sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3713: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (1): Just married...

Bilhete Postal > Guiné Portuguesa > 118 – Vista aérea de Bissau. Fotografia verdadeira – Reprodução proibida. Edição Foto Serra. C.P. 239 – Bissau… Impresso em Portugal. Sem data. Bilhete postal gentilmente cedido pelo nosso camarada Beja Santos (ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (*). 

 Foto: © Beja Santos (2006). Direitos reservados.


  1. Mensagem de Joana Beja Santos: Ao cuidado de Luís Graça: A pedido da minha mãe, Cristina Allen, remeto o texto "Em Bissau, controlado desespero", destinado à "Tabanca Grande", se achar oportuno. Cumprimentos, Joana Beja Santos 2. Os meus 53 dias brasa em Bissau (1) > Controlado desespero (I) por Cristina Allen (*) [Título da série e subtítulos a negrito no texto, da responsabilidade do editor L.G.]

Caro Luís Graça, seus co-editores, e ainda Torcato Mendonça e Hélder Sousa, Um agradecimento comovido pelos comentários que o meu texto suscitou (*). 

Que é isso, meus bravos? Uma mulher anónima diz: “Afinal, a nossa geração viu muitas coisas”. E Torcato Mendonça escreve um poema belíssimo (nunca ninguém se lembrou de me trazer à vida em poesia), o Luís Graça cita V. Briote em “As nossas mulheres (…)” e surgem, no Blogue, a fotografia da pequena catedral e mais uma fotografia minha, já olheirenta e profundamente angustiada, para além de mais um endereço de aerograma (**). 

Para os que coleccionarem informações soltas e, sobretudo, para os camaradas deste blogue que nasceram no Alto Alentejo e conheçam bem Évora, o arquitecto daquela igreja foi o alentejano José Pedro Cordovil, nascido no belíssimo palácio Cordovil (Rua da Mesquita n.º 7). Num imenso jantar de família, deu-me a sua direita e falou-me dessa obra de juventude, que não ficara muito a seu gosto… aos dezoito anos, nada me faria pensar que viria a casar ali. 

O mundo é redondo, dá muitas voltas, mas quer o acaso que, num ponto inimaginável do tempo, nos encontremos, fisicamente ou nos recônditos obscuros da memória, prontos a saltar em vivíssimos vislumbres. Como neste blogue. E também para os gulosos de azeitonas (grandes, verdes, retalhadas à mão!), que estiveram na Guiné e viram a Praça da Senhora da Candelária, em Bissau, aqui vai um errático e estimulante percurso – “Tigre de Missirá” – Cristina - Catedral – “azeitonas cordovil”. Espetem um palito, levem à boca este petisco e vereis o casal mais mal emparelhado que Bissau tão brevemente viu. E brindem aos vossos amores! Passados, presentes e… futuros. 

   Chegar a 15 de Abril, casar a 16...

Luís Graça, temos um problema (que não é seu). Ao fazer a citação de uma passagem que, creio, ser do segundo volume da obra do camarada Mário Beja Santos (distraído historiador) li: “A Cristina chegou a 18 de Abril (…). Durante os praticamente vinte dias que ela aqui viveu (…)”. 

Li e pasmei. É que eu não vivi só vinte dias em Bissau. Nem cheguei a 18 de Abril. Se estou certa, na tarde de 18 de Abril de 1970, estaria a assistir a um batuque em nossa honra, e recordo um incidente: nesse magnífico batuque, um dos dançarinos, com uma camisola às riscas verdes e brancas, atirou para o meu colo um grande trapo sujo e o Cherno atacou-o, fazendo-o desaparecer de imediato. 

 Quer mais provas? Reza assim a minha certidão de casamento, que tenho à frente: “Certifico que (…) às dezoito horas do dia dezasseis de Abril do ano de mil novecentos e setenta (…) perante mim, Padre José Afonso Lopes (…) compareceram os nubentes (…)”, etc. 

 Cheguei a Bissau a 15 de Abril, casei a 16, parti para Lisboa a 8 de Junho. Cinquenta e três dias. Se achar interesse a isto que escrevo, pode editar, pois já esclareci com o Mário esta questão. Terá havido uma semana e poucos dias de alegria e em todos os restantes, a quotidiana eternidade de desespero controlado. O meu marido sofria do que hoje chamamos, sem complexos, “stress de guerra”. E um súbito muro se atravessava entre nós. Não sei se o escreveu, mas, de olhos desmesuradamente abertos, mandava-me embora e dizia que queria morrer e ser enterrado em Missirá. Pior ainda, eu obrigara-o a casar e o nosso casamento não era válido porque não estava consciente. Doença de guerra, pura e dura. 

 Levei-o ao Padre. Experiente conhecedor de almas, o Padre Afonso, muito calmo, tinha ali o livro de registos e foi dizendo que, se ele queria ir morrer a Missirá, que fosse. E, quanto ao casamento, abrira uma folha nova nos assentos, bastava arrancá-la… o nosso “Tigre” deu um salto, eu temi pelo Padre, mas tudo se acalmou. “Vão lá almoçar”, disse. Porém, discretamente, fez-me um gesto e percebi que ia telefonar. 

No dia seguinte, e de acordo com o que fora anteriormente combinado, o meu marido vadio ingressaria na ala de Neuropsiquiatria do Hospital Militar. Durante dois dias, eu não poderia vê-lo, já que o David Payne iria tentar pô-lo a dormir. Discretamente, o David passou-me para as mãos um frasco hospitalar de “Vesparax” (quem não dormia era eu…). 

Dançando o tango com o Caco Baldé 

 Começaram as tardes das visitas. Havia um autocarro, sempre cheio de pessoas, cabritos e cobiçadas galinhas. Acabei por arranjar um táxi, cujo motorista, João Carlos, me levava e, pontualmente, me aguardava para o regresso. Tínhamos feito um trato – em Bissau quase tudo se negociava. Apressava-me, na saída, não fosse encontrar Spínola, que, diariamente, visitava os seus doentes. Atrasei-me três vezes e três vezes me aconteceu encontrá-lo à porta de armas (chamava-se assim?) do hospital. Andávamos, ao que parecia, cronometrados… 

 Havia um toque (A recolher? Por causa dele? Nunca perguntei). Mas via aquele homem passar para a mão esquerda o pingalim, encostá-lo firmemente à perna, pôr-se em sentido, crescer, enchendo o peito de ar, o ventre liso, o braço direito, o cotovelo, a mão, na mais perfeita continência que jamais vi. Ficava desmesuradamente imenso, desmesuradamente rígido, só o monóculo coruscava. 

 Estarrecida, não sabia que fazer dos pés, das mãos, da mala, da mini-saia, parava, cruzava as mãos, endireitava-me (postura por postura, não baixaria a cabeça, olhava-o nos olhos, ou, melhor dizendo, no olho e no monóculo). Acudiam-me ideias bizarras – que o meu avô materno fora lanceiro e, certamente, teria sabido fazer aquilo mesmo; que ele, Spínola, escorregara em Missirá, numas cascas de batata e fora ao chão, pose, pingalim, monóculo e tudo, soltando palavrões… que aquele homem era o… “Caco Baldé”! Apertava os lábios para não me rir: este é o Caco, Caco Baldé… 

 Mas este era apenas o primeiro acto desta farsa. O segundo, começava com a questão “Passas tu ou passo eu?”. No terceiro, resolvia eu recuar, só então ele passava e, perfeito cavalheiro, punha-se de lado e cumprimentava: “Muito boas tardes, minha senhora”. E eu respondia-lhe: “Muito boas tardes, Senhor Governador”. Afinal de contas, era fácil dançar o tango com Spínola. Dobrado contra singelo, diria que, em seus tempos, o teria dançado na perfeição, sem pisar os pés do par… 

Deixemos, por ora, o Mário na sua cama, entre dois outros perturbados, que, continuamente, discutiam… Quando, escassos anos volvidos, leria atentamente Portugal e o Futuro, fecharia o livro, e, olhos cerrados, para mim mesma o interpelava: “Então, meu Caco, só agora?!” Para todas as coisas há o seu tempo. Nos anos de brasa que decorreriam, e, mais ainda, nos outros que vieram, ele seria, talvez, uma das mais contraditórias e inquietantes personagens. Recordo, hoje, os quatro majores que, num gravíssimo erro de cálculo – ou num quase infantil erro de cálculo – ele enviou para o martírio e penso em tantos jovens anónimos que perderam suas desgraçadas vidas. Nos estropiados, nos cegos, nos perturbados, nas nossas lágrimas. E, todavia, ele, feito Marechal António de Spínola, será sempre, para mim, a mais trágica figura do braseiro que outros atearam, sem ele, com ele, ou em seu nome. Que Deus e a História sejam clementes para com este homem. 

Em paz, na nossa 'Tabanca Grande'...Inch’ Allah!, amigos. 

 E agora nós, Luís Graça e Camaradas da Guiné, se a nossa geração viu tantas coisas, certamente teremos mais para ver. Estamos prontos? Vejamos, então. Todos nós temos televisão e esse meio, quer queiramos, quer não, de todos nós faz cidadãos do mundo. 

O Inferno anda à solta em Gaza, em Jerusalém, nos túneis que se abrem no Egipto e, ao que consta, no Irão. O epicentro deste horror situa-se numa terra que foi berço dos três mais velhos credos monoteístas deste mundo, raízes das nossas crenças, nossas lendas, nossos hábitos, superstições, pequenos gestos. No nosso sangue correm, misturados, laivos do sangue dessa gente que se bate. Quem são, de que lado se batem esses “turras”? Os nossos “irmãozinhos”, diriam os muçulmanos, os nossos “irmãos”, dizem judeus e cristãos. 

Algures na Alemanha, o mais jovem dos meus primos (33 anos!), piloto da Nato, já fez Kosovo, Afeganistão, Iraque e está em “estado de prontidão”. Idade suficiente para ser um filho nosso. Lembrai-vos desse menino alentejano, que, aos comandos, vai ir para qualquer sítio, atravessando os ares carregados. Estamos em paz na nossa “Tabanca Grande”. E, acima de nós, escreveu Kant, “o céu estrelado (…)”. “Inch’ Allah!”, não só “talvez”; literalmente é “Queira Deus!” “Inch’ Allah!”, amigos. Cristina Allen 

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Nota: esqueci-me de que deixei o meu ex-marido em “banho de maria” no hospital. Há mais, ainda mais para vos contar. Lisboa ainda está longe de Bissalanca. Nem vi, sequer, do alto, a quase poética brancura de Dakar.

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 Notas de L.G.: 



quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3712: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (9): Para breve a 2ª edição do livro (Luís Graça)

Academia Militar > Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref, Coutinho e Lima, A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos (Linda-A-Velha: DG Editora, 2008, 469 pp, € 20)(*) Excerto da apresentação do livro pelo autor, que refere as diligências feitas por si o período entre 15 e 21 de Maio de 1973, na qualidade de comandante do COP5. O cerco a Guileje por parte das forças do PAIGC (Op Amílcar Cabral) começou a 18 e prolongou-se até 25 de Maio de 1973 (entrada no quartel abandonado). A 22, foi tomada a decisão de retirar para Gadamael (**). Vídeo: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.Vídeo (6' 13'') alojado em: You Tube >Nhabijoes. [Clicar em assistir em alta qualidade, no caso de dificuldades em ver ou ouvir o vídeo] 1. Mensagem do nosso camarada Coutinho e Lima: Caro Luís: Regressado de umas merecidas férias e espero que com as tuas "baterias carregadas", para mais um ano de árduo trabalho, aqui estou eu a dar notícias. Tenho recebido muitos Votos de BOAS FESTAS e BOM ANO de 2009, de muitos tertulianos, bem como considerações positivas de alguns que já tiveram a oportunidade de ler o livro; por manifesta falta de tempo, pois tenho dado prioridade aos pedidos de envio do livro, bem como outras diligências, solicito mais uma atenção, a acrescentar às muitas já recebidas, no sentido de, através do blogue, agradecer em meu nome as variadas formas de solidariedade e simpatia que tenho vindo a receber. A aceitação do livro tem sido excepcional e para a próxima semana vou providenciar para ser executada uma 2ª. Edição, porque a 1ª. está praticamente esgotada (***). Junto envio a MENSAGEM dos HOMENS GRANDES de GUILEDGE por ocasião do lançamento do livro Retirada de Guileje. Se não o conseguires ler (o que já aconteceu com o meu filho), agradecia que me informasses, para que no fim de semana nos encontremos, para resolver este assunto, pois que na próxima 3ª feira vou para o Norte, donde só volto na 1ª semana de Fevereiro. Obrigado por tudo. Um grande abraço Coutinho e Lima PS - Definitivamente a mensagem não segue, por esta via, talvez por ser grande. Como é que nos encontraremos no fim de semana ? 2. Comentário de L.G.: Parabéns, Alexandre. A 2ª edição é uma justa recompensa por todos estes meses de trabalho árduo (não falando já dos longos anos em que estiveste votado ao esquecimento e ao silêncio...). Passo aí por casa, no fim de semana, para ir buscar o ficheiro com as mensagens dos homens grandes de Guileje/Mejo, que o Prof Eduardo Costa Dias, do ISCTE, trouxe da Guiné-Bissau. _________ Notas de L.G. (*) Como adqurir o livro do nosso camarada Coutinho e Lima ? Escrever ou telefonar para o autor: Rua TOMÁS FIGUEIREDO, nº. 2 - 2º. Esq 1500 – 599 LISBOA Telefone: 217608243 Telemóvel: 917931226 Email: icoutinholima@gmail.com (**) Vd. portal Guerra Colonial, da A25A > Guiné, Maio e 1973, o Inferno > Guileje - a outra ponta da tenaz. (Excerto) [Com a devida vénia e o nosso apreço; negritos do editor do blogue] (...) O ataque a Guileje, no Sul da Guiné, de que iria resultar a retirada das forças portuguesas, iniciou-se em 18 de Maio de 1973, coordenado com o de Guidaje. Comandado pelo próprio Nino Vieira, comandante militar do sul, foi-lhe dado o nome de código de Operação Amílcar Cabral e executada com intenção de o PAIGC apresentar os seus resultados à OUA, cujo 10.º aniversário se comemorava em 25 de Maio. Para o início da operação, o PAIGC concentrou em redor de Guileje, a bateria de artilharia de Kandiafara, com morteiros de 82 e 120 mm, canhões sem recuo, canhões de 85 mm e de 130 mm, um grupo de reconhecimento e observação e cinco bigrupos de infantaria do sector de fronteira. Deslocou ainda o 3.º Corpo de Exército do Unal para a mata do Mejo e transferiu três bigrupos da região do Boé e dois bigrupos do 2.º Corpo de Exército, no Tombali, para reforço do sector de fronteira. No total, o PAIGC concentrou na zona de Guileje, um corpo de exército (3.º CE), no Mejo, dez bigrupos em reforço ao sector de fronteira e uma bateria de artilharia, com um grupo de reconhecimento. Ao todo, considerando a base numérica de cada unidade do PAIGC utilizada pelos serviços militares portugueses, seriam cerca de 650 homens, efectivo idêntico ao que foi concentrado em Cumbamori para o ataque a Guidaje. As forças portuguesas da guarnição de Guileje (COP 5), comandadas pelo major Coutinho de Lima, eram constituídas por: Companhia de Cavalaria 8350 Pelotão de Artilharia Secção de auto-metralhadoras Fox Pelotão de milícias. Em 18 de Maio de 1973, o PAIGC realizou uma emboscada, às sete da manhã, a cerca de dois quilómetros de Guileje, às forças que iam abastecer-se de água ao poço situado no exterior, da qual resultaram um morto e sete feridos do pelotão de milícias e ainda o ferimento grave de um soldado metropolitano, que veio a morrer quatro horas depois, por falta de evacuação aérea, facto que afectou o moral das tropas e contribuiu para o agravamento da situação no interior de Guileje. Nessa noite, de 18 para 19, o quartel foi atacado e o comandante do COP5 pediu para se deslocar a Bissau, a fim de expor a situação, o que não lhe foi autorizado. Em 20, a partir de Cacine, o mesmo oficial pediu de novo autorização para ir a Bissau, onde se deslocou e expôs a situação ao comandante-chefe, regressando a Cacine. Em 21, o PAIGC realizou outra emboscada, com utilização de RPG-7 junto à bolanha onde militares recolhiam água. Ainda neste dia, Guileje sofreu três flagelações com um total de 45 granadas, uma às sete, outra às nove e outra às 13 horas. Às 14 e 15h, o posto de rádio emitiu a sua última mensagem: «Estamos cercados... », que foi captada em Gadamael. O comandante do COP5 regressou a Guileje ao fim da tarde, vindo a pé de Gadamel com dois grupos de combate, um da CCaç 4743, da guarnição de Gadamael, e outro da CCaç 3520, da guarnição de Cacine. Às 18 e 30h, o comandante do COP5 decidiu evacuar as tropas e os civis de Guileje. Em 22, pelas 5 e 30h da manhã, iniciou-se a saída do quartel, com a destruição do material abandonado. Por falta de comunicações, esta acção apenas foi conhecida quando a coluna chegou a Gadamael, pelas 10 e 30h do mesmo dia. Entre 18 e 22 de Maio, Guileje sofreu 36 flagelações, que causaram grandes danos, embora não tenham provocado baixas, dado o sistema de abrigos que ao longo dos anos ali havia sido construído. (...) [Observação do editor, L.G.: Atenção, houve um morto, um Fur Mil da CCaç 4743, de um grupo de combate da subunidade de Gadamael, destacado em Guileje]. ____________ Notas de L.G.: (*) Vd. postes anteriores desta série: 6 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3704: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (8): Notas e correcções de Abreu dos Santos, comentários meus (V. Briote) 2 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3689: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (7): Antecedentes relacionados e breve comentário (V. Briote) 31 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3686: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (6): Comentário do Ten Cor José Francisco Robalo Borrego 15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3628: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (5): O sentido de uma sondagem (Joaquim Mexia Alves / Luís Graça) 15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3627: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (4): Apresentação do livro, 5ª F, 18, na Casa da Guiné-Bissau em Coimbra 15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3626: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (3): Tardia a nossa percepção do nosso próprio Vietname (Eduardo Dâmaso) 14 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3618: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (2): A festa ... e a solidão de há 35 anos (Luís Graça) 27 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3527: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (1): Lançamento do livro, 13/12/08, 17h, na Academia Militar, Amadora

Guiné 63/74 - P3711: (Ex)citações (11): Nem medalhas ao peito nem cicatrizes nas costas (José Martins)

Uma fotografia de 2006 do nosso camarada e amigo José Martins (ex-furriel miliciano de transmissões, da CCA 5, Canjadude, 1968/70) (*), "tirada no meu lugar de meditação e recordação" (sic). Para um gato preto, que ainda trabalha no duro (é técnico oficial de contas numa empresa multinacional), e que não tem medalhas de guerra, não está nada mau(refiro-me à morança e à decoração das paredes) (LG)

Foto: © José Martins (2006). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso camarada José Martins, comentando o poste P3710, de ontem (**):

Caros camaradas

Parece-me que a frase que costumo empregar, em muitas situações, está certa:

*NÃO TENHO MEDALHAS NO PEITO,
MAS, SOBRETUDO, NÃO TENHO CICATRIZES NAS COSTAS.*


Com isto quero dizer que, não tendo praticados actos heróicos, merecedores de medalhas, não tenho cicatrizes de feridas obtidas em fuga as situações e/ou problemas.

Um abraço
José Martins
__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 28 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXCIII: Cancioneiro de Canjadude (CCAÇ 5, Gatos Pretos)

(**) 28 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXCIII: Cancioneiro de Canjadude (CCAÇ 5, Gatos Pretos)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3710: (Ex)citações (10): Os homens conhecem-se pelas palavras e os bois pelos cornos (Provérbio popular)

1. Um Anónimo deixou este naco de prosa à laia de comentário ao poste P3689 (*):

JÁ PERGUNTARAM À CLASSE DE PRAÇAS DE GUILEJE SE TERIAM ABANDONADO O AQUARTELAMENTO? NÃO TERIAM, SE TIVESSEM OUTRO CO [MANDANTE], EM VEZ DE UM C..., QUE AINDA ESTÁ REFORMADO DO EXÉRCITO, QUANDO DEVIA TER SIDO EXAUTORADO (**) EM PRAÇA DE ARMAS.


2. O José Colaço deu conta e de imediato comentou:

Camaradas e amigos, é lamentável que apareçam estes heróis anónimos....Que tenham opiniões diferentes estão no seu direito próprio, mas proferirem expressões ofensivas e esconderem-se atrás do anonimato.... Estes sim são uns C.... Não estão na Guiné para se protegerem atrás do morro baga-baga. Assume-te, deves ser homem.

Um alfa bravo. Colaço


3. Comentou por sua vez o editor do blogue, L.G.:

Colaço: Obrigado pro estares atento...O nosso Anónimo não é (não pode ser) um verdadeiro camarada da Guiné... E nem sequer conhece as nossas regras do jogo... Sobre os comentários dizemos o seguinte (ver coluna do lado esquerdo da 1ª página do blogue):

(...) "Não precisas de ter uma conta Google/Blogger. Podes fazer um comentário como anónimo, mas é conveniente (e desejável) que deixes sempre um contacto teu (nome, localidade, antiga unidade e, se possível, e-mail, no caso de ainda não pertenceres à nossa Tabanca Grande).

"Os amigos e os camaradas da Guiné não se escondem atrás do baba-baga, são pessoas habituadas a dar a cara".

Vou pedir ao nosso Anónimo, que se escondeu por detrás do baga-baga, que dê um passo em frente, e nos diga quem é... Felizmente que estas situações tem sido raras. Podemos discordar uns dos outros e manifestar publicamente essas discordâncias, mas não temos que nos insultar, muito menos sem dar a cara ao(s) outro(s)...

Não é bonito, não é leal...

Como diz o nosso povo, "os homens conhecem-se pelas palavras e os bois pelos cornos".

O editor do blogue, Luís Graça (***)

Como o nosso homenzinho não quis sair detrás do baga-baga e assumir publicamente o que escreveu, decidi eliminar o seu comentário, uma prerrogativa que estou a usar pela segunda vez desde que os comentários no nosso blogue passaram a ser publicados automaticamente, sem moderação. A primeira foi um insulto, gratuito, de um guineense da diáspora, com sotaque brasileiro... Espero não voltar a fazê-lo muito mais vezes... Não tenho vocação para cantoneiro de limpeza (sem ofensa para os anónimos almeidas que prestam um enorme serviço à comunidade, todos os dias, todas as noites)...

O número de comentários cresceu exponencialmente desde que decidimos eliminar o mecanismo da moderação. Só no mês passado tivémos cerca de 300 comentários. Isto mostra que é possível haver blogues em que liberdade e responsabilidade não são incompatíveis, pelo contrário fazem parte do mesmo binómio.

Como eu gosto de dizer, podemos (e devemos, quando for caso disso) discordar uns dos outros, sem termos que puxar da G3 para resolver o conflito... nem sequer do palavrão (para nos insultarmos)... Mas o pior ainda, é a emboscada, atrás do baga-baga ou do poilão. Poça, que dessa(s) já temos doses que cheguem!

Em suma, só posso congratular-me pelo facto de a generalidade dos meus amigos e camaradas da Guiné, enquanto bloguistas periquitos, estarem a dar um belo exemplo à restante rapaziada que, nestas coisas da blogosfera, se reclama da velhice...

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Notas de L.G.

(*) Vd. poste de 2 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3689: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (7): Antecedentes relacionados e breve comentário (V. Briote)

(**) Despojar um militar das insígnias do seu posto, em cerimónia pública

(***) Vd. último poste desta série > 25 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3668: (Ex)citações (9): Obrigado, Cristina, por esta doce e terna prenda de Natal (Torcato Mendonça / Hélder Sousa)

Guiné 63/74 - P3709: Blogues da Nossa Blogosfera (13): Entre Fogo Cruzado e Rumo a Fulacunda de Henrique Cabral

1. Com um atraso considerável, mas com o maior prazer, damos conta de um mail do nosso tertuliano Henrique Cabral, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Guiné, 1965/67, com data de 19 de Novembro do ano transacto, falando-nos de novo dos seus blogues (*).

Camaradas e Amigos,
Faz hoje um ano que lancei para o espaço a primeira parte de um projecto a que chamei "Guiné Em Tempo De Guerra"; estava eu, então, longe de prever a sua tão grande aceitação por parte dos internautas, tendo já ultrapassado os 10.300 visitantes.

Essa primeira parte - ENTRE FOGO CRUZADO - é dedicada à vida e costumes das suas gentes. Nela transmito aquilo que me foi dado observar, tentando chegar o mais próximo possível ao seu dia a dia, de uma vida tão difícil quanto a nossa, mas da qual a maioria de nós nem tinha tempo para ver, quanto mais pensar nisso. Sendo a nossa vida feita dentro do aquartelamento ou no mato, em guerra, o contacto com a população, para a grande maioria, restringia-se à nossa bajuda lavadeira - tendo em conta os muitos condicionalismos a que estávamos sujeitos e apesar da curiosidade que naturalmente tivéssemos.

Considero-me, portanto, um privilegiado e com a dupla obrigação, ora de partilhar aquilo que muitos gostariam de ter conhecido além da guerra, ora de render tributo a todos aqueles não tinham voz naquele tempo e por lá ficaram esquecidos.



Relativamente à segunda parte - RUMO A FULACUNDA - é um desfilar de imagens dos lugares por onde passei e muitos de vós também. É um desfilar de recordações.



Quero hoje agradecer a todos os que responderam à chamada – e foram muitos - enviando fotos, fazendo comentários, endereçando emails a enaltecer, colocando links ou simplesmente fazendo a visita.

O vosso contributo tem sido importantíssimo e é uma forma de fazer eco das nossas vivências e contribuir para a História que um dia há-de ser feita.

Bem hajam
Henrique Cabral
Queluz, 18 de Novembro de 2008
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Notas de CV

(*) Vd. poste de 24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3233: Blogues da nossa blogosfera (2): Rumo a Fulacunda , de Henrique Cabral (CCAÇ 1420, 1965/67)

Vd. último poste da série de 4 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3701: Blogues da Nossa Blogosfera (12): Portal Guerra Colonial, da A25A (Pedro Lauret)

Guiné 63/74 - P3708: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (16): Uma retirada ordeira e silenciosa.

NÃO VENHO FALAR DE MIM … NEM DO MEU UMBIGO (16)

Alberto Branquinho

CAMBANÇA – I


O cabo cripto bateu à porta.
-Dá licença, meu capitão?
- Entra. Então?
- Já está pronto. Entregou uma folha de papel, dobrada em quatro.
O capitão olhou o papel.
- OK. Diz ao nosso alferes Lopes que chegue aqui.
O cabo já saía, mas o capitão chamou-o:
- E diz, também, para vir o nosso alferes Sousa.

Leu, então, a mensagem, analisando bem as palavras: “Elementos IN número quinze/vinte entram hoje noite zona cambança montante Rio Chibari. Emboscadas imediato.”
Fez o cálculo para a maré baixa – seria cerca das duas horas da manhã. Procurou o mapa donde constava a zona de cambança mencionada na mensagem e estendeu-o em cima da mesa. Ao de leve fez sobre ele riscos com um lápis. Procurou recordar a configuração do terreno – elevava-se um pouco para nordeste, com uma mancha verde bem acentuada nessa zona; depois, vegetação de tarrafe, seguida de mata não muito densa. Levantou os olhos do mapa e ficou a pensar. Apagou os traços que fizera no mapa e fez outros.
Chegaram os alferes. O capitão entregou-lhes a mensagem. Esperou um pouco.
- Vocês saem hoje depois do jantar, sem aviso prévio ao pessoal. Aí pelas oito horas. Evitem ser vistos pela população. Passem bem ao largo. Antes da meia-noite tenham o pessoal instalado. Você, Lopes, instala-se aqui (indicou o traço no mapa, paralelo ao rio). Próximo da vegetação de tarrafe.
Depois, voltando-se para o alferes Sousa:
- Você segue na retaguarda do Lopes e, ao chegar aqui – fez um arco de leste para nordeste – instala. Fica, portanto, na orla da mata, a fazer protecção à retaguarda.
Depois de instalados, informem todo o pessoal, principalmente os furriéis, da posição de cada um. Mantenham contacto rádio permanente.
Os três trocaram impressões para acerto da movimentação e sobre o percurso a seguir. Depois, cada um dos alferes foi falar com os furriéis sobre a hora da saída.
Pouco depois das oito horas da noite estavam os dois pelotões a sair pela porta leste. O capitão, depois de falar com os dois alferes, ficou a olhar a fila que desaparecia no escuro.

Chegados ao local, instalaram-se.
A lua estava em quarto crescente, a meio da inflação e em posição descendente no céu.
O pelotão que estava próximo do rio ocupava uma extensão de cem a cento e vinte metros, dois a dois, com uma metralhadora em cada um dos extremos da emboscada.
Já não havia lua e a vigília estava a tornar-se monótona.
Começou a ouvir-se, mais ou menos em frente ao espaço central da emboscada, a água a ser remexida, depois um pequeno marulhar, que aumentou de intensidade. Todo o pessoal se esticou, deitado, de arma aperrada e dedo no gatilho, à espera da ordem de fogo – que não veio. Os barulhos na água cessaram, mas o pessoal continuou tenso. O tempo foi passando, passando, voltou o cansaço a impor-se e as armas voltaram ao chão, encostadas aos corpos.
Mais tarde voltou o barulho de água. No início, a água agitou-se francamente, depois de forma suave e tudo acabou mais depressa do que na primeira vez. As mãos largaram, de novo, as armas e os corpos distenderam-se.
O tempo foi passando, lentamente.
O alferes Lopes encostou o relógio aos olhos – quase quatro horas
- Mais uma hora e “pico” e amanhece – pensou.
O céu foi clareando, clareando continuamente para o lado montante do rio.
Em primeiro lugar dois soldados, depois mais dois e, pouco depois, todos os que estavam mais no centro da emboscada sobre o rio, começaram a notar que, à beira da água, estavam umas pedras escuras, mais escuras que o lodo, que… afinal não eram pedras. Eram cabeças de crocodilos, Seriam uns cinco ou seis, a uma distância de quatro a cinco metros dos homens mais próximos. Estavam adormecidos, com a cabeça assente na margem lodosa.
Sem ordem do alferes, a emboscada começou a ser levantada, de forma ordeira e silenciosa, em rastejante marcha-atrás, que se converteu em marcha erecta alguns metros adiante. Então, o alferes Lopes contactou o outro pelotão, através do rádio “banana”, para encostarem à retaguarda da coluna.
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Notas de vb:

Último artigo da série em

Guiné 63/74 - P3707: Guineenses da diáspora (4): Iaia Djamanca, cidadão guineense, estudante universitário no Rio de Janeiro

1. Depois da publicação do P3303 (*), onde foi dada notícia do contacto do nosso amigo guineense Iaia Djamanca, seguiu-se mais uma troca de mensagens com ele, de que passamos a dar conta.

2. Em 13 de Outubro de 2008, Luís Graça mandava esta mensagem a Iaia Djamanca:

Querido amigo Iaia:
Aqui está um link que lhe poderá interessar e ser-lhe útil. É um dicionário de crioulo-português.

http://www.observatoriolp.com/FrontEnd/news/attachments/415_dicionariocompleto.pdf

Obrigado pelos seus elogios ao nosso blogue. É um incentivo para nós. Limitamo-nos a fazer o que a nossa consciência nos dita, a par da nossa amizade pela Guiné-Bissau e pelos guineenses, nossos irmãos. Apareça sempre.

Já viu as nossas cartas (mapas)? São do tempo colonial, são verdadeiras obras-primas... temo-las todas... Falta inserir as últimas (Bijagós, etc.). (Ver primeira página do blogue, coluna do lado esquerdo > Cartas militares da antiga província portuguesa da Guiné.

Mantenhas
Luís Graça

3. No dia 14 de Outubro de 2008, Iaia Djamanca respondia:

Obrigado a vocês que de uma forma acabaram de fazer ou de dar à Guiné o que ela não tem, o que lhe vai valer para eternidade.

Este vosso trabalho é uma grande contribuição para nossa sociedade que ainda não consegue dar a oportunidade como essa que vocês estão dando para jovens guineenses. De certo modo isso vale ouro.

Espero voltar para minha terra depois de acabar o meu curso...
Abraços e continuação de um bom trabalho.

Obrigado Senhor Carlos Esteves Vinhal

Bonita foto da Tabanca de Guileje.
Autor desconhecido. Editada por Carlos Vinhal


4. Comentário de CV

São palavras como as do nosso amigo Iaia Djamanca que incentivam centenas de ex-militares que combateram na Guiné (e não só), a que se dediquem de corpo e alma a ajudar o povo guineense. Apesar de longe da sua pátria, ele sente o sofrimento dos seus compatriotas e reconhece que toda a ajuda à população é pouca. Oxalá que um dia, como quadro superior, volte à Guiné-Bissau e ponha ao seu serviço tudo o que aprendeu na diáspora.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3303: O Nosso Livro de Visitas (33): Iaia Djamanca, cidadão guineense, estudante universitário no Rio de Janeiro

Vd. último poste da série de 16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2652: Guineenses da diáspora (3): Nelson Herbert, o nosso Correspondente nos EUA (Virgínio Briote)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3706: Recortes de Imprensa (12): Jornal de Notícias: Trasladações de camaradas nossos, mortos em Moçambique (Jorge Picado)

Trasladação de Restos Mortais de Combatentes de Moçambique

1. Mensagem do Jorge Picado:

Caros Camaradas:

Não sei se já tiveram conhecimento da notícia que o JN de hoje relata.

É mais um exemplo de como as Nossas Entidades "nobremente" tratam aqueles que morreram na Guerra Colonial.

O presidente da Junta de Freguesia de S. Miguel do Outeiro teve de pagar 100 € de taxas no Consulado Português de Moçambique pela trasladação das ossadas de dois combatentes que morreram em combate naquela ex-Província Ultramarina, em comparação com a isenção de custos cobrados pelas autoridades de Mueda e Nova Freixo que amavelmente facilitaram a obtenção dos documentos necessários à trasladação e não aplicaram um metical de taxa.

Igualmente se queixa, quem teve de percorrer 2 mil km de picada por aquelas terras, do "alheamento" dos responsáveis consulares ao "significado" da sua presença.

Diz mais o referido autarca: "A trasladação foi contratualizada com uma agência funerária de Maputo e foi com surpresa que, ao chegar lá, me vi obrigado a contratar pessoas e a resolver toda a burocracia sozinho".

Admite que a pior experiência foi vivida no consulado. "Era a última etapa. Tentei uma audiência, para conseguir a isenção das taxas, e foi-me negada. Mandaram-me fazer um requerimento. No dia seguinte, com o tempo contado, e como a aprovação da isenção não chegava, fui obrigado a pagar. Curiosamente, até liquidei o reconhecimento (?) das assinaturas dos falecidos. Seja lá o que isso for" (...).

Jorge Picado


2. Reprodução da notícia, com a devida vénia:

JN, 06 Janeiro 2009

Trasladação pagou taxas no consulado

TERESA CARDOSO

O presidente da Junta de Freguesia de S. Miguel do Outeiro critica o consulado português em Maputo, Moçambique, por taxar a trasladação de dois militares mortos em combate. Vai pedir à tutela os 100 euros que pagou.

Moreira Marques não se conforma com a atitude "lamentável" da representação nacional em solo moçambicano. Não só por ter sido "obrigado" a pagar 50 euros pela trasladação das ossadas de cada um dos ex-combatentes, como pelo alegado "alheamento" dos responsáveis consulares ao "significado" da sua presença.

"Estava ali a fazer o que o Estado não fez em 1966 quando aqueles homens tombaram em combate ao serviço da Pátria. Merecia outra atenção", condena.

A crítica é mais acutilante, quando o presidente da Junta de S. Miguel do Outeiro compara a atitude dos responsáveis do consulado com a das autoridades de Mueda e Nova Freixo, cidades onde os corpos estavam sepultados. "Desfizeram-se em amabilidades, compreenderam o alcance da minha missão, facilitaram a obtenção dos documentos necessários à trasladação e não aplicaram um metical [moeda moçambicana] de taxa", testemunhou.

A missão do autarca de S. Miguel do Outeiro de resgatar, a pedido das famílias, os restos mortais do 1º cabo Aníbal Rodrigues dos Santos e do soldado Ernesto Correia Dias, mortos em combate no norte de Moçambique, em 1966, desenvolveu-se entre 1 e 13 de Dezembro.

Trazer de volta as ossadas dos dois filhos da terra obrigou Moreira Marques a percorrer mais de dois mil quilómetros de picadas e a ultrapassar obstáculos com que não contava.

"A trasladação foi contratualizada com uma agência de funerária de Maputo, antiga cidade de Lourenço Marques, e foi com surpresa que, ao chegar lá, me vi obrigado a contratar pessoas e a resolver toda a burocracia sozinho.

Disposto a partilhar a experiência vivida com associações de ex-combatentes ou famílias interessadas em ter de volta os militares ainda enterrados nas ex-colónias, Moreira Marques admite que a pior experiência foi vivida no consulado.

"Era a última etapa. Tentei uma audiência, para conseguir a isenção das taxas, e foi-me negada. Mandaram-me fazer um requerimento. No dia seguinte, com o tempo contado, e como a aprovação da isenção não chegava, fui obrigado a pagar. Curiosamente, até liquidei o reconhecimento (?) das assinaturas dos falecidos. Seja lá o que isso for", protesta Moreira Marques. O JN não conseguiu falar com a tutela.

Os corpos dos militares trasladados dos cemitérios de Mueda e Nova Freixo foram enterrados a http://www.vidaslusofonas.ptde Dezembro na sua aldeia: S. Miguel do Outeiro.

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Notas de vb:

Artigo relacionado em

29 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3679: Trasladações dos nossos Camaradas. (Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P3705: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (13): O jacaré da praia do Biombo (Patrício Ribeiro)



Foto: © Patrício Ribeiro (2009). (Editada por L.G.). Direitos reservados


1. Recebi do Patrício Ribeiro esta simpática (mas um pouco enigmática) mensagem de boas festas (*):

Olá, BOM ANO de 2009. Se querem conhecer o "borracho", em Fevereiro apresento-o, quando eu andar nos meus passeios...

Um abraço

Patricio Ribeiro

IMPAR Lda

Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Tel / Fax 00 245 214385 - Guiné Bissau
Lisboa, Tel / Fax 00 351 218966014 - Portugal
impar_bissau@hotmail.com



...Só depois relacionei o borracho com o jacaré da fotografia acima... No assunto, a mensagem trazia o seguinte título: O 'borracho' está a passar férias, na praia do Biombo...

Quem é o Patrício Ribeiro ? Um amigo da Guiné de quem temos, pelo menos, dois registos no nosso blogue (I e II Séries):

Em 2 de Janeiro de 2006 manda-nos a seguinte mensagem de:

Caros Ex-Combatentes:

Tenho estado a ler neste final de ano, um pouco de tudo que vem na vossa tertúlia, gosto!...
Sou um apaixonado por tudo o que seja relacionado com a Guiné. Há mais de 20 anos que percorro todos os caminhos e canoas da Guiné, desde Sucujaque até Campeane, das Ilhas do Poilão e Unhucomo até Buruntuma, em trabalhos profissionais.

Como já visitei milhares de tabancas, encontro muitos antigos quartéis e desde há muito que me interrogo: como seria isto em outros tempos ? Agora encontro as respostas, formidável!

É verdade que não fui militar na Guiné, mas fui em Angola de 69 a 72 e desconhecia como tinha sido por cá a vida. Embora falando com muitos amigos e antigos combatentes portugueses, naturais da Guiné, e com outros tantos do PAIGC e percorrendo o mato, verifiquei que a vida não era fácil.

Agradeço o lançamento na Net das cartas militares, que estão actualizadas, já que são as últimas a serem feitas, que me facilitam a vida no meu trabalho. As existentes para venda em Bissau, com a guerra de 1998, arderam.

Poderei indicar alojamento em hotéis ou pequenas pensões, por toda a Guiné, às pessoas que queiram visitar a Guiné.

Estou em Águeda na 1ª semana de Janeiro [e 2007]; viajo para Bissau na 2ª semana e vou para ao Norte, Varela; 3ª em Bolama e Bubaque; 4ª em Bissau e Farim. Fevereiro: Xitole, Rio Buba, Cacine, Catió.

Em Bissau, não tenho a mesma facilidade de contacto com a Net, nem em muitos locais há o telefone. Os telemóveis estão agora a ser lançados. A única forma de estar contactável é ser rádio amador. (...)


Na altura comentei, na qualidade de editor do blogue, o seguinte:

Fico sem saber, concretamente, qual é a actividade profissional que o Patrício desenvolve na Guiné, mas presumo que trabalhe na área da cooperação, saúde ou educação.

Eu e o resto da nossa tertúlia ficamos muito gratos pela amabilidade das suas palavras e pela disponibilidade para futuros contactos e "appoio em Bissau".
Ficamos satisfeitos por saber que o nosso trabalho (a começar pelas cartas militares que estão disponíveis on line) também é apreciado por (e é útil a) aqueles que trabalham e vivem hoje na República da Guiné-Bissau. Creio que ganhámos mais um amigo, a somar àqueles que já temos em Bissau.

Desejamos-lhe, ao Patrício, bom regresso à Guiné-Bissau, boa saúde e bom trabalho. E, já agora, pedimos-lhe que divulgue também a nossa tertúlia, o nosso blogue e as nossas páginas sobre a Guiné-Bissau de ontem e de hoje...


Vd. poste de 2 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXII: Mais um amigo em Bissau (Patrício Ribeiro)

No ano seguinte, mandou-nos um belíssimo cartão de boas festas, a partir de uma foto tirada em Mejo:

Sempre que posso, passo por aqui para ler os vossos comentários e ver as fotos de lugares onde andaram noutros tempos. A maioria destes, tenho-os também percorrido com paz e em trabalho nos últimos 20 anos.

Por este motivo envio a foto em anexo tirada em Julho 2006, uma das muitas do sul da Guiné em viagem a Guiledje, Jemberém, Cabedú, Cacine, Gadamel Porto etc.;

Cumprimentos

Patrício Ribeiro


Vd. poste de 5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1402: Um bom ano de 2007 a partir de Mejo, Guileje (Patrício Ribeiro).

Ainda não o consegui contactar, pelo telefone da empresa em Lisboa, para lhe agradecer pessoalmente os votos gentis que nos manda para o ano de 2009. Retribuo-lhe, por esta via: que o 2009 seja também, para ele, um ano saudável, activo e produtivo.

Vejo, pela sua lista de contactos, que há alguns amigos comuns, e inclusive membros da nossa Tabanca Grande. Há gente, portuguesa e guineense, ligada a activades de investigação, de conservação da natureza, de desenvolvimento, etc.

Quero-lhe dizer que, no verão passado, disponibilizei para a Pepas, a filha do Pepito, um CD-ROM com as cartas que temos - nomeadamenete sobre o resto da Região do Boé e sobre as Ilhas de Bolama - e que lhe são úteis para a sua actividade profissional, ligada à investigação sobre os chimpanzés na região do Boé.

Por razões técnicas, e por falta de tempo e de espaço na minha página pessoal, essas cartas ainda não foram postas em linha... São, de resto, cartas que têm menos interesse para nós, antigos combatentes. Mas reconheço que podem ser úteis a quem faz turismo, fotografia, cooperação ou investigação científica no domínio da biologia, ecologia, etologia, sociologia, etnologia, desenvolvimento, etc.

Terei muito gosto em fazer-lhe chegar um CD-ROM com essas fabulosas cartas que ainda não disponibilizámos ao público que visita o nosso blogue... Bom regresso à Guiné-Bissau, em Fevereiro próximo.
_________

Nota de L.G.

(*) Vd. último poste da série As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande > 29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3678: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (12): José Bastos, empresário, ex-1º Cabo Trms, Bafatá e Bula (1973/74)

Guiné 63/74 - P3704: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (8): Notas e correcções de Abreu dos Santos, comentários meus (V. Briote)

1. Mensagem do nosso leitor Abreu dos Santos:

Boa noite, Camaradas da Guiné:

Anexo cópia do v/post supra mencionado, no qual integrei breves notas que aqui ficam à v/consideração.

Abreu dos Santos


2.
O Abreu dos Santos, a propósito do artigo Guiné 63/74 - P3689: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (7): Antecedentes relacionados e breve comentário (V. Briote) por mim publicado, procede a algumas correcções, levanta interrogações e faz algumas notas.

Da minha parte, para a elaboração do artigo referido, recolhi informação publicada em diversos artigos, no nosso próprio blogue e em Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, tantas vezes citada que é considerada, ainda hoje, uma obra de estudo ou de referência.

Independentemente da justeza e do rigor das notas e correcções emitidas pelo Abreu dos Santos, a quem, aliás, agradeço a colaboração que nos dá, foi minha intenção pôr em destaque os principais acontecimentos que rodearam o "caso Guileje":

(i)O assassinato de Amílcar Cabral;

(ii)Os "Strella”;

(iii)A ofensiva do PAIGC, sem precedentes até àquela data, centrada em "poderosas e prolongadas acções de fogo ajustado sobre as guarnições fronteiriças de Guidaje, Guileje e Gadamael, as quais conjugou com acções terrestres de isolamento, que efectivamente conseguiu, durante alguns dias em Guidaje. (...) Esta actividade do PAIGC alcançou valores que são os mais altos de sempre desde o início da guerra - 220 acções durante o mês -, o mesmo sucedendo em relação às baixas causadas às tropas portuguesas - 63 mortos e 269 feridos" (pg 508 de Guerra Colonial, de A. Afonso e C. Matos Gomes).

Em relação aos efectivos empregues, em Guidaje (em relação a Guileje parece não haver dúvidas ou discordâncias), noto, ainda segundo a publicação referida:

"No início de Maio de 1973, a guarnição militar de Guidaje era constituída por uma CCaç, a CCaç 19, e pelo PelArt 124, equipado com obus de 10,5 cms. (...).

“O PAIGC dispunha, concentradas, as seguintes forças na região de Cumbamori:

- Corpo de Exército 199/B/70, com 4 bigrupos de Infª e uma bateria de Artª
- Corpo de Exército 199/C/70, com 5 bigrupos de Infª e uma bateria de Artª;
- Grupo de Foguetes da Frente Norrte, com 4 rampas;
- Três bigrupos de Infª, um grupo de Reconhecimento e uma bateria de Artª do CE (Corpo de Exército) 199/A/70, deslocadas de Sare Lali;
- Foram ainda referenciados em Cumbamori um pelotão de morteiros 120 mm, um grupo especial de sapadores e diversos elementos recém-chegados do estrangeiro.

“Do lado do PAIGC estimavam-se em cerca de 650 a 700 os efectivos que empenhou nesta operação (...)".


Em termos de efectivos, a guarnição portuguesa de Guidaje teria cerca de 200 homens, aos quais há que acrescentar outros enviados para quebrar o cerco. Destaco, como exemplo apenas para contabilizar o número de militares empregues no auxílio a Guidaje e sem pôr em causa os méritos de outras unidades que, eventualmente, tenham estado também envolvidas (unidades navais e aéreas, p. exº):

- uma coluna saída de Farim, a 8 de Maio, formada por forças do BCaç 4512 (desconheço os efectivos reais, mas não imagino menos de três os Gr Comb envolvidos), que sofreu, em duas emboscadas (8 e 9 de Maio), 4 mortos e 30 feridos, entre graves e ligeiros. A mesma força acabou por sofrer ainda mais um morto e dois feridos, entre Binta e Guidaje;

- uma coluna de reabastecimentos constituída pelos DFE 3 e 4;

- uma Companhia de Páras;

- uma Companhia de Cmds;

- o BComds Africanos (cerca de 450 homens).

Assim, no conjunto das nossas forças envolvidas na zona de Guidaje, não parece excessivo o número de efectivos que calculei. Se não foram 1000 não devem ter andado longe.

Mas para o artigo em causa, mais que a exactidão dos números e das datas (importantes as correcções, insisto) foi comparar o que o ComChefe jogou em Guidaje e Guileje.

Quanto a mim, até demonstração contrária, sou de opinião que fez o que podia e devia em Guidaje. Em Guileje não.

V. Briote
__________

1. Artigo em questão publicado em

2 de Janeiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3689: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (7): Antecedentes relacionados e breve comentário (V. Briote);

2. Em pós-edição do referido artigo estão inseridas as correcções e notas enviadas pelo Abreu dos Santos.

Guiné 63/74 - P3703: Cancioneiro de Aldeia Formosa (1): Que canseira passámos na coluna / entre Buba e Aldeia ... (José Teixeira / Silvério Lobo)

1. Mensagem enviada a toda a Tabanca Grande pelo nosso querido co-editor e administrador Carlos Vinhal, com data de 7 de Novembro, e que eu julguei dever publicitar através do blogue:

Caros camaradas e amigos tertulianos

O nosso camarada José Teixeira [, na foto, à esquerda, em Empada, em traje de guerra, ] enviou-me o endereço onde está alojado um pequeno vídeo feito na Guiné-Bissau durante o Simpósio Internacional de Guiledje quando eles visitaram uma série de localidades [no sul, no Cantanhez, região de Tombali, incluindo Aldeia Formosa, esta a 3 de Março de 2008, já no regresso a Bissau].

Este endereço foi colocado no poste Guiné 63/74 - P3413: Blogoterapia (71): O regresso voluntário à África da nossa juventude (José Teixeira) .

Aconselho-vos a ver estas imagens a partir do citado poste ou em: http://video.msn.com/video.aspx/?mkt=pt-br&cid=2997719327111784874&wa=wsignin1.0


Um abraço do
Carlos Vinhal

2. Comentário de L.G.:

Neste vídeo, da autoria do Zé Teixeira [, ou do Silvério Lobo, ou ainda de um terceiro camarada que foi com eles a Quebo,] com a duração de 2' 45'', vemos dois guineenses, um mais jovem e um mais velho (este último possivelmente um antigo soldado da CCAÇ 18), reconstituindo para o nosso camarada Silvério Lobo, que foi logo reconhecido por um deles como antigo mecânico nesta subunidade, algumas das canções dos tugas...Chamemos-lhes o Cancioneiro de Aldeia Formosa...

A primeira era a romantiquíssima canção do brasileiro Nilton César que fazia chorar as pedras da calçada... Era muito popular entre pessoal que vivia como as toupeiras nas casernas da Guiné, e que suspirava pelo dia de regresso a casa, para os braços da sua amada, como qualquer soldado de qualquer guerra, em qualquer época ou lugar do mundo... É espantoso como guineeneses como estes - que conviveram com os militares portugueses, mas que mal sabiam falar português, que eram fulas e islamizados - tenham decorado a letra e a música desta e doutras canções, ininteligíveis para eles... Pode-se admitir que a linguagem do amor é universal. No entanto, do ponto de vista semântico-conceptual, para estes homens, fortemente formatados pelo patriarcalismo e pelo sexismo da sua sociedade de origem, expressões em que se idealiza a mulher amada (como "namorada que sonhei", "rosas vermelhas", "dia dos namorados", "eternos namorados", "deusa na terra nascida, etc.), não deveriam ser de fácil descodificação.

A Namorada Que Eu Sonhei
por Nilton César

Receba as flores que lhe dou
E em cada flor um beijo meu,
São flores lindas que lhe dou,
Rosas vermelhas com amor,
Amor que por você nasceu.

E seja assim por toda a vida
E a Deus mais nada pedirei,
Querida, mil vezes querida,
Deusa na terra nascida,
A namorada que sonhei.

No dia consagrado aos namorados,
Sairemos abraçados por aí a passear,
Um dia no futuro então casados,
Mas eternos namorados,
Flores lindas, eu ainda vou lhe dar.

Que seja assim por toda a vida
E a Deus mais nada pedirei,
Querida, mil vezes querida,
Deusa na terra nascida,
A namorada que sonhei.


As outras duas eram paródias, feitas por algum tuga mais letrado ou com jeito para o verso de pé quebrado, de dois fados muito populares, muito conhecidos, com letras que relatavam invariavelmente a triste sorte dos mecânicos, dos condutores e das suas gloriosas máquina de guerra nas colunas logísticas de Buba para Aldeia Formosa e vice-versa. O tema são as canseiras, o pó, as minas, as emboscadas, os sustos, os perigos...

É preciso estar de ouvido muito apurado para perceber as letras (corrompidas)... Sobretudo é preciso tempo e pachorra. Mas era interessante alguém (o Zé Teixeira ou o Silvério Lobo) poder mandar-me as letras originais completas.

Mais uma vez pode perguntar-se que sentido podia fazer para um estrangeiro - como era o caso daqueles camponeses fulas que tinham pegado em armas, ao lado dos portugueses - a letra original destes fados... O mesmo se podia perguntar em relação a alguns militares portugueses, oriundos do Portugal profundo, pouco escolarizados e viajados, que não conheciam Lisboa, o Bairro Alto, a cultura e a vivências fadistas...

No entanto, eram canções que passavam na rádio, e que entravam facilmente no ouvido. O mais interessante é, no entanto, a recriação da letra: aí fala-se do quotidiano comum dos soldados, guineenses e portugueses, dos riscos comuns, da cumplicidade, da solidariedade, dos comportamentos de bravata, do heroísmo, da camaradagem...

Bairro Alto (Letra: Carlos Simões Neves e Oliveira Machado
Música: Nuno de Aguiar)

Bairro Alto, com seus amores tão delicados,
Certa noite, deu nas vistas,
E saiu com os trovadores mais o fado,
P'ra fazer suas conquistas.
Tangeu as liras singelas,
Lisboa abriu as janelas,
Acordou em sobressalto,
Gritaram Bairros à toa,
Silêncio velha Lisboa,
Vai cantar o Bairro Alto.


[Estribilho]

Trovas antigas,
Saudade louca,
Andam cantigas
A bailar de boca em boca...
Tristes, bizarras,
Em comunhão,
Andam guitarras
A gemer de mão em mão!


Por isso é que mereceu fama de boémio,
Por condão ou fatalista,
Atiraram-lhe com a lama, como prémio,
Por ser nobre e ser fadista.
Hoje saudoso e velhinho,
Recordando com carinho,
Seus amores, suas paixões,
P'ra cumprir a sina sua,
I'nda veio p'rá meio da rua,
Cantar as suas canções!


A outra canção parodiada era a da célebre criação da Amália, o fado Dar de beber à dor (letra e música de Alberto Janes). Como é sabido, a Casa da Mariquinhas - leia-se, casa de passe gerida por uma tal Mariquinhas, terno diminuitivo de Maria - é uma genial criação do Alfredo Marceneiro, um íncone da história do fado.

Foi no Domingo passado que passei
à casa onde vivia a Mariquinhas,
mas 'stá tudo tão mudado
que não vi em menhum lado
as tais janelas que tinham tabuinhas.
Do rés-do-chão ao telhado
não vi nada, nada, nada
que pudesse recordar-me a Mariquinhas,
e há um vidro pregado e azulado
onde havia as tabuinhas.

Entrei e onde era a sala agora está
à secretária um sujeito que é lingrinhas,
mas não vi colchas com barra
nem viola, nem guitarra,
nem espreitadelas furtivas das vizinhas.
O tempo cravou a garra
na alma daquela casa
onde as vezes petiscávamos sardinhas
quando em noites de guitarra e de farra
estava alegre a Mariquinhas.

As janelas tão garridas que ficavam
com cortinados de chita às pintinhas
perderam de todo a graça
porque é hoje uma vidraça
com cercadura de lata às voltinhas.
E lá p'ra dentro quem passa
hoje é p'ra ir aos penhores
entregar ao usurário umas coisinhas,
pois chega a esta desgraça toda a graça
da casa da Mariquinhas.

P'ra terem feito da casa o que fizeram
melhor fora que a mandassem p'rás alminhas,
pois ser casa de penhores
o que foi viveiro d'amores
é ideia que não cabe cá nas minhas
recordações do calor
e das saudades. O gosto
que eu vou procurar esquecer
numas ginginhas,
pois dar de beber à dor é o melhor,
já dizia a Mariquinhas.


O mínimo que posso dizer é que é uma ternura ver estes antigos soldados da CCAÇ 18 (?), em princípio fulas, nossos aliados de outrora, a dar o seu melhor e a tentar fazer uma surpresa aos velhos tugas - seus camaradas de armas de outrora e que agora voltam a Aldeia Formosa, em viagem de saudade -, esforçando-se por cantar as suas velhas canções que serviam, lá no cu do mudo, para espantar o medo, os fantasmas, o tédio, a revolta contra o absurdo, a angústia, a saudade. (Uma receita de humor que, de resto, continua válida para os não menos duros tempos de hoje...).

Amigos e camaradas da Guiné: este é um material precioso (mas muito perecível), que temos que recolher, preservar e divulgar. Ele é tão importante como as nossas histórias para a compreensão sócio-antropológica do nosso quotidiano de combatentes na Guiné (*)... LG

3. Nota posterior do Zé Teixeira:

O seu a seu dono. Eu estive em Aldeia Formosa. Encontrei-me com pessoas amigas, mas não sou o autor da gravação. O Lobo volta lá de mota depois de ter "subornado" o jovem motoqueiro algarvio que nos acompanhou na viagem [em Março de 2008] e passou lá um dia inteiro.

Sei que o primeiro cantor era um puto que andava pela oficina nos anos 73 e reconheceu o Lobo, identificando-se como o puto reguila como então o Lobo o identificava, pela sua esperteza. Em resumo quem fez a gravação foi o Lobo ou o Motoqueiro.

De facto, é impressionante a forma como aquele simpática gente nos recebe. Muito gostava que o Lobo escrevesse o que sentiu quando o Puto o chamou pelo nome, se identificou e perguntou por alguns camaradas do tempo da guerra, entre os quais o Carmelita, nosso companheiro na Tabanca de Matosinhos [, tal como o Silvério].
__________

Nota de L.G.:

(*) Até ao momento temos recolhas de letras (nalguns casos, também de músicas) de canções de caserna, cantadas em vários sítios da Guiné (mas também de poesia com a cor local...): Bafatá, Bambadinca, Bissau, Canjadude, Cufar, Cumbijã, Cuntima, Empada, Gandembel, Mampatá, Mansoa, Xime/Ponta do Inglês... Seguramente que haverá, por aí, cópias de muitos mais poemas e letras de canções... Talvez um dia o nosso blogue possa reunir todo esse material e fazer uma edição crítica do... Cancioneiro da Guiné!

Vd. o último poste dedicado a outro Cancioneiro, o de Bambadinca > 7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3582: Cancioneiro de Bambadinca (2): Brito, que és militar... (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, 1969/71)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3702: Memória dos lugares (15): Funchal, uma ponte entre Lisboa e Bissau (Luís Graça)

Região Autónoma da Madeira > Funchal > Rua do Bispo > 31 de Dezembro de 2008 > O ex-Fur Mil José Luís Sousa, da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), mais conhecido entre os seus camaradas da Guiné pelo petit nom de Zé da Ila, mediador de seguros com escritório na centralíssima Rua do Bispo... Tropecei literalmente com ele, nas minhas férias madeirenses de fim de ano...

Já agora ficam com o contacto da empresa: José Luís Sousa - Mediação de Seguros, Lda, R. Bispo 36, 1º - B, Funchal, Madeira 9000-073, Tel: 291200410... Ele mudou de mail, mas eu registei o endereço numa folha de jornal... que foi parar ao cesto dos papéis... O José Luís é um profissional competentíssimo na área dos seguros. Tive o prazer de conhecer o filho, com quem trabalha. É, além disso, um homem de muitas contactos: num ápice arranjou-me um transitário e um sucateiro de automóveis, dois contactos precisosos para o meu sobrinho, médico, que estava a mudar-se para o Porto, depois de um ano de trabalho no Serviço Regional de Saúde.

O Sousa foi meu duplo camarada, além de ter sido e continuar a ser um querido amigo: formámos companhia em Santa Margarida (CCAÇ 2590/CCAÇ 12), fizémos a guerra juntos, dormimos no mesmo quarto (eu, ele, o Tony Levezinho, o Humberto Reis, o Marques, o Joaquim Fernandes) em Bambadinca, de Julho de 1969 a Março de 1971...

Ele era o mais educado, o mais afável, o mais calmo, o mais polido, o mais correcto, de todos nós: um verdadeiro gentleman funchalense... possivelmente com costela britânica... A preocupação em afirmar-se como funchalense, levava-o a falar sem dizer os lhês... para evitar a armadilha do cerrado sotaque madeirense... Daí ter ficado conhecido como Zé da Ila... Era além disso um dos nossos tocadores de viola e baladeiros, ajudando a tornar menos penosas as nossas noites entre duas saídas para o mato (**).

Pertencia a uma numerosa e simpática família que morava na Rua do... Comboio. Uma família encantadora e prendada onde, rapazes e raparigas, tocavam e cantavam... É essa imagem que eu ainda guardo, da primeira vez que pisei a terra madeirense, no regresso da Guiné. O Uíge, em Março de 1971, parou umas horas no porto do Funchal, o que nos permitiu participar na festa de recepção que a família e os amigos do José Luís de Sousa lhe quiseram oferecer, a ele e aos demais camaradas metropolitanos da CCAÇ 12 que regressavam a casa, em rendição individual...
Nunca mais esqueci o insólito nome da rua... que me pareceu mais íngreme e mais estreita na altura do que agora... (e seguramente com menos casas). Do comboio já não havia vestígios... Tratava-se de um elevador que ligava a baixa do Funchal ao Monte, começando na Rua das Dificuldades e escalando a Rua do Comboio... A linha foi extinta em 1943, se não me engano.

Recordei esta história na visita ao valiosíssimo e belíssimo Photografia - Museu 'Vicentes', instalado no antigo estúdio fotográfico de Vicente Gomes da Silva (1827 – 1906)...


Região Autónoma da Madeira > Funchal > Praça do Município > 26 de Dezembro de 2008 > O belíssimo empedrado, de motivos geométricos, com dois tipos de pedra, branca (calcáreo) e preta (basalto). É esteticamente um dos sítios que eu mais aprecio na cidade. Nesta praça situam-se alguns dos edifícios mais emblemáticos da cidade: o museu de arte sacra, a Igreja de São João Evangelista do Colégio do Funchal (ou dos Jesuítas) (magnificamente reabilitado em 2001), o edifício setecentista da Câmara Municipal... Só é pena que não seja uma zona inteiramente pedonal...

Região Autónoma da Madeira > Funchal > Freguesia de Santa Luzia > 2 de Janeiro de 2009 > Um bando de pombos (incluindo muito possivelmente a... Pomba da Paz) sobrevoam a vivenda onde está localizada (no lado esquerdo) a residência privada da família de Alberto João Jardim, o presidente do Governo Regional da RAM...

Foto tirada, com zoom, do meu apartamento dce férias, sito numa transversal à Rua da Levada de Santa Luzia, com uma vista fabulosa sobre a cidade e a baía do Funchal... É uma imagem com grande simbolismo e nela deixo transparecer os meus melhores votos para os meus amigos madeirenses, para o povo madeirense e para os seus representantes...

Região Autónoma da Madeira > Funchal > Av Arriaga > 26 de Dezembro de 2008 > Animação de rua com um grupo etnográfico da RAM > Hoje a região é muito mais do que o estereotipado bailinho da Madeira... Os quase 35 anos de poder autonómico e democrático permitiram mudar a face sócio-económica da ilha...

No passado, e nomeadamente durante a guerra colonial, Lisboa usou e abusou da pobreza, da dependência, da insularidade, da estigmatização e da idiossincrasia do homem madeirense... Aqui se formaram muitas companhias madeirenses (sic), enquadradas por oficiais e furriéis milicianos do Continente, algumas das quais foram mobilizadas para o pior cenário da guerra do ultramar, a Guiné... Simples coincidência ?

Por outro lado, o porto do Funchal terá servido, tal como no passado da exploração marítima da costa ocidental africana, como um ponto intermédio, tanto na ida como na vinda, de apoio aos navios de transporte de tropas de e para a Guiné... O Funchal era quase de paragem obrigatória... Não sei se por razões técnicas, se por outras razões... Como se recordam, ensinavam-nos, na escola primária, que a Madeira (tal como os Açores) fazia parte das ilhas adjacentes (sic). Este conceitoi de adjacência (em relação ao território continental, mas distinto dos outros territórios ultramarinos, em África e na Ásia) re,omnta à Constituição de 1822 e esteve em vigor até 1975 (vd. artigo da Wikipédia sobre as Ilhas Adjacentes). 500 anos de dupla insularidade têm hoje, naturalmente, um preço político...

Região Autónoma da Madeira > Funchal > Porto do Funchal > 2 de Janeiro de 2009 > Uma pequena embarcação costeira passa, airosa e ligeira, junto a um dos gigantes navios de cruzeiro que demandam quase quotidianamente estas paragens (cerca de 3 centenas por ano)... No presente caso, o Costa Serena, um nome também com simbolismo nesta Ilha e neste início de ano de 2009... Foto tirada com zoom, do meu apartamento de férias, donde assisti ao feérico, estonteante, luxuosísismo e mundialmente famoso fogo de artifício de Fim de Ano (10 minutos, 1 milhão de euros). O 2008 foi também o 500º aniversário da cidade do Funchal.

Região Autónoma da Madeira > Funchal > 31 de Dezembro de 2008 > O mais tristemente famoso rottweiler da Madeira!... Encontrei-o e fotografei-o perto do novo Centro Comercial, o Dolce Vita, uma construção polémica, de grande volumetria, no centro da cidade, que chegou a estar embargada, mas que parece ter ganho os favores dos funchalenses, como local de compras, de convívio e... de parqueamento automóvel (Tem 3 pisos subterrâneos que estão sempre cheios).

Região Autónoma da Madeira > Funchal > Porto do Funchal > 2 de Janeiro de 2008 > A Rua das Dificuldades... O histórico comboio (a cremalheira), que ainda hoje faz parte do imaginário dos funchalenses, partia daqui , em direcção ao Monte e ao Terreiro da Luta (a estação terminal)... Tinha menos de 4 quilómetros de extensão. Esteve em actividade entre 1893 e 1943.

Região Autónoma da Madeira > Funchal > Porto do Funchal > 2 de Janeiro de 2008 > A Rua do Comboio (também conhecida por Caminho de Ferro: Vd. fotos antigas do Funchal)...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2009). Direitos reservados.

_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3545: Memória dos lugares (14): Bambadinca, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, 1969/71 (Gabriel Gonçalves)

(**) Refiro-o num dos meus poemas:

(...)

Mais prosaicamente,
na Guiné
o dia dos teus anos é
uma rodada
de uísque ou de cerveja
pr’os teus camaradas
no bar de sargentos.
No fundo,
o teu dia é um pretexto
para a autocomiseração,
para um voo até
às galáxias da metafísica,
que é sempre melhor, chiça!,
que ouvir
o silvo de uma granada,
em teu redor,
que é coisa bem mais real
e mortífera,
é a quilha
do barco da morte.
Com sorte,
talvez o amável Zé da Ila,
de nós todos o menos reguila,
pegue na viola
e te cante
a Pedra Filosofal

Talvez cantemos todos juntos,
às tantas da noite,
africana,
pestífera,
mortal,
e suficientemente alto,
com as nossas vozes guturais,
para que Eles, os gajos,
nos oiçam, mesmo ali ao lado,
no bar dos oficiais…

Eles não sabem nem sonham
Que o sonho comanda a vida
E sempre que um homem sonha,
A vida pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança…

Vd. poste de 5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1047: Alá não passou por aqui (Luís Graça)

Vd também poste de 8 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P945: 'Gente feliz com lágrimas': o Zé da Ilha, o furriel Sousa, madeirense, da CCAÇ 12

(...) Recordo-me de, no regresso a casa, em Março de 1971, o Uíge ter parado no Funchal o tempo suficiente para nós irmos, em grupo (em bando!), cantar e dançar o bailinho da Madeira na famosa Rua do Comboio, em casa do Sousa, a mesa farta, e à volta uma alegre e numerosa família madeirense, jovial, simpatiquíssima, alegre, de que guardei para sempre a melhor memória...

A família do Sousa, o nosso Zé da Ila - era assim que o tratavamos, afectuosamente - , os seus numerosos manos e manas, ainda hoje os associo, a todos, por um qualquer automatismo da memória, ao filme Música no Coração...

Foi um momento único e mágico na viagem do nosso regresso a Lisboa...Vocês, amigos e camaradas da Guiné, não imaginam a alegria que foi, naquela casa, o regresso do mano Sousa, vivinho da costa, devolvido aos pais e irmãos, rodeado por todos os cacimbados dos seus camaradas, os furriéis e alferes da CCAÇ 12...

Voltei a encontrar o Sousa em 1994, em Fão, Esposende, e logo a seguir na sua terra natal... Fui depois várias vezes ao Funchal, por motivos profissionais, e nomeadamente nos últimos meses, mas confesso que não tive o mínimo de tempo para o procurar... Até pela simples razão de ter perdido o seu contacto telefónico... Vejo que o Sousa continua a trabalhar nos seguros...

Mais assíduo e mais amigo tem sido o Humberto Reis que nunca deixa de procurar o Zé Luís quando vai à Madeira (...).

domingo, 4 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3701: Blogues da Nossa Blogosfera (12): Portal Guerra Colonial, da A25A (Pedro Lauret)


1. Mensagem de Pedro Lauret


Está on-line o novo site sobre a Guerra Colonial – http://www.guerracolonial.org/ – lançado pela Associação 25 de Abril e coordenado por mim.

Os textos base são da obra de Aniceto Afonso e Matos Gomes – Guerra Colonial. De momento o site está em finalização e aperfeiçoamentos, devendo ser lançado oficialmente a 4 de Fevereiro. Nesse mesmo dia será lançado, conjuntamente, uma página, no site da RTP, com documentários da Guerra, quer produzidos na época quer actuais, incluindo o do Joaquim Furtado.

Se acharem indicado divulguem pela nossa Tabanca e quem entender fazer críticas ou sugestões nós agradecemos.

Para o lançamento oficial enviarei os adequados convites.

Pedro Lauret

2. Comentário de VB:

Ver aqui o mapa do site: http://www.guerracolonial.org/mapa_do_site

Tem cinco grandes dossiês:

» Cronologia
» ONU
» Protagonistas
» Galeria Multimédia
» Estatísticas

Os nossos parabéns ao nosso camarada Pedro Lauret e à sua equipa. Este portal historiográfico, recheado de textos, imagens e vídeos (estes, fundamentalmente com origem na RTP) é um valiosíssimo contributo para o aprofundamento e divulgação do conhecimento da guerra que Portugal travou em três frentes, no continente africano, entre 1961 e 1974.

Vamos incentivar os amigos e camaradas da Guiné a visitá-lo e a consultá-lo com atenção, entusiasmo e espírito crítico. Para já nem todas as funcionalidades parecem estar operacionais, presumimndo-se que o site ainda esteja em construção, como se deduz da própria mensagem do Pedro Lauret (por exemplo, ainda está disponível a informação de rodapé sobre: Colaborações e bibliografia; Equipa técnica; Mensagem; Links; Contactos...).
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Notas de vb:

1. Pedro Lauret, actualmente Capitão-de-mar-e-guerra na reforma, embarcou para a Guiné, em Setembro de 1971. Como Imediato do NRP "Orion" percorreu rios e braços de mar navegáveis (Cacheu, Geba, Buba, Tombali, Cumbijã, Cacine, Bijagós). Em Maio de 1973 encontrava-se em missão no Rio Cacheu aquando dos ataques a Guidage, Desembarcou o DF 8 no Jagali, afluente do Cacheu. No mesmo mês, no rio Cacine, foi a primeira unidade a chegar a Gadamael depois da retirada de Guileje, evacuando cerca de 300 militares e civis que se encontravam espalhados pelas margens do rio. Actualmente faz parte da Direcção da Associação 25 de Abril e lidera um projecto de investigação Histórica com a designação –“Marinha: do fim da II Guerra Mundial ao 25 de Abril de 1974”.

2. Último artigo da série:

Guiné 63/74 - P3700: Vasco da Gama, soldado-cadete, no COM do 1º trimestre de 1971, 1º Pel, 4ª Companhia, sob o comando do Alf Mil Beja Santos

Mafra > Escola Prática de Infantaria > COM > 1º trimestre de 1971 > O Alferes Mil Beja Santos, comandante do 4º Pelotão da 1ª Companhia, envergando um dólmen (assinaladocom um seta amarela), tendo à sua esquerda o soldado-cadete Vasco da Gama (seta vermelha), futuro Cap Mil da CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74) (*)


Mafra > Escola Prática de Infantaria > COM > 1º trimestre de 1971 > O Alferes Mil Beja Santos, ao centro (assinalado com um círculo a amarelo), mais o seu 4º Pelotão da 1ª Companhia, a que pertencia o soldado-cadete Vasco da Gama.

Mafra > Escola Prática de Infantaria > COM > 1º trimestre de 1971 > Da esquerda para a direita: o Telmo ("também foi Capitão de proveta"), Dino ("era um moço de Moçambique") e o Vasco da Gama.


Fotos: © Vasco da Gama (2008). Direitos reservados


1. Mensagem do Vasco da Gama (ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74) para o Beja Santos que, por sua vez, teve a gentileza de a reencaminhar para os editores do blogue:

Dr. Beja Santos

Os meus melhores cumprimentos e a expressão sincera do desejo de um 2009 com muita saúde, pois na posse deste precioso bem, todos os outros problemas têm solução.

Tive oportunidade de rever, no lançamento do livro do sr. Coronel Coutinho e Lima, ao fim de mais de trinta e sete anos, o meu comandante de pelotão do C.O.M. de Mafra que decorreu no primeiro trimestre de 1971. Fui soldado cadete do então Alferes Beja Santos, que comandava o 4º Pelotão da 1ª Companhia.

No primeiro escrito que enviei à Tabanca, já me havia referido à simpatia que a esmagadora maioria dos soldados cadetes lhe dedicava, e a forma humana com que sempre lidou com todos, tentando sempre que todos fossem de fim de semana. Sendo tempos extraordinariamente difíceis, sempre tive na sua pessoa, não um "militarão chico", mas um companheiro mais experiente, culto, bom conversador, e já então amante da Guiné (**)

A juntar ao episódio da "ajuda" na resolução dos testes lembro-lhe o seguinte:
Vindo de fim de semana, cheguei a Mafra na madrugada do dia 1 de Fevereiro de 1971 e entrei em pânico, pois havia-me esquecido em casa das chaves que abriam o cadeado do meu armário. Com o auxílio de dois camaradas tentámos arrombar o "bicho" sem qualquer sucesso. Faltavam -me o cinturão e os suspensórios, já que a arma tinha sido entregue na arrecadação! No mínimo o fim de semana tinha ido ao ar...

No dia seguinte de manhã, apresentei-me ao Alf Beja Santos que após ter ouvido a minha explicação, me respondeu:
- Não tem importância, que não volte a acontecer.

Findas as aulas de armamento que preencheram grande parte da manhã, o Alf Beja Santos, antes de arrancar com o pelotão para a preparação física, autorizou-me a telefonar para casa. A minha mulher já tinha tratado do envio das chaves e no dia seguinte tudo se resolveu.

Ao reler a correspondência de então, recordo agora que o fim de semana que acabei por gozar era importantíssimo para o casal, pois os meus sogros (ainda rijos nos seus 85 anos, Aníbal e Maria, mas nem Cavaco nem Silva ) emigrantes no ex-Congo Belga, partiam na segunda feira seguinte para África, ficando a minha mulher sozinha.

Um abraço para o Dr.Beja Santos.

Vasco da Gama

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 4 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3697: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (6): Aditamentos (Vasco da Gama)

(**) Vd. postes de:

11 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3436: O Nosso Livro de Visitas (42): Vasco Augusto Rodrigues da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74

5 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3570: Tabanca Grande (102): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74