Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3597: O meu Natal no mato (13): De Cutia (1970) ao CAOP1, em Teixeira Pinto (1971) (Jorge Picado, ex-Cap Mil)
Foto nº 2 > CAOP 1. Teixeira Pinto. Alguns oficiais do CAOP dirigindo-se para o almoço de Natal de 71. Cap Art Borges, meu camarada de quarto; Maj Barroco, de camuflado; Maj Santos Costa, com a sua inseparável bengala e de quem era adjunto; eu próprio, já bem lavadinho, de barbinha feita e bem vestidinho.
Foto nº 3 > CAOP 1. Teixeira Pinto. Na mesa da presidência distinguem-se: Cor Rafael Durão, de pé; um soldado Pára servindo o Maj Santos Costa; creio que o Maj que substituiu o Maj Inocentes (será o Maj Pára citado por Graça de Abreu no seu livro a pág 18?); o autor. De costas distingue-se um 1.º Sarg Pára.
Fotos e legendas: : © Jorge Picado (2008). Direitos reservados
1. Mensagem de Jorge Picado, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, com data de 7 de Dezembro de 2008:
Caros Luis, Carlos e Briote
Seguem-se umas simples palavras sobre o tema do Natal e Final do Ano que, de tão repetidas, nada têm de extraordinário.
A novidade está apenas no aproveitar para enviar 3 fotografias da passagem pelo CAOP 1, retratando-se mais alguns rostos de militares que igualmente por lá andavam.
Abraços
Jorge Picado
2. O meu Natal no mato (13) > De Cutía (1970) ao CAOP1, em Teixeira Pinto (1971)
por Jorge Picado
Aproximando-se uma das épocas mais festejadas da Humanidade, Natal (principalmente para o Mundo Católico) e Mudança de Ano (para todos) (1) (2), sempre com o sentimento de que a celebração dum Nascimento e o terminar de Ano Velho sempre cheio do mesmo – miséria, fome, guerra, desnivelamento económico cada vez mais acentuado, apesar dos enormes avanços científicos que quando verdadeiramente se deu o grande salto (pós II Guerra Mundial) diziam ser para beneficio de Toda a Gente, mas que tem sido apenas para os bolsos sempre dos mesmos – em que todos manifestam a esperança dum Renascimento e dum Novo Ano que augure o início do fim de todas as misérias, guerras, mais solidariedade e se entre, já não digo no Éden (porque não sou crente), mas pelo menos num reino de Harmonia e Bem Estar, em primeiro lugar quero desejar a todo o Pessoal da Nossa Tabanca um Bom Natal e que pelo menos o 2009 não seja pior do que este 2008, pois a esperança anda pelas ruas da amargura.
De seguida, contribuir para as memórias das mesmas épocas passadas naqueles tempos da Guiné.
Essas recordações são muito vagas e ao fim e ao cabo iguais hás de tantos outros, ainda que as minhas não fossem tão sofredoras quando comparadas com a daqueles que tiveram de passar longas horas no mato a fazer segurança ou dos que sofreram ataques.
Dobrei dois Anos.
No que diz respeito ao primeiro, finais de 1970, fi-lo numa estância de veraneio , a Pousada de CUTIA.
A ceia de 24, comida como sempre sob a protecção das frondosas (e seculares?) árvores que ladeavam a estrada (era aí a messe e bar desta Pousada), foi naturalmente melhor do que nos outros dias, pois na véspera tínhamos feito coluna a MANSOA para reabastecimento de géneros mais frescos.
Só não recordo se foi uma ceia madrugadora por causa dos que foram emboscar, pois a indicação que tenho na Agenda sucintamente refere para este dia, tal como para o seguinte, [Grupo no Mato (18-24)]. Quer dizer que esteve um grupo fora das 18H até 24H.
É muito mais provável que para equilibrar os serviços, o grupo que foi fazer a segurança externa fosse dos efectivos africanos, já que estes comiam nas suas tabancas e a 25 foram os metropolitanos.
O almoço de 25 foi igualmente melhorado e possivelmente com algum excesso, pelo menos de cerveja. Existe aquela foto que enviei em que algumas mulheres de militares do Pel Caç Nat 61, me cercam contra uma das tais árvores, apadrinhadas pelo Simeão, procurando sacar-me mais alguns pesos para os festejos deles…
O que posso dizer é que não tivemos prendas oferecidas pelos nossos vizinhos do MORÉS, quer a 24 quer a 25.´
Julgava eu que esta falta de prendas tinha por origem o que se passou a 28 e que era para ser a 27, como já contei, mas perante as informações que o Senador Vítor Junqueira fez o favor de nos transmitir, num dos seus saborosos e brilhantes testemunhos, já fico na dúvida se foi afinal devido à boa Actividade Psicológica do Alf Simeão!
A primeira Passagem de Ano e o Dia de Ano Novo, passados igualmente no mesmo local também nada teve de especial, a não ser algum champanhe, para intervalar com as bazucas de cerveja, misturadas com cânticos de saudade e felizmente sem qualquer fogo de artificio, acabando por se recolher cada um ao escuro do bunquer e na solidão da noite carpir as respectivas mágoas. As esperanças eram apenas para aqueles que visionavam o fim do inferno daí a 45 dias.
Na segunda época só me recordo das Festas Natalícias.
A noite da Consoada passei-a, em representação do CAOP 1, no Destacamento do BACHILE, situado um pouco a Norte de TEIXEIRA PINTO na estrada para o CACHEU cujos trabalhos de reabertura e pavimentação decorriam nessa altura um pouco mais a Norte.
Neste aquartelamento estava pelo menos (não tenho a certeza se havia igualmente uma CCaç Africana) uma CCaç cujo Cmdt era o Cap Mil do QC Branco (em 1974, antes do 25ABRIL, vim a reencontrá-lo na minha terra onde veio morar, enquanto esteve colocado no RI de Aveiro onde apanhou a revolução, na qual esteve enquadrado) e que não tenho a certeza se seria a 3461, mas pertencia ao BCaç 3863 que tinha chegado ao Chão Manjaco em 20H30 do dia 24 de Outubro de 1971.
Não resisto a transcrever o que o camarada António Graça Abreu, que chegou ao CAOP 1 cerca de 5 meses depois de eu o ter deixado, escreveu no seu DIÁRIO DA GUINÉ sobre o BACHILE que visitou ao fim de 6 dias.
“O Bachile, um aquartelamento pequeno rodeado por fileiras duplas de arame farpado. Ao lado um reordenamento, isto é, umas dezenas de casas pintadas de branco com telhados de zinco destinadas aos negros que, vindos das zonas libertadas, se apresentam à tropa portuguesa. As casas não estão habitadas.
"O aquartelamento é deplorável. Logo atrás do arame farpado há dezenas e dezenas de bidões cheios de areia rodeando umas tantas tabancas. Depois há telhados em cimento armado cobrindo os tegúrios semi-afundados na terra habitados pelos nossos soldados, uns setenta a oitenta. É a protecção possível contra flagelações e bombardeamentos. E dão uma certa segurança aos homens brancos expatriados na terra dos negros comandados pelo alferes Rocha, …creio ser uma miniatura exemplar de dezenas e dezenas de aquartelamentos portugueses espalhados pela Guiné... ”.
Bem, como estas forças tinham, entre outras missões, efectuar a segurança aos trabalhos de reconstrução da estrada, é muito possível que, naquela data, 5 de Julho de 1972, parte dos efectivos tivesse avançado para a zona mais a N onde andaria já a frente de trabalhos e se aqui estava o Alf Rocha a comandar, das duas uma, ou o Cap Branco estava de férias ou estava na frente dos trabalhos.
Quanto às condições do aquartelamento, havia-os muito bem piores, como de certo ele posteriormente encontrou, nas suas deambulações por MANSOA e CUFAR.
Voltando ao meu percurso direi que era mais uma deslocação a esta povoação, deslocação essa que em regra não oferecia, naquela época de 71, grande perigo.
Entretanto quanto à pernoita e, numa noite daquelas, é que já a desconfiança era maior.
Lembro-me perfeitamente que, embora não manifestando, senti sempre uma sensação de desconforto durante tal permanência. Era talvez um certo nervoso miudinho, que não me deixava gozar o prazer de saborear uma refeição de certo modo melhorada, nem uma estadia tranquila. Dormitei em cima dum colchão de camuflado vestido, sempre com os ouvidos abertos, à espera do rebentar da bernarda.
Felizmente nada aconteceu e bem cedo pela manhã de 25, abalei para a sede onde o almoço de Natal me esperava na messe da CCP 122.
Junto 3 fotografias referentes a este evento:
1.ª CAOP 1, Teixeira Pinto. A caminho do almoço de Natal de 1971. Da esquerda para a direita respectivamente, Cmdt do BCaç 3863 (?), Cmdt do CAOP, Cor Pára Rafael Durão, e Ten Pára da CCP 122.
2.ª CAOP 1, Teixeira Pinto. Alguns oficiais do CAOP dirigindo-se para o almoço de Natal de 71. Cap Art Borges, meu camarada de quarto; Maj Barroco, de camuflado; Maj Santos Costa, com a sua inseparável bengala e de quem era adjunto; eu próprio, já bem lavadinho, de barbinha feita e bem vestidinho.
3.ª CAOP 1, Teixeira Pinto. Na mesa da presidência distinguem-se: Cor Rafael Durão, de pé; um soldado Pára servindo o Maj Santos Costa; creio que o Maj que substituiu o Maj Inocentes (será o Maj Pára citado por Graça de Abreu no seu livro a pág 18?); o autor. De costas distingue-se um 1.º Sarg Pára.
Nestas fotografias apresento um visual mais risonho, fruto talvez de me encontrar a menos de 2 meses do termo da comissão.
É tudo por hoje.
Jorge Picado
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Nota de L.G.:
(*) Vd. postes desta série
24 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2379: O meu Natal no mato (12): Mansoa, 1971: Uma de caixão à cova... para esquecer o horror (Germano Santos)
24 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2378: O meu Natal no mato (11): Saltinho, 1972: O melhor bolo rei que comi até hoje, o da avó Clementina (Paulo Santiago)
22 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)
22 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2373: O meu Natal no mato (9): Embarquei no N/M Niassa a 21 de Dezembro de 1971... Que maldade! (João Lima Rodrigues)
21 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - 2372: O meu Natal no mato (8): Bissorã, 1964 (João Parreira, CART 730)
21 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2370: O meu Natal no mato (7): Destacamento do Rio Udunduma, 1969, Pel Caç Nat 52 (Beja Santos)
19 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2366: O meu Natal no Mato (6): Peluda, 1969: a Fátria, Manel (Torcato Mendonça)
19 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2364: O meu Natal no mato (5): Mato Cão, 1972: Com calor, muito calor, e longe, muito longe do meu clã (Joaquim Mexia Alves)
18 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2361: O meu Natal no mato (4): Cachil, 1966: A morte do Condeço e do Boneca, CCAÇ 1423 (Hugo Moura Ferreira / Guimarães do Carmo )
17 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2357: O meu Natal no mato (3): Banjara, 1965 e 1966: um sítio aonde não chegavam as senhoras da Cruz Vermelha (Fernando Chapouto)
17 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2356: O meu Natal no mato (2): Bissorã, 1973: O Milagre (Henrique Cerqueira, CCAÇ 13)
16 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2355: O meu Natal no mato (1): Jumbembem, 1965: Os homens às vezes também choram... (Artur Conceição)
(2) Vd. outros posts sobre o nosso Natal em tempo de guerra, série Feliz Natal, Próspero Ano Novo e Até ao Meu Regresso:
17 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1373: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (1): As Nossas Festas... Quentes e Boas (Luís Graça / José Martins)
17 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1374: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (2): Seguindo a Estrela, de Missirá a Belém (Beja Santos)
18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1375: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (3): A LFG Sagitário no Rio Cacheu (Manuel Lema Santos)
19 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1379: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (4): Mansambá, 1970 (Carlos Vinhal, CART 2732)
19 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1380: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (5): Poema: Missirá, 1970 (Jorge Cabral)
19 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1381: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu regresso (6): comandos de Brá em 1965, crime e castigo (João S. Parreira)
19 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1382: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (7): No longínquo ano de 1968 em Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis)
20 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1383: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (8): CART 2732, Mansabá, 1971 (Carlos Vinhal)
21 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1387: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (9): Catió, 1967 (Victor Condeço)
22 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1390: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (10): Os Maiorais de Empada, 1969 (Zé Teixeira)
2 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1396: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (11): 1969, na Missão do Sono, em Bambadincazinho (Luís Graça)
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3596: O famoso desenrascanço...(António Matos)
Isto sem desprimor para o reverso da medalha, isto é, para os valentes e valorosos profissionais que tivessem passado pela Academia Militar ainda que, lá na Amadora, por muitos e bons livros que tivessem lido, não apurassem o olfacto ao cheiro a carne humana assada, nem o ouvido ao grito lancinante de quem levava um tiro ou pedia ajuda ao sentir as forças esvaírem-se no clamor do combate.
Claro que nestas situações, e atendendo a que naquela altura (há quase 40 anos!!) a tecnologia bélica ainda não era tão apurada como nos dias de hoje, consegue-se entender alguma necessidade de criatividade, serôdia, é certo, na resolução de problemas do dia-a-dia, mas sem a qual o equilíbrio entre os contendores se desiquilibraria definitivamente para um dos lados.
Alferes António Matos aos comandos de um "blindado" da CCaç 2790.
Um certo amadorismo próprio de quem resolvia a guerra dando ordens em cima duma carta militar, distribuindo soldados como peças de xadrez e espantando-se quando o IN conseguia "furar" aquelas barreiras tão bem desenhadas nas salas das operações não percebendo que na realidade o território era "ligeiramente" superior ao desenho no tabuleiro, esse amadorismo, dizia, justifica verdadeiras catástrofes vividas bem assim como cenas trágico-cómicas que no fundo completam um verdadeiro cenário de guerra.
Que as coisas acontecessem, tudo bem, ninguém nasce ensinado e portanto vigora a máxima de que à primeira todos caem ...
Que dessa má experiência não se tirassem as ilações adequadas para obviar futuras situações semelhantes, já era comprometedor!
Certo dia, estava eu sediado no destacamento de Augusto Barros, comandei a deslocação a Bula, em coluna motorizada, a bordo duma tão fabulosa quanto velha GMC que, julgo, gastava aí uns 100 litros aos 10 kms !
Conduzia-a um possante soldado (reconhecia-lhe a cara no meio duma multidão mas esqueço-lhe o nome) quando nos preparávamos para o regresso.
As últimas 2 horas tinham sido passadas à volta da equipa de mecânicos "comandada" pelo furriel Perdigão afim de se arranjarem os arames mais convenientes que suportassem a resolução dum problema técnico até ao dia seguinte.
Posta a trabalhar à semelhança dum verdadeiro fórmula 1, fomos de roda batida para a nossa "casinha".
Os primeiros 4 ou 5 quilómetros eram em estrada alcatroada e só depois, na Placa, se infletia à esquerda para a picada.
Era noite.
Atraz da GMC vinha um Unimog 411 onde se abrigava o capitão.
Eu mantinha-me empoleirado na frente da coluna.
Faltava vencer a última subida na estrada quando, repentinamente, se ouve um grande estrondo seguido dum enorme solavanco e a chamada de atenção do condutor que não conseguia travar aquela massa metálica ...
Ao nível do melhor desenho animado, a viatura foi perdendo velocidade até que parou, começando de imediato a andar às arrecuas por força da ausência dos travões.
Ora agora descia em marcha à ré, ora subia ao pr'a frente até que, finalmente, establilizou.
O que teria acontecido ?
Demos, entretanto, pela falta do unimog e o breu da noite não esclarecia o mistério...
Oh capitão ! capitão ! oh capitão, onde está ?
Nada ...
Deve ter sido uma mina ! Cuidado, coloquem um dispositivo de segurança ! Atenção àquele amontoado de arbustos que os turras podem lá estar emboscados !
Levou algum tempo a serenar os ânimos até que o discernimento apareceu.
Tão simplesmente, o motor da GMC, caiu, e o unimog "atrolelou-o" despistando-se, obviamente!
O Perdigão foi chamado com a sua equipa e não sei o que fizeram mas o certo é que, A BORDO DA MESMA GMC, chegámos a Augusto Barros 2 horas depois!
Aqui fica a minha homenagem aos mecânicos milicianos que aguentaram aquele conflito durante tantos anos nas condições logísticas mais desprezíveis mas que permitiam aos operacionais o apoio mínimo à sua função.
António Matos
ex-Alf Mil da CCaç 2790
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Notas de vb:
Último artigo do António Matos em
5 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3569: Ao chegar à Guiné ainda pensei em safaris, leões, elefantes...(António Matos)
Guiné 63/74 - P3595: Estórias avulsas (23): O Cuco (Jorge Teixeira)
Caro Luís
Aqui vai mais uma estória das minhas, que se achares por bem podes colocar no blogue.
O Cuco
Não me refiro à ave, em geral, mas sim a um homem que fez parte do meu Pelotão.
O Cuco, sobrenome, - tantas vezes escrevi o nome dele e hoje que o quero recordar, não me lembro - era a pessoa mais pacata, amigo de todos os companheiros, de todas as bajudas, de todas as lavadeiras, de todos os meninos, de todos os africanos, enfim, de todo o mundo, que não conheci outro igual. Não havia zangas com ele, mesmo que o aperriassem por tudo e por nada ou quando bebia uns copos. Dava o que tinha, e que me lembre nunca tinha nada, e o que não tinha. Quando recebia o pré, dava cabo dele num instante, com os camaradas ou com a população, pagando umas cervejas ou um copo de vinho no Taras Buba, ou em qualquer outro "bar" de Catió. Distribuía pesos pelos meninos, pelas bajudas, só pelo prazer da conversa. Não adiantava nada chamar-lhe a atenção do aproveitamento que faziam da sua maneira de ser.
O Cuco queria estar em todas. Evitava escalá-lo para saídas, mas ficava zangado e aparecia sempre na hora da partida. Por vezes com a arma sem carregadores. Ou os carregadores sem munições. Para ele também não era importante. A G3 era um acessório. Um patrulhamento, uma segurança, um reabastecimento ou outra acção, para o Cuco era igual. O que precisava era de estar com a malta. Esquecer-se da arma em qualquer picada, numa bolanha ou numa tabanca, era coisa corrente. Por isso o Cuco tinha sempre um guarda-costas com ele.
Nos desafios de futebol lá estava ele, mesmo sem ser convocado. Era o segundo guarda redes efectivo ou entrava em campo quando o adversário corria para a nossa baliza isolado, para o tentar desarmar. Nada era a sério com o Cuco. Melhor, tudo era a sério para ele.
Notava-se, mesmo para leigos, que o Cuco precisava de evacuação, ou no mínimo, de consulta externa de psiquiatria. Demorou a conseguir-se esta consulta, com o seu consentimento pois claro, mas no dia da partida o Cuco não partiu. Pura e simplesmente desapareceu.
Assim, o remédio foi aturá-lo o resto da comissão.
Quando chegámos a Lisboa, o Cuco não tinha ninguém a esperá-lo. Disse-me certa vez, que vivia em Lisboa, só com a mãe, senhora idosa, creio que doente. Mas foi sempre difícil, talvez impossível mesmo, saber algo de concreto sobre ele. Não escrevia nem recebia correspondência. E alguma que recebesse era de uma possível madrinha de guerra que um camarada lhe tentava conseguir; mas nada a que o Cuco desse continuidade.
Despedi-me dos rapazes e lá os consegui meter nos camiões directos a Tomar para a desmobilização, onde depois das formalidades do desembarque, expedição das coisas deles, etc., fui ter no dia seguinte para a minha própria desmobilização. Acabada a burocracia, fui despedir-me dos meus açorianos, que aguardavam ordem de marcha para o próximo barco - acreditam que estavam alojados em tendas de campanha? - e quando não foi o meu espanto, vi o Cuco com eles. Não os quis largar até embarcarem. Não achava justo que ficassem ali sozinhos. Claro que não adiantou nada pedirmos-lhe para vir comigo, pois o traria para Lisboa.
Naquela altura, o meu sentimento era esquecer aqueles dois anos infindáveis. Nunca me lembrei de tomar nota das moradas dos rapazes com quem vivi aquele período da vida. Todo o meu fardamento ficou em Lisboa, pois nem isso quis trazer para o Porto.
Hoje em dia, a esperança de encontrar algum deles é muita. Mas o Cuco seria talvez de todos, aquele que eu mais gostaria de abraçar.
Jorge/Portojo
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 9 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3587: Controvérsias (12): Chicos, furras e ripanços em Catió, 1968 (Jorge Teixeira)
Vd. último poste da série de 13 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3202: Estórias avulsas (22): Missão Católica ou Missão Heróica? (José Nunes)
Guiné 63/74 - P3594: Fotos actuais da Guiné-Bissau (José da Rocha Sousa/Ferreira Neto)
Estas fotos foram enviadas pelo camarada Sousa ao nosso tertuliano Ferreira Neto, ex-Cap Mil da CART 2340, que por sua vez as enviou ao Blogue.
O nosso obrigado a ambos.
Jumbembem > Abrigo
Canjambari > Casa Comando
Jumbembem > Casa Comando
Jumbembem > Actual Escola
O meu faxina
Jumbembem > Padaria
Jumbembem > Poço da água
Guiné 63/74 - P3593: História da CCAÇ 2679 (9): Boas recordações da PIDE (José Manuel Dinis)
Boas recordações da PIDE
É verdade. Que me perdoem os mais puristas de esquerda, os que já denotavam ideias anti-situacionistas, a memória do Cardia e o Barreto, que em páginas douradas do jornalismo espingardavam contra os pressentimentos e desempenhos do Estado-Novo, contra a sua máquina repressiva, esses que, mais tarde, viriam a integrar governos com pastas na educação e agricultura, onde representaram hipocritamente, tão pouco tempo volvido. Pois bem, eu, ao contrário, desde logo guardei boas recordações da PIDE.
Em Buruntuma, localidade que acolhia uma Companhia do BArt 2857, sediado em Piche, sector L-4, havia um Agente daquela instituição que desenvolvia a sua actividade de compra e troca de informações, em regime de residência permanente. Todavia, apesar de independente da tropa e de exercer o seu importante mister com toda a autonomia, dependia do BArt para efeito de recebimento salarial. Nessas ocasiões, o individuo, de fraca figura, mas arguto e importante pela benção do regime, apanhava boleia numa das colunas de ligação a Piche, onde tinha o hábito de permanecer uma ou duas noites.
Os dias lúdicos em Piche podiam caracterizar-se por passeios solitários de fim de tarde, à tabanca, onde, por vezes, se verificavam encontros com bajudas, simpáticas e acolhedoras. Não vou descrever o que todos sabem, que as meninas eram normalmente ternas, fisicamente elegantes e bem delineadas, prontas e generosas a aceitar os vigores dos milicianos, que, mais tarde ou mais cedo, acabariam por esportular algum patacão, quando não, géneros. Satisfeito o corpo, havia que dar largueza ao espírito, em conciliábulos com parte da camarilha, os que não tinham actividades noturnas, conversas sempre animadas com estímulos etílicos, e, não raro, acabavam com um jogo de cartas.
Quando o agente da secreta passava a noite em Piche, procurava integrar-se nestas reuniões e o pessoal, apesar da moderação dos assuntos falados, nunca se opôs à sua participação, provavelmente, até antecipávamos a jogatana.
Eu pertencia à tertúlia do pocker, o único jogo de batota onde me sentia à vontade, nunca tendo tido êxito em participações noutras modalidades que não me despertavam qualquer interesse. O pocker era adrenalina, o fetiche do jogo, o controle sobre os adversários, que me permitia ganhar com cartas favoráveis ou com bluff. De entre os parceiros, porque éramos todos habituées, distinguia-se o representante da Santa Madre Igreja, que não nos garantia o mais desejado, mas estimulava na passagem do tempo. Assim, por vezes, à roda da mesa contavam-se dois notáveis, o Capelão e o Pide. Este, reservado, com poucas iniciativas, pouco conversador, pouco perspicaz, pois optava com frequência pela decisão errada da jogada, era, no entanto, um parceiro de boas contas e por isso, honrava o regime.
Aconteceu por duas vezes ter participado em jogatanas com o referido quadro administrativo. Jogava-se com regras, com educação, ninguém achincalhava e ninguém se queixava. Os intervalos eram para molhar o bico. E os gins, como os whiskies, nunca foram rogados, deviam temperar os calores da noite e alguma excitação pelas cartas.
Numa jogada de vulto, o referido funcionário público, quiçá estribado na sorte das cartas, decidiu que aquela seria a sua hora.
Aguentou-se, encavou, pagou para ver, e, azar dos azares, eu tinha melhor jogo. Com dignidade, apresentou o pedido para deixar de participar, pouco depois levantou-se, apresentou despedidas com delicadeza e retirou-se.
Da segunda vez, parecia já conhecer os nossos truques. Se ganhava numa jogada, ganhava confiança. Se perdia, metia-se em brios, para, tão breve quanto possível, recuperar o estrago e consolidar a fé. Parecia cheirar-nos, como o pedrador na savana. Respirava confiança. Andei por ali, passava com frequência, estava em casa, quando numa súbita jogada, o homem abusou. Afastou a caça. Que raio, tão cedo, interrogava-me. Fui a jogo. Subiu a aposta, acompanhei e ultrapassei. Mais um lance e cheirou-me a esturro. Ganhei confiança. E ele encolheu-se, refugiou-se desconfiado. Piquei e ele desistiu.
Alguma luz enganadora lhe perpassou a mente, pois o meu jogo era de fraca compustura. Ambos fazíamos bluff. Ele perdeu, outra vez, com dignidade e educação.
Por duas vezes ganhei-lhe o ordenado, ou uma parte de leão do salário. Daí as boas recordações que tenho.
Nesta fotografia pode apreciar-se uma parte do esquema defensivo de Piche, onde abundavam valas arejadas, a partir das quais, os façanhudos recepcionavam as maluqueiras inimigas, procedendo sem dó nem piedade à limpeza dos mais afoitos que, seguidamente, sugeitavam-se à aprendizagem dos bons ensinamentos do corão. Finalmente, a fraternidade celebrava-se com música.
Foto e legenda: © José Manuel Dinis (2008). Direitos reservados
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3560: História da CCAÇ 2679 (8): Três apontamentos (José Manuel Dinis)
Guiné 63/74 - P3592: Do Fundão, com insónias: Bambadinca, meu amor... (Torcato Mendonça)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Fotos Falantes III: Bem vindo, Welcome, Bien Venu, Biene Venidos, Willkomenn ... a Mansambo, uma estância de férias onde o turista se pode instalar confortavelmente e usufruir um conjunto de actividades excitantes, da caça à pesca...
Imagem que faz parte de um conjunto de 60 slides a que o ex-Alf Mil Torcato Mendonça chamou Fotos Falantes III... Por muito que eu vasculhasse estas e outras (centenas de) Fotos Falantes, não encontrei o nosso querido chato trajado à civil, a rigor... Quando muito lá aparece com uma t-shirt, branca (?), como é o caso da primeira das três fotos, tirada no abrigo do temível morteiro 81...
Os poucos que eram paisanos e não trajavam de verde oliva, no campo fortificado de Mansambo (como dizia a Maria Turra, na rádio Libertação, do PAIGC, difundida a partir de Conacri...) era a bela Mariema e as poucas bajudas e mulheres grandes que lá viviam, familiares dos picas e dos guias da tropa... Não admira, por isso, que a cidade mais próxima, Bambadinca - posto administrativo e sede de batalhão - , representasse, no imaginário dos sitiados de Mansambo, uma espécie de ícone da civilização... Era pelo menos uma das portas da saída do inferno... (LG)
Fotos: © Torcato Mendonça / Luís Graça & Camaradas da Guiné(2008). Direitos reservados.
1. Mensagem do Torcato Mendonca, enviada hoje, já passava da meia-noite:
Queridos Editores, o sono está a dar-me problemas. Mesmo a dormir pareço que já falo (de falar) alto. Vou continuar até que o sono me venha.
Entretanto vai este escrito. No Blogue há insónias também...não há ????
Um abração para cada do TM
2. Comentário de L.G.:
Meu querido José: Na Tabanca Grande também há insónias, sim, senhor. E, nalguns casos, criativas como as tuas. De qualquer modo, ficarei preocupado com as tuas (insónias) se elas forem um sintoma (fisiológico) de stresse...
A seres chato, és o chato mais inclassificável da nossa Tertúlia (já sei que não gostas da expressão Tabanca Grande... Elitismo ? Medo do escuro ? Alergia ao pó do capim ?... Enfim, estás no teu direito, que esta casa da malta tem mesmo que ser como o Sempre em Festa, aberto 24 horas por dia, frequentado por toleradas e tolerantes...
É isso, somos uma casa de tolerância e onde há gente com problemas de sono... O Humberto Reis chamava ao nosso quarto em Bambadinca o quarto das putas e com muita propriedade: não por que a gente as levasse para lá, mas sim por que levámos vida de putas: trabalhávamos de noite e dormíamos de dia)...
E a propósito da morança onde por vezes ficavas, na tabanca de Bambadinca, no lado esquerdo da rampa, no sentido descendente (no teu tempo, à direita, dizes tu ?, talvez tenmahs razão, houve obras, cortaram a tabanca ao meio, em 1970), tenho histórias, dramáticas umas, divertidas outras, que um dia ainda hei-de escrever... se para tanto não me faltar o tempo, o engenho e a arte. Algumas centenas de tugas em Bambadinca, com 20 ou pouco mais anos, patacão no bolso e ganas de viver, tinham necessariamente que animar a economia local...Ainda hoje te dizem, com alguma nostalgia e sinceridade, quando por lá passas, armado em turista, máquina de filmar ou fotografar a tiracolo: 'Tuga, pai di nós'... Coitado do Amílcar, daria voltas no panteão nacional da Amura se ouvisse tal heresia...
Acredita que não és nenhum chato. E, a sê-lo, és o chato mais querido de todos nós. De resto, somos todos chatos, dirão as nossas caras-metades, os nossos filhos, os nossos genros e noras e, daqui a uns tempos, os nossos netos, se a gente lá chegar. (A propósito, já os tens ?). Por que, como diz o provérbio, "esta vida não chega a netos... nem a filhos com barba"... Felizmente que a nossa esperança de vida é hoje o dobro dos nossos avós de mil e novecentos, geração em relação à qual era apropriado dizer:
"A morte não escolhe idades";
"Até aos 40 bem eu passo, dos 40 em diante 'ai a minha perna, ai o meu braço' ";
"De quarenta arriba não molhes a barriga";
"Na era de 31, poucos moços, velhos nenhum"...
Tudo isto para te reconfortar e assegurar que tens muitos fãs, que há muitos fãs da tua escrita, na nossa Tertúlia e no nosso Blogue. E eu sou o primeiro deles. Podíamos formar até o Clube do José. Tu és, por outro lado, o único a passar a crivo, semanalmente, o nosso blogue. É uma leitura pessoalíssima, intimista, única, do produto das nossas insónias todas juntas.
Obrigado, José.
PS - Um Alfa Bravo. Um bj para a tua Ana, que é uma mulher de armas e que já sei que voltou ao trabalho... A vida é dura, José, aqui ou em Mansambo... Mas também pode ser bela, se tiver afecto(s): amor, paixão, amizade, camaradagem, emoção, compaixão, poesia... Diverte-te, se puderes: "Esta vida são dois dias e o Carnaval são três"... Mas há, pelo menos, uma certeza: "Quem de novo não morre de velho não escapa"... Uma coisa que a guerra da Guiné não nos deu, foi serenidade... Pelo contrário, trouxe-nos inquietude (que é mais do que inquietação). Em contrapartida, aprendemos a enfrentar a morte e a não temê-la: "Temer a morte é morrer duas vezes" ... E tu és, para nós todos, um exemplo vivo e corajoso, de como um homem pode sorrir à morte com meia cara ou meio coração, parafraseando o título da narrativa autobiográfica do grande escritor José Rodrigues Miguéis, um lisboeta de Alfama (1901) que morreu longe da Pátria, da Mátria e da Fátria (Manhattan, N.Y., 1980). Que esta tertúlia seja, ao menos para ti, um pouco da Fátria perdida em Mansambo, em Bambadinca e em tantos lugares da Guiné onde sofremos e fomos solidários... LG
Bambadinca, Meu Amor
por Torcato Mendonça
1 – Sem dúvida era para mim a cidade mais desejada. Curiosamente, hoje olho para uma foto aérea e, se não tem legenda, de pouco me lembro. O pequeno aeródromo ali, as messes, bares e quartos de oficiais e sargentos acolá, mais um ou outro edifício e pronto.
A igreja... fui lá uma vez assistir à colocação do Bessa no caixão. Escola, o posto administrativo, a tasca de A ou B, não sei. Memórias perdidas. Só agora soube da existência do mestre-escola, Professora D. Violete.
Recordo a tabanca e uma morança, à direita de quem desce a rampa da estrada na direcção do porto, Missiré, Fá ou Bafatá – essa a grande cidade.
Nessa morança pernoitei algumas noites. Certamente por lotação esgotada nas instalações dos oficiais. Dormia-se bem, mais fresco, mais... melhor.
Mas é bonito ver hoje fotos de militares à civil. Calças, camisas brancas e, pasme-se, sapatos reluzentes. Deus meu e por todas as virgens, não me recordava! Creio que a minha pouca roupa civil devia estar na arrecadação que a Companhia, [a CART 2339,]tinha no Batalhão. Estava bem guardada por um soldado básico e esperto como um rato. Bela especialidade: básico.
Para que queria eu roupa civil em Mansambo e por outros lados onde me aquartelava? Claro que tinha botas, vários tipos e formatos, umas quantas t-hirts brancas (brancas?), chinelos de plástico e panos de fulas e outras peças de vestuário para alguma falta. O resto era verde ou camuflado. Bem bom.
Mas porquê Bambadinca, eu, amor? Pois, porque, além de se fazer o dito, era local de boa cama e boa mesa, bar de bebida fresca. Por vezes o líquido era tão fresco, deslizava tão docemente goela abaixo, que, no regresso a Mansambo, os olhos viravam detectores de minas e ala que é sempre em frente.
2 – Apareceram recentemente várias questões, [no blogue]. Algumas creio que ainda no activo. Vai demorar a acalmar ou, devagarinho, vai-se apagando…
A questão dos Capitães, Comandantes de Companhia, milicianos ou do quadro, indo e vindo, era ou ainda é uma dessas questões. Pois eles que digam… Pode dar-se uma ajudinha. Compreende-se nuns a chatice da ida depois de anos de descanso. Noutros a comissão agora, espera um ano no Puto e nova comissão numa p*** (perdão) – província (colónia?) qualquer. Aborrecido…
3 – Outra questão relaciona-se com perdas e lucros ou o deve e haver de Companhias e não só. Essa não, essa não e… fica para depois. Continuem…
Parece-me ser assunto para 2009, depois de fechar e aprovar o balanço de 2008. Será que os balanços de 1961 a 1974 estão fechados? Interessante. Provas. Prova o quê? O uísque, caneco, o uísque… é novo ou velho?
4 – Questão que não pode bulir com a moral de cada um. Refiro-me aos amigos e inimigos e aos inimigos amigos. Calma.
Relembro: Faz anos, a 18 de Dezembro, que um Capitão, Comando do Exército Português, foi fuzilado. Seu nome era Zacarias Saiegh. Como ele, muitos, muitos mesmo, demasiados, foram fuzilados. Crime: terem servido o Exército do meu País, nessa época o deles. A Guiné era independente…
Amigos e inimigos ou inimigos e amigos ou a estrutura moral…ou…
5 – Os antigos Combatentes cá, mais ainda os Deficientes das Forças Armadas, continuam com problemas. Até quando?
Por vezes preocupamo-nos com a pila do S. Gabriel ou S. Rafael… PORRA!
6 – O Coronel Alexandre da Costa Coutinho e Lima vai apresentar, em livro, a sua versão sobre a retirada de Guilege.
É membro desta Tertúlia.
A ler. Quem gostar de ler, claro. Eu tenciono fazê-lo.
Só assim conseguirei, penso ser assim, melhor compreender certos acontecimentos. São controversos? Por isso mesmo.
7 – A tolerância...
O respeito pelos que pensam diferente da mim.
A liberdade de escrever, opinar, falar, divergir (se feito dentro das mais elementares regras do civismo) sem ser incomodado, humilhado, preso.
Exagero meu. Que exagero. Houve isso?! Não te lembras? Tu também não? Perdão o Senhor…não se recorda… claro. Tudo bons rapazes…
Há tanto tempo, tanto, para quê falar disso? Até dizem, nessa altura não haver democracia. Tantos anos. Que importa isso agora? Só os velhos se lembram e, se houve algo, foi há tantos anos. Mais de três décadas… Olha, prescreveu!
Agora que é Natal, podíamos fazer analogia com as luzinhas das árvores do Natal. Fazíamos intermitências… Não concordas, claro… Tudo escuro, outra vez… Não, sempre com luz aberta, eu sabia que concordavas comigo.
8 – És um chato.
Perdão, chato não que é bicho feio e incómodo.
Mesmo por isso. És um chato.
Porquê?
Porque dizes cada uma. Olha à tua volta e vê a vantagem de estar calado.
Mas aqui é diferente.
Aqui onde?
Neste sítio.
Qual sitio?
Pronto, eu calo-me e vou bardamerda.
És malcriado.
Sou. Por isso paro aqui e continuo a pensar só para mim e escrevo noutro lado.
(continua tentando vencer a insónia…)
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Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste do nosso querido amigo e camarada Torcato Mendonça, ex-Alf Mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69, um meio alentejano e meio algarvio que se apaixonou por uma Ana da Cova da Beira (que a geografia do amor tem estes acidentes de percurso):
2 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3553: Lança Afiada, Março de 1969. Frio, noite, damas...(Torcato Mendonça, CArt 2339)
Vd. também os seguintes postes (entre as largas dezenas que já publicámos do TM):
26 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2304: Humor de caserna (2): Welcome to Mansambo, a melhor colónia de férias do ano de 1968 (Torcato Mendonça / Luís Graça)
19 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1295: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (7): Mariema, a minha bajuda...
Guiné 63/74 - P3591: Tabanca de Matosinhos (7): Jantar de Natal, sexta-feira, 19 de Dezembro de 2008, no Milho Rei, em Matosinhos (Carlos Vinhal)
1. A Tabanca de Matosinhos organizou um jantar de Natal a levar a efeito no dia 19 de Dezembro próximo, no seu Quartel General, desculpem, no Restaurante Milho Rei, sito na Rua Heróis de França, 721.
Aqui fica o anúncio sito na página da Tabanca de Matosinhos:
JANTAR DE NATAL
Dia 19 de Dezembro (sexta-feira) há jantar melhorado com bacalhau à braga e cachaço de porco assado no forno no MILHO REI...
O Jorge Felix, o Álvaro Basto e o David Guimarães prometeram dar-nos música instrumental... levem tampões para os ouvidos...
Fundamental... Vamos levar as nossas mulheres para trazerem os carros para casa...
NÃO SE ESQUEÇAM. NÃO FALTEM...
Ah... e já agora... tragam uma lembrança (até 5 €) por pessoa, para sortearmos no fim.
Preço médio p/ pessoa: 25€
Inscrições:
Podem fazê-lo por voz ou sms (965 031 310) ou por email para qualquer um dos editores. Vamos lá, cambada... (como diria o João Rocha...)
Inscrições até ao momento, de acordo com a página da TM, já vão nas 36:
Aspecto da Sala de Jantar onde a Tabanca de Matosinhos faz as suas Operações, utilizando nas suas palavras a táctica do quadrado, celebrizada pelo grande D. Nuno Álvares Pereira
2. Comentário de CV:
Caros tertulianos do Grande Porto (e não só), vamos repetir o êxito do ano passado em Leça do Balio (*), onde estiveram presentes muitos camaradas no jantar de Natal ali realizado. O Restaurante que era pequeno, tornou-se exíguo para tantos participantes. Este ano não haverá falta de espaço e a ementa promete.
Ainda estão abertas as inscrições que podem ser feitas para os contactos indicados. Podem em alternativa mandá-las para mim que as farei chegar até ao régulo da Tabanca de Matosinhos.
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 31 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2395: Tertúlia de Matosinhos: Jantar de Natal, 27 de Dezembro de 2007 (Luís Graça / Zé Teixeira)
Vd. último poste da série de 23 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3506: Tabanca de Matosinhos (6): Porto é Porto, é a minha terra (Jorge Teixeira)
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3590: O Nosso Livro de Visitas (48): José Pedrosa, ex-Alf Mil da CCAÇ 4747 (Guiné, 1974)
Boa noite Amigos/camaradas.
Foi com indescritível emoção que acabei de descobrir o vosso, aliás, nosso GRANDE BLOGUE.
Por ter sido agora mesmo, só vos quero cumprimentar e agradecer o magnífico trabalho e dar conta de que há mais um para acrescentar à lista:
- José Joaquim Vitorino Pedrosa
Estive como Alf Mil Inf/Minas e Armadilhas na Guiné (Cumeré em Janeiro de 1974 - Chugué/Bedanda entre Fevereiro/Julho de 1974 - e no Biombo até Agosto de 1974 - integrado na CCaç 4747, formada em Angra/Açores.
Depois, no mês de Setembro de 1974 andei a negociar com o Cap Eng.ª Pires a entrega do campo de minas de Bissau ao PAIGC e regressei em 28 de Setembro de 1974.
Foi por pouco tempo, mas deu para aprender muito daquilo que a guerra colonial ensinou às nossas gerações.
Como saí da minha CCAÇ apesar de muitas tentativas feitas (até localmente) não consegui, até hoje, contactar nenhum dos amigos açorianos que estiveram comigo.
Agora, em Peniche, estou aposentado da Caixa Geral de Depósitos (por razões de saúde) e também me divirto com o meu blog Cerro do Cão
Cerro do Cão > Aqui só o vento muda, sem cumprir tempos ou vontades. Aqui só o mar bate: por ciúmes ou por vaidade!
Fico-me por aqui e prometo que voltarei, com notícias, histórias e participante.
Um grande abraço a todos.
JJVPedrosa
2. Comentário de CV
Caro José Pedrosa, foi com muito gosto que recebemos o teu contacto. Muito obrigado pelas tuas palavras. Podes considerar-te nosso tertuliano a partir de hoje.
Deverás ler o lado esquerdo da nossa página, onde poderás consultar as nossas 10 Normas de Conduta e também o que nós (não) somos em 10 pontos. Ali explicamos os nossos objectivos e o modo como devemos agir.
Poderás ver que entrar na nossa Tabanca Grande tem um preço (elevadíssimo) que é o envio de uma foto actual e outra dos nossos gloriosos tempos dos vinte e tal anos. A acompanhá-las uma pequena (ou grande) história.
Uma das normas é o tratamento por tu, independentemente do antigo posto militar ou da posição social actual. Verdadeiros camaradas não têm distinções sociais.
Ficamos à espera do teu novo contacto. Até recebe um abraço da tertúlia.
3. O nosso camarada Pedrosa mandou-nos dois endereços de postes do seu blogue, relacionados com a Guiné.
Com a devida vénia ao José, transcrevemos o seu poste do dia 5 de Março de 2008 > GUINÉ - 1974 (Capítulo I)
Passam hoje 34 anos sobre o dia mais longo da minha vida.
Na aldeia-quartel de Chugué, no sul da Guiné (Bissau), eram 11,00 horas da manhã. Apesar da tensão permanente em que ali viviam perto de 250 militares portugueses e 200 ou 300 civis guineenses, era a hora do futebol entre os 3º e 4º pelotões da minha C.CAÇ 4747 - "Os Índios da Bolanha" (Companhia formada maioritáriamente por Açoreanos).
Mas também era a hora marcada pelas chefias militares do PAIGC para dar inicio a mais uma "flagelação" com morteiros, RPG's, balas foguetões 122 e tudo o mais que pudesse atingir os "tugas"que por ali andavam há perto de 500 anos.
O "flagelo" durou 6 horas: seis longas horas, inquestionavelmente menos que 5 séculos.
Não tendo causado feridas físicas, foi psicológicamente violentíssimo e repetiu-se mais do que uma vez; mas foi assim que eu - branco, apolítico e sem quaisquer acções da CUF, da Sacor ou da Central de Cervejas - ao estar ali no lugar do Marcelo Caetano, do cardeal Cerejeira ou das famílas Mello, Champalimaud e SottoMayor, aprendi a ser negro, democrata e apoiante incondicional da Liberdade.
Deixo-vos mais um endereço de outro poste para consultarem no Cerro do Cão em:
http://cerrodocao.blogspot.com/2008/04/memorial-da-guin.html
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 27 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3532: O Nosso Livro de Visitas (47): Rogério Pereira, filho do 1º Cabo Manobra Jorge António Pereira, morto em combate na Guiné em 1973
Guiné 63/74 - P3589: Historiografia da presença portuguesa em África (11): Filatelia do 5º Centenário da Descoberta do Território, 1446/1946 (Beja Santos)
Capa da publicação filatélica comemorativa do Quinto Centenário da Descoberta da Guiné: 1446/1946 e alguns dos selos que nela figuram: a igreja de Bissau (20$00), a efígie do presidente Grant, dos EUA, que arbitrou a questão de Bolama a favor de Portugal e contra a Inglaterra (1$75) e a efígie de Teixeira Pinto (3$50). Opúsculo da autoria de Amadeu Cunha, selos da autoria de Alberto Sousa.
Era então Governador da Colónia (1945-1950) Manuel Maria Sarmento Rodrigues (1899-1979), prestigiado oficial da Marinha, que irá integrar em 1950 o Governo de Salazar como Ministro das Colónias (a partir de 1951, Ministro do Ultramar).
Imagens: © Beja Santos / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados
1. Mensagem do Beja Santos, com data de 4 de Dezembro último (*):
Em 1946, o governo da província da Guiné Portuguesa publicou um pequeno opúsculo com um conjunto selos alusivos ao 5º Centenário da Descoberta da Guiné (1446/1946). O opúsculo inclui texto em francês e inglês. É uma verdadeira raridade: os selos são de autoria do artista Alberto Sousa e o texto do opúsculo é de Amadeu Cunha.
Fala-se na Escola de Sagres, na Crónica dos Feitos da Guiné, de Azurara, nas sucessivas viagens até que Nuno Tristão, em 1446 entrou no Geba(?), o Rio de Nuno. Segue-se o relato da criação do forte de Cacheu e do Forte de Buba no século XVI, na chegada dos cabo-verdianos, no domínio castelhano, na questão de Bolama, em Honório Pereira Barreto e na pacificação de Teixeira Pinto.
É uma leitura curiosa para nos apercebermos o que era significante e insignificante da história da Guiné, em 1946. Os selos são de uma rara beleza. Creio que os tertulianos vão gostar de ver estes selos que, tanto quanto sei, só existem na Fundação Portuguesa das Comunicações.
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Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 24 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3507: Historiografia da presença portuguesa (10): Bolama, 1930: a nova igreja e o proselitismo católico (Beja Santos)
Guiné 63/74 - P3588: Tabanca Grande (103): Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745, Águias de Binta (Binta, 1972/74)
Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745/73, Águias de Binta, Binta, 1973/74
1. Mensagem do nosso camarada Pedro Neves, com data de 8 de Dezembro de 2008:
Caros Luis Graça e Carlos Vinhal:
Em primeiro lugar, o meu agradecimento ao Blogue, porque graças ao mesmo já encontrei um camarada da minha equipe, o Raúl do 1.º Curso de 1973, em Lamego e um 1.º Cabo Condutor da minha CCaç 4745, Águias de Binta, o Tomás Carneiro, natural e residente em S. Miguel, nos Açores.
Como devem calcular, só por isso já estou muito grato ao vosso magnifico trabalho e iniciativa de terem criado e dado vida ao nosso Blogue.
Agradeço que façam a minha inscrição no Blogue e em anexo as fotos, actual e do tempo em que éramos mais jovens. A diferença é visivel!!!
Aproveito a ocasião para desejar a todos os camaradas e seus familiares, votos de BOAS FESTAS!
Um abraço
Pedro Neves
ex-Fur Mil Op Esp
2. Recordemos parte da mensagem do nosso camarada Pedro Neves com data de 16 de Outubro:
Caro Luís Graça:
No passado dia 25-08-08, pela primeira vez, enviei uma mensagem para o nosso site à procura de antigos camaradas que estiveram comigo em Lamego, no 1.º curso [, de OE,] de 1973 e aos camaradas a quem dei o 2.º curso, também de 73, assim como os que estiveram na Guiné, na CCAÇ 4745, (Águias de Binta), Companhia de Caçadores Independente formada no antigo BII 17 (Angra do Heroísmo, Terceira, Açores) e já obtive o contacto do Raúl que pertencia à minha equipa, 1.º Grupo, do nosso curso em Lamego. Como devem de calcular, foi uma alegria encontrar, graças ao site, alguém com quem palmilhei montes, vales, ribeiros e a famosa serra das Meadas. Obrigado.
3. Comentário de Carlos Vinhal
Caro Pedro Neves, estás apresentado à Tertúlia desde 16 de Outubro de 2008 (*).
Quero desde já clarificar que o Blogue é de autoria do nosso camarada Luís Graça, que é ainda e será o único responsável pela sua manutenção. Eu e o camarada Virgínio Briote apenas damos uma mãozinha na edição dos postes.
Com a publicação das tuas fotos, estão cumpridas as formalidades de entrada no Blogue, mas como deves compreender, acarreta uma responsabilidade, que é a tua participação. Logo contamos contigo para enviares as tuas histórias e fotografias.
Renovo o abraço em nome da tertúlia e aproveito para te desejar umas Festas com saúde junto dos teus familiares e amigos.
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 16 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3322: Tabanca Grande (92): José Pedro Neves, ex-Fur Mil da CCAÇ 4745, 1972/74
Vd. último poste da série de 5 de Dezembro > Guiné 63/74 - P3570: Tabanca Grande (102): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74
Guiné 63/74 - P3587: Controvérsias (16): Chicos, furras e ripanços em Catió, 1968 (Jorge Teixeira - Portojo)
Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel >
"Foto nº 4 - Foto tirada de cima do depósito da água do quartel [JUL 1967]. Vista parcial da parte nova do quartel. A parada com o cepo (raiz) do Poilão, à esquerda as casernas nº 1 e nº 2, ao centro o edifício do comando, por detrás deste as camaratas de sargentos e depois destas as novas messes ainda em construção, tal como a camarata de oficiais à direita. O telhado vermelho era a messe e bar de sargentos".
Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > "Foto nº 25 - No novo Bar de Sargentos em 1968. De pé os Fur Mil Pires, Mendonça, Laurentino (do serviço Foto Cine de Bissau), Condeço e Cabrita Gonçalves; em baixo o Teixeira e o Gil".
Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > "Foto nº 18 - Os Fur Mil Viriato Dias e Mendonça no varandim do velho edifício da messe de sargentos".
Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > "Foto nº 11 - O Fur Mil Vitor Condeço sentado na raiz do Poilão, tendo por fundo o edifício do comando". [O Vitor, 63 anos, reformado, residente no Entroncamento, foi furriel miliciano mecânico de armamento, CCS do BART 1913, Catió, 1967/69].
Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > "Foto nº 9 - O porco fugiu da pocilga e foi passear na parada. Ao fundo à esquerda o depósito de géneros e a padaria, em frente a cozinha, refeitório e bar das praças. Vê-se o furriel vagomestre Rijo com um cozinheiro com o tabuleiro da amostra da refeição para o comandante fazer a prova".
Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > "Foto nº 32 - Cerimónia militar em Fevereiro de 1968. Militares, civis da administração, correios e comerciantes. Da esquerda para a direita, [?], de costas o Cap Médico Morais, o Comandante Ten Cor Abílio Santiago Cardoso, quatro funcionários dos Correios e Administração, os comerciantes Srs. José Saad e filha, Mota, Dantas e filha, Barros, depois o electricista civil Jerónimo, e o Alf Capelão Horácio".
Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > "Foto nº 1 - Vista aérea de Catió, onde se vê na parte superior a zona do quartel".
Fotos e legendas: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Jorge Teixeira (Portojo) (*), membro da nossa Tabanca Grande e da Tabanca de Matosinhos, com data de 8 de Dezembro último:
Assunto - Tema Ganância
Caro Luís:
Um abraço.
O nosso camarada Jorge Picado teve de explodir e com razão (**).
São coisas guardadas há muito tempo e em qualquer momento saiem. E talvez até pelo que se vê hoje em dia, o sentido da revolta é grande. Mas sempre soubemos que os milicianos é que pagaram sempre. Faziam a guerra, faziam a revolta e faziam a cobertura à maior parte da chicalhada. À maior parte, disse eu, porque havia chicos bons.
Quero dar o meu apoio ao Jorge. E já agora, e se quizeres publicar, dou a minha estória para o tema GANÂNCIA. Quando cheguei a Catió, em meados de Maio de 69, disseram-me que era obrigatório fazer uma messe. Não fazia ideia o que isso era. Por ordem de velhice ao contrário, acho que fui o próximo. Mas não me lembro se a fiz em Junho ou Julho [de 1969]. Sei apenas que me desenrasquei. Se bem me lembro do mês, foi em Outubro que rebentou uma bomba. Havia rapinanços em Catió.
Levantou-se um inquérito e, claro, apanharam uns tantos furriéis milicianos [, furras]. Como todos os inquéritos que têm conclusão, o pequeno é que apanha. Claro que o 2º Cmdt, de quem não me lembro o nome, responsável pelos reabastecimentos, não teve nada a ver com o caso; nem o capitão, cmdt da CCS, de quem apenas lembro o apelido, o Tim Tim, que muito a propósito e a tempo, lhe arranjaram uma consulta de psiquiatria e foi evacuado; nem o 1º sargento, o pica estradas (lembro do nome mas fica cá guardado), apelido derivado ao seu enorme nariz e nunca por ter saído do aquartelamento, nem para ver um jogo de futebol, quanto mais em qualquer missão.
Esse furriéis foram o vague-mestre da CCS, o meu querido amigo Rijo, o Oliveira que estava na altura no destacamento de Ganjola, outros que por lá também passaram anteriormente e de quem não me lembro do nome. Sei que pagaram em dinheiro desfalques que havia nas contas da CCS. O calo dos superiores tinha de bater na inexperiência dos furrieizitos milicianos. Não que eles fossem santos, sei lá, mas como sempre acontece, só alguns comeram.
No meio disto tudo, tinha vindo para Catió um capitão para cmdt de operações. Não me lembro do nome deste senhor. Que por inerência ficou cmdt da CCS, olhando ao sucedido. Resolveu chamar-me para ir fazer a vaguemestria do rancho. Perguntei:
- Mas eu, porquê ? Só pertenço à CCS por motivos operacionais e de alojamento.
- Porque fez uma boa messe de sargentos.
Isto foi novidade para mim. Tive de aceitar mas coloquei condições. Raramente recebíamos frescos; mesmo arroz, tivemos num determinado período que comprar nos armazens de Catió, porque nem bianda havia. Então carne, peixe e legumes era coisa que raramente havia. A população era-nos hostil e não vendia nada. Raramente a CCS alugava avioneta e comprava fora do reabastecimento mensal, fosse o que fosse.
As minhas condições foram: Fornecimento semanal de frescos por avioneta e uma comissão de soldados escolhida pelos próprios que fizesse o acompanhamento da vaguemestria. Aceites as condições e após apresentação de orçamento, foi fácil verificar que a companhia tinha imensos lucros com o rancho.
Não falo dos outros sectores que não eram da minha responsabilidade: Combustíveis, artigos para os bares e cantinas, etc. (Mas também sei de estórias...).Os furriéis não poderiam ser culpados nem de metade do que lhe atribuiram de culpas. Mas a chantagem que exerceram sobre eles com castigos que poderiam ir até à rendição individual foi de tal forma que eles aceitaram confessar-se culpados.
Imagino, melhor, sei o que pensou ao Rijo, desportivamente um internacional português, já com 27 anos. Este homem nunca mais foi o mesmo.
Factos: Na altura acho que tínhamos entre 17 ou 19 escudos diários para alimentação. Não recordo. Pois demonstrei que era possível fazer diárias com frescos, custos de transportes, refeições extras para o pessoal que chegava de madrugada de patrulhamentos ou outros serviços no mato, reforço alimentar para os sentinelas e pessoal de serviço no aquartelamento, reforço de rações de combate, não só com esse dinheiro como ainda sobrava algum, mas pouco é certo, nessa altura, ao fim do mês. E haviam refeições extras para oficiais - ah meu cmdt Cardoso, quantas vezes lhe levei um petisco ! -, e sargentos que vinham ao rancho pedir um pratinho.
A véspera de Natal de 69 foi um exemplo, principalmente para alguns furriéis, pois o safado do Dias não quis alinhar e deu salsichas na messe. E houve festas com convidados da população - Dia da Artilharia, dia de Natal e Ano Novo, da despedida da unidade em finais de Fevereiro. E sobrava sempre da nossa panela para as crianças nativas, embora o pessoal se alimentasse bem melhor. E ainda deu para alguns suplementos aquando da partida do pessoal da CCS, pois havia excedentes ( vinho, conservas de frutas, pão, pelo menos isso que me lembre); e a CCS que veio render a do [BART] 1913 [1967/69] ainda lucrou muitas dezenas de contos desses excedentes (***).
Mas tudo isso já existia no depósito antes da minha tomada de posse. Quando fiz o inventário haviam cerca de 100 contos de excedentes. Só que o Rijo, o Oliveira e os outros não sabiam nada de contas. E dinheiro vivo era preciso para tapar buracos. E os lucros dos autos de perca, destruição, apodrecimento e afins ?
Nas cargas e descargas de mercadorias, eram caixas de batatas, cervejas, bidões de gasóleo, whisky, etc que caíam ao rio - e na barriga dos fuzas que faziam a segurança dos batelões - ou que chegavam podres e por aí fora...
Façam agora uma pequena conta, bem simples: transformem só 1 escudo por dia de excedente alimentar por militar; Para uma média de 100 bocas diárias (cheguei a dar refeições a 140 pessoas); durante 18 meses mais ou menos que foi o tempo anterior à minha tomada de posse... Acrescentem os desvios de gasóleo à população civil, mais os artigos dos bares extraviados e os lucros da comercialização (mais de 150 pessoas em média diária e com poucos abstémios) - e vejam qual a soma.
Mais: Se eu tinha 100 contos de excessos alimentares, quando recebi o depósito, se os milícias e soldados africanos podiam comprar géneros e cujo valor era descontado nos prés, pagos directamente pelo comando da companhia; explique alguém, se é capaz, sendo esta comandada por um oficial do QP e dirigida por sargentos igualmente do QP, quem ficou a lucrar ?
Se os furras não tinham acesso a dinheiro como é que houve desfalque? Portanto, camarada Picado, não foste o único a levar com a experiência dos profissioinais das comissões.
Um abraço de amizade
Jorge/Portojo
2. Comentário de L.G.:
É, no mínimo, saudável e honroso que este tema (aqui levantado pelo José Manuel Dinis, pelo Jorge Picado e agora pelo Jorge Teixeira) seja exposto, analisado e debatido no nosso blogue... Não há (ou não devia haver, mas eu julgo que não há) tabus entre nós: já aqui discutimos tudo ou quase tudo, incluindo questões que ainda hoje nos dividem e são dolorosas...
A máquina de guerra - neste caso, da guerra do Ultramar - movimentou muito dinheiro e, como muitos de nós se aperceberam no terreno, no TO da Guiné, também alimentou a pequena e a grande corrupção... Independentemente do efeito (positivo e negativo) que teve na economia nacional, a guerra do Ultramar fosse também um bom negócio para alguns. Como em todas as guerras. A nível local, provincial, nacional e internacional.
Interessam-nos aqui não as especulações mas sim os depoimentos. A verdade é que, localmente, tínhamos uma visão muito limitada das coisas. Alguns de nós lidaram com dinheiro, material, compras, intendência, contabilidade, finanças, gestão de messes e refeitórios, obras (nos quartéis e nos reordenamentos)... Alguns de nós comandaram subunidades e fizeram comissões liquidatárias... Alguns de nós tinham especialidades na área da administração militar ou equivalente (vague-mestres, contabilistas, etc.). A maior parte de nós, os operacionais, não tínhamos jeito, tempo e sobretudo competências para lidar com dinheiro, material, compras, gestão de messes, etc.
Já não é altura para, passadas quase quatro décadas, fazer ajustes de contas - nesta como noutras matérias... Já não há contas a ajustar nem com os nossos superiores hierárquicos nem entre camaradas (... tal como não há contas a fazer contra os nossos inimigos de outrora). Eu, pessoalmente só tenho contas a ajustar comigo e com a minha memória.
Se falamos disto, é por que a guerra da bianda era também a nossa pequena guerra de todos os dias... Comíamos mal e porcamente na Guiné: a verdade é que, como defende o Jorge Teixeira, poderíamos ter comido um pouco melhor, se não fora também a ganância e a incompetência de alguns...
Mas atenção: é preciso respeitar o bom nome e não pôr em causa a honestidade e a reputação da generalidade dos nossos camaradas, que foram vague-mestres, sargentos de secretaria, alferes de contalidade, capitães milicianos, pessoal da intendência, etc. Daí para cima, podemos ter suspeitas mas não sabemos nem metade da missa...
No meu tempo, por exemplo, dizia-se à boca cheia que havia meninos a mamar com o reordenamento de Nhabijões [sector L1 da Zona Leste, Bambadinca, 1969/71], onde foram gastos milhares de rachas de cibe, milhares de chapas de zinco, toneladas de tijolos de adobe, feitos pela população local, milhares de horas de trabalho de voluntários à força, do exército, tugas que na vida civil eram trolhas, cabouqueiros, carpinteiros, marceneiros, picheleiros, condutores, etc. Não sei quem ganhou nem me interessa isso hoje. Mesmo assim quero acreditar que o exército tivesse os seus próprios mecanismos de fiscalização e de controlo.
De qualquer modo, o mote está dado. Escrevam sobre este tema, os que sabem e podem... Quanto a alguns termos do nosso calão de caserna (chicos, chicalhadas, furras, ripanços...), aqui usados: é bom lembrar que não têm propriamente um sentido pejorativo. E não se faz, no texto que se acaba de publicar, generalizações abusivas. Isto passou-se em Catió, no ano da graça de 1968. Ponto final parágrafo.
Parabéns ao Jorge, pela oportunidade e vivacidade do seu depoimento. Ele fala do que sabe e viu, por isso fala de cátedra. Embora fale do que se passava no downstairs, na cave... Ele nunca subiu ao upstairs, aos pisos de cima, pelo que nunca podia saber o que se passava em Bissau ou em Lisboa, nos gabinetes dos chefes de estado-maior ou nos conselhos de administração das empresas com interesses na Guiné...
Parabéns ao Vitor, por que ele foi, sem dúvida - até agora - o melhor fotógrafo da linda vila colonial de Catió, no sul, na região deTombali, e da gente que por lá passou, pela vila e pelo seu quartel... Gente do melhor, seguramente. Dos outros, poucos, que não souberam (ou não quiseram) ser nossos camaradas, não falamos aqui.
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Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1652: Tertúlia: Três novos candidatos: José Pereira, Hélder Sousa e Jorge Teixeira
7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3180: Tabanca Grande (84): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil, Guiné, 1968/70
5 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3270: O meu baptismo de fogo (3): Catió, 6 de Junho de 1968 (Jorge Teixeira)
Vd. ainda o poste de 20 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3489: Blogues da nossa blogosfera (4): Nasceu o bloguinho, o blogue da Tabanca de Matosinhos (Álvaro Basto)
(**) Vd. poste de 6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3576: Controvérsias (11): A ganância e o modo como se geriam as finanças nas Unidades (Jorge Picado)
(***) CCS do BART 2865, Catió, 1969/70: vd. poste de 12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3302: Tabanca Grande (91): António Varela, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BART 2865, Catió, 1969/70
(****) Sobre Catió desta época, vd. ainda os seguintes postes:
19 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2453: O que fazia um militar da ferrugem como eu ? (Victor Condeço, ex- Fur Mil Mec Armamento, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69)
6 de Junho de 2007 >Guiné 63/74 - P1819: De Catió a Lisboa, de menina a Mulher Grande ou uma história triste com final feliz (Gilda Pinho Brandão / Luís Graça)
3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1335: Um mecânico de armamento para a nossa companhia (Victor Condeço, CCS/BART 1913, Catió)