no final, autografando exemplares do seu livro (editado pela DG - Editor, Linda-A-Velha, 2008, 469 pp., € 20). A sessão só terminiu por volta das 20h30, o que dá ideia da afluência de público... O auditório da Academia Militar term uma lotação de 600 lugares, dois terços dos quais estavam preenchidos. Academia Militar > Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref Coutinho e Lima, A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos (Linda-A-Velha: DG Editor, 2008, 469 pp, € 20) > Em primeiro plano, a direita, o nosso camarada e amigo, advogado, régulo de Farim, residente em Massamá, Carlos Silva, acompanhado pela esposa.
Academia Militar > Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref Coutinho e Lima, A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos (Linda-A-Velha: DG Editor, 2008, 469 pp, € 20) > Outro aspecto da sessão de autógrafos. Em segundo plano, o José Colaço e o António Santos, da nossa Tabanca Grande, à direita do Carlos Silva e esposa.Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref "A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos" (Linda-A-Velha: DG Editor, 2008, 469 pp, € 20) > Da esquerda para a direita: Vasco da Gama, António Pimentel, o José Manuel e o José Martins.
Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref, Coutinho e Lima, A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos (Linda-A-Velha: DG Editor, 2008, 469 pp, € 20) > Um pequeno excerto da intervenção do Gen Loureiro onde se fala da terrível da solidão de quem tem de decidir, sozinho, em situações-limite. Mas o dia foi de festa para o Cor Art Ref Coutinho e Lima: finalmente, 35 anos depois, pôde contar a sua história (*)...
sábado, 13 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3617: Em busca de... (55): Ex-combatentes da CCAÇ 594 (Guiné, 1963/65) (Júlio Pinto/Artur da Costa Rodrigues)
Olá pessoal da Tabanca Grande,
Eu sou o antigo combatente de Angola que procurou e graças a vós fiquei a saber como desapareceu o meu amigo Júlio Lemos da Ccaç 797 (*).
Mas hoje o que me traz outra vez a entrar em contacto com a Tabanca é o facto de um colega e amigo meu aqui de Braga, a quem dei conhecimento do vosso Blogue, ter manifestado o interesse de através de vós tentar descobrir o paradeiro do pessoal da Ccaç 594, do Capitão Rocha e que esteve na Guiné de 1963 a 1965. Era uma companhia de intervenção e por isso não tinha poiso certo.
Portanto se alguém souber de pessoal da Ccaç 594, podem entrar em contacto comigo que eu transmito-lhe. O seu nome é Artur da Costa Rodrigues e é de Braga.
Vamos lá pessoal da 594 que é feito de vós?
Um abraço e para todos o membros da Tabanca Grande o desejo de um bom Natal e um Ano Novo cheio de venturas.
2. Comentário de Carlos Vinhal
Caro Júlio Pinto, obrigado pelo teu contacto e pela ajuda que estás a dar ao nosso camarada Artur Rodrigues. Fica aqui tornado público o seu desejo de encontar antigos companheiros da CCAÇ 594.
Aos nossos tertulianos, pede-se a colaboração do costume. Se souberem algo que possa ajudar este nosso camarada, informem-nos ou liguem directamente com o Júlio Pinto.
Será enviada uma mensagem à tertúlia com o contacto deste nosso camarada.
Ao Júlio e ao Artur Rodrigues os votos de bom Natal e de um 2009 sem marcas da crise.
_____________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
18 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2115: Em busca de...(12): Notícias do desaparecimento de Júlio Lemos, ex-Fur Mil da CCAÇ 797, Tite, 1965/67 (Júlio Pinto)
e
Guiné 63/74 - P2116: Fur Mil Júlio Lemos, da CCAÇ 797, morto em Rio Louvado, por ferimentos em combate (A. Marques Lopes)
17 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3213: O Nosso Livro de Visitas (28): Homenagem aos ex-combatentes da Guiné (Júlio Pinto)
Vd. último poste da série de 25 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3516: Em busca de... (54): Companheiros da CCAV 677/BCAÇ 599 (Resultados) (Santos Oliveira)
Guiné 63/74 - P3616: Convívios (91): Encontro da CCaç 2790 em 20 de Dezembro. (António Matos)
Melancólica recordação
Isto porque, embora em território em guerra declarada, havia destas incongruências traduzidas na proibição de se andar armado.
Ora, para se chegar a Bissau desarmado, seria necessário deixar a "amante" no quartel ou seja, a uns 30 kms de distância!
A viagem começava em Bula e quando a "boleia" era num Unimog 404 a coisa era agradável pois eram umas máquinas espectaculares a andar.
Quando era nos 411, meu Deus, aquilo dava pelos peitos a um macho! O incómodo e a falta de segurança perante qualquer solavanco eram terríveis. Hoje fazem-me lembrar aquelas bóias compridas ( lagartas ) que vemos nas praias, rebocadas por uma lancha e que levam 1/2 dúzia de "artistas" que vão sendo lançados borda-fora à medida que as pequenas ondas aparecem ...
Enquanto vinha e não vinha a lancha, por ali nos ficávamos, de farda nº 2, bota engraxada mas já cheia de terra, e com a ansiedade natural de chegar à cidade. Mesmo que fosse ao hospital!
A entrada no hospital, se bem que reflectisse um ambiente próprio de guerra com helicópteros a pousar e a levantar, com enfermarias cheias de amputados, e de corredores a feder a desespero, proporcionava ao operacional uma sensação de estar fora do conflito e olhar para aqueles "inquilinos" como os azarados que não conseguiram passar incólumes à desgraça.
Acabada a consulta, havia tempo para uma saltada à cidade, à "5ª repartição" para se tomar uma verdadeira coca-cola e uma sande.
Ainda dava para lançar um olhar lânguido a um ou outro par de coxas roliças e respectivas bundas que por ali passassem...
O ambiente citadino do diz-que-disse, do boato, do stress de quem só sentia a guerra através dos rebentamentos lá ao loooonggeeeee mas que era a sua guerra e não se fazia rogado na reinvindicação do estatuto de combatente, era incómodo.
No regresso à base ( Bula ) ficava sempre mais tranquilo ao juntar-me ao meu grupo de combate.
Presunção ? Falsa modéstia ? Estupidez natural ?
Chame-se-lhe o que se quiser na certeza porém, que é a mais pura das verdades.
Gratificante, ainda que contribuísse para o aumento da carga emocional, era a notória satisfação que se estampava nas caras dos soldados como se com a nossa presença lhes déssemos um incremento de confiança.
Não me é fácil fazer elogios em causa própria mas reconheço que investi inquestionavelmente nesse pormenor (confiança) mesmo que por vezes fosse necessário fazer das tripas coração!
Por aí passou, recorrentemente, a minha formação moral, intelectual e humana.
Já em posts anteriores referi que perdi alguns homens em combate.
Não lhes referenciei os nomes por respeito aos familiares que possam ler estas linhas e não o farei por convicção.
Deixo a todos uma recordação de momentos anteriores àquele período tenebroso das nossas vidas, ainda nos Açores, com os ainda aspirantes a alferes e os cabos milicianos que completavam os quadros da CCaç 2790 (à excepção do grupo de combate comandado pelo futuro furriel Cardoso coadjuvado pelo também futuro furriel Barros Leite).
Passadas que estão estas dezenas de anos de permeio, os poucos elementos continentais que constituíam aquela companhia vão reencontrar-se no próximo dia 20 deste mês para um dos habituais jantares de confraternização e terei o cuidado de registar em foto essa "concentração" para aqui vos vir prendar com os aspectos destes jovens.
Até lá.
Guiné 63/74 - P3615: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (1): Corrida com triste fim
2. Corrida com triste fim
António Paiva
Rompe a manhã, como tantas outras, daquele domingo de 26 de Abril de 1970.
Muitos acordam, só com uma ideia em mente… ver o jogo. Soltar de dentro de si, naquele dia, um grito de alegria e felicidade, que o tempo de comissão lhes ia comprimindo.
Às 15 horas, ia realizar-se o jogo entre Clube Ténis de Bissau e o Sporting Clube de Braga a contar para a Taça de Portugal, era a final, no campo do UDIB sito em Benfica.
Eu não ia, mas um condutor que fazia serviço à Base, das 13 às 19 horas, pediu-me na véspera para eu lhe fazer o serviço, ele queria ir ver o jogo, não lhe tirei esse prazer, só lhe disse:
- Vai descansado, à volta pagas uma cerveja.
Depois de almoço, pelas 12,30, pego na ambulância e sigo para a Base a render o outro condutor que lá se encontrava desde as 7 da manhã. Na Base faziam-se 2 turnos todos os dias, das 7 às 13 e das 13 às 19. Lá chegado, estacionei a ambulância no sitio habitual e fui até ao bar, não sei se beber uma bica ou uma cerveja. Podíamos lá estar, porque assim que viesse uma evacuação éramos informados pelo altifalante.
Quando lá cheguei, reparei que faltavam 3 avionetas de alerta, se a memória não me atraiçoa era assim que se dizia, logo concluí que ia ter trabalho.
Por volta das 14,30, mais ou menos, sou alertado para a chegada de uma avioneta com evacuação. Dirigi-me ao local onde ela tinha parado, e é-me entregue uma menina de 7 anos. Quem a vinha a acompanhar diz-me:
- Condutor, o tempo é pouco, já sabe o que tem a fazer.
Arranquei, levando comigo uma criança em sofrimento que tinha sido atropelada. Rolei o mais rápido que pude para o Hospital Civil. Ao chegar a Teixeira Pinto, 1.ª rotunda com esse nome, e vejo a multidão que se encontrava em Benfica, junto ao campo do UDIB, a tapar a rua toda, eu respirei fundo… ó Deus. O sinaleiro, que estava no seu pelourinho, penso que saltou…, a multidão abriu alas, lembrou-me quando o mar se abriu nos 10 Mandamentos, sempre em frente, praça do Império, Santa Luzia e Hospital Civil.
Começa o inesperado. Estaciono onde devia para levar a menina para dentro, mas que tristeza, não se encontrava ali ninguém que me desse uma ajuda para levar a maca e sozinho era impossível. Entre 5 a 10 minutos depois, aparece uma rapariga que me ajudou a levar a maca com a menina.
Azar a mais, o médico não estava. Perguntei por ele e dizem-me que deve estar no 1.º andar. Subo a escada de 2 em 2, passado algum tempo lá o encontro. Viemos para baixo directos ao posto de socorros, entramos… O Anjo tinha subido ao Céu.
Senti uma pancada no peito, lágrimas nos olhos, como era linda a menina.
Revoltei-me, não sei se comigo próprio ou com o sistema, minha missão não tinha sido perfeita. Onde errei?
Ao chegar cá fora, o que não estava à espera, para me prestarem homenagem tinha 2 cálices de sangue venoso transportados na bandeja que se encontrava estacionada atrás da ambulância, um alferes e um soldado da PM. Diz o alferes para mim:
- Então condutor, vem doido ou quê? Depois da porrada que vai apanhar nunca mais corre.
Só lhe disse:
- Corri para salvar uma criança, acabou por morrer.
Ligou pouca importância, mas depois de tirar os apontamentos necessários para me oferecer a medalha, deixou-me ir embora.
Voltei para a Base. No fim do serviço voltei para o Hospital, fui ter com o médico de dia e contei-lhe o ocorrido.
No dia seguinte, o Director, Dr. Felino de Almeida, mandou-me chamar, contei-lhe o sucedido e ele mesmo tratou do assunto, não levando castigo.
Agora dirijo-me aos Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras
Os pilotos, nunca chegam a saber como os evacuados acabam, mas este recorrendo-se da sua caderneta de serviços, saberá o triste fim duma evacuação que ele começou.
Será que chego a saber quem foi esse piloto?
Um abraço a todos
António Paiva
______________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
20 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3486: Tabanca Grande (98): António Paiva, ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70
24 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3511: O meu baptismo de fogo (23): Uma vacina para o enjoo... (António Paiva)
Guiné 63/74 - P3614: Convívios (90): 1.º Encontro da CCAÇ 3, em 14 de Maio de 2005 em Alvados - Porto de Mós (João M. Félix Dias)
O 1.º Convívio da CCAÇ 3 realizou-se a 14 de Maio de 2005 em Alvados - Porto de Mós no Restaurante Rosa. Estiveram presentes 26 ex-militares e alguns familiares.
O encontro foi organizado pelo ex-Alf Mil José Manuel S. Gonçalves, falecido no passado mês de Julho.
Também prestou grande colaboração, o ex-Alf Mil Francisco M. Branco Frutuoso.
Além de colaborar na organização, deu valioso contributo o nosso camarada Virgílio Alves Silva, no que concerne ao registo fotográfico e elaboração de vídeo do acontecimento e são de sua autoria as fotografias deste evento.
Foi celebrada missa pelos camaradas já falecidos.
Estiveram presentes:
O Sr. Coronel na Reforma Carlos A. Marques Abreu; igualmente, os ex-Capitães
João Galamarra Curado e Carlos Ricardo, que comandaram a Companhia nos anos de 1970 a 1972 em Binta, Guidaje e K3.
Também estiveram presentes:
João Ramex
João Torrinha
João Francisco Claudino Antunes
Fernando Alberto Barrios
António Manuel Godinho Pinto Ribeiro
José Cândido Barros Pereira
Henrique M. Madeira Neves
Manuel Fernando Alheira
Américo Formiga da Silva
Manuel Cabinas
Idalécio Castro
Artur J. Sousa Fernandes
José Espinheira
Luís Mendes Costa
António Fialho
Valentim Luz Pedro
Carlos Oliveira
Artur Pombinho
Vítor Domingues
Rui C. Branco Sena
Domingos Ribeiro
Nesta foto, pode-ver-se, de pé: Formiga Silva, Sena, Pedro, Neves, Ribeiro "balanta", Ribeiro "mecânico, Barrios; em baixo: Pereira, Cabinas, Alheira, Ramex e Pombinho.
Fotos: © Virgílio Silva (2008). Direitos reservados.
Guiné 63/74 - P3613: O Pel Caç 953 na tomada de Canjambari. (V. Briote)
Informação sobre a operação Ebro, iniciada em 22 de Março de 1965.
Adaptada do relatório da acção.
Os relatórios anteriores referem terem sido feitas várias acções no itinerário Jumbembem-Canjambari e na própria região de Canjambari. Acções levadas a cabo por GrsCmds do CTIG, em 28Jan, 20Fev e 25Fev65, apoiadas por forças do BCav 490, apesar do sucesso pontual das mesmas, levam a concluir que a região, localizada numa área de acesso difícil em determinadas épocas do ano, se mantém até à data nas mãos do IN. Apesar de levantadas numerosas abatizes, o referido itinerário ainda se encontra com algumas árvores de pequeno porte nas imediações da bolanha que dá acesso ao pontão danificado sobre o rio Tufili (dados obtidos através do reconhecimento aéreo de 17Mar65). Parece, este pontão, de fácil transposição desde que se utilizem pranchas adequadas.
Dos contactos com o IN a reacção deste tem-se limitado a flagelações de longe, não sendo de desprezar a possibilidade de o mesmo dispor, na região, de forças importantes e, eventualmente, colocar minas nos itinerários de acesso.
Estabelece-se como objectivo às NT a ocupação permanente de Canjambari.
Elaborado o plano para a acção, foram constituídas as forças executantes, comandadas pelo próprio Cmdt do BCav 490, Ten Cor Cavaleiro.
Às 03H00 de 22Mar65 iniciou-se o movimento, a partir de Farim. Atingido Jumbembem às 04H20, a força executante prosseguiu, rumo a Canjambari. À passagem por Sare Tenen, um Gr Comb da CCav 488 apeou-se, emboscando-se de seguida junto ao caminho que cruza o itinerário. A partir daqui a equipa de sapadores encarregada da detecção de minas passou a picar a estrada nos locais mais suspeitos.
O relatório da acção refere:
Ultrapassada a zona das abatizes, a coluna prosseguiu deixando um Gr Comb emboscado a 2 kms do cruzamento de Canjambari Morocunda. Atingiu-se a povoação de Canjambari, com o IN a assinalar a entrada das NT com tiros à distância, disparados da margem Sul do rio Canjambari. Tabanca revistada, os indícios apontavam para uma retirada apressada. As casas comerciais deixaram indícios de movimento recente, praticamente até momentos antes da entrada das NT.
Pelas 15H00, a coluna regressou ao cruzamento de Canjambari Morocunda. Iniciaram-se então os trabalhos de instalação e organização do terreno em volta do edifício do Posto de Socorros aí existente.
Notas de vb:
2. Artigo relacionado em:
3. Para uma informação mais detalhada, com testemunhos dos que por lá andaram, o blogue do Carlos Silva , BCaç 2879, 1969/1971, é obrigatório.
Guiné 63/74 - P3612: As Boas-Festas da Nossa Tabanca Grande (6): O Presépio do Movimento Nacional Feminino (José Martins)
Presépio que o nosso camarada arma todos os anos e que remonta ao tempo da sua campanha na Guiné. Foto: © José Martins (2008). Direitos reservados.
Para todos os votos de um BOM NATAL, não com prendas materiais, mas que o Pai Natal influêncie o nosso Primeiro-ministro evidentemente, para que se debruçe sobre aqueles que, tendo dado o melhor que possuiam, não conseguiram refazer a sua vida e, hoje e passados muitos anos, só têm por companhia a solidão e a tristeza. O mínimo que se pode exigir, é que A PÁTRIA OS CONTEMPLE. José Martins ____________ Nota de CV: Vd. último poste da série de 12 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3606: As Boas-Festas da Nossa Tabanca Grande (5): O Meu Pedido de Natal (Rui A. Ferreira)
Guiné 63/74 - P3611: Dando a mão à palmatória (17): Cumbijã fica entre Mampatá e Nhacobá, mapa de Guileje (Antero Santos / Vasco da Gama)
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3610: Tabanca Grande (104): António Paulo Bastos, 1.º Cabo do Pel Caç 953 (Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)
1. Mensagem do nosso camarada António Paulo Bastos, 1.º Cabo do Pel Caç 953, Teixeira Pinto e Farim, com data de 11 de Dezembro de 2008:
Amigos companheiros da Tabanca Grande, a todos um saudoso Natal e um próspero Ano Novo. Que o novo Ano lhes traga tudo de bom e que os companheiros que ainda não foram à Guiné, vão este Ano.
Amigo Carlos, perguntas-me se não quero fazer parte da Tabanca Grande? Pois meu amigo, eu agradeço o convite e vou aceitar, porque sou dos que não larga a Net, a procurar tudo que diga respeito à Guiné ou até à guerra.
Amigo, sobre mandar fotos da minha guerra e sobre as que fiz das vezes que lá voltei (3) poucas tenho, mas tenho alguns vídeos. Também te informo que sobre computador sou um autêntico analfabeto, sempre que preciso de alguma coisa tenho de pedir ajuda.
Mas vou tentar enviar algumas.
Vou falar sobre a minha vida militar.
No dia 12 de Janeiro 1964 assentei praça no RAAF de Queluz, depois fui transferido para uma Bateria que existia em Porto Btandão, aí fiz a recruta e jurei bandeira em Queluz. Depois foi para o RI1 na Amadora onde fiz a especialidade. Tinha como oficial comandante de pelotão, um Tenente que se chamava (já faleceu) Nuno Nest Arnout Pombeiro que era genro do Comandante da Unidade, Coronel Américo Mendonça Frazão (faleceu como General). Aí acabei a especialidade e fui mobilizado para a Guiné, incorporado num Pelotão Caçadores 953, independente.
Embarquei para a Guiné no dia 15 de Julho de 1964, onde cheguei a 21. Desembarquei e fui para Amura, aí permaneci duas horas, sendo depois escoltado pela Polícia Militar até João Landim, onde rendemos o Pelotão Caçadores independente 857.
Dali fomos para Bula, Comando de Batalhão 507, cujo Comandante era o Tenente Coronel Hélio Felgas (já falecido). Depois das apresentações fomos para Teixeira Pinto, onde ficámos adidos à Companhia de Artilharia 527, comandada pelo capitão António Amorim Varela Pinto.
Eram já 16 horas quando almoçámos, dali seguimos para Cacheu onde permanecemos até ao dia 9 de Março de 1965, regressando novamente a Bissau para seguirmos para Farim, via Mansoa e Mansabá. Jantámos e às quatro horas da manhã seguimos então para Farim.
Aí já nos esperava o BCav 490, comandada pelo Tenente Coronel Cavaleiro. Permanecemos lá uns dias.
No dia 23 de Março de 1965 deu-se a grande invasão de Canjambari onde a guarnição era composta pelas Companhias 487 e 488, Pelotão Morteiros 980, um Pelotão da 1.ª Companhia de Caçadores Africanos, um Pelotão Auto-metrelhadoras e o meu, o 953.
Eram 6,30 horas quando rebentou uma mina debaixo de uma GMC e começámos a embrulhar até às 16,00 horas. Quando os T6 largaram as bombas, o IN logo nos deixou, mas por poucos dias, porque depois começaram a atacar-nos no acampamento. Este era para ficar em Canjambari praça, mas o Comandante mandou-nos recuar para Canjambari Morcunda.
Começámos logo a fazer o aquartelamento com palmeiras. De dia trabalhava-se, de noite era um desassossego, porque vinham visitar-nos e fazer alguns tiritos. Também tínhamos as operações a nível de duas secções de brancos e uma de africanos. Infelizmente numa dessas operações tivemos duas baixas na 488. Os trabalhos e até a pista para a avioneta foram todos feitos à força de braço.
Com a saída do BCav 490, veio o 733, comandado por Tenente Coronel Glória Alves, que infelizmente nos deixou no dia 30 de Novembro. Passámos a descansar e viemos para Jumbembem onde permanecemos três meses, regressando um mês a Canjambari.
Em Maio de 1966 regressámos a casa.
Um pouco abreviado é esta a minha vida militar.
Amigos e companheiros desculpem-me alguns erros, mas foi uma 4.ª classe tirada a martelo.
Vou-me despedir e desejando a todos os amigos um Natal muito feliz.
Até breve
A.Paulo Bastos
Cacheu > 1964 > António Paulo Bastos
2. Comentário de Carlos Vinhal
Caro António Paulo Bastos, ainda bem que deste resposta positiva ao meu convite para aderires à nossa Tabanca Grande.
Não te preocupes com a tua 4.ª classe tirada a martelo, como dizes. Escreve que nós estamos aqui para dar um jeito e nem se vai notar. Estou a brincar, claro, estamos aqui para nos ajudarmos uns aos outros e, como diz o nosso camarada Vitor Junqueira, o que interesa é que nas histórias se reconheça o seu autor. Não é necessária uma literatura muito eleborada, mas antes o ponto de vista sincero de quem as viveu.
Hoje deste o primeiro passo, com a tua apresentação e a resenha que fizeste da tua vida militar. Não referiste o teu Posto e a tua Especialidade, mas farás oportunamente.
Terás outras histórias, que contarás aos poucos e uma de cada vez.
Em nome de toda a Tertúlia, deixo-te um abraço, votos de um Natal com saúde e um novo Ano cheio de coisas boas.
____________________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 9 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3588: Tabanca Grande (103): Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745, Águias de Binta (Binta, 1972/74)
Guiné 63/74 - P3609: O meu Natal no mato (14): Numa tabanca fula em autodefesa. (Torcato Mendonça)
Meus Caríssimos Editores:
Fraternalmente, votos de um Santo Natal. Um 2OO9 a concretizar os Vossos desejos e de Vossas Famílias. A Todos um abraço.
Tri abraço do TM - Torcato Mendonça
__________
Sentou-se na base do poilão, apoiou-se a tábuas de antiga caixa de granadas a servirem de banco e mesa, cigarro a enviar pequenas argolas de fumo. Sobre a minúscula mesa, além do correio recebido e ainda não lido, um presente, uma oferta.
Fotos: © Torcato Mendonça (2008). Direitos reservados.
Certamente bem intencionada, a oferta. Certamente feita e enviada por quem desconhecia a realidade ali vivida, por ele e pelos camaradas. Não só ali, em quase todos os aquartelamentos, certamente todos foram recebedores da oferta. Olhava-a e sorria para si.
Ao lado um soldado condutor, ainda lia e relia o correio. Era uma leitura mastigada, uma leitura demorada e repetida, uma leitura a entrar bem e a fazer sentir as palavras para ele escritas.
Depois da entrega do correio e da oferta, naquela auto-defesa ou reordenamento, ou melhor, naquela tabanca do Povo Fula, onde eles estavam aquartelados, caiu um silêncio de sepulcro. Só o barulho, o eterno barulho dos pilões, gritos de crianças e vozes de gentes sem direito a correio ou ofertas se fazia ouvir.
Ele pensava, continuando a lançar, ao ar, pequenos círculos do fumo de mais um cigarro. Pensava ou desesperava pela lenta passagem do tempo, do nada.
Do nada ou do sim e do não; do verso e reverso; do branco e negro; do real e irreal. A eterna dualidade ou a força, o motor a dar sentido à vida…
De repente, vozes e gritos dos militares, risos e correrias. Pareciam meninos em recreio de escola.
Saiu um, depois outro e mais outro, muitos… e voavam pelos ares, negro contra céu azul. Aterravam pouco depois e de pronto eram relançados.
- Olha ali, disse ao soldado condutor,
- Estou a ver,
- São os discos, são os discos…
Chegavam a eles o som dos gritos:
- É Natal, é Natal…Viva o Natal, é…
Olhou para o lado, para o silêncio do camarada do volante e calou-se.
Da face do camarada escorria, lentamente, uma lágrima…
Torcato Mendonça
ex-Alf Mil,
CART 2339,
Mansambo, 1968/69
__________
Notas de vb:
1. Último artigo do Torcato Mendonça em 10 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3592: Do Fundão, com insónias: Bambadinca, meu amor... (Torcato Mendonça)
2. Último artigo desta série: 11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3597: O meu Natal no mato (13): De Cutia (1970) ao CAOP1, em Teixeira Pinto (1971) (Jorge Picado, ex-Cap Mil)
Guiné 63/74 - P3608: Histórias de Vitor Junqueira (12): O Saco Azul
Amigos editores, Aleluia! O blog está como eu gosto. Menos erudição e mais histórias com gente lá dentro. Como o Natal do comandante Picado ou o segredo do José Colaço, que acabei de ler. Em tempos, disse ao Luís Graça que mais interessante do que a escrita em si, é, através dela, podermos conhecer o dono da mão que escreve. Esta é a minha onda, reafirmo-me nela através de mais um conto que conta uma cena verdadeira. Com um retrato. A todos os camaradas e amigos, obrigado por gostarem das minhas histórias. Aos que não apreciam, as minhas desculpas.
O Saco Azul
O senhor Manuel Carroça, é um sortudo. Entradote na idade, é proprietário, gerente e assistente de vendas num espaço comercial típico do Portugal da nossa meninice; uma tasca com secção de mercearia. O freguês vai à cata por exemplo, de um quilo – ratado – de prego de solho ou de um fedorento maço de tripa seca para a patroa fazer os chouriços e na volta, bota abaixo um penalty – com gola – do bom tintol da região. Como ainda não foi visitado pela ASAE, mantém-se no seu posto atrás do balcão, até ao dia em que lhe selem a porta. Tem vários problemas de saúde, incomodam-no principalmente as queixas de natureza reumatismal. A propósito, diz ele com a cara mais séria deste mundo, e com toda a propriedade, acrescento eu:
- Ó dótor, eu dos pés ainda tal, tal. Agora das mãos, sou um ladrão!
Quem pensa que foi a simpática presidente de uma ainda mais simpática autarquia do Norte que inventou e deu a conhecer ao mundo essa engenhosa criação que dá pelo nome de saco azul, está enganado. Para os ex-combatentes do ultramar, essa entidade é-lhes familiar, apesar de a maioria nunca lhe ter visto o forro! Para os que não sabem, tratava-se de uma espécie de fundo de maneio clandestino e como tal não escriturado, que servia para suportar contas de pequena ou média importância, despesas não elegíveis ou de difícil justificação.
Quem ficasse na liquidatária, liquidava o saco, sendo o respectivo inventário e processo de partilha top secret, como mandava a ética. Afirmam as más línguas que houve quem, através liquidação do saco, se tenha abotoado com umas massas e assim nasceu a atoarda dos apartamentos nas avenidas novas, tantos quantas as comissões.
Ao contrário do ti Manel Carroça, fui sempre saudável e jeitoso de mãos. Em criança, desmontava e reconstruía, geralmente com grande economia de peças, qualquer apetrecho em que pousasse a vista. Aos 11 anos confeccionei a partir de uma lâmina Nacet, a primeira gazua para a ignição do carro lá de casa. Como a sorte nem sempre protege os audazes, foi nessa idade e na qualidade de condutor que tive o primeiro acidente de viação de que resultou um ferido ligeiro, uma cabeça rachada. Apanhei-lhe o gosto. Qualquer chave comum, amorosa e pacientemente desbastada à lima, um apalpa-folgas e até os plebeus clips e corta unhas me permitiam materializar o sonho de montar tudo o que roncasse e bebesse gasolina. Por puro divertimento, fui-me aperfeiçoando. As viaturas de vizinhos e familiares pernoitavam onde acabava a gasosa, mas também podiam aparecer estacionadas sobre os relvados de jardins públicos ou encavalitadas em degraus de igreja.
Aos 17, já me encontrava num escalão mais especializado e competitivo, o das motos. Pilotando uma dessas máquinas, tive outro acidente que me podia ter custado a viola. Safei-me com uma tíbia e peróneo feitos num oito. Fui superiormente tratado pelo senhor Manuel Coelho de Porto de Mós, na altura o melhor endireita da região e, em dois meses, pude voltar ao activo com notável enriquecimento da minha colecção de automóveis escaqueirados. Até que, um encontro imediato de primeiro grau com o homem vestido de preto, no Tribunal Judicial de Ansião, pôs termo a uma promissora carreira. E ainda há quem diga que a juventude de hoje está perdida!
Como as outras, a CCaç 2753 era uma companhia séria, de gente séria, com uma administração acima de qualquer suspeita. Tirando o caso da trombadinha que o Sant’Amaro deu no baú onde o Santa Maria guardava os dólares remetidos pela família da América para o tabaquito, nunca dei conta de que alguém deitasse a unha ao do alheio. Foi por isso que, com surpresa, tomei conhecimento da presença no K3 de um senhor major vindo de Bissau para uma espécie de auditoria às contas da Unidade.
À porta da secretaria, detecto sinais de embaraço. Mãos nos bolsos, cigarro nos lábios à Bogart, o Leanito parece inquieto. E tem razões para isso. Lá dentro, está em jogo a sua reputação de militar impoluto. O Ribeiro mais o Marques, saem a voar baixinho e assim como quem não quer a coisa, vão até ao bar. Sozinho a enfrentar a fera, fica o Mexia. Senhor de uma barriguita cuja bitola já na altura não lhe permitia ver o coiso, transpira que nem um suíno, salvo seja. De cu para o ar e nariz enfiado nas gavetas da mobília, remexe a tralha. Sentado à secretária, entre o divertido e o furibundo, o major tem o ar de quem não acredita no que está a acontecer... o segredo do cofre levou tal sumiço que ninguém o encontra.
Vitor, eis o teu momento de glória, diz-me uma vozita ao ouvido. Agarra-o rapaz, porque esta merda de guerra pode não te oferecer outro. Decido avançar.
- O meu Major dá-me licença?
- ???
- Se me permitisse, gostaria de tentar abrir o cofre.
- Ah, faça favor.
O cofre, um matacão preto em ferro, deve pesar meia tonelada, seguramente. É do tipo monobloco com chave, tranca accionada por um volante central e fechadura secundária comandada por seis roletes alfabéticos. Isto vai ser canja!
Encosto-lhe o ouvido. Acaricio os roletes enquanto lhes observo as folgas e escorrências de óleo, assim como os movimentos quase imperceptíveis determinados pela pressão da tranca. Em menos de cinco minutos, o sistema rende-se. O major, excitadíssimo, salta como perdigueiro em cima da caça. Era vê-lo a farejar caixas, envelopes, papelada.
Inchado que nem um peru, afivelo uma expressão de fingida modéstia e peço autorização para me retirar. Preparado para receber o aplauso e agradecimento da multidão, muito justamente devidos a quem deu provas de tamanha expertise. Porém, oh mundo ingrato, sinto-me fuzilado pelo olhar reprovador do Leão que, do alto do seu metro e sessenta e cinco, resmunga entre dentes:
- O meu Alferes arranjou-a bonita, arranjou. Olhe, depois não se esqueça de dizer que a comida não presta.
Dizendo isto, saca a mão do bolso e vira-me a palma: R…S…T…
De braço dado com o major, lá se foram até Bissau os oito contitos do saco azul.
Nota: Personagens e glossário, pela ordem em que aparecem no texto:
Carroça – é a alcunha pela qual o senhor Manuel é mais conhecido.
Ratado – roubado no peso.
Com gola – mal cheio. Também se diz com fita.
Penalty – copo de 2,5 dl de vinho
Apalpa-folgas – instrumento semelhante a um canivete suíço com várias lâminas de aço, muito finas. Serve para ajustar a folga das válvulas na cabeça dos motores.
Manuel Coelho – o nome e morada são verdadeiros, assim como o facto de ter sido ele quem me tratou. Se tivesse ido para o hospital, o mais certo seria ter ficado coxo para o resto da vida.
Ansião – concelho do distrito de Leiria a que pertencia a minha freguesia, Chão de Couce. O julgamento deu-se em 1966. Estava relacionado com um passeio numa moto emprestada. Fui julgado à revelia (ai não…) e absolvido!!! E ainda há quem não acredite na justiça.
Sant’Amaro – por razões óbvias, o nome do santo não é este. O rapaz ganhou a alcunha porque logo no segundo dia de recruta, alegando o cumprimento imperioso e urgente de uma promessa ao tal santo, fez um peditório junto dos camaradas cujo produto gastou em vinho, cerveja e cavacos (marisco açoriano). Andou grosso durante uma semana. Após o saque irregular, não se conteve e viajou até Farim onde adquiriu alguns bens na casa Libanesa. A operação policial posta em campo descobriu rapidamente o rato através dos sinais exteriores de riqueza. Teve uma rebanhada de filhos, quase todos a residirem na América, aos quais se juntou recentemente depois de uma vida como pescador em Vila Franca do Campo.
Santa Maria – alcunha verdadeira do soldado Alves por ser natural daquela ilha, único aliás, na Companhia. Era um garnisé, asmático, incapaz de dar dois passos sem ficar com os bofes à boca. Contudo, fumava dois maços de tabaco por dia. Só por milagre é que ainda poderá estar vivo.
Bogart – Humphrey Bogart
Leanito – 1º Sargento Leão. Alentejano de Portalegre, andaria pelos cinquenta anos. Bom homem, faleceu há mais de duas décadas.
Ribeiro – 2º Sargento do QP. Fino que nem um rato, chegou a Chefe. Vive Lordelo do Campo, próximo de Vila Real.
Marques – amanuense, de Rio Maior.
Mexia – 2º Sargento do QP, alentejano de Vila Boím. Um gajo porreiro. Vi-o pela última vez há cerca de quatro ou cinco anos. Devido ao excesso de peso (200kg?), andava a ser seguido numa consulta de endocrinologia em Santa Maria.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 8 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3585: Histórias de Vitor Junqueira (11): Um conto (triste) de Natal